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POIS É, VIZINHA . . .

DO TEXTO “UNA DONNA SOLA”

DARIO FO E FRANCA RAME

POIS É VIZINHA. . .

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do texto “UNA DONNA SOLA”

Bom dia, Sra.! Sra., eu disse bom dia! Eu fico muito feliz de ter,
alguém... morando na frente da minha casa. Não. . . porque eu pensei que esta
casa estivesse totalmente desabitada. . . é, este apartamento. Ah! Se mudou hoje
cedo. Nem vi, acordei tarde, guria já são nove e tanto. Ah, coisa boa que a Sra. tá
aí . Eu disse: coisa boa. . . Tem razão, é o meu rádio que tá muito alto. Espera
que eu vou desligar. Sabe que. . . a música me faz muita companhia.
E a Sra., como é que arranja companhia. Ah, não vive sozinha? Um
filho? Ah, eu também tenho um filho, aliás tenho dois, um homem e uma mulher.
Não, ela não me faz companhia, porque ela vai na escola, tem as amiguinhas dela.
Sim. . . Sim, o menino está sempre aqui comigo, não, mas não me faz companhia
porque agora está dormindo, não, não acorda com a rádio, tá acostumado. Não,
nem quando acorda me faz companhia, porque acorda quase sempre de noite e ele
chora de uma maneira. . . Grita de uma maneira que, olha, não me serve
companhia aquele guri. Não, mas eu não me lamento, sabe, estou bem em casa...
Não falta nada, meu marido não me deixa faltar nada: tenho máquina de lavar
roupa, máquina de lavar louças com nove ciclos, tenho três panelas de pressão,
microondas. Ah, tenho 2 frezzers... É que meu marido gosta muito de carne, aí,
num eu boto aquela carnalhada toda, e no outro eu boto minhas comidas
congeladas. Ah, tenho telefone celular que meu marido trouxe do Paraguai. Ah,
tem um tevesão enorme no meu quarto, TV no quarto das crianças, do cunhado...
uma preto e branco na cozinha., e tenho música em tudo que é parte da minha
casa. . . que que eu quero mais ?!
Ah, eu tinha uma mulher que trabalhava aqui comigo, era tão bom...
A gente fazia companhia uma prá outra, conversava, conversava, passava o dia
inteiro conversando, porque, embora não pareça, eu sou uma pessoa que gosta
muito de falar, sabe ? A senhora também? Coisa boa. Vamos conversar, então...
Como é que é o seu nome ? Ana ? Aí guria que nome bonito, eu sei que é simples
mas é que é nome de Santa... Eu também tenho nome de Santa, meu nome é
Maria... Prazer... Bom... Eu tava dizendo que a moça foi embora; mas, depois
veio outra... Que também... se foi. Não, não era muito serviço... é que... foi por
causa... do meu cunhado, irmão do meu marido... Mexia com ela. Bolinava a
mulher, toda vez que passava por ele, sabe? Uma passada de mão justo lá.
Coitado, ó doente. Mórbido ? Não sei, sei que queria algumas coisas daquelas
moças e elas ficavam muito chateadas. É que elas não querem saber se ele é
doente ou não, e eu entendo elas, afinal de contas não é parente delas para fazer
de conta que não foi nada. Tem mesmo é que se rebelar... o que a senhora faria se
estivesse no lugar delas... Assim... Se estivesse aqui fazendo o serviço de casa e
de repente pá! Sentisse uma mão se enfiar por baixo da sua saia, ... uma mão
qualquer. Ainda bem que ele só tem uma mão que funciona, senão ia ser um
horror aqui dentro de casa... Ah... foi, um acidente... Coisa mais triste guria.
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Tinha uma maverick do ano, vermelho entonado coisa mais linda!
Pá! Entrou embaixo de um caminhão. Não, só ficou semi-paralítico, graças a
Deus. Sim, enxerga com os dois olhos, mas não fala, só resmunga uma coisa, não
se entende direito o que ele diz. Bom, o braço dele, direito, está completamente
paralisado, hirto, a mão, parece uma galinha, e a perna direita também, os dedos
do pé chegam a ficar estalado, por outro lado, ele, do ponto de vista sexual tá bem
demais... Sabe... tem sempre vontade de...
Sim, vive conosco, fica lá naquele quartinho. Não, não fica
sozinho porque sempre que eu posso eu vou lá, converso com ele... Já entendo
ele, se ele precisa de alguma coisa me basta um olhar... tem os olhos muito
expressivos, parece que o corpo dele ficou tão defasado que toda a expressão
dele foi pros olhos, chega a saltar da órbita os olhos dele, aí ele me olha, e eu ,já
sei o que é que ele quer.
Desculpe, não entendi... Necessidades?! Quais necessidades? Há,
pensei que fosse aquelas... sexuais... veja no que eu fui pensar!!! Bom, em
relação às outras... Como é que eu vou dizer... sabe, o meu cunhado as vezes ele
surta, não atina nem fazer xixizinho dele... aí eu pego e ajudo ele a fazer o
xixizinho dele... Bom... eu pego... eu seguro... o negócio dele... o pinto.., mas eu
não olho, sabe. Aí, quando escuto que ele terminou eu sacudo, bem sacudidinha,
senão me pinga tudo os pijama, depois eu que tenho que lavar né ? A primeira
vez que eu tive que botar ele para fazer xixi? Eu achei muito chato. Até briguei
com o meu marido. Disse: escuta aqui Aldo, contrate uma enfermeira, elas
estão acostumadas e você pode pagar. Aí a gente foi lá, eu e o Aldo,
contratamos uma,... a gente queria uma que não atraísse em nada o meu
cunhado, aí a gente encontrou... Ela era a coisa mais querida... ela era bem
velhinha, bem velhinha... parecia uma tartaruga, toda enrugadinha e era
gordinha, assim, um tonelzinho e usava uns óculos de fundo de garrafa, aqueles
que parece que tem uns cinco ou seis olhos um atrás do outro. E ela não tinha
pescoço... Aí ela ficava aqui, fazendo o serviço de casa. Aí vinha o meu
cunhado tacáva-lhe a mão e ela levantava aquele pescoço, tacáva-lhe a mão e
ela levantava aquele pescoço... Ela chegou a sair, assim, daqui de casa... Coitada
da mulher...aí o encargo ficou para mim...
