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Medicalizar?
JOÃO LEOPOLDO ARAUJO
REGINA DE CÁSSIA RONDINA
Sobre este livro
Este e-livro é produto de uma das
etapas de pesquisa desenvolvida
dentro da dissertação de
mestrado intitulada “A
Medicalização de Crianças e
Adolescentes com TDAH em
tempos de pandemia de COVID-
19”, apresentada ao Programa de
Pós-Graduação Scricto Sensu em
“Ensino e Processos Formativos”
da UNESP – Universidade
Estadual Paulista “Júlio de
Mesquita Filho”. Este produto
educacional foi elaborado com o
intuito de auxiliar profissionais
educadores que cotidianamente
se deparam com o tema da
medicalização de seus alunos, em
especial, aqueles diagnosticados
com TDAH – Transtorno do
Déficit de Atenção e
Hiperatividade.
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TDAH
Medicalizar?
JOÃO LEOPOLDO ARAUJO
REGINA DE CASSIA RONDINA
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Contribuições Foucaultianas.
Posteriormente, e de forma muito mais abrangente, a
conceituação da medicalização ganhou maior destaque e uma
elaboração teórica aprimorada com as obras de Paul-Michel
Foucault, professor e filósofo francês, que apresenta de forma
muito clara o caminho da ampliação dos objetivos da
medicina, ou seja, o processo histórico pelo qual a
intervenção médica passa a incluir objetivos que a princípio
não faziam parte dela (ZORZANELLI & CRUZ, 2018;
SANTOS, 2013). Foucault introduz reflexões sobre o grande
impacto que a medicina pode exercer na padronização dos
indivíduos, atingindo os seus corpos, seus gestos, suas
atitudes, discursos, aprendizados e vida cotidiana;
massificando comportamentos através de fármacos capazes
de alterar significativamente todas as respostas do indivíduo
aos problemas do dia a dia (SANTOS, 2013; ZORZANELLI &
CRUZ, 2018; FOUCAULT, 1977).
Em âmbito escolar, muitos comportamentos antes vistos
como próprios da infância agora adentram a esfera da
patologia e abrem possibilidades para que os problemas da
aprendizagem sejam analisados sobe uma ótica médica
(LIMA & DOS SANTOS, 2021); promovendo, a interrupção de
uma cadeia de afeto e relações sociais na qual as crianças e
adolescentes estão inseridos, transformando-os em corpos
silenciados e apassivados (BARBOSA, 2019).
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A solução mais rápida?
Em um estudo realizado com o objetivo de analisar a visão de
pais e professores acerca do efeito do diagnóstico do TDAH
sobre as crianças, foi possível concluir que ao receber o
diagnóstico produzem-se efeitos dúbios, ambíguos e
complexos; por um lado, o diagnóstico do TDAH auxilia na
resolução dos problemas imediatos das crianças nas escolas,
bem como os problemas da escola em relação às diferenças
das crianças; por outro lado, as consequências do diagnóstico
do TDAH pode trazer prejuízos na vida adulta da criança,
que poderá não se ver mais capaz de realizar atividades
cotidianas (LIMA & DOS SANTOS, 2021; BRZOZOWSKI &
CAPONI, 2009).
Atualmente, em nosso país, existem dois medicamentos
aprovados pela ANVISA para o tratamento do TDAH, o
Cloridrato de Metilfenidato (MPH) e o Dimesilato de
lisdexanfetamina (LDX), ambos estimulantes do SNC -
Sistema Nervoso Central, que podem ser adquiridos com
receituário médico controlado em drogarias e farmácias.
Entretanto, por recomendação da CONITEC – Comissão
Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único
de Saúde, estes medicamentos não foram incorporados no
âmbito do Sistema Único de Saúde para o tratamento de
crianças e adolescentes devido as incertezas ainda presentes
na literatura atual com relação ao seu grau de eficácia na
melhora clínica dos pacientes e aos eventos adversos em
geral; e consequentemente, esses dois medicamentos não
estão disponíveis no SUS (BRASIL, 2020).
A literatura atual, que ampara a decisão da CONITEC de não
inclusão de intervenções medicamentosas para o TDAH no
SUS, propõe que no plano de tratamento deve-se enfatizar as
intervenções psicossociais (em destaque a terapia cognitivo
comportamental) especialmente para crianças e adolescentes
(BRASIL, 2022). Fato, que fortalece ainda mais a
preocupação da comunidade científica, com relação à
frequência e ao aumento progressivo da escolha primária de
intervenção farmacológica no tratamento do TDAH
(SANTOS & ALBUQUERQUER, 2019; FREEDMAN et al., 2023;
GIMBAC et al., 2023), desencadeando discussões mais amplas
sobre a precoce medicalização de crianças e adolescentes
(KATO, 2022; SANTOS & ALBUQUERQUER, 2019).
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