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A primeira vaga feminista

O padrão de queda e ascensão do feminismo ao longo do tempo levou à analogia organizá-lo


por onda. O período mais antigo é, pelos menos, finais do século XIX até aos anos de 1920s.

Primeira onda:

 1880-1940 (mais ou menos)


 Acredita-se que a Revolução Francesa de 1789 foi um grande impulsionador para as
primeiras lutas de direitos civis para as mulheres.
 Principal objetivo: igualdade de género e na mudança legislativa. Direito igual à
educação, ao voto, às profissões, direitos legais sobre propriedades, direitos no
casamento e no divórcio.
 Primeiros movimentos feministas começaram em meados do século XIX.
 Divisão no movimento entre membros cristãos/conservadores e
revolucionários/socialistas
 O direito ao voto (“suffragettes”) através de protestos e ações de luta.

Algumas mulheres que se encontravam em posições de poder não ajudaram na libertação das
mulheres “suffragettes” que lutavam pelo direito ao voto e algumas fizeram greve de fome pela
causa.

A guerra de 1914 quebrou muitas visões tradicionais acerca das mulheres, sendo que elas
foram obrigadas a trabalhar por falta de mão de obra masculina. O fim da guerra trouxe
expectativas para a mudança em muitas esferas da vida feminina.

Kent apresenta duas potenciais causas para o declínio do feminismo como um movimento de
massas nos anos entre guerra.

1. A ascendência do antifeminismo na Inglaterra que se focava nas mulheres


trabalhadoras e incentivavam as mulheres a desistirem dos seus trabalhos e voltarem
aos trabalhos tradicionais que lhes compete.
2. As divisões institucionais e ideológicas dentro da organização do feminismo. Ao
conseguirem o direito aso voto (UK 1918), a reorganização da sociedade feminista
falhou. Mudou as suas prioridades e enraizaram a crença que a igualdade entre
homem e mulher tinha sido conseguida.

Em Portugal:
 Iniciado nos anos 1900
 Associações: Liga portuguesa pela Paz (Alice Pestana, 1899); Liga Republicana de
Mulheres Portuguesas (Ana Castro Osório, 1908); Conselho Nacional das Mulheres
Portuguesas; Cruzada das Mulheres Portuguesas.
 Pioneiras: Beatriz Ângelo, primeira mulher a votar. Virgínia Quaresma, primeira
mulher jornalista oficial. na primeira vaga, as mulheres eram de classes privilegiadas. -
As únicas dada voz.

A partir de 1960 aconteceu a segunda vaga


A segunda vaga feminista
 Novo período marcado como ativismo político coletivo feminista e militância
 1960-1990
 Foca-se na libertação da opressão patriarcal da sociedade. Viver fora da esfera pública.
No corpo feminino, na sua representação e significado associado à diferença biológica.
“One is not born, but rather becomes, a woman” (Simone Beauvoir, 1972:295) Second
Sex
 As feministas que deram esta característica radical eram maioritariamente refugiadas
da Nova Esquerda. Organizaram-se em pequenos grupos e em aumentar a
conscientização da sua causa. Os media destituíram estas “women’s libbers” como
queimadoras de soutiens e com ódio aos homens.
 Emergência do feminismo radical e alteração na política liberal marxista feminista.
Como as relações de género poderiam ser uma análise de poder de classe.
 A inclusão desta vaga deu origem à ascendência de vários subgrupos tais como
lésbicas, mulheres de cor e mulheres trabalhadoras.
 Criou-se um ambiente onde a heterogeneidade era possível
 Ainda liderada por mulheres heterossexuais, brancas e de classe média, “mainstream”.
Estas eram relutantes em ajudar.
 Anos 60/70 – desenvolvimento dos estudos de género/feministas
 Mutabilidade do feminismo
 O feminismo moderno perde dinamismo no final dos anos 80. Concentraram-se em
realizar programas de estudos da mulher.

Em Portugal:
 Acontece mais tarde divido há ditadura.
 Proibido pelo estado novo. Estudos de Género. Feminismo clandestino. → pioneiras:
Maria Lamas; Natália Correia; As 3 Marias. → com o 25 de Abril, surgem movimentos
de libertação da mulher, mas também contra.

50 key concepts – Terceira Vaga


 Feminismo da geração jovem de mulheres, muitas filhas das feministas da segunda
vaga. Portadoras do legado feminista.
 1990-2005
 A grande maioria continua a ser mulheres brancas ed classe média.
 Cresceram massivamente influenciadas pelo feminismo, tiveram educação superior
de estudos da mulher.
 Apoiam teorias pós-estruturalistas e pós-modernistas e abordagens de identidade
e irmandade.
 Desenvolveram ideias devido à sua própria educação feminista
 Sentem as suas vidas extremamente moldadas pela cultura popular, e deste modo,
propagandearam as suas perspetivas feministas através dos média, mais
especificamente, pela música.
 Ponto anterior contrário ao feminismo da segunda vaga, não queriam usar os
media com medo de serem absolvidas pelas estruturas de poder patriarcal.
 Cultura multilinguística com perspetiva global, abraçando alguns conceitos da
segunda vaga.
 Crise geracional: uma reivindica o seu próprio espaço e a moldar o movimento à
sua imagem e a outra tinha medo da absolvição
 Negação dos tipos de “comportamentos femininos.”
 Terceira vaga como forma de manter o feminismo vivo e querer fazer parte das
conquistas anteriores e criar outras.