Não, faço isso pelo meu marido, não por caridade, porque a mim
ele respeita. Comigo, antes de esticar a mão... ele me pede, pede sempre. Sim, sei
que ele não fala, mas ele se faz entender com os olhos, são muito expressivos os
seus olhos! A primeira vez que ele fez isso? A senhora adora saber as primeiras
vezes, né ? Dei-lhe uma bofetada que ele ficou assim naquela cadeira... depois me
senti mal, agir assim com um coitado. Eu quis fugir de casa, aí eu me mandei e o
meu marido foi atrás, me pegou e me trouxe aqui pra dentro de casa e queria
saber o que que era, e eu não queria contar c ele queria saber o que que era e eu
não queria contar... Aí eu contei! Esse homem ficou bem louco e quis bater no
irmão. Aí eu menti. O que tá fazendo desgraçado ? Pam ! Levei uma bofetada...
Não, não escorreguei, só tô representando... Mas eu não representei muito bem.
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Porque na hora foi muito pior, fiquei com a cara colada no chão, quando voltei a
mim, guria, parecia o homem elefante com a cara assim ó: sentia um peso... Aí
quando fui falar... Cuspi um dente... Bah, ele nunca tinha me arrebentado um
dente antes... É, olha aqui ó, tenho um piv6... Bom aí o Aldo, chorava
desesperadamente, chegava a saltar as lágrimas dos olhos dele! Eu nunca tinha
visto ele chorar, ele dizia... É meu irmão, soluçava, e ele faltou o respeito com
você, a minha mulher. Que devo fazer ? Assassiná-lo ? Me diga, devo
assassiná-lo? E eu dizia: não pelo amor de Deus. Não vai matar o seu irmão... Já
pensou ? o cunhado defunto aqui dentro de casa ? Aí ele concordou e disse que a
única coisa que prendia o irmão na vida era o sexo. O sexo... Aí disse que era
preciso perdoar ele, e que a gente tinha que ser compreensivo! “Você tem que ser
compreensiva Maria”, e eu ia dizer que não? Prá aquele baita daquele Aldo, prá
levar outra bofetada na minha cara? Aí eu disse: tá bom Aldo, vou ser
compreensiva. E assim tive que ser compreensiva. Ele me pede com os olhos e eu
deixo que ele faça. Não, é mais que terrível, minha filha, é desgostoso... mas o
que que eu posso fazer? Faço isso por meu marido, e pensar que ele é tão
ciumento com relação aos outros homens, possessivo como ele só... Mas não sei,
quando se trata do irmão... Acho que é uma questão de sangue.
Heim ? Incesto ? Capaz... Não pense que eu e meu cunhado... não,
não... E olha, meu marido me explicou que entre cunhados não há incesto porque
não existe liames de sangue... Bom, vou lhe contar uma coisa. Sabe que as vezes
meu cunhado fica bem louco né, fica com aquela cadeira zum, zum aqui dentro
de casa mas com aquele troço desse tamanho... Aí, pra acalmar ele, sabe o que é
que eu faço? Bom eu​... (gesto de masturbar); Ah, mas eu não olho... Aí quando
eu sinto aquela gosma eu vou no banheiro correndo lavo minha mão bem
lavadinha, aí passo um alquinho, um desinfetante e uh... Pronto já passou... Essa
casa fica bem calma durante uns cinco ou seis dias... É minha filha, tem coisas
bem piores nessa vida... Mas ele é tão sem vergonha que uma vez.., com um
puxão me fez perder o equilíbrio. Ah, mas eu devo estar enchendo com minhas
histórias. Ah não ? A senhora é muito querida... e simpática Anushca Ah tá, eu
tava dizendo que ele, meu cunhado, conseguiu. me fazer cair de joelhos... e
queria que eu ó... Ai que nojo... Então comecei a gritar que nem uma louca.., ele
se assustou, me largou, fui no banheiro e tomei um tubo inteiro de Veronal e
todos os remédios que encontrei lá. Porque eu queria morrer, e por pouco não
morro mesmo. Aí m ​ e levaram pra hospital e me fizeram uma lavagem gástrica...
Coisa linda essa palavra, gástrica... E dormi durante cinco, seis dias, depois que
estava em coma. Mas depois a senhora não vai acreditar, esse meu cunhado..,
ficou tão assustado, tão mortificado comigo, que nunca mais me tocou um dedo.
durante uma semana. Pá guria, tô falando nele me lembrei que eu tenho que
buscar a comadre. Não vá embora, tá? Eu tenho uma coisa pra lhe contar que a
senhora vai adorar. ​(vai no quarto do cunhado) Me larga, ugh! ​(volta com a
comadre)... Não... é essa comadre aqui, mas que comadre a senhora achou que
fosse? Não.., a minha comadre agora é a senhora...
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(Toca o telefone) Ó​, ​deve ser meu marido... telefona sempre a esta
hora... Só um pouquinho que eu atendo bem rápido, tá? ​(Atendo ao telefone)
Pronto?...​. C​ omo?​. ​O ​senhor de novo?...​. O
​ q​ ue? Vai a merda, desgraçado ​(bate o
telefone na comadre e sai prá buscar um pano. Toca telefone) ​Ai ​meu Deus​...
Alô! ​Como ? Não meu filho aqui não é banco nenhum, eu já ​disse aqui é uma
casa de família, não, não estou braba... Não tem problema. ​(Sorri para vizinha)
​ h, ​era um homem que pensa que a minha casa é um banco... É que trocou o
...A
telefone! Antes ? Não, não era o meu marido... Ah... e​ ra um homem... Um
maníaco, um desgraçado que de vez em quando me telefona, olha, me liga umas
três, quatro vezes por dia para dizer besteira... cada coisa... me diz, fico num
estado de nervos... Sim... me telefona, faz versos, esse depravado e se diverte me
contando o que tá fazendo! Mórbido?
A senhora adora essa palavra, não, é mais que mórbido... Doente ? Ai capaz...
tem que vir desabafar justo comigo? Já não basta o que tenho em casa? Que é
isso, virei enfermeira?
(Toca de novo o telefone) Pronto, outra vez. ​( Vai em direção ao
telefone) c​ om toda certeza é aquele idiota... Ah, mas desta vez não deixo ele falar.
(Levanta o fone)... Ouça, aviso que o telefone está controlado pela polícia e que
