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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 3
1. O CANON DAS ESCRITURAS 3
1.1. O CÂNON PROTESTANTE DO ANTIGO TESTAMENTO 3
Origem 3
Os Massoretas 4
O Cânon Massorético 4
O Cânon Consonantal 4
Testemunhas Antigas do Cânon Protestante Hebraico 5
O Testemunho de Jesus e dos Apóstolos 6
1.2 O CÂNON CATÓLICO DO ANTIGO TESTAMENTO 6
Origem 6
A Septuaginta 6
A Vulgata 8
Conclusão 9
2. CONTEÚDO RESUMIDO DOS LIVROS APÓCRIFOS 9
3. ANÁLISE CRÍTICO-DOUTRINÁRIA DOS LIVROS APÓCRIFOS
10
3.1. SALVAÇÃO PELAS OBRAS 10
3.2. ELOGIO AO SUICÍDIO 11
3.3. FEITIÇARIA 12
3.4. INTERCESSÃO PELOS MORTOS 12
3.5. AUSÊNCIA DE INSPIRAÇÃO DIVINA 12
3.6. O PECADO 13
CONCLUSÃO 14
3
A QUESTÃO DOS LIVROS APÓCRIFOS
INTRODUÇÃO
Freqüentemente a Igreja Protestante é acusada pelos católicos romanos de
haver retirado da Bíblia Sagrada alguns livros e partes de outros. E muitas
vezes os cristãos evangélicos ficam sem saber o que responder por falta de
instrução acerca do assunto. Será que esses livros foram retirados da Bíblia
pelos protestantes ou foram acrescentados como livros inspirados, mesmo que
de reconhecimento tardio (deuterocanônicos) pelos católicos romanos, após a
Reforma Protestante? Na verdade os livros apócrifos foram disputados durante
séculos acerca de sua inspiração divina. À época da Reforma Protestante ainda
permanecia a discussão: fazem parte ou não da coleção dos livros inspirados
pelo Espírito Santo, também chamada de Sagradas Escrituras? Os protestantes
reconheceram pelo seu conteúdo e pela própria formação do Cânon Hebraico
que esses livros não eram de inspiração divina. Por algum tempo eles foram
colocados ao final das Bíblias de edição protestante como um apêndice, tendo
apenas valor histórico. Por fim, foram totalmente retirados para que não
houvesse nenhuma confusão a respeito dos livros verdadeiramente inspirados.
O texto que se segue é uma compilação de materiais. A primeira parte é
extraída do livro Sola Scriptura: a Doutrina Reformada das Escrituras, de autoria
de Paulo Anglada, Editora Os Puritanos. No capítulo 3 desse livro, o autor trata
do Cânon das Escrituras, e como a discussão dos livros não inspirados é uma
questão no Antigo Testamento, pois os livros apócrifos estão nessa parte da
Bíblia Católica, transcrevi as duas divisões que nos interessam no momento: O
Cânon Protestante do Antigo Testamento e O Cânon Católico do Antigo Testamento.
A segunda parte é um resumo dos livros apócrifos, extraído do artigo de G. R.
Beasley-Murray, Os Livros Apócrifos e Apocalípticos, do Novo Comentário da Bíblia.
A última parte, por sua vez, é uma avaliação crítica da incompatibilidade das
doutrinas ensinadas nesses livros em relação aos livros inspirados, ou seja, os
39 livros do Antigo Testamento e 27 do Novo Testamento.
1 A palavra cânon é mera transliteração do termo grego kanwn, que significa vara reta, régua,
regra. Aplicado às Escrituras, o termo designa os livros que se conformam à regra da
inspiração e autoridade divinas. Atanásio (séc. IV) parece ter sido o primeiro a usar a palavra
neste sentido. São chamados canônicos, portanto, os livros que foram inspirados por Deus, os
quais compõem as Escrituras Sagradas – o cânon bíblico (Anglada. Sola Scriptura, p. 33-34).
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definitiva, vocalizada e acentuada pelos massoretas. A ordem dos livros,
entretanto, segue a da Vulgata e da Septuaginta.
Os Massoretas
Os massoretas eram judeus estudiosos que se dedicavam à tarefa de
guardar a tradição oral (massora) da vocalização e acentuação correta do texto.
