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Doze Homens e uma Sentença

por REGINALD ROSE

A seguinte peça foi escrita para a televisão. Começa com uma lista de personagens, mas na televisão você não teria o
benefício dessa lista (embora, é claro, você pudesse dizer algo sobre cada personagem a partir de sua aparência na
tela). Imagine, então, na tela de sua mente a cena descrita no início: um tribunal, com a área, ou camarote, em
primeiro plano para os doze membros do júri. O tipo de homem que eles são ficará claro à medida que a peça se
desenrola. Uma sugestão, porém: preste atenção especial ao jurado NO. 8: E pode ser útil fixar em sua mente a
equação: 7 + 3 = 10. Para os jurados 7, 3 e 10 também desempenham papéis extremamente importantes.

PERSONAGENS
ESCRIVÃO: Um homem pequeno e mesquinho que está impressionado com a autoridade que possui e se
comporta de maneira bastante formal. Não muito brilhante, mas obstinado.

JURADO NO. 2: Um homem manso e hesitante que acha difícil manter qualquer opinião própria. Facilmente oscila e
geralmente adota a opinião da última pessoa com quem falou.

JURADO NO. 3: Um homem muito forte, muito enérgico e extremamente obstinado em quem pode ser detectado um
traço de sadismo. Ele é um homem sem humor, intolerante com outras opiniões que não as suas e está acostumado a
impor seus desejos e opiniões aos outros.

JURADO NO. 4: Parece ser um homem rico e de posição. Ele é um orador experiente que se apresenta bem em todos
os momentos. Ele parece se sentir um pouco acima do restante dos jurados. Sua única preocupação é com os fatos
neste caso, e ele está horrorizado com o comportamento dos outros.

JURADO NO. 5: Um jovem ingênuo, muito amedrontado, que leva muito a sério suas obrigações neste caso, mas
que acha difícil falar quando os mais velhos têm a palavra.

JURADO NO. 6: Um homem honesto, mas estúpido, que toma suas decisões lenta e cuidadosamente. Um
homem que tem dificuldade em criar opiniões positivas, mas que deve ouvir, digerir e aceitar as opiniões dos
outros que mais o atraem.

JURADO NO. 7: Um vendedor barulhento e de mãos espalhafatosas que tem coisas mais importantes a fazer do que
participar de um júri. Ele é rápido em mostrar temperamento, rápido em formar opiniões sobre coisas sobre as quais
nada sabe. É um valentão e, claro, um covarde.

JURADO NO. 8: Um homem calmo, atencioso e gentil. Um homem que vê todos os lados de cada questão e
busca constantemente a verdade. Um homem forte temperado com compaixão. Acima de tudo, ele é um homem
que deseja que a justiça seja feita e lutará para que seja.

JURADO NO. 9: Um velho gentil e gentil há muito derrotado pela vida e agora apenas esperando para morrer. Um
homem que se reconhece pelo que é e chora os dias em que teria sido possível ser corajoso sem se proteger de
tantos anos.

JURADO NO. 10 Um homem zangado e amargo. Ele é um homem que se antagoniza quase à vista. Um fanático que
não dá valor a nenhuma vida humana exceto a sua própria, um homem que não esteve em lugar nenhum e não vai a
lugar nenhum e sabe disso dentro de si.

JURADO NO. 11: Um refugiado da Europa que veio para este país em 1941. Um homem que fala com sotaque e que
se envergonha humilde, quase subserviente às pessoas ao seu redor, mas que buscará honestamente a justiça
porque sofreu com tantas injustiças.

JURADO NO. 12: Um publicitário astuto e brilhante que pensa nos seres humanos em termos de gráficos de
porcentagens e pesquisas e não tem uma compreensão real das pessoas. Ele é um esnobe superficial, mas tenta
ser um bom sujeito.
ATO 1

[Fade in em um júri. Doze homens estão sentados nela, ouvindo atentamente a voz do juiz enquanto ele os acusa. Não vemos o juiz.
Ele fala em tons lentos e medidos, e sua voz é grave. A câmera passa pelos rostos dos jurados enquanto o juiz fala, e vemos que a
maioria de suas cabeças está voltada para a esquerda da câmera. NO. 7 olha para suas mãos. NO. 3 olha em outra direção, a
direção em que o réu estaria sentado. NO. 10 continua movendo sua cabeça para frente e para trás nervosamente. O juiz continua
falando alto.]

JUIZ: Assassinato em primeiro grau - homicídio premeditado - é a acusação mais séria julgada em nossos tribunais criminais.
Vocês ouviram um caso longo e complexo, senhores, e agora é seu dever sentar-se para tentar separar os fatos da fantasia. Um
homem está morto. A vida de outro está em jogo. Se houver uma dúvida razoável em suas mentes quanto à culpa do acusado. . .
Então vocês deverão declará-lo inocente. Se, entretanto, não houver dúvida razoável, ele deverá ser considerado culpado. Seja qual
for a maneira que você decidir, o veredicto deverá ser unânime. Exijo a vocês que deliberem com honestidade e consideração.
Vocês se deparam com uma grande responsabilidade. Desde já agradeço aos senhores.

[Fade in, todos jogando conversa fora sobre qualquer coisa. NO. 8 está com a câmera ligada, mas está andando em círculos como se
estivesse pensando em algo]

NO. 7: ( para NO. 6). Que calor que está fazendo hein? Quase caí morto no tribunal aquele dia.

NO. 3: Seis dias. Eles deveriam ter terminado em dois. Falam, falam, falam. Você já alguém ouviu falar tanto sobre nada?

NO. 2: ( nervosamente rindo). Bem ... eu acho. . . eles têm direito.

NO. 3: Todos têm um julgamento justo. ( Ele balança a cabeça.) Esse é o sistema. Brasil né...

NO.7: Mas e ai? O que acharam da história da faca? Você já ouviu uma história mais falsa?

NO.10: ( sabiamente). Bem, olhe, você tem que esperar isso. Você sabe com o que está lidando.

NO.7: Sim, suponho. Qual é o problema, você está doente?

NO.10: ( sopro). Rinite. O clima quando fica assim seco é de matar.

[NO.7 acena com simpatia.]

ESCRIVÃO: ( vivamente). Muito bem, senhores. Vamos começar?

NO.7: Certo. É melhor que seja rápido. Comprei ingressos pro Fantasma da Opera hoje a noite. Devo ser o único cara em todo o
mundo que ainda não viu. (Ele ri) Ok, que comece o show.

ESCRIVÃO: ( para NO. 8). Vamos só esperar um minutinho que parece que tem alguém faltando.
[NO 8 olha para a câmera.

ESCRIVÃO: Podemos começar?

NO. 8: Opa, perdão. [ Ele se dirige para um assento.]


NO.10: ( para NO. 6). É difícil imaginar, não é? Um filha que mata o pai. Bang! Bem desse jeito. Bom, esse é o ponto. Eles
deixaram as crianças correrem soltas. Talvez sirva pra eles aprenderem.

ESCRIVÃO: Muito bem. Agora, senhores, vocês podem lidar com isso da maneira que quiserem. Quer dizer, eu não vou fazer
nenhuma regra. Se quiserem podemos discutir primeiro e depois votar, essa é uma maneira. Ou podemos votar agora para ver como
estamos e caso precise discutimos. Deixando claro que a decisão precisa ser unanime. Não é voto de maioria, é decisão unanime.

NO.7: Vamos votar agora. Quem sabe, já não resolvemos isso de uma vez.

NO. 10: Isso. Vamos ver como estamos.

NO. 3: Beleza. Vamos votar então.

ESCRIVÃO: Alguém não quer votar? (Não há resposta.) Ok, todos que acham que o garoto é culpado levantem suas mãos.

[3, 7, 10 e 12 levantam as mãos imediatamente. Escrivão, 2, 4, 5 e 6 levantam em seguida. NO. 7 ergue mais lentamente.
NO. 9 é o ultimo a levantar a mão enquanto o Escrivão conta.]

