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FACULDADES EST

BACHARELADO EM TEOLOGIA
Curso Reconhecido pela Portaria MEC nº 1056, D.O.U. 11/04/2002.
Reconhecimento renovado através da Portaria MEC nº 175, D.O.U. 21/03/2014.

Disciplina: Hermenêutica Bíblica


Curso: Bacharelado em Teologia
Data: 27/09/2023
Docente: Prof. Dr. Flávio Schmitt
Discente: João Daronco
Assinatura

Resumo do livro: “Princípios de Interpretação Bíblica: introdução à


hermenêutica com ênfase em gêneros literários”1

O livro é um manual de Hermenêutica Bíblica, que fornece auxilio para aquele lê


a Bíblia, pois “a hermenêutica ensina a ler e trabalhar com método”. Para o autor é preciso
levar a sério e decodificar o que está escrito, e levar em conta o momento histórico em
que o texto foi escrito. Scholz divide o livro em três partes, a primeira apresenta o livro
que é o objeto de análise exegética: a Bíblia. A segunda parte refere-se ao método
exegético, exibindo um roteiro que ajuda ordenar e disciplinar a leitura. Por fim, a terceira
parte fala sobre os gêneros literários existentes na Bíblia e como se aplica o método
exegético em cada um deles. Sendo assim, o livro é dividido em 17 capítulos e neste
resumo, busco explicar cada um deles extraindo o a informação central de cada qual.
No primeiro capítulo o autor nos traz a explicação do termo "Bíblia", que é uma
palavra grega plural, que significa "livros" ou "rolos". Cita que A Bíblia é um livro bem
humano, que foi escrita por humanos, que usaram linguagem de gente e não de anjos.
Porém, ao mesmo tempo podemos afirmar, assim como a Igreja afirma, que ela é a palavra
de Deus, a palavra que Deus inspirou. A Bíblia responde as grandes questões da vida e
da morte. Por fim, cita que ela é feita de dois testamentos, o Antigo e o Novo, o Novo
Testamento interpreta o Antigo, de forma que, por exemplo, a perspectiva missionária
que norteia a ação da Igreja é a que aparece no Novo Testamento.

1
SCHOLZ, Vilson. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA INTRODUÇÃO À
HERMENÊUTICA COM ÊNFASE EM GÊNEROS LITERÁRIOS. Canoas: Editora ULBRA, 2006.
236 p.
Ao chegarmos no segundo capítulo, Scholz irá falar sobre o Cânone Bíblico, ou
seja, sobre a lista de livros ou o conjunto de livros que integram a Bíblia. O autor cita que
se pode falar sobre dois cânones: o do Antigo Testamento e o do Novo Testamento. Pouco
se sabe sobre a formação do Cânone do Antigo Testamento, é provável que Esdras, por
volta de 450 a.C, tenha reunido os livros existentes em sua época, e a data final do
estabelecimento do Cânone do AT geralmente é posta em 90 d.C., quando em Jâmnia, na
terra de Israel, teria sido realizado um sínodo judaico, que teria reconhecido e oficializado
o cânone hebraico do AT. Em relação ao Cânone do NT, eles foram escritos
provavelmente trinta anos depois da ressurreição de Cristo, entre 60 e 70 depois de Cristo.
O autor cita que antes deles foram escritas quase com certeza todas as epístolas de Paulo.
Desta forma, temos a Bíblia Hebraica, que possuí os livros do Antigo Testamento, cerca
de 24 livros, divididos em três grandes seções: Lei (Torah), Profetas (Nebiim) e Escritos
(Ketubim). E, também temos após a formação do Novo Testamento, cerca de 27 livros,
divididos em Evangelhos, Atos, Paulo e Apocalipse. Importante citar que somos levados
a crer que Deus, guiou a Igreja Antiga na definição e escolha dos livros que fariam parte
do cânone.
