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HOW I ARRIVED TO THE BIGGEST MUSICAL PRIZE FROM RS WITH MY FIRST CULTURAL
PROJECT
Resumo: Este artigo é um relato de experiência com linguagem simples e objetiva que conta como a
autora Yasmini Vargaz, cantora de ópera sem experiência prévia em projetos culturais desenvolveu
uma ideia, a transformou em projeto cultural, captou recursos, executou o projeto junto a
convidados e chegou até a maior premiação da música do estado do Rio Grande do Sul, o Prêmio
Açorianos de Música 2021. A introdução traz um breve panorama da situação inicial e de como
surgiu a ideia inicial. Durante o artigo, a autora fala sobre elaboração de um projeto cultural,
orçamento, metodologia e captação de recursos e como o projeto chegou até a maior premiação do
estado do RS ao lado de grandes nomes da música. Ela encerra com as suas considerações sobre
poder escolher a sua própria equipe e as habilidades para gerenciá-la.
Abstract: This article is an experience report with simple and objective language that tells how the
author Yasmini Vargaz, an opera singer with no previous experience in cultural projects, developed
an idea, turned it into a cultural project, raised funds, executed the project with guests and arrived
until the biggest music award in the state of Rio Grande do Sul, the Prêmio Açorianos de Música
2021. The introduction provides a brief overview of the initial situation and how the initial idea came
about. During the article, the author talks about the elaboration of a cultural project, budget,
methodology and fundraising and how the project reached the highest award in the state of RS
alongside great names in music. She ends with her considerations about being able to choose your
own team and the skills to manage it.
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Doutoranda em Práticas Interpretativas – Ópera pela UNIRIO. yasmini_vargas@hotmail.com
II SEMINÁRIO ARTE E POLÍTICAS CULTURAIS
14 a 17 de fevereiro de 2022 - João Pessoa - PB
1 INTRODUÇÃO
A pandemia de covid-19 acertou ao setor artístico em cheio. De uma hora para a outra,
orquestras inteiras fecharam, as programações de grandes instituições culturais foram
pausadas, produções de todos os tamanhos foram canceladas e consequentemente, os
nossos cachês foram por água abaixo. No primeiro momento, experimentamos uma
sensação de suspensão de realidade, onde nada parecia ser real. Mas em seguida, as contas,
aluguéis, comida faltando em casa e a sensação de impotência perante esse quadro bateram
na porta de inúmeros artistas autônomos, exatamente como eu. De repente, a minha
preocupação passou de “Qual será a minha próxima ópera de estudo?” para “O que vamos
comer semana que vem?” O momento pedia mudanças rápidas e habilidades de
sobrevivência reais, dessas que a gente vê em programas de canais de televisão, sabe?
Então, me perguntei: O que eu sei fazer de verdade além de dominar meu próprio
instrumento, o canto?
Como doutoranda que sou, empreendi uma pesquisa de campo rápida para ver o que
meus colegas pensavam e como estavam se movimentando nesta crise toda. Todos com
quem falei – tirando os colegas com carreira acadêmica consolidada e com vínculo
empregatício público, que estavam razoavelmente tranquilos – estavam desesperados, sem
saber que caminho seguir, alguns em quadros depressivos seríssimos e se movendo em
torno da crise. E percebi que se eu ficasse no meio deste turbilhão, não sairia dele. Eu
precisava sair desse universo e procurar uma saída. Foi nesse momento que percebi que se
eu quisesse continuar cantando, vivendo da minha profissão e fugir do esquecimento, eu
teria que produzir meus próprios espetáculos. E nem eu e nem meus colegas sabiam como
fazer isso.
Não existe um livro ou um curso com o título “produção cultural: primeiros passos” em
que eu pudesse me inscrever e sair com um certificado – como se certificados valessem
muito nessa hora – e ser uma grande produtora e ganhar o meu pão de cada dia. E mesmo
as publicações que me chegaram até mim, chegaram tardiamente, bem depois de eu
escrever os meus projetos de maneira independente, altamente desinformada e empírica. E
digamos que no RS, produtores culturais são joias raras, difíceis de encontrar e bem caras de
pagar. E quando você encontra, pedem para receber pelos seus serviços - nebulosos –
adiantado. Mas afinal de contas, que diabos faz um produtor cultural?
