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Criminoso nato

Cesare Lombroso nunca afirmou que todos os criminosos eram


natos, mas que o “verdadeiro” delinquente, era nato. Sustentava
que, tendo em vista a sua natureza, a aplicação de uma pena era
ineficaz. Em síntese, o delinquente nato era considerado um
doente. Isso porque nascia assim, razão pela qual não
deveria o mesmo ser encarcerado.
Desse modo, sustentava que o criminoso deveria ser segregado
da sociedade, antes mesmo de se ter cometido o delito, tendo em
vista a sua característica de criminalidade imutável.
No campo da política criminal, a recomendação de segregação
deste indivíduo do meio social, antes mesmo do cometimento de
um crime, funcionaria como meio de defesa social.
Enfim, a teoria sobre a criminalidade nata, encabeçada por
Lombroso, vigorou por muito tempo na Europa. Entretanto,
perdeu força ao longo do tempo. Dessa forma, perdendo força no
continente europeu, ganhou grande acolhida na América Latina,
inclusive no Brasil.
Entretanto, ainda que a teoria da criminalidade nata tenha sido
amplamente rebatida e tenha caído em desuso, por ser
considerada tendenciosa e preconceituosa, seria possível
afirmar que ainda não é aplicada nos dias de hoje?.

. Cesare Lombroso e o homem delinquente


Sua principal contribuição para à Criminologia foi a sua teoria
sobre o “homem delinquente”. Em síntese, a teoria contou com
a análise de mais de 25 mil reclusos de prisões europeias.
Além disso, seis mil delinquentes vivos e resultados de pelo
menos quatrocentas autópsias (PABLOS DE MOLINA , 2013,
p. 188).
A partir do estudo realizado, Lombroso constatou que entre esses
homens e cadáveres existiam características em comum, físicas
e psicológicas, que o fizeram crer que eram os estigmas da
criminalidade.
Nesse sentido, para ele, o crime era um fenômeno biológico. E
não um ente jurídico, como afirmavam os clássicos. Sendo
assim, o criminoso era um ser atávico, um selvagem que já
nasce delinquente.
Utilizando-se do método empírico-indutivo ou indutivo-
experimental, o positivismo criminal de Lombroso buscava
através da análise dos fatos, explicar o crime sob um viés
científico. Em suma, concebia o criminoso como um indivíduo
distinto dos demais, um subtipo humano.
Dessa forma, fundamentava o direito de castigar, não como
meio e finalidade de punir o agente que praticou o ato delituoso,
mas sim, com o propósito de conservar a sociedade, combatendo
assim a criminalidade.

. O período da Criminologia Científica


Com a publicação da obra “Tratado Antropológico
Experimental do Homem Delinquente”, em 1876, de Cesare
Lombroso, a criminologia passa para o período denominado
“científico”. Tal mobilização resultou na criação da Antropologia
Criminal, que teve o referido médico por fundador.
Embora seja inquestionável a importância de Lombroso para a
instituição da Antropologia Criminal, tais estudos sobre o homem
já haviam sido abordados, de forma esparsa e não tão
aprofundada, por outros pesquisadores. No entanto, apenas ele
teve a capacidade de codificar todos esses pensamentos
fragmentados e forma formular a sua teoria.
As pesquisas no âmbito da Frenologia corroboraram e muito
para a teoria Lombrosiana. No século XIX já eram observados
estudos que relacionavam a personalidade do indivíduo com a
natureza do delito praticado por ele, sendo o anatomista, Johan
Frans Gall, o primeiro a fazer tal relação. Gall, em sua teoria dos
“vultos cranianos”, procurou estabelecer a base dos defeitos e
qualidade do indivíduo (DRAPKIN , 1978, p.22-23).
Em síntese, descobriu-se com os resultados de suas pesquisas
que determinadas tendências comportamentais do homem se
originavam em determinadas áreas do cérebro e que algumas
dessas tendências eram mais preponderantes que outras.
Médicos psiquiatras daquela época, que realizavam suas
pesquisas junto às prisões e também cuidavam dos presos,
podem ser considerados igualmente, percursores de Lombroso.
Felipe Pinel, que desmistificou a concepção de que o louco era
um possuído pelo demônio, atribuindo a ele a condição de doente
e Esquirol, que procedeu nos primeiros estudos relacionando a
loucura como motivo para o cometimento de um crime, podem
ser considerados alguns desses percussores.

