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PARNASIANISMO

1. Considerando este soneto de Olavo Bilac e a relação entre poesia, música e sociedade,
assinale o que for correto.

Música brasileira

Tens, às vezes, o fogo soberano


Do amor: encerras na cadência, acesa
Em requebros e encantos de impureza,
Todo o feitiço do pecado humano.

Mas, sobre essa volúpia, erra a tristeza


Dos desertos, das matas e do oceano:
Bárbara poracé, banzo africano,
E soluços de trova portuguesa.

És samba e jongo, xiba e fado, cujos


Acordes são desejos e orfandades
De selvagens, cativos e marujos.

E em nostalgias e paixões consistes,


Lasciva dor, beijo de três saudades,
Flor amorosa de três raças tristes.

A) Na linguagem ufanista que o poeta adota nesse soneto para descrever a música
brasileira, transparece a versão amenizada da história da formação nacional veiculada pela
poesia parnasiana: a música brasileira é a reunião pacífica, igualitária e harmoniosa das três
raças formadoras do povo brasileiro.
B) A estrutura do soneto baseia-se na reiterada referência a três blocos temáticos
representantes das etnias formadoras do povo brasileiro: “Bárbara poracé”, “banzo
africano” e “trova portuguesa”; correspondem ao primeiro bloco as “matas”, a “xiba” e os
“selvagens”; ao segundo, os “desertos”, o “samba” e os “cativos”; ao terceiro, o “oceano”, o
“fado” e os “marujos”.
C) Depreende-se da leitura da primeira estrofe do poema que, todas as vezes em que a
música brasileira está associada ao fogo soberano do amor, ela encerra os encantos da
impureza, que são quaisquer feitiços do pecado humano.
D) No início da segunda estrofe, o emprego do conector “Mas” estabelece sintaticamente
relação de contraste entre “volúpia” e “tristeza”.
E) Na última estrofe do poema, as três expressões que exercem a função sintática de
vocativo se harmonizam com o emprego da 2.ª pessoa ao longo do soneto.

Leia este poema de Olavo Bilac para responder às questões 2 e 3:

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Velhas árvores

Olha estas velhas árvores, mais belas,


Do que as árvores novas, mais amigas:
Tanto mais belas quanto mais antigas,
Vencedoras da idade e das procelas...

O homem, a fera, e o inseto, à sombra delas


Vivem, livres de fomes e fadigas;
E em seus galhos abrigam-se as cantigas
E os amores das aves tagarelas.

Não choremos, amigo, a mocidade!


Envelheçamos rindo! envelheçamos
Como as árvores fortes envelhecem:

Na glória da alegria e da bondade,


Agasalhando os pássaros nos ramos,
Dando sombra e consolo aos que padecem!

2. Assinale a opção correta.

A) As árvores novas são mais belas e amigas que as antigas.


B) O homem e os animais vivem melhor à sombra das velhas árvores, porque elas lhes
fornecem alimento para o corpo e para o espírito.
C) Ao afirmar que nos galhos das velhas árvores “abrigam-se as cantigas”, o poeta refere-
se às crianças que gostam de brincar em cima das árvores.
D) Os homens devem chorar a efemeridade da juventude porque, com o passar dos anos,
eles, como as velhas árvores, perdem a força física para enfrentar os percalços da vida.
E) Na última estrofe, o poeta aconselha os idosos a escolherem, para passar o tempo, uma
atividade agradável como a criação de pássaros.

3. Assinale o que for correto.

A) O poema Velhas árvores é um texto eminentemente descritivo, sem qualquer implicação


filosófica.
B) Considerando-se o conteúdo e a forma do texto bilaquiano — soneto decassílabo —, é
correto afirmar que o poema Velhas árvores está mais próximo da tradição poética em
língua portuguesa do que do Parnasianismo ortodoxo.
C) A forma poética preferida dos poetas parnasianos era o soneto.
D) A chamada Trindade Parnasiana era formada por Alberto de Oliveira, Raimundo Correia
e Olavo Bilac.

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E) Apesar de ter surgido na França, e de se ter espalhado por outros países, foi no Brasil que
o Parnasianismo obteve maior prestígio e teve a sua expressão mais acabada.

Leia este soneto de Alberto de Oliveira para responder às questões 4 e 5:

Vaso grego

Esta, de áureos relevos, trabalhada


De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que a suspendia


Então e, ora repleta ora esvazada,
A taça amiga aos dedos seus tinia
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas o lavor da taça admira,


Toca-a, e, do ouvido aproximando-a, às bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira


Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa a voz de Anacreonte fosse.

4. Julgue os itens a seguir: C (Certo) e E (Errado).

A) No período em que o Parnasianismo se destacou, o Brasil, especialmente o Rio de


Janeiro, vivia forte influxo de modernização tardia em relação aos centros europeus, o que
incentivou o consumo de mercadorias culturais luxuosas, mas desligadas da realidade local.
Assim, verifica-se que a recorrência a temas advindos da Antiguidade Clássica era a
correspondência estética dessa tendência manifestada na objetividade social brasileira.
B) O refinamento da linguagem e as formas labirínticas dos versos do soneto Vaso grego
atestam o quanto a poesia parnasiana no Brasil, país de desigualdade social, asseverou a
distância entre a língua falada e a escrita.
C) A temática abordada no soneto Vaso grego é representativa da tendência atribuída pela
crítica literária ao Parnasianismo no Brasil: a descrição apaixonada de objetos antigos, por
meio da qual se expressava, de forma evidente, a subjetividade do eu lírico.