À medida que um sistema de vocalização foi sendo desenvolvido, entre 500 e
950 d.C., o texto consonantal2 que receberam dos soferim3 foi sendo por eles
cuidadosamente vocalizado e acentuado. Além dos pontos vocálicos e dos
acentos, os massoretas acrescentavam também ao texto massoras marginais,
maiores e finais, calculadas pelos soferim. Essas massoras (tradições) eram
estatísticas colocadas ao lado das linhas, ao fim das páginas e ao final dos
livros, indicando quantas vezes uma determinada palavra aparecia no livro, o
numero de versículos, palavras e letras. Elas indicavam até a palavra e letra
central do livro.
O Cânon Massorético
Embora o conteúdo do cânon protestante seja o mesmo do cânon hebraico,
a divisão e a ordem dos livros são diferentes. Eis a divisão e a ordem do cânon
hebraico:
O Pentateuco (Torá): Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio.
Os Profetas (Neviim):
Anteriores: Josué, Juízes, 1-2 Samuel, 1-2 Reis.
Posteriores: Isaías, Jeremias, Ezequiel e Profetas Menores.
Os Escritos (Kêtuvim):
Poesia e Sabedoria: Salmos, Provérbios e Jó.
Rolos ou Megilloth (lidos nos anos litúrgicos): Cantares (na páscoa),
Rute (no pentecostes), Lamentações (no quinto mês), Eclesiastes (na
festa dos tabernáculos) e Éster (na festa de purim).
Históricos: Daniel, Esdras, Neemias e 1 e 2 Crônicas.
O Cânon Consonantal
A divisão e ordem dos livros no cânon hebraico consonantal (anterior)
eram as mesmas. O número de livros, entretanto, era diferente. O conteúdo era
o mesmo, mas agrupado de modo a formar apenas 24 livros. Os livros de 1 e 2
2 O nome é texto consonantal porque no alfabeto hebraico não havia vogais, logo, os
massoretas adicionaram às palavras que só tinham consoantes os sinais vocálicos para
facilitar a pronuncia.
3 Ordem dos escribas que originou-se com Esdras, e que se estendeu até 200 d.C., cuja função
Desde Artaxexes (sucessor de Xerxes) até nossos dias, tudo tem sido
registrado, mas não tem sido considerado digno de tanto crédito quanto
aquilo que precedeu a esta época, visto que a sucessão dos profetas cessou.
Mas a fé que depositamos em nossos próprios escritos é percebida através
de nossa conduta; pois, apesar de ter-se passado tanto tempo, ninguém
jamais ousou acrescentar coisa alguma a eles, nem tirar deles coisa alguma,
nem alterar neles qualquer coisa que seja.6
4 24 livros da Bíblia hebraica, mais 15 que foram agrupados, chega aos 39 livros do cânon
protestante.
5 Ele menciona 22, ao invés de 24, porque com certeza, originalmente, Rute era agrupado com
A Septuaginta
A Septuaginta [LXX] é uma tradução dos livros judaicos para o grego feita,
possivelmente, durante o reinado de Ptolomeu Filadelfo (285-245 a.C.) ou até
meados do século I a.C., para a biblioteca de Alexandria, no Egito. Os
tradutores não se limitaram a traduzir os livros considerados canônicos pelos
judeus. Eles traduziram os demais livros judaicos disponíveis. E, a julgar pelos
A Vulgata
Ao traduzir a Vulgata11, Jerônimo também inclui alguns livros apócrifos.
Não o fez, contudo, por considerá-los canônicos, mas apenas por considerá-los
úteis, como fontes de informação sobre a história do povo judeu.
Na Idade Média a versão francamente usada pela igreja foi a Vulgata latina.
A partir dela e da Septuaginta também forma feitas outras traduções. Ora,
multiplicando-se o erro, e afastando-se cada vez mais a igreja da verdade (como
aconteceu crescentemente nesse período), tornou-se mais e mais difícil
distinguir entre os livros que deveriam ser considerados canônicos ou não.
Esses livros nunca foram completamente aceitos, mesmo nessa época. Mas, por
estarem incluídos nessas versões, a igreja em época de trevas, geralmente
falando, não teve discernimento espiritual para distinguir entre livros apócrifos
e canônicos.
