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Caminhos da

Desinformação:
Evangélicos, Fake News e WhatsApp no Brasil

Relatório de Pesquisa

GEDES
2 Caminhos da Desinformação

Ficha catalográfica elaborada por Priscila Almeida Cruz, CRB- 7/6242.

C183
CAMINHOS da desinformação[recurso eletrônico]: evangélicos, fake
news e WhatsApp no Brasil: relatório de pesquisa. / Alexandre Brasil
Fonseca; Juliana Dias (Coord.) – Rio de Janeiro: Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde, 2021.
1 recurso eletrônico (93 p.: il. color.): digital.

Inclui bibliografia.

ISBN 978-65-89347-02-6

1.Educação – Aspectos sociais. 2. Desinformação. 3. Mídia digital.


I. Fonseca, Alexandre Brasil Carvalho da. II. Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde.
CDD 306.4
3 Caminhos da Desinformação

Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ


Centro de Ciências da Saúde - CCS
Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde - NUTES
Grupo de Estudos sobre Desigualdades na Educação e na Saúde – GEDES
Projeto “Valores e argumentos na assimilação e propagação da desin-
formação: uma abordagem dialógica”, vencedor do Prêmio de Pesquisa
WhatsApp para Ciências Sociais e Desinformação.

Apoio: Fundação Universitária Joaquim Bonifácio – FUJB


Financiamento: Facebook Inc.

EQUIPE
Coordenação
Alexandre Brasil Fonseca, coordenação geral
Juliana Dias, coordenação executiva

Pesquisadores
Aline Lima
Clinger Bernardes
Diná Freitas
Elliz Cellestrini
Gabriella Mendes
Isabella Bastos
Isis Coutinho-Degani
Jonathan Nunn
Juliana Lima e Silva
Rebecca Nunn
Magali Cunha
Tamiris Rizzo
Valentina Carranza
Wellinton Oliveira

Assistentes de Pesquisa
Estella Klein
Felipe Ribeiro da Silva
Hannah Pedroza
Isabella Correia dos Santos
Myrla Nourino

Rio de Janeiro, agosto de 2021


4 Caminhos da Desinformação

Sumário

Apresentação, 5

Sumário Executivo, 6

­Introdução, 18

1. A coleta de dados e o plano amostral, 27

2. Motivos e usos do WhatsApp, 32

3. Bíblia, WhatsApp e Google: a tríade digital, 44

4. Compartilhamentos e a disseminação de Fake News, 49

5. Características da amostra, 63

Conclusão: Algumas possibilidades explicativas, 67

Referência Bibliográficas, 82

Apêndice: Questionário, 84
Caminhos da Desinformação

Apresentação
por Alexandre Brasil Fonseca

Em 2017, ao assistir uma palestra do professor David Lyon, um


dos maiores especialistas no tema da vigilância digital, compreen-
di a enorme necessidade e urgência de mais e melhores estudos
que se dedicassem a considerar como tema de pesquisa o univer-
so das mídias digitais, suas implicações sociais e o papel que o
sistema econômico, com o capitalismo de plataforma (SCRNICEK,
2017) e de vigilância (ZUBOFF, 2018) representam.
No início de 2018, coordenei a submissão de proposta de pro-
jeto de pesquisa para o edital “Pesquisa em Ciências Sociais so-
bre WhatsApp e Desinformação”, promovida pela empresa Face-
book Inc., proprietária do aplicativo de mensagens WhatsApp. Mais
de 600 projetos foram apresentados e a empresa selecionou 20
destes. O projeto por mim coordenado e apresentado pelo Grupo
de Estudos sobre Desigualdades na Educação e na Saúde (GEDES),
do Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde (NUTES) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), foi um dos selecio-
nados para receber o prêmio com o objetivo do desenvolvimento
da pesquisa proposta.
Além disso, participamos de seminários e reuniões com as
equipes de pesquisa selecionadas, conjuntamente com os pesqui-
sadores do Facebook Inc., que atuavam nos aplicativos WhatsApp
e Facebook. Também tivemos encontros com desenvolvedores e
funcionários que trabalhavam diretamente no WhatsApp.
Logo no início de 2019, ocorreu na cidade de Menlo Park, sede
do Facebook Inc. um seminário onde foi possível dialogar com
os pesquisadores das universidades selecionadas oriundos de
diversos países: Brasil, Índia, Indonésia, Israel, México, Holanda,
Nigéria, Cingapura, Espanha, Reino Unido e Estados Unidos. Além
de conhecer as instalações da empresa.
No primeiro semestre do mesmo ano, foi montada uma equipe
com formação transdisciplinar e se deu início ao planejamento da
pesquisa “Valores e argumentos na assimilação e propagação da
desinformação: uma abordagem dialógica”. Neste relatório, são
apresentados os resultados relacionados à etapa quantitativa
desta pesquisa.
Caminhos da Desinformação

Sumário
Executivo

N
este relatório, sistematizamos e discutimos os
principais resultados da pesquisa “Valores e
argumentos na assimilação e propagação da
desinformação: uma abordagem dialógica”. As
fakes news circulam pelo WhatsApp - o aplica-
tivo de mensagens instântaneas mais popular no Brasil
– e seu potencial de viralização aumenta nos “grupos de
zap” com áudios, vídeos, memes e texto, muitas vezes, de
origem desconhecida, mas com aparência de informação
confiável e segura, ou merecedora de crédito.
O estudo buscou compreender como ocorrem os pro-
cessos de troca de informações mediados pelo WhatsApp
em coletividades organizadas, que mantêm fortes víncu-
los comunitários e de comunicação, tanto no ambiente
presencial como no online. As interações diárias e as
motivações para encaminhar, ou não, conteúdos sus-
peitos foram questões centrais para a pesquisa.
A partir dessas características, elegeu-se o segmento
religioso, em especial os evangélicos, para entender os
possíveis percursos, padrões recorrentes e motivações
das fakes news, como ficou popularmente conhecido o
fenômeno da desinfor­mação. Segundo o Estudo Eleitoral
Brasileiro (ESEB), realizado em 2018 pelo Centro de
Estudos de Opinião Pública (CESOP), da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), 31% da população
brasileira se declara evangélica.
7 Caminhos da Desinformação

Os evangélicos articulam de forma eficiente a comunicação interpessoal com sua


atuação histórica em diferentes meios de comunicação. Da oralidade à escrita, o
Cristianismo é conhecido como a religião do livro, com registros das pregações de
Jesus para multidões e as cartas de Paulo de Tarso, por exemplo. Desde os primórdios
dos meios de comunicação de massa até à hiperconectividade dos meios digitais, os
evangélicos mantêm seus vínculos por meio da vida comunitária e da comunicação.
Nos anos de 1980 eram comuns pregadores evangélicos, geralmente oriundos dos
Estados Unidos da América, que ficaram conhecidos como televangelistas. No Brasil, a
presença nas mídias eletrônicas, TV e rádio, remonta ao início do uso desses meios e
hoje são várias as emissoras pertencentes a grupos religiosos, católicos e evangélicos.
A escolha desse público para a amostra se deu também pela identificação de sites e
perfis religiosos como um dos principais canais de propagação de fake news (BORGES,
2018). Outras religiões tem limitações maiores para essa presença em decorrência
tanto de recursos financeiros como dos necessários arranjos políticos. Já em relação
à presença nas mídias digitais o acesso é simplificado e considerar aspectos destes
usos e presenças em relação aos evangélicos foi um dos focos desta pesquisa.
A coleta de dados para a amostra foi realizada em denominações Batistas e
Assembleias de Deus, nas cidades do Rio de Janeiro e Recife, com 970 respondentes.
Também foi utilizada uma versão online do questionário, que obteve 560 respostas
com representação de todas as regiões do Brasil e diferentes religiões. O objetivo
da coleta online foi estabelecer uma possibilidade de análise e compara­ção entre
comportamentos de evangélicos e pessoas de outras religiões. Os detalhes sobre a
coleta de dados e o plano amostral são apresentados no Capítulo 1 deste relatório.
O questionário aplicado presencialmente está no apêndice. Na terceira etapa do
estudo, foram realizados cinco Grupos de Diálogos nas duas cidades de referência,
que reuniu 125 participantes com público diversificado em idade e formação.
Constatou-se um intenso uso de grupos de WhatsApp muito disseminado en-
tre evan­gélicos, o que talvez represente boa parte da explicação para uma maior
percepção da circulação de desinformação por parte de pessoas desse segmento.
É o caso dos evangélicos de nível superior entrevistados na pesquisa online, que
afirmaram identificar mais o recebimento de fakes news em grupos ligados à sua
religião em relação aos outros respondentes.
Também se destaca que o segmento é mais composto por pessoas de menor escolari-
dade e renda. Na média, muito provavelmente, essa circulação de notícias falsas é ainda
mais presente e menos percebida entre estes por checarem menos. Assim, considera-se
a presença da desinformação tem relação com a organicidade e a maior participação de
grupos, questões fortemente presentes entre evangélicos. Nesse sentido, consideramos
que os dados deste relatório e as reflexões aqui apresentadas podem contribuir para o
debate emergente e urgente acerca da nociva disseminação da desinformação no Brasil.
Caminhos da Desinformação

CONFIANÇA
Uma das características importantes para compreender a propagação
da desinformação é o valor dado à relação de confiança entre quem
compartilha a informação e quem a recebe, independente desta ser
verdadeira ou falsa.
Para 33,3% dos entrevistados, os conhecidos são mais consultados
do que a busca de informações nos grandes veículos, ou mesmo uma
simples busca na Internet.
⌦ A confiança no autor, ou fonte da ⌦ Para ¼ dos respondentes a
informação, aparece como um imagem que possui do emissor
dos elementos que mais motiva da informação tem um peso
a compartilhar uma informação importante na motivação para
no WhatsApp para 24% dos compartilhar um conteúdo.
respondentes.

⌦ Para 13,2%
dos evangélicos
entrevistados, os
pastores e irmãos,
representam
a fonte mais
confiável de
notícias.
⌦ Destaca-se o papel da confiança interpessoal, principalmente em relação a posi-
cionamentos públicos sobre assuntos em debate nas mídias sociais e nos meios
de comunicação. Com base nessa relação de confiança, as opiniões e demais
posicionamentos que se mostram contrários aos de quem se confia, ou se tem
por alta estima, tendem a ser desacreditadas ou desconsiderados, estimulando
a polarização ao invés do diálogo.

⌦ O posicionamento em relação a valores e aos aspectos morais tendem a definir


uma adesão e o pertencimento a um grupo. Nesse sentido, se diminui o valor
dado aos conteúdos e às informações. Com isso, passa a ter maior centralidade
elementos como confiança e participação em um grupo de referência, composto
por pessoas que compartilham informações oriundas de mesmas fontes e
atuam de forma conjunta.
Caminhos da Desinformação

TEMAS E CONTEÚDOS POPULARES

Observou-se a maior presença de veiculação de mentiras rela-


cionadas à política, indicada por 61,9% da amostra como uma
temática recorrente. Em segundo lugar, com percentuais meno-
res, aparecem as fake news sobre religião, tema relevante para
o público específico da pesquisa.

⌦ O item que os entrevistados


afirmaram repassar com maior
frequência foram os “memes”,
elemento bem peculiar desse tipo de
comunicação por meio dos aplicativos
de mensagens e mídias sociais. Seguido,
em patamar alto, por mensagens de
texto, fotos/vídeos produzidos pela
própria pessoa. Esses são os três
principais tipos de conteúdo veiculados.
Caminhos da Desinformação

TRÍADE DA VIDA CRISTÃ DIGITAL

⌦ Os dados mostram que o uso de aplicativos para a leitu-


ra da Bíblia no celular aparece com maior destaque, hav-
endo uma maior valorização positiva conferido a este. O
WhatsApp e Google possuem posição de destaque em termos
de volume de uso e formam a tríade dos principais aplica-
tivos de celular utilizados pelos evangélicos entrevistados.
Caminhos da Desinformação

COMPARTILHEI, MAS ERA FALSO

A pesquisa revelou que 23,6% dos respondentes, afirmaram que


não costumam checar notícias. No entanto, o hábito de checar
conteúdos suspeitos em sites especializados, ou de coletivos de
mídia, é uma prática para 44,8% da amostra. A segunda fonte
de checagem mais utilizada são as pessoas consideradas de
confiança, ou as que são seguidas nas mídias sociais por serem
avaliadas como “bem informadas”.
⌦Quase
a metade informou já ter recebido (49%) fake news em
alguns de seus grupos que reúnem pessoas de sua religião.
Outros 37% afirmaram que não receberam, e 14% informaram
não saber.

⌦Há
um intenso uso de grupos de WhatsApp muito disseminado
entre evangélicos, o que talvez represente boa parte da expli-
cação para uma maior percepção da circulação de desinfor-
mação por parte de pessoas desse segmento.

⌦ Uma constatação importante


é que um pouco mais de
2/3 dos respondentes da
amostra online reconhece já
ter recebido fake news em
grupos ligados à religião,
sendo evangélicos e católicos
os que mais reconhecem
já ter encaminhado,
intencionalmente ou não,
⌦Como
os evangélicos parecem mensagens com conteúdo
participar de mais grupos, falso, enganoso ou impreciso
logo acabam por ocupar em seus grupos.
lugar de centralidade no caso
brasileiro de disseminação da
desinformação.
Caminhos da Desinformação

⌦ 29,7% reconheceram compartilhar notícias falsas em quatro situações


distintas. Na primeira situação estão as pessoas que compartilharam
mesmo sabendo que era mentira (8,1%), mas o fizeram por concordar
com a abordagem. Em uma segunda, 11,1% justificou-se compartilhar
uma notícia falsa devido à “relevância do tema e a necessidade
de ele ser reconhecido”. A terceira situação se refere por acharem
interessante, mas com um alerta de que o conteúdo era duvidoso
(11,9%). E, por fim, temos que 5,6% compartilharam na expectativa que
posteriormente fosse feita a checagem.

Compartilharam conteúdo duvidoso Compartilharam mesmo sabendo


pela relevância do tema (11,1%) que era mentira (8,1%)

Compartilharam conteúdo duvidoso na Compartilharam e


expectativa que a checagem fosse feita informaram que o conteúdo
posteriormente (5,6%) era duvidoso (11,9%)
Caminhos da Desinformação

ANTIGUIDADE NÃO É POSTO OU IDADE NÃO É DOCUMENTO

Uma das características importantes para compreender a


propagação da desinformação é a maior presença da confiança
interpessoal. Entre os mais velhos há maior confiança em pessoas
em comparação com as outras faixas de idade.

⌦ Em nossa pesquisa,
não há elementos
suficientes para associar a
maior idade com o envio
de desinformação. Há
associação com menor
habilidade no uso de
aplicativos, menos tempo
de uso e uma certa
indiferença, onde os mais
velhos não manifestam
sentimentos negativos ou
positivos. Eles também
não têm o hábito de
checar notícias.

⌦ Observamos neste estudo e na literatura que é im-


portante atentar para a diferença entre as percepções
e intenções. As intenções dos adultos mais velhos es-
tão em contraste com o seu comportamento fora do
ambiente digital. Isso tende a gerar mal-entendidos
sobre a função dos algoritmos ao mapear e sugerir
conteúdos em seus perfis nas mídias sociais.
Caminhos da Desinformação

GRUPO DE WHATSAPP É O NOVO IR À IGREJA SEMANALMENTE


Entre os evangélicos 87,5% afirmaram na pesquisa presencial
participar de grupos ligados a sua religião no aplicativo. Na pesquisa
online, sem significância estatística, foi encontrado que 92% dos
evangélicos participam, 71% dos católicos, 57% dos espíritas e 66,7%
dos fiéis de outras religiões.
Se no passado a frequência regular ao templo era um fator que
diferenciava os evangélicos dos outros grupos religiosos, nos dias
atuais parece que o envolvimento com a sua comunidade de fé por
meio da participação em vários grupos de WhatsApp relacionados
à igreja é um diferencial destes em relação aos outros segmentos

⌦ O compartilhamento ⌦ 49% dos evangélicos


ocorre diariamente ou em afirmaram terem recebido
algumas dias da semana mensagens com conteúdo
para 48,2% dos evangélicos. falso ou enganoso em
Enquanto 40% afirma que
o encaminhar mensagens
grupos relacionados à sua
ocorre às vezes no decorrer religião. Isso representa
do mês ou raramente. Já que praticamente a
11,8% diz não encaminhar metade dos evangélicos
informações ou mensagens. já recebeu notícias falsas
que foram enviadas em
grupos de sua comunidade
de fé. O intenso uso de
grupos de WhatsApp entre
evangélicos, parece explicar
a presença de maior
percepção da circulação
de desinformação por
parte de pessoas desse
segmento.
Caminhos da Desinformação

CONFLITOS

⌦ Para 21,7% dos


evangélicos desta
amostra, as situações
relacionadas à
circulação de mentiras
levaram a conflitos,
discussões ou rupturas.
É significativo pensar
que essas situações
de conflito motivadas
pelo compartilhamento
de notícias falsas é
algo presente para um
percentual expressivo.

VAI FICAR TUDO BEM?

⌦ A análise dos resultados indica que 1/3 dos


entrevistados não parecem estar muito preocupados
com os efeitos da desinformação em suas comunicações.
Não checam, não se incomodam, não percebem.

⌦ A partir dos dados desta pesquisa e conforme


outros achados na literatura, a disseminação de fake
news parece estar mais relacionada a uma “falta de
raciocínio” do que a um “raciocínio motivado”.
Caminhos da Desinformação

DESVENDAR O MISTÉRIO POR TRÁS DAS TELAS


Neste relatório, são apresentados alguns caminhos e reflexões a
partir da pesquisa, que indicam a importância de um letramento
digital que considere seriamente questões relacionadas ao
pensamento computacional.
Esse domínio corresponde ao de uma linguagem para viver neste
mundo híbrido, que entrelaça o real e o digital e é hiperconectado.
É crucial o estímulo incessante e persistente em busca da formação
de cidadãos e cidadãs com consciências críticas. As iniciativas no
campo da educação devem envolver ações que reúnam um amplo
conjunto de áreas do conhecimento para uma presença e processos
que sejam realmente transformadores e que considerem os novos
elementos que o mundo digital impõe.

