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Unidade III
7 CRIME E EXECUÇÃO PENAL
Figura 20
Ao longo dos anos, a criminalidade tem se tornado uma preocupação social e mundial devido aos
seus altos índices de ocorrência.
De acordo com Maranhão (2003), as atuações criminosas têm em comum a sua ilegalidade, sendo
que a lei não identificou e tampouco definiu um fator causal de criminalidade, e ele complementa:
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Observação
Um exemplo de classificação é a de Gibbons (apud MARANHÃO, 2003), que se baseia “num certo
número de afirmações e hipóteses importantes da teoria sociológica contemporânea”, dividida
em 15 grupos:
1. Ladrão profissional
7. Empregado desonesto
O ponto de partida da classificação etiológica mostra que, quando ocorre o ato criminoso, o agente
responde a estímulos que derivam do meio interno ou do ambiente externo. Nesse sentido, a classificação,
de acordo com esse parâmetro, fundamenta-se em conhecer qual dos estímulos foi predominante.
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• Delito doloso: diz respeito à prática de ato voluntário com resultado intencional. Nesse delito, existe
uma vontade consciente, porém são relevantes as motivações que levam à prática do delito.
• Delito culposo: prática de ato voluntário com resultado involuntário. Ele pode apresentar-se de
três formas: por meio da imprudência, por exemplo, quando uma pessoa dirige em velocidade
acima do permitido; por meio da negligência, por exemplo, quando uma mãe deixa seu bebê
sozinho por um longo período; por meio da imperícia, relacionando a omissão do indivíduo no
exercício de sua profissão.
• Delinquência ocasional: caracterizada por um indivíduo até então socialmente ajustado e que
segue as leis, que pratica o ato criminoso mediante um estímulo externo.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
• Delinquência psicótica: o delito surge devido a um transtorno mental, como nos casos de
esquizofrenia, psicose ou depressão.
Observação
Com relação a esse tipo de delinquência, Pinheiro (2016) alerta para a diferenciação entre a conduta
de uma pessoa com personalidade neurótica daquela portadora de personalidade delinquente:
No contexto brasileiro, a população carcerária também tem aumentado. De acordo com Carvalho (2014,
p. 162): “Não há como analisar o crime e a pena se não levarmos em consideração o criminoso, em seu
aspecto sociopsicológico. O crime sofreu ao longo dos séculos modificações temporais e sociais [...]”.
Atualmente, as pessoas que cumprem pena são chamadas de reeducandos pelos profissionais
do direito, e não mais de presos, internos, apenados, encarcerados ou presidiários. Essa mudança de
denominação está relacionada ao fato de que espera-se, no contexto jurídico, que haja uma ressocialização
através da reeducação. Várias são as explicações a respeito do crime. De acordo com Feldman (apud
CARVALHO, 2014):
Acreditamos que não se pode analisar o crime contra a vida sob o enfoque
exclusivamente técnico-jurídico, sob pena de transformarmos as ciências
humanas, na qual se insere a ciência jurídica, em ciências exatas, vale dizer,
devemos estudar as causas primeiras, sem as quais não poderemos chegar
à conclusão sobre as consequências últimas. Entendemos que os crimes
contra a vida exigem um estudo não só jurídico, mas também sociológico,
filosófico e antropológico.
Observação
Figura 21
Na área de execução penal, observamos que o conceito de crime, criminoso e tipos de pena varia de
acordo com o tempo e o espaço. Em outras palavras, podemos afirmar que o que foi crime outrora hoje
não é mais. Dessa forma, penas foram aplicadas para novos crimes e outras foram abolidas.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Destacam-se, para esse estudo, as contribuições de Michel Foucault, que expôs a relação entre poder
e conhecimento e como esses fatores são utilizados para o controle social através das instituições.
Foucault tratou de temas como loucura, sexualidade, disciplina, poder, punição e sistema penal.