ESCRIVÃO: Nove ... dez ... onze ... Isso é onze para culpado. OK. Inocente? ( NO. 8 ' a mão está levantada.) Um. Certo. OK.
Onze culpado para um inocente. Agora sabemos onde estamos.

NO. 3: ( sarcasticamente) Sempre tem um não é? ( Para NO. 8) E aí? Você acha que ele não é culpado?

NO. 8: ( silenciosamente). Eu não sei.

NO. 10: Todo mundo viu a cara de bandido!

NO. 8: Como assim “cara de bandido”?

NO. 3: Você estava lá. Você sentou no tribunal e viu a mesma coisa que eu.

NO. 10: Não, não vi. Me explica melhor quais são as características físicas que fazem de alguém um bandido. De repente você
sabe de alguma coisa que eu não sei.

NO. 3: O homem é um assassino perigoso!

NO. 8: Homem? Ele tem dezoito anos.

NO. 3: Isso é velho o suficiente. Ele esfaqueou o próprio pai, dez centímetros no peito. Não, não é “só um garoto inocente” de
dezoito anos. Eles provaram isso de uma dúzia de maneiras diferentes. Você quer que eu os liste?

NO. 8: Não.

NO. 10: ( para NO. 8). Bem, você acredita na história dele?

NO. 8: Não sei se acredito ou não. Talvez eu não saiba.


NO. 7: Então, porque você votou inocente?

NO. 8: Houve onze votos para culpados. Não é tão fácil para mim levantar a mão e mandar um menino morrer sem nem
discutir sobre isso primeiro.

NO. 7: Quem disse que é fácil para mim?

NO. 8: Ninguém.

NO. 7: Você acha que eu sou idiota? Só porque votei rápido? Eu tenho certeza que o cara é culpado. Você não poderia mudar minha
mente se falasse por cem anos.

NO. 8: Eu não quero mudar sua mente. Eu só quero conversar um pouco. Olha, esse menino apanhou a vida toda. Sabe, cresceu em
uma favela, a mãe morreu quando ele tinha nove anos. Isso não é um bom começo. Ele é um garoto durão... Revoltado. Você sabe
por que as crianças da favela ficam assim? Porque nós batemos na cabeça deles uma vez por dia, todos os dias. Acho que devemos
algumas palavras a ele. Isso é tudo.

[Alguns não conseguem olhar para ele. Somente NO. 9 acena lentamente. NO. 12 rabisca de forma constante. NO.
4 começa a pentear o cabelo olhando para a camera.]

NO. 10: Olha, não me importo de te dizer isso, senhor. Não devemos nada a ele. Ele teve um julgamento justo, não foi? Você sabe
quanto custou esse julgamento? E ele tem sorte de ter conseguido um. Em outros países ele não teria. Olha, todo mundo é adulto aqui.
Você não vai nos dizer que devemos acreditar nele, sabendo o que ele é. Vivi entre eles a minha vida toda. Você não pode acreditar
em uma palavra que eles dizem. Eles já nascem mentirosos. Todo mundo aqui sabe disso.

NO. 9: ( para NO. 10 muito devagar). Eu não sei disso não. Que coisa terrível para um homem acreditar! Desde quando a
desonestidade é uma característica de algum, grupo? Você não é o da verdade.

NO. 3 { interrompendo) Tudo certo. Não é domingo. Não precisamos de um sermão. Vamos continuar.

NO. 9: O que este homem diz é muito perigoso.

ESCRIVÃO: Senhores. Vamos nos acalmar.

NO.4: Não vejo necessidade de discutir assim. Acho que devemos ser capazes de nos comportar como adultos.

NO.7: Por favor!

NO. 4: Se vamos discutir este caso, vamos discutir os fatos.

ESCRIVÃO: Acho que é um bom ponto. Temos um trabalho a fazer. Vamos fazer isso.

NO. 12: Posso dar uma ideia aqui? Estou só pensando em voz alta, mas me parece que cabe a nós convencer este cavalheiro
(indicando NO. 8) que estamos certos e ele errado. Talvez se cada um de nós levar um ou dois minutos pra dizer o que pensa...

ESCRIVÃO: Isso parece bastante justo.

NO. 7: Ok, vamos começar.

ESCRIVÃO: Certo ( Para NO. 2) Eu acho que você [indica por características físicas] pode ir primeiro.

NO.2: ( timidamente). Oh. Bem . . . ( Longa pausa) Eu só acho que ele é culpado. Eu
pensei que era óbvio. Quero dizer, ninguém provou o contrário.
NO. 8: ( silenciosamente). Ninguém precisa provar o contrário. O ónus da prova é da acusação. O réu não precisa nem abrir
a boca. Isso está na Constituição. Nunca ouviu falar disso?

NO. 2: ( confuso). Bem, claro, já ouvi falar. Eu sei o que é isso. Eu . . . o que eu
quis dizer . . . Bem, de qualquer maneira, acho que ele é culpado.

N ° 3: Ok, vamos aos fatos. Número um, vamos pegar o velho que morava no segundo andar, logo abaixo do quarto onde o
assassinato ocorreu. Dez minutos depois do meio-dia da noite do crime, ele ouviu barulhos no apartamento de cima. Ele disse que
parecia uma luta. Então ele ouviu o garoto dizer ao pai: "Eu vou te matar!" Um segundo depois, ele ouviu um corpo caindo e correu
para a porta de seu apartamento, olhou para fora e viu o garoto correndo escada abaixo e saindo de casa. Em seguida, chamou a
polícia. Eles encontraram o pai com uma faca enfiada seu peito.

ESCRIVÃO: E o legista fixou a hora da morte por volta da meia-noite.

N ° 3: Certo. Agora, o que mais você quer?

NO. 4: Toda a história do menino é frágil. Ele alegou que estava no cinema. Isso é um pouco ridículo, não é? Ele nem conseguia se
lembrar do filme que viu.

NO. 3: Está certo. Você ouviu isso? Absolutamente correto.

NO. 10: Sem contar a mulher do outro lado da rua. Se o testemunho dela não prova, então nada prova.

NO. 12: Está certo. Ela viu o assassinato, não viu?

ESCRIVÃO: Vamos em ordem. Por favor.

NO. 10: ( alto). Só um minuto. Aqui está a história: uma mulher que está deitada na cama e não consegue dormir. Está quente,
sabe. De qualquer forma, ela olha pela janela e do outro lado da rua vê o garoto enfiar a faca no pai. Ela conhece o garoto a vida
inteira. A janela dele fica bem em frente à dela, do outro lado dos trilhos elétricos, e ela jurou que o viu fazer isso.

NO. 8: Através das janelas de um trem elevado que passava.

NO. 10: Sim. E eles provaram no tribunal que você pode olhar pelas janelas de um trem à noite e ver o que está acontecendo do
outro lado. Eles provaram isso.

NO. 8: Eu gostaria de te perguntar uma coisa. Por que você acreditou nela?

NO. 10: Como assim?

NO. 8: Ela também é um "deles", não é? Daqueles que “já nascem mentirosos”.

NO. 10: (sarcasticamente) Você se acha esperto não é?

ESCRIVÃO: (Interrompe) Por favor, vamos manter a calma. Deixa eu ver... Você [características físicas do NO. 5], é a sua vez.

NO. 5: Eu vou passar.

ESCRIVÃO: Esse é um direito seu. (Para NO. 6) E quanto a você [características físicas]?

NÚMERO 6: ( lentamente). Eu não sei. Comecei a ficar convencido, você sabe, com o testemunho daquelas pessoas do outro lado do
corredor. Não falaram algo sobre uma discussão entre o pai e o menino por volta das sete da noite? Quer dizer, posso estar errado.
NO.11: Acho que eram oito horas. Não sete.

NO. 8: Está certo. Oito horas. Eles ouviram o pai bater no menino duas vezes e depois o viram sair de casa com raiva. Mas o que isso
prova?

NO. 6: Bem, isso não prova nada exatamente. É apenas parte da imagem. Eu não disse que provava nada.

ESCRIVÃO: Algo mais?

NO. 6: Não.

ESCRIVÃO: Tudo certo. E quanto a você [características físicas do NO. 7]?

