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• fundada em 1945
Volume 75 nº 2 2019
Pedro Calafate
Universidade de Lisboa, CFUL
Álvaro Balsas, SJ
Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais
(Eds.)
Volume 75
Fascículo 2
2019
I.C.S.: ISENTO DE REGISTO – NIF 507147170
Catalogação na Fonte: Escola Ibérica da Paz: Direito Natural e Dignidade Humana = Iberian Peace School: Natural Law and Human Dignity / eds. Pedro
Calafate; Álvaro Balsas. in: Revista Portuguesa de Filosofia, Vol. 75, Fasc. 2 (2019).
I. Ética II. Política III. Escola Ibérica de Paz 1. Calafate, Pedro 2. Balsas, Álvaro 3. Título.
udc: 17; udc: 32.
ddc: 170; ddc: 320.
por
DOMINGOS MAURÍCIO, SJ; CASSIANO ABRANCHES, SJ
SEVERIANO TAVARES, SJ; DIAMANTINO MARTINS, SJ
Director / Editor
MANUEL GONÇALVES SUMARES
Secretário / Secretary
ARTUR EMANUEL ILHARCO GALVÃO . RICARDO BARROSO BATISTA
ROQUE DE AGUIAR CABRAL, SJ . JOSÉ HENRIQUE SILVEIRA DE BRITO . JOSÉ GONÇALVES GAMA
Apresentação | Presentation
PEDRO CALAFATE
ÁLVARO BALSAS, SJ 763-776
Vol. 75
Fasc. 2 RPF 2019
756 Índice | Contents
Vol. 75
Fasc. 2 RPF 2019
Índice | Contents 757
Ad Extra
Laurens van Apeldoorn & Robin Douglass (Eds.), Hobbes on Politics and
Religion. Oxford: Oxford University Press, 2018. Isbn: 978-019-880-3409.
MANUEL LENCASTRE CARDOSO, SJ 1383-1386
Publicidade | Publicity
Colecção Pedagogia 1399-1400
Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science 1401-1408
Vol. 75
Fasc. 2 RPF 2019
Indexação da Revista Portuguesa de Filosofia na SCOPUS-Elsevier
T
emos o grato prazer de comunicar aos nossos leitores que, no passado dia
5 de Maio de 2019, foi concedida à Revista Portuguesa de Filosofia (RPF) a
sua inclusão na base internacional de indexação de dados SCOPUS-Elsevier,
terminando assim, com êxito, o processo de avaliação da candidatura da Revista
a esta base de dados.
Na sua mensagem de congratulação, a Scopus alude ao mérito alcançado
pela RPF, sublinhando os seguintes aspectos:
The journal has scholarly relevance as evidenced by citations in other journals currently
covered by Scopus.
In general, the content of the articles is consistent with the scope and aims of the journal.
The articles are generally well written and understandable.
The journal addresses a subject area not properly covered by an existing journal.
Peer review type is clearly stated and is supported by appropriate reviewer guidelines.
The journal has clear aims and scope/journal policies that are consistent with the journal’s
content.
The journal is international and has potential to go much further.
The reforms introduced can be seen to have worked, and to continue to be improving the
journal. As such, it merits inclusion in SCOPUS.
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Indexation of the Revista Portuguesa de Filosofia by SCOPUS-Elsevier
W
e are very pleased to announce that, on the 5th of May, 2019, the Revista
Portuguesa de Filosofia (RPF) was granted inclusion in the international
base of data indexing, SCOPUS – Elsevier, concluding successfully an
evaluation process of the candidacy advanced by the RPF.
Along with its congratulatory message, Scopus makes mention of what RPF
has achieved, citing specifically the following:
The journal has scholarly relevance as evidenced by citations in other journals currently
covered by Scopus.
In general, the content of the articles is consistent with the scope and aims of the journal.
The articles are generally well written and understandable.
The RPF addresses a subject area not properly covered by an existing journal.
Peer review type is clearly stated and is supported by appropriate reviewer guidelines.
The journal has clear aims and scope/journal policies that are consistent with the journal’s
content.
The journal is international and has potential to go much further.
The reforms introduced can be seen to have worked, and to continue to be improving the
journal. As such, it merits inclusion in SCOPUS.
As underscored by Scopus, the high level attained by the RPF and that is
acknowledged internationally, is the result of around ten years of sustained growth,
based on a policy, established by the editorial team, that persistently encouraged,
indeed demanded, academic quality in the texts published in the journal.