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3 A IDEIA
A ideia é o primeiro passo de uma produção cultural. E é claro que eu não sabia disso!
Mas comecei daí. Defini a minha ideia baseada em algo que sou apaixonada e desenvolvi o
conceito de espetáculo a partir dessa ideia principal, que foi amadurecendo ao longo do
tempo. Aproveito para deixar aqui algumas perguntas que me ajudaram a elaborar a ideia e
a entender melhor o processo de criação de um produto cultural e que também podem
ajuda-lo.
Essas perguntas aqui podem ajudá-lo a definir com mais precisão os contornos da sua
ideia e te ajudarão mais tarde quando você precisar justificar e descrever
metodologicamente o seu projeto. Voltemos ao meu caso: música espanhola.
Desse assunto, poucos cantores líricos sabem, praticam ou estudam sobre, mas este
assunto é caro para mim, algo que eu realmente gosto e tenho um profundo interesse. E
esse seria o meu diferencial.
Nos meus tempos de escola, sempre gostei de esportes, mas detestava ser a última a
ser escolhida em qualquer time de qualquer esporte. Não que eu fosse ruim – pois não era,
eu jogava bem e cheguei a ser atleta profissional com bolsa, acreditem - mas questões
políticas, de amizade, relacionamentos e de distanciamento guiavam aquelas escolhas. E
algumas vezes, fui a última opção. E quando se é a última opção, você não tem voz e nem o
respeito dos seus colegas. Mas agora, neste projeto eu teria voz e poder de escolha! Dessa
vez, ao invés de ser escolhida ou chamada para algum concerto, eu escolheria a minha ideia,
o meu dreamteam2 e diria para onde aquele navio deveria ir. E isso me deu uma força
tremenda!
Selecionei o repertório que eu gostaria de fazer e verifiquei se havia alguma conexão
entre as peças, e qual não foi a minha surpresa ao perceber que a conexão era óbvia: Eu
venho do RS, um estado brasileiro de cultura hispânica e indígena fortíssimas, e que é um
dos únicos estados que mistura no seu idioma o português já com influência africana, o
espanhol e o guarani. Bingo! Eu investigaria as conexões entre essas culturas e mostraria
onde elas se cruzam através do repertório e das linguagens presentes nele, e onde tudo isso
se reflete na cultura do RS. E eu faria um recital de canto lírico, piano e castanholas,
instrumento que aprendi enquanto estava na Espanha! Um projeto de pesquisa
interessante, um espetáculo pequeno e altamente cultural! Mas como tornar a pesquisa e o
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O time dos sonhos.
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espetáculo viáveis? Agora viria a parte em que 99% dos artistas falham miseravelmente:
transformar uma ideia em um projeto.
De maneira intuitiva, iniciei por fazer um levantamento de tudo que seria necessário
para a pesquisa e para o espetáculo. E isso é um projeto: uma demonstração de como a sua
ideia se tornará realidade e como isso irá acontecer. Essa demonstração deverá conter os
produtos culturais que você deseja fazer, os prazos claros, orçamentos, metodologia e
deverá contemplar ainda as razões pelas quais você acha que essa realização é importante e
qual o público que irá se beneficiar e consumir seus produtos culturais.
E aí começam as tomadas de decisão. E aqui eu deixo mais perguntas que me guiaram
e que podem ajudar você que está lendo a construir o seu próprio projeto:
a) O que eu efetivamente pesquisaria?
b) Quais os materiais que eu consultaria?
c) Como eu teria acesso a este material?
d) O conteúdo a ser consultado está digitalizado?
e) Com quem eu gostaria de trabalhar?
f) Quais os produtos culturais eu estou gerando?
g) Por quais razões esses produtos são importantes?
h) Você precisa de locais para ensaio? Onde eles seriam feitos? Questões
logísticas...
i) Eu precisaria de ajuda? Instrumentos? Equipamentos?
j) Como eu vou fazer tudo isso?
k) Quanto tempo vai levar? E se meu prazo apertar?
l) O quanto isso tudo vai custar?
m) Como meus convidados vão receber os seus cachês? Pessoa Física ou Jurídica?
n) O que você sabe sobre contabilidade? É bom começar a estudar e ter um
contador de confiança...