NO.7: Não sei, a maior parte já foi dita. Podemos conversar o dia todo sobre isso, mas acho que estamos perdendo tempo. Veja
o registro do garoto. Aos quinze anos ele estava no reformatório. Ele roubou um carro. Ele foi preso por assalto. Ele foi pego
por luta com faca. Acho que até disseram que ele esfaqueou alguém no braço... Este é um menino mesmo “muito bom”.

NO. 8: Desde os cinco anos de idade, o pai batia nele regularmente. Ele usava os punhos.

NO.7: Eu também acho! Uma criança assim...

NO. 3: Você está certo. São as crianças. Do jeito que eles são - sabe? Eles não ouvem. ( Amargo) Eu tenho um filho. Quando ele tinha
oito anos, ele fugiu de uma luta. Eu vi isso. Eu fiquei com tanta vergonha que disse a ele sem rodeios: "Vou fazer de você um homem
ou vou te quebrar em pedacinhos tentando". E eu fiz. Quando ele tinha quinze anos, ele me bateu no rosto. Ele é grande, você sabe.
Não o vejo há três anos. Garoto podre! Você trabalha seu coração... (Pausa) Tudo bem, vamos em frente. [Desvia o olhar
envergonhado.]

NO. 4: Estamos perdendo o ponto aqui. Esse menino - digamos que ele seja produto de uma vizinhança imunda e de um lar
desfeito. Não podemos evitar isso. Não estamos aqui para investigar as razões pelas quais as favelas são criadouros de
criminosos, mas eles são. Eu sei disso. Vocês também. As crianças que vivem em favelas são ameaças potenciais à sociedade.

NO. 10: Concordo. Eu não ia querer muito tempo por lá e acho que ninguém aqui. Até o cheiro dessa gente é diferente.

[Há um silêncio mortal por um momento, e então NO. 5 fala com dificuldade.]

NO. 5: Eu morei em uma favela toda minha vida.

NO. 10: Como assim?

NO. 5: Eu costumava brincar em um quintal que estava cheio de lixo. Talvez ainda cheire em mim, então?

ESCRIVÃO: Senhores, Por favor, sejamos razoáveis. Não tem nada pessoal.

[ NO. 5 levanta-se.]

NO. 5: Tem sim! Tem coisa pessoal sim! [Então ele se recupera e vendo todos olhando para ele, senta-se com os punhos cerrados.]

NO. 3: ( persuasivamente). Calma. Ele não quis dizer você, cara. Não precisamos ser tão sensíveis assim.

[Há uma longa pausa.]

NO. 11: Eu posso entender essa sensibilidade.


ESCRIVÃO: Agora vamos parar com as brigas. Estamos perdendo tempo. (Para NO. 8) É sua vez [características físicas].

NO. 8: Bom, vamos lá. Tive um sentimento peculiar sobre este julgamento. De alguma forma, eu senti que o advogado de
defesa nunca conduziu um interrogatório completo. Quer dizer, ele foi nomeado pelo tribunal para defender o menino. Ele
dificilmente parecia interessado. Muitas perguntas não foram feitas.

NO. 3 ( irritado). E quanto as perguntas que foram feitas? Por exemplo, vamos falar sobre aquele canivete bonitinho. Você sabe,
aquele que o “garoto bom e correto” admitiu ter comprado.

NO. 8: Certo. Vamos conversar a respeito disso. Eu gostaria de ver novamente nas imagens da faca, Sr. Escrivão. Podemos?

NO. 3: Todos nós sabemos o que parece. Não vejo por que temos que olhar novamente.

ESCRIVÃO: O cavalheiro tem o direito de ver as provas em evidência.

NO. 3: ( encolhendo os ombros). Tudo bem então, mas não vejo o porquê.

NO. 4: ( para NO. 8). Esta faca é uma prova muito forte, não concorda?

NO. 8: Eu acho.
[Escrivão então compartilha sua tela, mostrando o desenho da faca]

NO. 4: O menino admite ter saído de casa às oito horas após levar um tapa do pai.

NO. 8: Um soco.

NO. 4: Ou um soco. Ele foi a uma loja de bairro e comprou um canivete. O lojista foi detido no dia seguinte e admitiu que o
vendeu ao menino.

NO. 3: É uma faca muito incomum. O lojista o identificou e disse que era o único do tipo que tinha em estoque. Por que o
menino a queria?

NO. 7: (Sarcasticamente) Como um presente para um amigo seu, diz ele.

NO. 4: Estou certo até agora?

NO. 8: Certo.

NO. 3: Você aposta que ele está certo. ( Para todos) Agora ouça este homem hein? Ele sabe do que está falando.

NO. 4: Em seguida, o menino afirma que no caminho para casa a faca deve ter caído por um buraco no bolso do casaco e que ele
nunca mais a viu. Aí vem a história que todos conhecemos. O menino levou a faca para casa e poucas horas depois esfaqueou o pai
com ela e até se lembrou de limpar as impressões digitais.

NO. 4: Todos ligados ao caso identificaram esta faca. Agora você está tentando me dizer que alguém o pegou na rua, foi até a
casa do menino e esfaqueou o pai dele só para divertir?

NO. 8: Não, estou dizendo que é possível que o menino tenha perdido a faca e que outra pessoa esfaqueou o pai com uma faca
semelhante. É possível.

NO. 4: Dê uma olhada nessa faca. É uma faca muito estranha. Nunca vi uma igual antes em minha vida e nem o lojista que o vendeu
para ele disse que tinha visto.
[ NO. 8 acena com a cabeça como se concordasse ironicamente]

NO. 4: Você não está tentando nos fazer aceitar que tudo foi uma coincidência incrível?

NO. 8: Não estou tentando fazer ninguém aceitar isso. Só estou dizendo que é possível.

NO. 3: ( gritando). E estou dizendo que não é possível.

[ NO. 8 mostra uma faca exatamente igual em sua mão. Há vários suspiros e todos olham para a faca. Há um longo silêncio.]

NO. 3: ( lentamente surpreso) O que você está tentando fazer?

NO. 10: ( alto) Sim, o que é isso? Quem você pensa que é?

NO. 5: Olha só! É a mesma faca!

[Todos fazem comentários ao mesmo tempo]

ESCRIVÃO: Quietos! Vamos ficar quietos.

[Eles se acalmam.]

NO. 4: Onde você conseguiu isso?

NO. 8: Comprei ontem à noite em uma lojinha penhores perto da casa do garoto. Custou dois quinze reais.

NO. 3: Agora me escute! Você puxou um truque muito inteligente aqui, mas provou ser absolutamente zero. Talvez existam dez
facas assim, e daí?

NO. 8: Talvez existam.

NO. 3: O menino mentiu e você sabe disso.

NO. 8: Ele pode ter mentido. (Para NO. 10) Você [características físicas] acha que ele mentiu?

NO. 10: (violentamente). Essa é uma pergunta estúpida. Claro que ele mentiu!

NO. 8: ( para NO. 4). Você [características físicas]?

NO. 4: Você não tem que me perguntar isso. Você sabe minha resposta. Ele mentiu.

NO. 8: ( para NO. 5). Você acha que ele mentiu [características físicas]?

[ NO. 5 não pode responder imediatamente. Ele olha em volta nervoso.]

NO. 5: Eu ... eu não sei.

NO. 7: Agora espere um segundo. O que é você pensa que é? O advogado do cara? Ouça, ainda há onze de nós que pensam que
ele é culpado. Você está sozinho. O que você acha que vai conseguir? Se você quiser ser teimoso e enrolar esse júri, ele será
julgado novamente e considerado culpado desde que nasceu.
NO. 8: Você provavelmente está certo.

NO. 7: Então, o que você vai fazer a respeito? Podemos ficar aqui a noite toda.

NO. 9: Ém apenas uma noite. Um homem pode morrer.

[Então, de repente, todos começam a falar ao mesmo tempo.]

NO. 3: Então, de quem é a culpa?

NO. 6: Você acha que talvez se repassássemos de novo? O que eu quero dizer é...

