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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ OURINHOS – FAESO

CURSO DE DIREITO

A PSICOPATIA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

TAINÁ RAMOS DOS SANTOS

OURINHOS – SP

2018
TAINÁ RAMOS DOS SANTOS

A PSICOPATIA NO SISTEMA PENAL BRASILEIRO

Artigo Científico Jurídico apresentado à Faculdade


Estácio de Sá de Ourinhos, como requisito parcial para
obtenção do grau de Bacharel em Direito.

Professor orientador: Ronaldo Figueiredo Brito

OURINHOS – SP
2018
Dedico esse trabalho a minha família, que
me apoiou ao longo desse percurso, e a
Deus, que sempre iluminou meu caminho.
AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente a Deus, pela oportunidade de ter chegado até essa


etapa, e por sempre estar ao meu lado, guiando meu caminho.

Aos meus pais, Silvana e Norberto, que não mediram esforços para que eu
chegasse até aqui, sempre me apoiando em minhas decisões.

A minha avó, Licia, que sempre me incentivou e esteve ao meu lado.

As minhas amigas, Ana Beatriz e Kethryn, que são meus presentes da


faculdade, agradeço pelos conselhos, ajuda e paciência nesses últimos 5 anos.

Aos meus amigos, Flávio, Isadora, e Luana, por todo o apoio.

A todos os professores, pela sabedoria que compartilharam no decorrer do


curso.

Meus sinceros agradecimentos.


“O homem é o único ser capaz de fazer mal a
seu semelhante pelo simples prazer de fazê-
lo.”

(Schopenhauer)
A PSICOPATIA NO DIREITO PENAL BRASILEIRO

Tainá Ramos dos Santos1

RESUMO

O presente trabalho tem como finalidade a análise de um problema que causa


muita divergência no âmbito jurídico, sendo a psicopatia, um assunto que permanece
sem solução no Direito Penal. A começar pela teoria do crime, foi realizada uma
análise de cada um de seus elementos, com especial atenção para a culpabilidade.
Diante disso, foi examinada a figura do psicopata no ordenamento jurídico,
observando que existem muitas controvérsias sobre sua imputabilidade.
Posteriormente, foram abordadas as características do psicopata, demonstrando
como eles se comportam na sociedade. Por fim, foi realizado um estudo sobre as
penas e medidas de segurança, e de que modo são aplicadas a esses indivíduos.
Contudo, a proposta desse trabalho é demonstrar a importância da criação de normas
que regularizem esse tema, visando a diminuição da reincidência dos psicopatas.

Palavras-chave: Psicopatia. Direito penal. Culpabilidade. Imputabilidade.


Psicopata. Reincidência.

1Graduanda em Direito na Faculdade Estácio de Sá Ourinhos - FAESO


Email: taaina.a@hotmail.com
ABSTRACT

This paper aims the analisys of an issue that causes a lot of conflict in the legal
field, being psicopathy a topic that remains unsolved in Criminal Law. Starting with the
theory of the crime, a study was hold with each one of its elements, with special
attention regarding culpability. There of, the psicopathy profile was analysed according
to legal order, noting that, there are a lot of controversies about its responsability.
Subsequently, the psicopath’s characteristics was approached, showing how they
behave in society. Finally, a study concerning penalties and security measures was
hold, and will show how they apply to those individuals. However, this paper’s
proposition is to demonstrate the importance of the creation of rules which normalize
this subject, aiming to decrease of recidivism of psicopaths.

Key words: Psicopathy. Criminal law. Culpability. Responsability. Psicopath.


Recidivism.
SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...............................................................................................8

2. TEORIA DO CRIME.......................................................................................9

2.1 Culpabilidade penal......................................................................................9

2.3 Imputabilidade do psicopata.......................................................................13

3. O PSICOPATA.............................................................................................15

3.1 Conceito e Características.........................................................................15

3.2 Psicopata homicida....................................................................................17

3.3 Psicopatia e reincidência criminal...............................................................19

4. CASOS DE PSICOPATIA NO BRASIL........................................................20

4.1 Maníaco do Parque....................................................................................20

4.2 Suzane Von Richthofen..............................................................................21

4.3 Pedrinho Matador.......................................................................................22

5. MEDIDAS DE SEGURANÇA E PENAS......................................................23

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................25

REFERÊNCIAS...............................................................................................27
8

1. INTRODUÇÃO

A psicopatia sempre causou muita discordância na esfera penal, de forma que


nunca houve consenso sobre a imputabilidade do psicopata, uma vez que a norma
sempre se manteve omissa em relação ao assunto.

O Código Penal apenas se impõe sobre os doentes mentais, considerando-os


inimputáveis ou semi-imputáveis, como consta no artigo 26 do mesmo. Em razão
disso, surge a problemática em questão, visto que o psicopata não é portador de
doença mental, e sim de um transtorno, conhecido como transtorno de personalidade
antissocial, como é descrito pelo DSM-IV-TR (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Transtornos Mentais).

Devido a essa incógnita, será abordado o conceito de culpabilidade, assim


como seus elementos, buscando compreender como o Direito Penal trata os
criminosos portadores de psicopatia, e como surge a divergência sobre a
culpabilidade dos mesmos.