Fiz uma lista enorme de tudo o que seria necessário, desde os livros que eu precisaria
ler até o repertório que eu precisaria ler e estudar. Fui perguntando e pensando em
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inúmeras possibilidades e, depois de uma lista básica, decidi começar a trabalhar de fato em
um ponto que eu conheço bem e que – novamente – 99% dos artistas sequer gostam de
falar sobre: o vil metal.
O orçamento é sempre a parte mais sensível de todos os projetos, e não é à toa.
Normalmente, você sabe quanto custa o seu próprio cachê -quando sabe de antemão e não
recebe uma surpresa ingrata depois da apresentação feita- mas sequer se pergunta quanto
custa o transporte de equipamentos, o aluguel deles, qual é o valor do cachê dos seus
colegas músicos que estão com você trabalhando no mesmo projeto ou ainda, o cachê do
produtor que está à frente da empreitada.
Saí pedindo orçamentos e levantando custos de absolutamente tudo que eu havia
listado e o que mais você possa imaginar: Iluminação, captação de áudio, gravação do
espetáculo, estúdios para ensaio, impressão de partituras, figurino, licenças, versões
premium de aplicativos para edição de imagens, etc. E foi aí que o projeto começou a ser
elaborado de fato, baseado em um checklist que ia crescendo e se adaptando conforme eu
descobria as necessidades e com informações concretas de logística e custo. O bom e velho
Excel me ajudou a ver esse quadro financeiro e alguma perspectiva de viabilização daquela
vontade. Mas isso que descrevi aqui ainda não é um projeto. E é claro que eu não sabia
disso! E a pergunta que eu não conseguia responder era a mais complicada de todas: De
onde eu tiraria os recursos para viabilizar o meu projeto?
E foi aí que comecei a estudar -muito- sobre leis de incentivo a cultura e editais. E eis
que, quando eu estava estudando o site da Secretaria de Cultura do Rio Grande do Sul,
descobri que havia um edital de médio porte importante acontecendo! Bingo! Eu inscreveria
meu projeto neste edital!
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fazendo como arte em si. Mas o mercado não pensa assim. E não há nada de errado com
isso. São apenas visões diferentes sobre um produto - no nosso caso, o produto cultural –
tentando conversar e entender uma à outra em um processo de seleção. Assim como o
avaliador está tentando entender o que o artista quer dizer com aquele projeto, o artista
precisa aprender a explicar de maneira clara e objetiva o que ele quer dizer com o seu
produto cultural. E esse foi o meu desafio nesta etapa: Explicar as razões pelas quais eu
considerei que meu projeto se encaixava dentro da proposta daquele edital e por quais
motivos eu achava que ele seria importante para o estado do Rio Grande do Sul, uma vez
que era um edital estadual que estava em jogo.
Despendi algum tempo então pensando e procurando materiais que me ajudassem a
construir o objeto do meu projeto, objetivos, público-alvo, metodologia e construir um
cronograma de ações que eu pudesse submeter ao crivo dos avaliadores desse edital, que a
esta altura, estaria muito concorrido e metade dos artistas do estado já estava inscrito. O
que vem a ser objetivo geral? Objetivo específico? Metas? Público-alvo?
Segundo o manual “O desafio de elaborar e viabilizar projetos culturais sob as
diretrizes da tecnologia SESI cultura”, Objetivo geral e específico de um projeto
(...) compreende o que produzir e o que fazer em termos amplos e em
termos específicos, sem nenhuma avaliação de mérito ou juízo de valor
sobre a relevância do projeto, sendo que a clareza com que o proponente
define seus objetivos determina a facilidade com que o projeto será
enquadrado nos objetivos da lei de incentivo à cultura, à qual se inscreve.
(SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA, 2007, p.53).
A descrição do projeto em questão foi a seguinte: “Vientos del Sur: Passado y presente –
Pesquisa e Montagem de Recital de Canto, Piano e Castanholas com repertório espanhol e latino”,
um título praticamente autoexplicativo. Já os produtos culturais, seriam o recital em si como
espetáculo musical, a pesquisa em torno desse repertório seria transformada em livro e em
documentário3, e como contrapartidas de formação – exigência do edital - , faríamos uma audição
comentada4 -um material voltado para músicos e para desenvolver a aguçar a curiosidade do público
geral pouquíssimo feito no Brasil - e masterclasses de canto lírico que eu, como cantora e professora
de canto que sou, teria vasta experiência para conduzir e que os cantores líricos da região estavam
sedentos por participar, visto que nenhum evento como esse foi feito durante o primeiro ano da
pandemia de Covid-19. O prazo de execução seriam 150 dias.