NO. 10: Alguém o forçou a matar seu pai? ( Para NO. 3) Como você gosta dele? Como se alguém o tivesse forçado!

NO. 11: Talvez não seja esse o ponto.

NO. 5: Ninguém forçou ninguém. Mas ouça.

NO. 12: Olha, cavalheiros, podemos cuspir a noite toda aqui.

NO. 2: Bem, eu ia dizer ...

NO. 7: Só um minuto. Alguns de nós têm coisas melhores a fazer do que sentar em uma sala de júri.

NO. 4: Não consigo entender uma palavra aqui. Por que todos nós temos que falar ao mesmo tempo?

ESCRIVÃO: Ele tem razão. Acho que devemos ir em frente.

[ NO. 8 tem ouvido esta troca de perto.]

NO. 3: ( para NO. 8). Bem, o que você diria? Você é quem está segurando o show.

NO. 8: ( em pé). Tenho uma proposta a fazer.

NO. 8: Eu quero pedir uma votação. Quero onze homens votando por voto secreto. Vou me abster. Se ainda houver onze
votos para culpados, não estarei sozinho. Receberemos um veredicto de culpado agora mesmo.

NO. 7: OK. Vamos fazer isso.

ESCRIVÃO: Isso parece justo. Todos estão de acordo?

[Todos eles acenam com a cabeça]

ESCRIVÃO: Então vamos prosseguir. Peço a todos que me enviem seus votos por mensagem privada, por favor.
ATO 2

ESCRIVÃO: Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado. Culpado.
(Ele faz uma pausa na décima cédula e então lê.] Inocente. (NO. 3 bate com força na mesa. O Escrivão abre a última votação.)
Culpado.

NO. 10: (Bravo). Puta que me pariu!

NO. 7: Quem foi? Acho que temos o direito de saber.

NO. 11: Desculpe. Esta foi uma votação secreta. Nós concordamos nesse ponto, não? Se o cavalheiro quiser que continue em
segredo...

NO. 3 ( levantando-se com raiva). O que você quer dizer? Não há segredos aqui! Eu sei quem foi. Foi o rapaz ali [características
físicas] Qual o problema com você? Você chega aqui e vota como culpado e então este cara começa falar e a rasgar seu coração com
histórias sobre uma “pobre criança que simplesmente não conseguia evitar se tornar um assassino”. Então você muda seu voto. Se isso
não é o mais repugnante...

[ NO. 5 encara NO. 3, assustado com esta explosão.]

ESCRIVÃO: Agora espere.

NO. 3: Esperar? Estamos tentando colocar um homem culpado no lugar dele - e de repente estamos prestando atenção no
contos de fadas.

NO. 5: Agora só um minuto ....

NO. 11: Por favor. Eu gostaria de dizer algo aqui. Sempre pensei que um homem tinha o direito de ter opiniões, por mais impopulares
que sejam neste país. Esta é a razão pela qual vim aqui. Eu queria ter o direito de discordar. Na minha época não tinha, no meu
próprio país e tenho vergonha de dizer isso.

NO. 10: O que temos que ouvir agora - toda a história do seu país?

NO. 7: Sim, vamos nos concentrar no assunto. (Para NO. 5) Quero perguntar o que o fez mudar seu voto.

[Há uma longa pausa enquanto NO. 7 e NO. 5 olham um para o outro com raiva.]

NO. 9: ( silenciosamente). Não há nada para ele lhe dizer. Ele não mudou seu voto. Eu fiz.
(Há uma pausa.) Talvez vocês queiram saber por quê.

NO. 3: Não, não gostaríamos de saber por quê.

ESCRIVÃO: O homem quer conversar.

NO. 9: Obrigado. Este senhor [características físicas] escolheu ficar sozinho contra nós. É seu direito. É preciso muita coragem para
ficar sozinho, mesmo que você acredite em algo muito fortemente. E ele deixou o veredicto para nós. Ele apostou por apoio e eu dei a
ele. eu quero ouvir mais. A votação é de dez a dois.

NO. 10: Isso é bom. Legal. Se o palestrinha já acabou, vamos em frente.

NO. 3 ( para NO. 5): Olha, antes de tudo, eu queria falar que eu me exaltei um pouco. Bem, vocês sabem como é. EU . . . Eu não
queria ser desagradável, ok? Nada pessoal.
NO. 7: ( para NO. 8). Olha, suponho que vocês me respondam isso. Se o garoto não o matou, quem o matou?

NO. 8: Pelo que eu sei, devemos decidir se o menino em julgamento é culpado ou não. Não estamos preocupados com os motivos de
ninguém aqui.

NO. 9: Culpado apenas se não houver qualquer dúvida razoável. É importante lembrar isso.

NO. 3: ( para NO. 10). Todo mundo é advogado agora. Então suponho que você explique quais são suas dúvidas razoáveis.

NO. 9: Isso não é fácil. Até agora, é apenas um sentimento que tenho, um sentimento. Talvez você não entenda.

NO. 10: Um sentimento? O que vamos fazer? Passar a noite falando sobre seus sentimentos? E quanto aos fatos?

NO. 3: Você disse um bocado. Olha, o velho ouviu o garoto gritar: "Eu vou te matar." Um segundo depois, ele ouviu o corpo do pai
caindo e ele viu o menino correndo para fora de casa quinze segundos depois.

NO. 12: Está certo. E não vamos esquecer a mulher do outro lado da rua. Ela olhou pela janela aberta e viu o menino esfaquear o pai.
Ela viu. Agora, se isso não for suficiente para você ...

NO. 8: Não é o suficiente para mim.

NO. 7: Pelo amor de Deus! É como falar com uma parede!

NO. 4: A mulher viu a matança pelas janelas de um trem elevado em movimento. O trem tinha cinco vagões e ela o viu pelas
janelas dos dois últimos. Ela se lembra dos detalhes mais insignificantes.

NO. 3: Bem, o que você tem a dizer sobre isso?

NO. 8: Eu não sei. Não parece certo para mim.

NO. 3: Bem, supondo que você pense sobre isso.

NO. 8: ( Difícil). Isso não é um jogo.

NO. 3: ( Bravo). Quem você pensa que é?

NO. 7: ( Aumentar). Tudo bem, vamos com calma.


[NO. 8 começa a rabiscar num papel o desenho de um trem]

NO. 3: Queria ver se você estivesse aqui! Minha vontade é de te acertar uma no meio da cara!

ESCRIVÃO: Ei! Eu não quero nenhuma briga aqui.

NO. 3: Você viu ele? O nervo! O nervo absoluto!

NO. 6: Esquece. Isso não foi nada.

NO. 3: Este não é um jogo. Quem ele pensa que é?


NO. 8: ( para NO. 4). Dê uma olhada nesse esboço. Quanto tempo leva um trem elevado em alta velocidade para passar em um
determinado ponto?

NO. 4: O que isso tem a ver com alguma coisa?

NO. 8: Mais ou menos? Acho.

NO. 4: Eu não teria a menor ideia.

NO. 5: Cerca de dez ou doze segundos, talvez.

NO. 8: Eu diria que foi um palpite justo. Alguém mais?

NO. 11: Eu pensaria em cerca de dez segundos, talvez.

NO. 2: Cerca de dez segundos.

NO. 4: Tudo certo. Diga dez segundos. O que você quer chegar?

NO. 8: Este. Um trem ultrapassa um determinado ponto em dez segundos. Esse determinado ponto é a janela da sala em que ocorreu o
crime. Você quase pode estender a mão para fora da janela daquela sala e tocar o vagão. Certo?
(Vários deles concordam.) Tudo certo. Agora, deixe-me perguntar isso. Alguém aqui já morou ao lado dos trilhos do trem? Eu já.
Quando sua janela está aberta e o trem passa, o barulho é quase insuportável. Você não consegue se ouvir pensando.

NO. 10: OK. Você não consegue se ouvir pensando. Você vai chegar no ponto?

NO. 8: O velho ouviu o menino dizer: "Vou matar você" e, um segundo depois, ouviu um corpo cair. Um segundo. Esse é o
testemunho, certo?