RPF’s achievement puts it among the best of philosophical journals and, thus,
increases its visibility, while it also gives significant credit to the FFCS of the Catholic
University of Portugal, Braga. On both counts, it places considerable responsibility on
the RPF’s directorship to continue on the path that it has traced for itself over the years
for the good of the academic community, both in our country and internationally.
In this remarkable moment in the history of RPF, which will celebrate its
75th anniversary next year, we express our gratitude to all – authors as well as readers –
who have collaborated with the journal and have encouraged us by their support,
expressing also our gratitude to the previous Editors.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 763-776.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0763
PEDRO CALAFATE*
ÁLVARO BALSAS, SJ **
A
recente celebração dos setenta anos da Declaração Universal
dos Direitos Humanos (Dezembro de 1948), a existência atual
de diversos focos de tensão entre povos com iminente ameaça
à paz internacional, a par da crise dos refugiados vieram reatualizar a
necessidade de um maior debate e consciência pública sobre a urgência
de consolidar e aperfeiçoar um direito internacional que salvaguarde a
dignidade inerente a todos os membros da família humana – anterior e
superior ao Estado.
Tal dignidade encontra-se racional e universalmente fundada na
unidade do género humano, e o seu reconhecimento é também condição
básica do fortalecimento da convivência pacífica entre os povos, de modo
a permitir o florescimento da justiça, da paz e do bem comum interna-
cionais.
Mas esse direito internacional, verdadeiramente universal, lança
raízes nas reflexões filosóficas de teólogos ibéricos dos séculos XVI e
XVII, em torno de questões suscitadas pelo encontro com o Novo Mundo,
forjando vários dos seus princípios jurídicos, de cariz humanista, acen-
tuando o primado da razão da Humanidade sobre a razão de Estado e
o reconhecimento de direitos fundamentais inerentes a todos os seres
humanos.
* Universidade de Lisboa/CFUL.
pedro.simoes@campus.ul.pt
** Universidade Católica Portuguesa, Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais.
abalsas@braga.ucp.pt
763-776
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1. Emer de Vattel. Le Droit des Gens ou Principes de la loi naturelle appliquée à la conduite
et aux affairs des nations et des souverains (Londres: 1758).
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Apresentação | Presentation 767
É neste sentido que se pode falar de uma escola da paz com ampla
expressão nas universidades da Península Ibérica, a qual, mergulhando as
suas raízes num movimento que, com tantas matizes, percorreu a Europa
inteira, parte também de uma contingência (a descoberta da América)
que, como disse Brian Tierney, fez com que “quite suddenly, the abstract
scholastic discourse became relevant to a great new world historical problem,
the possible justifications of colonialism, the rights of indigenous peoples”.2
E como lembrou Luciano Pereña, que organizou e dirigiu a primeira
série do inestimável Corpus Hispanorum de Pace, as universidades portu-
guesas de Coimbra e Évora não ficaram fora desta dinâmica, pois não só
a repercutiram como também a aprofundaram, fruto da peculiar expe-
riência dos portuguesas em África e no Oriente, como temos vindo a
mostrar em sucessivos projetos de edição dos manuscritos dos professores
de Coimbra e Évora.3
No seu recente discurso de investidura como Doutor Honoris Causa
pela Universidade Autónoma de Madrid, o académico e magistrado da
Corte Internacional de Justiça e ex-Presidente da Corte Interamericana
de Direitos Humanos, António Cançado Trindade, sintetizava de forma
brilhante o enquadramento doutrinal desta escola num conjunto de prin-
cípios, de que destacava: o estabelecimento de um vínculo ineludível entre
o jurídico e o ético, que conduzia à afirmação da recta ratio ciceroniana ou
da consciência jurídica universal como fonte material do direito das gentes;
a perspetiva universalista, conduzindo à formulação de uma lex praeceptiva
para o totus orbis, afirmando o primado da razão da Humanidade sobre
a razão de Estado; o enfoque essencialmente humanista, com expressão
no reconhecimento de direitos fundamentais de todos os seres humanos,
alargando-se à formulação de mecanismos de proteção internacional dos
mesmos e ao reconhecimento de que os sujeitos do jus gentium não eram
apenas os Estados mas também as pessoas individualmente consideradas
e as suas comunidades, amparando, assim, também povos e indivíduos.