Por fim, no Concílio de Trento, em 1546, também em reação contra os
protestantes, que reconheceram apenas o cânon hebraico, a igreja de Roma
declarou os livros apócrifos relacionados acima, bem como autoritativas as
tradições orais: “O Sínodo... recebe e venera todos os livros, tanto do Antigo
como do Novo Testamento... assim como as tradições orais”. A seguir são
relacionados todos os livros considerados canônicos, incluindo os apócrifos.
Concluindo o decreto adverte:
10 Bispo de Hipona (354-430), norte da África, chamado pelos católicos de Santo Agostinho.
11 Vulgata (em latim vulgar editio, "edição popular"), edição da Bíblia latina qualificada de
autêntica pelo Concílio de Trento. A atual composição da Vulgata é, em essência, obra de
Jerônimo (345-419), doutor da Igreja Católica.
12 R. L. Harris, Inspiration and Canonicity of the Bible [Inspiraçao e Canonicidade da Bíblia], 192.
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reduzindo para quatro o número dos apócrifos aceitos: Sabedoria, Eclesiástico,
Tobias e Judite.13
Conclusão
Por ironia da História, a Vulgata de Jerônimo, o qual não considerava
canônicos os livros apócrifos, 14 veio a ser a principal responsável pela inclusão
destes livros no cânon católico.
A obra dos reformadores foi maior do que se pode pensar à primeira vista.
Eles não apenas redescobriram as doutrinas básicas do evangelho, como a
doutrina da salvação pela graça mediante a fé. Eles redescobriram também o
cânon. Graças a eles e ao testemunho do Espírito Santo, a igreja protestante
reconhece como canônicos, com relação ao Antigo Testamento (é claro), os
mesmos livros que Jesus e os apóstolos, e os judeus de um modo geral sempre
reconheceram.
Alguns dos apócrifos são realmente úteis como fontes de informações a
respeito de uma época importante na história do povo de Deus: o período inter-
testamentário. Os protestantes reconhecem o valor histórico deles. Seguindo a
prática dos primeiros cristãos, as edições modernas protestantes da Septuaginta
normalmente incluem os apócrifos, e até algumas Bíblias protestantes antigas
os incluíam, no final, apenas como livros históricos.
Mas as igrejas reformadas15 excluíram totalmente os apócrifos das suas
edições da Bíblia, e, “induziram a Sociedade Bíblica Britânica e Estrangeira, sob
pressão do puritanismo escocês, a declarar que não editaria Bíblias que
tivessem os apócrifos, e de não colaborar com outras sociedades que incluíssem
esses livros em suas edições”.16 Melhor assim, tendo em vista o que aconteceu
com a Vulgata! Melhor editá-los separadamente.
Apócrifos e Apocalípticos. In: Novo Comentário da Bíblia, 2 ed., São Paulo: Vida Nova: 1980
[CD-Rom].
10
O livro 2 [4] de Esdras não passa dum apocalipse do primeiro século da era
cristã, de certo modo o mais trágico de todos os apocalipses.
Tobias é uma história romântica que nos fala da sepultura dos mortos e do
casamento de Tobias. Foi escrito provavelmente nos fins do século III a. C.
Judite é outra obra de ficção a propósito da libertação duma cidade do
exército assírio. Não vai além da época dos macabeus (cerca de 150 a.C.).
O descanso de Ester é um apêndice ao livro canônico, e inclui orações e
decretos, que vêm tornar mais explícito o caráter religioso do livro.
A sabedoria de Salomão é considerado um dos livros mais representativos
e mais sublimes da sabedoria hebraica, do período que decorre entre os dois
Testamentos, pois supõe-se escrito entre 150 a.C. e o ano 40 da nossa era.
O Eclesiástico, também chamado "Sabedoria de Jesus, filho de Siraque", é
uma obra do gênero da anterior, embora se julgue ser da autoria dum saduceu
e publicada cerca do ano 180 a.C.
Baruque forma um livro só com A Epístola de Jeremias, datando o
primeiro do século III a.C. e o segundo do século II a.C. Ambos se destinam a
combater a heresia.