você... Ah Aldo, é você? ​(Chega até a janela tapando o bocal com a mão.)
(Cochichando) É meu marido! Não, não cochichei Aldo. Não, não é nada com
você, querido... Pensei que fosse... Bom, é um que telefona sempre, um idiota que
pergunta de você, não de mim, diz coisas horríveis Aldo, obscenas e diz que você
tem que dar dinheiro pra ele... e não se fazer de besta... que se não te arrebenta...
Não, Aldo, arrebenta você, não eu. Não sei o que é... não sei nada sobre seus
negócios, você nunca me conta nada... Eu para afugentar ele disse que o telefone
está controlado pela polícia... Não, não sei se está controlado...Aldo falei só por
falar... Sim, estou em casa... e onde quer que eu esteja se estou atendendo o
telefone ?... Não, não saí... e como é que vou sair se você me trancou dentro de
casa? Só se eu me atirar pela janela... Então tá, sim, estou contente... Aldo eu já
disse que estou contente. Tá tchau ! O que Aldo ? ​(pra vizinha) Ai! Já sei tudo
que ele vai dizer... Hã, hã... / Sim o guri tá dormindo / Já fez xixi / seu irmão
também... então tá, tchau... amo... eu amo você meu gauchão!
(Desliga)...
Tive que mentir para ele. Não que já tenha contado tudo sobre o
maníaco que me telefona... Mas se eu digo me faz uma cena daquelas, é tão
ciumento. E capaz de me tirar o telefone... Olha só,... Está convencido de que se
me telefonam é porque dou corda... Veja, o meu marido me diz isso. . . Ah é, me
trancou... É minha filha, na verdade eu sou que nem uma prisioneira, a única
diferença é que na cadeia não tem filho não tem cunhado... Bom, de manhã, ... me
dá umas ordens e leva embora a chave... As compras ? É ele quem faz, não
compra nada direito, menina, ele só compra carne: é ripa, é chuleta, costela,
mondongo... Se eu peço pra ele comprar alguma coisa ele não compra, olha só,
faz quase um mês que eu só tô com uma chupeta pra criança, cada vez que eu
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tenho que dá chupeta prá criança eu fico bem louca aqui dentro dessa casa... Ah,
ele diz que esquece de comprar, vê se pode... Se acontece algum imprevisto ?...
ele telefona sempre... e eu conto. Mas o que que vai acontecer ? Na minha casa
não acontece nada de especial. E uma vida normal E todo dia a mesma coisa,
todo dia a mesma coisa... Há, há, há...
(De repente, pára olhando mais para cima) M ​ as veja só... outra
vez aquele cretino... Sai daí desgraçado ​(Prá vizinha) Lá em cima, com o
binóculo... está me espiando... Aquele lá, lá... na terceira janela lá de cima...
Não tá vendo ? Ah tá, não pode ver porque a senhora tá embaixo dele... Mas
veja que atrevido... Sai daí, ah não vai sair ? ​(vai pegar a espingarda, e mostra
para ele) ​Ah fugiu é ? Covardão, só ver uma espingarda que sai voando,
desgraçado... ​(vê
outro vizinho) Ah não, não é nada com o Sr., é o homem ali de cima... ​Ah... S ​ ua
esposa vai bem... Mando um abraço pro Aldo, sim. ​(olha para vizinha) Ah ​O
homem achou que era com ele Deus o livre, se ele conta pro Aldo, ele me mata.
Já chega a espingarda de caça dele que eu pintei de cor de rosa. ​(Descansa a
arma). E​ u louca? Eu me faço de louca... é melhor se fazer de louca do que ficar à
mercê de todos esses cretinos... E depois ter que tomar um tubo de Veronal cada
dois meses para acabar com o desespero. Ou cortar os pulsos como fiz há três
meses atrás. Ah cortei, não, não cortei: eu carneei os pulsos. Olha aqui, ainda
tenho as cicatrizes...
Não senhora. Me desculpe, mas essa história não posso contar. Ela
faz eu me sentir muito mal... É uma tragédia. Prefiro mudar de assunto... Que dia
lindo, né? Não... Essa história eu não vou contar, não não vou contar... Tá bom eu
vou contar a história do ts, ts... Bom, foi por causa... Foi por causa de... Foi por
causa... Foi por causa de um... rapaz. É! Quinze anos mais jovem que eu... e que
aparentava ter menos idade ainda... Tanto que quando saíamos juntos
perguntavam se era meu filho... ​O A ​ ldo ? Estava completamente despreocupado.
Ele próprio mandava chamar o rapazinho para me fazer companhia... Vê s​ e
pode... Ah, ah, ah... Bom... Ele era tímido, querido, fofinho, era gostoso aquele
rapaz... Tão delicado, que fazer qualquer coisa, mas qualquer coisa com ele...
Assim... Fazer amor com ele seria o mesma coisa que cometer um incesto. Pois,
olha, eu fiz Como, o que ​é q​ ue eu fiz ? O incesto, ora... Fiz amor com aquele
rapaz... E sabe a coisa mais terrível ? É que eu não me envergonhava... Bem pelo
contrário eu era muito feliz com aquele rapaz.
(Toca o telefone) Pronto. Ah, é você. ​(volta-se para a vizinha) É
meu marido outra vez. Sim... Sim, estou ouvindo... Se vem aqui ? Quem Aldo ?
Aquele que telefonou antes? Mas quem? Aquele que quer o seu dinheiro???...
(Tapando o bucal ) Então adivinhei... Ah é, ele ligou... Mas o quê tu quer que eu
faça? Tô presa em casa, ninguém pode entrar... Ah, devo fingir que não estou...
Desligar o rádio, também o toca discos e a televisão também? Não posso ver só a
imagem ? Não ? Bom então posso até me trancar no banheiro aí fico bem quieta
num canto. Boa idéia? Então se quiser me atiro na privada e puxo a descarga...
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Não Aldo, eu tô brincando... ​(desliga)
Ah, disse que assim que chegar em casa vai me dar uns tabefes
Sim, já me bateu tantas vezes... é um prepotente. ​(Recomeça a trabalhar) Diz que
faz isso porque me quer bem, porque me adora... me adora e me caga de pau... me
adora e me caga de pau... Já viu disso minha filha ? Ele adora me chamar de
abobada; Maria: tu é uma abobada! E diz que eu continuo sendo uma criança...
que não sei nada da vida, que devo ser guiada... E quem primeiro me prejudica é