No capítulo três, o autor fala especificamente sobre a Bíblia Hebraica e sobre o
texto do Antigo Testamento. Importante a fala do autor logo no primeiro parágrafo, ao
dizer que para o NT, existe uma riqueza e variedade de material, algo que não se aplica
no caso do AT. Além disso, o autor A descoberta dos pergaminhos de Qumran revelou
que as diferenças entre a Septuaginta (LXX) e o Texto Massorético (TM) do Antigo
Testamento não eram apenas resultado de tradução. Os pergaminhos, associados a um
grupo sectário, mostraram que sua Bíblia era semelhante à dos judeus em Jerusalém e
Alexandria, surpreendendo pela falta de tendências sectárias. Frank M. Cross propôs a
existência de três famílias textuais distintas, originadas entre os séculos V e I a.C. na
Palestina, Egito e possivelmente Babilônia, que influenciaram tanto os rolos de Qumran,
quanto a LXX e o TM. A incerteza persiste sobre se essa diversidade textual era comum
em outros grupos judaicos. Apesar disso, a tradição textual se tornou mais estável no
início do segundo século d.C., com a codificação da "massorá", que ajudou a eliminar
erros e padronizar o texto bíblico, preservando sua precisão. Por fim, Scholz fala sobre
os tipos de variantes textuais, destas, a maioria se deve a erros não-intencionais ou
involuntários e outras são intencionais na tentativa de melhorar o texto. Ele ainda fala
sobre os princípios da critica textual, e que os editores e tradutores do texto do Antigo
Testamento utilizam os mesmos princípios de crítica textual que são empregados na
edição e tradução do Novo Testamento.
No capítulo quatro o autor se dedica a falar das variantes encontradas para o Novo
Testamento, pois, por mais de 14 séculos, o texto grego do Novo Testamento foi
transmitido por cópias manuscritas, resultando em omissões, acréscimos e alterações no
texto, principalmente devido ao processo de cópia. Estima-se que haja cerca de 100 mil
variações nos manuscritos gregos do Novo Testamento. O ainda afirma que não existem
dois manuscritos gregos totalmente idênticos. Ainda irá falar sobre quais são as fontes
utilizadas para reconstruir o texto do Novo Testamento, que são: manuscritos gregos
traduções antigas e citações patrísticas. O livro cita que existem mais de 5400 manuscritos
gregos, incluindo papiros, unciais e minúsculos. Além disso, as traduções antigas são
valiosas por serem antigas e refletirem o texto original de forma precisa. As citações dos
Pais da Igreja também fornecem informações sobre o tipo de texto conhecido em
determinadas regiões. A história do texto grego é difícil de traçar, mas influencia as
decisões dos editores. Westcott e Hort favoreceram um "texto neutro", enquanto Harry
Sturz propôs que todos os tipos de texto remontam ao segundo século. Kurt Aland
introduziu um esquema com cinco categorias de manuscritos, incluindo os de primeira
linha, de qualidade especial com influência bizantina, de natureza distinta, do texto D
(ocidental) e predominantemente bizantinos. E por fim, Scholz cita que existem três
teorias de crítica textual: defesa do texto majoritário, ecletismo moderado e ecletismo
consistente. A defesa do texto majoritário acredita que Deus não permitiria que um texto
não original se espalhasse tão amplamente. O ecletismo moderado envolve a escolha do
melhor texto em cada variante, levando em consideração tanto a evidência externa quanto
a interna. E a última é o ecletismo consistente que propõem que o texto do NT foi revisado
no segundo século para se adequar ao estilo ático. Nesse caso, a evidência externa é menos
relevante, e o foco está no estilo do autor e no contexto.
Já no capítulo cinco, Scholz irá falar sobre o processo de tradução da Bíblia, em
que a primeira tradução literária da Bíblia, a Septuaginta, surgiu em grego nos séculos
antes de Cristo. À medida que o cristianismo se expandia, novas traduções, como as
latinas, começaram a aparecer por volta de 200 d.C. Com o movimento das sociedades
bíblicas iniciado em 1804, a Bíblia já havia sido traduzida para 68 línguas. Em 1940,
alcançou 1.000 línguas, e em 2003, a Bíblia ou partes dela estavam traduzidas para 2.355
línguas diferentes. A Bíblia em português foi a décima terceira tradução numa língua
moderna, depois da Reforma do século XVI. Em relação as diferenças das Bíblias em
português, o autor cita que a diferença fundamental entre as traduções de Almeida e a
NTLH diz respeito aos princípios de tradução. Almeida segue o princípio de equivalência
formal, buscando reproduzir tanto o sentido quanto a forma original do texto bíblico. Por
outro lado, a NTLH adota o princípio de equivalência funcional, que prioriza a tradução
do sentido, deixando de lado as estruturas originais, com o objetivo de impactar os leitores
contemporâneos da mesma forma que o original impactava seus leitores. A discussão
sobre princípios de tradução muitas vezes gira em torno do que deve ou não ser traduzido
e da fidelidade na tradução. Algumas pessoas defendem uma tradução literal da Bíblia,
mas na prática, todas as traduções envolvem algum grau de interpretação e adaptação do
texto original. Portanto, nenhuma tradução é totalmente formal ou literal, variando em
seu grau de aderência ao texto original. Em relação a fidelidade ao autor ou ao leitor,
podemos dizer que as traduções formais priorizam a fidelidade ao autor ou texto original,
enquanto as traduções menos formais privilegiam a fidelidade ao leitor ou à língua alvo.