Alguns doutrinadores, assim como determinados tribunais, defendem a semi-


imputabilidade do psicopata. De acordo o ordenamento jurídico, os semi-imputáveis
são presos com a pena diminuída, ou submetidos a medida de segurança, no entanto,
nenhuma dessas medidas são eficazes para psicopatas.

Diante da complexidade da psicopatia, é necessário abordar a Psicologia e


Psiquiatria para compreender o transtorno, demonstrando suas características, como
por exemplo, a ausência de empatia e remorso, frieza, manipulação, alto grau de
inteligência, entre outras peculiaridades que dificultam a identificação desses
indivíduos.

Traçando o perfil do psicopata, e analisando o ordenamento jurídico atual, se


questiona qual medida deve ser aplicada a esses indivíduos quando cometem crimes,
uma vez que a prisão é ineficiente, já que eles não aprendem com a punição, o que
acaba gerando reincidência; assim como as medidas de segurança, pois ainda não
existe cura para a psicopatia.
9

Nota-se necessária a abordagem desse tema, em razão da psicopatia sempre


estar presente no cotidiano, direta ou indiretamente. Isso acontece pois os crimes
mais chocantes geralmente são cometidos por psicopatas, gerando temor na
sociedade. Normalmente, o psicopata é visto como um assassino cruel,
inescrupuloso, selvagem, entre outras características tratadas pela mídia, todavia, é
importante constar que essa figura do psicopata nem sempre está correta, uma vez
que esses indivíduos possuem propensão para o crime, mas nem todos são
criminosos.

Assim sendo, o presente artigo tem como objetivo analisar a punição dada pelo
Direito Penal aos criminosos portadores de psicopatia, e, desta maneira, demonstrar
que as medidas atualmente aplicadas são ineficazes.

No que concerne à metodologia empregada para a elaboração do trabalho,


foram utilizadas pesquisas bibliográficas, analisando livros de grandes autores do
Direito Penal, juntamente com obras de estudiosos da psicologia. O trabalho também
é alicerçado em doutrina e legislação, assim como na análise de alguns casos
concretos e sentenças condenatórias, para melhor compreensão do tema.

2. TEORIA DO CRIME

2.1. CULPABILIDADE PENAL

A princípio, é de suma importância entender o conceito de crime. Segundo


Walter Coelho, “O crime é toda ação humana típica, antijurídica e culpável, a que se
segue, em princípio, a punibilidade”2. Desta forma, compreende-se que os
elementos do crime são: a conduta humana, tipicidade, antijuricidade, e a
culpabilidade como pressuposto.

A conduta, é a ação ou omissão humana. Entende-se que a omissão é uma


conduta negativa, é quando o indivíduo deixa de fazer algo que deveria fazer por

2
COELHO, Walter. Teoria Geral do Crime, Volume 1. 2ª edição. Porto Alegre. Revista, 1998, p. 21.
10

obrigação legal, é o contrário da ação, que é a conduta positiva, quando o indivíduo


faz o que a norma o proíbe de fazer.

Tipicidade é quando a conduta do indivíduo está disposta em lei, como é


previsto na Constituição Federal, em seu artigo 5°, inciso XXXIX, “Não há crime sem
lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal”.

A antijuricidade (ou ilicitude), é quando a conduta é contrária ao ordenamento


jurídico.

A culpabilidade nada mais é que a reprovação da conduta ilícita do indivíduo.


Para Fernando Capez (2010, pg. 322) “É a possibilidade de se considerar alguém
culpado pela prática de uma infração penal”. Em outras palavras, a culpabilidade serve
para dizer se o indivíduo deve responder pelo crime. Mesmo que não seja um
elemento do crime, a culpabilidade é fundamental, pois é pressuposto da pena.

Os elementos da culpabilidade são:

a) Potencial consciência da ilicitude: para Régis Prado

“Esse conhecimento potencial não se refere as leis penais, basta que o


agente saiba ou tenha podido saber que o seu comportamento contraria ao
ordenamento jurídico. Fato ilícito significa tão somente aquele proibido pela
lei, independentemente de seu aspecto imoral ou antissocial.” 3

Ou seja, para que o sujeito possa ser considerado culpado, deve-se analisar se
no momento do crime, ele tinha possibilidade de saber que era uma conduta ilícita.

Quando o sujeito interpreta determinada norma erroneamente, ele pode achar


que uma conduta seja correta, quando na verdade é errada, praticando um ato ilícito
achando que é lícito. Nesse caso é chamado de erro de proibição.

O erro de proibição é diferente do erro de tipo, pois no erro de tipo o sujeito tem
uma visão alterada da realidade, fazendo uma interpretação errada da realidade, e
não da norma. O erro de tipo está previsto no Código Penal em seu artigo 20: “O erro
sobre elemento constitutivo do tipo legal de crime exclui o dolo, mas permite a punição
por crime culposo, se previsto em lei.”

3
PRADO, Luiz Régis. Curso de direito penal brasileiro: parte geral arts. 1° ao 120. 10. ed. São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2008, p. 379.
11

Por sua vez, o erro de proibição está previsto no artigo 21 do Código Penal. “O
desconhecimento da lei é inescusável. O erro sobre a ilicitude do fato, se inevitável,
isenta de pena; se evitável, poderá diminuí-la de um sexto a um terço.”