NO. 2: Certo.

NO. 8: A mulher do outro lado da rua olhou pelas janelas dos dois últimos vagões do trem e viu o corpo cair. Certo? Os últimos
dois vagões.

NO. 10: O que você está nos dando aqui?

NO. 8: Um trem leva dez segundos para ultrapassar um determinado ponto ou dois segundos por carro. Aquele trem estava passando
pela janela do velho por pelo menos seis segundos e talvez mais, antes de o corpo cair, segundo a mulher. O velho teria de ouvir o
menino dizer: "Vou matar você", enquanto a frente do trem estava rugindo perto de seu nariz. Não é possível que ele pudesse ter
ouvido.

NO. 3: O que você quer dizer! Claro que ele poderia ter ouvido.

NO. 8: Poderia?

NO. 3: Ele disse que o menino gritou. Isso é o suficiente para mim.

NO. 9: Eu não acho que ele poderia ter ouvido isso.

NO. 2: Talvez ele não tenha ouvido. Quero dizer com o barulho do trem...

NO. 3: Sobre o que vocês estão falando? Você está chamando o velho de mentiroso?
NO. 5: Bem, é lógico.

NO. 3: Você é louco. Por que ele mentiria? O que ele tem a ganhar?

NO. 9: Atenção, talvez.

NO. 3: Você continua dizendo essas palavras brilhantes. Por que você não manda um para um jornal? Eles pagam dois dólares.

NO. 8: (duro) Por que o velho pode ter mentido? Você tem o direito de ser ouvido.

NO. 9: É que olhei para ele por muito tempo. A costura de sua jaqueta estava rasgada debaixo do braço. Você percebeu isso? Ele era
um homem muito velho com uma jaqueta rasgada e carregava duas muletas. Acho que o conheço melhor do que ninguém aqui. Este é
um homem quieto, amedrontado e insignificante que não foi nada durante toda a vida, que nunca teve reconhecimento - seu nome nos
jornais. Ninguém o conhece depois de setenta e cinco anos. Isso é muito triste. Um homem assim precisa ser reconhecido. Para ser
questionado, ouvido e citado apenas uma vez. Isto é muito importante.

NO. 12: E você está tentando nos dizer que ele mentiu sobre uma coisa dessas só para ser importante?

NO. 9: Não. Ele realmente não mentiria. Mas talvez ele se fizesse acreditar que ouviu essas palavras e reconheceu o rosto do menino.

NO. 3: ( alto). Bem, essa é a história mais fantástica que já ouvi. Como você pode inventar uma coisa dessas? O que você
sabe sobre isso?

NO. 9: ( baixo). Falo por experiência própria.

ESCRIVÃO: ( para NO. 8) Tudo bem, há mais alguma coisa?

NO. 8: Há algo mais que gostaria de apontar aqui. Acho que provamos que o velho não poderia ter ouvido o menino dizer: "Vou
matar você", mas suponha que ele realmente tenha ouvido? Esta frase: quantas vezes cada um de vocês a usou? Provavelmente
centenas. "Se você fizer isso mais uma vez, Junior, vou matar você." "Vamos, Rocky, mate-o!" Dizemos isso todos os dias. Isso não
significa que de fato vamos matar alguém.

NO. 3: Espere um minuto. A frase era "Eu vou te matar", e o garoto gritou a plenos pulmões. Não tente me dizer que ele não quis
dizer isso. Qualquer pessoa diz uma coisa dessas do jeito que ele disse - é o que está sendo dito.

NO. 10: E como eles querem dizer isso!

NO. 8: Bem, deixe-me te perguntar isso. Você realmente acha que o menino gritaria uma coisa dessas para que toda a
vizinhança ouvisse? Acho que não. Ele é muito inteligente para isso.

NO. 10: (explodindo). Brilhante! Ele é um ignorante, sem estudo! Nem o português dele não passa desapercebido!

NO. 11: (lentamente). Despercebido. Não passa despercebido.

[há silêncio por um momento. Então NÚMERO 6 olha em volta da mesa nervosamente.]

16
NÚMERO 5: Eu gostaria de mudar meu voto para inocente.

[ NO. 3 fica visivelmente nervoso]

ESCRIVÃO: Você tem certeza?

NO. 5 Sim. Tenho certeza.

ESCRIVÃO: A votação é de nove a três a favor de culpar.

NO.7: No que você está se baseando? Histórias desse cara?! Ele deveria virar roteirista da Netflix. Ia ficar rico! O garoto tinha
advogado, não tinha? Por que seu advogado não mencionou todos esses pontos?

NÚMERO 5: Os advogados não conseguem pensar em tudo.

NO.7: Oh irmão! (Para NO. 8) Numa boa, você se senta aqui e tira histórias do nada. Agora, a gente tem que acreditar que o velho
não se levantou da cama, correu até a porta e viu o garoto bater lá embaixo quinze segundos após o assassinato e que ele só está
dizendo que fez para ser importante?

NO. 8: O velho disse que correu para a porta?

NO. 7: Correu. Caminhou. Qual é a diferença? Ele chegou lá.

NO. 5: Não me lembro do que ele disse. Mas não vejo como ele poderia fugir.

NO. 4: Ele disse que saiu de seu quarto para a porta da frente. Isso é o suficiente, não é?

NO. 8: Onde estava seu quarto novamente?

NO.10: Em algum lugar no corredor. Achei que você se lembrava de tudo. Você não se lembra disso?

NO. 8: Não. Sr. Escrivão, gostaria de dar uma olhada no diagrama do apartamento.

NO. 7: Por que não pedimos para que façam o teste apenas para que você possa esclarecer tudo?

NO. 8: Sr. Escrivão ....

ESCRIVÃO: (Aumentar). Eu te ouvi.

NO. 3: Tudo certo. Para que serve isso? Como é que você é o único na sala que quer ver exposições o tempo todo?

NO. 5: Eu quero ver este também.

NO. 3: E eu quero parar de perder tempo.

NO. 4: Se vamos começar a vasculhar toda aquela bobagem sobre onde o corpo foi encontrado...

NO. 8: Vamos descobrir como um homem que teve dois derrames nos últimos três anos e que anda com um par de muletas pode
chegar à sua porta em quinze segundos.

NO. 3: Ele disse vinte segundos.


NO. 2: Ele disse quinze.

NO. 3: Como ele sabe quanto tempo quinze segundos são? Você não pode julgar esse tipo de coisa.

NO. 9: Ele disse quinze. Ele foi muito positivo sobre isso.

NO. 3: (Bravo). Ele é um velho. Você viu ele. Na metade do tempo ele estava confuso. Como ele poderia ter certeza sobre alguma
coisa?

[O Escrivão compartilha a tela e mostra o diagrama]

GUARDA: É isso que você queria?

ESCRIVÃO: Está certo. Obrigado.

NO. 8: Posso?

[NO. 3, NO. 10, e NO. 7, no entanto, mal se preocupa em olhar para o diagrama.]

NO. 7: Alguém me acorde quando isso acabar.

NO. 8: ( ignorando-o). Tudo certo. Este é o apartamento em que ocorreu o assassinato. O apartamento do velho fica logo abaixo e
é exatamente igual. (Apontando) Aqui á a ferrovia. O quarto. Outro quarto. Sala de estar. Banheiro. Cozinha. E este é o corredor.
Aqui está a porta da frente do apartamento. E aqui estão as etapas. (Apontando para o quarto da frente e depois para a porta da
frente) Agora, o velho estava na cama neste quarto. Ele diz que se levantou, saiu para o corredor, desceu o corredor até a porta da
frente, abriu e olhou para fora bem a tempo de ver o menino correndo escada abaixo. Estou certo?

NO. 3: Essa é a história.

NO. 8: Quinze segundos depois de ouvir o corpo cair.

NO. 11: Com certeza.

NO. 8: Sua cama estava na janela. Está ( olhando mais de perto) 3,6 metros de sua cama até a porta do quarto. O comprimento do
corredor é de quarenta e três pés e seis polegadas. Ele teve que se levantar da cama, pegar suas muletas, andar quatro metros, abrir a
porta do quarto, andar quarenta e três metros e abrir a porta da frente - tudo em quinze segundos. Você acha que isso é possível?