“Feminism still has unfinished business.” (Redfern 2002)

“Let us be clear: “post-feminist” characterizes a group of young, conservative


feminists who explicitly define themselves against and criticize feminists of the
second wave” (1997:1 – Lesley Heywood and Jennifer Drake)

Naomi Wolf interpreta a terceira vaga como o “victim feminism”, onde as mulheres são
supostamente encorajadas a serem passivas perante a opressão. Articula a sua perspetiva
como parte da alteração geracional, a resistência à “velha guarda”, comummente associado à
filha que tenta fugir da mãe feminista para definir a sua agenda.

Feminisms – Sexualities + Compulsory Heterosex


Sexualidade como um domínio de exploração, de prazer e de arbítrio; mas também como
domínio de restrição, repressão e perigo.

Questão se a sexualidade deve ser vista como uma construção natural ou social,; se há
formas universais de sexualidade feminina e masculina; que sexualidade deve ser vista
como central ambos como opressão da mulher e expressão de arbítrio.

A perspetiva feminista radical declara a heterossexualidade como uma construção


patriarcal socialmente opressiva que instituir poder sobre as mulheres. Heterossexualidade
como a esfera primária do poder masculino. Utilizam a pornografia (porne – puta em
grego, grafia – desenho, como chave dos mecanismos e manifestações de sistemas de
controlo. Heterossexualidade como sinónimo de violência sexual e perigo. Esta perspetiva
é muito criticada e condenada por outras feministas.

Salientar a importância da escolha individual e prazer sexual sobrepondo, muitas vezes, à


opressão e perigo sexual.

Análises feministas que viam a paixão e o romance hétero como opressivo. Perspetiva
bastante problemática. Ao identificar todas as mulheres em relações heterossexuais como
vítimas, as verdadeiras vítimas são desvalorizadas e um nível de vitimização excêntrico.
Usam a literatura de ficção e romance como argumento, as narrativas estereotipadas, a
mulher como donzela inocente que precisa de um homem para se defender trabalha para
oprimir as mulheres. Porém, outro ponto de vista é que as mulheres exploram o prazer ao
ler tais textos.

Diferentes perceções sobre sexualidade, mas também estratégias narrativas de


representação e receção. Leitores como vítimas passivas de estratégias de controlo
patriarcais versus texto e leitor, imagem e perceção.

 Reconhecer o prazer nas várias sexualidades

Heterossexualidade Compulsiva e existência lésbica

A teoria feminista não pode aceitar apenas a “tolerância” do lesbianismo como um estilo de
vida alternativo.

Nancy Chodorow argumenta que, para as mulheres, o homem é “emocionalmente secundário”


nas suas vidas.

Ela renuncia a existência de lésbicas com o comentário:

“Lesbian relationships do tend to re-create mother-daughter emotions and connections, but


most women are heterosexual.”

Esta frase implica que as mulheres héteros são mais maduras, que desenvolveram relações
para além da conexão mãe/filha. Chodorow conclui também que a heterossexualidade não é
uma escolha para as mulheres, fala em venderem as filhas às economias pós-industriais.

O lesbianismo “incluído” erradamente abaixo da homossexualidade masculina.

Fala-se que se o mundo fosse genuinamente igual, onde o homem não fosse opressor e
cuidadoso, que toda a gente seria bissexual – um salto liberal.

Clitoridectomia como tortura para as mulheres. O aprisionamento da mulher. O cinto de


castidade e casamentos arranjados desde criança são formas de exemplificar a superioridade
física. Apagar a existência lésbica e romantizar a ideia de romance e casamento heterossexuais
são formas de manter a ignorância, “protegidas da fora da norma patriarcal”. Todos estes são
exemplos de compulsão.

Assumir que a maioria das mulheres são “innately heterossexual”, protege um “cambalear” das
teorias políticas que bloqueiam muitas mulheres. A homossexualidade sempre foi escrita ao
longo da história como conceito existente e sinónimo de doença, foi tratado como excecional
invés de algo intrínseco e recorrente, as mulheres não tinham “preferência” pois desde sempre
foram impostas e forçadas à heterossexualidade. Isto impõe a questão: quanto nos
consideramos inaptamente e livremente como indivíduos héteros?