Lembrete
Para Magalhães (apud PASSOS, 2013), Foucault, ao explicar as relações de poder, chama a nossa
atenção para não confundirmos com a relação de violência:
De fato, o que define uma relação de poder é um modo de ação que não age
diretamente e imediatamente sobre os outros, mas que age sobre sua ação
própria. Uma ação sobre a ação [...]. Uma relação de violência age sobre um
corpo, sobre coisas: ela força, ela dobra, ela quebra, ela destrói: ela fecha
todas as possibilidades; ela não tem, portanto, junto dela nenhum outro polo
a não ser o da passividade; e se ela encontra uma resistência, ela não tem
outra escolha a não ser a de procurar reduzir essa resistência. Uma relação
de poder, ao contrário, articula-se sobre dois elementos indispensáveis
para que ela seja, justamente, uma relação de poder: que “o outro” (aquele
sobre quem ela se exerce) seja bem reconhecido e mantido até ao fim como
sujeito de ação; e que se abra, frente à relação de poder, todo um campo de
respostas, reações, efeitos, invenções possíveis (PASSOS, 2013, p. 37).
Saiba mais
De acordo com Mansano e Nalli (2016), quando Foucault analisa os espaços de saber e de poder,
observa-se que:
Foucault sublinha que cada época constitui seus próprios objetos a partir de
suas camadas específicas de saberes e suas articulações com estratégias
de poder. Para conhecer essas camadas é necessário elaborar estudos que
procuram demarcar a coerência das percepções, dos olhares, dos discursos e
dos saberes de um período determinado a fim de apresentar suas escansões,
suas descontinuidades, suas reconfigurações; e também suas continuidades,
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Unidade III
Saiba mais
Para Foucault (2016), a prisão, principal pena aplicada aos que cometem crimes aos olhos da
sociedade, é um poderoso meio de marginalização daquilo das chamadas “classes perigosas”.
Saiba mais
Ao final da Idade Média europeia, por exemplo, com o surgimento da sociedade do trabalho, este
passa a ser valorizado e, consequentemente, desvalorizava-se aquele que não trabalhava.
Com o aparecimento das classes marginalizadas ou “perigosas”, que causam desconfiança, surge a
necessidade do controle social.
Cabe salientar que não somente as classes consideradas perigosas mudam ao longo da história e
dependendo do lugar. Há também mudanças no tipo de pena para os que são considerados criminosos.
Na sociedade feudal, visava-se ao corpo, no qual preferencialmente se aplicava o suplício e a pena de
morte. Na sociedade industrial, muitas vezes a pena privativa de liberdade é substituída por severas multas.
A pena privativa de liberdade visa à disciplina. As pessoas podem ser vistas e controladas. O objetivo
disso é que as pessoas introjetem a disciplina para que possam se comportar adequadamente no
contexto social. Assim, a falta de disciplina é perigosa, resultando no interesse da sociedade na reclusão
do “criminoso”.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Na Lei de Execução Penal brasileira, esse processo está nas mãos da Comissão Técnica de Classificação
(CTC). A CTC é constituída por médicos, psicólogos e assistentes sociais que emitem laudos, permitindo
diagnosticar o reeducando e prognosticar se ele tem condições de futuramente reintegrar-se na sociedade.
A ciência que se ocupa do crime, da criminalidade e de suas causas, da vítima, do criminoso e de sua
ressocialização é a criminologia. De acordo com Messa (2010, p. 62):
Observação
• Concepção causalista: há uma relação de causa e efeito entre a conduta criminosa e o que a
originou. Nessa concepção, em determinadas condições, o crime seria uma decorrência natural.
• Concepção multifatorial: nela não haveria uma relação causal. Essa concepção entende a
conduta criminosa como composta de uma série de circunstâncias determinantes do crime.
Para Maranhão (apud MESSA, 2010), os fatores causais de um crime podem ser classificados em:
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Unidade III
Diferentemente de Maranhão, Soares (apud MESSA, 2010) nos apresenta três categorias de causas
determinantes de um comportamento criminoso:
Finalmente, Fiorelli e Mangini (apud MESSA, 2010) apresentam duas hipóteses que podem explicar
o delito:
• O crime como resultado da privação: essa explicação é relativa, e não determinante, pois há a
possibilidade de definir um padrão de resiliência e adaptação.