As traduções identificadoras, também conhecidas como "exóticas," mantêm-se próximas
às palavras da língua fonte (original), enquanto as traduções naturalizadoras, ou
domesticadas, seguem os padrões da língua alvo. Importante dizer que o tradutor
dificilmente consegue ser fiel a ambos: autor e leitor.
O autor explora no capítulo seis a história da interpretação bíblica, que remonta
às próprias páginas da Bíblia. Os profetas do Antigo Testamento, por exemplo, já
interpretavam e aplicavam a Lei ao povo de sua época, estabelecendo assim um
precedente. O mesmo princípio se aplica ao Novo Testamento, visto que ele é uma
interpretação do Antigo. Scholz destaca que cerca de 10% do texto do Novo Testamento
é proveniente do Antigo Testamento, compreendendo 295 citações diretas e mais de 4.000
alusões ou referências indiretas. Isso evidencia a profunda dependência do Novo
Testamento em relação ao Antigo, tornando essencial a referência a este último para uma
interpretação adequada. Scholz ainda fala sobre a interpretação da Bíblia ao longo da
história. A era patrística viu a predominância da interpretação alegórica, com um foco no
significado espiritual e simbólico da Escritura. No entanto, alguns exegetas adotaram
abordagens mais literais e históricas. Na Idade Média, a interpretação alegórica se
consolidou, com a crença de que a Bíblia tinha quatro sentidos: literal, alegórico, moral e
anagógico, influenciada pelo platonismo e pelas regras hermenêuticas de Hillel. Já o
Renascimento trouxe um retorno às fontes originais da Bíblia, incentivando o estudo do
Antigo Testamento em hebraico e do Novo Testamento em grego. A Reforma, liderada
por Martinho Lutero, enfatizou a autoridade das Escrituras como a Palavra viva de Deus
e o foco em Cristo como tema central. A interpretação alegórica foi substituída pelo
sensus literalis, que enfatizava o significado literal do texto, e o princípio do sola Scriptura
destacava a supremacia das Escrituras. E por fim, na era moderna, houve uma ênfase
crescente na leitura histórica da Bíblia, influenciada pelo Iluminismo. A autoridade da
Escritura foi reforçada pela doutrina da inspiração verbal, e a dimensão histórica da Bíblia
tornou-se mais evidente. A hermenêutica geral passou a ser promovida, tratando a Bíblia
como qualquer outro livro antigo.
A partir do capítulo sete nós entramos na segunda parte do livro, que irá falar
sobre o método exegético, o texto enfoca a importância de adotar abordagens exegéticas
multidimensionais ao interpretar textos, especialmente no contexto da interpretação
bíblica. O autor começa destacando a necessidade de os intérpretes esclarecerem as
limitações de seus métodos, pois a escolha de um método não pode resolver
automaticamente todos os problemas de interpretação. Scholz adverte contra a
expectativa equivocada de que um novo método será a solução para todos os desafios
exegéticos. O texto também discute quatro elementos que os intérpretes podem enfatizar
ao escolher um método: o autor do texto, o próprio texto, o leitor do texto e o referente
do texto. A ênfase no autor, em particular, é explorada, com destaque para a dificuldade
de acessar a verdadeira intenção do autor e a importância de considerar a perspectiva do
autor codificada no texto. A ênfase no texto é elogiada, mas o texto também é visto como
parte de um processo de comunicação mais amplo. Por fim, o autor destaca a
complexidade dos textos e a necessidade de adotar abordagens multidimensionais que
considerem aspectos sintáticos, semânticos, pragmáticos e teológicos. Esses níveis de
análise são descritos como a gramática, a lógica e a retórica.
