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ANTROPOLOGIA FEMINISTA

O começo da antropologia feminista data a década de 1970, aquando fora criada a


resposta ao viés/caráter masculino na antropologia visto que, ao longo da história da
literatura na antropologia eram maioritariamente os homens que escreviam e
analisavam os aspetos das sociedades estudadas. No entanto, foram incapazes de
analisar todos os aspetos já que não tinham permissão para se comunicarem com as
mulheres assim, os dados coletados pelos antropólogos do sexo masculino continham
em parte perspetivas masculinas. Então, o principal objetivo da antropologia feminista
era expor esse androcentrismo (preconceito cultural enraizado que olha para o homem
como intelectualmente, fisicamente e espiritualmente superior à mulher), e em norma
solicitar uma reparação da ordem social na sociedade pois entre os homens e as
mulheres os status e privilégios eram diferentes. Os antropólogos feministas
argumentaram que: “uma compreensão mais poderosa e inclusiva da sociedade e da
cultura só pode ser alcançada através do estudo das representações e experiências
culturais e práticas associadas às mulheres”.
Existem 3 etapas da antropologia feminista, primeiramente na década de 1970 o tema
predominante da época eram os aspetos femininos da cultura que não havia sido
estudado pelos antropólogos do sexo masculino. Inclusive, analisam os papéis das
mulheres na sociedade e a sua contribuição para a mesma. Em segundo, a análise da
dicotomia pública e privada, em que os homens estão no comando e têm poder, são a
dita “face” da sociedade, o homem era considerado o mais importante, com inúmeros
privilégios em relação às mulheres, definidas como sendo o “sexo frágil” da sociedade
ose papel limitava-se às tarefas domésticas e obediência ao homem. Em último, temos
o domínio masculino universal em que tentaram encontrar sociedades matriarcais uma
vez que acreditavam que a descoberta disso traria possibilidades de organização
política.
Em 1974, Sherry Ortner publicou um artigo de referência para a antropologia feminista
chamado "É do sexo feminino ao masculino como a natureza é para a cultura?",
demonstrava os homens como defensores da cultura enquanto as mulheres eram
associadas à natureza. “Woman, Culture and Society” de Michelle Rosaldo e Louise
Lamphere, publicado pela primeira vez em 1974 propôs ver culturas estudadas de
uma perspetiva masculina, ao mesmo tempo em que diminuiu as perspetivas
femininas, mesmo considerando as mulheres como relativamente impercetíveis.
A segunda etapa da antropologia feminista ocorreu durante os anos 80. Durante esse
período, as antropólogas feministas lidaram com o gênero, especialmente com as
desigualdades culturais, das leis e com o status e o papel da mulher na sociedade e
preocupam-se em terminar com a discriminação. Esta segunda onda focou-se
maioritariamente na sexualidade, nos direitos da reprodutividade e na diferença
salarial observável entre os dois sexos. Os antropólogos feministas da época
expuseram que a definição de género varia de acordo com a cultura e com o tempo.
 A terceira etapa da antropologia começa no início da década de 1990 até o presente,
como uma resposta às falhas da segunda fase e como uma retaliação a iniciativas e
movimentos criados na segunda fase. Nesta terceira onda representa uma redefinição
das estratégias da fase anterior uma vez que colocava demasiado ênfase nas
experiências das mulheres brancas de classe média alta, a ideia principal desta época
é a diversificação das ideologias do género, como a forma como as diferentes culturas
explicam o género, como essas ideias são construídas, reproduzidas e como afeta na
sociedade e religião e focar-se nas desigualdades de género. 
 Sherry Ortner- Biografia
Sherry Ortner nasceu em 19 de setembro de 1941 em uma família judia em New
Jersey. Estudou antropologia na Universidade de Chicago sob orientação de Clifford
Geertz e obteve o seu PHD em Antropologia em 1970 por seu trabalho de campo
entre os Sherpas e o Nepal, trabalho este relacionado com a religião, política e o
envolvimento dos Sherpas no montanhismo do Himalaia. Em 1977, começou a
trabalhar como professora na Universidade de Michigan, ensinando nos
departamentos de Antropologia e Estudos da Mulher, na Sarah Lawrence College, na
Universidade da Califórnia, Berkeley, na Universidade de Columbia e na Universidade
da Califórnia, em Los Angeles.
No início dos anos de 1990 Orrtner mudou o foco de sua pesquisa para os Estados
Unidos. Seu livro mais recente trata da relação entre os filmes de Hollywood e a
cultura americana. Quanto ao seu alinhamento teórico ela é defensora da teoria da
prática, está preocupada com as restrições dominantes da compreensão cultural
dentro das culturas e é subversiva à ideia de cultura com sendo simplesmente
produzida, portanto, concentra-se nas questões de resistência e transformação. Ortner
é um dos antropólogos mais conhecidos, especificamente no campo da Antropologia
Feminista bem como na Antropologia Interpretativa e Estruturalismo, devido a suas
muitas contribuições escritas.
 "Is female to male as nature is to culture?"  Woman, Culture, and Society (1974)

Mulher, Cultura e Sociedade - Wikipédia (wikipedia.org)

Microsoft Word - Is Female to Male as nature is to Culture?.doc


(radicalanthropologygroup.org)