Sendo assim, o erro de proibição exclui a consciência da ilicitude, excluindo a


culpabilidade.

b) Exigibilidade de conduta diversa: de acordo com Régis Prado

“Trata-se do elemento volitivo da reprovabilidade, consistente na exigibilidade


de obediência à norma. Para que a ação do agente seja reprovável, é
indispensável que se lhe possa exigir comportamento diverso daquele do que
teve isso significa que o conteúdo da reprovabilidade repousa no fato de que
o autor devia e podia adotar uma resolução de vontade de acordo com o
ordenamento jurídico e não de uma decisão ilícita.” 4

Em outras palavras, ocorre quando a sociedade espera que o sujeito se


comporte de uma maneira, mas o mesmo se comporta de maneira diversa. A
reprovabilidade dessa conduta acontece porque o agente poderia agir de maneira
diferente, mas escolhe agir de forma errada.

c) Imputabilidade: Capez (2010, pg. 331), conceitua imputabilidade como

“A capacidade de entender o caráter ilícito do fato e de determinar-se de


acordo com esse entendimento. O agente deve ter condições físicas,
psicológicas, morais e mentais de saber que está realizando um ilícito penal.
Mas não é só. Além dessa capacidade plena de entendimento, deve ter totais
condições de controle sobre sua vontade.”

Seguindo esse raciocínio, compreende-se que imputabilidade é quando o


agente comete um ato ilícito com consciência de que aquele ato tem caráter ilícito, e
além disso, o agente tem total controle de suas ações no momento do ato.

Existem algumas excludentes da imputabilidade, as quais estão previstas no


artigo 26 do Código Penal:

Art. 26. É isento de pena o agente que, por doença mental ou


desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou
da omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

4 Ibid., p. 391
12

E no artigo 28, § 1°:

Art. 28. § 1°. É isento de pena o agente que, por embriaguez completa,
proveniente de caso fortuito ou força maior, era, ao tempo da ação ou da
omissão, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de
determinar-se de acordo com esse entendimento.

Existem três critérios para definir se o agente é inimputável: biológico,


psicológico e biopsicológico.

No sistema psicológico, apenas se observa se o agente é portador de doença


mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado, caso for, ele será
inimputável. Como exceção, foi adotado os menores de 18 anos, pois presume-se que
eles não tem capacidade de entendimento e vontade, de acordo com o artigo 27 do
Código Penal.

No sistema psicológico, só se observa se o agente possui alguma perturbação


mental no momento da ação/omissão.

O sistema biopsicológico consiste na junção dos dois sistemas anteriores, ou


seja, além de sua doença mental, no momento da conduta o agente deve estar
completamente incapaz de definir e entender se o ato é ilícito. O sistema
biopsicológico é o adotado pelo ordenamento jurídico brasileiro, como já foi
apresentado anteriormente no Artigo 26, Código Penal.

Entre a imputabilidade, inimputabilidade, temos a semi-imputabilidade, que


consiste na perda de apenas parte da capacidade de entendimento, também em razão
de doença mental ou desenvolvimento mental incompleto ou retardado. O sujeito
semi-imputável tem seu entendimento e controle reduzidos. Os requisitos para a semi-
imputabilidade são os mesmo da inimputabilidade. O Código Penal prevê a semi-
imputabilidade em seu artigo 26, no parágrafo Único:

Art. 26. § Ún. A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em
virtude de perturbação de saúde mental ou por desenvolvimento mental
incompleto ou retardado não era inteiramente capaz de entender o caráter
ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento

Vale constar que a semi-imputabilidade não exclui a culpabilidade, entretanto


o sujeito terá sua pena reduzida ou será submetido a medida de segurança.
13

2.2 IMPUTABILIDADE DO PSICOPATA

O Direito Penal define muito bem a imputabilidade. Porém, ainda há muita


dificuldade em classificar os criminosos como imputáveis, principalmente quando se
trata dos psicopatas.

A norma é omissa quando se trata da imputabilidade do psicopata. Existem


muitas discordâncias em relação a aplicação de pena desses indivíduos. Alguns juízes
optam pela imputabilidade, outros, pela semi-imputabilidade.

Determinados tribunais se prenunciaram optando pela semi-imputabilidade do


agente portador de psicopatia, como por exemplo o TJ de São Paulo: “Os psicopatas
são enfermos mentais, com capacidade parcial de entender o caráter criminoso do ato
praticado, enquadrando-se, portanto, na hipótese do parágrafo único do art. 22 (art.
26 vigente) do CP.” (SÃO PAULO, Tribunal de Justiça. RT 5050/303)5

O TJ do Mato Grosso também se manifestou sobre o assunto: “A personalidade


não se inclui na categoria das moléstias mentais, acarretadoras da irresponsabilidade
do agente. Inscreve-se no elenco das perturbações da saúde mental, em sentido
estrito, determinantes da redução da pena.” (MATO GROSSO, Tribunal de Justiça,
Ap. Relator Des. Costa Lima. RT 462/409)6

Alguns tribunais decidem pela semi-imputabilidade, pois o psicopata não é um


doente mental, não podendo se enquadrar em inimputável. Entretanto, ele também
não se enquadra em imputável, pois é portador de um distúrbio mental.

Em 2010, o ex deputado Marcelo Itagiba criou um projeto de Lei que versava


sobre os criminosos portadores de psicopatia, o qual não foi aprovado. O projeto tem
como finalidade separar os psicopatas dos presos comuns, e também a realização de
um exame criminológico que possa diagnosticar os portadores de psicopatia.