⌦ O domínio instrumental dos ⌦ É fundamental


equipamentos e aplicativos
não parece ser suficiente. assumir um processo
Vislumbramos a possibilidade de enfrentamento à
de que o não envio de
conteúdos falsos passa pelo
desinformação que
estabelecimento de uma não seja meramente
maior responsabilidade não técnico, e que considere
com a ferramenta e seu uso,
mas sim com a humanidade. os aspectos político-
É necessário compreender as pedagógicos, a realidade
ferramentas a partir das suas
estruturas e as lógicas que as social mais ampla e
orientam. as implicações que
representam para a vida
humana o uso dessas
ferramentas e o papel
que a disseminação da
desinformação ocupa.
Caminhos da Desinformação

Fonte: https://piaui.folha.uol.com.br/lupa/2018/04/05/ifcn-factcheckit-memes-fakeounews/
Caminhos da Desinformação

­Introdução
A importância e a presença das mídias sociais no cotidiano
das pessoas têm sido cada vez maiores e torna-se mais evi-
dente em meio à crise sanitária provocada pela pandemia de
Covid-19. Devido à urgência de adoção de práticas de isola-
mento social para conter a circulação do vírus, observa-se, do
ponto de vista das relações sociais mediadas pelas Tecnolo-
gias de Informação e Comunicação (TICs), um aumento con-
siderável do uso de equipamentos e dispositivos eletrônicos
com acesso à Internet, e ferramentas e aplicativos digitais para
estudo, trabalho, entretenimento, cuidados com a saúde e
bem-estar, entre outras atividades que foram “transportadas”
para o ambiente digital em um curto espaço de tempo. Com
isso, demandou-se mais tempo de tela para executar tarefas
que antes eram realizadas presencialmente, de forma exclusiva
ou híbrida.
O advento do smartphone popularizou de forma cabal o
acesso à significativa parcela da sociedade ao mundo digital,
tendo o aplicativo de mensagens WhatsApp um papel pre-
ponderante nesse processo. Dentro desse contexto, a pesqui-
sa “Valores e argumentos na assimilação e propagação da
desinformação: uma abordagem dialógica” tem como obje-
tivo compreender três questões: (i) como ocorrem os proces-
sos de recepção e transmissão de informações mediados pelo
WhatsApp?; (ii) como as pessoas interagem com essas infor-
mações e o que as leva a disseminá-las ou não?; e (iii) qual o
papel desempenhado por grupos com maior capilaridade so-
cial na disseminação da desinformação?

“A desinformação é entendida como informação comprovadamente falsa ou


enganadora que é criada, apresentada e divulgada para obter vantagens econômi-
cas ou para enganar deliberadamente, podendo prejudicar o interesse público.”
(COMISSÃO EUROPEIA. Plano de Ação contra a Desinformação. 2018)
19 Caminhos da Desinformação

Para cumprir os objetivos propostos, a pesquisa foi desenvolvida em três etapas:


1. Análise das Redes Sociais (ARS) com foco em órgãos e indivíduos identifi-
cados como religiosos, especialmente católicos e evangélicos.
Uma questão que sempre se coloca nesse tipo de pesquisa é a reflexão sobre
o papel desempenhado pelos diferentes aplicativos no atual ecossistema de
informações. O propósito foi identificar a existência, ou não, de redes de divul-
gação de desinformação nesse segmento, principais atores e possíveis fluxos.
Em 2019 foi lançado o Coletivo Bereia, que atua com jornalismo colaborati-
vo de checagem de fatos especializado em religião. O Coletivo Bereia integra a
Rede Nacional de Combate a Desinformação (RNCD) e é pioneiro no Brasil em
verificações de fakes news nesse segmento. Destacamos essa iniciativa como
um importante resultado da pesquisa.
Em 2020, o Bereia atuou em parceria com projeto de extensão Coronavírus em
Xeque, do Programa de Pós-Graduação em Comunicação da Universidade Fed-
eral de Pernambuco (UFPE), produzindo conteúdo em áudio sobre fake news,
Covid-19 e religião, que foram divulgados na Rádio universitária Paulo Freire.
Entre 2020 e 2021, atuou no Projeto Comprova , iniciativa de jornalismo
colaborativo coordenada pela Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo
(Abraji) para a verificação de conteúdos suspeitos sobre pandemia, políticas
públicas. O Bereia é parceiro da Rede Católica de Rádios, com participação
semanal no programa de rádio Brasil Hoje, divulgando os resultados das
verificações de conteúdos suspeitos.

2. Aplicação de questionários presenciais em igrejas da cidade do Rio de


Janeiro e Recife e versão online para o público em geral.
A pesquisa quantitativa consistiu na aplicação de quase mil questionários
presenciais em igrejas evangélicas, e de questionários online que reuniu 560
respostas. Buscamos estabelecer pistas para a comparação entre comporta-
mentos de evangélicos e pessoas de outras religiões.
A escolha do público evangélico para a amostra se deu sobretudo pela iden-
tificação de sites e perfis religiosos como um dos principais canais de propa-
gação de fake news no decorrer de 2018 (BORGES, 2018). Além disso, entre os
segmentos religiosos, as trocas simbólicas e de vivências se dão de forma
mais rápida porque tais grupos se reúnem com regularidade e possuem or-
ganicidade em suas múltiplas formas de se organizar nas funções eclesiásti-
cas, de se comunicar em grupos segmentados e diversos. O uso dos meios de
comunicação faz parte de uma estratégia histórica de organização desses gru-
pos religiosos, por meio da TV e do Rádio (FONSECA, 2003). Nas redes sociais
20 Caminhos da Desinformação

e na internet, de modo mais amplo, a capilaridade, entrosamento e dinamismo


também compareceram como estratégia eficaz na ocupação do mundo digital.
Na pesquisa online, priorizamos abrangência nacional. Devido a um viés pela
maior presença de pessoas com nível superior (70%) na amostra online, optamos
por analisar neste relatório somente as pessoas de nível superior (n = 401), que
reúnem uma boa distribuição em relação à filiação religiosa e geográfica e que
são analisadas na conclusão. Para essa amostra não há significância estatística
e serve como elementos que ajudam a pensar a questão.
No questionário, foi adotado o uso da expressão Fake News por ter se tornado
popular, e por isso, possibilita maior proximidade com o público. O questionário
aplicado na pesquisa presencial encontra-se disponível no Apêndice. O da pesqui-
sa online é menor e ligeiramente diferente. No próximo capítulo, apresenta-se de
forma detalhada o Plano Amostral da pesquisa realizada presencialmente.

3. Realização de cinco Grupos de Diálogos (GDs), com público diversificado em


idade e formação.
Três Grupos de Diálogos (GDs) foram realizados na cidade do Rio de Janeiro
e dois em Recife (PE), envolvendo 125 pessoas. Nas análises preliminares deste
estudo, a educação é percebida enquanto um elemento estratégico de potencial
amplamente reconhecido. Em consequência de seu caráter transformador
ela se encontra reafirmada, tanto nos debates acadêmicos, filosóficos e das
organizações da sociedade civil, quanto nas escolhas dos participantes dos
GD’s se estabelecendo, portanto, como um valor socialmente compartilhado
(FONSECA, SILVA, CORDEIRO, 2021).
A escolha dessas cidades se deu em virtude das polarizações identificadas
durante as eleições presidenciais de 2018, e visava verificar se havia diferenças
em relação a essa configuração. Como dito anteriormente, a proposta e edital
para a pesquisa foram realizados no início de 2018 e, após várias prorrogações,
o resultado só foi divulgado após o período eleitoral. Quando o projeto de
pesquisa foi submetido, não se tinha percepção da escala e da centralidade que
a disseminação de desinformação tomaria no Brasil durante o pleito eleitoral,
apesar dos episódios envolvendo o referendo do Reino Unido para a saída da
União Europeia, o Brexit, e as eleições presidenciais norte-americanas.
A hipótese dessa pesquisa era de que maior escolaridade e renda implicariam
em um menor compartilhamento de conteúdo falso ou enganoso. Isso não se
confirmou a partir da análise dos dados. O que essas características demarcam é
que pessoas com maior escolaridade e renda checam mais notícias e identificam
mais se recebem ou não fake news. Porém, isso não se reflete em uma postura
em que essas pessoas, na média, reconheçam enviar menos conteúdo falso.
Caminhos da Desinformação

As conclusões parecem indicar uma participação intensa dos evangélicos em


grupos de WhatsApp relacionados à religião, bem maior do que as pessoas que
se declaram sem religião ou de outra religião. Essa maior participação também se
expressa no fato destes afirmarem receber mais conteúdo falso.

Primeiras impressões e anotações para a reflexão e prática no campo


da educação:
A. Fluxo intenso de mensagens em diferentes grupos de WhatsApp
Uma constatação é que se no passado os evangélicos ficaram reconhecidos pela
dedicação à vida religiosa e ao fato de viverem a sua religiosidade de forma prati-
cante, hoje parece ser outro diferencial seu envolvimento em grupos relacionados
à sua religião ou Igreja. São grupos estratificados por gênero, idade ou outro tipo
de inserção no serviço eclesiástico, ou seja, nas diversas atividades chamadas de
“ministério”, que compõem a organização do trabalho voluntário da membresia. O
objetivo dessas funções, ou cargos, é o funcionamento da própria igreja, atendi-
mento das demandas da comunidade cristã e do seu entorno.
Alguns desses ministérios que implicam em criação de grupos no WhatsApp para
comunicação e interação são: Mulheres/feminino, Infantil, Jovens, Pessoas Idosas,
Oração, Ensino bíblico (Escola Dominical ou Ministerial), teatro, dança, equipe
audiovisual, cozinha, ação social, artesanato, entre outros ministérios que podem
compor uma igreja e, por isso, a demanda em organizar a comunicação em grupos no
WhatsApp. Muito antes da pandemia, essa forma de organização já havia sido adotada
nas denominações evangélicas. Assim, a participação em grupos da igreja no WhatsApp
parece ser o novo ir à igreja semanalmente que tanto destacou a adesão e militância
dos evangélicos em pesquisas da década de 1980 sobre religião e participação político-
social e que tiveram na PNAD de 1988 sobre ativismo social importante fonte de dados.
Essa participação - ao que parece já institucionalizada e adotada como mais
um meio de comunicação entre os membros de uma comunidade de fé - tende a
ter impacto direto na recepção e disseminação da desinformação, pois além da
participação em grupos das igrejas temos, de forma universal, a participação em
grupos da família por parte dos usuários do WhatsApp.
Assim, são rompidas as barreiras e há acesso a diferentes espaços virtuais, a par-
tir desse fluxo intenso entre mensagens recebidas em grupos ligados à religião e o
compartilhamento dessas em grupos familiares e outros. Com base na análise dos
questionários, nosso entendimento é que essa possibilidade de transitar virtual-
mente por diferentes grupos desempenhe um papel preponderante na circulação
de conteúdos falsos e enganosos por meio do WhatsApp.
Há um percentual de cerca de 30%, nos diferentes recortes socioeconômicos
analisados, que reconhece ter compartilhado, intencionalmente, ou não, conteúdo
22 Caminhos da Desinformação

falso. Não foi identificado um perfil socioeconômico específico de pessoas que afir-
mam não compartilhar fake news. Com base nos dados, foi estabelecido um perfil
com as seguintes características para verificar sua atuação:

Elementos do perfil de usuários habilidosos:


- Uso intenso do WhatsApp;
- Qualificado em termos técnicos;
- Renda e escolaridade mais altas;
- Pessoas mais jovens

A expectativa era de que este perfil, denominado de usuário habilidoso, contem-


plaria pessoas que enviaram menos mensagens com conteúdo desinformativo. Porém
os testes estatísticos não identificaram associação direta entre esse perfil e o não
envio da fake news. A hipótese não se confirmou. Foi possível identificar apenas que
as pessoas com esse perfil afirmam checar mais e possuem uma percepção de que
recebem mais informações falsas do que a média dos entrevistados.

B. Um olhar para a consciência e a realidade


A partir dessas análises, a conclusão aqui proposta inspirou-se nas ideias do
educador Paulo Freire (2007) em diálogo com o filósofo Álvaro Vieira Pinto sobre a
existência de diferentes níveis de consciência. Freire fala em três tipos de consciência:
intransitiva, transitiva (ingênua) e (transitiva) crítica. Na consciência intransitiva
os comportamentos se dão de forma que ele chega a definir como “vegetativa”.
Nas pessoas que vivem sob esse tipo de consciência há uma menor percepção
das implicações das ações adotadas, pois “falta-lhe teor de vida em plano mais
histórico” e ele escreve também que estes possuem uma incapacidade de perceber
as implicações de suas decisões e comportamentos, para então concluir:
O que pretendemos significar com a consciência “instransitiva” é a limitação de sua es-
fera de apreensão. É a sua impermeabilidade a desafios situados fora da órbita vege-
tativa. Neste sentido e só neste sentido, é que a intransitividade representa um quase
incompromisso do homem com a existência. O discernimento se dificulta. Confundem-se
as notas dos objetos e dos desafios do contorno e o homem se faz mágico, pela não-cap-
tação da causalidade autêntica. (FREIRE, 2007:58)

A consciência transitiva é resultado de processos de diálogos uns com os outros


e com o mundo, passando a assumir interesses e preocupações mais amplos
23 Caminhos da Desinformação

para além de uma restrita e imediata dimensão “vegetativa”. Mesmo abrindo-se


para a percepção da realidade social e histórica, Freire pondera que este tipo de
consciência é ingênua. Como aponta:

A transitividade ingênua (...) se caracteriza, entre outros aspectos, pela simplicidade na


interpretação dos problemas. Pela tendência a julgar que o tempo melhor foi o tempo
passado. Pela subestimação do homem comum. Por uma forte inclinação ao gregarismo,
característico da massificação. Pela impermeabilidade à investigação, a que corresponde
um gosto acentuado pelas explicações fabulosas. Pela fragilidade na argumentação. Por
forte teor de emocionalidade. Pela prática não propriamente do diálogo, mas da polêmi-
ca. Pelas explicações mágicas. (FREIRE, 2007:59)

O terceiro tipo de consciência sinalizada por Freire é a da transitividade crítica


caracterizada pela profundidade na interpretação dos problemas. A consciência
crítica se constitui a partir de uma educação dialógica e ativa em que a criticidade
seja um foco, a qual deve ser entendida como:

A criticidade para nós implica na apropriação crescente pelo homem de sua posição no
contexto. Implica na sua inserção, na sua integração, na representação objetiva da re-
alidade. Daí a conscientização ser o desenvolvimento da tomada de consciência. Não
será, por isso mesmo, algo apenas resultante das modificações econômicas, por grandes
e importantes que sejam. A criticidade, como a entendemos, há de resultar de trabalho
pedagógico crítico, apoiado em condições históricas propícias. (FREIRE, 2007:60, nota 23)

Assim, é importante a compreensão de que a passagem de uma consciência tran-


sitiva ingênua para a crítica não se daria de forma natural. Exige-se a implemen-
tação de processos educativos e de trocas que possibilitem uma melhor percepção
da realidade na qual estão inseridos e permita aos sujeitos a perceberem de forma
mais comprometida. Nas palavras de Freire:

A transitividade crítica (...) se caracteriza pela profundidade na interpretação dos


problemas. Pela substituição de explicações mágicas por princípios causais. Por procurar
testar os “achados” e se dispor sempre a revisões. Por despir-se ao máximo de preconceitos
na análise dos problemas e, na sua apreensão, esforçar-se por evitar deformações. Por
negar a transferência da responsabilidade. Pela recusa a posições quietistas. Por segurança
na argumentação. Pela prática do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade ao novo,
não apenas porque novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação
de ambos, enquanto válidos. Por se inclinar sempre a argüições. (FREIRE, 2007:60)

Assim, para efeitos desta pesquisa sugere-se que é possível associar os perfis
indicados por Freire em relação a forma como as pessoas lidam com a disseminação
24 Caminhos da Desinformação

da desinformação, suas posturas e interpretações. Não identificamos um perfil


similar à transitividade crítica que teria como resultado o não envio de fake news.
Optamos por considerar que os usuários habilidosos estariam mais próximos ao
que Freire define como consciência transitiva.
Já os outros usuários teriam uma consciência intransitiva e aqui foram definidos
como “usuários néscios”, adjetivo que envolve tanto aspectos relacionados a
inexperiência como também a imprudência e a inaptidão. A ausência de usuários
críticos nos parece ser algo generalizado e indica a urgência do desenvolvimento
de mais discussões sobre esta temática. Os dois perfis identificados são definidos
sumariamente a seguir:

• Usuários habilidosos – Reúne pessoas que possuem uso intenso do WhatsApp,


possuem capacidade técnica, possuem renda e escolaridade mais altas e são
mais jovens. Demonstram uma percepção sobre o problema da desinformação
e expressam possuir habilidades para criar e compartilhar conteúdos, além de
administrar perfis nas mídias sociais, com alta frequência. Possuem diferentes
estratégias para a checagem de notícias. Estes são considerados como sendo
conscientes transitivos por terem conhecimento do que ocorre, mas por não
agirem ou por não terem condições para evitar a disseminação da desinformação
já que reconhecem compartilhar percentual similar ao restante da amostra.

• Usuários NÉSCIOS – Afirmam em mais oportunidades serem indiferentes ou


não saberem se compartilharam ou não mensagens com conteúdos falsos ou
enganosos. Tendem a confiar mais em pessoas e, no caso dos evangélicos, mais
ainda particularmente em lideranças religiosas. Parecem não se importar, ou,
não dão valor a circulação de conteúdos falsos e enganosos pela Internet.
Reconhecem ter menos capacidade técnica e o perfil destes, em comparação
com o usuário habilidoso, é de afirmarem ter um uso menos intenso do
WhatsApp, possuirem maior idade, menores renda e escolaridade.

