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Aula 03 Literatura UNIRV

CIRANDA DE PEDRA

1. BIOGRAFIA : LYGIA FAGUNDES TELLES

LYGIA FAGUNDES TELLES nasceu em Sã o Paulo e passou a


infâ ncia no interior do Estado, onde o pai, o advogado Durval de
Azevedo Fagundes, foi promotor pú blico. A mã e, Maria do Rosá rio,
era pianista. Voltando a residir com a família em Sã o Paulo, a
escritora fez o curso fundamental na Escola Caetano de Campos e
em seguida ingressou na Faculdade de Direito do Largo de Sã o
Francisco, da Universidade de Sã o Paulo, onde se formou. Quando
estudante do pré-jurídico cursou a Escola Superior de Educaçã o
Física da mesma universidade.
Ainda na adolescência manifestou-se a paixã o, ou melhor, a
vocaçã o de LFT para a literatura incentivada pelos seus maiores
amigos, os escritores Carlos Drummond de Andrade e Erico
Veríssimo.
Em 1947, se casou com Goffredo da Silva Telles Jr. (1915–2009).
Além disso, seu primeiro romance, Ciranda de Pedra, foi publicado
em 1954. Depois do término do seu relacionamento com o
primeiro marido, se casou, em 1963, com o crítico de cinema
Paulo Emílio Sales Gomes (1916–1977). Teve apenas um filho,
fruto do primeiro casamento.

Paralelamente ao seu trabalho como escritora, exerceu o cargo de


procuradora do Instituto de Previdência do Estado de Sã o Paulo.
Em 1977, fez parte da comissã o de escritores responsá vel pelo
Manifesto dos Mil, que pedia o fim da censura no país. Nesse
mesmo ano, ela presidiu a Cinemateca Brasileira.
A romancista e contista, apó s se aposentar do Instituto de
Previdência, se dedicou principalmente à literatura.
Lygia Fagundes Telles foi eleita para a ABL em 24 de outubro de
1985. Em 12 de maio de 1987, ela tomou posse da cadeira de
nú mero 16.
A romancista, que faleceu em 3 de abril de 2022, em sua cidade
natal.

2. CONTEXTO HISTÓ RICO


O momento em que surge a terceira geraçã o modernista no
Brasil, é o período menos conturbado em relaçã o à s outras
duas geraçõ es.

Ou seja, é a fase de redemocratizaçã o do país, visto que em


1945 termina o Estado Novo (1937-1945) que fora
implementado pela ditadura de Getú lio Vargas.

Em nível mundial, o ano de 1945 é também o fim da segunda


guerra mundial e do sistema totalitá rio do Nazismo.
Entretanto, tem início a Guerra Fria (Estados Unidos e Uniã o
Soviética) e a Corrida Armamentista.

3. MODERNISMO / CONTEMPORANEIDADE
Prosa Urbana
A principal caraterística da prosa urbana é sua ambientaçã o
nos espaços da cidade, em detrimento do campo e do espaço
agrá rio. Nesse estilo destaca-se a escritora Lygia Fagundes
Telles.

Prosa Intimista
Por sua vez, a prosa intimista é determinada pela exploraçã o de
temas humanos e, portanto, é mais íntima, psicoló gica e
subjetiva. Esses aspectos sã o observados nas obras de Clarice
Lispector e de Lygia Fagundes Telles.

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Terceira Fase : Social / Introspectiva ou Contemporânea 

 literatura -instrumento social


 regionalismo universal 
 problemáticas sociais 
 busca da verossimilhança 
 tendencias intimistas 
 sondagem psicológica 

4. RESUMO DA OBRA

O romance Ciranda de pedra tem Virgínia como protagonista.


Ela possui duas irmã s adolescentes — Bruna e Otá via. Porém,
ela é a ú nica que vive com a mã e, Laura, e Daniel, um médico e
novo companheiro de Laura. O suposto pai de Virgínia se
chama Natércio e mora, em uma mansã o, com as outras duas
filhas.

A primeira parte mostra a infâ ncia da protagonista e suas


angú stias existenciais. A menina inveja a vida que levam suas
irmã s, as quais sã o amigas de Conrado, por quem Virgínia nutre
um amor platô nico. A criança também demonstra a sua
insatisfaçã o por ser filha de pais separados. Além disso, a mã e
possui doença mental.

