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Mulher e sociedade: Como podemos compreender as mulheres à luz de seus

direitos sociais na contemporaneidade?

Daryane Ariel Souza


Marília Kazmierczak
Rafaella Couto

“A mulher tem uma única via para superar o homem:


ser mais mulher a cada dia.” (Ángel Ganivet)

RESUMO: O artigo pretende mostrar o papel da mulher na sociedade antiga e atual.


Houve mudanças significativas na vida da mulher e na forma como ela é vista tanto
pelos homens como por elas mesmas. As mulheres descobriram seu real valor,
destacaram-se em áreas até então consideradas exclusivas ao mundo masculino.
As mulheres descobriram-se ao longo dos séculos e o artigo mostrará algumas de
suas lutas e conquistas. Veremos a disputa entre os gêneros, a vontade de
conquistar a equidade e a aceitação de que homens e mulheres não são iguais mas
podem ter os mesmos direitos.

Palavras-chaves: Mulheres. Feminismo. Sociedade. Equidade.

ABSTRACT: The article pretends to show the role of the woman in society and the
difference of the ‘old’ times to the current. There were significant changes in woman’s
life and how she’s seen through not only man’s eyes, but their own. They’ve found
their own value, stood out in areas hitherto considered only for males. Woman found
themselves along the centuries and the paper will show some of their fights and
achievements. The War between genres, the will to win fairness, the acceptances
they are not equal to men.

Keywords: Women. Feminism. Society. Equity.

1 INTRODUÇÃO

Neste artigo, estará descrita, de forma clara e direta, a história dos


movimentos feministas e as mudanças ocorridas com a imagem da mulher na

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sociedade no transcorrer das décadas. Aparecerão reflexões sobre a visão imposta
pela mídia, a herança cultural machista, o movimento feminista e sua luta pela
equidade entre os gêneros contrastando com o modelo de submissão e invisibilidade
imposto às mulheres em geral, a liberação sexual e a mulher na
contemporaneidade.
Abordamos esse tema, porque compreendemos a importância do papel da
mulher na sociedade e o quão difícil foi, e continua sendo, esse processo de
valorização da imagem feminina desde o passado remoto até os dias de hoje. É
essencial estarmos cientes do preconceito, que ainda existe, mas que é muito menor
do que era no passado.
Pretendemos, portanto, através dessa pesquisa, conhecer a história das
corajosas mulheres que decidiram, com os movimentos feministas pioneiros, exigir
seus direitos e lutar pela independência das mulheres. E, também, temos como
objetivo principal que os leitores reflitam sobre como o sexo feminino é visto,
pensado, criticado e tratado na atualidade, seja na mídia, nas ruas ou dentro de sua
própria família.
Através deste artigo, poderemos ter uma nova visão do que aconteceu
historicamente e das mudanças que ocorreram até agora. Com esses objetivos
alcançados, poderemos pensar sobre como será, no futuro, a mulher na sociedade e
planejar ações que respeitem e valorizem cada vez mais a presença feminina neste
contexto.

2 MOVIMENTO FEMININO E OS DIREITOS DA MULHER

Impor um único jeito de ser mulher atualmente é impossível. Mas, no


passado, não era assim. Era comum que as mulheres ficassem em casa,
encarregadas de trabalhos menos perigosos que os homens e dedicadas à criação