CLASSIFICACAO DOS CRIMINOSOS


Sumariva (2017) em sua obra “Criminologia”, conceitua o
criminoso na criminologia moderna, deixa de ser figura central e
passa para um segundo plano. O criminoso, quando analisado
tende a ser examinado como unidade biopsicossocial e não
mais como unidade biopsicopatológica, ele cita alguns
professores e psiquiatras forenses, os quais apresentam algumas
classificações de criminosos.
O professor Hilário Veiga de Carvalho de forma classifica os
criminosos de acordo com o domínio dos fatores biológicos ou
mesológicos, que são:
- biocriminosos puros (pseudocriminosos): esses tipos de
criminosos apresentam apenas os fatores biológicos, e são
submetidos a tratamento médico psiquiátrico em manicômio
judiciário, nestes casos estão os psicopatas ou epilépticos, que
durante suas crises são capazes de efetuar disparos de arma
de fogo ou cometer outros delitos, (SUMARIVA, 2017).
- biocriminosos preponderantes: são aqueles portadores de
alguma anomalia biológica insuficiente para desencadear a
ofensiva criminosa, que cedem ao estímulo externo e a ele
respondem facilmente. São aqueles casos que se enquadram no
ditado popular “a ocasião faz o ladrão”, (SUMARIVA, 2017).
- biomeso-criminosos: são aqueles que sofrem influências
biológicas, no entanto é difícil decidir quais fatores pesam mais
na conduta delituosa, estes criminosos são os passíveis de
correção. Geralmente a reincidência é ocasional.
Exemplo: O pai não tem condições de comprar um carro, o
filho vai lá rouba um carro a mão armada e mata a vítima,
(SUMARIVA, 2017).
- mesocriminosos preponderantes: são aqueles fracos de
caráter e de personalidade, estes tem correção esperada. São
que se enquadram no ditado popular “Maria vai com as outras”,
(SUMARIVA, 2017).
- mesocriminosos puros: são aqueles que praticam condutas
repreensíveis numa determinada sociedade, mas tal conduta é
aceita em seu meio social, geralmente esses são vítimas e não
considerados criminosos, como exemplo tem o brasileiro que
está morando no Oriente, e é pego ingerindo bebida alcóolica
após o seu horário de trabalho e sofre a sanção de receber
algumas chibatadas, naquela sociedade essa fato é ilícito, mas
no Brasil não, (SUMARIVA, 2017).
Odon Ramos Maranhão define a ação criminosa como sendo “a
soma de tendências criminais de um indivíduo com sua
situação global, dividida pelo acervo de suas resistências”.
(MARANHÃO, 2008, p. 28, apud SUMARIVA, 2017, p. 146).
Neste sentido, ele classifica os criminosos como:
Criminoso ocasional: o criminoso ocasional apresenta
personalidade normal, poderoso fator desencadeante e ato
consequente do rompimento transitório dos meios contensores
dos impulsos.
Criminoso sintomático: o criminoso sintomático personalidade
com perturbação transitória ou permanente: mínimo ou nulo
fator desencadeante.
O criminoso caracterológico apresenta personalidade com defeito
constitucional ou formativo de caráter: mínimo ou eventual fator
desencadeante e ato ligado à natureza do caráter do agente.
(MARANHÃO, 2008, p. 28, apud, SUMARIVA, 2017, p. 146).

psiquiatra Guido Arturo Palomba, apresenta os criminosos


como 05 tipos, que são:
- impetuosos: esses criminosos agem no impulso, de forma
momentânea. Geralmente eles praticam os delitos que são
relacionados ao crime passional, homicídios ou lesões
corporais, (SUMARIVA, 2017).
- ocasionais: geralmente esse tipo de criminoso são
influenciados pelo meio de seu convívio, são levados pelas
condições pessoais, eles costumam praticar crimes contra o
patrimônio, como furtos, estelionatos entre outros,
(SUMARIVA, 2017).
- habituais: esses criminosos são adquirir uma vida honesta,
eles praticam todos os tipos de delitos como tráfico, roubo,
assassinato em série, geralmente são aqueles que tem o
crime como profissão, (SUMARIVA, 2017).
- fronteiriços: para o psiquiatra Guido esse tipo de criminoso não
são devidamente doentes mentais e nem completamente
normais. São os semi-imputáveis, eles apresentam distúrbio
de afeto e sensibilidade, e essas alterações os levam a prática
de crimes. A principal característica do fronteiriço é a frieza
com que tratam as vítimas, (SUMARIVA, 2017).
- loucos criminosos: esses são divididos em dois grupos que
são aqueles que agem por um processo lento, e o outro são
aqueles que agem no impulso momentâneo e sua execução é
constante, (SUMARIVA, 2017).