• O crime como produto do meio: nessa condição, não haveria a possibilidade de livre‑arbítrio.
O indivíduo é entendido como resultado de seu meio.
Observação
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Figura 22
Um dos precursores dos estudos da vitimologia é Benjamim Mendelson (apud MESSA, 2010),
advogado que estabeleceu uma classificação interessante relacionada aos tipos de vítimas:
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Unidade III
• Vítima de culpabilidade menor ou por ignorância: ocorre quando há um impulso não voluntário
ao delito, mas de certa forma existe um grau de culpa que leva essa pessoa à vitimização. O indivíduo
que se expõe inconscientemente para fazer o papel de vítima. Exemplo: alguém que ostenta joias
em um lugar ermo e perigoso da cidade.
• Vítima voluntária ou tão culpada quanto o infrator: ambos podem ser o criminoso ou a
vítima. Exemplo: roleta‑russa (um só projétil no tambor do revólver e os contendores giram o
tambor até um se matar).
• Vítima mais culpada que o infrator: esse quadro envolve as vítimas provocadoras, que incitam
o autor do crime; as vítimas por imprudência, que ocasionam o acidente por não se controlarem,
ainda que haja uma parcela de culpa do autor. Exemplo: assaltante que invade a residência e
acaba morto pela vítima.
• Vítima unicamente culpada: dentro dessa modalidade, as vítimas são classificadas em: (a) vítima
infratora, ou seja, a pessoa comete um delito e no fim se torna vítima, como ocorre no caso
do homicídio por legítima defesa; (b) vítima simuladora, que através de uma premeditação
irresponsável induz alguém a ser acusado de um delito, gerando um erro judiciário; (c) vítima
imaginária, uma pessoa portadora de um grave transtorno mental que, em decorrência de tal
distúrbio, leva o Judiciário a erro, podendo se passar por vítima de um crime, acusando uma
pessoa de ser o outro, sendo que tal delito nunca existiu, ou seja, esse fato não passa de uma imaginação
da vítima (MESSA, 2010, p. 69).
Figura 23
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PSICOLOGIA JURÍDICA
A Lei de Execução Penal diz respeito à Lei n. 7.210, de 11 de julho de 1984. Entre os seus principais
conteúdos, destacam-se:
TÍTULO I
[...]
TÍTULO II
Do condenado e do Internado
CAPÍTULO I
Da classificação
Parágrafo único. Ao exame de que trata este artigo poderá ser submetido
o condenado ao cumprimento da pena privativa de liberdade em
regime semiaberto.
I – entrevistar pessoas;
[...]
CAPÍTULO II
Da Assistência
SEÇÃO I
Disposições Gerais
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PSICOLOGIA JURÍDICA
I – material;
II – à saúde;
III – jurídica;
IV – educacional;
V – social;
VI – religiosa.
Um exemplo de teorias explicativas é o que nos indicam Molina e Gomes (apud CARVALHO, 2014):
Uma questão importante que se coloca diz respeito à ressocialização do reeducando, como descreve
Carvalho (2014):
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Unidade III
Finalmente, a área da sociologia engloba todos os fenômenos sociais como fatores determinantes
do comportamento criminoso.
Observação
Não podemos esquecer que o indivíduo, na atualidade, é entendido como
um ser biopsicossocial também com relação ao comportamento criminoso.
A psicologia, quando inserida no contexto criminal, nos traz vários fatores influenciadores de um
comportamento criminoso, destacando-se:
• Fatores emocionais: do ponto de vista jurídico, passa a ser uma situação atenuante de alguns
delitos.
• Personalidade: explica que as pessoas podem parecer iguais diante de uma mesma situação. No
entanto, podem reagir de maneiras completamente diferentes.
• Diferentes necessidades humanas, frustrações e ideais: podem conduzir o indivíduo a
expressar respostas diversificadas.