O capítulo oito explica as três etapas presentes no capítulo sete: Aspectos textuais,
Aspectos teológicos e Aspectos práticos. Na primeira etapa, chamada de "Aspectos
textuais" ou "gramática", o autor enfatiza a importância de delimitar o texto a ser
estudado. Isso envolve identificar os limites do texto, uma vez que a divisão em capítulos
e versículos nem sempre respeita a progressão do pensamento. Além disso, o autor alerta
para a necessidade de considerar os títulos de seção adicionados pelos editores, que
podem influenciar nossa compreensão do texto. Outro aspecto crítico na análise textual é
a determinação do gênero do texto, que pode ser narrativo, poético ou argumentativo. É
fundamental distinguir o gênero poético, caracterizado por linguagem figurada, dos
demais. Além disso, o autor destaca a importância da crítica textual, que envolve
examinar variantes textuais e entender por que surgiram e como afetam nossa
interpretação. A etapa seguinte, denominada "Aspectos teológicos" ou "lógica",
concentra-se em dois contextos cruciais: o contexto literário e o contexto histórico. O
contexto literário refere-se ao que vem antes e depois do texto, evitando interpretações
fora de contexto. Já o contexto histórico envolve a compreensão da situação histórica,
geográfica e cultural em que o texto foi escrito, bem como quem o escreveu e para quem
foi escrito. Além disso, é essencial analisar o contexto teológico, identificando os
principais temas teológicos presentes no texto e estabelecendo conexões com outros
versículos da Bíblia. Essa abordagem mais ampla ajuda a compreender o significado
original do texto e sua relevância para nossa fé. Na última etapa, denominada "Aspectos
práticos" ou "retórica", o foco está na aplicação do texto. O autor enfatiza que aplicar o
texto à vida pessoal, à igreja e ao mundo é uma parte essencial da interpretação bíblica.
Isso envolve fazer perguntas que auxiliem na aplicação, como relacionar o texto a
situações semelhantes, considerar a mensagem sobre Deus, o ser humano e a igreja, e
refletir sobre ações sugeridas pelo texto. No entanto, o autor também alerta sobre a
necessidade de superar as barreiras pessoais, especialmente a "barreira da velha natureza
humana". Reconhece que aplicar o texto não é fácil e que a transformação interior, através
do arrependimento, fé e amor, é fundamental para uma aplicação significativa da
mensagem bíblica em nossas vidas.
O autor utiliza do capítulo nove para falar sobre a dimensão linguística da Bíblia,
destacando a importância do estudo da linguagem e da semântica na interpretação das
Escrituras. Começa mencionando a origem da linguística como ciência no século XX,
com ênfase na obra de Ferdinand de Saussure, que enfatizou a arbitrariedade dos signos
verbais e introduziu conceitos como os eixos diacrônico e sincrônico da língua, eixos
sintagmático e paradigmático, e estrutura profunda e estrutura de superfície. O papel de
Saussure é destacado na interpretação da Bíblia, especialmente na necessidade de
entender as palavras no contexto de sua época original. Também se mencionam algumas
críticas às ideias de Saussure, incluindo a ênfase excessiva na língua em detrimento da
fala e a noção de que significado é diferença. O texto explora o significado das palavras,
a etimologia e como a etimologia pode ser útil ou enganosa na interpretação. Além disso,
discute a vagueza das palavras e como palavras podem ter significados amplos ou
específicos, dependendo do contexto. Aborda também a relação entre significado e
referência, mostrando como determinar o referente de uma palavra ou expressão pode ser
crucial na interpretação. Outros conceitos linguísticos discutidos incluem sinonímia,
polissemia e transferência ilegítima de totalidade. O autor por fim, também faz uma
distinção entre classes gramaticais e classes semânticas e destaca a importância de
entender as palavras como parte fundamental da interpretação bíblica. Conclui que a
interpretação começa com a palavra e destaca a necessidade de compreender palavras,
frases e textos para uma interpretação adequada das Escrituras.
No capítulo dez, Scholz irá falar sobre a mensagem central da Bíblia, que é a
unidade na diversidade, representada pela tensão entre lei e evangelho. A Bíblia é vista
como uma coletânea de textos escritos por diferentes autores ao longo do tempo,
refletindo perspectivas variadas sobre temas como eleição e universalidade. Essa tensão
entre a lei, que condena, e o evangelho, que oferece graça e perdão, resumem a mensagem
das Escrituras. Isso se aplica tanto quantitativamente quanto funcionalmente, com textos
podendo funcionar como lei ou evangelho, dependendo da interpretação. Outras ênfases,
como a soberania de Deus e a palavra infalível, são válidas, mas não capturam
completamente a mensagem da Bíblia. A distinção entre lei e evangelho não resolve todos
os problemas de interpretação, mas destaca a principal função das Escrituras: tornar as
pessoas sábias para a salvação, que é pela graça de Deus, por meio de Cristo e pela fé.