Lombroso classificou os criminosos como:


- criminoso nato: é o tipo de criminoso que tem instinto para a
prática de delitos, é a espécie de um selvagem para a
sociedade, (SUMARIVA, 2017).
- criminoso louco: é aquele tipo de criminoso malvado,
perverso, louco, que deve sobreviver em manicômios,
(SUMARIVA, 2017).
- criminoso de ocasião: este aponta uma tendência hereditária,
possui hábitos criminosos influenciados pela ocasião,
(SUMARIVA, 2017).
- criminoso por paixão: esse tipo de criminoso utiliza de
violência para resolver problemas passionais, geralmente são
nervosos, irritados e levianos, (SUMARIVA, 2017).

Enrico Ferri apresenta a classificação de criminosos como:


- criminoso nato: é o criminoso sórdido com deficiência do
senso moral, (SUMARIVA, 2017).
- criminoso louco: esse tipo de criminoso é alienado ou
fronteiriço, (SUMARIVA, 2017).
- criminoso ocasional: esse tipo de criminoso ocasionalmente
pratica crimes, para Ferri, é o delito quem procura o sujeito,
(SUMARIVA, 2017).
- criminoso habitual: esse tipo de criminoso faz do crime seu
meio de vida, normalmente estes são reincidentes na ação
criminosa, (SUMARIVA, 2017).
- criminoso passional: estes agem pelo impulso, durante o
transtorno psíquico, (SUMARIVA, 2017).

1. Psicopatia e a Semi-Imputabilidade

Para Trindade (2009), existem três formas de denominar os


criminosos, a primeira são os imputáveis, os semi-imputáveis
que pode ser chamado também de responsabilidade diminuída, e
os inimputáveis. No Código Penal Brasileiro só existe os casos
de excludentes, que são de inimputabilidade e semi-
imputabilidade, não apresenta o conceito de imputabilidade.
De acordo com Masson (2015), a imputabilidade penal é um
dos elementos de culpabilidade. O Código Penal acompanhou a
tendência, assim como a maioria das legislações modernas, e
optou por mostrar apenas as hipóteses em que a imputabilidade
está ausente, ou seja, nos casos inimputabilidade penal.
Reale (2013), aponta que o desenvolvimento metal incompleto ou
retardado pode tanto caracterizar a inimputabilidade como a
semi-imputabilidade, o que diferencia é se havia ausência de
capacidade de entendimento do caráter criminoso do fato ou de
se autodeterminar, ou se o agente tinha esta capacidade, mas
não plena, onde sua pena pode ser diminuída de um a dois
terços, se, no momento do crime, não era inteiramente capaz de
entender o caráter ilícito do fato, conforme preceitua o artigo 26,
parágrafo único, do Código Penal. Pois, quando se trata de semi-
imputabilidade, o sujeito não é completamente incapaz.

Neste mesmo diapasão Trindade (2009), classifica o indivíduo


como psicopata que se enquadra na definição de semi-
imputabilidade, pois o transtorno este possui afeta é a sua
personalidade, diferente do transtorno mental que afeta é a
lucidez e desequilibra as emoções.
Para Nucci (2010), o psicopata é considerado semi-imputável,
pois, ele possui completo entendimento do caráter ilícito do fato,
o que é afetada é a sua capacidade de autodeterminação, o que
não exclui sua culpabilidade. Essa característica é fundamental
para que o psicopata possua responsabilidade diminuída, já que
possui um transtorno de personalidade, não faz dele um alienado
mental, uma vez que não altera a inteligência, a razão e a
vontade.
Existem jurisprudências, e decisões que confirmam as
informações que a psicopatia não se trata de uma doença
mental, mas sim de uma perturbação de conduta fronteiriça entre
a normalidade psíquica e o transtorno mental e por isso se
enquadra na redução facultativa da pena do artigo 26, parágrafo
único do Código Penal. Neste caso o legislador não se refere ao
grau de periculosidade do criminoso denominado psicopata:

A personalidade psicopática não se inclui na categoria das


moléstias mentais, acarretadoras da irresponsabilidade do
agente. Inscreve-se no elenco das perturbações da saúde
mental, em sentido estrito, determinantes de redução da pena
(MATO GROSSO, TJMT, 2002).