Os usuários habilidosos reconhecem que compartilham desinformação em


algum momento ou situação, seja por engano ou não. Estes, mesmo tendo alguma
percepção do que ocorre, parecem ignorar os perigos que a desinformação
representa, à qual ficou ainda mais evidente em meio à pandemia de Covid-19.
Há toda uma questão mais ampla que envolve a desinformação, que passa por
compreender aspectos tanto técnicos, sociais, econômicos e políticos. A partir desse
problema identificado, sugerimos que os processos educativos devem incorporar
propostas como a conscientização, apresentada por Paulo Freire, cujo objetivo é
a existência de usuários críticos a partir da elaboração de processos formativos
político-pedagógicos.
25 Caminhos da Desinformação

O papel desempenhado pela realidade social, o desenvolvimento de um olhar


que considere a complexidade da vida e as implicações concretas das tomadas
de decisão estão no centro da proposta educativa de Freire. Deve-se considerar
essa questão a partir de nossa experiência existencial em um mundo híbrido, que
entrelaça o real-virtual e o analógico-digital em ambientes hiperconectados, com
hipermobilidade e ubíquos, interagindo concomitantemente com lugares, pessoas
e objetos. Assim, ao pensarmos em uma alfabetização digital questões bem mais
amplas precisam ser consideradas, tanto em relação à técnica, como também em
como dar conta do sistema econômico que subjaz diante do aumento e do uso de
aplicativos, smartphones e da inteligência artificial.
Entre os usuários, sejam habilidosos ou néscios, há um reconhecimento similar
de que em algum momento compartilharam conteúdo falso, sendo que estes
se diferenciam pelo fato dos néscios praticamente não realizarem checagens.
Afirmam em vários momentos se sentirem indiferentes com a disseminação da
desinformação e “não saber” em mais situações. Os habilidosos checam notícias
e afirmam sofrer e sentir impotência diante da disseminação da desinformação,
porém participam deste processo de uma forma que aparenta ser natural, pois
não realizam de forma concreta suas críticas ou oposições a esta realidade.

C. Outros caminhos possíveis


Neste sentido, é que propostas como a de prebunking (FONSECA, 2020), que
consiste em anunciar previamente (prenunciar) seus formatos e estratégias
ao invés da realização de checagem ou denúncia posteriores a veiculação de
conteúdos específicos de desinformação; e de iteracia (BERRY, 2012) nos interessam
particularmente (LIMA et al, 2021). A iteracia se relaciona com o desenvolvimento
de letramento ou alfabetização digital ou midiática, sendo que este conceito
envolve que a compreensão de que esta prática precisa ir além do oferecimento
de habilidades técnicas que habilitem as pessoas para atuar como usuários
competentes de aplicativos e equipamentos. É preciso ir além, em direção a
uma formação que nos remeta à busca da conscientização defendida por Paulo
Freire, consideranda as suas implicações para o ambiente digital. Em nossa era
tecnológica a formação exige tanto conhecimentos de linguagens de programação
e do pensamento computacional, como também conhecimentos relacionados à
filosofia, comunicação, ciências sociais, design, línguística, psicologia, entre outros.
26 Caminhos da Desinformação

Não é por acaso que a transdisciplinaridade é uma das marcas dos departamen-
tos e da formação em experiência do usuário (UX Design), área que tem ocupado
cada vez maior centralidade nas empresas de tecnologia e informação. O mesmo
acontece no campo da inteligência artificial e na análise de dados reunidos nos
big datas.
Essas são algumas das primeiras impressões e anotações que exigem maior en-
volvimento e atenção na definição de possiblidades para a reflexão e prática do
campo da educação diante do desafio que a desinformação nos coloca no mundo
contemporâneo.

Fonte: https://br.ifunny.co/user/SK8_OLD
Caminhos da Desinformação

Capitulo 1 

A coleta de
dados e o
plano amostral

P
ara a definição da amostra optou-se pela aplicação de
questionário em igrejas evangélicas, realizadas pres-
encialmente aos domingos de manhã. As igrejas que
aceitaram receber a equipe de pesquisadores, desti-
navam um horário em suas celebrações para a apli-
cação dos questionários. O tempo médio de resposta por
questionário foi de 10 minutos, tendo chegado a 20.
A coleta de dados ocorreu entre junho e se-
tembro de 2019. A escolha das igrejas para esta
pesquisa seguiu três etapas: (i) definição das de-
nominações, (ii) sorteio de bairros do Rio de Ja-
neiro e de Recife, e (iii) e sorteio das igrejas a
serem visitadas. O contato foi feito com os pas-
tores das igrejas. Em alguns casos esse processo
foi simples, em outros bastante difícil, particu-
larmente em relação às Igrejas da Assembleia de
Deus na cidade de Recife.
A escolha das denominações Assembleia de Deus e Batista
se baseou na Tabela 137 do Censo 2010 “ População residente,
por religião”. No Censo 2010, 22,2% da população se declarou
evangélica. O IBGE categoriza os participantes desse grupo nos
seguintes três grandes segmentos:
28 Caminhos da Desinformação

1. Evangélicas de Missão ou de origem tradicional (18,2% dos evangélicos


no Brasil)
2. Evangélicas de origem pentecostal (60,0%)
3. Evangélica não determinada (21,8%)

Dentro de Evangélicas Tradicionais, as igrejas Batistas chegam a 48% desse


grupo nacionalmente, e 75% e 67% nas regiões metropolitanas de Recife e do
Rio de Janeiro, respectivamente. As Assembleias de Deus correspondem a 49%
dos Evangélicos Pentecostais em âmbito nacional, e 74% e 56% nas regiões
metropolitanas de Recife e do Rio de Janeiro, respectivamente. Nenhuma outra
denominação dentro desses dois grupos contribui tão significativamente.
Assim, foram escolhidas igrejas com a denominação Batista para representar
as Evangélicas de origem tradicional, e as da Assembleia de Deus para
representar as Evangélicas de origem pentecostal. O grupo de evangélicas
não determinada foi desconsiderado pela ausência de um grupo de igrejas
para representá-lo e, com isso, evitar a introdução de viés por meio do
conhecimento particular dos pesquisadores.
A identificação dos bairros dentro das cidades foi feita por sorteio para
garantir a seleção de igrejas em regiões heterogêneas. Priorizou-se bairros
com população acima de mil habitantes. Os bairros de cada cidade foram
divididos em cinco grupos por renda domiciliar per capita (da Tabela 1161 do
censo no SIDRA) e dentro desses grupos ordenados por meio de um ranking
aleatório. O primeiro bairro de cada grupo foi escolhido, no caso de Recife, e
os primeiros dois no caso do Rio de Janeiro.
O plano amostral foi calculado com um cálculo simples de amostra para
grandes populações. Foi aplicado às variáveis margem de erro de 5%, con-
fiança de 90% e desvio padrão relativo de 0,5%, o que nos levou a definição
de uma amostra de 816 pessoas, sendo 272 de Recife e 544 do Rio de Janeiro.
Após a coleta dos dados seguindo as orientações acima indicadas, chegamos
a uma amostra de 970 pessoas, sendo 306 de Recife e 664 do Rio de Janeiro.
O perfil da amostra é apresentado na Tabela 1 na próxima página. Também
foram incluidas para efeito de comparação os resultados para evangélicos
encontrados na pesquisa “Estudo Eleitoral Brasileiro” (ESEB), realizada nacio-
nalmente pela Cesop/Unicamp em novembro de 2018.
Caminhos da Desinformação

Tabela 1: Perfil da Amostra

Características n % % % ESEB
válido Evang.

Cidade
Rio de Janeiro (RJ) 664 68,5 68,5 -
Recife (PE) 306 31,5 31,5 -
Gênero
Feminino 501 51,6 57,1 56,7
Masculino 376 38,8 42,9 43,3
Sem informação 93 9,6 - -
Idade
29 anos ou menos 266 27,4 30,1 27,5
30 a 59 anos 484 49,9 54,7 56,6
60 anos ou mais 135 13,9 15,3 15,9
Sem informação 85 8,8 - -
Estado Civil
Solteiro/a 306 31,5 34,5 40,2
Casado/a 479 49,4 54,0 47,4
Outros 102 10,5 11,5 12,4
Sem Informação 83 8,6 - -
Religião
Evang. Tradicional 523 53,9 57,3 21,5
Evang. Pentecostal 358 36,9 39,2 78,5
Outra 32 3,3 3,5 -
Sem informação 57 5,9 - -
Escolaridade
Fundamental 245 25,3 28,4 39,1
Média 374 38,6 43,4 42,7
Superior 243 25,1 28,2 18,2
Sem informação 108 11,1 - -
Cor
Parda 365 37,6 41,8 51,8
Branca 337 34,7 38,7 23,1
Preta 148 15,3 16,9 16,6
Outras 23 2,4 2,6 8,5
Sem informação 97 10,0 - -
Classe
Alta 164 16,9 18,3 18,4
Média 440 45,4 49,1 57,7
Baixa 292 30,1 32,6 23,9
Sem informação 74 7,6 - -
N=970; Sem informação inclui a opção “Prefere não informar”

30 Caminhos da Desinformação

Como esperado, no decorrer do trabalho de campo foram necessários ajustes.


Diante da dificuldade de acesso às igrejas da Assembleia de Deus na cidade de
Recife, foi preciso buscar, inicialmente, igrejas na Região Metropolitana e, mes-
mo assim, respeitando os perfis de renda familiar. Continuamos tendo uma baixa
concordância para a aplicação dos questionários e, por isso, optou-se por igrejas
de outras denominações pentecostais na cidade de Recife, além do aumento de
igrejas Batistas.
Com isso, na amostra há uma menor presença de pentecostais do que foi
previsto inicialmente. A dificuldade de acesso no Rio de Janeiro também esteve
presente, só que em um nível menor. Isso se dá, provavelmente, pelo clima de
polarização existente no Brasil e uma suspeição em relação às iniciativas da
Universidade, por um lado. Por outro lado, também é preciso identificar o fato
de que em Recife a igreja Assembleia de Deus está sob a direção de uma única
liderança, conformação bem diferente da existente no Rio de Janeiro em que há
vários campos autônomos atuando.
Assim, há que se considerar dentre os dados coletados uma predominância
maior em relação aos tradicionais na amostra dessa pesquisa do que é identi-
ficado no Censo. As recentes pesquisas de opinião parecem apontar que na úl-
tima década houve algumas mudanças na conformação do universo evangélico
brasileiro. Enquanto não há um novo censo, nos resta considerar os dados dis-
poníveis, sendo que há a percepção de que pelo conjunto de dados chegamos a
uma amostra satisfatória com esta pesquisa.
Outros dados recentes disponíveis sobre os evangélicos no Brasil estão dis-
poníveis no Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB), realizado pelo Centro de Estudos
de Opinião Pública (CESOP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp),
no final de novembro de 2018. Uma comparação entre os seus dados e os obti-
dos em nossa pesquisa em relação à religião são similares. A amostra do ESEB
foi de 2.506 pessoas e encontrou 31,8% de evangélicos, número bem superior ao
identificado no Censo de 2010 (22,2%). Na pesquisa do ESEB temos 21,5% de tradi-
cionais (73,4% destes são Batistas) e 78,5% de pentecostais (41,9% da Assembleia
de Deus). O número de igrejas não determinadas, já com percentual elevado em
2010 parece ser ainda mais presente. Aparecem no ESEB o nome de dezenas de
diferentes igrejas/denominações.
Assim, é importante levar em consideração algumas características. A primeira
relaciona-se à menor presença de um perfil médio na escolaridade. A coleta de da-
dos se deu no período da Escola Bíblica Dominical (EBD), que pode ser realizada an-
tes ou após o culto da manhã. A dinâmica consiste em organizar classes de estudo
da Bíblia, por faixa etária, gênero, casais e temáticas, como Novo Testamento e An-
tigo Testamento. Por ser um momento dedicado ao estudo da Bíblia, esta pode ser,
31 Caminhos da Desinformação

em parte, uma das razões para uma maior presença com níveis de escolaridade
mais altos. O fato de que em Igrejas centrais termos um maior contingente de
respondentes ao lado de poucas pessoas nas igrejas de baixa renda seria uma
outra razão.
A segunda refere-se à cor e renda. Há menos pessoas que se declaram pardas
e de renda média. A maior diferença relaciona-se ao corte denominacional. O
número mais elevado de respondentes nas igrejas tradicionais, pode ter asso-
ciação com a maior valorização que a Escola Bíblica Dominical possui entre os
Batistas. Com isso, tem-se classes regulares e adesão maior por parte dos mem-
bros.
Como a pesquisa de campo foi desenvolvida de forma simultânea no Rio e em
Recife não teria sido possível um controle maior do que o que foi realizado no
sentido de estabelecer maior direcionamento na coleta de dados de determina-
das igrejas, por um lado. Por outro lado, foi um processo bem difícil a negociação
com a Assembleia de Deus em Recife. O resultado alcançado foi o melhor pos-
sível de ser conseguido nas condições em que o trabalho de campo nos colocava.
A terceira é em relação ao critério de classe. Utilizamos o Critério Brasil,
desenvolvido pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa (ABEP) . O que
aparece em nossa pesquisa como classe alta é a reunião dos respondentes que
foram classificados como pertencentes aos estratos socioeconômicos A e B na
escala da ABEP e que teriam uma renda familiar média mensal de cerca de R$ 14
mil reais. No Brasil, eles representam 23,5% da população. A classe média reúne
o estrato C e teriam uma renda média de R$ 2,4 mil reais, são estimados como
48,3% da população. Por fim, a classe baixa em nossa amostra reúne os estratos
D e E, com estimativa de renda familiar mensal média de R$ 700 reais e represen-
tam 28,3% da população. Essas características foram bem retratadas em nossa
amostra.
Caminhos da Desinformação

Capítulo 2: 

Motivos e usos
do WhatsApp

O
s usos mais recorrentes envolvem o contato com
pessoas, sejam familiares ou amigos (74,6%), pes-
soas que moram distante (47,7%), relacionamentos
afetivos (26,9%) ou, ainda, para organizar encontros
e eventos (35,6%). O uso na profissão, ou para o tra-
balho, é outro elemento que fica entre os destaques, sendo
motivo de uso para um pouco mais da metade dos respon-
dentes (51,5%). Apenas 2,6% dos entrevistados afirmaram não
utilizar o WhatsApp como resposta à pergunta sobre os moti-
vos e usos do aplicativo.

O uso do WhatsApp como fonte de notí-


cias, ou informações, foi indicado como
um motivo para o seu uso por 15,9% (153
pessoas). Essa característica da ferra-
menta também proporciona que 17,3%
das pessoas a utilizem para compartilhar
opiniões.
Um terceiro bloco de motivos identificados, com menor
citação, envolve questões mais gerais, desde o fato de que
todos utilizam (7,0%) até o simples entretenimento (12,6%) ou
a preocupação de permanecer “online” (13,0%). Por fim, usos
como forma de militância social (4,5%) ou para participar de
promoções e sorteios (2,4%) foram pouco assinalados. Estes
resultados podem ser visualizados no Gráfico 1:
33 Caminhos da Desinformação

Gráfico 1 - Pergunta 3: Quais são os principais motivos pelos quais


você usa o WhatsApp atualmente? (múltiplas respostas)

N=960, missing=10

Foi perguntando aos entrevistados como eles avaliam o seu uso do WhatsApp
em relação ao tempo em que acessam o aplicativo. A maioria afirmou possuir um
uso entre moderado e prolongado, ficando na terceira colocação os que reconhe-
cem um muito prolongado. Essas três alternativas envolvendo um pouco mais de
2/3 dos entrevistados. As respostas estão compiladas no Gráfico 2.

Gráfico 2 - Pergunta 1: Como avalia o tempo que você usou o WhatsApp


na última semana?

N=970
34 Caminhos da Desinformação

Ainda sobre o tempo de uso também foi perguntado qual era o nível de
satisfação sobre a presença do WhatsApp na vida das pessoas. Os resultados
gerais podem ser vistos no Gráfico 3. A maioria afirma estar satisfeita com o
tempo que dedica ao aplicativo em suas vidas, seja de forma prolongada,
como também moderada ou pouca. Pequenas diferenças foram identificadas e
trataremos destas em seguida.

Gráfico 3 - Pergunta 2: Ainda em relação ao tempo de uso do


WhatsApp, você diria que está:

N=954

Um detalhe importante se percebe ao considerarmos o cruzamento entre as


variáveis sobre o tempo de uso e a satisfação, onde há associação estatística
no teste de qui-quadrado de Pearson (p<0,000). Assim, temos que aqueles com
maior uso tendem a estar mais insatisfeitos do que os outros. Os percentuais
de afirmação de insatisfação entre os que dizem ter um uso moderado é de
3,6% e entre os que afirmaram utilizar muito pouco ou ter pouco uso é de 4,3%.
Percentuais inferiores ao percentual de afirmação de insatisfação entre os que
afirmaram fazer um uso prolongado ou muito prolongado. Entre esses, que são
37,8% dos respondentes, num total de 367 pessoas, temos que 15,8% (58 pessoas)
afirmaram estarem insatisfeitos com o seu tempo de uso do WhatsApp, como
pode ser visto na Gráfico 4.
35 Caminhos da Desinformação

GRÁfico 4: Pergunta 1 e 2: Avaliação do tempo de uso e satisfação (%)

N=949, p>0,000

A questão dos sentimentos em relação à presença de satisfação, ou não, é


algo relacionado à subjetividade presente em ferramentas como o WhatsApp.
Há uma típica expressão de prazer que pode ser identificada por pessoas que,
ao celular, leem e teclam com um leve sorriso. O seu uso mobiliza sentimentos,
não só positivos, mas também negativos diante de frustrações, conflitos e recu-
sas.
Segundo Gibson (1966 apud SANTAELLA, 2010), a percepção não é algo com-
putado pelo cérebro com base em uma somatória de sensações. Os olhos, os
ouvidos, o nariz, a boca e a pele são órgãos sensórios que possuem um sistemas
perceptivos complexos e interrelacionados. Estes fornecem ao organismo infor-
mação contínua que permite a adaptação da vida possível. São considerados,
portanto, modos de exploração, investigação e orientação, ou seja, modos de
atenção a tudo que é constante na estimulação mutável e capazes de isolar a
informação pertinente (SANTAELLA, 2010, p. 194). As mãos também são órgãos
sensórios, e não somente performáticos e para manipular objetos. A mão é o
único órgão que é, ao mesmo tempo, sensório, exploratório, motor e performa-
tivo. A concentração de sensibilidade tátil na ponta dos dedos é a sensibilidade
do corpo inteiro que se desloca para essa extremidade.
Santaella lembra, por exemplo, que o smartphone tem o tamanho exato da
palma da mão e as imagens a serem selecionadas têm o tamanho relativa-
mente exato da ponta dos dedos. O movimento das imagens é sincronizado de
Caminhos da Desinformação

modo perfeito com o ritmo do toque, com a energia sutil que é despedida
nesse toque. “Tal interface é tão íntima e natural, tão bioadaptável, que
não é de se estranhar que uma criança de 2 anos já esteja por intuição
habilitada para manusear, brincar com ela e, sem dúvida, compreendê-la”
(2010, p. 197). Podemos estender essa compreensão para os demais modelos
de smartpones que têm se tornado quase uma extensão do corpo humano,
tamanha a interação e dependência desses dispositivos eletrônicos no dia
a dia, para as mais variadas tarefas e serviços oferecidos pelos aplicativos.