Ao chegarmos ao capítulo onze, nos deparamos com a dimensão pragmática da
Bíblia. O autor destaca que um discurso não é apenas a expressão de significados, mas
também um instrumento usado para alcançar objetivos específicos. John L. Austin
introduz a ideia de que as palavras são usadas para realizar ações, inaugurando a teoria
dos atos de fala. Essa teoria enfatiza que a linguagem não é apenas sobre verdade e
falsidade, mas também sobre a força comunicativa das palavras. Existem três dimensões
na linguagem: locutiva, ilocutiva e perlocutiva. A dimensão pragmática de um texto é
crucial na exegese bíblica, pois revela a intenção do autor e o propósito do texto. O texto
é estruturado de maneira a significar algo porque o autor deseja alcançar algo com ele. O
texto também pode funcionar de maneiras diferentes dependendo do contexto, ilustrando
como a pragmática desempenha um papel fundamental na interpretação. O texto destaca
a importância da pragmática na teologia, especialmente na pregação e no ensino. O
teólogo deseja não apenas comunicar verdades teológicas, mas também provocar uma
resposta ou uma ação por parte dos ouvintes ou leitores. A distinção entre lei e evangelho
na Escritura é discutida como um exemplo de como uma mesma afirmação pode ter forças
diferentes em contextos diferentes. O evangelho é visto não apenas como um conteúdo
proposicional, mas como uma proclamação viva que visa provocar uma resposta nos
ouvintes.
A partir do capítulo doze, entramos na terceira e última parte do livro, que se refere
a parte do método exegético aplicado a diferentes gêneros bíblicos. Este capítulo busca
falar sobre os gêneros literários na Bíblia, destacando que os gêneros são padrões de
linguagem, tanto orais quanto escritos, que se repetem e podem ser reconhecidos por suas
características específicas. Os gêneros não podem ser reduzidos a um conjunto de
informações e não podem ser simplesmente transferidos para outros gêneros sem perdas
significativas. Além disso, os gêneros são flexíveis e mudam com o tempo e a cultura. O
autor também menciona a importância de considerar o assunto e o tom do texto ao
identificar um gênero literário, e como a competência hermenêutica envolve a correta
identificação do gênero para uma interpretação adequada.
No capítulo treze, o autor aborda a importância das narrativas na Bíblia e como
elas são uma forma eficaz de comunicação. Ele destaca que as histórias têm o poder de
envolver os leitores e ouvintes, convidando-os a entrar na narrativa, visualizar cenas e se
identificar com personagens. As narrativas são uma parte significativa da Bíblia,
representando 75% do Antigo Testamento e uma parte substancial do Novo Testamento.
Além disso, o texto ressalta que as narrativas bíblicas não são simples ilustrações, mas
sim a própria mensagem. Elas ensinam de forma indireta, transmitindo princípios e
aspectos da realidade por meio de exemplos. O leitor desempenha um papel importante
na dedução do significado das histórias, muitas vezes ajudado por pistas dadas pelo
narrador ou pelo contexto maior da história da salvação. O texto também menciona o
perigo de ignorar ou fragmentar as narrativas, seja pelo método dogmático que busca
apenas extrair verdades teológicas, seja pelo "pericopite" que estuda pequenas unidades
isoladas. A análise da narrativa, por outro lado, envolve a leitura do texto como um todo,
considerando o enredo, cenários, personagens, eventos e conflitos para entender o
significado completo da narrativa. Finalmente, o texto destaca a ironia dramática presente
em algumas narrativas bíblicas, onde o leitor possui conhecimento que os personagens
não têm, criando um efeito interessante na interpretação. Ao aplicar a análise da narrativa
a textos menores ou perícopes, sugere-se fazer perguntas relacionadas a cenários,
personagens e eventos para uma interpretação mais profunda.
