Você está na página 1de 2

A Árvore das Palavras

Teolinda Gersão nasceu em Coimbra em 1940, estudou em Portugal e


na Alemanha. Viveu 2 anos no Brasil e conheceu Moçambique, sobretudo
Lourenço Marques (hoje Maputo), que é o espaço de ação de A árvores
das palavras. Foi professora universitária na Alemanha e em Portugal,
mas a partir de 1995 passou a dedicar-se exclusivamente à literatura.
Ganhou os principais prémios literários portugueses. Alguns dos seus
livros foram adaptados ao teatro e encenados em Portugal, Alemanha e
Roménia.

A Árvore das Palavras foi publicado em 1997. É dividido em 3 partes com


narradores diferentes: na 1ª, Gita narra a sua infância e na 3ª, a passagem da
adolescência para a vida de adulta, na 2ª, um narrador na 3ª pessoa narra a história de
Amélia - mãe de Gita.

Este romance conta a história da família de Gita, uma rapariga, cujos pais, nascidos
em Portugal, mudam-se para a cidade de Lourenço Marques, capital de Moçambique.
Os pais conhecem-se de forma original: Amélia, a mãe, após viver uma desilusão
amorosa, lê no jornal um anúncio em que Laureano, o pai, procura uma esposa
portuguesa para viver com ele em África. Amélia resolve aceitar a proposta de Laureano
e vai para Moçambique. Gita nasce desse casamento.

Na 1ª parte da obra, Gita é o narrador autodiegético - narrador que participa na


história como protagonista, revelando as suas próprias vivências - que ao narrar a sua
infância, mostra que Amélia não gosta de África, nem dos nativos, e por isso faz
questão de deixar bem separado o que era, na sua opinião, ser africano e ser português.
Existe um grande contraste entre Amélia, sua mãe que ela rejeita, e Lóia, sua ama de
leite negra, com quem Gita se identifica. Lóia é a figura da mulher que espera, que tem
paciência, que segue o ritmo do mundo, enquanto que Amélia é a mulher que quer
mudar tudo.

Na 2ª parte, o narrador é heterodiegético - narrador exterior à história, tem uma


função meramente narrativa, relata os acontecimentos - que foca a narrativa na vida de
Amélia, mostrando os seus desejos de ascensão social e as frustrações decorrentes dessa
impossibilidade. É aqui que conhecemos um aspeto de Amélia que nem Gita conhecia,
ela vive num mundo de imaginação e fantasia, repleto de máscaras e mentiras, tal como
Gita que passa a vida a imaginar e a sonhar com outro mundo (noutra realidade).

Amélia decide criar uma personagem que vai interpretar, Patrícia Hart, a partir de um
recorte de jornal, para um português que vivia na Austrália e estava à procura de esposa.
Começa a corresponder-se com ele fingindo sempre ser outra pessoa. Amélia não
pretendia encontrar outro homem, simplesmente gostava de se disfarçar de Patrícia e ir
ao correio buscar as respostas de Bob Pereira. Amélia decide abandonar a família,
passando a ser apenas uma miragem para Gita. Não levou quase nada consigo quando
foi para a Austrália, deixando tudo para trás, e quando a menina encontra os pertences
esquecidos, pensa que a mãe podia tê-los deixado para que ela pudesse recuperar a sua
imagem, como peças de um puzzle. Gita percebe que Amélia repete a sua história, deixa
uma vida que não deu certo para ir viver o que era apenas uma aventura.

Na 3ª parte, Gita é novamente o narrador autodiegético, agora com 17 anos. Recorda-


se da sua adolescência e expressa o que sente em relação à mãe, a raiva que tem por ela
e que não se sente sua filha, não quer usar as roupas arranjadas como Amélia, nem
dançar balé clássico, prefere Lóia, usar a capulana e dançar descalça no quintal. Ao
reunir os pertences da mãe, acaba criando uma "nova Amélia" para si. Gita fala também
sobre a situação político-social do país em que vive - o eclodir da Guerra Colonial - e é
quando decide ir embora para Portugal, viver em casa do irmão do seu pai e estudar em
Lisboa.

Neste romance, é abordado o tema do racismo, entre Amélia e os negros nativos, e as


adversidades que estes sofrem. É também referida a discriminação para com a mulher
africana que possui uma cultura que a inferioriza e a maltrata pela sua condição de ser
mulher e esta ainda é considerada diferente das mulheres europeias, que possuem
estigmas de como se comportarem para serem alguém dentro da sociedade.

Você também pode gostar