NO. 10: Você sabe que é possível.

NO. 11: Ele só pode andar muito devagar. Eles tiveram que ajudá-lo a sentar-se na cadeira das testemunhas.

NO. 3: Você faz parecer uma longa caminhada. Não é.

NO. 9: Para um velho que usa muletas, é uma longa caminhada.


[NO. 8 muda o posicionamento da sua câmera e começa a ajustar alguns móveis]

NO. 8: Eu quero tentar isso. Vamos ver quanto tempo ele demorou. Vou andar mais de três metros - o comprimento do quarto,
até aqui.

NO. 3: Você é louco. Você não pode recriar uma coisa assim.

NO. 11: Talvez se pudéssemos ver, este seja um ponto importante.


NO. 3 ( louco). É uma perda de tempo ridícula.

NO. 6: Deixe ele fazer isso.

NO. 8: Tudo certo. A câmera vai ser a porta do quarto. Agora, quão longe você diria que é daqui até a porta da sala?

NO. 6: Eu diria que tinha seis metros.

NO. 2: Quase.

NO. 8: Vinte pés é perto o suficiente então. Tudo bem, daqui até aquela porta, ida e de volta são cerca de doze metros. É
mais curto do que o comprimento do corredor, você não diria isso?

NO. 9: Alguns metros, talvez.

NO. 10: Olha, isso é absolutamente insano. O que te faz pensar que você pode recriar algo assim?

NO. 8: Você se importa se eu tentar? De acordo com você, levará apenas quinze segundos. Podemos poupar isso. Alguém
pode cronometrar os segundos?

NO. 2: Eu posso.

NO. 8: Quando você quiser que eu comece, avise. Isso será o corpo caindo. Vou ir e voltar até aqui. ( Ele se deita na cadeira.)
Digamos que ele mantém suas muletas bem ao lado da cama. Certo?

NO. 2: Certo!

NO. 8: OK. Estou pronto.

[NO. 2 Faz a contagem. NO. 8 começa a se levantar. Lentamente, ele balança as pernas sobre as bordas das cadeiras, alcança
bengalas imaginárias e se esforça para ficar de pé. NO. 2 olha para o relógio. NO. 8 anda como um velho aleijado caminha, em
direção à cadeira que está servindo de porta do quarto. Ele atende e finge abri-lo.]

NO. 10: ( gritando). Acelere. Ele caminhou duas vezes mais rápido.

[ NO.8 não ter parado para essa explosão começa a andar pelo corredor simulado]

NO. 11: Acho que isso é ainda mais rápido do que o velho entrou no tribunal.

NO. 8: ( alto). Pare.

NO. 2: Certo.

NO. 8: Quanto tempo?

NO. 2: [fala os segundos] exatamente. (NOTA: O tempo precisa ser bem maior do que 15 segundos)

NO. 11: [Repete]

[Alguns dos jurados improvisam surpresas entre si.]


NO. 8: Acho que o velho estava tentando chegar até a porta, ouviu alguém correndo escada abaixo e presumiu que fosse o menino.

NO. 6: Eu acho que isso é possível.

NO. 3: ( enfurecido). Presumido? Agora me escutem. Já vi todos os tipos de desonestidade na minha época... Mas esta pequena
exibição leva o troféu hein? Você chega aqui com o coração sangrando por todo o chão sobre crianças de favela e injustiça e
inventa essas histórias malucas, e tem algumas menininhas de coração mole ouvindo você. Bem eu não estou. E estou ficando
muito cansado disso. ( Para todos) Qual é o problema com vocês? Esse garoto é culpado! Ele tem que ser punido! Estamos
deixando ele escapar por entre nossos dedos aqui. Depois não me venham falar de impunidade nesse país!

NO. 8: ( calmamente) Nossos dedos. Você é o executor dele?

NO. 3: ( furioso) Eu sou um deles.

NO. 8: Talvez você queira puxar o interruptor da cadeira elétrica.

NO. 3: ( gritando) Para esse garoto? Pode apostar que eu gostaria de puxar o interruptor!

NO. 8: Sinto muito por você.

NO. 3: ( gritando). Não comece comigo.

NO. 8: Qual deve ser a sensação de querer puxar o interruptor?

NO. 3: Cale-se!

NO. 8: Você é um sádico.

NO. 3: ( mais alto). Cale-se!

NO. 8: ( Forte). Você quer ver esse menino morrer porque você o deseja pessoalmente - não por causa dos fatos.

NO. 3: ( gritando). Cala a boca! [surta e começa a fazer ameaças] Quem você pensa que é pra falar assim comigo? Aí atrás da
tela é fácil, quero ver se você é macho de vir falar na minha cara! Covarde! Babaca! Viado! Vai bancando o esperto pra
cima de mim mesmo! Se eu te encontrar na rua, é bom você ficar esperto! Aparece na minha frente pra ver se eu não te mato, seu
imbecil! Eu te mato!

NO. 8: ( suavemente). Você realmente não quer dizer que vai me matar, quer?

[ NO. 3 para de lutar agora e olha para NO. 8: Todos os jurados assistem em silêncio]
ATO III

NO. 3: ( alto, mas tentando se controlar). O que vocês estão olhando? Vai logo. Vamos continuar.

[Silencio]

NO. 4: Não vejo por que temos que nos comportar como crianças aqui.

NO. 11: Nem eu. Temos uma responsabilidade. Isso é uma coisa notável sobre a democracia. Que somos ... ummmm ... qual é a
palavra ... Ah, notificado! Que sejamos notificados por correio para virmos a decidir sobre a culpa ou inocência de um homem que
não conhecemos antes. Não temos nada a ganhar ou perder com nosso veredicto. Esta é uma das razões pelas quais somos fortes.
Não devemos fazer disso uma coisa pessoal.

NO. 12: Bem, ainda não chegamos em lugar nenhum. Alguém tem alguma ideia?

NO. 6: Acho que devemos tentar outra votação. Sr. Escrivão?

ESCRIVÃO: Por mim está tudo bem. Alguém não quer votar?

[Ninguém responde]

NO. 7: Tudo bem, vamos fazer isso.

NO. 3: Eu quero uma votação aberta. Vamos chamar nossos votos. Eu quero saber quem está onde.

ESCRIVÃO: Isso parece justo. Alguém se opõe? (Ninguém faz.) Muito bem. Vou perguntar pelos nossos números de júri.

ESCRIVÃO: Eu voto culpado. NO. 2?

NO. 2: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 3?

NO. 3: Culpado.

ESCRIVÃO: NO. 4?

NO. 4: Culpado.

ESCRIVÃO: NO. 5?

NO. 5: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 6?

NO. 6: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 7?

NO. 7: Culpado.

ESCRIVÃO: NO. 8?
NO.8: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 9?

NO.9: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 10?

NO. 10: Culpado.

ESCRIVÃO: NO.11?

NO.11: Inocente.

ESCRIVÃO: NO. 12?

12: Culpado.

NO.4: Seis a seis.

NO.10 ( louco) Eu vou dizer uma coisa. Um crime está sendo cometido bem aqui.

ESCRIVÃO: A votação é de seis a seis.

NO. 3: Estou pronto para entrar no tribunal agora e declarar um júri empatado. Não há mais sentido nisso.

NO. 7: Eu também voto por isso. Vamos levar isso ao juiz e deixar o garoto se arriscar com outros doze caras.

NO. 5: ( para NO. 7). Quer dizer que ainda não acha que haja espaço para dúvidas razoáveis?

NO. 7: Não, eu não.

NO. 11: Eu imploro seu perdão. Talvez você não entenda o termo "dúvida razoável".

NO. 7: ( Bravo). O que você quer dizer com eu não entendo? Quem você pensa que é para falar assim comigo? (Para todos) Como
você gosta desse cara? Ele vem aqui correndo por sua vida, e antes que ele possa respirar fundo, ele está nos dizendo como
administrar o show. A arrogância dele!