E concluía, referindo-se aos desafios do direito internacional nos nossos
2. Brian Tierney, The Idea of Natural Rights-Origins and Persistence, 2 NW. J. INT’L HUM.
RTS. 1 (2004),10.
3. Cf. A Escola Ibérica da Paz nas Universidades de Coimbra e Évora, dir. de Pedro Calafate,
coord. de Ana Maria Sanchez Tarrío e Ricardo Ventura, volumes I e II (Coimbra:
Almedina, 2015). Está atualmente no prelo o volume III com os comentários à
questão 62 da Secunda Secundae da Suma Teológica de Tomás de Aquino, sob o tema
da Restituição (De Restitutione), onde se fundamenta o igual direito ao domínio de
propriedade e de jurisdição (poder civil), inerente aos homens e povos do mundo.
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4. Antônio A. Cançado Trindade. Discurso del Acto de Investidura como Doctor Honoris
Causa del Profesor Antônio Augusto Cançado Trindade (Madrid: Universidad Autónoma
de Madrid/Academic Honorary Degree Ceremony-Speeches, 2016), 41 e 54.
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Apresentação | Presentation 773
natural entre os homens com tão brutal realidade? Quais eram os argu-
mentos doutrinais que sustentavam esta aceitação? Sem esquecer que nos
encontrávamos perante uma realidade secular e com fortíssima presença
nos domínios ultramarinos de Portugal e Espanha, a par dos que estavam
sobre domínio de outras nações e Estados europeus, mas também de
ampla radicação em África e noutras coordenadas geográficas do mundo
de então, Margarida Seixas mostra-nos o distanciamento dos autores
cristãos como Suárez relativamente às teses ambíguas de Aristóteles sobre
a escravatura natural, a par da aceitação da escravatura legal, com base na
divisão, introduzida no direito natural, entre direito natural preceptivo e
direito natural permissivo ou negativo. À luz desta distinção, a liberdade
humana era considerada de direito natural permissivo, quer dizer: o
direito natural não preceituava que se mantivesse para sempre, razão por
que poderia ser perdida em função de condições que a autora aqui fixa
criteriosamente.
André Santos Campos, também a propósito de Suárez, mostra-nos
as suas conceções sobre a origem democrática e contratual do poder
civil, que concilia com a tese paulina sobre sua origem divina (Rom 13).
Trata-se seguramente de um dos pensadores mais consistentes que na
modernidade europeia abordou o tema da origem popular do poder civil
e da democracia como a forma mais originária e natural de governo das
comunidades humanas (embora não necessariamente a mais perfeita),
a despeito das diferenças que o separam do contratualismo de outros
autores modernos, que o autor aqui perfila.
Segue-se o trabalho de Mª Idoya Zorroza sobre a convergência entre
a noção de domínio (de jurisdição e de propriedade), formulada por
Domingo de Soto em Salamanca, e a que formulou Martín de Ledesma
em Coimbra, dando não só nota de que a escolástica foi uma filosofia
de partilha entre filósofos, em que a questão da originalidade cedia prio-
ridade perante a busca coletiva da verdade, como também da ausência
de fronteiras culturais entre as universidades de Portugal e Espanha, no
período em apreço. No caso que nos ocupa, a noção de domínio (tanto
o de propriedade como o de jurisdição ou poder civil) afigura-se funda-
mental na Escola Ibérica da Paz, na medida em que, por um lado, o direito
de propriedade da terra não dependia, como em John Locke, do trabalho
industrioso e racional, de modo a retira-lo aos povos da América (do
norte), por não trabalharem a terra como os colonos ingleses, que por isso
os exterminaram, nem dependia da fé nem da caridade, porque resultara
de um acordo virtual entre os homens, depois da queda, para assegurarem
a paz e evitarem o triunfo da cobiça. Por outro lado, o domínio de juris-
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 777-792.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0777
Abstract
The law written by political power must have as premises, although not written down, rules
inspired by either reason or faith that limit the right dictated by power. In the UN’s case, it
is assembled “the Earth as, common house of all men” and the “One world”, which means
a world without wars. These premises were implicit in the Iberian School of Peace. In the
beginning of this 2019 year, the inobservance of this natural law transformed globalism into
a global arena, where the Earth itself might the destroyed by “science without conscience”.
Keywords: globalism, human dignity, natural law, natural rights, political power.