Por outro lado, há iniciativas que propõe o


desenvolvimento de tratamento psicológi-
co para o sofrimento que o uso da ferramenta
parece provocar, e isso tem relação tanto com a
dependência, mas também com a profusão de
sentimentos que ela tende a suscitar.
No questionário, perguntou-se quais eram os sentimentos percebidos
diante da não visualização de uma mensagem enviada a uma pessoa. A de-
mora nessa visualização o que causou? Entre as respostas, apresentamos 6
opções: 4 negativas (Inquieto, Ansioso, Desprestigiado, Indiferente); 1 positiva
(Tranquilo) e 1 neutra (Indiferente). Os resultados apresentados em três cate-
gorias estão no Gráfico 5.

Gráfico 5 - Pergunta 4: Em situações em que você enviou uma


mensagem e percebeu que ela não foi visualizada pelo destinatário,
como geralmente se sente?

N=930
37 Caminhos da Desinformação

Ainda sobre os sentimentos, uma outra pergunta pedia que os


respondentes indicassem como se sentiram em ocasiões em que perceberam
ter compartilhado uma notícia falsa. Para 34,4% não houve esse tipo de
experiência, e praticamente 10% afirmaram ter ficado indiferente em relação
a essa situação. A seguir, o Gráfico 6 mostra o percentual indicado pelos
respondentes em relação aos sentimentos que indicaram expressar nessa
situação. As colunas indicam o percentual do total de respondentes que
assinalaram ter tido determinado sentimento. Cada pessoa poderia marcar
até três opções.

Gráfico 6 - Pergunta 21: Se você já passou pela experiência de re-


ceber e compartilhar uma notícia e depois descobrir que ela era
falsa (Fake News), como você se sentiu? (MARQUE ATÉ 3 OPÇÕES) (%)

N=849

Identificamos que a presença do aplicativo é praticamente universal, seu


uso é relevante para muitos por diferentes motivos e os sentimentos que ele
evoca parecem mobilizar as pessoas garantindo essa ampla adesão. Tam-
bém nos interessou saber um pouco mais sobre a frequência com que as
pessoas costumam encaminhar notícias e informações recebidas. Pratica-
mente, a metade reconheceu que envia de forma regular, um pequeno per-
centual afirmou encaminhar de forma esporádica, “algumas vezes ao longo
do mês”, e outro pequeno grupo afirmou que não encaminha notícias. Cada
um desses com um pouco mais de 10%. Por fim, temos que 26,1% indicaram
que raramente encaminham notícias, esses dados estão apresentados no
Gráfico 7.
38 Caminhos da Desinformação

Gráfico 7 - Pergunta 6: Com que frequência você encaminha


informações ou notícias recebidas de outros contatos ou
grupos de WhatsApp?

N =908

FONTE: https://br.pinterest.com/pin/738308932646734818/
Caminhos da Desinformação

Ainda sobre esse tópico relacionado ao uso do


WhatsApp e o encaminhamento de materiais interessava-
nos conhecer um pouco melhor o que as pessoas estão
mais habituadas a encaminhar em termos dos formatos
disponíveis em que os conteúdos são veiculados. Quais
são os tipos mais compartilhados. Os respondentes
foram divididos em três grupos da análise nessa questão:
reunindo os que assinalaram “nunca” e “quase nunca”
como “poucas vezes”, mantendo a opção “às vezes”
e reunindo “com frequência” e “quase sempre” como
“com frequência”. Assim temos que 33,2% informaram
compartilhar conteúdos com frequência, 29,8% às vezes e
37% poucas vezes. Em relação ao que é compartilhado, o
Gráfico 7 detalha essa divisão, considerando os diferentes
tipos de itens apresentados aos participantes da pesquisa.

Gráfico 7 - Pergunta 7: Considerando a última semana,


com qual frequência você enviou e/ou compartilhou os
seguintes itens no WhatsApp?

N=805, “Não sei” = 94


40 Caminhos da Desinformação

O item que os entrevistados afirmaram repassar com maior frequência


foram os “memes”, elemento bem peculiar desse tipo de comunicação por
meio dos aplicativos de mensagens e mídias sociais. Ainda num patamar
mais alto estão as mensagens de texto, as fotos/vídeos produzidos pela
pessoa. Esses são os três principais tipos de conteúdos. Já entre os que são
menos repassados se destacam os links de outros sites, algo recorrente
para a disseminação de desinformação, mas que com esse dado pode in-
dicar que sua importância é restrita. Se o hábito de se compartilhar links é
menor, como pensar o seu papel nessa tarefa?

Importante lembrar que o clicar em um link,


muita das vezes, acaba por exigir acesso pago
à Internet, ao contrário do uso apenas do apli-
cativo WhatsApp que geralmente é isento de
cobranças pelo uso de dados dos usuários por
meio das operadoras em acordos comerciais
com as grandes empresas de tecnologia. Esses
pacotes gratuitos fazem parte de uma prática
chamada Tarifa Zero, que viola o princípio de
neutralidade do Marco Civil da Internet.
Neste princípio, os pacotes de dados que trafegam na internet devem ser
tratados da mesma forma, sem priorizar acesso ou velocidade de navegação.
Não é o que acontece, pois os pacotes são utilizados para oferecer pro-
moções e acesso com privilégios para alguns conteúdos.

E o que isso tem a ver com a desinformação?


Considerando o celular como a principal ferra-
menta de acesso à internet e a popularidade
do WhatsApp, essa “tarifa zero” reduz a a circu-
lação de diversidade de informação e acesso à
navegação para checar links em sites externos.
41 Caminhos da Desinformação

Com isso as possibilidades de verificar uma informação se restringe aos


limites das plataformas que firmaram os acordos com operadoras, caso do
WhatsApp e do Facebook (INTERVOZES, 2019, p. 22.23).
Essa prática pode ser uma das razões pelas quais os links de outros
sites são menos repassados, conforme mostra nossa pesquisa. Esse dado
também pode sugerir uma pesquisa futura para avaliar se os conteúdos
suspeitos mais viralizados no WhatsApp, ou mídias sociais, são produzi-
dos em forma de texto, imagens ou vídeos exatamente para ter maior al-
cance, mesmo no contexto de restrição de pacote de dados.
Outro elemento que aparece como um dos menos compartilhados são
os áudios, tipo de conteúdo que dificulta o acesso ao destinatário. As
diferenças foram pequenas em relação a cada item. Mesmo os conteúdos
com menor uso, um pouco mais da metade afirma compartilhar às vezes
ou com alguma frequência. No caso dos memes esse percentual envolve
2/3 dos respondentes.

A participação em grupos é outra marca do


aplicativo. Entre os entrevistados, apenas 12,5%
dos evangélicos afirmaram não participar de
grupos no WhatsApp relacionados a grupos re-
ligiosos. Já na pesquisa online, com pessoas
que foram alcançadas no ambiente digital, e
com nível superior, esse percentual entre evan-
gélicos foi ainda menor com 9,6%.
Na pesquisa online foi possível a comparação com outras religiões e,
com isso, observamos o significativo e maior uso de grupos de WhatsApp
pelos evangélicos, como desenvolvemos no último tópico deste texto. Já
70,5% das pessoas afirmaram participar para ter acesso a informações da
comunidade religiosa, enquanto 31,4% indicaram que essa participação é
útil para a formação e prática religiosa. Com percentual similar, 30,4% das
pessoas afirmaram que a participação em grupos da igreja também serve
para receber informações sobre a atualidade, como é possível verificar no
Gráfico 8.
42 Caminhos da Desinformação

Gráfico 8 - Pergunta 5: Sobre sua participação em grupos de


WhatsApp que reúnem pessoas da sua religião (ex: grupos da
Igreja; grupos de amigos; organizações; coletivos), você diria
que participa para (múltiplas respostas):

N=911

Ao perguntar sobre os motivos para excluir contatos, bloquear pessoas


ou sair de grupos, o recebimento de conteúdos ligados à pornografia ou
nudez foram os motivos apontados pelo maior número de evangélicos que
responderam ao questionário, chegando a 48,3% das respostas. Fora esta
questão, também parecem ser valorizadas questões mais relacionadas a
aspectos práticos, como no caso de pouco espaço de armazenamento no
celular, que é decorrência do excesso de mensagens recebidas, motivo
indicado por 40,7% dos respondentes para excluir, bloquear ou sair de
uma conversa. Para 33,6% um motivo alegado foi a falta de tempo para
acompanhar ou participar de determinadas conversas. Cada pessoa
poderia marcar mais de um motivo nessa questão de número 10 e que tem
os resultados apresentados no Gráfico 9 na próxima página.
43 Caminhos da Desinformação

Gráfico 9 - Pergunta 10: Quais dos seguintes motivos te


levaram a excluir contatos, sair de um grupo ou mesmo
bloquear uma pessoa? (múltipla resposta)

N=880

Outro motivo que também mereceu destaque foi o fato de desconhecer


o contato (40,6%) ou discordâncias pessoais (31,1%). Em relação aos
conteúdos veiculados, se questões relacionadas à nudez apareceram com
destaque é num segundo bloco que as fakes news apareceram, sendo
motivo indicado para ruptura por um terço dos respondentes (33%), à
frente do recebimento de conteúdo violento (30,1%) ou divergências em
relação à conteúdos envolvendo política (14,5%) ou religião (4,8%).
Por fim, entre os outros motivos citados consta o desinteresse por man-
ter o contato para 27,5% dos entrevistados, enquanto 7,4% informaram
nunca ter bloqueado ou excluído alguém. Esse dado indica, mas não nos
permite afirmar, que os outros 92,6% dos respondentes realizaram este
procedimento.
Caminhos da Desinformação

Capítulo 3: 

Bíblia,
WhatsApp e
Google: a tríade
digital

O
s aplicativos que utilizamos em nossos
celulares ocupam centralidade na sociedade
contemporânea. São milhares de opções que
ganham espaços nos corações e mentes dos
usuários/as, e nas memórias de bilhões de
aparelhos existentes em todo o mundo. No Brasil, os
dados do IBGE (PNAD Contínua 2018) indicam que 79,3%
da população possui aparelho celular e que nele estão
instalados dezenas de aplicativos.
Foram apresentadas dez opções de aplicativos
para que cada entrevistado indicasse quais uti-
liza e quais não utiliza. Novamente, o WhatsApp
apareceu como a ferramenta que menos pes-
soas indicaram não utilizar, número similar ao
encontrado na pergunta 3, conforme expresso
na pergunta que originou o Gráfico 1.
Apenas 2,2% informaram não utilizar o aplicativo,
isso representa apenas 19 pessoas entre as 883 que
marcaram algum item nessa questão. Google (4,9%) e
YouTube (6,0%) aparecem em seguida como aqueles mais
indicados como nunca sendo utilizados. Aplicativos que
possibilitam a leitura da Bíblia foram indicados como
nunca sendo utilizados pelo celular por 11,3% dos que
responderam à essa questão. No Gráfico 10, na próxima
página, esses dados são apresentados:
45 Caminhos da Desinformação

Gráfico 10 - Pergunta 11: Respondentes que marcaram “Não


usa” em seu celular em relação a lista de aplicativos apre-
sentados (%)

N=883

A questão sobre os aplicativos foi apresentada no formato de uma


Escala de Lickert, onde o 1 indicava pouca importância, o 5 muita im-
portância e o zero não utiliza. Existem algumas possibilidades para
a análise das respostas, uma primeira é o somatório alcançado em
cada item. O mínimo seria zero e o máximo 4.415 pontos.

Figura 1 - Pergunta 11: Somatório de pontos para a pergunta


sobre a importância dos aplicativos utilizados no celular
de cada respondente:
46 Caminhos da Desinformação

Outra possibilidade é considerar que a indicação de pouca im-


portância teria um valor negativo. Numa primeira abordagem é pos-
sível olhar os dados considerando que as marcações 1 e 2 estariam
em um patamar negativo e 3, 4 e 5 positivos. O Gráfico 5 apresenta em
barras essa distribuição. Em relação ao somatório acima apresentado
há pequenas alterações, com uma predominância do Instagram em
relação ao Facebook e do Twitter em relação a utilização do celular
para entretenimento por meio de “jogos em geral”.

Gráfico 11 - Pergunta 11: Por favor, indique a importância de


cada aplicativo que você possui em seu celular.

N=833

Interessante pensar nessa alteração de colocação, ainda muito


próximos, entre Instagram e Facebook em decorrência de uma
maior percepção negativa da ferramenta em função de recorrentes
vazamentos de dados de usuários nos Estados Unidos, o que gera a
perda de credibilidade. Logo após os episódios envolvendo as eleições
norte-americanas que levaram Donald Trump à Presidência, também
foram feitas denúncias sobre a ausência da privacidade de dados na
ferramenta. O valor de mercado do Facebook enfrentou significativa
queda e a visualização das fotos de Mark Zuckerberg, o dono da
empresa, em depoimentos para as autoridades americanas passou a
se tornar algo bastante recorrente.
47 Caminhos da Desinformação

Se o Facebook foi considerado no passado como o aplicativo para o


qual convergia boa parte dos usuários, chama a atenção tanto o seu
menor uso em relação aos outros aplicativos, já que 20% afirmaram
que não o utilizam (Gráfico 10), sendo que entre os 80% que o utili-
zam, para 40% ele possui pouca importância.
A Facebook Inc. é proprietária de outros dois aplicativos que foram
incluídos na lista. É dela também o WhatsApp e o Instagram, com isso a
empresa concentra boa parte dos usuários. Em 2021, na lista Branding
Finance, que apresenta as marcas mais valiosas do mundo, o Facebook
está em sétimo lugar, com valor de 81 bilhões de dólares. A empresa
manteve a mesma posição de 2020, porém com o crescimento de 2,1%.
É o mesmo caso em que se encontra a Alphabet Inc., proprietária
do Youtube e do Google, que ocupa o terceiro lugar do ranking. Essas
marcas representam grandes conglomerados econômicos que tem no
chamado capitalismo de vigilância (ZUBOFF, 2019) ou de plataforma
(SRNICEK, 2016), o seu modelo de negócios.
Ainda seria possível a visualização desses dados como sugerido por
Pereira (2004), por meio do cálculo da frequência média relativa. Para
a criação desse índice são atribuídos valores a cada marcação na Es-
cala de Likert. Sendo que a quantidade de marcações do valor mais
baixo é multiplicada por -1 (item 1), a quantidade seguinte por -0,5
(item 2). O ponto neutro (item 3) é multiplicado por 0 e os dois últi-
mos itens, 4 e 5, são multiplicados por 0,5 e 1, respectivamente. Esses
resultados são somados e o valor final é um índice que pode variar
entre -1 e 1, onde -1 é a total negação e 1 a aceitação total.
O resultado dessa análise oferece um resultado com algumas
diferenças pontuais como pode ser visto na Figura 2, especialmente
em relação à figura anterior. Pela primeira vez, o uso de aplicativos para
a leitura da Bíblia no celular aparece com maior destaque, indicando
que há um maior aspecto positivo conferido a este. WhatsApp e Google
continuam em posição de destaque, formando a tríade dos principais
aplicativos utilizados pelos evangélicos entrevistados. O uso maior do
YouTube que apareceu no Figura 1 fica diluído neste agora, indicando
talvez um aspecto mais pragmático, conferido a ele e uma menor
valorização positiva. A plataforma de vídeos online ocupa na figura a
seguir pontuação similar ao uso de bancos online.
48 Caminhos da Desinformação

Na Figura 2, três aplicativos aparecem com avaliação negativa, o


que significa que a eles é dada pouca importância pelos entrevista-
dos: Twitter, o qual possui um importante segmento de usuários que
o consideram muito importante, superior inclusive ao Facebook, mas
que envolve um pequeno número de pessoas. Aspecto bem carac-
terístico da ferramenta. Jogos online e o Skype são os outros aplica-
tivos que constavam na lista, inclusive o Skype não foi incluído no
Gráfico 11 devido à significativa diferença que possui.
A posição do Facebook e Instagram chama a atenção. Ambos re-
cebem uma leve valoração positiva, sendo que o Instagram se posi-
ciona melhor do que o Facebook, este que é um dos mais antigos
e disseminados aplicativos. Isso parece confirmar os movimentos e
argumentos do papel cada vez maior do Instagram, enquanto mídia
social, e de seu intenso potencial em processos que envolvem tanto a
propaganda, como também disputas político-eleitorais.