Em relação ao capítulo quatorze, Scholz fala sobre as Parábolas de Jesus, ele
começa destacando a importância das parábolas no ensino de Jesus e como elas
frequentemente foram interpretadas de maneira alegórica ao longo da história. O texto
também explica os conceitos de metáfora, símile, parábola e alegoria. O autor oferece
uma definição de parábola como histórias não literais destinadas a ensinar uma verdade
ou lição, destacando quatro elementos-chave das parábolas: narrativa, níveis de
significado, propósito de persuasão e foco no reino de Deus. O texto aborda ainda a
distinção entre parábolas em sentido amplo e estrito, explicando que o termo "parabolé"
é usado de várias maneiras no Novo Testamento. Também discute os três tipos de
parábolas nos Evangelhos: parábolas-símile, parábolas-parábola e parábolas-ilustração.
Há uma discussão sobre a importância do contexto literário das parábolas e como ele
influencia sua interpretação. Além disso, o texto explora o propósito das parábolas,
destacando seu papel na transformação do pensamento e da vontade dos ouvintes. O
conceito de ponto de comparação nas parábolas é explicado, enfatizando a necessidade
de não extrair significados além do que a parábola pretende ensinar. Também discute a
questão de encontrar uma verdade central nas parábolas e como isso pode simplificar
demais a mensagem. O autor menciona temas parabólicos e sua relação com o reino de
Deus, bem como a importância de considerar paralelos em outros Evangelhos ao
interpretar uma parábola. Por fim, o texto analisa a parábola do filho pródigo em detalhes,
destacando sua mensagem sobre a graça divina e a importância de compreender os
personagens e o contexto para uma interpretação adequada.
Scholz, agora no capítulo quinze, fala sobre a dimensão poética da Bíblia, ele cita
que a presença da poesia na Bíblia é notável, com aproximadamente um terço do Antigo
Testamento escrito em forma de poesia. Os livros de Jó, Salmos, Provérbios, Cântico dos
Cânticos, Lamentações e os profetas contêm muitos exemplos de poesia. Mesmo no Novo
Testamento, encontramos elementos poéticos nos ensinamentos de Jesus, como
provérbios, metáforas e discurso poético. A característica marcante da poesia hebraica é
o paralelismo, que pode ser sinônimo, antitético ou sintético, e é uma forma de rima de
ideias ou pensamentos. Outros recursos poéticos incluem acrósticos, assonâncias,
aliterações e trocadilhos. A linguagem poética muitas vezes não deve ser interpretada
literalmente, e é fundamental reconhecer o contexto para uma interpretação precisa. Além
disso, o autor apresenta figuras retóricas como metáfora, metonímia, sinédoque,
personificação, apóstrofe, perguntas retóricas, quiasmo, elipse, anacoluto, eufemismo e
clímax, citando que são muito comuns na Bíblia, e que elas enriquecem sua linguagem e
significado. Por fim, Scholz fala sobre os Salmos, que desempenham um papel central na
Bíblia, resumindo muitos aspectos da teologia do Antigo Testamento e sendo amplamente
citados no Novo Testamento.
Ao chegarmos no penúltimo capítulo, encontramos uma análise de cartas ou
epístolas no Novo Testamento, destacando a importância de compreender sua estrutura,
contexto histórico e argumentação. Estes textos, que representam uma parte significativa
do Novo Testamento, têm uma estrutura que inclui elementos como formulário de
abertura, corpo da carta e conclusão. Embora algumas epístolas se assemelhem mais a
tratados ou sermões do que cartas tradicionais, elas ainda mantêm algumas características
do gênero epistolar. Nos últimos tempos, ganhou destaque uma abordagem de análise
retórica das epístolas, que examina os elementos persuasivos e os modos de comunicação
presentes nesses textos bíblicos. Isso inclui a consideração de fatores como ethos (o
caráter moral do orador), pathos (as emoções que o discurso evoca nos ouvintes) e logos
(os argumentos lógicos no discurso). Além disso, o autor cita que as epístolas são
frequentemente relacionadas aos três gêneros da retórica clássica: forense (judicial),
deliberativa (assembléia de cidadãos) e epidíctica (demonstrativa). Elas se enquadram
principalmente no gênero epidíctico, que busca celebrar valores comuns. A análise
retórica ressalta que os textos bíblicos têm uma dimensão pragmática, sendo direcionados
a pessoas em contextos específicos para alcançar objetivos específicos. Portanto,
compreender o contexto histórico e a situação retórica em que as epístolas foram escritas
é crucial para uma interpretação precisa. Scholz também fala que identificar a progressão
de ideias nas epístolas desempenha um papel importante na interpretação. Isso envolve
examinar como as partes do texto se relacionam entre si, levando em consideração a
sintaxe e os conectivos utilizados. Por fim. O autor realiza um exemplo desse processo
ao analisar Efésios 4:12, que pode ter interpretações variadas dependendo de como as
locuções preposicionais são relacionadas.