T
alvez a primeira formulação dos pressupostos do hoje chamado
“mundo único”, isto é, sem guerras, e a consideração da terra
como “casa comum dos homens”, tenha sido a inspiração do que
chamaríamos “Direitos Humanos”, hoje enriquecida pela experiência
dos danos da sua violação, com tragédias contemporâneas, como foram
as duas guerras mundiais. Para compreensão da importância que teve,
nesta longa caminhada, a Escola Ibérica da Paz, talvez convenha recordar
a circunstância teórica da nossa época que condiciona a ideologia em
movimento, procurando conseguir que os chamados “direitos naturais”
consigam a adesão dos múltiplos e variados poderes políticos e da diver-
sidade das crenças e culturas. A primeira nota é que os “direitos naturais”
são válidos independentemente de reconhecidos pela “lei escrita”, sendo
um componente principal do chamado liberalismo, embora na corrente
* Universidade de Lisboa.
adriano.moreira@acad-ciencias.pt
777-792
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778 Adriano Moreira
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A Escola Ibérica da Paz 779
mento político é largamente influenciado por aquele, e que, nas suas obras
especialmente políticas, De Officiis, República, e De Legibus, nenhuma
inteiramente sobrevivente, foi talvez o primeiro que acentuou a diferença
entre poder e autoridade, hoje conceitos de maior atualidade, mantendo-se
em conflito nos modelos políticos existentes. A questão principal, evidente
pela natureza e precedente do romano jus gentium, é decidir se a “lei
natural” e os “direitos naturais” implicam, para além da igual dignidade
dos homens, outras igualdades, estas dando origem à coexistência ou
confronto entre igualdades diferentes: igualdade perante as leis, igualdade
política, igualdade material ou igualdade de oportunidades, uma ideologia
defendendo o igualitarismo, de que o famoso livro de Huxley (1894-1963),
intitulado Brave New World, atrai os maiores defensores dessa convicção;
igualdade política, um tema central da história do colonialismo do nosso
tempo; igualdade material, que coloca em discussão a medida do Estado
social; igualdade de oportunidades, que, na sua praticada medida, inclui a
rejeição da igualdade humana (Nietzsche) ou a procura aproximar (droits
prestation), variando as políticas que partem do Humanismo ou preferem
seguir a “Realpolitik”.
2. Os paradigmas
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É sobretudo sob a forma religiosa que o Estado vela até agora pelos inte-
resses supranacionais da humanidade. Mas a partir do momento em que
a religiosidade do homem venha a exercer-se sob a forma puramente
científica e racional, tudo o que o Estado dava antes ao exercício reli-
gioso será de direito dado à ciência, única religião definitiva. Não haverá
mais orçamento dos cultos, haverá orçamento da ciência, orçamento das
artes.1
É para esse tempo que o papa Pio IX denuncia o que foi chamado “Os
erros do mundo moderno” enunciados em anexo à Encíclica Santa Cura
(1864), condenando os princípios da Revolução de 1789, que definitiva-
mente, no espaço Ocidental, instalou a oposição de todos os princípios
revelados à liberdade e razão humanas. Entretanto, no referido espaço
euromundista, sobretudo depois da Revolução de 1789, foram-se multipli-
cando regimes que enumeravam em documentos solenes, hoje chamados
Constituições, os Direitos Humanos, com maior ou menor abrangência
de todas as categorias sociais, que em cada lugar e tempo se verificaram
na distribuição política do poder. Podemos incluir a Petição de Direitos
inglesa, de 1628, na chamada “Primeira Revolução Inglesa”, mas são
1. Ernest Renan, L’Avenir de la Science: pensées de 1848 (Paris : Calman-Lèvy, 1890), 68.
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A Escola Ibérica da Paz 781
2. Max Weber, The Protestant Ethic and the Spirit of Capitalism, tradução Anthony
Giddens (London: Conterpoint, 1985). Charles Derber, A maioria deserdada, tradução
Luis Miguel Oliveira (Lisboa: Círculo de Leitores, 2016). Joseph Stiglitz, O espírito da
igualdade, tradução de Dinis Pires (Presença, 2010). Anthony Atkinson, Desigualdade,
o que fazer?, tradução de Luís Santos (Lisboa: Bertrand, 2016).