5. A partir da leitura do soneto Vaso grego, assinale a opção correta a respeito do


tratamento estético conferido aos mitos antigos pela poética parnasiana.

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A) A recorrência a temas mitológicos atraía o leitor comum e amenizava os efeitos de
distanciamento impostos a ele pelo rebuscamento da linguagem parnasiana.
B) Os mitos antigos são atualizados na poesia parnasiana e recebem um significado poético
novo, que promove a ruptura efetiva com o passado e a tradição mítica.
C) O tratamento estético dos mitos gregos na poesia parnasiana aproxima o antigo mundo
mitológico dos problemas imediatos e concretos da vida social brasileira.
D) A presença de elementos da arte e da mitologia gregas no soneto apresentado está de
acordo com uma máxima do Parnasianismo: a arte pela arte.

6. Com base na leitura do soneto de Alberto de Oliveira, assinale a opção correta no que diz
respeito à estrutura, ao tema e aos aspectos da produção poética parnasiana no Brasil.

Vaso Chinês

Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,


Casualmente, uma vez, de um perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um bordado.

Fino artista chinês, enamorado,


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,


Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura;

Que arte em pintá-la! A gente acaso vendo-a


Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

A) No poema, o vaso chinês é descrito de forma objetiva, distante e fria, desprezando-se o


detalhe em favor da produção da cena estática.
B) A estética da arte pela arte adotada por Alberto de Oliveira no poema valoriza a
plasticidade da forma literária.
C) A predileção pelo soneto e pelos ritmos medievais vincula esse poema à tradição lírica
romântica.
D) No poema, é rejeitada qualquer temática do cotidiano, evidenciando-se tratamento
estético grandioso.
E) O poema caracteriza-se pela ausência absoluta do eu lírico e de qualquer referência ao
sentimento amoroso.

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Leia este soneto de Raimundo Correia para responder às questões 7 a 11:

Anoitecer

Esbraseia o Ocidente na agonia


O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e de púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se, além, da serrania


Os vértices de chama aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia...

Um mundo de vapores no ar flutua...


Como uma informe nódoa, avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua...

A natureza apática esmaece...


Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula... Anoitece.

7. Que processo o soneto de Raimundo Correia retrata?

8. Há no soneto menção a um sentimento que permeia e circunda a natureza retratada.


Que sentimento é esse? Do que decorre tal sentimento?

9. Verifica-se na terceira estrofe a ocorrência de uma antítese. Que termos configuram essa
antítese?

10. Transcreva da primeira estrofe um exemplo de personificação. Justifique sua resposta.

11. Cite duas características que permitem filiar esse soneto à estética parnasiana.

12. Leia este soneto de Raimundo Correia.

Mal secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’aIma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

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Se se pudesse, o espirito que chora,
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!
Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!
Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!
Coerente com a proposta parnasiana de cuidado formal e racionalidade na condução
temática, o soneto de Raimundo Correia reflete sobre a forma como as emoções do
indivíduo são julgadas em sociedade. Na concepção do eu lírico, esse julgamento revela
que
A) a necessidade de ser socialmente aceito leva o indivíduo a agir de forma dissimulada.
B) o sofrimento íntimo torna-se mais ameno quando compartilhado por um grupo social.
C) a capacidade de perdoar e aceitar as diferenças neutraliza o sentimento de inveja.
D) o instinto de solidariedade conduz o indivíduo a apiedar-se do próximo.
E) a transfiguração da angústia em alegria é um artifício nocivo ao convívio social.

Leia este soneto de Francisca Júlia para responder às questões 13 e 14.


Sonho africano
Ei-lo em sua choupana. A lâmpada, suspensa
Ao teto, oscila; a um canto, um velho e ervado fimbo;
Entrando, porta dentro, o sol forma-lhe um nimbo
Cor de cinábrio em torno à carapinha densa.

Estira-se no chão... Tanta fadiga e doença!


Espreguiça, boceja... O apagado cachimbo
Na boca, nessa meia escuridão de limbo,
Mole, semicerrando os dúbios olhos, pensa...

Pensa na pátria, além... As florestas gigantes


Se estendem sob o azul, onde, cheios de mágoa,
Vivem negros reptis e enormes elefantes...

Calma em tudo. Dardeja o sol raios tranquilos...


Desce um rio, a cantar... Coalham-se à tona d’água

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Em compacto apertão, os velhos crocodilos…

13. Assinale o que for correto.

A) A descrição do que é a antítese do “sonho africano” concentra-se nos dois primeiros


quartetos do poema, nos quais o eu lírico apresenta a sua história.
B) A forma do soneto articula-se à composição temática do poema, na medida em que, nos
quartetos, se investe na descrição do espaço degradado em que se encontra o homem
negro e, nos tercetos, apresenta-se a idílica paisagem de sua pátria de origem.
C) O modo de lidar com a métrica, o ritmo, as rimas e a estrofação no poema, assim como a
busca pela descrição nítida de pessoas, objetos e paisagens, são características que, mesmo
não sendo exclusivas do Parnasianismo, foram largamente adotadas pelo movimento
literário.
D) Na quarta estrofe do poema, os termos “o sol” e “um rio” exercem a mesma função
sintática: são os sujeitos dos verbos que os antecedem.
E) As reticências empregadas no primeiro e no segundo verso do último terceto do poema
poderiam ser substituídas por ponto final, sem prejuízo da dimensão expressiva do poema
e de sua estrutura sintática.

14. No soneto apresentado, classifica-se como verbo o termo

A) “fadiga” (segunda estrofe).


B) “boceja” (segunda estrofe).
C) “Calma” (última estrofe).
D) “apertão” (última estrofe).

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