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dos filhos. Dentre suas tarefas estava a organização da casa e a manutenção do
relacionamento amoroso e familiar.
Nas sociedades agrícolas antes de Cristo, as mulheres eram incumbidas de
gerar filhos, cuidar deles e fazer pequenos trabalhos com animais ou plantações.
Esse contexto continuou até o início do capitalismo, quando as fábricas começaram
a admitir mulheres por serem uma força de trabalho mais barata – ainda mais em
tempos de crise.
Hoje, as mulheres geram filhos, cuidam deles e do lar, trabalham fora de
casa, pagam contas, votam, ganham salários e continuam sendo discriminadas. No
mundo do trabalho e da participação política, arranjar uma brecha para dar opinião
ou garantir um salário melhor nunca foi fácil, muito menos para as mulheres que
eram vistas como servas do lar e da procriação.
Os direitos adquiridos pelas mulheres não vieram de uma hora para outra,
são fruto de uma longa jornada de embates. Foram necessários protestos,
passeatas, mulheres corajosas e determinadas para garantir o direito de trabalhar ao
lado de homens e ganhar dinheiro.
A visão de que as mulheres não tinham espaço no mundo do pensar não se
materializou sozinha. A história de Atena, deusa da sabedoria, da indústria, da arte e
da guerra, não é exatamente um exemplo da força da mulher. Atena é filha apenas
de Zeus, que ao ter uma terrível dor de cabeça pediu à Hefesto – deus do fogo –
que lhe abrisse o crânio e de lá saltou Atena já em sua forma adulta.
O significado da história de Atena é bastante rico quando se pensa no
sentido da deusa, justamente da sabedoria, ter saído da cabeça de um homem.
Como se toda opinião formada por ela, todas as ideias e pensamentos fossem
copiados da cabeça dele, fossem aceitos de forma que ela tivesse a instrução de
segui-lo para sempre sem opinar sobre nada.
A submissão de forma mascarada torna-se evidente quando olhada de
perto. Em muitos lugares e lares, uma das faces da história de Atena repete-se
quando maridos impõem regras às mulheres, obrigam-nas a satisfazê-los, agridem-
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nas. A submissão da mulher ao homem acontece em casa, no trabalho, na rua, na
política, na filosofia. Procurando um pouco mais sobre a história da mulher, no
Mundo Grego, foi fácil encontrar o mito que conta a história da criação da mulher.
Prometeu havia entregado aos homens a capacidade de controlar o fogo, o
que deixara Zeus muito irritado. Decidido a se vingar de Prometeu, Zeus cria a
mulher, que é renegada pelo ‘traidor’, pois pensava ser aquilo apenas parte da
vingança. Zeus dá Pandora (a mulher) a Epimeteu (irmão de Prometeu). Junto com
a bela mulher é entregue uma caixa – um recipiente que contém todos os males da
humanidade – e o alerta para que esta nunca fosse aberta. Pandora, por ser muito
curiosa, abre a caixa enquanto o marido dorme um sono profundo. Ali são libertos
todos os males da humanidade.
A culpa dos males existentes no Mundo é das mulheres segundo os Gregos.
A característica curiosa e descuidada é das mulheres. Graças aos Gregos a busca
por equidade entre os sexos ficou ainda mais difícil. Como confiar em alguém que
por curiosidade libertou os piores sentimentos e, de quebra, foi criada como
vingança.
Independentes destas alegorias negativas contra o feminino, são infindáveis
os exemplos de superação e os feitos que cada uma das mulheres, engajadas na
luta por direitos, deixou para a sociedade. O primeiro jornal feminista do país foi
criado em 1852, por Violante Bivar e Velasco. O chamado Jornal das Senhoras
trazia como proposta a promoção de um espaço para o compartilhamento de ideias,
mostrando que as mulheres eram bem mais que um corpo esculpido através da
costela de um homem. Em síntese, queriam mostrar que elas também eram capazes
de ter opinião, utilizar a razão e elaborar pensamento próprio.
As mulheres brasileiras conquistam o direito ao voto em 1932, e em 1934 é
eleita a primeira deputada mulher. Carlota Pereira Queiróz elaborou o primeiro
projeto sobre a criação de serviços sociais e pensou a emenda que viabilizou a
fundação da Casa do Jornaleiro e o Laboratório de Biologia Infantil. Formada em

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Medicina, depois de sair da política, criou a Academia Brasileira de Mulheres
Médicas, em 1942, e foi presidente desta instituição por alguns anos.
A década de 1960 foi importante para a história das mulheres. Muitas
começaram a trabalhar em fábricas e, esqueceu-se um pouco, da característica
necessária que toda mulher era obrigada a ter: a de dona do lar. Os movimentos
feministas dessa época não se limitavam ao voto ou ao salário, mas, a um lugar na
sociedade onde julgamentos não fossem feitos o tempo todo. Estes são alguns
exemplos de lutas, superações e pedaços da história que contaram com a
participação das mulheres.
A revolta das mulheres, a vontade de defender seus direitos e a necessidade
de mostrar para o mundo a capacidade feminina, formou a base do ideário feminista.
Os movimentos voltados para a valorização da mulher lutavam principalmente pela
equivalência entre os gêneros.

