O uso da palavra gênero tem uma tradição antiga que remonta aos filósofos
greco-romanos, por exemplo, foi empregada por Platão e Aristóteles para designar
as gerações de uma espécie, ou a reunião de seres pertencentes a uma mesma
espécie. A tradição filosófica usava o termo para distinguir principalmente o gênero
humano do gênero animal.
Gênero e sexualidades
Simone de Beauvoir
1
Wikipedia: John William Money (8 de julho de 1921 - 7 de julho de 2006) foi um psicólogo, sexólogo
e autor, especializado em pesquisa de identidade sexual e biologia de gênero. Ele foi um dos
primeiros cientistas a estudar a psicologia da fluidez sexual e como as construções societárias de
"gênero" afetam um indivíduo.
Essa frase de Simone de Beauvoir, tornou-se bastante célebre,
principalmente pelo protagonismo na luta pelos direitos das mulheres e as
manifestações feministas desde os anos 1960. O trecho encontra-se em uma de
suas principais obras, “O Segundo sexo” de 1949:
O que Beauvoir busca criticar é o papel social imposto às pessoas que nascem
com o sexo feminino, isso porque, o senso comum parte de uma ideia sobre a
natureza da mulher, mas para a autora, as características que comumente atribuem
às mulheres não são dadas, são construídas dentro de um tempo histórico e cultural.
Nesse sentido, não é possível pensar que existe unicamente um modo de ser e se
identificar como mulher.
Angela Davis
Prefácio da Edição Brasileira de Djamila Ribeiro:
Mulheres, raça e classe, de Angela Davis, é uma obra fundamental para se entender
as nuances das opressões. Começar o livro tratando da escravidão e de seus
efeitos, da forma pela qual a mulher negra foi desumanizada, nos dá a dimensão da
impossibilidade de se pensar um projeto de nação que desconsidere a centralidade
da questão racial, já que as sociedades escravocratas foram fundadas no racismo.
Além disso, a autora mostra a necessidade da não hierarquização das opressões,
ou seja, o quanto é preciso considerar a intersecção de raça, classe e gênero para
possibilitar um novo modelo de sociedade. Davis apresenta o debate sobre o
abolicionismo penal como imprescindível para o enfrentamento do racismo
institucional. Denuncia o encarceramento em massa da população negra como
mecanismo de controle e dominação. Dessa forma, questiona a ideia de que a mera
adesão a uma lógica punitivista traria soluções efetivas para o combate à violência,
considerando-se que o sujeito negro foi aquele construído como violento e perigoso,
inclusive a mulher negra, cada vez mais encarcerada. Analisar essa problemática
tendo como base a questão de raça e classe permite a Davis fazer uma análise
profunda e refinada do modo pelo qual essas opressões estruturam a sociedade.
Neste livro, tal discussão é sinalizada pela autora por meio de sua abordagem do
sistema de contratação de pessoas encarceradas nos Estados Unidos, que já
durante o período escravocrata permitia às autoridades ceder homens e mulheres
negros presos para o trabalho, em uma relação direta entre escravidão e
encarceramento como forma de controle social. Nesse sentido, mesmo sendo
marxista, Davis é uma grande crítica da esquerda ortodoxa que defende a primazia
da questão de classe sobre as outras opressões. Em 'As mulheres negras na
construção de uma nova utopia', a autora destaca a importância de refletir sobre de
que maneira as opressões se combinam e entrecruzam: As organizações de
esquerda têm argumentado dentro de uma visão marxista e ortodoxa que a classe é
a coisa mais importante. Claro que classe é importante. É preciso compreender que
classe informa a raça. Mas raça, também, informa a classe. E gênero informa a
classe. Raça é a maneira como a classe é vivida. Da mesma forma que gênero é a
maneira como a raça é vivida. A gente precisa refletir bastante para perceber as
intersecções entre raça, classe e gênero, de forma a perceber que entre essas
categorias existem relações que são mútuas e outras que são cruzadas. Ninguém
pode assumir a primazia de uma categoria sobre as outras. A recusa a um olhar
ortodoxo mantém Davis atenta às questões contemporâneas, que abarcam desde a
cantora Beyoncé à crise de representatividade. A discussão feita por ela sobre
representação foge de dicotomias estéreis e nos auxilia numa nova compreensão.