5
SÃO PAULO, Tribunal de Justiça, apud ALVES, Jhessica Emanuelle Rocha. A ineficácia da polícia
criminal frente aos crimes cometidos por psicopatas: aporias e perspectivas na atual polícia criminal. p.
36 Disponível em: http://www.ri.unir.br/jspui/bitstream/123456789/736/1/Editado%207%20-
%20Revis%C3%A3o%20p%C3%B3s%20banca.pdf
6
Ibid.
14

Com esse projeto, pode-se observar a necessidade de uma lei que reja sobre
o réu portador de psicopatia, visto que no ordenamento jurídico atual não existe
nenhuma norma que trate especificamente sobre o assunto.

Em 2001, Fernando Henrique Cardoso sancionou a Lei n° 10.216, mais


conhecida como Lei da Reforma Psiquiátrica, que versa sobre os indivíduos
portadores de transtorno mental, todavia, essa lei não se pronuncia sobre o psicopata.

O Decreto 24.559, criado em 1934, versava sobre psicopatia, sobre qual


estabelecimento o psicopata deveria ser enviado, sobre assistência e proteção desses
indivíduos, porém, não falava sobre a imputabilidade do psicopata. Esse decreto foi
revogado em 1990.

A ausência de uma norma que regulamente o assunto, obriga os juízes a se


basearem em doutrinas e jurisprudências para aplicação de penas. Desta forma, o
criminoso psicopata é, muitas vezes, julgado de forma errônea, sendo enviado a
presídios comuns e com a pena reduzida.

Com a análise da norma penal em relação a imputabilidade, pode-se considerar


o psicopata imputável, uma vez que eles entendem o caráter ilícito do ato e possuem
controle sobre suas ações. Porém, é perceptível que grande parte da doutrina e
jurisprudência o considera semi-imputável, uma vez que ele não pode ser considerado
imputável ou inimputável, pois a psicopatia não é uma doença mental, e sim um
distúrbio, como será abordado no decorrer do trabalho.

3. O PSICOPATA

3.1. CONCEITO E CARACTERÍSTICAS

Os psicopatas em geral são indivíduos frios, calculistas, inescrupulosos,


dissimulados, mentirosos, sedutores e que visam apenas o próprio benefício.
Eles são incapazes de estabelecer vínculos afetivos ou de se colocar no lugar
15

do outro. São desprovidos de culpa ou remorso e, muitas vezes, revelam-se


agressivos e violentos. 7

Isto posto, compreende-se que os psicopatas não são capazes de sentir


empatia, que é a capacidade de se colocar no lugar do outro, então não se importam
em fazer mal a alguém. Também são incapazes de sentir remorso, ou seja, podem
machucar, matar, roubar, destruir a vida alheia e não sentirão culpa.

Geralmente, quando se trata de um psicopata, grande parte da sociedade


imagina um serial killer, um indivíduo agressivo, maldoso, violento, louco, alguém que
seja identificado com muita facilidade. Entretanto, são seres humanos extremamente
persuasivos, manipuladores, inteligentes e racionais, o que dificulta sua descoberta
quando cometem crimes.

A psicopatia é mais comum do que se imagina, atingindo cerca de 4% da


população mundial, sendo 3% homens e 1% mulheres, segundo o DSM-IV-TR
(Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais), e pode atingir qualquer
raça, gênero e classe econômica.

O psicopata não é um doente mental, como muitos pensam. De acordo com o


DSM-IV-TR, a psicopatia se trata de um transtorno de personalidade antissocial
(TPAS). A finalidade do DSM-TR é caracterizar os transtornos mentais e determinar
quais os critérios utilizados para diagnosticar o indivíduo portador desse transtorno.
Como consta no Manual, é necessário no mínimo 3 desses critérios para o diagnóstico
o transtorno de personalidade antissocial, e são eles:

1) Fracasso em conformar-se às normas sociais com relação a comportamentos


legais, indicado pela execução repetida de atos que constituem motivo de
detenção;
2) Propensão para enganar, indicada por mentir repetidamente, usar nomes
falsos ou ludibriar os outros para obter vantagens pessoais ou prazer;
3) Impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;
4) Irritabilidade e agressividade, indicadas por repetidas lutas corporais ou
agressões físicas;
5) Desrespeito irresponsável pela segurança própria ou alheia;

7
SILVA, Ana Beatriz Barbosa. O psicopata mora ao lado. 1ª edição, Saraiva, 2014, p. 32
16

6) Irresponsabilidade consistente, indicada por um repetido fracasso em manter


um comportamento laboral consistente ou honrar obrigações financeiras;
7) Ausência de remorso, indicada por indiferença ou racionalização por ter ferido,
maltratado ou roubado outra pessoa.8

Segundo o Manual, o diagnóstico só pode ser feito depois dos 15 anos.


Entretanto, o transtorno pode ser observado na infância.

Harold Schechter (2013, pg 39), indica “três bandeiras vermelhas


comportamentais – muitas vezes referidas como tríade psicopatológica”, que são três
sinais de perigo que podem ser observados ainda na infância, são eles: Enurese
(urinar na cama), piromania (atos incendiários), e tortura de animais. Esse tríade
também é conhecida como Tríade MacDonald. Porém não significa necessariamente
que toda criança que apresentar esse tipo de comportamento se tornará um psicopata
futuramente, existem testes eficazes para determinar esse tipo de transtorno, como
por exemplo, o PCL-R.