3 O FEMINISMO E A EQUIDADE

Inicialmente, as mulheres não tinham direitos ao voto, não tinham voz na


sociedade e eram criadas com o intuito de procriar e cuidar de suas casas.
Cansadas de viver nessa opressão que crescia cada vez mais, foi criado o
movimento feminista, que tinha como objetivo a luta pela igualdade entre os gêneros
e a afirmação da campanha pelos direitos das mulheres.
O conceito feminista foi cunhado por Rebecca Walker, autora de artigos que
defendiam o fim da opressão contra o gênero feminino. Segundo ela, o movimento
Feminista poderia ser dividido em três fases, sendo elas:
A primeira fase, que ocorreu no século XIX, seu objetivo principal foi o de
igualar o direito entre os gêneros, ressaltando o término de casamentos arranjados e
o fim da ideia de que o homem tem a posse de sua esposa e filhos. Estas primeiras
iniciativas tinham por objetivo o aumento do poder de influência política. No âmbito
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histórico, destacaram-se campanhas que defendiam a liberdade sexual e o direito ao
livre relacionamento, sem constrangimento ou repressão.
Em outra frente pelos direitos da mulher, podemos encontrar as chamadas
Sufragistas que faziam campanhas pelo voto feminino. Inicialmente, seus ganhos
foram parciais. Em 1918, no Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda, apenas
mulheres acima de 30 anos e que possuíssem uma ou mais casas teriam o direito
ao voto. Somente em 1928, o direito ao voto, foi estendido a todas as mulheres
acima de 20 anos.
A segunda fase ocorreu na década de 60 estendendo-se até a década de
80. Neste ínterim, já usufruindo de relativos direitos, houve uma correção de
trajetória: agora o centro das demandas estava focado na igualdade de direitos
contra a discriminação. O slogan era “O pessoal é politico”. Outros slogans surgiram
no transcorrer dos anos, sendo o mais famoso o “Women’s Liberation” (Libertação
das mulheres).
A terceira e última fase teve início na década de 90. As feministas da terceira
fase davam ênfase a micropolítica e, frequentemente desafiavam os termos da
segunda fase, sobre o que é ou não bom para as mulheres. Aquela fase, também
definida pelo grande debate interno, chamado “Feminismo da Diferença”, era
idealizada por Carol Gillian, defensora de importantes diferenças entre os sexos.
Atualmente, o feminismo possui várias correntes de pensamento, fato que
dificulta pensá-lo como uma unidade. Diferentes opiniões foram formando-se, ao
longo do tempo, dentre elas destacamos: o feminismo pode também ser visto como
uma forma de discriminação; e a diferença entre gêneros prevalece acima de tudo.
Entendemos, de maneira objetiva, que este histórico de lutas tem um
elemento central: a busca da equidade. As mulheres em geral, não querem ser
tratadas como homens, mas querem ter os mesmos direitos. Elas mostram
diariamente seus valores sociais, através de sua contribuição à vida política e
familiar, e apenas desejam o fim da opressão masculina, transmitida culturalmente
de geração em geração.
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4 A MULHER E O FUTURO