3. Adriano Moreira, Ciência Política (Coimbra: Almedina, 1995).
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782 Adriano Moreira
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784 Adriano Moreira
5. O poder da palavra
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A Escola Ibérica da Paz 785
5. Amin Maalouf, El desajuste del mundo, tradução Maria Urrutia (Madrid: Alianza
Editorial, 2009). Anselmo Borges, Francisco, Desafios à Igreja e ao Mundo (Lisboa:
Gradiva, 2017). Bertrand Badie e Dominique Vidal (Dir.), Qui Gouverne le Monde?
(Paris: La Découverte, 2016). Christophe Grannec e Bérangère Massignon (Dir.), Les
Religions dans la mondialisation (Paris: Karthala, 2013).
6. É o título da Revista “L’Etat du Monde”, relativa a 2018, sob a direção de Bertrand
Badie e Dominique Vidal, (Paris: La Découverte, 2017).
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786 Adriano Moreira
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A Escola Ibérica da Paz 787
a) A antecipação da doutrina
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788 Adriano Moreira
tência de Tolstoi no sentido de que a ciência “não tem sentido, pois não dá
resposta à pergunta que é a única importante para nós: ‘Que havemos de
fazer? Como havemos de viver?’ Que ela não dá uma resposta é um facto,
simplesmente, indiscutível”.9 Isto porque, no processo político-histórico,
se os motivos religiosos eventualmente foram dominantes, a má articu-
lação com os motivos “económicos”, uma questão desafiante da “legiti-
midade”, foi, e voltou a ser, frequente. Na Península Ibérica, a história
da formação dos reinos, reproduzindo o processo de outros regimes que
juntos chamamos Europa, e depois, mais abrangentemente, Ocidente,
a articulação dos interesses terrenos, da política com a pretensão de os
legitimar “religiosamente”, teve sobretudo que ver com o conflito entre
cristãos e muçulmanos. As cruzadas ajudaram na conquista do território
europeu português, a intervenção da Roma católica foi consagradora do
Reino, mas foi o movimento das descobertas – animadas pela descoberta
das rotas comerciais – e da colonização – dominada pela imposição do
poder político e pela conversão religiosa das populações encontradas – que
veio a entrelaçar os interesses económicos com os objetivos espirituais,
com um processo de alianças e contradições, de heróis navegadores, mili-
tares, mártires missionários. A definida Escola Ibérica da Paz autonomiza
o ensino de Francisco de Vitória, de que destaco a defesa internacional dos
direitos da pessoa humana e a legitimidade das soberanias indígenas; de
Domingo de Soto com a dúvida sobre a legitimidade do domínio espanhol
sobre as Índias Orientais, salientando que não há diferenças “entre judeu
e grego”, nem “entre escravo e livre”; Covarrubias insistindo na afirmação
de que “o Papa não é senhor do mundo nem no espiritual”, o que apela
ao respeito pelas diferenças religiosas; de Melchior Carmo afirmando que
todos os homens são livres e iguais por natureza; de Alonso de la Vera
Cruz salientando que “o imperador não é senhor do mundo”; de Martín
de Azpilcueta defendendo a legitimidade das soberanias indígenas; de
Ledesma colocando a razão da humanidade acima da razão do Estado; de
Fernando Pérez exigindo a proteção internacional dos direitos da pessoa
humana; de Luís de Molina, sobre o primado da paz; de Pedro Simões,
também sobre a legitimidade das soberanias indígenas; de António de São
Domingos, sustentando que os cristãos não podem impor a sua fé acima
das convicções internas de outros povos; de Juan de Peña, sobre a injustiça
da guerra contra os Índios; de Serafim de Freitas, sobre a incompetência
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A Escola Ibérica da Paz 789
Nesta data em que, por conflito ideológico que se prolonga para além
do fim da guerra fria sustentada pelos Blocos Militares, o fim dos regimes
coloniais, que a Carta da ONU exigiu, insiste nos aspetos negativos que
cercam esta doutrinação, conviria talvez ter presente que estamos, no
balanço que deve ser histórico e não ideológico, numa luta entre o poder
da palavra contra a palavra e prática do poder, por vezes claramente numa
fraqueza colaborante da primeira, mas sem o seu apagamento. Entre esta
doutrinação e o iluminismo que viria a colocar o “credo do mercado” com
supremacia sobre o “credo dos valores” passaram séculos de lutas internas
dos ocidentais entre si, dividindo por Igrejas separadas a fé no mesmo
Evangelho, e sempre com um elemento agravante dos conflitos: apelar