ele... E eu sou uma boa esposa, faço tudo como ele gosta, e ele vem, me
incomoda, me bate e ainda por cima quer trepar comigo... Quero dizer, fazer
amor... E nem quer saber se eu tô com vontade.
...Sim porque ele me pega a força aqui dentro de casa, guria. Ai eu
deixo, né, aquele baita daquele homem, mas eu fico pensando noutra coisa, no
quê que eu vou comer depois, no que que vou fazer depois... não porque senão eu
choro o tempo todo... Não, porque com o meu marido eu não sinto nada, não,
nada... ai aquilo, aquele negócio... aquela coisa boa... Ai. Meus Deus... aquilo ai,
é uma palavra que não consigo dizer, orgasmo ​(fala sem som) ORGASMO, Aiii
parece o nome de um animal asqueroso... Sei lá, uma macaca gorda, me parece
ver escrito nos jornais: “um orgasmo adulto fugiu do Circo Americano... Um
orgasmo agrediu uma freira no Jardim Zoológico... O orgasmo e a freira...” Então
quando dizem que: “atingiu o tal do orgasmo ...” parece alguém que saiu
correndo e pegou o bonde andando... Ah, a senhora também pensa assim ?
Exatamente... Mas onde é que eu parei?
Ah sim, o Aldo. Com ele me sinto bloqueada. Porque com ele me
sinto usada, é isso “usada” como uma coisa, como esse paninho aqui ó! Mas não
me lamento, sabe, estou bem assim, eu tenho tudo dentro de casa, ou melhor,
estava bem assim... Ah, porque eu pensava que acontecia o mesmo com todas as
mulheres.., que aquilo fosse o amor...mas o que queria que eu soubesse..,
ninguém nunca me disse nada a respeito... até que justamente eu encontrei aquele
rapaz...
Como eu me lamentava que a única coisa que fazia era o serviço de
casa, que eu já tava com as tetas caídas, com a bunda caída, com os joelhos
doendo. Ai e já tá doendo de novo essa merda... não vou fazer mais nada. Bem...
Aí eu disse pro Aldo que pra passar o tempo eu queria aprender o inglês​... yes, of
course​... Ah... porque eu adoro o inglês, eu gosto de tudo que os americanos
fazem, que povo bacana, né heim? E agora que tem TV a cabo aqui em casa passa
os filmes tudo americano e eu não consigo ler as legendas porque me dói as
vistas, o doutor disse que eu tinha que usar óculos mas eu não gosto então prefiro
entender o inglês, aí consegui convencer meu marido, só que ele não queria que
eu fizesse aula fora porque não gosta que eu saia de casa aí foi naquela
Universidade aqui perto e arranjou o rapazinho, o professor... É o meu rapaz... Aí
ele entrou aqui, eu disse: oi, tudo bem ? Pá, o rapaz bonito, sabe ? Bonito
mesmo...
Bom, aí começamos com o verbo ​to be Iam, you are, he is... Aí, ele
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disse que eu tinha um sotaque, muito bom... É, uma pronúncia... ​The sky is blue...
The book is on the table... Tá, aí continuamos com as “classes” e eu comecei a
notar uma coisa muito estranha, sabe? Mal eu olhava ele no olho ele enrubescia,
ficava vermelho, chegava a ficar roxo, se casualmente eu esbarrava nele tremia
todo.., nunca vi disso... Aí pensei devo estar louca, o que esse rapaz vai querer
comigo, um traste ? Aí continuamos e começou a piorar o negócio, a mão dele
suava... Não conseguia pegar a caneta, se empepinava todo. ​(Fala sem som)
Perdia a voz... Eu disse que ele perdia a voz. Pá guria, ele era muito delicado,
entrava aqui em casa e eu já me sentia uma rainha, me trazia maçã, chocolate..,
nunca comi tanta maçã e tanto chocolate em toda minha vida... E eu não tava
acostumada com aquilo, só com o meu cunhado me tacando a mão, as idiotices
daquele demente do telefone, o outro estúpido que fica me espiando e ao uso que
de mim faz o meu marido que eu pensei: vou acabar cedendo... Não, não cedi, eu
disse ​finish, basta, acabou, ​get out, acabei com as aulas de inglês. ​(Larga o
balde)
Hãã !!! Mas um dia, aconteceu uma coisa. Eu desci pra ir lá na venda falar com a
minha amiga, a Eneida e quando eu passei por aquele murão, já viu né ?... É!
Tava escrito com umas letra enorme: ​I LOVE YOU MARIA​, para ninguém
entender! Ai eu fiquei assim ó ! Ai fui correndo na venda contei para Eneida e ela
disse: mas Maria, e o Aldo ? Ai eu disse : Graças a Deus o Aldo não entende
inglês, senão ó ​(como se cortasse a garganta) me matava! Ai me enterrei aqui
dentro de casa e pra esquecer eu passava o dia inteiro aqui, limpando, limpando,
limpando... Essa casa nunca ficou tão limpa... E não adiantava porque não
conseguia parar de pensar no rapaz, ouvia o rádio e lembrava, via a TV,
lembrava, e os filmes de inglês... O Mickey então nem se fala, o dia inteiro me
olhando... Aí bumba, sentia a mão do meu cunhado na minha bunda. ​(Toca a
sineta) Ó basta eu falar nele... Há, é um sininho que ele toca com a mão dele boa,
só um pouquinho que eu vou ver o que que ele quer... ​( Vai até o cunhado ) Ai,
me larga, argh! Não me olha com esses olhos, não, já disse que não posso, estou
conversando com um amiga...
(Pega a enceradeira e começa a encerar a frente) Pá guria, mas um
dia eu fiquei sabendo pela mãe do rapaz... UUH ! Coisa boa passar a enceradeira,
IUUHU! HÁ, HÁ, HÁ. . .
Onde é que parei ? Ah, tá, fiquei sabendo pela mãe do rapaz que ele
estava doente... Sim, a mãe do rapaz... Criatura, eu nunca vi uma mulher tão
chique em toda minha vida... Ai ela entrou aqui e eu disse, hhiii, o que que essa
mulher quer aqui em casa... Ai ela disse que era a mãe dele, eu quase morri de
vergonha, fui correndo me botei um batonzinho e... Oi tudo bem... Ela era linda,
linda, linda. Usava um vestido bem justo com um degotão, todo tigrado, o cabelo
era louro bem cumprido, ela fazia assim ó! E tinha um pescoço que parecia uma
girafa, cumprido, e no pescoção ela usava uma coisa, uma raposa, um tigre, sei lá