Figura 2: Pergunta 11: Frequência média relativa da importân-


cia dos aplicativos utilizados no celular de cada respon-
dente:

Um total de 69 pessoas (7,1%) assinalaram a opção “Outro”, tendo


sido indicados cerca de 25 tipos de aplicativos diferentes, sem um
destaque quantitativo entre estes. Foram indicados aplicativos para
a comunicação, tanto de e-mail (G-mail) como de vídeo conferência
(Zoom) e mensagens (Snapchat e Telegram), lembrando que a pesqui-
sa foi aplicada antes da Pandemia e que certamente agora a pre-
ponderância de aplicativos como o Zoom seria bem maior. Aplicativos
relacionados a outras redes sociais (Pinterest e Tinder), execução de
músicas (Spotify), transporte (Uber e 99) também foram citados. Sem
a menção a um nome específico, foram citados aplicativos para a re-
alização de cursos no celular, para atividades de trabalho (incluindo
a edição de textos) e para gestão e planejamento. O aplicativo mais
mencionado de forma espontânea foi o Netflix, serviço de streaming
para a visualização de vídeos, com seis menções.
Caminhos da Desinformação

Capítulo 4: 

Compartilhamentos
e a disseminação
de Fake News

O
WhatsApp é uma ferramenta que se apresenta
como simples, segura, e que tem como aplicação
o envio de conteúdos produzidos pelo usuário
e por terceiros, sendo particularmente impor-
tante os compartilhamentos. As mudanças que
essa ferramenta têm sofrido visa diminuir exatamente
a capacidade e a velocidade da disseminação de infor-
mações e, assim, diminuir a desinformação por ela pro-
movida. Primeiro se restringiu a quantidade de pessoas
para as quais era possível repassar um conteúdo muito
facilmente com um clique, e depois adicionaram a indi-
cação e uma restrição ainda maior de compartilhamento
de conteúdos que teriam sido encaminhadas com maior
frequência.
Sendo esta uma das funcionalidades das mais aces-
sadas pelos usuários, uma questão que nos pareceu rel-
evante perguntar foi quais eram as motivações que leva-
vam as pessoas a repassar um conteúdo. Oito possíveis
motivações foram sugeridas e cada um dos respondentes
poderia marcar até três dessas opções. No Gráfico 12 são
apresentados os resultados, sendo o total de respostas
maior do que a amostra devido à pergunta permitir múl-
tiplas respostas.
50 Caminhos da Desinformação

Gráfico 12 - Pergunta 13: O que te motiva a compartilhar um con-


teúdo pelo WhatsApp? (MARQUE ATÉ 3 OPÇÕES)

N = 960
No Gráfico 12 chama a atenção o lugar intermediário que ocupou a opção
“A alta credibilidade ou confiança que tenho no autor e/ou na fonte da
informação”, com 24% dos respondentes (233 pessoas), indicando essa
resposta como um dos elementos que os motiva a compartilhar uma
informação no WhatsApp. Há um primeiro grupo de motivações relacionadas
ao conteúdo da informação. Num patamar inferior ficaram as motivações
relacionadas à discordância com o conteúdo, seguidas pelas motivações
relacionadas ao alinhamento com o conteúdo. Curioso pensar que para
¼ dos respondentes a imagem do emissor da informação tem um peso
importante na motivação para compartilhar um conteúdo.
Esse tópico ilustra bem as várias discussões que envolvem a
desinformação e que de forma recorrente indicam que mais que algo
relacionado aos conteúdos em si envolve aspectos
relacionados a tomada de posição. Um posicionamento em
relação a valores e aspectos morais que acabam por definir uma adesão e
o pertencimento a um grupo. Nesse sentido, se diminui o valor dado aos
conteúdos e as informações em si, e passa a merecer atenção elementos
como confiança e participação em um grupo de referência, composto por
pessoas que compartilham informações oriundas de mesmas fontes e que
atuam de forma conjunta.
51 Caminhos da Desinformação

A web 2.0 é o espaço em que proliferam sites e aplicativos de


relacionamentos. Esses espaços são de comunicação, baseados em
relações interpessoais de confiança, afinidade e reciprocidade que podem
ser mantidas ou rompidas voluntariamente (Santaella, 2010, p. 321).
Recentemente, temos o fenômeno do cancelamento que marca essas
rupturas repentinas, voluntárias e em massa. O modelo de comunicação
em rede comporta a cooperação e o compartilhamento de informações
e conhecimento. Dada a sua natureza rizomática, dinâmica e mutante,
Santaella explica que “as redes são ambientes turbulentos, vertiginosos,
rebeldes a regulamentações e controles centralizados”. De acordo com a
autora, doutrinas de bom comportamento não se aplicam nesses ambientes
em que tudo pode ocorrer por trás do anonimato: de pedofilia, passando
por planejamento de crimes à ativismo político.

É por meio dos compartilhamentos que as


informações circulam em grande escala, vídeos,
textos e áudios que caminham de celular
em celular, levando conteúdos, serviços e
entretenimento. O que também parece circular
de forma intensa são as fake news.
Santaella (2010) afirma que as redes são também lugares de risco, mas
apesar disso, o que domina são processos de confiança, assegurados por
meio da negociação mútua, recíproca e múltipla das incertezas interpessoais
e organizacionais. A autora destaca que a confiança, o compartilhamento,
a reciprocidade, a solidariedade e a participação dominam sobre o risco e
a maldade presente nas redes sociais digitais, o que pode representar um
sinal de ética situada, emergente, adaptativa, autogestionada e autogerada
coletivamente (p.322).
A informação e a desinformação circulam pelas mesmas veias das redes
de compartilhamento e, enquanto as fakes news avançam, há também
mecanismos criados coletivamente para seu enfrentamento. No entanto, a
regulamentação das grandes empresas de tecnologias em função da ação
coordenada do chamado capitalismo de plataforma - onde se comercializa
nossa atenção e a capacidade de predizer comportamentos - é uma das
frentes para enfrentar o sistema desinformativo. As medidas já adotadas
pelas grandes empresas de tecnologias ainda não tocam significativamente
a estrutura desse capitalismo de vigilância e organizado em grandes
plataforma, que comporta informação e desinformação de forma nociva.
Assim como a proposição e adoção de políticas públicas em âmbito regional,
nacional e global são caminhos necessários que precisam ser enfrentados
como sendo um dos principais desafios para a existência de uma esfera
pública verdadeiramente democrática da comunicação.
52 Caminhos da Desinformação

Sobre a disseminação de fake news a opção que mereceu maior adesão foi a de
que “No período eleitoral foram muito mais recorrentes”, como consta no Gráfico 13.
Essa foi uma constatação para 36,9% dos respondentes. O grupo, então, se divide
entre 35,9% que afirmam raramente receber, ou não receber, notícias falsas de um
lado, e de outro temos que 37% indicaram receber. E se 31,5% reconhecem já ter
enviado uma informação falsa, outros 24,5% afirmam de forma cabal que nunca en-
viaram”. Enquanto isso, temos que 10,2% assumiram que podem não ter percebido
se já enviou ou se já recebeu. Entre os que reconheceram já ter enviado uma notícia
falsa, a grande maioria, 90%, o fez sem saber que era falsa e, assim, temos que ape-
nas 3,2% reconheceram que já teriam enviado um conteúdo para os seus contatos
sabendo que era falso.

Gráfico 13 - Pergunta 15 - Em relação ao envio e recebimento de notí-


cias falsas (Fake News), você diria que (múltiplas respostas):

N: 970
53 Caminhos da Desinformação

Em relação aos temas chama a atenção pela maior presença de veicu-


lação de mentiras relacionadas à política, sendo que 61,9% a indicou ser
uma temática recorrente em relação às fake news. Em percentuais meno-
res, em um segundo patamar, aparecem religião, tema relevante para o pú-
blico específico da pesquisa. Notícias relacionadas à segurança pública e
à saúde aparecem pela ordem. As duas últimas foram economia e edu-
cação. Sobre a economia é importante sublinhar que metade das respostas
“outras”, em que os respondentes deveriam escrever qual seria para ele o
tema mais recorrente com fake news, apareceram referências sobre notí-
cias falsas relacionadas a ofertas de emprego. Esse é um tipo de notícia
falsa bem recorrente. No Gráfico 14 são apresentados os resultados sobre
essa questão.

Gráfico 14 - Pergunta 17: Quais são os temas mais recorrentes das notí-
cias falsas (Fake News) que você tem recebido? (MARQUE ATÉ TRÊS OPÇÕES):

N=970
54 Caminhos da Desinformação

Diante dos recentes acontecimentos e de todas as justas preocupações


que envolvem o tema da desinformação, uma prática que parece ter se tor-
nado cotidiana na sociedade contemporânea é a de verificar as fontes, a
checagem da notícia. Atualmente, todos grandes órgãos de comunicação
possuem um setor dedicado a esta prática, e várias organizações e coletivos
foram criados visando a verificação de conteúdo suspeito. As grandes empre-
sas do capitalismo de plataforma também possuem entre seus funcionários,
checadores contratados que além de verificar a propriedade de uma notícia
também verificam questões mais sensíveis relacionadas à crimes.
Mesmo nesse contexto tivemos que 229 pessoas, 23,6% dos respon-
dentes, afirmaram que “não costumo checar notícias”. O hábito de checar
junto a sites especializados, ou de coletivos de mídia, foi o que teve maior
resposta com 44,8%, conforme é possível ver no Gráfico 15. A segunda fonte
de checagem, curiosamente, são pessoas de confiança, conhecidas ou que
são seguidas na Internet, nas quais a pessoa avalia como “bem-informa-
das”. Uma das características importantes para compreender a propagação
da desinformação é, exatamente, esse valor dado a pessoas em quem se
confia, sendo um sinal importante a constatação de que para 33,3% dos
entrevistados, 323 pessoas, os conhecidos são mais consultados do que a
busca de informações nos grandes veículos ou mesmo uma simples busca
na Internet.

Gráfico 15 - Pergunta 19: Indique instrumentos que já utilizou


para verificar a autenticidade de uma notícia ou informação
(múltiplas respostas)?

N=970
55 Caminhos da Desinformação

As principais fontes de notícias são a internet e a grande imprensa, com


maior indicação para a Internet. Na grande imprensa, reunimos as menções
da TV, do Rádio e de jornais impressos, sendo que a TV foi preferida por 2/3
desse grupo. No Gráfico 16 esse dado é apresentado com a informação de
qual é a principal fonte indicada, junto à indicação das fontes em que os
respondentes mais confiam.

Gráfico 16 - Perguntas 8 e 9: Qual é a sua principal fonte de


notícias? Qual é a fonte mais confiável de notícias?

N=970

Dois pontos a sublinhar em relação ao Gráfico 16. A primeira é o


reconhecimento dos respondentes da Internet como importante veículo de
informação ao mesmo tempo em que também há a percepção de que é
um veículo pouco confiável. O papel ocupado como meio de comunicação
das mídias sociais e aplicativos é um dos tópicos mais importantes na
sociedade contemporânea. A centralidade conferida pelo disseminado
uso de smartphones, ao lado da acessibilidade e do fascínio que essas
ferramentas possuem, demarcam uma nova relação e presença destes. Se
isso parece ser algo compartilhado pela grande maioria, chama a atenção
o fato de que para cerca de 60% a Internet foi indicada como principal
fonte, já a confiança dela como fonte não alcança 20%.
A grande mídia, que foi citada por cerca de 40% como fonte notícia, destaca-
se como fonte confiável sendo indicada por quase 60% dos respondentes.
Um segundo ponto a salientar refere-se ao papel das pessoas em relação
ao acesso e à confiabilidade das notícias consumidas. Foram indicados
dois grupos: amigos/familiares e Pastor/Irmãs/aos. Os dois apareceram
com baixos percentuais em relação a representarem fonte de notícias,
56 Caminhos da Desinformação

4,7% e 5,2% respectivamente. Já em relação a estes como fontes “mais con-


fiáveis” chama a atenção o aumento que apresentam. Enquanto amigos e
familiares são citados por 9,4% nesse item, os religiosos têm um aumento
ainda maior, o maior de todas as opções, e chegam a ser indicados por
13,2% dos membros de igrejas evangélicas entrevistados. Assim, entre os
evangélicos, a opinião de pessoas que compartilham de sua fé ocupa o ter-
ceiro posição entre as fontes de informação em que confiam.
O WhatsApp é um aplicativo de mensagens que remete à intimidade,
aos conhecidos e à confiança. É considerado a “sala de estar” do mundo
digital, onde as pessoas conversam de forma reservada sobre os assuntos do
cotidiano. O Facebook seria a praça pública, o espaço do coletivo. Pensando
em nosso público específico de evangélicos, um grupo de WhatsApp pode
representar também a versão virtual das pequenas rodas de conversa que se
formam nas igrejas após o fim do culto. Dentro e nas imediações dos templos,
onde pessoas se reúnem por diversas atividades ou afazeres a programar.
São espaços de trocas, conhecimento mútuo e de realização de atividades
relacionadas ao serviço na igreja. É o reforço das relações de confiança e
interação que tanto impressionaram o pensador francês Alexis de Tocqueville
e ficaram registradas em seu livro “A democracia na América”, escrito em
1835, e que recentemente foi explorado pelo cientista político estadunidense
Robert Putnan (2001) ao abordar o papel do capital social na sociedade
norte-americana. Nesse sentido, foi perguntado se os entrevistados já
teriam alertado conhecidos sobre a circulação de fake news, seja quando
ele próprio enviou ou quando recebeu de algum outro conhecido. No Gráfico
17 são apresentados os resultados em que 69% afirmaram já ter alertado a
alguém sobre a veiculação de notícias falsas em alguma oportunidade.

Gráfico 17 - Pergunta 14: Já se pronunciou, ou alertou seus contatos,


sobre algum conteúdo falso enviado por você ou outra pessoa?

N=970
57 Caminhos da Desinformação

Sobre a experiência de circulação de fake news foi perguntado como isso


repercutiria entre os contatos dos respondentes. O mais recorrente foram
situações em que a pessoa que enviou a notícia falsa avisa e se retrata
diante de seus contatos. Isso aconteceu para 36,5%. Com um percentual
próximo, 34,6%, ocorre uma denúncia de que se trata de conteúdo falso, ou
enganoso, à qual foi seguida pela retratação do emissor. A terceira situação
mais citada, por 32,8% dos respondentes, é a afirmação de que não sabem
o que ocorre diante da presença de notícias falsas em suas comunicações.
Esse é um ponto importante, já que pelos dados temos que entre 1/3 e
metade dos entrevistados não parecem estar muito preocupados.

Um pouco mais de 30% dos respondentes


não checam, não se incomodam, não
percebem, e por isso, demonstram
uma atitude indiferente em relação a
desinformação, sem considerar os riscos
dessa prática na coletividade e na vida

Como Pennycook e Rand (2019) abordaram no artigo “Preguiçoso, mas


não tendencioso” (tradução nossa), a disseminação de fake news estaria
mais relacionada a uma “falta de raciocínio” do que a um “raciocínio mo-
tivado”. Os nossos resultados vão ao encontro dessa percepção.
Estas pessoas têm um perfil que, a princípio, não parecem ter relação
com a tradição religiosa (pentecostal ou tradicional), tendem a ser pessoas
com menor escolaridade e menor renda, usuários ocasionais e mais velhos.
Parecem não atribuir ao smartphone um local de destaque em suas vidas,
sendo mais um meio para se comunicar e conectar e, portanto, podem pas-
sar despercebidas as situações em que conteúdos falsos ou enganosos são
recebidos ou compartilhados.
58 Caminhos da Desinformação

Essas características elencadas por Pennycook e Rand se enquadram no


perfil de “usuários néscios”, descritos na introdução, os quais foram identifi-
cados neste estudo por serem indiferentes ou não saberem se compartilha-
ram ou não mensagens com conteúdos falsos ou enganosos. E também por
parecerem não se importar, ou não darem valor, à circulação de conteúdos
falsos e enganosos pela Internet. São usuários que se caracterizariam por
menos habilidades técnica e imprudência no uso das mídias digitais
Brashier e Schacter (2020) apresentam uma interessante discussão ao tratar
sobre o tema do envelhecimento numa era de fake news. É comum a imagem
de uma pessoa mais idosa da família e que a ela é atribuída uma recorrente
prática de compartilhamento de conteúdos falsos, enganosos ou imprecisos.
Isso ocorreria, numa interpretação do senso comum, em decorrência de que
pessoas com mais idade possuem déficit cognitivo, e assumirem boa parte
desse envio.

O argumento dos autores é de que isto não seria exatamente uma reali-
em nossa pesquisa não há elementos sufi-
dade e
cientes para associar a maior idade com o envio
de desinformação. Há associação desses com menor habilidade
no uso de aplicativos, menos tempo de uso e uma certa indiferença, onde es-
tes não manifestam sentimentos negativos ou positivos em relação aos apli-
O que encontramos foi que os mais velhos
cativos.
não têm o hábito de checar notícias.
Eles também salientam outros aspectos relacionados aos de mais idade
que nos parecem bastante relevantes nesse processo. O primeiro é uma maior
confiança nas suas decisões e comportamentos, menos espaço para dúvidas.
É essa postura também que parece estar presente em relação a pessoas com
maior escolaridade, e que estão nos estratos superiores de renda. Talvez por
isso é que mesmo mais cientes das possibilidades, os compartilhamentos de
conteúdos falsos, ou enganosos, acaba ocorrendo por esta maior confiança
em suas capacidades, sem a realização de pensamento reflexixo e crítico.
Outros elementos que os autores apontam que devem ser considerados
para a hipótese de uma maior participação de pessoas de mais idade no
envio de fake news envolvem uma menor preocupação com a precisão ao se
comunicar, e o fato de serem, relativamente, usuários mais novos das mídi-
as sociais do que os jovens. Isso representaria uma menor capacidade para
identificar imagens manipuladas ou conteúdos patrocinados, por exemplo.
59 Caminhos da Desinformação

Em nossa pesquisa, o resultado que temos acesso é em relação


à percepção e o reconhecimento das próprias pessoas em relação às
suas práticas. Isso é especialmente diferente do que análises existentes
que analisam as “pessoas em ação”. Há algumas pesquisas que tendem
a demonstrar uma maior participação de pessoas de mais idade no
compartilhamento de desinformação, o que Brashier e Schacter (2020, p.
4) salientam é que “...crucialmente, compartilhar conteúdo não é o mesmo
que acreditar nele. Jovens adultos expressam vontade de compartilhar
manchetes que reconhecem como falsas. Os adultos mais velhos podem
divulgar notícias falsas com objetivos sociais específicos em mente.” Daí
temos o clássico problema de comunicação entre emissor e receptor. São
entendimentos distintos da mesma mensagem que pode gerar desencontros
e, no caso da desinformação, a chance de um conteúdo falso ganhar mais
viralização, ou seja, atingir mais pessoas.
Os resultados em relação à idade e compartilhamento de conteúdos fal-
sos encontram-se na Tabela 2, não há associação estatística em relação a
essas duas variáveis (p=0,057).