a valores religiosos para cobrir a legitimidade das ambições do poder
político. Acontece que o período de hegemonia mundial dos ocidentais
inclui instrumentalizar os valores religiosos com as práticas da Inquisição,
não apenas nas questões entre ocidentais, dentro e fora das fronteiras de
cada um, mas nas destes com áreas culturais e étnicas diferenciadas, por
exemplo na Índia e na América. Lembre-se que, depois da doutrinação
contra o papel central das Igrejas Cristãs, a primeira Declaração de Direitos
Humanos, a dos Estados Unidos da América de Jefferson, declarou a
igualdade dos homens, mas com exceções: os nativos, os escravos negros,
as mulheres, os trabalhadores, os quais ainda hoje animam movimentos
pela igualdade efetiva, com mártires como Luther King, Malcom X, e
homens tocados de santidade como Gandhi na Índia e Mandela na África
do Sul. Mas já estava em vigor a Carta da ONU, assinada em S. Francisco
em 26 de Junho de 1943 e proclamada a Declaração Universal de Direitos,
quando se deu a Guerra do Suez, quando a Inglaterra e a França quiseram
impedir, como vimos, o jovem Presidente do Egipto, Coronel Nasser, de
nacionalizar o Canal que liga Port Said, situado no Mediterrâneo, ao
Porto de Suez no Mar Vermelho. Por uma vez, a ONU teve uma inter-
venção no confronto, porque o risco de uma nova guerra estava no hori-
zonte, e obrigou aqueles dois membros do Conselho de Segurança, com
o privilégio de veto, a retirar. Ora, ligada à operação, esteve a Sociedade
Britânica contra a Escravatura que visava alargar no Índico a área de fisca-
lização da navegação, suspeita de manter o tráfico dos escravos, mas real-
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790 Adriano Moreira
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A Escola Ibérica da Paz 791
Referências
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 793-836.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0793
In regard to natural law, there is no distinction between men for they were
all born equal and no one is a prince by nature; since the princes were
constituted by men, no one is subject by nature too.
Melchor Cano1
Abstract
The present study provides a comprehensive overview of the main topics of the Iberian School
of Peace (16th and 17th centuries): the affirmation of peace as characterization of life; the popular
origin of civil power; the right of active resistance against tyranny; universality of the right of
ownership based on the law of nations; the refusal of the universal lordship of the emperor;
criticism of the tradition of theocracy; the refusal of war for reasons of religious diversity; the
defence of every man and every people’s natural freedom; justification of the legitimacy of
indigenous sovereignty and of man’s right of ownership of their property; the cosmopolitan right
based on the natural right of communication; every people’s right to establish non-fraudulent
commercial relations; the affirmation of an intrinsic principle of humans’ sociability, which
extends itself into the affirmation of an intrinsic principle of states’ sociability, towards the
construction of the universal community, based on a supranational jus gentium.
Keywords: civil power, freedom, natural law, ownership, resistance, universal community.
* This investigation was funded by the FCT: Fundação para a Ciência e Tecnologia-IP,
under the project PTDC/MHC-FL/4671-2014.
Transl. João Nunes de Almeida (Lancaster University, Law School).
** Universidade de Lisboa/CFUL.
pedro.simoes@campus.ul.pt
*** Universidade de Lisboa/CLEPUL.
ricardonventura@gmail.com
1. Melchor Cano, “De Dominio Indorum,” in Corpus Hispanorum de Pace, ed. Luciano
Pereña, vol. IX (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1982), 560.
2. Domingo de Soto, “De Dominio,” in Relectiones Y Ousculos, ed. Jaime Brufau Prats
(Salamanca: Editorial San Esteban, 1995), 177.
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1. Introduction
T
hroughout the sixteenth and seventeenth centuries, a school of
thought flourished in the Iberian Peninsula that decisively marked
natural law and the law of nations. However, the future of this
school became compromised in the long run, given its theological and
clerical roots and a so-called compliance with colonialism.3
Notwithstanding, the debate triggered by these diverse thinkers,
from Portuguese and Spanish universities, was born out of their critical
conscience facing the reports on the tragic events in American and African
lands, at the time of the Portuguese and Spanish empire-building.