eu! A mulher é uma fauna... e o salto... Nunca vi um salto tão alto em toda minha
vida, era bem fininho, cheio de strass vermelho e fumava uma piteira linda, desse
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tamanho, cheia de detalizinho em ouro; e a voz, parecia uma veludo bordô... Ai
ela disse: ... Senhora, estou desesperada, meu filho está morrendo de amor pela
senhora Está de cama, não come mais, não dorme mais, está com febre... Venha
ao menos cumprimentá-lo. Aí ela saiu com os tigres e as raposas...
Que poderia eu fazer ? Já fava louca para ir lá,. Aí vem aquele
chiquerê todo, fui lá, né? Só que eu fiquei 2 dias sem comer, fiquei magra,
arrumei um vestido bem justo, botei um saltão, pintei meu cabelo de vermelho e
arranjei uma rapozinha com minha amiga da venda, aprendi o fumar, em meia
hora já fumava uma carteira de cigarro... Pá guria, fiquei tão linda... Ai eu nào
queria ir de ônibus, queria ir de táxi, só que só passava fusca, eu não queria ir de
fusca, ai fiquei esperando um tempão até que veio um carrão, entrei e acendi um
cigarro, o homem não queria que eu fumasse, ai eu : Ah tá... tá eu tô apagando... e
fui fumando até lá!
Quando cheguei toquei a campainha, ding dong, e a mulher não me
reconheceu e eu disse Oi, eu sou a Maria. Como vai? Tudo bem?? Ai ela me
levou no quarto do rapaz... e ele na verdade estava de cama... Branco como
farrapo... e quando me viu começou a chorar... e eu também comecei a chorar...
Sua mãe também chorava e fumava, chorava e fumava, ai ela saiu do quarto.
Ficamos a sós. Ele me abraçou... Ele me beijou... de língua... Me acariciou.., e eu
disse: Não podemos fazer amor. Tenho dois filhos, um marido, um cunhado. Ai
ele pula fora da cama inteiramente nu... estava na cama... eu fiquei assim... Não
queria olhar e ele disse: ​Look at me;​ e eu; nunca tinha visto um troço aqueles, ​no,
stop, stop... ai ele pegou uma coisa, um canivete, uma faca que estava lá...
apontou para a garganta e disse se não fizer amor comigo... eu me suicido! Que
deveria eu fazer...? Tirei minha roupa bem devagar, já tava me sentindo loura de
olhos azuis... Foi lindo demais, tão romântico, tão doce, bendita faca! Foi uma
loucura!
E foi assim que descobri que o amor não era, em absoluto aquele
do meu marido... eu embaixo e ele em cima... me sentindo como uma cabra
trepando! Era uma coisa muito diferente. Sabe essas propagandas de cigarro com
aqueles esportes modernos, eles pulam, saltam e sempre se abanando, toda vida
fumando, todo mundo lindo em câmara lenta...
VOLTEI! Com a desculpa de que estava passando mal... outro dia
e outro e outro... eu já estava amicíssima da mãe dele, conversávamos conversas
intelectuais, ai ela saia e eu zip zip zip! Quando voltava pra casa? Ficava
completamente aparvalhada. Ficava abobada, as perna tremiam e a criança se
cagava e chorava... Meu cunhado tacáva-me a mão... O Aldo me cagava de pau e
eu dizia: bate Aldo, bate Aldo... Ai ele viu que eu não era abobada, mas que eu
estava abobada e trancou o armário de bebidas porque achou que eu estava
bêbada e não adiantou porque eu continuava assim... abobada!
E essa casa ficou uma bagunça, eu não atinava fazer mais nada... os
coitadinhos só comiam salsicha, ovo e miojo lamem, graças a Deus que a minha
guria é boa e limpava o guri, porque senão ele ia ficar todo cagado naquele
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bercinho... e era uma sujeirama, roupa pra tudo que é lado e o meu cunhado,
zum... por cima de tudo...
Bom, ai o Aldo ficou bem louco e mandou me seguir e um dia
chegou de improviso na casa do rapaz... escancarou a porta do quarto... e
encontrou nós dois nus... em pé, abraçados... Eu não sabia o que dizer e disse:
Ah, Aldo, é você ? Sabe, não é uma coisa comum... nua, com um homem nu e o
marido vestido... Ele queria me matar... A sorte é que ele titubeou um pouco,
porque tá meio gordão, titubeou, e do verbo titubear, é ficar meio atrapalhado,
aparvalhado... E ai ele deu aquela titubeada e entrou uma sobrinha do rapaz que
também tava nua, não ela estava nua porque tava no banho e se assustou com os
gritos terríveis, porque era uma gritaria, era eu gritando, o rapaz gritando, o
Aldo que gritava e mãe do rapaz que gritava e fumava, gritava e fumava. Eu
aproveitei para fugir jogando uma coberta no corpo... Ai sai correndo... Fui pro
banheiro, me tranquei por dentro e pss pss pss...
Não morri, né minha senhora... Mas eu não morri por pouco,
minha filha, porque a minha sorte que meu marido, que queria matar-me,
derrubou a porta do banheiro com o ombrinho dele.., e ao ver aquele mar de
sangue e eu ali, um trapinho... ele perdeu a vontade de matar-me. Bem pelo
contrário, ele agora queria salvar-me. Bom, ai ele pegou, e me jogou ali no
hospital... Ai ele me perdoou... só que me tranca em casa vai fazer um mês!
Sim, eu disse é um sequestro de pessoa... eu sei que é ilegal... Ah, é
capaz que eu vou denunciar ele, já pensou? Vem a tona a história do rapaz... é
capaz de nós separar-mos, me tiram meus filhos e ainda por cima deixam comigo
o meu cunhado! Ah não, minha filha, olha eu...
(Toca o telefone, é o rapaz) Alô... , mas o que tu tem na cabeça ?
Quer me deixar louca?... mas como posso te ver se estou fechada a chave?...
Vem abrir? Ah, não, rapazinho... Alô... Alô... Mas é louco... disse que vem me
soltar usando uma chave falsa... Sim, é o rapaz... o estudante, o monumento tá
subindo... Disse que aprendeu a abrir portas com um amigo ladrão de
apartamentos... Não, não é um ladrãozinho...
(Tocam a campainha) - Vá embora pelo amor de Deus, Daqui a
pouco chega meu marido, depois chega um credor...