Em 1991, Robert Hare criou um teste que possui a função de medir o grau de
psicopatia através de uma pontuação. Essa pontuação é feita por 2 fatores: O primeiro
é caracterizado pela frieza, falsidade, métodos cruéis, falta de remorso; e o segundo
por atividades antissociais, relutância no autocontrole, nos métodos utilizados nos
crimes. Esse teste ficou conhecido como “Escala Hare”, ou “PCL-R (Psychopathy
Checklist Revised)”, sendo traduzido no Brasil em 2000, mas não é utilizado.

Os neurologistas Jorge Moll e Ricardo Oliveira também criaram um teste para


identificar a psicopatia, chamado BEM (Bateria de Emoções Morais). Eles
demonstram que os psicopatas não são capazes de ter sentimentos pois possuem
uma deficiência no sistema límbico do cérebro, esse sistema é o responsável pela
capacidade de ter emoções.

Ainda não foi encontrada uma cura para a psicopatia, não existem remédios
que possam trazer sentimentos ao ser humano. Sendo assim, o único método utilizado
é terapia, a qual não cura o indivíduo, mas ajuda a controlar seus impulsos.

8 DSM-IV-TR, apud, BATISTA, Talita. Psicopatia no sistema prisional brasileiro. Disponível em:
https://jus.com.br/artigos/59236/psicopatia-no-sistema-prisional-brasileiro
17

É importante constatar que nem todo psicopata é criminoso ou assassino.


Existem diversos fatores ambientais que os tornam homicidas ou fisicamente
violentos, como será visto a seguir.

3.2. PSICOPATA HOMICIDA

Existem vários níveis de psicopatia, que vão do mais leve ao mais grave.
Segundo Robert Hare:

Ninguém nasce psicopata. Nasce com tendências para a psicopatia. A


psicopatia não é uma categoria descritiva, como ser homem ou mulher, estar
vivo ou morto. É uma medida, como altura ou peso, que varia para mais ou
para menos.9

Sendo assim, ao contrário de que muitas pessoas pensam, nem todo psicopata
é homicida, mas grande parte dos homicidas são psicopatas. Isso acontece devido a
diversos fatores, entre os mais relevantes estão a falta de empatia e uma infância
conturbada. Para Schechter (2013, pg 255)

Se uma pessoa é severamente maltratada desde a mais tenra infância –


submetida a constantes abusos físicos e psicológicos – ela crescerá com uma
visão deturpada da vida. Tendo sido torturado na infância por aqueles que
deveriam protege-lo, o indivíduo buscará mais tarde torturar os outros, em
parte como uma forma de vingança, e em parte porque foi tão deformado
psicologicamente por suas experiências que só consegue sentir prazer ao
causar dor – e, nos casos mais extremos, só consegue se sentir vivo ao
causar a morte.

Diante dessas palavras, pode-se observar que a maioria dos psicopatas


homicidas sofreu algum abuso, físico (muitas vezes sexual) ou psicológico, pelos pais,
familiares, vizinhos, ou alguém próximo da família. Obviamente isso não significa que
todos que sofreram algum tipo de abuso na infância se tornarão psicopatas nem
assassinos.

9
HARE, Robert. Psicopatas no divã. 2106 ed. Veja. São Paulo. 01 abr. 2009, p. 20.
18

Se engana quem pensa que os psicopatas homicidas, por seres assassinos


cruéis, são fáceis de se identificar, nas palavras de Ilana Casoy

Para parecer uma pessoa normal e misturar-se aos outros seres humanos, o
serial killer desenvolve uma personalidade para contato, ou seja, um fino
verniz de personalidade completamente dissociado do seu comportamento
violento e criminoso.10

O que Casoy quer dizer com “verniz”, é que o psicopata é extremamente


inteligente e manipulador, e sabe que sua conduta não é correta aos olhos da
sociedade. Com isso, ele possui uma capacidade de se “misturar” na sociedade,
persuadindo quem está a sua volta. Por isso, na maioria das vezes, quando esse
indivíduo é preso, já cometeu vários crimes.

Não há nenhum dispositivo legal que trate sobre psicopatas homicidas, nem
psicopatas homicidas em série, todavia, Casoy, os classificou em quatro:

a) O visionário é um indivíduo completamente insano, psicótico, que ouve


vozes dentro de sua cabeça e as obedece. Também podem sofrer de alucinações ou
ter visões.

b) O Missionário, socialmente não demonstra ser um psicótico, mas


internamente tem a necessidade de “livrar” o mundo do que julga imoral ou indigno.
Este tipo escolhe um grupo especifico para matar, como judeus, prostitutas,
homossexuais, etc.

c) Os Emotivos matam pôr pura diversão. Dos quatro tipos estabelecidos, é o


que realmente tem prazer de matar e utiliza requintes sádicos e cruéis.

d) Os Libertinos são os assassinos sexuais. Matam pôr excitação. Seu prazer


é diretamente proporcional ao sofrimento da vítima sob tortura e a ação de torturar,
mutilar e matar lhe traz prazer sexual. Canibais e necrófilos fazem parte deste grupo.11

É importante ressaltar que nem todo psicopata homicida é um assassino em


série. No entanto, na maior parte dos casos, eles não matam apenas uma vez, pois
como eles não possuem remorso e são dominados pela compulsão de matar, acabam
ceifando a vida de várias pessoas.