Juliotti (2011), trata da periculosidade do semi-imputável em


medida de segurança, mas cessada tal periculosidade, será
realizado novo exame pericial, e após será proposta a
desinternação do indivíduo que estiver internado e a liberação no
caso do tratamento ambulatorial, hipótese está apontada no
artigo 98 do Código Penal nos termos do artigo 97, §§ 1º e 2º
também Código Penal:

Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua


internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto como crime for
punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento
ambulatorial. Prazo § 1º – A internação, ou tratamento
ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando
enquanto não for averiguada, mediante perícia médica, a
cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1
(um) a 3 (três) anos. Perícia médica § 2º - A perícia médica
realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser
repetida de ano em ano, ou a qualquer tempo, se o determinar o
juiz da execução, (BRASIL, 1940).

Essa periculosidade prevista no parágrafo 1º do artigo 97, do


Código Penal, é referente a uma periculosidade onde o indivíduo
tem a efetiva probabilidade de reincidir é tão alta que
desaconselhe a desinternação pelo risco corrido.
Neste sentido, entende o Tribunal de Justiça do Estado de Goiás,
julgado pelo desembargador Itaney Francisco Campos:

APELAÇÃO CRIMINAL. JÚRI. CONDENAÇÃO. SEMI-


IMPUTABILIDADE. PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE.
PRETENSÃO MINISTERIAL DE SUBSTITUIÇÃO POR MEDIDA
DE SEGURANÇA. ALEGAÇÃO DE PERICULOSIDADE.
PROGNOSE NÃO AFIRMADA PELA PROVA PERICIAL.
DESPROPORÇÃO ENTRE O TEMPO MÍNIMO PREVISTO
LEGALMENTE PARA A INTERNAÇÃO E O TEMPO RESTANTE
DE PENA PRIVATIVA DE LIBERDADE A SER CUMPRIDA.
INVIABILIDADE. A periculosidade do semi-imputável que autoriza
a substituição da pena privativa de liberdade por medida de
segurança há de ser real, devidamente fundamentada em laudo
pericial, não se admitindo a sua presunção pela mera
probabilidade de reiteração criminosa indicada pelos eventuais
maus antecedentes. Afirmando a prova técnica que o
semirresponsável tem condições de cumprir qualquer espécie de
pena e que não há indicação de medida de segurança por conta
da suspeita de reiteração criminosa, repele-se a pretensão de
substituição fundamentada no artigo 96 do Código Penal, quanto
mais se a substituição consistirá em grave desproporção
constatada entre o tempo de pena privativa de liberdade restante
a ser cumprida (15 dias) e o tempo mínimo de internação (1 ano).
APELAÇÃO IMPROVIDA.

(GOIÁS, TJGO, 2015).

Neste caso o apelado foi condenado pelo crime de homicídio


artigo 121 c/c art. 14, II, CP. O desembargador negou o
provimento do recurso, por entender que a substituição da pena
privativa de liberdade por internação em hospital de custódia e
tratamento psiquiátrico ou, na falta deste, em outro
estabelecimento adequado, nos termos do artigo 96, inciso I, do
Código Penal, uma vez que, no laudo pericial oficial, onde
questionado a respeito de eventual cumprimento de pena
privativa de liberdade pelo recorrido, assentou que o periciando
apresenta condições de cumprir qualquer pena que lhe seja
aplicada, atestou ainda que não há indicação formal de
internação por conta da probabilidade de reincidência.
2. Prisão e Medida de Segurança

2.1 Prisão

Para Neto (2000), a prisão é o local onde o indivíduo fica


encarcerado com o intuito de detê-lo. Leciona que antes de ser
um instrumento de pena, a prisão (local) se destinava a deter o
condenado até o dia da execução de sua pena, corporal ou
infame. Atualmente, o estabelecimento prisional é utilizado pela
justiça para manter os presos, provisórios, condenados ou os
submetidos a medida de segurança.

Nucci (2014) define a prisão como sendo a privação da liberdade,


do direito de ir e vir, com o consequente encarceramento da
pessoa, resultada de uma sentença condenatória transitada em
julgado. Já a prisão cautelar tem como fundamento a
necessidade de se obter uma instrução ou investigação criminal
eficiente, produtiva, livre de interferências. Atualmente existem
seis espécies de prisão cautelar, espalhadas no Código de
Processo Penal Brasileiro: prisão em flagrante, prisão preventiva,
prisão temporária, prisão em decorrência de sentença
condenatória recorrível, prisão decorrente da pronuncia e a
conduta coercitiva de alguém que se recuse, injustificadamente, a
comparecer em juízo ou perante a autoridade policial.

Prisão, portanto, é o estabelecimento no qual o indivíduo


imputável fica detido, restrito de sua liberdade e que resulta de
uma sentença condenatória transitada em julgado. Entretanto,
veremos a seguir que não é só a prisão que pode privar o
indivíduo de sua liberdade.

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