Agora, no último capítulo do livro, o autor aborda a interpretação do Antigo
Testamento, com ênfase nos textos proféticos, e discute várias abordagens hermenêuticas.
Começa destacando a importância da maneira como a Igreja cristã encara o Antigo
Testamento, pois isso afeta a teologia adotada, a mensagem proclamada e a vida cristã.
Existem três abordagens principais:
1. O enfoque marcionita: Representado por figuras como Marcião e os gnósticos,
essa abordagem rejeita completamente o Antigo Testamento. Embora seja raro
encontrar alguém que a rejeite explicitamente nos dias de hoje, muitos
demonstram pouco interesse pelo Antigo Testamento na prática.
2. O enfoque alexandrino: Esta abordagem enfatiza a identidade e igualdade entre
o Antigo e o Novo Testamento. Alega que o Novo Testamento é uma explicação
e aplicação do que estava implícito no Antigo Testamento. Valoriza a
continuidade em detrimento da ruptura e permite interpretações alegóricas.
3. O enfoque antioqueno: Representado pela escola de Antioquia, enfatiza tanto a
continuidade quanto a novidade na redenção. Reconhece a revelação progressiva
na Bíblia e vê o Antigo Testamento como um desenvolvimento em direção ao
Novo Testamento.
Além disso, Scholz fala sobre a interpretação de textos proféticos, enfatizando a
importância do contexto histórico para compreendê-los. Os profetas não apenas previam
o futuro, mas também falavam diretamente aos contemporâneos, buscando influenciar a
situação presente. O contexto literário e a linguagem poética também desempenham
papéis significativos na interpretação dos textos proféticos.
O Apocalipse é mencionado como um livro rico em simbolismo e linguagem
enigmática. Sua estrutura, embasamento no Antigo Testamento e papel normativo dos
textos claros são discutidos. A questão do milênio é abordada, com destaque para a
interpretação figurada desse conceito. O propósito do Apocalipse é consolar e encorajar
a Igreja, especialmente durante a perseguição. O texto conclui enfatizando que o
Apocalipse é, essencialmente, o Evangelho do Jesus exaltado, que ressuscitou e foi
crucificado. Também ressalta a centralidade do trono de Deus e a importância de entender
e respeitar o propósito do livro. O Apocalipse não promete uma saída fácil das tribulações,
mas sim uma visão estrutural do bem e do mal, onde poder e graça estão interligados,
levando à adoração e louvor a Deus.
CONCLUSÃO

A partir daquilo que foi exposto neste resumo, podemos concluir que este livro
emerge como uma obra fundamental para aqueles que buscam compreender as Escrituras
de forma mais profunda e significativa. Sua abordagem hermenêutica oferece um guia
abrangente e detalhado sobre como interpretar a Bíblia, reconhecendo a riqueza de sua
diversidade literária, histórica e cultural. Uma das principais lições extraídas é a
necessidade de considerar o contexto, tanto histórico quanto literário, ao se abordar os
textos bíblicos. Isso envolve compreender os diferentes gêneros literários presentes na
Bíblia, desde os textos proféticos até o livro do Apocalipse. A ênfase na relação entre o
Antigo e o Novo Testamento e nas formas progressivas de revelação é fundamental para
uma interpretação mais precisa. Além disso, o livro destaca a importância de entender o
propósito subjacente dos textos bíblicos, reconhecendo que a Bíblia não apenas registra
eventos históricos, mas também proclama uma mensagem relevante para a vida da Igreja
cristã. Esta mensagem envolve temas como a soberania de Deus, o poder da redenção, a
relação entre o Antigo e o Novo Testamento e a necessidade de adoração e louvor a Deus.
Em última análise, "Princípios de Interpretação Bíblica" oferece um valioso
recurso para aqueles que desejam se envolver de maneira mais profunda com as
Escrituras, destacando a importância da interpretação cuidadosa e contextualizada da
Bíblia como fonte de orientação espiritual e doutrinária para aqueles que nela creem.
REFERÊNCIAS

SCHOLZ, Vilson. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA INTRODUÇÃO


À HERMENÊUTICA COM ÊNFASE EM GÊNEROS LITERÁRIOS. Canoas:
Editora ULBRA, 2006. 236 p.

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