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LEITURA DE “A MOÇA TECELÔ, DE MARINA COLASANTI: UMA PROPOSTA

PARA A SALA DE AULA

Maria do Socorro Nunes Ferreira


Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande-PB

Introdução

O feminismo foi um movimento político abrangente, que se iniciou em meados do


século XIX e apresentava como objetivo principal reverter a situação de inferioridade da
mulher na sociedade, através de reformas em seus diferentes espaços, caracterizado pela
reivindicação e luta por direitos. Nesse período histórico, a mulher estava restrita à esfera
doméstica, e reforçavam-se concepções tradicionais da inferioridade feminina. Foi, então,
fundamental para a conscientização da capacidade da mulher e conquista de direitos, tais
como a igualdade, a educação e o voto. No entanto, mesmo com o considerável avanço da
situação das mulheres, elas ainda sofrem nos dias atuais com a discriminação, violência,
salários menores, em razão de valores culturais advindos do patriarcalismo. O objetivo da
pesquisa é fazer uma leitura do conto A Moça Tecelã, de Marina Colasanti, sob a perspectiva
da crítica feminista e propor uma abordagem do mesmo para a sala de aula, com alunos do
ensino médio. Para tanto, fundamenta-se nas considerações de Zolim (2009) sobre a crítica
feminista e de Pinsky & Pedro (2003), que tratam da conquista da cidadania pelas mulheres.

Fundamentação

A PERSPECTIVA DA CRÍTICA FEMINISTA - é uma vertente da crítica literária, que se


caracteriza pelas reflexões sobre o espaço relegado à mulher na sociedade e as consequências
no âmbito literário, tendo como objetivos a transformação da condição de submissão e o
rompimento com esse tipo de discurso. Destacam-se como suas precursoras: Virgína Wolf,
que na obra “A room of one’s own”, de 1929, explica que para a mulher escrever ficção ou
prosa de qualidade necessita de um “teto todo seu”, em que possa trabalhar em paz e de uma
renda anual capaz de lhe garantir independência; Simone de Beauvoir, que em “Le deuxième
sexe”, de 1949, observa a situação de opressão da mulher, que é vista sempre como escrava (o
outro), enquanto o homem é considerado o senhor, e alerta para o risco da armadilha do
casamento; Kate Millet, que em “Sexual politics”, de 1970, questiona a prática acadêmica
patriarcal caracterizada pela situação de posição secundária ocupada pelas heroínas dos
romances de autoria masculina, como também pelas escritoras e críticas literárias e observa
nas obras literárias canônicas os estereótipos culturais da mulher sedutora, perigosa e imoral,
mulher indefesa e incapaz, e mulher como anjo capaz de se sacrificar pelos que a cercam.

O CONTO - É um conto de fadas moderno, escrito pela autora Marina Colasanti, que retrata a
estória de uma moça que passava os dias trabalhando intensamente em um tear, mas se
encontrava em harmonia com o mundo. Em um segundo momento, ela passa a sentir
necessidade de ter um marido e filhos. No entanto, o homem ao descobrir o poder do tear,
passou a apresentar desejos materiais cada vez maiores (uma casa maior, um palácio,
estrebarias) e a moça passou a consumir todos os seus dias trabalhando para satisfazê-lo e
começou a se sentir triste. Em um terceiro momento, a moça tomou a iniciativa de desfazer
todos os bens que tinha tecido e até o companheiro. A partir daí ela restaura sua harmonia e
volta a viver feliz. Fazendo uma leitura do conto com a perspectiva da crítica feminista,
observamos a presença da temática da mulher na sociedade contemporânea, em que o
casamento e a construção de uma família não são os únicos caminhos para a sua realização.

Muitas mulheres casam-se, separam-se, sustentam a casa sozinhas. Enquanto nos contos de
fadas clássicos, o casamento é considerado a solução do conflito e apresentado como o final
feliz, no conto em análise, o casamento é a causa do conflito. Além disso, a figura do tear
remete à época da Revolução Industrial, em que a mulher sai para o mercado de trabalho e
começa a enfrentar os problemas de exploração da sua força de trabalho, além do assédio
sexual e da desigualdade salarial com os homens, e coincide com o surgimento dos
movimentos para a reivindicação de seus direitos.

Metodologia

A ABORDAGEM EM SALA DE AULA - Será realizada em uma turma de 3º ano do ensino


médio, em duas aulas, com duração de 50 minutos cada uma. Na primeira aula, inicialmente,
será feita uma leitura silenciosa, sendo solicitado que os alunos destaquem as partes do texto
que consideram importantes. Em seguida, uma leitura compartilhada, em que a professora
como mediadora irá trabalhar a leitura oral e motivará a discussão a partir das seguintes
questões: 1.Quais os principais personagens do conto? 2.Como era a rotina da moça tecelã? 3.
De que a moça tecelã passou a sentir falta? 4.O que o homem descobriu? Como era a sua
atitude em relação à mulher? 5. Como a mulher passou a se sentir depois que o homem entrou
em sua vida? 6. Qual o desfecho do conto? 7. Em que o conto “A Moça Tecelã” difere dos
contos de fadas clássicos que você conhece? 8. O conto apresenta algum tema relacionado aos
dias atuais? A segunda aula será do tipo expositiva, com realização da seguinte sequência:
Explicações sobre o tema do feminismo; Exposição da análise do conto sob a perspectiva da
crítica feminista e com a referência à análise dos elementos da narrativa,figuras de linguagem,
temáticas abordadas, aspectos estilísticos utilizados pela autora; Breve apresentação sobre a
vida e obra de Marina Colasanti; E apresentaremos como proposta para atividade a ser
realizada em casa, a produção textual de um texto dissertativo, com a seguinte temática: o
papel da mulher na sociedade contemporânea, enfatizando aspectos como a sua autonomia,
atuação no mercado de trabalho, casamento e principais dificuldades enfrentadas nos dias
atuais.

Conclusão

O conto apresenta a possibilidade de leitura através da perspectiva da crítica feminista, pois


apresenta temáticas referentes à opressão da mulher pelo homem, exploração do seu trabalho,
ao casamento, com a proposta de reversão do papel inicial de subordinação. Pode ser utilizado
em sala de aula para trabalhar o tema do feminismo e da mulher na sociedade contemporânea
abordando questões como a sua autonomia, inserção no mercado de trabalho e problemas
enfrentados por essas nos dias atuais como o divórcio, a dupla jornada de trabalho, a
exploração sexual. Desse modo, é relevante a abordagem e reflexão sobre o tema em sala de
aula, considerando o papel de conscientização e educação da escola e o poder de
transformação social que o professor detém.

Referências

COLASANTI. Marina. A Moça Tecelã. São Paulo: Global Editora. 2004.

DUARTE, Constância Lima; ASSIS, Eduardo de; BEZERRA, Kátia da Costa. (Org.). Gênero
e representação: teoria, história e crítica. Belo Horizonte: Pós-graduação em Letras. Estudos
Literários, UFMG, 2002.

PINSKY, Carla Bassanezi; PEDRO, Joana Maria. Mulheres: Igualdade e Especificidade. In:
PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi. (Org.). História da Cidadania, São Paulo:
Contexto, 2005. p. 265-304.

ZOLIN, Lúcia Osana. Crítica Feminista. In: BONNICI, Thomas. ZOLIN, Lúcia Osana.
(Org.).Teoria Literária: Abordagens Históricas e Tendências Contemporâneas, Maringá:
Eduem, 2009. p. 218-242.

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