Tabela 2 – Compartilhamento de fake news por idade (%)


Compartilha fakes news? 60 anos ou + 30 a 59 anos 29 anos ou -

Não 37,7 37,9 29,5


Não sabe 40,6 32,2 38,0
Sim 21,7 30,0 32,6

N=818

Há elementos importantes relacionados à escolha de compartilhar um


conteúdo por confiar nas pessoas, que parecem ter um peso relevante neste
processo. Como também é marcante a associação entre ter mais idade,
menor escolaridade e menor renda com o fato de possuir maior confiança
nas pessoas. Outro aspecto importante abordado envolve a diferença entre
as intenções e percepções, que foi o foco deste estudo, e o que as pessoas
realmente fazem: “As intenções dos adultos mais velhos estão em total con-
traste com seu comportamento de compartilhamento real, uma discrepân-
cia que pode refletir mal-entendidos sobre como os algoritmos preenchem
seus feeds de notícias ou esquecer que compartilhamentos implicam en-
dosso” (BRASHIER; SCHACTER, 2020, p. 6).
60 Caminhos da Desinformação

No Gráfico 18 a seguir duas das respostas disponíveis indicam a


ocorrência de discussão em torno da disseminação de notícias falsas entre
os contatos dos respondentes. Assim tivemos que para 21,7% as situações
relacionadas à circulação de mentiras levaram a conflitos, discussões ou
rupturas. É significativo pensar que essas situações de conflito motivadas
pelo compartilhamento de notícias falsas é algo presente para um percentual
expressivo dos respondentes. É uma máxima já bem retratada de que ao
mesmo tempo que aproxima pessoas, as mídias sociais também têm sido
um espaço de conflitos, muitas vezes alimentados pelas polarizações e
embates motivados pela estrutura do ecossistema de informações (WARDLE,
2017) vigente, e que tem na desinformação um componente importante.

Gráfico 18 - Pergunta 16: Entre os seus contatos, o que geralmente


acontece quando identificam que uma notícia falsa (Fake News) estava
circulando em conversas ou grupos de WhatsApp? (Múltipla resposta)

N=892
61 Caminhos da Desinformação

Ainda sobre a disseminação de notícias falsas foi feita uma pergunta di-
reta sobre se a pessoa se lembrava de já ter compartilhado uma notícia que
sabia ser falsa ou que estivesse em dúvida. Como resposta temos a divisão
dos entrevistados em três grupos de tamanho similar:
- 29,7% afirmaram já ter compartilhado notícias falsas;
- 34,9% afirmaram não compartilhar notícias quando estão com dúvidas;
- 35,5% compõem um conjunto que, ou não sabe se já compartilhou uma
notícia falsa (12,6%), ou reconheceu que não “leva em consideração” essa
questão (7,1%) ou afirmou não lembrar de uma situação específica (26,7%).

Gráfico 19 - Pergunta 18: Você se lembra de já ter


compartilhado uma notícia mesmo suspeitando que o conteúdo
era duvidoso? (múltiplas respostas)

N = 892

Ao observar as motivações apresentadas nas opções disponíveis na


questão 18 é possível verificar entre os 29,7% que reconheceram compar-
tilhar notícias falsas que esses se encontram em quatro situações distintas.

1. Mesmo sabendo que era mentira, 8,1% compartilharam uma notícia


falsa por concordarem com a abordagem;
62 Caminhos da Desinformação

2. Já para 11,1% justificou-se compartilhar uma notícia falsa devido à


“relevância do tema e a necessidade de ele ser reconhecido”;
3. Em uma porcentagem bem próxima, 11,9% compartilharam por acha-
rem interessante, mas com um alerta de que o conteúdo era duvidoso.;
4. E 5,6% dos respondentes que assumiram compartilhar fake news, o
fizeram na expectativa de que posteriormente fosse feita a checagem.

Todas as igrejas possuem diversos grupos de WhatsApp referentes tanto a


temas gerais, como referente a questões práticas ou voltados para segmentos
específicos, como crianças, jovens, idosos, casais e etc. A pergunta 20 foi se
o respondente já havia recebido notícias falsas em alguns de seus grupos
Quase a metade (49%)
que reúnem pessoas de sua religião.
informou já ter recebido fake news em grupos de
WhatsApp da igreja. Outros 37% afirma ram que não receberam
e 14% informou não saber. Esses dados estão apresentados no Gráfico 20

Gráfico 20 - Pergunta 20: Você já recebeu notícias falsas (Fake


News) nos grupos de igreja, grupos ligados à religião ou for-
mado por pessoas da mesma fé.

N=897

Retornaremos a esta questão ao final a partir da análise dos resulta-


dos da pesquisa online, onde é possível comparar os dados de evangéli-
cos com pessoas de outras religiões.
Caminhos da Desinformação

Capítulo 5: 

Características
da amostra

N
a introdução, foram apresentados dados sociode-
mográficos da amostra. Algumas questões ofere-
cem mais elementos que auxiliam em um melhor
dimensionamento dos entrevistados. Uma pri-
meira questão foi em relação a adesão e envolvi-
mento religioso, a partir da indicação da frequência da
participação em reuniões presenciais relacionadas à re-
ligião. A grande maioria, quase totalidade (89%), participa
uma ou mais vezes durante a semana. Estamos diante de
uma amostra bem envolvida com sua pertença religiosa.
Os dados relacionados à frequência são apresentados no
Gráfico 21, na próxima página.
Esse envolvimento é confirmado por
meio da pergunta seguinte em que foi
questionada se a pessoa ocupava posição
de liderança em sua Igreja, onde 46,6%
afirmaram ter um cargo, entre estes
destacam-se a presença de 31 pastores, 32
diáconos e 6 presbíteros. Outras funções
com destaque são relacionadas ao ensino,
música e liderança de grupos etários
(crianças, adolescentes e jovens).
64 Caminhos da Desinformação

Gráfico 21 - Pergunta 27: Nos últimos seis meses, com que


frequência você foi à Igreja ou participou de reuniões
relacionadas à religião?

N=895

N=895

Duas outras perguntas auxiliam em um dimensionamento da amostra


em relação a sua posição. No primeiro, é apresentada uma escala em que a
pessoa indica a sua posição entre ser “de direita” e “de esquerda”, em uma
escala de 1 a 7. Essa posição em relação a outras possibilidades é um int
eressante exercício para refletir sobre o contexto de polarização no campo
político-partidário no Brasil, especialmente no contexto religioso.
No Gráfico 22, na próxima página, apresentamos o resultado da pesquisa
em comparação com os dados da pesquisa Estudo Eleitoral Brasileiro (ESEB),
de 2018 . Em nossa pesquisa, a posição política de Centro foi mais marcada
com 31,1%, em comparação aos evangélicos no ESEB, onde alcançaram 22,8%.
Quanto ao posicionamento à Direita, temos uma porcentagem menor, com
52% se equiparamos com os dados do ESEB, com 60,1%.
65 Caminhos da Desinformação

Gráfico 22 - Pergunta 29: Como você sabe, muita gente quando pensa
em política utiliza os termos esquerda e direita. No quadro abaixo
em qual posição política você se colocaria, sendo que a posição "um"
é o máximo à esquerda e a posição "sete" é o máximo à direita? (%)

N=757, ESEB geral=1976; ESEB Evangélicos=604

A outra pergunta associada a valores democráticos apresenta três possi-


bilidades e pede que os entrevistados indiquem aquela que concorda mais.
A tabela abaixo apresenta os resultados desta pesquisa comparada com
o resultado do Latino Barômetro para o Brasil de 2018. O percentual de
marcação favorável à democracia foi significativamente maior na pesquisa
realizada neste projeto. Quais elementos poderiam explicar essa diferença
tão significativa?

Tabela 3 - Pergunta 30: Com qual das seguintes três afirmações


você concorda mais? (%)
Com qual das seguintes três afirmações Pesquisa Latino Barômetro
você concorda mais?

A democracia é preferível a qualquer outro 70,8 38,4


tipo de governo

Em certas situações, um governo autoritário 15,1 15,6


pode ser preferível a um democrático

Para pessoas como eu, não importa se temos 14,0 45,9


um governo democrático ou não democrático
N=812, Latino Barômetro = 1062
66 Caminhos da Desinformação

Não temos resposta nem hipótese para a questão relacionada à diferença


identificada na Tabela 3. O que fica, é que é importante salientar que não
foi identificado qualquer peso ou associação relacionados a esses aspectos
ou posicionamento político sobre o uso de aplicativos ou o compartilha-
mento, recebimento ou identificação de mensagens de conteúdo falso ou
enganoso.

Foto de Grupo de Diálogo realizado no Rio de Janeiro em agosto de 2019.



Caminhos da Desinformação

Capítulo 6:

Conclusão:
Algumas
possibilidades
explicativas

A
qui é mais uma primeira análise em
relação aos dados, tentativa de análise e
interpretação para provocar o diálogo. Um
primeiro exercício passou por começar a
olhar as associações e verificar possibili-
dades. O primeiro tópico é em relação a algumas
associações identificadas a partir de resultados
positivos do teste de Pearson (Qui-quadrado). O
ponto inicial é a indicação de uma conformação
entre tradicionais e pentecostais dentro do espe-
rado, com o perfil de maior renda, escolaridade
e diferenças significativas em relação à cor entre
estes dois grupos. Isso está na Tabela 4 na próxi-
ma página.
68 Caminhos da Desinformação

Tabela 4 - Teste de Pearson (Qui-quadrado) entre renda, escolari-


dade e cor e definição de pertencimento a tradição evangélica

Dado Pentecostal Tradicional

Rendaa
Alta 33,5 66,5
Média 36,0 64,0
Baixa 52,4 47,6
Escolaridadea
Fundamental 40,7 59,3
Média 47,4 52,6
Superior 29,4 70,6
Corb
Branca 36,5 63,5
Parda 47,2 52,8
Preta 33,3 66,7

Total 40,6 59,4
N=970; ap<0,000, bp<0,018

Em relação à religião um outro teste que também deu associação foi so-
bre a confiança na Internet como fonte de informação, onde havia maior
confiança entre membros de igrejas tradicionais. Há uma correlação entre
elementos que demarcam uma posição social mais privilegiada e a afir-
mação de que “confia na Internet como fonte de notícias”.
Uma primeira característica identificada foi o fato da pessoa se
definir como tradicional (p<0,002), porém não parece ser essa associação
um elemento explicativo, sendo ela uma componente em função das car-
acterísticas deste grupo. Assim, mais do que a questão do perfil religio-
entre aqueles que confiam
so, foi possível identificar que
na Internet há associação com o fato de terem
renda alta (p<0,001), escolaridade de nível su-
perior (p<0,002), reconhecerem ter um uso pro-
longado do WhatsApp (p<0,000), serem usuário
qualificado (p<0,001) e mais jovens (p<0,000).
69 Caminhos da Desinformação

Para a definição do “usuário habilidoso” foram utilizadas cinco habilidades


(1. uso cotidiano para a leitura de mensagens; 2. compartilhamento de
conteúdo; 3. criação e administração de perfis; 4. compartilhamento entre
difer­entes aplicativos; e 5. produção de conteúdo) e a frequência em que
a pessoa afirmou utilizá-las. Considerou-se que aqueles que com maior
frequência administravam páginas, compartilhavam e produziam conteúdos
eram usuários qualificados (44,6%).
A partir desses dados e associações foi feito um recorte nos dados, visan-
do definir um perfil de usuário e identificar se entre esses haveria menor
compartilhamento de fake news, essa era a hipótese a ser testada. Foram
atribuídos pontos em que se definiu um grupo de respondentes em que
as cinco informações acima descritas eram mais coincidentes, a partir de
corte feito no terceiro quartil, dividindo a amostra em dois grupos.

A expectativa era de que entre estes fosse


menor a disseminação de fake news em com-
paração com aqueles em que há associação com
afirmação de que confiam nas pessoas.
Foram reunidos 164 (20,4%) respondentes a partir de grupo formado pelos
pertencentes ao terceiro quartil da amostra. Eles têm como características
perfil mais jovem, com maior
a predominância de um
renda e escolaridade, reconhecem ter um uso
prolongado do WhatsApp e são, em sua grande
maioria, usuários qualificados. São capazes de produzir
conteúdo, vídeos, textos e imagens. Criam e administram páginas nas redes
sociais. Entre estes há uma maior confiança na internet como fonte de dados.
Há uma postura significativamente maior em relação a avisar conhecidos de
que enviaram notícias falsas (81,6% versus 68,5% do outro grupo, p<0,000).
Também têm uma percepção maior de que recebem notícias falsas (76,2%
versus 58,8%, p<0,000).
A hipótese era de que estes usuários seriam menos propícios a enviar
notícias falsas para os seus contatos, mas curiosamente não foi encontra-
da associação entre o envio de notícias falsas entre estes e o restante da
amostra. Nos dois grupos esse percentual é similar e não houve associação
no teste de qui-quadrado. Entre o grupo selecionado com 20% de respon-
dentes, temos que 30,1% reconheceu já ter enviado notícias falsas em al-
guma circunstância, enquanto que entre os outros 80% da amostra esse
percentual foi de 30,5%.
70 Caminhos da Desinformação

Aparentemente, há um segmento que possui maior domínio do uso da


ferramenta, tem maior escolaridade, renda e dedica maior tempo ao uso de
aplicativos. Em nossa hipótese esses usuários aparentemente alfabetizado
digitalmente teria um papel importante na diminuição da circulação da
desinformação no ecossistema de informação digital.
Este grupo tem uma maior prática tanto em checar notícias, conforme a
Tabela 5 a seguir, como também em denunciar e perceber que recebe notícias
falsas, porém isso não implica em que este seja um menor disseminador de
conteúdos falsos ou enganosos. Esse foi um ponto importante a considerar
e que nos remete a alguns elementos já discutidos em outra oportunidade
(FONSECA, 2020) e a lembrar o interesse em compartilhar não por um
“raciocínio motivado”, por pensar em algum objetivo, mas exatamente por
não pensar, por uma “falta de raciocínio” (PENNYCOOK; RAND, 2019).
Neste grupo foi possível identificar que além de checar mais, identificam
mais fake news e expressam maior sofrimento, seja por conflitos ou por
uma insatisfação com o maior tempo de utilização das mídias digitais.
Esses elementos não têm impacto em uma postura de reconhecer que
envia menos, seja esse envio intencional ou acidental.
Optamos por definir esse usuário, tendo em mente a discussão de
Freire (1967) sobre “consciência transitiva”, como “usuário habilidoso”,
Em nossa
pensando em uma situação prévia à uma postura crítica.
amostra não foi possível identificar com relevância
estatística um perfil de usuário que de forma
categórica estabeleça um padrão de que não
enviam notícias falsas a partir da análise dos dados
e de outros comportamentos e percepções. Assim,
o argumento aqui proposto é que teríamos a "usuários críticos" quando
estes decidem não mais enviar fake news, algo que seria alcançando, em
Freire, a partir do processo de conscientização. Isto significa agir em seu
cotidiano considerado tanto a humanidade como também os aspectos
socioeconômicos e históricos à sua volta.
O ponto salientado por autores do campo da psicologia é de que o ato
de compartilhamento de conteúdos falsos, enganosos ou imprecisos não é
algo diretamente racional e cognitivo. Há um forte componente de elemen-
tos relacionados à valores e a uma lógica que, para alguns, não entende
este compartilhamento como endosso ou apoio à mensagem.
71 Caminhos da Desinformação

Outro elemento importante se relaciona com o papel da confiança entre


pessoas, principalmente em relação a posicionamentos públicos sobre
assuntos em debate nas mídias sociais e nos meios de comunicação. Com base
nessa relação de confiança, as opiniões e demais posicionamentos que se
mostram contrários aos de quem se confia, ou se tem por alta estima, tendem
a ser desacreditadas ou desconsiderados, estimulando a polarização ao invés
do diálogo. Por fim, há todos os aspectos relacionados a um analfabetismo
digital, além da ação de algoritmos e das estratégias acionadas por grupos
e pessoas que atuam de forma intencional e organizada em um sistema
desinformativo na disseminação da desinformação.
Aqui há um ponto importante, pois este achado vai ao encontro do que
temos discutido no GEDES como importantes elementos no enfrentamen-
to da desinformação. O processo de assumir uma postura emancipada que
opte pelo compromisso com a verdade factual parece que precisa levar em
consideração elementos que vão além de características sociais como esco-
laridade e renda. O domínio instrumental dos equipamentos e aplicativos
também não parece ser suficiente.
A hipótese que consideramos é da necessidade de uma percepção da
realidade e como o mundo digital é ainda mais distante desta, tem-se nessa
situação um desafio ainda maior para aqueles envolvidos em processos
educativos. Processos que precisam ter como foco mais no “como” a
desinformação é transmitida e menos em seus conteúdos (FONSECA, 2020).
Um elemento importante a se considerar passa a ser tanto os formatos
e valores que mobilizam, como também todo o ecossistema de informação
que o envolve, além de questões macros já desenvolvidas por Zuboff (2019)
e Srnicek (2017) sobre o sistema capitalista e suas relações de plataforma e
vigilância que atualmente vigoram.
Assim é que as sugestões de Berry (2012) da necessidade de algo além de
uma “alfabetização digital” parecem bem apropriadas. Ele propõe a iteracia,
processo similar a literacia e que envolve aprendizados relacionados à
programação e visam à compreensão da estética envolvida na produção de
códigos, e na percepção das iterações como uma nova forma de organizar o
pensamento, a práxis e para responder os desafios existentes na complexa
sociedade contemporânea. O que o autor defende é que mais do que uma
“alfabetização digital”, os processos relacionados às mídias digitais precisam
contemplar uma formação que capacite as pessoas a uma compreensão tanto
dos algoritmos, como dos processos envolvidos na produção dos códigos da
programação:
72 Caminhos da Desinformação

É algo em que também tenho pensado com o conceito de digital bildung e com-
putacionalidade. No entanto, gostaria de sugerir que iteracia pode servir como o
nome para as habilidades específicas usadas para compreender código e cultura
algorítmica - como de fato alfabetização (compreensão de textos) e numerção
(compreensão de números) fazem em um contexto semelhante. Ou seja, iteracia
é especificamente a prática ou a capacidade de ler e escrever código, em vez da
noção mais ampla de digital bildung. (Berry, 2011).