• Estruturação do caráter: composta de introjeções de valores, a partir do superego, contendo
certos impulsos ou respostas socialmente reprováveis.
Observação
A estrutura da personalidade vai se formando desde o nascimento,
sendo influenciada por diversos fatores: biológicos, psicológicos ou sociais.
Cabe salientar que o papel do psicólogo jurídico, nesse contexto, é intervir sensibilizando esse
indivíduo sobre seu contexto social, familiar, cultural e psicológico, buscando fortalecer e melhorar
essas relações. Nesse sentido, o indivíduo poderá ter parâmetros para embasar seus projetos de vida e
realizar suas escolhas.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Vamos descrever agora em que sentido o psicólogo pode tornar-se um profissional importante na
análise de penas alternativas.
Antes de mais nada, é necessário salientar que o nosso panorama social é marcado por uma
distribuição de rendas desigual, refletindo no aparecimento de desequilíbrios econômicos e sociais.
Dessa forma, esses fatores têm os seus reflexos na prestação de serviços aos cidadãos. Como destacam
Roehrig e Siqueira (apud CARVALHO, 2014): “Mesmo com alguns avanços significativos nos dispositivos
legais que procuram maiores garantias de direitos individuais e coletivos, as perspectivas de cidadania
plena ainda se mostram restritas para muitos” (CARVALHO, 2014, p. 180).
O Conselho Federal de Psicologia editou as Referências Técnicas para atuação dos psicólogos no
sistema prisional (2012), tornando-se uma importante publicação, pois, de modo bem objetivo, mostra
o papel da psicologia no sistema prisional e o que se espera do papel do psicólogo como figura ativa
nesse contexto. Nesse sentido, as prisões são entendidas como:
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Unidade III
De acordo com Bitencourt (REFERÊNCIAS TÉCNICAS, 2012), as funções da pena podem ser
entendidas como:
• Retributivas e punitivas: funciona como uma prevenção geral do delito através do princípio
da exemplaridade, essa função visaria sustentar uma representação no imaginário social de fazer o
“desviante” pagar a dívida para com a sociedade, servindo-se da visibilidade do castigo e do
sofrimento prisional como exemplos/modelos para que os demais membros dessa sociedade “violada”
reprimam/inibam/controlem qualquer desejo de burlar as leis do código. A partir da visibilidade
do castigo, supostamente, se evitaria a prática de novos comportamentos desviantes da norma.
• Ressocializadoras e “terapêuticas”: funciona como uma prevenção especial do delito, instituída
tanto na aplicação quanto na execução da pena, essa função “político-educativa” estaria associada
à ideologia da recuperação do apenado e à lógica do tratamento ressocializador e visaria um
determinado “modus” de recuperação pedagógica, curativa e/ou reabilitadora do dito criminoso
ou “doente moral e criminal”. Tal pretensão de modificação ontológica sempre se materializou
por meio de métodos disciplinares, pastorais e confessionais, visando à “internalização” ou à
aprendizagem de sentimentos socialmente aceitáveis, tais como arrependimento, culpa, alegria,
empatia, respeito ao próximo, entre outros, perante uma instância estatal-juridical, religiosa ou
mesmo científica. Porém, em praticamente todas as análises produzidas em torno da questão “para
que servem as prisões?”, fica claro, desde sempre, que a resposta nos leva para uma constatação
empírica de que elas servem para aquilo que talvez esteja mais subliminarmente implicado em
cada uma dessas funções instituídas, que é segregar certos indivíduos considerados como parte
indesejável da sociedade (REFERÊNCIAS TÉCNICAS, 2012).
Essa prática realiza um diagnóstico, explica as demandas jurídicas para o campo da psicologia, que
passa a classificar e a diagnosticar certas características definidoras de periculosidade, por exemplo.
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Observação
Uma grande parcela de psicólogos que trabalham no sistema
prisional brasileiro pondera a complexidade da situação da criminalidade
contemporânea, que leva em consideração diversas formas de penalização,
opondo-se a concepções de sujeito psicológico.