A desigualdade social é evidenciada ao se comparar o luxo em


que vivem as irmã s e a vida modesta em que Virgínia está
inserida. Apó s a morte de Laura e do suicídio de Daniel,
Virgínia descobre que o casamento da mã e acabou por ela ter
se apaixonado por Daniel, que era o verdadeiro pai da menina.

Agora inserida no contexto familiar de suas irmã s, Virgínia


percebe nã o ser parte daquele meio e prefere estudar em um
colégio interno comandado por freiras. Assim, a segunda parte
da obra apresenta a juventude da protagonista, apó s ela sair do
internato e voltar à luxuosa casa de Natércio.
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Dessa forma, o narrador revela a realidade de uma família
burguesa imersa em mistérios, mentiras e hipocrisia. A
intimidade de seus integrantes é devassada, e suas
imperfeiçõ es sã o colocadas à vista de leitoras e leitores. No
mais, o universo feminino é exposto em sua total profundidade.

5. PERSONAGENS

Laura : Ex-esposa de Natércio, “abandona” a família para viver


seu amor com o médico Daniel. Sofrerá ao longo da narrativa
com a instabilidade emocional e psíquica desenvolvida.

Natércio: Advogado bem-sucedido. Considerado pai de


Virgínia.

Dr. Daniel: Médico psiquiatra por quem Laura irá se


apaixonar.

Virgínia : Protagonista, fruto de uma relaçã o decadente. Vive a


se comparar à s irmã s. É retratada em duas perspectivas
temporais diferentes.

Otávia : Dona de uma beleza fria e distante, quase inacessível.


Desde pequena foi a líder das irmã s. É uma mulher decidida
que nã o hesita em satisfazer seus desejos.

Bruna: Bruna é religiosa e muito ciosa de sua posiçã o social.


Autoritá ria e moralista.

Letícia / Conrado / Afonso: amigos de Otá via e Bruna.


Compunham a ciranda.

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6. ESTRUTURA
• gênero : romance de formaçã o
• obra dividida em 2 partes (divisã o temporal)
• narrado em 3ª pessoa (narrador parcial)
• publicado em 1954
• escrita sugestiva e simbó lica
• narraçã o sintetizada
• digressõ es
• linguagem poética
• livro imagético
• objetividade e refinamento

7. ANÁ LISE
• Título “Ciranda de Pedra”

"Rindo ainda, aproximou-se dos


anõ ezinhos que dançavam numa
roda tã o natural e tã o viva que
pareciam ter sido petrificados em
plena ciranda. No centro, o filete
débil da fonte a deslizar por entre as
pedras.
"Quero entrar na roda
também!", exclamou ela apertando
as mã os entrelaçadas dos anò es
mais pró ximos. Desapontou-se com
a resistência dos dedos de pedra.
"Nã o posso entrar? Nã o posso?",
repetiu mergulhando na fonte
as mã os em concha."

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obra circular – ciranda ( há um movimento circular do tempo)
“ciranda de Virgínias”

Via agora que jamais poderia se libertar das suas antigas faces,
impossível negá -las porque tinha qualquer coisa de comum que
permanecia no fundo de cada uma delas, qualquer coisa que
era como uma misteriosa unidade ligando umas à s outras,
sucessivamente, até chegar à face atual. Mil vezes já tentara
romper o fio, mas embora os elos fossem diferentes havia neles
uma relaçã o indestrutível. E o fio ia encompridando cada dia
que passava, acrescido a cada instante de mais uma parcela de
vida. Chegava a senti-lo dando voltas e mais voltas em torno do
seu corpo numa sequência sem começo nem fim.

• fluxo de consciência
•intimismo
• mescla de objetivo e subjetivo / açã o e diá logo / passado e
presente
• aprofundamento psicoló gico na abordagem das personagens,
principalmente Virgínia
• fuga ao maniqueísmo “Ninguém é totalmente bom ou
totalmente mau”
“Ouça, querida”, disse Otá via certa vez, “nã o fique assim com
essa mentalidade de donzela folhetinesca, nã o separe com
tanta precisã o os heró is dos vilõ es, cada qual de um lado, tudo
muito bonitinho como nas experiências de química. Nã o há
gente completamente boa, nem gente completamente má , está
tudo misturado e a separaçã o é impossível. O mal está no
pró prio gênero humano, ninguém presta. À s vezes a gente
melhora. Mas passa.” (p. 148)