10
CASOY, Ilana. SERIAL KILLER – Louco ou cruel?. Madras Editora. 2004. p. 20
11
Ibid., p. 13
19

3.3. PSICOPATIA E REINCIDÊNCIA CRIMINAL

Existem dois problemas quanto ao psicopata e sua pena. O primeiro, é quando


são considerados semi-imputáveis, e com isso, tem sua pena reduzida, saindo mais
cedo da prisão e cometendo novos crimes. O segundo, é quando são considerados
imputáveis, e desta forma são encaminhados para presídios com presos comuns, e
como são indivíduos extremamente manipuladores, acabam manipulando outros
presos e até mesmo funcionários, gerando desordem e rebeliões. Devido ao seu alto
nível de inteligência e poder de manipulação, os psicopatas normalmente enganam
os profissionais de saúde mental, de forma que faça parecer que estão “curados”, e
por isso acabam sendo liberados da cadeia com rapidez, o que infelizmente custa
ainda mais vidas.

Seguindo esse pensamento, Ana Beatriz Barbosa Silva (2008, pg. 128) relata:

“Estudos revelam que a taxa de reincidência criminal (capacidade de cometer


novos crimes) dos psicopatas é cerca de duas vezes maior que a dos demais
criminosos. E quando se trata de crimes associados à violência, a
reincidência cresce para três vezes mais.”

Isso ocorre pois o psicopata é incapaz de enxergar a pena como punição, uma
vez que ele não sente culpa e remorso. Outro fator que colabora com a reincidência
desses indivíduos é que raramente ocorre a aplicação de algum teste para identificar
a psicopatia.

A psiquiatra forense Hilda Morana, responsável pela tradução, adaptação e


validação do PCL para o Brasil, além de tentar aplicar o teste para
identificação de psicopatas nos nossos presídios, lutou para convencer
deputados a criar prisões especiais para eles. A ideia virou um projeto de lei
que, lamentavelmente, não foi aprovado. (SILVA, 2008, p. 134).

Sendo assim, os criminosos portadores de psicopatia convivem com presos


comuns, sem nenhuma espécie de tratamento específico, e acabam se tornando
ainda mais propensos ao crime.

Como os psicopatas homicidas são assassinos frios e cruéis, são os que mais
causam repercussão, entre eles podemos citar Francisco de Assis Pereira (maníaco
do parque), Suzane Von Richthofen e Pedro Rodrigues Filho (Pedrinho matador).
20

4. CASOS DE PSICOPATIA NO BRASIL

4.1. MANÍACO DO PARQUE

Francisco de Assis Pereira, mais conhecido como Maníaco do Parque, é um


dos maiores exemplos de psicopata homicida no Brasil. Foi condenado pelo
assassinato de 7 mulheres, e estupro de 9, no ano de 1998.

Se trata de um clássico exemplo de psicopata: simpático, sedutor, boa lábia,


manipulador, predador, e cruel. Francisco mostra a grande capacidade de persuasão
de um psicopata, pois conseguia convencer suas vítimas, apenas com palavras, de
que era um fotógrafo, e as levava em sua moto para um “ensaio fotográfico”. Esse era
o seu modus operandis (modo de operação).

Retomando o que foi citado por Schechter, que grande parte dos psicopatas
sofreu algum tipo de abuso na infância, pode-se usar Francisco como exemplo. Ele
citou que foi molestado sexualmente na infância, mais precisamente quando tinha 7
anos, por uma tia, irmã de sua mãe, e que devido a isso passou a ter uma fixação em
seios. Comentou que posteriormente teve relações forçadas com um ex patrão, e
assim passou a ter interesse por relações homossexuais. Ainda falou de uma relação
com uma gótica, que quase arrancou seu pênis com uma mordida.

Francisco foi considerado imputável e condenado a 280 anos de prisão, no


entanto, como dispõe o ordenamento jurídico, só pode permanecer preso por no
máximo 30 anos. Essa questão gera muita contradição e pavor na sociedade, até
mesmo seu advogado de defesa, em entrevista, diz que “se ele não for 24 horas
supervisionado, ele vai cometer crimes de novo. Da mesma forma. Ele é um risco para
a sociedade se não for supervisionado full time.”12

Esse caso clássico de um serial killer psicopata serve para reafirmar a


necessidade de uma pena específica para esses indivíduos, visto que quando solto,
provavelmente cometerão crimes novamente.

12
Preso há 20 anos em SP, Maníaco do Parque deve ser solto em 2028. Disponível em:
https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2018/08/26/preso-ha-20-anos-em-sp-maniaco-do-parque-
deve-ser-solto-em-2028.ghtml
21

4.2. SUZANE VON RICHTHOFEN

Suzane Louise Von Richthofen ficou nacionalmente conhecida em 2002 por ter
assassinado seus pais, com o auxílio de seu namorado e irmão. Trata-se de um
popular caso de psicopata homicida que não é em série.

Foi um caso chocante para o país, pois Suzane liderou e planejou o assassinato
dos próprios pais durante meses. Trata-se também de um clássico exemplo de
psicopata, ela cometeu o crime friamente e não apresentou nenhum remorso. No dia
seguinte ao crime, foi encontrada pelos investigadores na piscina, sem apresentar
nenhuma tristeza ou sentimento em relação ao assassinato dos pais.