CREDOR ​(Fora de cena) - Onde é que tá o Aldo, aquele canalha,


me paga meu dinheiro salafrário...

MARTA - Desculpe, quem é?

CREDOR - Não interessa, eu quero saber do Aldo...

MARIA - Meu marido não tá meu senhor.

CREDOR - Mas, minha senhora, preciso do meu dinheiro...


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MARIA - Mas que dinheiro?

CREDOR - O dinheiro que esse canalha do seu marido me deve...

MARIA - ​(fala com a vizinha cochichando) - É o homem do


dinheiro... Que é que eu faço, não sei nada que meu marido combinou com ele...
vou dar a enceradeira pra ele ?... Há tive uma idéia!

CREDOR - ​(Enquanto ela cochicha com a vizinha ele fica batendo


na porta e falando ) - Minha senhora... ​(TOC ! TOC !TOC !) Minha senhora...
Ah... fugiu é?

MARIA - Senhor, não tem ninguém em casa...

CREDOR - Como não tem ninguém em casa?

MARIA - É que eu sou a empregada...

CREDOR - A senhora acabou de dizer que seu marido tá pra


chegar...

MARIA - É, eu falei... é que meu marido... meu marido... meu


marido é chofer do dono da casa, que também não está.

CREDOR - É, onde é que ele foi?

MARIA - Ah, não sei...

CREDOR - Como, não sabe?

MARIA - Ah, eu sei sim senhor... eles foram viajar e devem estar
na BR, porque o senhor não pega o seu auto e vai atrás deles?

CREDOR - Deixa eu entrar...

MARIA - Não posso...

CREDOR - Por que não pode...?

MARIA - Porque eu tenho ordem de não abrir a porta, não ligar o


rádio nem o toca disco e olha, tem aqui uma criança que se caga e que se peida o
tempo todo e um homem bem louco que se atira nas minhas costas e me lanha
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toda, e me deixam aqui no escuro, sem um pedaço de pão, porque o senhor não
me deixa um trocado ai embaixo da porta?

CREDOR - Ah, eu vou é chamar a polícia...

MARIA - Então vai chamar a polícia...

CREDOR - Mas eu vou e é agora!!!

(Ela se volta pra vizinha) Foi embora, foi chamar a polícia. E, acho
que é mentira... fez isso só para me assustar. E eu não sei nada do que meu
marido combinou com ele... nunca me conta nada. ​(tornam a bater na porta)....​ .
Será a polícia ? Eu vou fingir que não estou... ​(tornam a bater insistentemente)

ALDO - ... Maria... Onde é que tu te meteu lasqueada... Olha tu ta


brincando com fogo abobada...

MARIA - Olha como é que fala comigo...

ALDO - Olha Maria, onde é que tu te meteu ? Olha que eu vou te


passar o relho, desgraçada... Maria... Onde que tu te enfiou mulher...

MARIA - Oi Aldinho...

ALDO - Me abre essa porta.

MARIA​ - ​ Porque você não abre?

ALDO - Eu perdi as chaves?

MARIA - Ai, q​ ue bom, e agora vai me chamar os bombeiros prá me


tirar daqui?

ALDO - Tu não me goza mulher...