O sexo feminino sempre foi visto como sinônimo de fragilidade e medo, mas,
com o passar do tempo, essa ideia da mulher ser sempre fraca foi se modificando. O
primeiro passo, para a mulher ser vista como equivalente ao homem, foi o de
ingressar no mercado de trabalho e participar da vida política. Tais fatos auxiliaram
na valorização da imagem da mulher diante da sociedade. Isso se tornou mais
perceptível e podemos destacar a eleição da atual presidente do Brasil, Dilma
Roussef. Além disso, as mulheres passaram a exercer profissões tidas como
masculinas, fato que se tornou cotidiano: pedreira, mestre de obra, motorista de táxi,
motorista de ônibus etc.
Culturalmente, a mulher deve cuidar do seu lar, como dona de casa ou
mulher de família, além de pertencer ao mercado de trabalho, de cuidar de seus
filhos, do relacionamento amoroso, dos afazeres domésticos e de sua própria saúde
e beleza. Infelizmente, apesar de todo o progresso alcançado, permanece ainda
aquela visão que associa à mulher as funções de organizadora do lar ou de
reprodutora.
Atualmente, o corpo feminino é ainda mostrado como um produto a ser
consumido pelos homens. Algo que pode ser usado e descartado a qualquer
momento. A mídia auxilia na construção da imagem de mulher como mercadoria, ao
vincular em comerciais de todo o tipo, a visão negativa sobre o corpo feminino. Na
publicidade a mulher é associada ao lazer e ao prazer masculino, seja em
propagandas de bebidas alcoólicas, de automóveis ou de outros produtos.
O atual movimento feminista sabe que, enquanto não for extinta a ideia de
que a mulher está à “venda” ou que é um objeto, ela nunca receberá seu devido
valor na sociedade.
Na mídia televisiva, especialmente nas novelas, é possível definir dois perfis
de mulheres bastante nítidos: o primeiro remete a uma mulher tida como guerreira,
boa, fiel, trabalhadora e independente; estereótipo que faz sucesso entre as
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mulheres humildes e simples. Citamos como exemplo a personagem Griselda, vivida
por Lilia Cabral na novela “Fina Estampa”; já o segundo diz respeito a uma mulher
tida como safada, vulgar, invejosa, vingativa e interesseira; este segundo perfil
costuma atrair a atenção dos homens. Citamos como exemplo a personagem
Suelen, da novela “Avenida Brasil”.
E quanto às gerações futuras? Como será a imagem da mulher daqui a 50
anos? Será que voltaremos às origens da mulher submissa, de antigamente, ou
ainda veremos a vulgarização do sexo feminino na mídia através de músicas
depreciativas ou em propagandas de gosto duvidoso?
Sabemos que os movimentos de mobilização pelos direitos da mulher
devem continuar existindo afim de que possam construir um futuro baseado na
igualdade entre os gêneros e no respeito e valorização das diferenças.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O artigo visava explicar o papel da mulher na sociedade ao longo do tempo.


Ressaltar seus conflitos e conquistas. Apresentar suas lutas sociais e psicológicas
contra a supremacia masculina. Relatar as conquistas no trabalho, no lar, na família,
nas rodas de amigos etc. Percebemos que é possível sim, combater os
preconceitos, abrir mentes, conquistar lugares, cargos importantes e ainda assim
cuidar dos filhos e manter um lar feliz.
Pretendíamos contar histórias e comparar culturas com o objetivo de
enfatizar a importância da mulher nos diferentes espaços sociais. Não importa o
país, a época ou o tipo de sociedade, as mulheres sempre desempenharam papel
significativo, tanto em casa quanto no trabalho.
Nossas intenções eram simples: apresentar as conquistas femininas ao
longo do tempo, destacando a opressão sofrida e vislumbrando as demandas ainda
existentes. A luta por direitos e igualdade ainda está longe de acabar, mas, todo o
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legado deixado pelas feministas do passado, fornece a experiência e o preparo
necessário para as mulheres de amanhã.

REFERÊNCIAS

MATOS, Maria Izilda Santos de (org.). O corpo feminino em debate. São Paulo:
Ed. UNESP, 2003.

NYE, Andrea. Teoria feminista e as filosofias do homem. Rio de Janeiro: Rosa


dos Ventos, 1995.

WOLF, Naomi . O mito da beleza. Rio de Janeiro: Rocco, 1992.

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