Na atualidade, considera-se a criminalização não como algo natural, resultado de causas biológicas,
mas como um processo social e histórico. A nova postura considera o método prisional um fator
criminalizante, sendo ineficaz em termos de diminuição de atos criminais. Na realidade brasileira,
observa-se, inclusive, o aumento da marginalização, da exclusão social e das relações sociais degradantes.
Uma questão que requer atenção diz respeito aos loucos infratores ou pacientes judiciários no
contexto do sistema penal e penitenciário brasileiro.
A área de saúde mental, juntamente com a justiça, tendo como parâmetro a periculosidade do louco,
orienta-se em aplicar a medida de segurança por tempo indeterminado, sob forma de permanência do
louco em manicômio judiciário até o término da periculosidade.
O Código Penal brasileiro em vigor, que segue inalterado desde o início do século XX, deduzirá como
perigoso o indivíduo que praticou um crime devido à doença mental.
De acordo com o Código Penal: “Art. 26: é isento de pena o agente que, por doença mental ou
desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente
incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com este entendimento.”
Entende-se então que, uma vez enquadrados no artigo 26, esses agentes serão absolvidos de seus
crimes, mas sentenciados a uma medida de segurança por tempo indeterminado, objetivando sua
proteção e a da sociedade.
Observação
Do ponto de vista jurídico, perigoso não é o indivíduo sobre o qual
suspeita-se de possibilidade de reincidência; é aquele cuja avaliação
psiquiátrica pericial indicou evidente doença mental, condição entendida
como incapacitante.
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Unidade III
Portanto, podemos concluir que a psicologia se torna uma ciência que atua em parceria com a área
do direito, uma parceria viável nas práticas institucionais, desenvolvendo uma atuação coerente com a
complexidade do fenômenos humanos, adotando um papel social mais ativo.
Figura 24
Os aspectos emocionais e psicológicos de uma pessoa podem ser avaliados psicologicamente através
de uma perícia psicológica. Ela aprofunda criteriosamente a estrutura dinâmica da personalidade de
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PSICOLOGIA JURÍDICA
um indivíduo, a sua inteligência, sua maturidade mental, suas funções neurológicas, seus aspectos
emocionais, suas motivações.
Como resultado da perícia, é elaborado um laudo, documento minucioso que objetiva analisar e
integrar os fatos observados para subsidiar ações, decisões ou encaminhamentos judiciais.
Cabe salientar que as perícias podem ser requisitadas em diversos contextos, como em questões
trabalhistas, em casos de violência, em casos de adoção, de guarda dos filhos e regulamentação de
visitas, por exemplo.
Observação
O psicólogo deve estar atento para apresentar apenas os dados úteis para esclarecer as questões,
pautando sua atuação em princípios éticos. Dessa forma, não deve expor elementos desnecessários.
O Código de Processo Civil brasileiro indica em seu art. 145 que o juiz será auxiliado por um perito
quando as provas dependerem de conhecimento específico e especializado.
O Código de Ética do Psicólogo, art. 23, §1, ressalta que, nos casos de perícia, o psicólogo deverá tomar
as precauções para relatar somente o necessário para o esclarecimento do caso. É vedado ao psicólogo
ser perito, avaliador ou parecerista nas situações em que seus vínculos pessoais ou profissionais (atuais
ou anteriores) possam afetar a qualidade do trabalho a ser realizado ou a fidelidade aos resultados
da avaliação.
Dessa forma, o laudo psicológico é um essencial instrumento para que o juiz possa compreender o
papel de todas as pessoas envolvidas no caso. Essa compreensão engloba aspectos como os emocionais,
intelectuais e cognitivos nas diversas áreas de atuação.
No entanto, para que o psicólogo possa atuar como um perito, ele necessita ter conhecimentos
teóricos das chamadas áreas afins, como a do direito, a da medicina legal, a do serviço social, a da
criminologia, por exemplo.
O papel do juiz, ao pedir o laudo psicossocial, entende a ação do psicólogo jurídico como algo que
diagnostica e investiga.