Acredita que representação é importante, sobretudo no que diz respeito à população
negra, ainda majoritariamente fora de espaços de poder. No entanto, tal importância
não pode significar a incompreensão de seus limites. Para além de simplesmente
ocupar espaços, é necessário um real comprometimento em romper com lógicas
opressoras. Nesse sentido, acompanhar suas entrevistas é fundamental. Davis traz
as inquietações necessárias para que o conformismo não nos derrote. Pensa as
diferenças como fagulhas criativas que podem nos permitir interligar nossas lutas e
nos coloca o desafio de conceber ações capazes de desatrelar valores democráticos
de valores capitalistas. Essa é sua grande utopia. Nessa construção, para ela, cabe
às mulheres negras um papel essencial, por se tratar do grupo que, sendo
fundamentalmente o mais atingido pelas consequências de uma sociedade
capitalista, foi obrigado a compreender, para além de suas opressões, a opressão
de outros grupos.
Gayle Rubin
2
Patriarcado designa um conjunto de relações interindividuais, onde sexo e gênero são
pensados desde uma hierarquia que promove a opressão de mulheres e minorias sexuais.
No emprego do termo também nos remetemos às ideias expostas por Gayle Rubin (1975)
em “Tráfico de mulheres: Notas sobre a “Economia Política””. De modo geral, usamos o
termo para distinguir relações específicas que configuram formas opressoras.
O trecho destacado acima é o parágrafo inicial de outro artigo famoso escrito
por Gayle Rubin3 e refere-se à seção nomeada pela autora como “Guerras sexuais”.
Nesse trabalho, além de articular a categoria gênero para analisar situações de
opressão e de dominação, Rubin pensa a sexualidade como categoria autônoma na
investigação e análise das relações de poder.
. De forma geral, Rubin (1984) busca demonstrar nesse artigo, como a
sexualidade é um campo de disputa de poder, fornecendo uma descrição do
panorama político da sexualidade no contexto dos Estados Unidos dos anos 1980.
A despeito do contexto de escrita do parágrafo mencionado, poderíamos
dizer que o trabalho de Rubin (1984) se faz atual e parece contemplar diferentes
períodos da história. Tanto sexualidade, quanto gênero são temas com uma
tradição problemática nos discursos científico e popular 4, de modo que metodologias
e dispositivos de controle foram formulados de modo a construir normatizações a
respeito das diferentes formas de existir e de se posicionar diante do mundo,
promovendo a marginalização e subalternidade de subjetividades que não se
encontravam dentro das normas hegemônicas.
3
RUBIN, G. (1984) Pensando sobre sexo: notas para uma teoria radical da política da sexualidade.
Cadernos Pagu, Campinas: Núcleo de Estudos de Gênero Pagu, n. 21, p. 1-88, 2003.
4
Conferir a genealogia realizada por Michel Foucault (1988): História da Sexualidade I: A vontade de
saber. Rio de Janeiro: Edições Graal.
Foucault defende que o conceito de Sexualidade nasce em determinado discurso cientifico, no interior
do debate sobre normalidade versus anormalidade. Os primeiros estudos científicos sobre
sexualidade vão aparecer nos últimos períodos do século XIX, a partir das classificações daquilo que
supostamente é o anormal, as ciências da medicina instituíram diversas patologias frente aos
comportamentos sexuais, de forma que o que temos como análise desses processos de
patologização são as institucionalizações de pessoas socialmente marginalizadas, os famosos
hospícios. O que Foucault evoca com isso são os campos de poder dos saberes, isto é, a medicina
usada como autoridade capaz de dizer o que deve ser o comportamento sexual normal, dessa forma,
a figura do médico interliga a ciência e a vida cotidiana.