Sua proposta envolve a compreensão da necessidade de amplos proces-


sos educativos que incluam a lógica computacional e linguagens de pro-
gramação. Ele tanto fala em iteracia como também em Digital Buildung,
unindo ao termo alemão que designa um amplo processo voltando para a
completude do ser humano em uma faceta digital.
O desenvolvimento de uma iteracia iria além de uma alfabetização ou
letramento digital, assumindo um olhar mais amplo para a sociedade
e considerando seriamente as características da programação e suas
implicações. Postura que leva à sério a máxima de McLuhan de que o
“meio é a mensagem” e, dessa forma, seria possível pensar na adoção de
“consciência”, isso no sentido da emancipação e autonomia.
É nessa situação que vislumbramos ser possível pensar que o não
envio de conteúdos falsos, por meio do estabelecimento de uma maior
responsabilidade não com a ferramenta e seu uso, mas sim com a
humanidade, passaria a ser algo considerado mais seriamente. Tanto pela
compreensão das ferramentas, mas também pela compreensão de sua
estrutura e lógicas subjacentes e o maior comprometimento com dimensão
ética e a solidariedade nos processos comunicacionais.
O ponto central que parece não haver dúvidas é da necessidade de que
a capacitação para o uso das novas Tecnologias de Informação e Comuni-
cação precisa ser além de algo instrumental. É fundamental assumir um
processo que não seja meramente técnico e que considere os aspectos
político-pedagógicos, a realidade social mais ampla e as implicações que
representam para a vida humana o uso dessas ferramentas e o papel que a
disseminação da desinformação ocupa.

Digamos, que seria preciso uma ação resili-


ente para assumir uma postura que se oponha
a participar na disseminação de mentiras. É pre-
ciso um querer, uma leitura crítica, pois é par-
te constitutiva da mídia digital a circulação de
notícias falsas.
73 Caminhos da Desinformação

Muito resumidamente, a alfabetização digital parece servir para aumen-


tar a checagem de notícias, mas não parece ser efetiva na diminuição da
circulação de conteúdos falsos, pois este é constitutivo do sistema e além
de envolver aspectos macro, também conta com uma forte componente
emocional e de confiança.
Assim, os usuários poderiam ser analisados a partir dos três tipos de
consciência, conforme sugerido por Freire (1967) e que foi abordado neste
relatório, considerando seus usos no ambiente digital: um grupo pode ter a
atuação próxima ao que é explorado por Freire como possuidores de uma
consciência transitiva e que aqui denominamos de “usuários habilidosos”; o
outro grupo, que seria a maioria, atuaria conforme a consciência intransitiva,
chamados de “usuários néscios”. E, por fim, é preciso considerar a existência
daqueles que usuários críticos, mas que diante da complexidade e das
novidades das ferramentas digitais e da distância entre estas e a maioria
da população acaba sendo um grupo de tamanho diminuto. Aumentar esse
contingente é um dos grandes desafios da humanindade na atualidade.
O segundo grupo, de “usuários néscios”, caracteriza-se por uma menor
percepção da presença da desinformação à sua volta. Checam menos, não
denunciam informações falsas que circulam, possuem mais posicionamen-
tos de indiferença ou afirmam “não saber”. A impressão é de que o uso das
mídias digitais entre estes é mais automático ainda, utilizam os aplicativos
e acessam as redes sociais como que de forma vegetativa, sem perceber as
circunstâncias e implicações concretas. Suas ações parecem ocorrer impen-
sadamente, sem medir o alcance de suas palavras ou atos.
Essa aparente falta de atenção, ou descuido, dos que demonstram essa
aproximação irrefletida, mecânica e burocrática no ambiente digital, pode
ser mais bem compreendida ao adicionarmos a ideia de economia da
atenção, analisada por Santaella (2010). A atenção é um dos aspectos da
percepção, na sua essência. É descrita como uma faculdade que resulta na
capacidade de mente para selecionar e focar o aspecto mais saliente de
uma dada situação.
Pesquisas no campo da neuroimagem indicam que há pelo menos três ti-
pos de atenção. A primeira é orientadora, se refere à atenção visual, aquele
flash da mente que orienta para um novo estímulo. A segunda é reativa, diz
respeito às respostas, do sono ao alerta completo. A terceira é a atenção
executiva, relacionada ao planejamento, julgamento e resolução de infor-
mações conflitantes.
74 Caminhos da Desinformação

Santaella (2010, p. 301) cita Cary (1999) para explicar que a distração
moderna é uma tentativa de produzir atenção, e resulta da lógica do
bombardeio imposto pelas tecnologias da atenção. Os diferentes aplicativos
que auxiliam em diversas tarefas do cotidiano, interação com pessoas e
o aprendizado, também pode minar o poder de atenção. Jackson (2008),
também citado por Santaella, fala sobre a cultura institucionalizada das
interrupções no dia a dia, que dificulta a concentração e o pensamento
criativo.
Gallagher (2009 apud Santaella 2010) observa que o cérebro não é um
todo unificado, mas uma coleção de sistemas que entra em conflito uns com
os outros. Quando isso ocorre, os sistemas inconscientes, mais primitivos
e movidos por estímulos (os componentes reativos e comportamentais do
cérebro) tomam a dianteira nas decisões em detrimento de uma mente re-
flexiva e autocontrolada.
No entanto, o cérebro é flexível e treinável. A autora conclui que o ambi-
ente conforma o desenvolvimento cerebral e, muito provavelmente, sob o
influxo das novas tecnologias. Mas a inteligência humana encontra-se em
processo de adaptação e acomodação devido à sobrecarga de informação,
fazendo emergir, como estratégia de evolução, mentes fluídas, híbridas,
auto organizativas em ambientes hiperconectados e ubíquos. Porém, exige
treino e equilíbrio (2010, p. 307).
Na Tabela 5 são apresentadas algumas das características relacionadas aos
“usuários habilidosos” e “usuários néscios”, definidos na página 24:

Tabela 5 - Tipo de usuário e a adoção de algumas práticas em


relação à disseminação de fake news (%)

Atividade Usuários Usuários Média


néscios habilidosos Geral
(n=641) (n = 164)

Sim, verifica sites de checagem 41,1 62,6 45,5


de notíciasa
Sim, verifica em veículos da grande imprensaa 23,3 38,7 26,5
Sim, avisa a conhecidos sobre fake newsa 68,5 81,6 71,1
Recebe fake newsa 58,8 76,2 62,4
Sim, já enviou fake newsc 30,5 30,1 30,5

N=805, ap<0,000; cp=0,468


75 Caminhos da Desinformação

A resposta a esse processo de aumento da disseminação parece passar


pela autonomia dos usuários, daí a importância de algo como o proposto
para a iteracia (BERRY, 2011). Podemos pensar junto com Freire esse con-
ceito, como também pensar na autorregulação como desenvolvida por Vy-
gotsky (CABRAL et. al, 2015). Ambas as respostas envolvem considerar a re-
alidade e o contexto social.
Voltando ao Freire, o ponto é que a ação educativa é um projeto político-
pedagógico. Isso é ainda mais fundamental e deve nos levar a considerar
firmemente a verdade factual, em meio à desinformação, por conta do
seu pretenso deslocamento da realidade. Freire fala em “dizer a palavra
verdadeira” ou “dar nome ao mundo” como uma dimensão política da
comunicação. A comunicação para Freire é uma relação social, política e
dialógica, e se constituiu em um processo de construção de significados,
compartilhado por sujeitos livres, iguais entre si e em uma condição
equidade em relação ao direito de ter voz.
Para ele, “o verdadeiro ato de conhecer é sempre um ato de engajamento”.
Freire (1977). Afirma que “não há palavra verdadeira que não seja ao mesmo
tempo práxis. Assim, dizer a palavra verdadeira é transformar o mundo”.
O educador também aplica a ideia de “palavra verdadeira” à compreensão
do processo histórico e cultural em que são gerados a linguagem e o
pensamento, ambos inseparáveis da realidade do sujeito pensante.
O autêntico pensamento-linguagem é gerado na relação dialética entre o
sujeito e sua realidade histórica e cultural concreta”.
No caso de sociedades dependentes ou alienadas culturalmente, o
próprio pensamento-linguagem encontra-se alienado por estar dissociado
da ação de um pensamento autêntico. Com isso, gera-se palavras falsas e
não verdadeiras. Para Freire, o tema fundamental para essas sociedades
é conquistar o direito à voz e de pronunciar a sua palavra. No contexto da
desinformação, espera-se que a palavra verdadeira emerja, como fruto des-
sa ação de um pensamento-linguagem que considere sua realidade históri-
ca e social de forma concreta em um mundo em desumanizado e marcado
pela dominação. Dizer a palavra verdadeira, explica Freire (1976), deve estar
associada ao direito de auto-expressão e expressão do mundo, de criar e
recriar, de decidir e escolher, e participar do processo histórico da socie-
dade. Para Freire comunicação é diálogo e a essência do diálogo é a palavra,
que articula de forma inseparável ação e reflexão.
76 Caminhos da Desinformação

O educador chama de “ação cultural para a liberdade”, a denúncia de


uma realidade desumanizadora, em nosso caso aqui, os males provocados
pela desinformação, e o anúncio das possibilidades de transcender essa
realidade, que entendemos como uma postura resiliente de não “acata-
mento” com o uso, literalmente programado, das ferramentas digitais hoje
acessíveis a qualquer um.

Análise comparativa sofre fake news e outros segmentos


religiosos

Um último grupo de dados a ser apresentado não tem origem no survey


apresentado e refere-se a uma relevante questão. Até o momento o nos-
so olhar esteve debruçado em uma amostra composta exclusivamente por
evangélicos. Quais seriam as diferenças deste grupo em relação a membros
de outras religiões? Com esta questão em mente, ao ser feita a coleta de
dados em campo também foi criado um questionário para respostas online.
Os dados foram coletados durante o segundo semestre de 2019, obtidos
por meio de redes de contatos dos pesquisadores e divulgação de link para
o preenchimento nas redes sociais. Ao total, foram recebidas 560 respos-
tas, porém, o questionário online se configurou com uma amostra enviesa-
da em que 70% dos respondentes possuíam formação universitária. Para
utilizar este material neste relatório optou-se por descartar as respostas
dadas por pessoas com escolaridade de nível médio e fundamental e con-
siderou para a análise observar somente as respostas das pessoas com
nível superior. Importante salientar que pela natureza da amostra não há
significância estatística.
Nesse banco de dados há respostas de pessoas de todas as unidades da
federação do Brasil, com exceção de Roraima. Há uma maior presença de
pessoas do Rio de Janeiro (31,7%) e de São Paulo (16,6%). Consideramos da
amostra apenas pessoas com nível superior em relação à escolaridade e
o total de respondentes foi de 401 pessoas, tendo uma predominância de
mulheres (63,5%). Há um percentual expressivo de pessoas com renda mais
alta, com 25% pertencentes à classe A, o que representa uma renda familiar
média de 25 mil reais. Também temos a ausência de pessoas das classes D
e E. A classe B envolve 61%, e a classe C 14%. O gráfico 23 a seguir apresenta
distribuição das religiões na amostra obtida por meio da pesquisa online
para pessoas com nível superior:
77 Caminhos da Desinformação

Gráfico 23 – Distribuição por filiação religiosa dos respondentes


de escolaridade de nível superior na pesquisa online (%)

N=401

Em outras religiões estão adeptos do judaísmo, budismo e outras


explicitações de adesão religiosa. Em relação à distribuição da amostra,
considerando ser de pessoas com nível superior, há uma maior presença
de evangélicas e uma menor presença de católicas. Ao observar os dados
do ESEB, os evangélicos com escolaridade de nível superior são 23,7% dos
respondentes e 47,4% são católicos. Os sem religião reúnem 16,5%, espíritas
8,9% e de religiões afro-brasileiras 0,5%.
Dos resultados da pesquisa online chama a atenção o fato de que o per-
centual de pessoas que afirmaram ter enviado fake news se mantém em
um patamar similar ao encontrado na pesquisa presencial, sendo que na
pesquisa online a média geral foi de 20,2%, importante lembrar que são
todos de nível superior e com alta escolaridade. No Gráfico 24 abaixo apre-
sentamos o percentual por religião dos respondentes que reconheceram já
ter enviado fake news.
78 Caminhos da Desinformação

Gráfico 24 – Reconhece já ter enviado fake news por religião na


pesquisa online (%)

N=401

Entre os evangélicos, há uma maior participação em grupos relacionados


à religião, identificamos que 90,4%
dos evangélicos partici-
pam de grupos sobre religião no WhatsApp. Esse valor
é bem superior à média geral, que foi de 59,5%. Pode-se afirmar, provavel-
mente ainda mais agora que no passado, a
maior organicidade
e vínculo com a comunidade de fé que sempre
foi um distintivo dos evangélicos em oposição à
possibilidade de ser um “católico não-pratican-
te”, por exemplo.
Parece que hoje um distintivo dos evangélicos, adequado à era digital,
é a sua participação virtual em grupos de sua religião. A participação em
grupos da igreja de WhatsApp seria o novo ir à igreja semanalmente?
Entre evangélicos são 90,4% os que afirmaram
participar de grupos de WhatsApp relacionados
à sua religião. Entre católicos esse percentual é
de 71%, entre espíritas é de 57,1% e entre afro-
brasileiros de 54,5%. Em pessoas de outras religiões esse
percentual foi de 66,7% e entre os sem religião chamou a atenção de que
24,7% destes assinalou participar de grupos relacionados à, talvez, uma
espiritualidade ou outros valores que compartilhem.
79 Caminhos da Desinformação

Ao perguntarmos se a pessoa já havia recebido nesses grupos ligados


à sua religião fake news, um alto percentual de evangélicos afirmou
reconhecer que isto já havia ocorrido. Foram 77,6% do total dos evangélicos
entrevistados.
Considerando pela pesquisa presencial realizada com evangélicos que
há uma maior percepção da recepção de notícias falsas entre pessoas com
nível superior, é importante sublinhar que a presença da desinformação é
significativa neste grupo. Como ele é composto em sua grande maioria por
pessoas de menor escolaridade na média, muito provavelmente, essa cir-
culação de notícias falsas é ainda mais presente e menos percebida.
O Gráfico 25 apresenta os dados da pesquisa online para o número total
de respondentes de quantos afirmaram já ter recebido fake news nos gru-
pos relacionados à sua religião:

Gráfico 25 – Recebe fake news em grupos de sua religião por


filiação religiosa na pesquisa online (%)

N=401

Um pouco mais da metade das pessoas que reconheceram receber men-


sagens em grupos religiosos é evangélico, com um percentual de 52,7%.
Os católicos representam 24,5%, espíritas são 8,2% e fiéis de religiões de
matriz africana apenas 2,7%. Sem religião e outras religiões somam 11,9%.
80 Caminhos da Desinformação

Boa parte desse número mais alto entre evangélicos parece ser expli-
cado pelo outro dado encontrado na pesquisa, particularmente impres-
sionante, de um
intenso uso de grupos de WhatsApp
muito disseminado entre evangélicos, o que
talvez represente boa parte da explicação para
uma maior percepção da circulação de desin-
formação por parte de pessoas desse segmento.
Percepção que provavelmente está associada a uma efetiva e maior pre-
sença da desinformação entre os evangélicos.
O que isso representa em termos do recebimento de um maior volume
de informações falsas? Quais são as estratégias adotadas pelas igrejas e
suas lideranças para enfrentar a disseminação da desinformação em seus
espaços de encontro virtual? As facilidades dos aplicativos para o compar-
tilhamento de notícias e a presença de um volume expressivo de evangéli-
cos na sociedade brasileira que participam de vários grupos ligados a sua
comunidade de fé ajuda-nos a pensar que a participação nesses grupos de
religião é acompanhada de uma participação em grupos de família e, muito
provavelmente, teríamos uma circulação de mensagens entre esses grupos.
Isso representa um acesso significativo às famílias, pois a presença
de evangélicos é uma realidade que atualmente se encontra bastante
disseminada no tecido social e, com isso, se tornam um acesso a uma ampla
rede de contatos.
Pesquisas indicam que o uso de grupos de WhatsApp na religião é
significativamente maior no Brasil do que em outras países (RAFERT; MATE,
2017). Isso parece ser um fator bem importante a se considerar quando se
pensa no aumento e na presença da desinformação na sociedade brasileira,
tanto em relação aos períodos eleitorais, como também no grave caso de
toda a desinfodemia - desinformação específica sobre a Covid-19 (UNESCO,
2020), que se alastrou no Brasil em meio à crise de saúde pública em razão
das milhares de mortes por Covid-19 (FONSECA et al, 2020). Em relação
às temáticas temos que, de forma generalizada, há predominância de
conteúdos falsos relacionados à política, sendo que 89,6% dos respondentes
indicou esse tema como recorrente, e 61,7% afirmaram que no período
eleitoral o recebimento de conteúdos falsos foi maior. A saúde é o segundo
tema mais indicado como recorrente, tendo sido indicada por 34% dos
respondentes, isso antes da pandemia, não havendo associação entre
temas e filiação religiosa.
81 Caminhos da Desinformação

O WhatsApp é um aplicativo que foi pensado para as relações íntimas e


privadas, marcado pela simplicidade, confiança e segurança garantida por
sua criptografia. O seu uso é prioritariamente relacionado ao contato com
a família, aparecendo isto como motivação para o seu uso por 86,2% dos
respondentes da pesquisa online. O segundo motivo para o seu uso que foi
mais citado são as atividades relacionadas ao trabalho, sendo este o moti-
vo para 76,5%. Isso de forma similar entre as diferentes religiões.
Ao mesmo tempo, o WhatsApp parece ter uma estrutura que favorece o
envio de conteúdos falsos, ou enganosos, entre seus usuários. Um compo-
nente importante nesse processo de disseminação da desinformação é o
fato de as pessoas participarem em um maior número possível de grupos.
Participação efetiva que representa a confirmação de laços de confiança,
seja por motivos familiares ou por outras afinidades.
Assim, os religiosos parecem ter mais oportunidades de participação,
graças à organicidade do segmento. Chama particularmente a atenção o
uso mais intenso que parece ocorrer entre evangélicos, com uma adesão
significativamente maior neste segmento à participação em grupos rela-
cionados à sua religião e religiosidade.
Uma constatação importante é que um pouco mais de 2/3 destes
reconhece já ter recebido fake news em grupos ligados à religião,
sendo eles e os católicos os que mais reconhecem já ter encaminhado,
intencionalmente ou não, mensagens com conteúdo falso, enganoso ou
impreciso em seus grupos. Como os evangélicos parecem participar de mais
grupos, logo acabam por ocupar lugar de centralidade no caso brasileiro
de disseminação da desinformação.
Curioso o fato de que o percentual de evangélicos que reconhece enviar
mensagens falsas (24,8%) seja próximo, mas inferior ao de católicos (27,3%)
e que se encontre em patamares similares aos de pessoas de outras religião
e sem religião (20,8% e 20,9%). Já na pergunta se chegaram em grupos
ligados à sua religião mensagens falsas há uma percepção disso muito
maior entre os evangélicos com 77,6% destes, outras religiões e católicos
aparecem em seguida com percentuais bem inferiores (41,7% e 38,5%).
Será que houve algum tipo de ação direcionada à este grupo na
circulação de mensagens falsas? Essa hipótese mereceria atenção no futuro
desdobramento de pesquisas que considerem os aspectos religiosos na
disseminação da desinformação.
Caminhos da Desinformação

Referências
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83 Caminhos da Desinformação

Fonseca, A. B; Silva, L. J; Cordeiro, J. D. Esperando a verdade chegar:


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Zuboff, S. (2019). The Age of Surveillance Capitalism. New York:


PublicAffairs.
Caminhos da Desinformação

Apêndice:
Questionário
Questionário | Instituto NUTES de Educação em Ciências e Saúde
Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)

Prezada/o,
Pedimos sua colaboração respondendo as perguntas do
questionário abaixo. Elas fazem parte de uma pesquisa realizada
pela UFRJ sobre o uso do WhastApp.
Agradecemos a sua participação.