The authors of this Iberian tradition were men of the Church, friars
and clerics, some Dominicans other Jesuits, royal confessors, the majority
being professors of Theology at the Universities of Salamanca, Coimbra,
Évora, Valladolid, Alcalá de Henares and Mexico. They were theologians
of the Council of Trent, abbots and missionaries in American territories
who questioned themselves if the “God of peace” had deliberated that
Christians should bring war to those who ignored him or did not praise
him. Christians waged war by occupying foreign territories, expropriating
the commons of the indigenous communities and crushing their sover-
eignties, even if on the embryonic phase, in territories never belonged to
the Christians, and enslaving so many thousands of men with the argument
of being ruled by different cultural and religious habits.
They were not pacifists, in the Erasmine sense of the word, as they
accepted Christians leading wars by trying to assign, in the clearest
possible way, the titles that would legitimise war as just4 in light of the law
of the nations and natural law.
They were not relativists either for they guided themselves within the
frame of the Christian truth, by which they would rank their guiding values
without imposing these through force on those who did not recognize
themselves in them. Hence, these scholars, especially those such as Las
Casas e Alonzo de la Vera Cruz, showed an increasing openness to the
cultural diversity of peoples and men recently found as they related more
directly with them.
3. On the critique of this kind of interpretation, see Maria Elvira Roca Barea’s Imperofobia
y Leyenda Negra (Madrid: Siruela, 2016).
4. Pedro Calafate, Escola Ibérica da Paz nas Universidades de Coimbra e Évora (século
XVI), vol. I: Sobre as Matérias da Guerra e da Paz (Coimbra: Almedina, 2015).
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However, it is essential to retain that, for them, peace was not the
result of the fear of war, as Hobbes will argue later on, neither a bellicose
strategy, as for Machiavelli in his time, nor the result of a pragmatic
judgement in view of the forthcoming benefits, as in the seventeenth
century of the Abbot of Saint-Pierre.
In the Renaissance canon of the Iberian Natural Law, the concept of
nature was a key referent for rationality, universality, intelligibility and
order in which law was defined within the legacy of the Stoics. In this
context, these Iberian scholars tried to develop, enrich and deepen such
canon in light of the new challenges. Sharing a common idea of truth,
highly indebted to the scholastic Thomism, they went beyond the limits of
this tradition when barred for the free flow of reason. Above else, they prob-
lematized the Iberian Natural Law on that new context of encounter and
conflict between peoples of such distinctively cultural and geographical
aspects. They tried to frame cultural diversity and its particularities
without putting into question the universality of basic ethical principles.
In this sense, they arrived at the key thesis of peace being the very
expression of life, despite their “God of peace” having been clear with
his words when saying that he “came not to send peace, but a sword”
(Mt 10,34).
In a relevant Relectio (1548), Martin de Azpilcueta delivered one
of the most important texts of the Iberian school of peace at the Great
Assembly of Coimbra University:5
Good peace shall be kept, nurtured and loved, as well as the virtues,
according to the words of Christ Jo 14.27: Peace I leave with you, my
peace I give unto you, while one should violate and break the peace that
lives under the company of the sins in accordance with Christ’s words Mt
10.34: I came not to send peace, but a sword.6
5. Luciano Pereña considered Azpilcueta magistral work as “the most complete juridical
commentary ever written on the relations between infidels and Christians. The whole
science of medieval law can be found in those wonderful pages”. Luciano Pereña, in
Martín de Azpilcueta, “Comentario Resolutorio de Cambios,” in Corpus Hispanorum
de Pace, ed. Luciano Pereña, vol. IV (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, 1965), XVIII.
6. Martín de Azpilcueta, “Relectio c. Novit de Iudiciis,” in A Escola Ibérica da Paz nas
Universidades de Coimbra e Évora (Séculos XVI e XVII), ed. Pedro Calafate, vol. II
(Coimbra: Almedina, 2015), 175.
