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Feminismo e

Diversidade
200 ANOS DE LUTA CONTRA A EXCLUSÃO

Prof.ª Dr.ª Nikelen Acosta Witter


nikelen@gmail.com
O Feminismo como Movimento
e como Teoria Política
 Antes de começar, a crítica do começo. A narrativa da História do Feminismo e sua branquitude
ocidental.
 O que é este “outro lugar”? Por que estamos (o feminino) em outro lugar? O centro naturalizado
masculino e o feminino subversivo ao sujeito genérico.
 Por que o conhecimento produzido a partir desse “outro lugar” coloca em cheque as instituições?
 O gênero é um dos eixos centrais de nossa experiência no mundo social. Os outros que com ele se
articulam são a raça, a classe e a sexualidade.
 O feminismo exerceu e exerce pressão sobre os limites da ordem estabelecida e das formas de pensar
o mundo que a legitimam.
 Ocidente como ideologia X leituras de-coloniais ou pós-coloniais. Afinal, o que se quer: incorporar as
mulheres à ordem estabelecida ou transformar essa ordem?
O lugar “natural” das mulheres?
 Historicamente, é possível acompanhar o fato de  Os estudos sobre o medievo relatam a posição
que cada sociedade possuiu sua etapa de pensar os subalterna das mulheres e apontam a ideologia
lugares dos homens e das mulheres. católica como seu principal substrato ideológico.
Porém, as dissidências são igualmente relatadas,
 Por mais que tenhamos sidos condicionados a
assim como o fato de que a conversão ao
acreditar que as diferenças de lugar social e papeis
cristianismo (judaico-romano) era ainda parcial e
de gênero sejam tão naturais quanto nossa
imperfeita.
percepção de que existem diferenças anatômicas, a
História registra o contrário.
 Encontramos documentadas leis restritivas à
participação pública das mulheres desde os
primeiros códigos na Mesopotâmia.
O Estado Moderno: querelle des femmes e
caça às bruxas
 A construção do Estado Moderno implica em uma
 A querele des femmes e a caça às bruxas têm
nova organização do mundo ou, como querem alguns
início na mesma época. Dois pontos sempre
estudiosos, uma nova etapa da civilização.
tratados como laterais ao grande processo
 O conflituoso fim do medievo no mundo europeu. histórico, mas não são.
 Por que é central o estudo desse processo num lugar  Ligando os pontos. O trabalho de Silvia
localizado do mundo? Federicci.
 Por que é central inscrever o processo de exclusão  Nos debates da querele houve defensores das
das mulheres no bojo da compreensão histórica dessa mulheres como Cornelius Agripa, para quem: os
época? homens não oprimem as mulheres por alguma lei
natural, mas porque eles querem manter seu poder
social e status.
Religião e Iluminismo

 Os debates, assim como o processo de sujeição pela  Tais discursos irão definir o que é mulher, seu
violência, não estão estanques no tempo. Eles íntimo e suas capacidades. Estabelecem assim, o
duram os 300 anos da modernidade. normal e o anormal das condições femininas e
masculinas.
 Contribuem para ele, o nascimento do discurso
cientificista, que vai imbuir a nascente pesquisa  A ideia do sexo oposto se plasma.
médica de restringir as mulheres ao corpo, declinar  O protestantismo ao ampliar o acesso à leitura, traz
de sua capacidade cognitiva-moral e estabelecer tal
em seu bojo questionamentos morais que levam a
veracidade não mais fundada na religião revelada,
insubordinação das mulheres tendo como referência
mas na biologia de cunho científico.
a moralidade das escrituras e a hipocrisia masculina.
 O Iluminismo e seu paradigma de racionalidade,
abrem margem para que se questione não apenas a
instrumentalização das mulheres para o pensamento,
como o poder exercido sobre elas.
As Precursoras europeias do pensamento
político feminista
 Mary Astell (1666-1731) defendeu a educação formal
para as mulheres até as universidades, criticou a
instituição do casamento, especialmente os que eram
feitos na extrema juventude das mulheres.
 Olimpe de Gouges (Marie Gouze, 1748-1793) defensora
da democracia, escreveu Os Direitos das Mulheres e das
Cidadãs, o que acabou por levá-la à guilhotina.
 Mary Wollstonecraft (1759-1797) – hoje considerada a
mãe do pensamento feminista pela clara organização dos
argumentos anteriores em sua obra Reivindicação dos
Direitos das Mulheres. É a ideia de Direitos, no momento
em que estes estão se constituindo, que dá o grande
impacto da obra de Wollstonecraft.
Uma teoria política nascente
em um mundo hostil
 Os eixos desse programa político eram: a educação das mulheres; o direito ao voto e a igualdade
no casamento, em especial a possibilidade de gerir os próprios bens.
 Os argumentos de Wollstonecraft pretendem o livre desenvolvimento e a possibilidade de uma
mulher ser plenamente independente e não apenas “uma melhor companheira para o homem”.
O Movimento Feminista