Apêndices ao livro de Daniel conhecem-se três: A história de Susana
condenada à morte e defendida pelo jovem Daniel; A oração de Azarias e o
Cântico dos três santos mancebos lançados à fornalha ardente; e por fim Bel e o
Dragão, duas narrativas separadas contando como Daniel desacreditou os
sacerdotes de Bel e desmascarou o deus-dragão.
A oração de Manassés é um grito de arrependimento proferido pelo rei
que tem este nome e baseado em #2Cr 23.12 e segs., escrito provavelmente no
século II a.C.
O livro 1 Macabeus narra a luta dos judeus, chefiados pelos filhos de
Matatias, contra Antíoco Epífanes e seus sucessores. Há quem suponha que o
autor é contemporâneo dos acontecimentos que relata.
O 2 Macabeus continua o anterior e expõe, num estilo primoroso, as
façanhas de Judas Macabeu.
18A partir daqui até o tópico 3.5 é parte de um trabalho apresentado pelos então seminaristas
Luiz Ancelmo Cardoso e Nelson dos Santos Magalhães, no Seminário Presbiteriano Brasil
Central (GO).
11
oração com o jejum, e melhor é a esmola com a justiça do que a riqueza com a
iniquidade… a esmola livra da morte e purifica de todo o pecado. Os que dão
esmola terão longa vida…”
Essas duas passagens comprometem muito esse livro, pois não se trata
apenas de uma referência do pensamento do velho Tobias, o que nele está é
uma expressão de forma normativa, de uma doutrina contrária às Escrituras
Sagradas, apresentada como ensinada pôr um anjo. (ver Gal. 1.8).
As Escrituras afirmam mediante as palavras de Jesus que por meio do
próprio homem a salvação é impossível (Mateus 19.25, 26); que o amor de Deus
demonstrado em seu filho Jesus Cristo é a solução divina para quem nele crê
(João 3.16); e em outras passagens como I Timóteo 2.5; Atos 4.12; João 14.6;
Efésios 2.8, 9,;Atos 11.13, 14; 10.1-5.
CONCLUSÃO
“Conhecereis a verdade e a verdade vos libertarás”, disse Jesus (João 8.32).
Os testemunhos históricos nos dão provas claras de que foi um equívoco muito
grande esses textos apócrifos serem inseridos no conjunto dos livros sagrados.
Como diz o dito popular, o pior cego é o que não quer ver. Jerônimo, tradutor da
versão autorizada pela Igreja Católica Romana, a Vulgata, ele próprio
desconsiderou os livros apócrifos, como já foi dito.
Além do testemunho histórico desde o início em que foram incluídos esses
livros, quando da tradução dos livros dos judeus para o grego, a fim de que
fizesse parte da Biblioteca de Alexandria, passando pelo historiador Flávio
Josefo, que afirmou que os judeus não tinham esses livros no cânon hebraico,
bem como pelos pais da Igreja, todos são categóricos em afirmar quais os livros
verdadeiramente são inspirados, e os que citamos como apócrifos, ou seja, os
que estão na tradução das Bíblias católicas, não são canônicos; logo, não devem
fazer parte do texto sagrado, a Palavra de Deus. O livro de Apocalipse finaliza
com uma advertência muito grave e séria: “Eu, a todo aquele que ouve as
palavras da profecia deste livro, testifico: Se alguém lhes fizer qualquer
acréscimo, Deus lhe acrescentará os flagelos escritos neste livro” (Ap 22.18).
Quem tem ouvidos para ouvir, ouça!
20 Louis Berkhof. Teologia Sistemática. Campinas: Luz Para o Caminho, 1990. p. 222.
15
BIBLIOGRAFIA
ANGLADA, Paulo. Sola Scriptura: a Doutrina Reformada das Escrituras. 1 ed., São
Paulo: Editora Os Puritanos, 1998.
BEASLEY-MURRAY, G. R. Os Livros Apócrifos e Apocalípticos. In: Novo
Comentário da Bíblia, 2 ed., São Paulo: Vida Nova: 1980 [CD-Rom].
CARDOSO, Luiz Ancelmo, MAGALHÃES, Nelson dos Santos. Os Livros
Apócrifos. Goiânia: SPBC, 2000 (trabalho não publicado).