Faltavam agora a metodologia detalhada, cronograma de ações e as adaptações no plano
orçamentário. E veja que cinco meses para pesquisar, escrever um livro, corrigir o texto, diagramar,
imprimir o livro, publicá-lo, distribuí-lo, executar todas as contrapartidas de formação, ensaiar para
um recital com um repertório diferente e altamente exigente e realizar e gravar este recital era um
prazo impraticável. Eu precisaria de um quadro de ações detalhado e uma metodologia a prova de
falhas, com a qual eu pudesse controlar tudo e não permitir que nada saísse muito longe dos prazos
pré-estabelecidos. Pensei muito, planejei cada detalhe – sempre descrevendo tudo com o máximo de
detalhes e de clareza, afinal, o avaliador não me conhece e não sabe nada a respeito do meu projeto-
conferi o orçamento, o plano de ações e vi que, embora o projeto fosse ousado, tivesse muitos
produtos culturais e um prazo muito apertado, ele era viável. Eu trabalharia muito e dormiria pouco.
Nada de anormal para uma doutoranda animada! Mas eu tinha pouca esperança de aprovação, visto
a complexidade do projeto. Com pouca esperança ou não, enviei meu projeto para concorrência
pública no edital mais concorrido dos últimos 10 ano no Rio Grande do Sul. Juntei o projeto,
documentos, portfólios, cartas de anuência e tudo mais e enviei a proposta. E não é que o projeto foi
aprovado!? Recursos captados com sucesso!
3
Você pode conferir o documentário neste link: https://www.youtube.com/watch?
v=y0H8kOUHUQg&t=1399s
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Você pode conferir a audição comentada neste link: https://www.youtube.com/watch?v=h-
YwrnaUbF0
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Agora viria a parte mais difícil de todas: tomar responsabilidade pela parte financeira,
– afinal, este recurso é dinheiro público e como tal, deve ser tratado com respeito –
administrar as minhas tarefas dentro do projeto e também as pessoas com as quais eu
trabalharia. Eu faria 90% do que estava descrito na proposta -produtora, escritora,
pesquisadora, corretora de texto, diagramadora do livro, projeto gráfico, identidade visual,
pesquisa de repertório, organização de eventos etc.- e ainda teria que tomar cuidado com
prazos e funções alheias.
Nesse momento, vi que a escolha dos parceiros foi acertadíssima, e o quanto a
metodologia e o quadro de ações foi importante na hora de administrar e de aprender a
executar todas essas funções ao mesmo tempo. Todo o tempo despendido nesse quadro foi
muito bem empregado, e eu sabia exatamente quanto tempo precisaria para cada função.
A primeira coisa a fazer era organizar a parte legal, abrir a conta no banco, lembrar
de tirar todos os extratos, guardar todos os comprovantes de pagamento, assinar o contrato
e o termo de compromisso, iniciar a pesquisa, escrever o livro, iniciar com os ensaios e
tomar o cuidado de sempre registrar tudo. Fotos e vídeos são muito úteis e auxiliam muito
na hora de comprovar a execução dos produtos na prestação de contas. Algo me dizia que
era importante pensar nisso desde o primeiro momento.
A prestação de contas definirá, inclusive, a capacidade técnico-
administrativa e artística do proponente para executar projetos culturais. É
como se neste momento, o currículo do produtor/proponente fosse
qualitativamente produzido, oportunizando que este seja avaliado em
situações posteriores. É comum o incentivador e/ou patrocinador utilizar
como critério de pontuação na avaliação dos projetos, aqueles proponentes
que já realizaram outros projetos, prestaram contas e obtiveram sucesso
em todo esse percurso (Instituto Alvorada Brasil, 2014, p,144)
Figura 1: Gravação do Espetáculo Vientos del Sur no Instituto Ling – RS. Ao piano, Eduardo Knob.
Voz e Castanholas com Yasmini Vargaz.