Suzane inclusive retirou do quarto de seus pais uma quantia em dinheiro,


tentando forjar, sem sucesso, um latrocínio. Com a ajuda de seu advogado, tentou
passar a imagem de uma jovem meiga e inocente, dando discursos sentimentais em
entrevistas. Porém, toda a mentira se tornou evidente em uma entrevista à Rede
Globo, quando o advogado de Suzane, sem perceber que o microfone estava ligado,
a aconselha a chorar e a mesma diz que não consegue.

Logo depois Suzane foi condenada a 39 anos de prisão e durante seu


julgamento, não demonstrou nenhum tipo de emoção e se manteve calma todo o
tempo.

Assim como a maioria dos psicopatas, Suzane apresenta um excelente


comportamento na prisão, inclusive já foi elogiada várias vezes por isso. Entretanto,
ela passou por um teste psicológico e “o laudo a descreveu como manipuladora,
dissimulada, narcisista e possuidora de agressividade camuflada.”13

Com esse caso, percebe-se que nem sempre o psicopata passa por abusos na
infância, e nem todo psicopata homicida é um serial killer. Suzane é uma garota rica,
e nunca existiram relatos de que ela teve uma infância conturbada. Isso mostra que a
psicopatia pode afetar qualquer sexo, classe econômica e raça.

13
VEJA. 25 de abril de 2018. Ed. nº 2579. Disponível em: https://veja.abril.com.br/revista-veja/a-um-
passo-da-liberdade/
22

4.3. PEDRINHO MATADOR

Pedro Rodrigues Filho, ou como é conhecido, Pedrinho Matador, é considerado


um dos maiores assassinos em série do Brasil, cometendo mais de 100 homicídios,
inclusive o do próprio pai.

Foi relatado que seu pai agrediu sua mãe a chutes quando ela ainda estava
grávida, o que causou ferimentos no crânio de Pedrinho. Sendo assim, é notável que
sua infância foi repleta de violência. Com o assassinato de sua mãe, pelo próprio pai,
Pedrinho assassinou o mesmo de maneira cruel, com apenas 15 anos. Juntando
esses dois fatores, formou-se um dos maiores psicopatas do país.

É perceptível o excesso de violência e a ausência de empatia na personalidade


de Pedrinho. Após ser preso, tatuou a frase “mato por prazer” em seu braço. Sempre
utilizando a manipulação e intimidação para ter controle sobre suas vítimas, e todos
ao seu redor.

Pedrinho continuou matando mesmo estando preso. Na prisão, matava por


motivos fúteis (se é que existiam motivos), por exemplo, matou um colega de cela por
roncar e outro pois “não ia com a cara dele”, como disse Pedrinho.

O caso de Pedrinho mostra como a falta de um tratamento diferenciado para


os criminosos psicopatas pode agravar ainda mais a situação, visto que mesmo preso
ele continuou cometendo assassinatos e se tornou ainda mais violento.

5. MEDIDAS DE SEGURANÇA E PENAS

Pena é uma sanção aplicada pelo Estado como forma de punição ou prevenção
para o agente que comete um ato ilícito. No Direito Penal, existe um princípio,
chamado Princípio da Proporcionalidade, em suma, significa que o Estado não pode
punir o agente de maneira excessiva. Ou seja, a sanção deve ser sempre proporcional
à gravidade da conduta do agente.

Para analisar a função e finalidade das penas, a doutrina recorre a três teorias:
absoluta, relativa e unificadora (ou mista).
23

Em síntese, a teoria absoluta tem como objetivo a punição do agente. Também


é conhecida como teoria retributiva, pois usa a pena para retribuir para o indivíduo o
mal que ele causou para a sociedade.

Por sua vez, a teoria relativa, ou preventiva, tem como objetivo a prevenção de
novos delitos, serve para o que a gente não volte a delinquir.

E por fim, a teoria unificadora, ou mista, que é o conjunto da teoria absoluta e


teoria relativa, tendo como objetivo punir e prevenir. Essa é a teoria adotada pelo
Código Penal.

No ordenamento jurídico, subsistem três espécies de pena: privativas de


liberdade, restritiva de direitos e multa.

As penas privativas de liberdade são divididas em reclusão e detenção. Na


reclusão, que é uma pena mais severa, pode ser cumprida em regime fechado,
semiaberto ou aberto, e a detenção em regime semiaberto ou aberto.

Por outro lado, as penas restritivas de direito, consistem em:

Art. 43. As penas restritivas de direitos são:

I - prestação pecuniária;

II - perda de bens e valores;

III - limitação de fim de semana.

IV - prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas;

V - interdição temporária de direitos;

VI - limitação de fim de semana.

E por fim, a multa, disposta no artigo 49 do Código Penal:

Art. 49. A pena de multa consiste no pagamento ao fundo penitenciário da


quantia fixada na sentença e calculada em dias-multa. Será, no mínimo, de
10 (dez) e, no máximo, de 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

A medida de segurança é um exemplo de sanção de caráter preventivo e


curativo. Sendo assim, a medida de segurança não tem como função punir o indivíduo,
apenas tratá-lo, para evitar que cometa novos delitos.