Judith Butler
LINKS:
https://www.youtube.com/watch?v=oNv67S1I_3k
https://www.youtube.com/watch?v=kZOPRKVQuAw
https://www.youtube.com/watch?v=XsJTCKzL-Gg
https://cafecomsociologia.com/tag/eixo-raca-etnia-genero-sexualidade-e-
diversidade/
cafecomsociologia.com/dica-de-plano-de-aula-relacoes-de-genero/
https://www.geledes.org.br/o-conceito-de-genero-por-pierre-bourdieu-a-
dominacao-masculina/
https://www.geledes.org.br/o-conceito-de-genero-por-judith-butler-a-questao-
da-performatividade/
BIBLIOGRAFIA:
Questões
1 UERJ 2020/1
APÓS 70 ANOS, SIMONE DE BEAUVOIR AINDA MOSTRA CAMINHO DA LIBERDADE FEMININA
“Ninguém nasce mulher: torna-se mulher”. A célebre frase que abre o segundo volume de O segundo
sexo, de 1949, sintetiza as teses apresentadas por Simone de Beauvoir nas mais de 900 páginas de
um estudo fascinante sobre a condição feminina. Beauvoir admite que as diferenças biológicas
desempenham algum papel na construção da inferioridade feminina, mas defende que a importância
social dada a essas diferenças é muito mais determinante para a opressão. Ser mulher não é nascer
com determinado sexo, mas, principalmente, ser classificada de uma forma negativa pela sociedade.
É ser educada, desde o nascimento, a ser frágil, passiva, dependente, apagada, delicada, discreta,
submissa e invisível.
MIRIAN GOLDENBERG
Adaptado de www1.folha.uol.com.br, 10/03/2019.
As reflexões de Simone de Beauvoir na obra O segundo sexo continuam presentes nos debates
atuais referentes ao feminismo e às condições de vida das mulheres, em diversas sociedades.
De acordo com o texto de Mirian Goldenberg, a abordagem realizada por Simone de Beauvoir
valoriza princípios do seguinte tipo:
a) étnico-raciais
b) político-religiosos
c) histórico-culturais
d) econômico-científicos
b) se refere ao movimento social de mulheres que reivindicam melhores condições sociais para as
famílias e reconhecimento de outras datas comemorativas.
a) desigualdades de gênero assolam somente mulheres com baixa condição socioeconômica e
escolaridade, sobretudo as brancas e indígenas.
c) não obstante a luta do movimento feminista, mulheres ainda são alvo recorrente de violência
doméstica, sexual e afetiva.
d) dados estatísticos dos órgãos de pesquisa apontam que mulheres da região Nordeste são as
que mais registram queixas de violência.
e) uma medida de notável repercussão no cenário nacional foi a promulgação da Lei Maria da
Penha, com a única finalidade de imputar maior pena ao agressor.
No Brasil, assim como em vários outros países, os modernos movimentos LGBT representam um
desafio às formas de condenação e perseguição social contra desejos e comportamentos sexuais
anticonvencionais associados à vergonha, imoralidade, pecado, degeneração, doença. Falar do
movimento LGBT implica, portanto, chamar a atenção para a sexualidade como fonte de estigmas,
intolerância, opressão.
SIMÓES, J. Homossexualidade e movimento LGBT: estigma, diversidade e cidadania. In: BOTELHO,
A.; SCHWARCZ, L. M. Cidadania, um projeto em construção. São Paulo: Claro Enigma, 2012
(adaptado).
O movimento social abordado justifica-se pela defesa do direito de
a) As Paradas LGBT são manifestações de luta pela igualdade de direitos de grupos
marginalizados.
c) Na Parada LGBT, além de lutar pelo avanço de direitos, as pessoas festejam o orgulho por
sua condição e identidade.
d) Estes eventos servem exclusivamente para a promoção pessoal, paquera, sexo, uso de
drogas e prostituição.
e) As Paradas LGBT são mobilizadas para conscientizar a sociedade sobre a existência do
preconceito contra as diferenças.