Lésbicas sempre foram privadas de atividade política, foram “incluídas” como versões
femininas da homossexualidade masculina. Comparar a existência lesbiana com
homossexualidade masculina é uma afronta para ambos os conceitos. Cada tem os seus
estigmas, pôr “tudo no mesmo saco”, é negar e apagar a realidade feminina. Separar mulheres
têm o estigma de gay ou homossexual no complexo contínuo da resistência feminina é
escravizar e enquadrá-las ao padrão masculino – falsificar a sua história. Parte dessa história é
de as lésbicas não terem uma comunidade lesbiana coerente, tendo compartilhado uma vida
social com os homens homossexuais. Apesar disto, as mulheres têm falta de privilégios
económicos e culturais relativamente aos homens, não partilham exatamente as mesmas lutas.
Os homens homo podem fingir a sua natureza que continuarão a ser tratados com supremacia
enquanto as mulheres não podem fugir à natureza de ser mulher e, portanto, duplamente
negligenciada.

Ser lésbica é uma experiência (tal como a maternidade) unicamente da mulher, com opressões
particulares que não são completamente iguais às outras existências sexuais estigmatizadas. Tal
como o termo parenting serve para dar significado à realidade de ser pai, apesar de ser mãe
solteira (por exemplo), a mulher é obrigada a usar esse verbo pois, pelo menos em inglês, não
há mais nenhum que melhor explique esta realidade.

Então, o termo “gay” utilizado para mulheres é uma forma de “desfocar” as idiossincrasias que
servem para distinguir entre conceitos e que são cruciais para o feminismo, para a libertação
da mulher como um grupo.

Há muitas mulheres que aceitam a sua vida submissa ao homem, recusam-se a produzir um
padrão de vida superior e dedicam-se ao prazer do homem.

Outras recusam ter filhos como forma de subversão ao poder masculino, sobre muitas críticas
de mulheres. Isto é chamado por Andrea Dworkin “an ineffectual rebellion, but… rebellion
nonetheless”.

Bell hooks – O feminismo é para todo Mundo


 Feminismo – movimento para acabar com o sexismo, exploração sexista e opressão.
 Há pessoas que acreditam que o feminismo é anti-homem. A incompreensão dessas
pessoas sobre políticas feministas reflete a realidade de que a maioria aprende sobre
feminismo na média de massa patriarca.
 A maioria das feministas são brancas e economicamente privilegiadas.
 A libertação da mulher para abortar, para escolher a sua orientação sexual e para
desafiar situações de violação e violência doméstica.
 A sociedade com primazia da cultura cristã provoca que as pessoas acreditem que deus
ordenou que as mulheres fossem subordinadas aos homens como lei natural das
coisas.
 Espaços femininos seriam necessariamente ambientes em que o patriarcado e o
pensamento sexista estariam ausentes.
 O sentimento anti-homem estava muito presente no início do feminismo, mulheres
que reagiram com ira à dominação masculina.
 A sororidade não seria poderosa enquanto mulheres estivessem em guerra entre si.
Desigualdade de classe e de raça.
 Muitas mulheres negras eram feministas revolucionárias, discordavam com as
reformistas.
 Revolucionária= destruir o sistema de patriarcado capitalista dentro de uma
supremacia branca para, depois sim, obter um sistema possível a igualdade de género
e de etnias. Acabar com o patriarcado. Nunca recebeu a atenção devida pois os média
eram dominados por um sistema patriarcal. Substituir uma cultura de dominação por
um mundo de economia participativa fundamentada em comunalismo e democracia
social., um mundo sem discriminação baseada em raça ou género.

 Reformista= igualdade entre mulheres e homens no sistema existente. O patriarcado


queria silenciar as ideias visionárias, então o feminismo reformista se tornou o
caminho para a mobilidade de classe. Poderiam se libertar da dominação masculina no
mercado de trabalho e escolher mais livremente o próprio estilo de vida, poderiam
maximizar a liberdade dentro do sistema existe. No entanto, existiria uma classe mais
baixa de mulheres que seriam exploradas e subordinadas para fazer o trabalho sujo
que se recusavam a fazer. Invés de usarem a sua influência para ajudarem a causa,
conspiraram a favor da subordinação de mulheres trabalhadoras e pobres, aliando-se
ao patriarcado e ao sexismo.
 Mudanças na economia do país como depressão económica permitiu que aceitassem a
noção de igualdade de género, pois não havia homens para trabalhar – apoiar ideias
feministas desde que estas privilegiem o sistema.
 Quando a mulher começou a ganhar poder económico desconsiderou as noções do
feminismo revolucionário. As teorias revolucionárias progrediram muito, no entanto,
não estavam disponíveis para o público, tornou-se um discurso privilegiado disponível
apenas para aqueles altamente letrados e economicamente privilegiados. Não
rejeitaram a mensagem, não a conhecem.
 Uma mulher feminista não pode ser contra o direito de escolher. Pode não ser querer
fazer abortos, mas jamais pode criticar a escolha de outras por quererem abortar. Não
pode ser antiaborto e defensora do feminismo.
 “feminismo como poder” não pode existir se a noção de poder suscitada for poder
adquirido através da exploração e opressão de outras pessoas, o que tanto se lutou
contra.

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