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Unidade III
No âmbito do trabalho, a perícia tem um caráter de vistoria com o objetivo, por exemplo, de detectar
danos relacionados com as condições de trabalho como cargas e riscos, além de investigar alterações
de comportamento.
Nas Varas da Infância e Juventude, os laudos dizem respeito aos casos de adoção, alocações em lares
substitutos, abrigos, internação e desinternação.
Nas Varas de Família e Sucessões, é importante a investigação de questões relativas às guardas dos
filhos e a regulamentação de visitas.
Em outros casos, o papel do psicólogo torna-se importante em casos de interdição, em que se faz
necessária a demonstração da incapacidade para os atos da vida civil, destituição de poder familiar e
anulação de casamento.
Figura 25
Observação
De acordo com Messa (2010), eles se caracterizam por serem autocompositivos, ou seja, todas as
pessoas envolvidas no processo são autoras da decisão e da resolução do conflito.
A solução de conflitos, quando instaurada, requisita métodos adequados que devem levar em
consideração, por exemplo, as características dos envolvidos e suas experiências para indicar um
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PSICOLOGIA JURÍDICA
O julgamento é o método mais tradicional. Nele os fatos são analisados e posteriormente aplicados
no âmbito do direito, resultado em uma sentença que vincula as partes. O juiz representa o poder de
decisão, a autoridade suprema. Como pontua Pinheiro (2016, p. 105):
Na arbitragem, a decisão do conflito cabe a um terceiro, o árbitro, que é escolhido pelas partes. Nesse
sentido, cabe a alguém de confiança de ambas as partes a decisão. Segundo Messa (2010, p. 89):
A negociação é mais utilizada em situações que envolvem bens materiais. É importante destacar que
a negociação está presente, como uma de suas fases, tanto na conciliação quanto na mediação.
A conciliação é entendida como um método cooperativo que busca soluções, porém não tem o
poder de decisão, cabendo às partes esta tarefa. Cabe ao conciliador mostrar as vantagens de um acordo
para evitar outros tipos de conflitos. Messa (2010) complementa a esse respeito:
O papel do mediador não é decidir nem sugerir soluções, mas atua para que as partes as encontrem.
A sua intervenção permite o restabelecimento da comunicação das partes a fim de chegar a um acordo.
Para Messa (2010), a mediação, para ser caracterizada como tal, deve apresentar algumas
características:
• Deve ser voluntária no sentido de que as partes não são obrigadas a chegar a uma solução ou acordo.
• Ela é confidencial.
Lembrete
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PSICOLOGIA JURÍDICA
Resumo
Ao longo dos anos, a criminalidade tem se tornado uma preocupação
social e mundial devido aos seus altos índices de ocorrência. Observa‑se
uma multiplicidade de classificações relacionadas ao crime. No entanto,
destacam-se duas classificações importantes: a criminológica e a etiológica.
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Unidade III
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Uma questão que requer atenção diz respeito aos loucos infratores
ou pacientes judiciários no contexto do sistema penal e penitenciário
brasileiro. A área de saúde mental, juntamente com a justiça, tendo como
parâmetro a periculosidade do louco, orienta-se para aplicar a medida de
segurança por tempo indeterminado, sob forma de permanência do louco
em manicômio judiciário até o término da periculosidade.
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Unidade III
Exercícios
A) Para Foucault, a prisão é a principal pena aplicada aos que cometem crimes.
Análise da questão
Questão 2. A mediação está prevista pela legislação brasileira para a solução de conflitos, fazendo
uso de métodos extrajudiciais. O método utilizado e o principal foco da mediação são, respectivamente:
Análise da questão
O método utilizado pela mediação para solucionar conflitos é autocompositivo, cujo foco é chegar
à negociação entre as partes com competência e habilidade. A alternativa A está incorreta, pois o método
é mais econômico; a alternativa B está incorreta, pois o foco do método é o ganha-ganha; a alternativa C
está incorreta, pois o foco é no terceiro imparcial; e a alternativa E está incorreta, pois o caráter não
deve ser adversarial.
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REFERÊNCIAS
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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000