Too Soon for Post-Feminism: The Ongoing Life of Patriarchy in Neoliberal America (2014)

https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/02757206.2014.930458

 Publicado em 2014, este artigo procura trazer o “pratiarcado” de volta ao foco de


maneiras que façam sentido para o público americano do séc 21. Na primeira parte
são discutidas as formas sob as quais o feminismo caiu ou fora retirado da política
contemporânea, na segunda parte, são usados filmes como textos para mostrar como
o patriarcado persiste firmemente na sociedade contemporânea como uma forma de
poder que transita, organiza e molda as principais instituições do capitalismo do séc
XX e XXI: o local de produção industrial, os militares e a corporação. Por fim, Ortner
aprofunda sore os filmes não só como textos culturais, mas também como
intervenções políticas que contraem parcialmente as tendências pós-feministas
discutidas na primeira parte do artigo.
Sherry destaca que a maioria das pessoas pensa no feminismo como algo relacionado
somente com as mulheres, algo relacionado com o “género”, sobre a divisão cultural
do mundo em pessoas do sexo masculino e feminino e sobre outras formas de
identidades de género. Tanto para mulheres quanto género existem no mundo
moderno, como elementos de uma formação maior de poder: o patriarcado, foco
principal do artigo.
O pós-feminismo era inicialmente uma forma de descrever uma nova consciência
entre as gerações mais novas de mulheres. O argumento era que as mulheres mais
jovens incorporaram os frutos do movimento feminista da “segunda onda” rejeitando a
ideia de seguir os objetivos feministas uma vez que não querem ser associadas a este
tipo de movimento incorporado, relativamente á defensão da feminilidade e ao rótulo
que representa, parece ter-se tornado uma “identidade mimada”.
Um dos sucessos do movimento feminista foi colocar a ideia de dominação masculina
e poder patriarcal sobre a mesa, e argumentar o facto de a desigualdade de género
funcionar da mesma forma que a desigualdade racial: um grupo era considerado de
alguma forma essencial e fundamentalmente inferior, e, assim, aberto ao controle e
dominação, ou discriminação e exclusão, pelo outro grupo. O projeto político feminista
original, então, era trabalhar para um estado de igualdade de gênero em que nenhum
dos sexos era considerado superior/inferior, e no qual nenhum dos sexos tinha o
direito de dominar ou discriminar o outro, uma forma de permitir esta mudança fora
silenciar o domínio masculino e o patriarcado (forma de dominação masculina, alojada
na figura do pai e envolta em uma ideologia de proteção e benevolência, bem como
dominação e controle). “O patriarcado pode ser visto como tendo uma estrutura
particular, uma organização particular de relações de poder que envolve não
apenas homens sobre mulheres, mas também homens sobre outros
homens. Geralmente está entrelaçada com outras estruturas de poder:
colonialismo, capitalismo, imperialismo, racismo e assim por diante. Embora o
patriarcado seja um sistema de poder social, é também um sistema de categorias
culturais e identidades pessoais. Como um sistema de categorias culturais, é
fundamentado em uma divisão conceitual do mundo em dois tipos de pessoas de
gênero, "mulheres" e "homens", definidos como diferentes e desiguais”.

Relativamente aos filmes, Ortner realça que não são apenas relatos realistas, são
também relatos críticos e que estes devem ser retornados como intervenções políticas
na cultura pública e não como textos para próprio uso etnográfico/interpretativo.

“Os filmes podem ser vistos então como implicitamente falando sobre as
tendências pós-feministas que enfatizei na parte anterior deste artigo. Feito em
um período em que o feminismo em sua forma clássica parece ter acabado, e feito
por homens e mulheres, eles são talvez prenúncios de uma nova política anti-
patriarcal, para a qual ainda não temos um nome.”

Conclusão

“Iniciei este artigo com uma discussão sobre várias formas de pós-feminismo,
incluindo a ambivalência das mulheres mais jovens sobre a identificação com o
rótulo feminista; as representações negativas do feminismo em algumas
importantes monografias recentes provenientes de uma perspetiva pós-colonial
amplamente definida; e, mais recentemente, a acusação de que o feminismo se
tornou cúmplice do capitalismo neoliberal.
O primeiro ponto deste artigo, então, foi tentar tornar o patriarcado visível
(novamente) e mostrar que é algo que não podemos nos dar ao luxo de descartar
ou ignorar. Embora possa aparecer de forma relativamente benigna (embora
sempre fundamentada em uma suposição de superioridade masculina e
inferioridade feminina), muitas vezes é a base da agressão e da
violência. Utilizando alguns dos filmes como textos etnográficos e/ou culturais,
apresentei três exemplos de patriarcado em ação: o assédio extremo das
mulheres em um local de trabalho industrial; o estupro de mulheres e homens no
exército dos EUA; e a implacável concorrência interna e práticas comerciais
predatórias de uma corporação. Em todos os casos, mostrei não só como o
patriarcado funciona como um arranjo específico de relações de poder em seu
próprio direito, mas também como ele está profundamente envolvido com outros
sistemas de poder nesta sociedade capitalista avançada. Pudemos ver claramente
nos exemplos como as diferentes formas de dominação se borraram umas nas
outras, ou se alimentavam umas das outras, cada uma intensificando os efeitos do
outro. “

(PDF) Entrevista com Sherry Ortner (researchgate.net)

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