O sistema adotado pelo Código de 1940 era o Sistema Binário, que consistia
no conjunto da medida de segurança com a pena privativa de liberdade. Desta
24

maneira, a agente completava a pena privativa de liberdade e depois era submetido a


medida de segurança. No entanto, a partir da Reforma de 1984 o Código adotou o
Sistema Vicariante, no qual o agente só pode cumprir uma sanção, ou pena privativa
de liberdade, ou medida de segurança. O código 98 prevê esse sistema:

Art. 98. Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e


necessitando o condenado de especial tratamento curativo, a pena privativa
de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento ambulatorial,
pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e
respectivos.

Existem duas espécies de medida de segurança, e estão previstas no artigo 96


do Código penal:

Art. 96. As medidas de segurança são:

I - Internação em hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em


outro estabelecimento adequado;

II - sujeição a tratamento ambulatorial.

Existem duas grandes diferenças entre medida de segurança e pena, na


medida de segurança os agentes são doentes metais e estão em tratamento, na pena
são indivíduos comuns que estão presos. A outra diferença é que na pena o máximo
que o agente pode permanecer preso é 30 anos, na medida de segurança, é por
tempo indeterminado. Como rege o § 1° do artigo 97:

§ 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo


indeterminado, perdurando enquanto não for averiguada, mediante perícia
médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um)
a 3 (três) anos.

Contudo, deve-se observar uma falha no ordenamento jurídico em relação aos


criminosos portadores de psicopatia.

Esses indivíduos, se forem considerados imputáveis e condenados a cumprir


pena em prisão, serão um risco ao entrar em contato com presos comuns, visto que
exercem um grande poder de liderança e grande capacidade de manipulação,
incluindo o fato de que não tem nenhum tipo de tratamento psicológico, e quando são
soltos, voltam a cometer crimes.
25

Por outro lado, se forem considerados semi-imputáveis, irão cumprir medidas


de segurança, entretanto, os psicopatas não são doentes mentais, sendo assim os
hospitais de custódia são ineficazes pois não possuem o tratamento adequado para
esses indivíduos.

Desta maneira, mais uma vez ressalta-se a necessidade de uma norma que
trate sobre o assunto, pois é psicopatia é um distúrbio muito sério e complexo, e esses
indivíduos, quando criminosos, são um risco para a sociedade e precisam de cuidados
que o atual ordenamento jurídico não dispõe.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Verificou-se pelo presente trabalho que existe uma lacuna no direito penal no
que diz respeito aos criminosos psicopatas, visto que a legislação brasileira nada fala
sobre esses indivíduos, mostrando que o sistema penal brasileiro é falho no que tange
a recuperação dos portadores de psicopatia.

Diante da omissão da lei, a doutrina e jurisprudência majoritária entendem que


o psicopata é semi-imputável, desta forma, acaba sendo preso com pena diminuída,
ou submetido a medida de segurança.

Os psicopatas não possuem sentimentos genuínos, como empatia, remorso, e


culpa, logo, não aprendem com a punição. Sendo assim, quando saem da prisão
voltam a cometer crimes, por isso existe um alto nível de reincidência dos psicopatas,
o que torna o sistema penitenciário ineficaz em relação a esses indivíduos.

Além disso, como os psicopatas não possuem um tratamento diferenciado,


ficam com presos comuns, oferecendo riscos também dentro da cadeia. Ademais, por
serem manipuladores, acabam influenciando os demais presos, tornando-os
propensos a crimes mais graves.

É evidente que as medidas de segurança também são ineficazes em relação


aos psicopatas, pois elas tem como finalidade o tratamento de doenças, não sendo o
caso da psicopatia, que se trata de um transtorno e ainda não tem cura.
26

Contudo, é inegável o despreparo do Direito Penal no que concerne aos


criminosos portadores de psicopatia, pois nenhuma das medidas atualmente
aplicadas à eles possuem efeito positivo, elas apenas agravam o transtorno e colocam
a sociedade em risco.

Diante o exposto, nota-se a importância de um tratamento diferenciado para


esses indivíduos, um tratamento no qual não sejam colocados com presos comuns,
nem com doentes mentais. Uma medida viável seria o isolamento dos psicopatas,
para que não ofereçam riscos a outros presos ou doentes, juntamente com um
tratamento psicológico, visando combater a reincidência desses indivíduos.

Para tanto, é necessário a realização de exames médicos, por profissionais


qualificados, que possam identificar esse transtorno em casos de suspeita, como por
exemplo, o teste PCL-R, o qual é aplicado em diversos países e já foi traduzido no
Brasil, porém, não é utilizado.

É de extrema necessidade que os psicopatas possuam um tratamento


específico, uma vez que, quando postos em liberdade, não tem acompanhamento e
voltam a cometer delitos, colocando a sociedade à mercê de suas investidas.

Nota-se importante destacar que o tratamento para o psicopata deve persistir


durante toda a sua vida, portanto, é necessário que o Direito Penal e a Medicina
estejam juntos para encontrar o tratamento adequado, visando a segurança da
sociedade.

A finalidade do trabalho é alertar sobre a urgência de uma solução para o tema,


pois infelizmente a questão da psicopatia, na esfera penal, encontra-se esquecida e
muito longe de uma solução.

Portanto, essa pesquisa mostra que a psicopatia no âmbito do Direito Penal


trata-se de uma questão de segurança, visto que os psicopatas não possuem o
tratamento adequado, se tornando um risco para a sociedade.
27

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crimes cometidos por psicopatas: aporias e perspectivas na atual polícia
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