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PARNASIANISMO

(final de 1870 – 1922)

“Não há nada mais belo do que algo que não serve


para nada”
O nome parnasianismo surgiu na
França e deriva do termo "Parnaso",
que na mitologia grega era o monte
do deus Apolo e das musas da
poesia.
Parnasianismo é o nome que se dá à
produção poética mais importante da época
realista/naturalista. O movimento parnasiano
divulgava poemas que revelavam uma nova
maneira de escrever, oposta à subjetividade, à
emotividade e à idealização; é a convergência de
ideais anti-românticos, como a objetividade no
trato dos temas e o culto da forma.
Ao escrever poesia, os parnasianos tinham
na cultura greco-romana clássica o seu ponto de
referência. Recuperavam, portanto, os
princípios da poesia clássica rejeitados pelos
românticos.
Um dos princípios norteadores dos
parnasianos era a “arte pela arte”, ou
seja, a concepção de que a arte deve
estar descompromissada da realidade,
procurando atingir sobretudo a
perfeição formal, sem se preocupar com
questões sociais, políticas, econômicas
ou religiosas.
No Brasil, o Parnasianismo
teve início com publicação da
obra Fanfarras, de Teófilo Dias,
em 1882.
Os poetas parnasianos
brasileiros representativos são:
Alberto de Oliveira, Raimundo
Correia e Olavo Bilac – que
formam a famosa “tríade ou
trindade parnasiana”.
CARACTERISTICAS

1) OBJETIVISMO E IMPESSOALIDADE
O poeta deve ser neutro diante da realidade,
esconder seus sentimentos, sua vida pessoal. A
confissão íntima e o extravasamento subjetivo,
tão caros aos românticos, são vistos como
inimigos da poesia. O Eu precisa se apagar frente
do mundo objetivo
2) ARTE PELA ARTE

 Os parnasianos ressuscitam o preceito latino de que a


arte é gratuita, que só vale por si própria. Ela não tem
nenhum sentido utilitário, nenhum tipo de
compromisso.
3) CULTO DA FORMA

 O resultado da visão descompromissada é a


celebração dos processos formais do poema. A
verdade de uma obra de arte passa a residir apenas
em sua beleza. E a beleza é evidenciada pela
elaboração formal.

VERDADE = BELEZA = FORMA


POESIA

 A mitologia da perfeição formal constitui o alvo e a


angústia básica dos parnasianos. A beleza deve ser
alcançada a qualquer custo e o artista sente-se,
muitas vezes, impotente para a realização desta
tarefa.
Poesia

 a) Metrificação rigorosa
Os versos devem ter o mesmo número de sílabas
poéticas, preferencialmente doze sílabas (versos
alexandrinos), os preferidos na época.
b) Rimas ricas

 Os poetas devem evitar as rimas pobres, isto é,


aquelas estabelecidas por palavras da mesma classe
gramatical, como substantivo com substantivo,
adjetivo com adjetivo, etc. No período há uma
ênfase no tipo de rima ABAB para as estrofes de
quatro versos, isto é o primeiro verso rima com o
terceiro, o segundo com o quarto.
c) Preferência pelo soneto

 Os parnasianos reivindicam a tradição clássica do


soneto, composição poética de quatorze versos -
articulada obrigatoriamente em dois quartetos e dois
tercetos - e que se encerra com uma "chave de
ouro", espécie de síntese do poema, manifesta tão
somente no último verso.
d) Descritivismo

 Eliminando o Eu, a participação pessoal e social, só


resta ao parnasiano uma poética baseada no mundo
dos objetos, objetos mortos: vasos, colares, muros, etc.
São pequenos quadros, fortemente plásticos (visuais),
fechados em si mesmos, com grande precisão
vocabular e freqüente superficialidade.
TEMÁTICA GRECO-ROMANA