MARIA - Mas que não te goza Aldo, é a terceira vez que me perde
as chaves criatura...

ALDO - Isso acontece...

MARIA - Isso acontece... Ô Aldo, a pouco tempo o seu Credor


esteve aqui...
ALDO - Esteve aqui ?!!
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MARIA - É, esteve aqui.

ALDO - O​ q​ ue é que ele falou?

MARIA - Falou que vai voltar com a polícia.

ALDO - E o que que tu falou pra ele?

MARIA - Eu não falei com ele.

ALDO - Mas então, com quem é que ele falou?

MARIA - Falou com a empregada.

ALDO - Mas que empregada?

MARIA - Mas como que empregada, Aldo?

ALDO​ - ​ Mas nós não temos empregada.

MARIA - Como nós não temos empregada?

ALDO - Mas quem?

MARIA - Eu, eu sou a empregada, eu sou a enfermeira, a babá, a


faxineira... Eu limpo, lavo, cuido... E ainda por cima me deixo fofo fornicar por
você.
ALDO - Cala essa boca, histérica!

MARIA - Eu não sou histérica, nem louca, e tô muito feliz que vem
a polícia, porque a gente já acaba com tudo isso..,​ ​porque eu tô cheia Aldo...

ALDO - Ah, eu vou é embora, vaca, mas eu volto e vou te cagar a


pau!
MARIA - Vai, vai seu bagual, seu cavalo, seu gauchão de merda...

(Ouve-se um choro desesperado) O menino... oh, coitadinho.., mas


como foi que acordou esta hora ? Já vou, neném... Com licença... Mas o que esta
fazendo aqui no meu quarto ? Ah, acordou o criança de propósito para me
obrigar a vim até aqui... o que esta fazendo agora ?... ​tire as mãos daí... Me larga,
desgraçado,... ​(choro)... fique quieto que não é nada meu filho. Tire essa m ​ ão
maldito de mim... ​(toca o telefone) Já vou, puxa vida... Você vai ver assim que
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seu irmão chegar, tu vai ver...
Alô​... a​ h não... o senhor de novo?​... ​Mas o que que o senhor tá
pensando ? Olha aqui é, eu sou uma mãe de família... Por acaso o senhor gostaria
que alguém dissesse a sua mãe essas imoralidades que ​o ​senhor me diz ?... Alô...
tá me ouvindo.., o senhor tá ai ?... O quê?!!! Vai tomar no olho do teu cu, ô puto
(desliga o telefone com raiva, ouve-se o nené).
Aninha viu que além de tudo ele acordou meu filho?!!! Ô Ana...
Senhora... Vizinha... Ana volta aqui!! A n​ ão meu Deus, vou ficar sozinha de
novo? Por que que eu falo tanto ? Claro, eu enchi ela meu Deus... ​(vira-se) ​Ô
Aninha ... ​(vê o espião) Olha quem tá lá... ​O q​ ue é que tu quer ver desgraçado ?...
Ah, mas desta vez eu atiro nesse canalha ​... ​(pega a espingarda e o nené chora)....
Calma meu filho que a mamãe agora vai atirar no espião. ​(aponta a arma e toca a
campainha)​. EU JA VOLTO!!! Quem é?

RAPAZ - ​That’s me my Iove.

MARIA - Ah não, por favor, vá-se embora, daqui a pouco chega o


meu marido, depois chega a polícia e o Credor...

RAPAZ - ​Oh... beautiful baby doll...

MARIA - Mas quem te disse que tô de camisola?

RAPAZ - Eu vi pelo buraco.

MARIA - Pelo buraco? ​(olha a fechadura) ...ai rapazinho, coisa


linda...ai esse olho azul rapazinho... o que que tá fazendo com esse grampinho?
Pára rapazinho. Pelo amor de Deus, não faça isso... Não... Não vai conseguir
abrir, porque eu vou passar a corrente... ​(Ele abre e os dois se vêem)

RAPAZ - ​Oh darling...

MARIA - Rapaz...

RAPAZ - Deixa eu entrar...

MARIA - Aííí...não, eu não posso...

RAPAZ - ​My Iove!

MARIA - Aí, ​my Iove é​ tu! Aí rapaz...

RAPAZ - ​Please, ​deixa eu entrar...


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(Vizinha chama Maria)

MARIA - Aninha... Aí, Graças a Deus a senhora voltou... Onde é


que a senhora tava ?... Ah... no banheiro... ​O ​rapaz... ​O r​ apaz tá aí... É, ele
conseguiu abrir a porta... Não, não, mas já tô louca pra deixar ele entrar... Ah é,
na frente do menino, é, tem o cunhado... a polícia.., e ​o e​ spião, lá em cima, eu
vou dizer para ele... Minha amiga que mora em frente disse que eu não devo
deixar você entrar, que você dever ir embora... ​(aparece a mãe do rapaz)

RAPAZ​ ​- ​Please, touch me...


MARIA - Espera. ​(vai para cozinha) ... Aninha, ele enfiou a mão
dele... e quer tocar na minha mão... se me der prazer ??? UHUUH !!! ​(agarra a
mão, beija, esfrega)​ Aí,​ ​coisa linda rapaz...

RAPAZ​ ​- ​Do you /ove me?

MARIA - Aí rapaz, claro que eu te ​love you. (nené chora) Tá... meu
filho tá chorando... agora vá embora... ​Get out. T ​ ô indo meu filho... ​(traz nenê
para cena)... P ​ ronto nenê não chora que a mama vai te dar a dedeira, tá?
Enquanto isso, pega a chupeta... a chupeta, onde é que tá a chupeta ??? Dá licença
filho, deixa a mãe ver se tá aqui... Não tá, ai meu Deus... Cadê a chupeta ?!!! Ah,
já sei, filho pega aqui a espingardinha da mãe, isso... põe a mãozinha assim,
lindo... Pronto, pronto fifi, a mama vai preparar o leitinho pro gordo... ​(vê a mão
do rapaz) ... O ​que é que tá fazendo com essa mão aí ???