NO. 5: ( para NO. 7). Espere um segundo. Ninguém aqui está perguntando de onde você veio.

NO. 7: Eu nasci bem aqui.

NO. 5: Ou de onde seu pai veio. ( Ele olha para NO. 7, que não responde, mas desvia o olhar.) Talvez não nos prejudique seguir
algumas dicas de quem vem correndo aqui! Talvez tenham aprendido algo que não sabemos. Não somos tão perfeitos!

NO. 11: Por favor, estou acostumado com isso. Está tudo bem. Obrigado.

NÚMERO 5: Não está tudo bem!

NO. 7: Ok, ok, peço desculpas. É isso que você quer?


NO. 5: Isso é o que eu quero.

ESCRIVÃO: Vamos parar de discutir. Quem tem algo construtivo para dizer?

NO.2: ( hesitantemente). Bem, algo está me incomodando um pouco... Toda essa história da facada e como foi feita, o
ângulo para baixo, sabe?

NO. 3: Não me diga que vamos começar isso. Eles repassaram e repassaram no tribunal.

NO. 2: Eu sei que sim - mas eu não concordo com isso. O menino tem um metro e sessenta e cinco de altura. Seu pai
tinha um e oitenta e dois. É uma diferença de mais de quinze centímetros. É uma coisa muito estranha apunhalar o peito
de alguém que é meio pé mais alto do que você.

[ NO. 3 faz movimentos com a faca]

NO. 3: Olha, você não vai ficar satisfeito até ver de novo. Vou fazer uma demonstração.

NO. 3: OK. ( Para NO. 2) Agora observe isso. Eu não quero ter que fazer isso de novo. ( Ele se agacha agora até ficar um pouco
mais baixo do que NO. 8) São quinze centímetros?

NO. 12: São mais de quinze centímetros.

NO. 3: Ok, deixe ser mais.

[Ele enfia a mão no bolso e tira a faca. Ele muda sua posição na mão e segura a faca no alto, como se fosse esfaquear.]

NO. 6: Isso não é engraçado.

NO. 5: Qual o problema com você?

NO. 3: Tudo certo. Aí está o seu ângulo. Dê uma olhada nisto. Para dentro e para baixo. É assim que eu apunhala um
homem mais alto no peito. Dê uma olhada e me diga que estou errado.

NO. 6: Para dentro e para baixo. Acho que não há discussão.

NO. 8: Algum de vocês já esfaqueou um homem?

NO. 6: Claro que não.

NO. 3: Tudo bem, não vamos ser tolos.

NO. 3: ( alto). Não, não fiz!

NO. 8: Onde você consegue todas as informações sobre como isso é feito?

NO. 3: O que você quer dizer? É apenas bom senso.

NO. 8: Você já viu um homem esfaqueado?

NO. 3: ( faz uma pausa e olha ao redor da sala nervosamente) NO.


NO. 8: Tudo certo. Eu quero te perguntar uma coisa. O menino era um lutador de faca experiente. Ele foi até mandado para um
reformatório por esfaquear alguém, não é?

NO. 12: Está certo.

NO. 3: Não estou entendendo.

[ NO. 8 muda a forma de segurar a faca]

NO. 8: Você já viu uma luta de faca?

NO. 5: Eu já.

NO. 8: Nos filmes?

NO. 5: No meu quintal, na minha varanda, no terreno baldio do outro lado da rua, muitos deles. Canivetes vieram com o bairro onde
eu morava. Engraçado, não pensei nisso antes. Eu acho que você tenta esquecer essas coisas.
(Sacudindo a faca aberta) Qualquer um que já usou uma faca em uma briga, nunca teria esfaqueado para baixo. Você não
manuseia um canivete dessa maneira. Deixaria o peito aberto.

NO. 8: Como se usaria?

NO. 5: Com a lâmina para dentro.

NO. 8: Assim?

NO. 5: Correto.

NO. 8: Veja isso. Não parece uma maneira estranha de manusear uma faca?

NO. 5: Muito!

NO. 8: Então ele não poderia ter feito o tipo de ferimento que matou seu pai.

NO. 5: Não, ele não poderia ter. Não se ele já tivesse alguma experiência com elas.

NO. 3: Eu não acredito nisso.

NO. 10: Você está nos dando um monte de besteiras.

NO. 12: ( hesitantemente). Bem . . . Eu não sei.

NO. 8: ( para NO.7). E você [características físicas do NO. 7]?

NO. 7: Ouça, vou te dizer uma coisa. Já estou um pouco cansado de tudo isso. Não estamos chegando a lugar nenhum. Vamos
terminar e voltar para casa. Estou mudando meu voto para inocente.

NO. 3: Você o que?

NO. 7: Você me ouviu. Eu tive o suficiente.

NO. 3: O que você quer dizer; você já teve o suficiente? Isso não é resposta.
NO. 11: ( Bravo). Acho que talvez ele esteja certo. Esta não é uma resposta. Que tipo de homem você é? Você sentou aqui e votou
culpado com todos os outros porque tinha alguns ingressos de teatro queimando um buraco no seu bolso. Agora você mudou seu
voto pelo mesmo motivo. Não acho que você tenha o direito de brincar assim com a vida de um homem. Isso é uma coisa feia e
terrível de se fazer.

NO.7: Agora espere um minuto ... Você não pode falar assim comigo.

NO. 11: ( Forte). Eu posso falar assim com você! Se quiser votar inocente, faça-o porque está convencido de que o homem não é
culpado. Se você acredita que ele é culpado, vote assim. Ou você não tem o. . . a . . . coragem - coragem para fazer o que você acha
que é certo?

NO.7: Agora escute....

NO. 11: É culpado ou inocente?

NO. 7: ( hesitantemente). Eu te disse. Inocente.

NO. 11: ( Difícil). Por quê?

NO.7. Eu não tenho que

NO. 11 Voce tem que! Diz! Por quê?

[Eles se encaram por um longo tempo.]

NO.7: ( baixo) Eu ... não acho. . . ele é culpado.

NO. 8: ( velozes). Eu quero outro voto.

ESCRIVÃO: Ok, há outra votação solicitada. Acho que a maneira mais rápida é levantando as mãos. Alguém se opõe? ( Ninguém
faz.) Tudo certo. Todos aqueles que votam inocentes, levantem as mãos.

[Números 2, 5, 6, 7, 8, 9 e 11 levantem as mãos imediatamente. Então, devagar 12 levanta a mão. O Escrivão olha em volta da
mesa com cuidado e também levanta a mão. Ele olha ao redor da mesa, contando silenciosamente.]

ESCRIVÃO: Nove. ( As mãos abaixam.) Todos aqueles que votaram culpados.

[Números 3, 4 e 10 levantem as mãos.]

ESCRIVÃO: Três. ( Eles baixam as mãos.) A votação é de nove a três a favor da absolvição.

NO.10: Eu não entendo vocês. Como você pode acreditar que esse garoto é inocente? Olha, você sabe como essas pessoas mentem.
Eu não tenho que te dizer. Eles não sabem qual é a verdade. E deixe-me dizer a você, eles- ( NO.5 vira de costas) —Não precisam de
nenhum grande motivo real para matar alguém também. Você sabe, eles ficam bêbados e, bang, alguém está deitado na sarjeta.
Ninguém os está culpando. É assim que eles são. Você sabe o que eu quero dizer? Violentos!

[ NO.9 levanta e faz o mesmo que o NO. 5. Ele é seguido por NO.11]

NO.10: A vida humana não significa tanto para eles quanto para nós. Ei onde você está indo? Olha, essas pessoas estão bebendo
e brigando o tempo todo, e se alguém morre, alguém morre. Eles não se importam. Oh, claro, há algumas coisas boas sobre eles
também. Olha, sou o primeiro a dizer isso.

[ NO. 8 vira de costas, e então NO. 2 e NO. 6 também]


NO.10: Conheci alguns que eram bastante decentes, mas essa é a exceção. A maioria deles; é como se eles não tivessem
sentimentos. Eles podem fazer qualquer coisa. O que está acontecendo aqui?