BLOCO 1 Inicialmente, gostaríamos de saber sobre a


sua experência com o uso do Whatsapp:

01. Como você avalia o tempo que você usou o WhatsApp na última semana?
( ) 1. Muito Pouco
( ) 2. Pouco
( ) 3. Moderado
( ) 4. Prolongado
( ) 5. Muito Prolongado
( ) 6. Não usei/Não sei
02. Ainda em relação ao tempo de uso do WhatsApp, você diria que está:
( ) 1. Satisfeito
( ) 2. Nem satisfeito, nem insatisfeito
( ) 3. Insatisfeito
( ) 4. Não sei
03. Quais são os principais motivos pelos quais você usa o WhatsApp
atualmente? (MÚLTIPLAS RESPOSTAS)
( ) 1. Profissional ou trabalho
( ) 2. Para não ficar desconectado/a
( ) 3. Porque todos usam
( ) 4. Relacionamentos afetivos, íntimos
( ) 5. Contato com pessoas que moram distante
( ) 6. Contato com familiares e amigos
( ) 7. Organizar evento social ou religioso
( ) 8. Para militância política ou social
( ) 9. Buscar promoções e sorteios
( ) 10. Me informar sobre assuntos gerais e notícias
( ) 11. Para passar tempo ocioso, entretenimento
( ) 12. Compartilhar opiniões
( ) 13. Não lembro/Não uso
( ) 14. Outro(s). Qual(is)?______________________________________
04. Em situações em que você enviou uma mensagem e percebeu que ela não foi
visualizada pelo destinatário, como geralmente se sente? (MÚLTIPLA ESCOLHA)
( ) 1. Inquieto/a ( ) 2. Ansioso/a
( ) 3. Tranquilo/a ( ) 4. Frustrado/a
( ) 5. Desprestigiado/a ( ) 6. Indiferente
05. Sobre sua participação em grupos de WhatsApp que reúnem pessoas da sua
religião (ex: grupos da Igreja; grupos de amigos; organizações; coletivos), você
diria que: (MÚLTIPLAS RESPOSTAS)
( ) 1. Não participo de grupos religiosos
( ) 2. É útil para estar informado sobre questões da comunidade religiosa
( ) 3. É útil para me manter informado sobre questões da atualidade
( ) 4. É útil para minha formação e prática religiosa
( ) 5. Não vejo utilidade
( ) 6. Participo e é útil por outro motivo. Qual? _____________________________
( ) 7. Não sabe / Não deseja responder
06. Com que frequência você encaminha informações ou notícias recebidas de
outros contatos ou grupos de WhatsApp?

( ) 1. Todos os dias ( ) 2. Algumas vezes ao longo da semana


( ) 3. Algumas vezes ao longo do mês ( ) 4. Raramente
( ) 5. Não encaminho notícias
07. Considerando a última semana, com qual frequência você enviou e/ou
compartilhou os seguintes itens no WhatsApp?

Itens Nunca Quase Às Com Quase Não


Nunca vezes frequência sempre sei
1. Links para conteúdos do
Facebook, Twitter, Youtube,
blogs, sites, etc
2. Mensagens de texto que
recebi no WhastApp
3. Capturas de tela
(Instagram, Twitter,
Facebook, blogs,
notícias e sites)
4. Fotos e vídeos que fiz
com meu celular
5. Vídeos que recebi
no WhatsApp
6. Imagens/memes que
recebi no WhatsApp
7. Áudios que recebi
no WhastApp

8. Outro(s) Qual(is)?
________________________

08. Qual é a sua principal fonte de notícias?

( ) 1. Rádio ( ) 2. TV ( ) 3. Internet via celular ( ) 4. Jornais impressos


( ) 5. Amigos/Família ( ) 6. Pastor/Irmãos(ãs) ( ) 7. Outras. Qual? ______
09. Qual é a fonte mais confiável de notícias?

( ) 1. Rádio ( ) 2. TV
( ) 3. Internet via celular ( ) 4. Jornais impressos
( ) 5. Amigos/Família ( ) 6. Pastor/Irmãos/ãs
( ) 7. Nenhuma ( ) 8. Outras. Qual? ______________________________
10. Quais dos seguintes motivos te levaram a excluir contatos, sair de um grupo
ou mesmo bloquear uma pessoa? (MÚLTIPLA RESPOSTA)

( ) 1. Envio de conteúdo relacionado à violência


( ) 2. Envio de notícias falsas (Fake News)
( ) 3. Envio de conteúdo relacionado à nudez/ pornografia
( ) 4. Desavenças ou discordância pessoais
( ) 5. Questões ligadas à religião ou religiosidade
( ) 6. Desconhecer o contato/grupo
( ) 7. Sem tempo ou sem paciência para acompanhar conversas ou discussões
( ) 8. Excesso de mensagens
( ) 9. Desinteresse ou fim da função do grupo ou da necessidade do contato
( ) 10. Questões ligadas à política
( ) 11. Nunca exclui ou bloquei pessoas, ou sai de um grupo
( ) 12. Não sei

BLOCO 2 Rapidamente, gostaríamos de saber um


pouco sobre o seu uso da Internet:

11. Por favor, indique a importância de cada aplicativo que você possui em seu celular.
Assinale “1” para aquele(s) que têm “pouca importância” e até “5” para aquele(s) que
têm “muita importância”. Marque “0” para aqueles que não utiliza ou não possui:

Aplicativos Não usa Pouca importância Muita importância

1. Bancos em geral (0) (1) (2) (3) (4) (5)


2. Bíblia (0) (1) (2) (3) (4) (5)
3. Facebook (0) (1) (2) (3) (4) (5)
4. Google (buscas) (0) (1) (2) (3) (4) (5)
5. Instagram (0) (1) (2) (3) (4) (5)
6. Jogos em geral (0) (1) (2) (3) (4) (5)
7. Skype (0) (1) (2) (3) (4) (5)
8. Twitter (0) (1) (2) (3) (4) (5)
9. WhatsApp (0) (1) (2) (3) (4) (5)
10. Youtube (0) (1) (2) (3) (4) (5)
11. Outro. Qual?
(0) (1) (2) (3) (4) (5)
____________
12. Indique para cada item abaixo o que melhor caracteriza a frequência de seu
uso nas redes sociais na última semana?

Quase Às Com Quase Não


Itens Nunca
nunca vezes frequência sempre sei

1. Ler mensagens e textos

2. Compartilhar conteúdos
(foto, áudio, texto, vídeo,
memes)

3. Criar e administrar
grupos ou páginas no
WhatsApp ou no Facebook

4. Postar e replicar
mensagens em diferentes
aplicativos (do Facebook
para o WhatsApp, de
um site para o Twitter e
outras combinações)
5. Produzir conteúdos
para mensagens e posts
(fotos, áudios, vídeos,
texto, memes, lives,
stories, etc)

BLOCO 3 Agora, gostaríamos de conhecer um


pouco como você lida com a informação:

13. O que te motiva a compartilhar um conteúdo pelo WhatsApp?


(MARQUE ATÉ 3 OPÇÕES)
( ) 1. O caráter curioso, humorístico ou inusitado da informação
( ) 2. O interesse público da informação para a sociedade
( ) 3. O interesse da informação para o destinatário específico
( ) 4. O alinhamento das informações às minhas próprias opiniões e convicções
( ) 5. O alinhamento das informações com as opiniões e convicções do destinatário
( ) 6. A discordância da informação com as minhas próprias opiniões e convicções
( ) 7. A discordância da informação com as opiniões e convicções do destinatário
( ) 8. A alta credibilidade ou confiança que tenho no autor e/ou na
fonte da informação
14. Já se pronunciou, ou alertou seus contatos, sobre algum conteúdo falso
enviado por você ou outra pessoa?
( ) 1. Sim, várias vezes ( ) 2. Sim, algumas vezes
( ) 3. Não, nunca ( ) 4. Não lembro
15. Em relação ao envio e recebimento de notícias falsas (Fake News), você diria
que: (MÚLTIPLAS RESPOSTAS)
( ) 1. Recebe de forma regular e de várias fontes
( ) 2. Geralmente recebe de uma mesma fonte, pessoa ou grupo
( ) 3. Raramente recebe
( ) 4. No período eleitoral foram muito mais recorrentes
( ) 5. Já enviou sem saber que era falsa
( ) 6. Já enviou sabendo que era falsa
( ) 7. Nunca enviou
( ) 8. Não sabe se já enviou ou se recebe
( ) 9. Não recebe
16. Entre os seus contatos, o que geralmente acontece quando identificam que
uma notícia falsa (Fake News) estava circulando em conversas ou grupos de
WhatsApp? (MÚLTIPLA RESPOSTA)
( ) 1. Alguém denuncia e a pessoa que enviou se desculpa
( ) 2. A própria pessoa que enviou identifica o equívoco e se desculpa
( ) 3. Não há retratação, há discussão e isso leva a que pessoas saiam do grupo
( ) 4. Há discussão séria e pessoas ficam ofendidas por causa do compartilhamento
de notícias falsas
( ) 5. Não sei
17. Quais são os temas mais recorrentes das notícias falsas (Fake News) que
você tem recebido? (MARQUE ATÉ TRÊS OPÇÕES)
( ) 1. Política ( ) 2. Religião ( ) 3. Educação ( ) 4. Segurança pública
( ) 5. Saúde ( ) 6. Economia ( ) 7. Não recebi ( ) 8. Não sei
( ) 9. Outro(s). Qual (is)? _________________________________________________
18. Você se lembra de já ter compartilhado uma notícia mesmo suspeitando que
o conteúdo era duvidoso? (MÚLTIPLAS RESPOSTAS)
( ) 1. Sim, pois concordava com a abordagem
( ) 2. Sim, pela relevância do tema e a necessidade dele ser conhecido
( ) 3. Sim, porque achei interessante e avisei que o conteúdo era duvidoso
( ) 4. Sim, pois após o encaminhamento seria possível verificar a veracidade
( ) 5. Não compartilho notícias quando tenho dúvidas em relação a veracidade
( ) 6. Não é uma questão que levo em consideração
( ) 7. Não lembro de ter compartilhado algo nestas circunstâncias
( ) 8. Não sei
19. Indique instrumentos que já utilizou para verificar a autenticidade de uma
notícia ou informação? (MÚLTIPLAS RESPOSTAS)
( ) 1. Sites de checagem de notícias
( ) 2. Veículos da grande imprensa
( ) 3. Busca por palavras-chave
( ) 4. Contato pessoal com conhecidos bem informados
( ) 5. Organizações ou coletivos na mídia
( ) 6. Páginas ou perfis de pessoas que sigo
( ) 7. Não costumo checar notícias
( ) 8. Outro(s). Qual (is)? __________________________
20. Você já recebeu notícias falsas (Fake News) nos grupos de igreja, grupos
ligados à religião ou formado por pessoas da mesma fé:

ei ( ) 1. Sim, várias vezes ( ) 2. Sim, algumas vezes ( ) 3. Não ( ) 4. Não sei

21. Se você já passou pela experiência de receber e compartilhar uma notícia e


depois descobrir que ela era falsa (Fake News), como você se sentiu?
(MARQUE ATÉ 3 OPÇÕES)

( ) 1. Angustiado/a ( ) 2. Enganado/a
( ) 3. Envergonhado/a ( ) 4. Frustrado/a
( ) 5. Impotente ( ) 6. Indiferente
( ) 7. Indignado/a ( ) 8. Irado/a
( ) 9. Irônico/a ( ) 10. Provocativo/a
( ) 11. Tolo/a ( ) 12. Vingado/a
( ) 13. Não lembro/Não vivi essa situação

BLOCO 4 Para terminar, precisamos saber algumas


informações sobre o seu perfil:

22. Em qual ano você nasceu? ____________________________________________

23. Qual é a sua ocupação/trabalho? ______________________________________

24. Em qual cidade você reside? __________________________________________

25. Em qual bairro você reside? ___________________________________________

26. Qual é a sua religião?

( ) 1. Católica ( ) 2. Não tenho religião


( ) 3. Espírita ( ) 4. Evangélica. Qual denominação: _______________
( ) 5. Matriz Africana ( ) 6. Outra. Qual? _______________________________

27. Nos últimos seis meses, com que frequência você foi à Igreja ou participou
de reuniões relacionadas à religião?

( ) 1. Mais de um dia na semana ( ) 2. Mensalmente


( ) 3. Semanalmente ( ) 4. Eventualmente

28. Possui atualmente algum ministério ou função de liderança na sua igreja?

( ) 1. Não ( ) 2. Sim. Qual? _____________________________________________

29. Como você sabe, muita gente quando pensa em política utiliza os termos
esquerda e direita. No quadro abaixo em qual posição política você se colocaria,
sendo que a posição “um” é o máximo à esquerda e a posição “sete” é o máximo
à direita?

esquerda direita
(1) (2) (3) (4) (5) (6) (7)
30. Com qual das seguintes três afirmações você concorda mais?
( ) 1. A democracia é preferível a qualquer outro tipo de governo.
( ) 2. Em certas situações, um governo autoritário pode ser preferível
a um democrático.
( ) 3. Para pessoas como eu, não importa se temos um governo democrático
ou não democrático.
31. Por favor indique se possui e a quantidade dos itens abaixo. Todos os itens
devem estar funcionando, incluindo os que estão guardados. Caso não estejam
funcionando, considere apenas se tiver intenção de consertar ou repor nos
próximos seis meses.

Quantidade que possui

Itens de conforto Não possui 1 2 3 4+


Quantidade de automóveis de passeio
exclusivamente para uso particular
Quantidade de empregados mensalistas,
considerando apenas os que trabalham pelo
menos cinco dias por semana
Quantidade de máquinas de lavar roupa,
excluindo tanquinho

Quantidade de banheiros

DVD, incluindo qualquer dispositivo que leia


DVD e desconsiderando DVD de automóvel

DVD de automóvel
Quantidade de geladeiras
Quantidade de freezers independentes ou
parte da geladeira duplex
Quantidade de microcomputadores,
considerando computadores de mesa,
laptops, notebooks e netbooks e
desconsiderando tablets, palms ou
smartphones
Quantidade de lavadora de louças

Quantidade de fornos de micro-ondas

Quantidade de motocicletas,
desconsiderando as usadas
exclusivamente para uso profissional
Quantidade de máquinas secadoras de
roupas, considerando lava e seca
32. A água utilizada em seu domicílio é proveniente de?

( ) 1. Rede de distribuição ( ) 2. Poço ou Nascente ( ) 3. Outro meio

33. Considerando o trecho da rua do seu domicílio, você diria que a rua é:

( ) 1. Asfaltada/ Pavimentada ( ) 2. Terra/ Cascalho

34. Qual é o grau de instrução do chefe da família? Considere como chefe da


família a pessoa que contribui com a maior parte da renda do domicílio.

( ) 1. Analfabeto / Fundamental I incompleto


( ) 2. Fundamental I completo/Fundamental II incompleto
( ) 3. Fundamental II completo / Médio incompleto
( ) 4. Médio completo/Superior incompleto
( ) 5. Superior completo

35. Qual é o seu gênero?

( ) 1. Feminino ( ) 2. Masculino ( ) 3. Prefiro não identificar

36. Qual é o seu Estado Civil?

( ) 1. Solteiro(a) ( ) 2. Desquitado(a)/Divorciado(a)
( ) 3. Viúvo(a) ( ) 4. Separado(a)
( ) 5. Casado(a)/Companheiro(a) ( ) 6. Prefiro não identificar

37. Qual é a sua Escolaridade?

( ) 1. Analfabeto / Fundamental I incompleto


( ) 2. Fundamental I completo/Fundamental II incompleto
( ) 3. Fundamental II completo / Médio incompleto
( ) 4. Médio completo/Superior incompleto
( ) 5. Superior completo

38. Qual é a sua cor/raça?

( ) 1. Branca ( ) 2. Preta ( ) 3. Indígena ( ) 4. Parda

( ) 5. Amarela ( ) 6. Prefiro não identificar

Obrigado! Sua contribuição é muito importante.


Caminhos da Desinformação

No contexto da pandemia de Covid-19 ficaram ainda mais


evidentes as ameaças para a democracia subjacentes
à disseminação de mentiras nas mídias digitais. Nesse
relatório são apresentados os resultados da parte
quantitativa da pesquisa “Valores e argumentos na
assimilação e propagação da desinformação: uma
abordagem dialógica”, desenvolvida pelo Grupo de Estudos
sobre Desigualdades na Educação e na Saúde (GEDES) do
Instituto Nutes de Educação em Ciências e Saúde (NUTES)
da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

O objetivo deste relatório é contribuir na busca de


respostas e ações que auxiliem no enfrentamento à
desinformação

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