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Você pode conferir o resultado neste Link: https://www.youtube.com/watch?
v=GsPqqodaUis&t=79s
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Procurei pelo edital para conferir as regras. Bingo! Nem acreditei quando vi que o
espetáculo cumpria todos os requisitos para concorrer a premiação. Enviei tudo, preenchi os
formulários e cruzei os dedos. Logo depois, veio a notícia de que a candidatura fora
habilitada, e que o projeto foi selecionado para concorrer nas categorias de Melhor Disco
Erudito e que eu concorreria como Melhor Intérprete Erudito. A felicidade não coube em
mim! Estaríamos concorrendo com músicos e com trabalhos incríveis, e que o nosso recital,
desenvolvido com muito amor, dedicação e disciplina estava sendo reconhecido juntamente
com outros trabalhos de artistas de renome.
Fomos na noite da premiação, e pudemos rever colegas músicos, artistas e
cumprimentar nossos professores de faculdade que há muito não víamos, pois estávamos
concorrendo com eles, no mesmo nível e nas mesmas categorias.
Figura 2: Cerimônia de Prêmio Açorianos de Música 2021. Eduardo Knob, piano ao lado esquerdo e
Yasmini Vargaz do lado direito
Devido ao sucesso com as redes sociais na região, muitos colegas e produtores agora
me chamavam de “A Maga da Pandemia”, por ter cavado uma excelente oportunidade de
fazer arte em um mar de incertezas. E vimos que finalmente, havíamos chegado em um nível
de reconhecimento que nunca havíamos imaginado. Naquela noite de premiação,
conhecemos artistas, produtores importantes, assessores de imprensa e outras pessoas que
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fazem com que a cadeia produtiva do mercado musical gire e continue girando. Apesar dos
percalços e da Covid-19, vimos de perto que é possível viabilizar bons projetos com um bom
planejamento.
Não ganhamos nenhum dos prêmios, mas o simples fato de termos sido indicados ao
Prêmio Açorianos de Música de 2021 viabilizará uma segunda edição do projeto, desta vez,
com recursos via lei de incentivo à cultura e outros editais que virão. Sabe quando eu
imaginei que em um ano de pandemia e oportunidades reduzidas a praticamente zero eu
aprenderia a escrever um projeto cultural, trabalhar com burocracia e documentos,
escreveria um livro, diagramaria e publicaria esse livro, estudaria e gravaria um repertório
diferente e quase inédito na região cantando e tocando castanholas, seria paga por tudo isso
e ainda concorreria ao maior prêmio de música do Rio Grande do Sul? Nunca! Nem em
sonho! Mas agora chegou a hora de redobrar os esforços e sonhar -e projetar- os meus
melhores e maiores sonhos artísticos.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Acredito que de todo esse relato de experiência, alguns pontos são fundamentais de
serem levantados. O primeiro deles -e o que seguramente fez mais diferença em todo esse
processo - é a questão do projeto e da equipe. Pela primeira vez, eu pude trabalhar em um
projeto meu, com uma equipe toda escolhida por mim. Pude trabalhar com o que eu quis e
com quem eu quis. E esse fator foi fundamental para o resultado final brilhante de todos os
produtos culturais que o projeto propunha.
Todo o tempo empregado em planejamento, descrição em quadro de ações e
metodologia foi muito bem empregado, e manter esses prazos todos foi fundamental para o
sucesso alcançado. É preciso ter muita atenção aos detalhes e respeitar os processos
burocráticos e criativos.
Fazer um processo de reflexão e nomear as habilidades reais que eu tenho – além
das artísticas – me salvou da falta de oportunidade e do ostracismo na minha região e pode
ajudar você também. Quando falo de habilidades reais, me refiro àquelas fora da nossa
bolha artística, como organização, disposição para aprender sobre economia, sobre o
mercado sem achismos, aprender sobre burocracia e contabilidade, capacidade de
concentração e uma alta tolerância a frustração. Você não precisa ter todas essas
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habilidades, mas precisa estar disposto a lidar com todas essas circunstâncias sem se
desesperar e aprender sempre com elas.
REFERÊNCIAS
Livro:
SERVIÇO SOCIAL DA INDÚSTRIA. Departamento Nacional. O desafio de elaborar e
viabilizar projetos culturais sob as diretrizes da tecnologia SESI cultura. Brasília:
SESI, 2007. 116p.