[O Escrivão se lvira de costas, seguido por NO. 7 e NO. 12:]

NO.10 :. Estou falando minha parte, e vocês me escutem! Eles não são bons. Nenhum deles é bom. É melhor tomarmos cuidado.
Acreditem em mim. Este garoto em julgamento ....

[ NO. 3 está distraído com alguma coisa no cômodo, e NO. 4 se vira. Todos estão de costas para NO.10.]

NO.10: Bem, você não sabe sobre eles? Me escutem! O que você estão fazendo? Estou tentando dizer algo...

[NO. 4 desvira e para com os braços cruzados. Há um silêncio mortal. Então NO. 4 fala suavemente.]

NO. 4: Eu tive o suficiente. Se você abrir a boca de novo, eu vou ligar para polícia.

[ NO. 4 fica parado e olha para ele. Ninguém se move ou fala. NO. 10 olha para ele, depois olha para a mesa.]

NO. 10: ( suavemente). Estou apenas tentando te dizer...


[Há uma longa pausa enquanto NO. 4 encara NO. 10, que desiste e desvia o olhar para baixo.]

NO. 4: ( para todos). Tudo certo. Voltem todos.

[Todos eles se desviram.]

NO. 4: ( silenciosamente). Ainda acredito que o menino é culpado de assassinato. Eu vou te dizer por quê. Para mim, a prova
mais contundente foi dada pela mulher do outro lado da rua que alegou ter realmente visto o assassinato cometido.

NO. 3: Está certo. Para mim, esse é o testemunho mais importante.

NO. 8: Tudo certo. Vamos repassar seu testemunho. O que exatamente ela disse?

NO. 4: Acredito que posso recontá-lo com precisão. Ela disse que foi para a cama por volta das onze horas daquela noite. Sua cama
ficava ao lado da janela aberta, e ela podia olhar pela janela enquanto estava deitada e ver diretamente pela janela do outro lado da
rua. Ela se mexeu e se virou por mais de uma hora, incapaz de adormecer. Finalmente ela se virou para a janela por volta do meio-dia
e dez e, ao olhar para fora, viu o menino esfaquear o pai. Tanto quanto posso ver, este é um testemunho inabalável.

NO. 3: É o que eu quero dizer. Esse é todo o caso.

NO. 4: ( ao júri). Francamente, não vejo como vocês podem votar pela absolvição.

NO. 12: Bem . . . talvez . . . há muitas evidências para examinar.

NO. 3: O que você quer dizer com talvez? Ele está absolutamente certo. Você pode jogar fora todas as outras evidências.

NO. 4: Esse foi o meu sentimento.

NO. 2: Alguém pode me dizer que horas são?

NO. 11: [diz a hora].

NO. 2: Está tarde. Você não acha que eles nos deixariam terminar outro dia? Amanhã eu tenho que acordar cedo.
NO. 5: Sem chance.

NO. 6: ( para NO. 2). Desculpe interromper, mas você não consegue ver o relógio sem seus óculos?

NO. 2: Não claramente. Por quê?

NO. 6: Oh, eu não sei. Olha, isso pode ser um pensamento idiota, mas o que você faz quando acorda à noite e quer saber que horas
são?

NO. 2: O que você quer dizer? Coloco meus óculos e olho para o relógio.

NO. 6: Você não os usa para dormir.

NO. 2: Claro que não. Ninguém usa óculos para dormir.

NO. 12: Para que serve tudo isso?

NO. 6: Bem, eu estava pensando. Você conhece a mulher que testemunhou que viu o assassinato e ela usa óculos.

NO. 3: Minha avó também. E daí?

NO. 8: Sua avó não é uma testemunha de assassinato.

NO. 6: Olha, me pare se eu estiver errado. Esta mulher não usaria seus óculos para dormir, usaria?

ESCRIVÃO: Espere um minuto! Ela usava óculos? Não me lembro.

NO. 11: ( animado). Claro que ela usa! A mulher usava aquelas lentes bem grossas. Eu me lembro disso muito claramente. Eles
pareciam muito fortes.

NO. 9: Está certo. Bifocais. Ela nunca os tirou.

NO. 4: Ela usava óculos. Engraçado. Nunca pensei nisso.

NO. 8: Ouça, ela não os estava usando na cama. Isso é certeza. Ela testemunhou que no meio de sua agitação e virada ela rolou e
olhou casualmente para fora da janela. O assassinato estava ocorrendo enquanto ela olhava para fora, e as luzes se apagaram uma
fração de segundo depois. Ela não poderia ter tido tempo de colocar os óculos. Agora talvez ela honestamente pensasse que viu o
menino matar seu pai. Eu digo que ela viu apenas um borrão.

NO. 3: Como você sabe o que ela viu? Talvez ela seja vidente.

[Ninguém responde.]

NO. 3: ( alto). Como ele sabe todas essas coisas?

[Há silêncio.]

NO. 8: Alguém acha que ainda não há uma dúvida razoável?

NO. 4: Você [características físicas do NO. 10]


[NO. 10 olha para baixo e balança a cabeça negativamente]

NO. 3: ( alto). Acho que ele é culpado!

NO. 8: ( calmamente). Alguém mais?

NO. 4: ( silenciosamente). Não. Estou convencido.

NO. 8: ( para NO. 3). Você está sozinho.

NO. 3: Eu não me importo se estou sozinho ou não! Eu tenho um direito.

NO. 8: Você tem o direito.

[Há uma pausa. Todos olham para NO. 3:]

NO. 3: Bem, eu disse que acho o garoto culpado. O que mais você quer?

NO. 8: Seus argumentos.

NO. 3: Eu te dei meus argumentos.

NO. 8: Não estamos convencidos. Estamos esperando para ouvi-los novamente. Nós temos tempo.

NO. 3: ( implorando). Você que estava falando agora de pouco. Qual o problema com vocês? Um homem culpado estará andando
pelas ruas. Um assassino. E a culpa é de vocês!

NO. 4: Eu sinto muito. Há uma dúvida razoável em minha mente.

NO. 8: Nós estamos esperando.

NO. 3: ( gritando). Bem, você não vai me intimidar! Tenho direito à minha opinião!
(Silêncio) Vai ser um júri empatado! É isso aí! Posso ficar aqui por um ano inteiro!

NO. 8: Não há nada que possamos fazer a respeito, exceto torcer para que alguma noite, talvez em alguns meses, você durma um
pouco.

[Silêncio]

NO. 3: Alguém diga alguma coisa...

NO. 5: Você está sozinho.

NO. 9: É preciso muita coragem para ficar sozinho.

NO.3: Veja...por que não pegamos todas aquelas coisas...o velho, o velho que vivia lá...que ouviu tudo...ou a faca...
O quê, só porque ele achou uma igual? O velho viu o garoto! Que diferença faz o número de segundos?
Que diferença faz? Tudo... Cada coisa... Vocês podem enrolar o quanto quiserem, mas não podem provar.
Eu lhes digo... Cada coisa... Foi modificada e distorcida aqui! Aquela história dos óculos... Vocês não sabem se ela usava óculos... A
mulher testemunhou, porra...! No tribunal! O que vocês querem? É isso! Todo esse... caso...a coisa toda sobre o garoto gritando...a
frase foi..."Eu vou te matar"...e ele disse para o próprio pai! Não me importa o tipo de homem que ele era, ele era o seu pai! Maldito
garoto! Eu sei como é, sei como eles fazem, sei como eles conseguem matá-lo todos os dias! Meu Deus...vocês não enxergam? Por
que sou o único que enxerga? Eu sou o único que se vê nessa situação? Eu posso sentir a faca entrando...

[NO. 3 olha em volta para todos eles por um longo tempo. Então, de repente, seu rosto se contorce como se ele fosse chorar.]

NO. 8: Ele não é o seu filho... É outra pessoa... Deixe-o viver.


[NO. 3 apenas consente com a cabeça]

ESCRIVÃO: Chegamos a um veredicto. Todos dispensados.

FADE OUT.

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