RAPAZ - ​Oh, please darling...

MARIA - Pelo amor de Deus, tira a mão...

RAPAZ - Oh, ​camon my lave... I need you...

MARIA - Aí​ c​ oisa linda, rapaaazzz....

RAPAZ - Só um carinho, baby...

MARIA - ​(envesga, beija a mão...) Oiii rapaz... Tá, agora vai


embora.

RAPAZ - ​No, no ,no... kiss me.

MARIA - ​O ​que é que é ​kiss me J​ onata?

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RAPAZ - Beijo, ​baby!

MARIA - Tá, beijo, beijo... ​(beija a mão)

RAPAZ - Não ​baby, ​na boca...

MARIA - Mas querido, como é que vou beijar você na boca, ​a


abertura é muito pequena!

RAPAZ – Ah, ​darling, ​tira a corrente...

MARTA - ​ ​Não! ​A c​ orrente eu não vou tirar!


RAPAZ - Então vamos tentar pela abertura!

MARIA - Mas, meu querido... Ai, esse beiço balançando... Ai


rapaz, mas minha cara não entra aí!

RAPAZ - ​ ​Entra, ​entra...Please, kiss me!

MARTA - ​Ai, eu vou tentar ! ​(enfia o rosto e beija) Aí rapaz, meu


rosto ficou preso... Empurra, empurra... Não com a boca, com a mão imbecil!...
(se​ ​desprende)​ Aiiii, minha cara ficou lanhada.. Tá agora vá embora.

RAPAZ ​- ​Aiiii, minha mão tá presa, ​baby...

MARIA ​- ​Ah não ! Não, pelo amor de Deus ​(tente empurrar a mão)
... se meu marido chega te arranca a mão, te arranca ​os b​ ago, te arranca tudo !!!
Espera... ​(se dirige à vizinha)​ Ô​ A
​ ninha, oi! O rapaz ficou preso, não
consegue tirar a mão... o que é que eu faço?...​. ​Não, mas pra tirar a corrente eu
tenho que fechar a porta, aí eu arrebento ele... Como? Com água e sabão? Vou
fazer isso... ​que nem tira o anel do dedo, né ?... Eu vou lá ! Ah, Aninha, não é
melhor com água quente ?... Isso, ​aí eu já preparo o leite do guri ​(vai até a
cozinha - toca a sineta do cunhado) Já vai... Aiê, p​ ára, me larga... Não me olha
com esses olhos, eu tô ocupada... Ah, saboneteira.. ​(pega a saboneteira- Toca o
telefone pai da grávida) Pronto... Oi Aldo... Não, é meu marido ? Quem é então?
Grávida? Não, não tô grávida meu filho, deve haver algum engano.... Sua filha tá
grávida? E eu com isso?... Ah, não... meu filho é muito pequeno senhor... Ah,
sua filha já trabalhou aqui ? Ah tá, é que podia ser do meu cunhado!... meu
marido? ​Mas ​meu marido é casado meu filho! É, Aldo o nome dele... é, um
gauchão... capaz... dezesseis anos ? ​Mas ​que desgraçado! ...Mas, mas... mas não
fui eu que engravidei sua filha meu senhor... por que o senhor não pega e tranca
sua filha, que nem meu marido fez comigo? ​O q​ uê? Filha da puta ? Pior o
senhor que é... pai de uma puta... ​(desliga) ...Mas que cretino! ​(vizinha a chama)
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Ah, n​ ão... meu marido engravidou a filha do homem... desgraçado... agora vou ter
um enteado aqui dentro de casa... Heim? Ah é, a mão... vou lá... ​(vai até a
cozinha pegar a água quente e vai até o rapaz)... pronto, meu amor, põe a
mãozinha aqui... tá quente? pronto, eu assopro, assim... agora a mão... pronto,
pronto... tá saindo meu rapaz... tá, agora vá embora...

RAPAZ - ​Oh darling

MARIA ​- Tá rapaz... ​I Iove you for ever and ever, a​ gora vai
embora..... o que é que você tá fazendo ?!!! Pára...

RAPAZ - Vem cá gostosa...

MARIA ​- Ai, parece meu cunhado, me larga rapaz, me larga... eu


vou te arrebentar... eu vou te estropiar seu cretino... ​(bate a porta, ele grita)...
Grita, grita estúpido, imbecil... rapaz... ​(vizinha chama)... Ah....eu esmaguei ele...
(percebe a porta aberta) A ​porta... Eu tô livre.. ​(para a vizinha) Eu tô livre, livre,
eu estou livre, meu Deus, livre, livre, livre... Liberdade, livre, liberta... ​Au...
(criança chora, telefone toca, cunhado toca sineta) Cunhado ... cunhado! UUUH,
aí cunhado... dá oi prá vizinha cunhado...pronto agora vai com a Maria ...vai
(Empurra-o, ouve-se uma sequência de baques de sinetas) ....Cuidado com os
vidros! ​(ouve-se vidros quebrando, vê o espião, pega a espingarda e dispara​)
Acertei... no olho., agora você não espia ​mais n​ inguém seu caolho​... (toca
telefone)... Aaldo... N ​ ão, tá tudo em ordem,... claro,... tô, tô bem... tô rindo de
faceira... seu filho?... Tá bem,.., seu irmão ? Tá muito bem,... o seu irmão...
limpei... lavei... fiz... passei... hu, hum...hu, hum...tá vindo? Então vem ​Aldo, ​tô t​ e
esperando... Ó Mickey, O Alda quer falar contigo... ​(sai e volta com um revólver
- vizinha chama)​ Nada... Tô bem sim​... n​ ão se preocupe... pois ​é, vizinha...

ALDO - Maria, sua cadela... Que é isso Maria?

(Ouve-se o tiro – black out)

FIM

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