• retrataçã o do drama familiar — alienaçã o parental


• deslocamento social e identitá rio de Virgínia
• figuras femininas e estigmas
- liberdade sexual das irmã s

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- sanidade mental de Laura
- adultério de Laura
- crítica punitiva de Bruna
• temá ticas também percebidas : suicídio / bissexualidade/
racismo
• maturidade literá ria de Lygia em Ciranda

Carta de Carlos Drummond de


Andrade a Lygia

Lygia:
Ciranda de Pedra é um grande livro, e você é uma romancista
de verdade eis, em resumo, o que tenho a dizer-lhe depois de
ler seus originais com um interesse que nã o excluía o espírito
crítico e se foi convertendo em emoçã o de leitor fascinado pelo
texto. Contando com grande fô lego, dispondo cenas e episó dios
com uma segurança de quem sabe o que está fazendo, criando
realmente pessoas vivas e nã o simples personagens, você
compô s um livro perturbador, que nos prende e nos assusta e
que nos faz sofrer e ao mesmo tempo nos oferece o remédio
compensador da pró pria arte, pois a força da criaçã o resolve
num plano má gico os conflitos que ela mesma suscita.
Admirei particularmente o instinto sutil de ficcionista, que
evitou as cenas fá ceis ou de mau gosto, abrindo caminho
sempre através do difícil mas nã o deixando transparecer o
esforço da construçã o. É um livro duro, mas sem nenhuma
passagem escabrosa. As notaçõ es psicoló gicas sã o as mais
finas, e a evoluçã o da trama vai oferecendo quadros de
costumes que dã o à obra importâ ncia como documento social,
sem entretanto lhe tirar qualquer de suas qualidades como
obra puramente literá ria, isto é, obra de arte, vá lida por si
mesma.

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8. QUESTÕ ES

01.Sobre a obra de Lygia Fagundes Telles, assinale a alternativa


incorreta.

a) Lygia Fagundes Telles aprimorou a técnica de composiçã o em


narrativas curtas, trazendo uma preocupaçã o nitidamente
psicoló gica na criaçã o de seus contos.
b) Ao expor de forma incisiva as fraquezas humanas, explora os
estados de angú stia em que suas personagens se encontram,
experimentando uma imensa solidã o.
c) O tema da relaçã o amorosa entre o homem e a mulher destaca-
se na maioria de seus contos.
d) O espaço urbano, em sua variada galeria de tipos sociais,
forneceu a Lygia Fagundes Telles matéria prima para a construçã o
de suas narrativas.
e) Os contos da escritora trazem, quase sempre, o homem no
centro das narrativas, abordando as diversas facetas que
compõ em o interior masculino.

02.Assinale a alternativa que contempla a melhor aná lise acerca


do livro Antes do Baile Verde de Lygia Fagundes Telles.

a) Telles traz à tona discussõ es que tangem à s camadas sociais


marginalizadas, cujos conflitos e temá ticas fogem da realidade, ao
modo do escapismo româ ntico.
b) Telles ratifica a fragilidade feminina em meio a uma sociedade
patriarcal, cuja figura do homem mantém uma família-clã que
inclui, além da esposa oficial, eventuais concubinas.
c) De linguagem clara e concisa, Telles desenvolve um enredo á gil,
descartando o que seria supérfluo para ficçã o, abordando temas
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que vã o do adultério à ruptura estrutural da tradicional concepçã o
de família.
d) Por meio de uma narrativa lenta, Telles carrega seus contos de
uma linguagem rebuscada, transmitindo ao leitor a morosidade
habitual da sociedade contemporâ nea.

03.O romance Ciranda de Pedra, de Lygia Fagundes Telles, ainda


pode ser considerado atual pelos motivos abaixo, EXCETO:

a) Por expressar com habilidade os dilemas íntimos do ser


humano na esfera emocional, social e política.
b) Por falar de problemas ainda enfrentados pelas mulheres nos
dias de hoje, como a busca por reconhecimento e realizaçã o no
plano afetivo.
c) Pela qualidade inequívoca da sua linguagem
d) Por destacar o grave problema social da miséria extrema.
e) Por tratar de temas como uso de orfandade, homosexualidade,
adultério.

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