 Apesar de todo o esforço, os parnasianos não


conseguem articular poemas sem conteúdo e são
obrigados a encontrar um assunto desvinculado no
mundo concreto para motivo de suas criações.
Escolhem a Antigüidade Clássica, aspectos de sua
história e de sua mitologia.
A "Tríade Parnasiana": Olavo Bilac,
Raimundo Correia e Alberto de Oliveira
 Nasceu no Rio de Janeiro, em 1865.
 Bilac foi um poeta brilhante. Aliou uma
destreza técnica de perito à sutileza de
espírito, ao olhar lírico dos grandes poetas.
Apesar de ter escrito poemas
absolutamente parnasianos, na maior parte
de sua produção o que se vê é o rigor
formal aliado a uma sensibilidade quase em
tudo romântica. Em muitos momentos ele
questiona a eficiência da palavra para
expressar os estados da alma.
 Morreu em 1918.
 Olavo Bilac foi um dos mais louvados poetas de seu tempo, e ainda
hoje tem prestígio. Foi um artífice da palavra, sabendo conjugar o
rigor formal parnasiano com grande expressividade, obtendo efeitos
imagéticos e ritmos interessantes, depositando no último terceto de
seus sonetos a síntese de suas idéias, a chamada “chave de ouro”.
Seus temas mais frequentes são:
Amor sensual: vazado num erotismo que oscila entre o explícito
e o requintando; mas essa sensualidade não vulgariza o amor, que
sempre aparece como sentimento nobre e transcendente.
O nacionalismo: em que o autor revela seu conservadorismo;
episódios da história do Brasil e suas personagens são frequentes
nessas poesias.
A mitologia greco-latina: assiduamente abordada pelo poeta.
A metalinguagem: eleição da própria poesia como tema poético,
está entre as preferências de Bilac.
O índio: aparece em sua obra como um eco romântico tardio.
Um certo decadentismo da vida e das coisas é também uma das
tônicas de sua poesia.
AUTOR DA LETRA DO HINO À BANDEIRA
LÍNGUA PORTUGUESA
Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura,


Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!"
E em que Camões chorou, no exílio
amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!
A UM POETA
Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino escreve! No aconchego
Do claustro, na paciência e no sossego,
Trabalha e teima, e lima , e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço: e trama viva se construa
De tal modo, que a imagem fique nua
Rica mas sóbria, como um templo grego
Não se mostre na fábrica o suplicio
Do mestre. E natural, o efeito agrade
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade.
Ora (direis) ouvir estrelas!

XIII
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-Ias, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto ...
E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em
pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."
 Nasceu em Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro, em 1857.
 Em seu primeiro livro, Canções Românticas, a influência do
Romantismo é nítida, mas, apesar disso, nota-se que ele prioriza o
rigor formal e já apresenta certa contenção emocional, a partir de
Meridionais, abraça o ideário parnasiano ao qual se manteria fiel, e
algumas nuanças simbolistas em suas obras finais. Isso não impediu
que ele fosse tido pela crítica como o mais radical dos nossos
parnasianos.
 Morreu em Niterói, em 1937.
Vaso Grego
Esta de áureos relevos, trabalhada
De divas mãos, brilhante copa, um dia,
Já de aos deuses servir como cansada,
Vinda do Olimpo, a um novo deus servia.

Era o poeta de Teos que o suspendia


Então, e, ora repleta ora esvasada,
A taça amiga aos dedos seus tinia,
Toda de roxas pétalas colmada.

Depois... Mas, o lavor da taça admira,


Toca-a, e do ouvido aproximando-a, às
bordas
Finas hás de lhe ouvir, canora e doce,

Ignota voz, qual se da antiga lira


Fosse a encantada música das cordas,
Qual se essa voz de Anacreonte fosse.

Alberto de Oliveira
Vaso Chinês
Estranho mimo aquele vaso! Vi-o,
Casualmente, uma vez, de um
perfumado
Contador sobre o mármor luzidio,
Entre um leque e o começo de um
bordado.

Fino artista chinês, enamorado,


Nele pusera o coração doentio
Em rubras flores de um sutil lavrado,
Na tinta ardente, de um calor sombrio.

Mas, talvez por contraste à desventura,


Quem o sabe?... de um velho mandarim
Também lá estava a singular figura.

Que arte em pintá-la! A gente acaso


vendo-a,
Sentia um não sei quê com aquele chim
De olhos cortados à feição de amêndoa.

Alberto de Oliveira
 Nasceu no Maranhão (baía de Mongúcia), em 1860.
 Seu livro de estréia, Primeiros Sonhos, traz poemas sentimentais,
ainda sob influência romântica. A partir do segundo, Sinfonias, Raimundo
Correia rendeu-se aos ideais da estética parnasiana, tornando-se um de
seus melhores representantes em língua portuguesa, não apenas pelo
apurado requinte formal, mas também pela profundidade com que
desenvolveu seus temas.
 Soube driblar a impessoalidade proposta pelo
Parnasianismo e atingir o universalismo,
desenvolvendo temas sociais e, sobretudo,
filosóficos : a busca de uma verdade essencial e
imorredoura, os conflitos da condição humana,
etc. Seus poemas têm uma suavidade e uma
melancolia acalentadas pela influência de
Schopenhauer, pensador alemão que acreditava
que a arte é a sublimação da dor, e o
sofrimento é inerente à condição humana.
 Morreu em Paris, em 1911, de problemas
renais.
AS POMBAS
Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais...mais outra...enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sangüínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem...Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...

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