 19 e 20 de julho de 1848 – 1ª Convenção para os Direitos das Mulheres (Seneca Falls, Nova Yorque)
– Marco inicial do feminismo no ocidente.
 Reflexo da Convenção Mundial contra a Escravidão, 1840, Londres, Inglaterra;
 O movimento feminista nasce sob o impulso da luta contra a escravidão dos africanos e seus
descendentes. Mais por seu valor simbólico do que por suas conquistas, a convenção passou à
história como o primeiro esforço organizado para libertar as mulheres e reformular os ideais
predominantes de domesticidade em sua trajetória.
 Apesar da convenção ter desencadeado uma oposição anti-feminista, não houve a aprovação de
resoluções de caráter radical.
 A própria declaração resultante da convenção, embora baseada no modelo da Declara da
Independência dos EUA tinha um título sugestivo: Declaração de sentimentos e resoluções.
 A questão do voto foi colocada em segundo lugar.
O Feminismo Negro

 Este nasce exatamente na mesma época. Sua precursora é uma


ex-escrava, empregada doméstica e depois famosa oradora.
Sejourner Truth se torna famosa por perguntar o que nenhuma
mulher branca ousaria. Se sua cor a impedia de ser vista como
uma mulher, essa figura de alta moralidade, capacidade e alvo
das maiores proteções masculinas e estatais, a qual mesmo as
feministas do período se empenhavam em defender.
 Seu discurso, de 1851, Ain’t I a woman, nos chegou por um
relatório de sua participação em uma conferência abolicionista
e, mais que marco é ainda um símbolo do conjunto maior de
opressões que sofrem as mulheres negras.
A luta pelo sufrágio Universal
 A marca do feminismo do século XIX foi, antes de tudo, a luta pela cidadania e pelo voto. Em outras
palavras, recuperar o que poderia ter sido conquistado na Revolução Francesa. A longa história do direito
ao sufrágio feminino foi uma das mais representativas batalhas, até do ponto de vista simbólico, pela
afirmação do direito das mulheres. Contudo, os motivos para a exclusão do voto não são tão simples no
Ocidente e podem ser lidos como mais uma etapa da querele des femmes, a qual aliás é alvo de
constantes debates na Inglaterra (the question of women) do século XIX.
 Dentro do feminismo, também havia diferenças táticas que acabaram por auxiliar na demora dessa
conquista. Sufragistas x Sufragetes.
As Vitórias do Feminismo

 Ao longo do século XX, as principais pautas do feminismo foram sendo alcançadas no Ocidente: o
voto, o fim das barreiras a educação, o alargamento do espectro de profissões possíveis, a igualdade
de direitos dos cônjuges.
 A subordinação das mulheres, no entanto, parecia ainda longe de acabar. Bem como, se constatava
que Ema Goldman tinha razão: era preciso lutar para se emancipar da emancipação.
 As questões vinculadas a sexualidade e ao gênero como uma construção cultural e não natural ou
biológica ganham projeção.
 A compreensão é que as mulheres estavam inscritas não somente em uma hierarquia, mas em uma
lógica que partia do masculino como referência.
 Mesmo integradas ao mundo público ocidental, as mulheres continuavam sendo o outro.
Simone de Beauvoir
 O Segundo Sexo, sua obra de 1949 é, provavelmente o mais
influente escrito do feminismo.
 Não é um livro que possa ser lido sem problematização
 Ainda assim, Beauvoir demonstra o feminino como um
conjunto de determinação culturais e expectativas que limitam
a autonomia e agência das mulheres.

r na -se
er, t o
mul h
se nasce
“Não r”
e
mulh
O auge da Segunda Onda
 A ligação entre o ativismo e a construção da teoria política andou em
conjunto no pós-guerra, por outro lado, isso não quer dizer consenso.
 O feminismo entra na academia e mantém seu pé nos movimentos
sociais, o que o torna duplamente incômodo.
 Um dos livros mais importantes nesse período é o de Betty Friedam, A
Mística Feminina, uma crítica contundente aos padrões de feminilidade.
Ela será a embasadora dos protestos no concurso Miss América e a lenda
dos sutiãs.
 Angela Davis, a mais perigosa mulher do ocidente segundo a CIA dos
anos 70, é uma reverenciada acadêmica que trouxe o ativismo negro
para o seio do feminismo.
 Boa parte da reação e rejeição ao feminismo que conhecemos é em
função do ativismo dessa fase.
 O anos 1960-70 trazem um feminismo novo, não domesticado nem pela
inclusão liberal, nem pelo socialismo moralista.

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