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While they neither advocated for the withdraw from America nor
the abolishment of legal slavery, they saw the conquest of civilization and
Christian religion as contrary to positive divine law, natural law (which
was one of the varieties of divine law) and human law (whose jus gentium
belonged to). Rather, they preferred to underline the duties and the rights
of the human person as much as the universal principles of natural law and
the law of the nations that should preside the dialogue between different
peoples of the world. An inherent principle of sociability between humans
was thereby pronounced in different political communities under the
natural law of free circulation and communication (jus communicationis).7
Thus, they defended against the grain that: men were created free
and equal; considering the substantial unity of the human species, there
was no such thing as natural slavery for them in a strict sense but only
a legal one; power was constitutive of all human communities, thus
possessing a democratic principle; the right of self-determination of the
peoples (dominium jurisdictionis vel auctoritatis) and the right of property
(dominium proprietatis) did not depend on faith, on the state of grace or
on the civilizational progress of men and peoples; the power of the Pagan
princes was not inferior or distinct, in nature, from the power of the
Christian princes, although the Christian prince was closer to perfection
since grace came to his rescue, which perfects nature; the emperor was
not the lord of the world as he was neither elected for such end nor had
he conquered it through just war; the pope could not exert power beyond
Christians but merely spiritual power over the baptized and indirect
power over the temporal things towards a spiritual end among Christians
only. The very conclusion of this reasoning saw the pope without religious
or indirect power over the gentiles. Offenses to God, idolatry or crimes
against nature were not enough for the peoples to declare war against each
other. The Portuguese and the Spanish empires should preferably base
themselves on a free pact between the peoples for the imperial laws should
not run against natural dispositions. Otherwise, both empires should
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exceptionally act against nature to keep and protect the faith of those
who were freely baptised and without annihilating their sovereignties. A
universal empire was human and morally impossible.
In the same vein, these authors theorized the articulation between
law and ethics, as laws were the ratio for the law and this was the object of
justice; they legitimized the right of resistance by people and their commu-
nities, as far as the unfair law only by analogy could be seen as a law and,
as such, it could not be obeyed; they have laid the groundwork for the
concept of offense against the human species – which we call today crimes
against Humanity – , as well as the principle of the supra-state protection
of the human person; at the same time, they have set the basis for the
conscientious objection for soldiers in war times, rejecting the argument
of one doing one’s duty to avoid responsibility. The latter resulted in the
primacy of consciousness over the orders of hierarchical superiors, that
would lead to the death of innocent people, towards human dignity.
They defended the restitution/reparation as an act of justice (commu-
tative), in line with the jus gentium, thus establishing the supremacy of
the Reason of Humanity over the Reason of the State and natural law over
sovereignty here understood as relative and limited.
Regarding the war titles, it stood out the reaction to aggression or
aggravated offense, including the repression of the jus praedicandi by force.
The jus praedicandi was the right/duty of the Church to freely preach the
Gospel, as Christ said to the Apostles “And this gospel of the kingdom shall
be preached in all the world” (Mt 24,14), whose defence the pope could
demand the aid of the Christian princes’ armies in case such jus had been
supressed by force (a thesis which was not accepted by all scholars of this
school as we shall see in the case of António de São Domingos at Coimbra
University). The suppression of the jus communicationis and of the jus
commercii (if non-felonious and fraudulent), by force, was later limited
via the Iberian doctrine of the mare clausum defended, among others, by
Serafim de Freitas, who in this particular point was opposed to Francisco
de Vitoria.8 There was also the obligation, if necessary by force, to prevent
offenses to the human species such as the murdering of innocents to be
eaten by humans or sacrificed to the idols (a thesis not accepted, however,
by Las Casas e Alonzo de la Vera Cruz); and, finally, the right to pull away
8. “Vitoria’s opinion whereby a prince needs to allow foreigners to trade and stay in his
territories, if no cause has been presented, should be rejected”. Serafim de Freitas,
Do Justo Império Asiático dos Portugueses, transl. Miguel Pinto de Meneses (Lisboa:
Instituto Nacional de Investigação Científica, 1983), 120.
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Christians from the authority of the Pagan princes when their faith was
clearly put in danger by the persecutory action of princes who became
tyrants, that repressed the free conversion of their subjects to Christianity.
As a general background, these themes were floating in the context
of natural law and human rationality: a recta ratio of stoic and Ciceronian
matrix.
In truth, natural law, having its origin in God, could not be modified
by him and, contrary to the most common interpretation of William of
Ockham’s philosophy, things were not good or evil because God, by his
Will, would allow or prohibit them. Rather, they were good or evil because
that was their essence.
Francisco de Vitoria was clear in his commentaries on Aquinas’
Summa Theologica (II, II), question 62, “Restitution”:
Natural law comes from God and even more than divine positive law for
such law, the natural one, cannot be revoked by God. As Duns Scotus and
others claim, God cannot change the precepts of the Decalogue, although
he can revoke divine positive law. Thus no one can deny me from that
law.9
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11. Grotius says: “Everything that has just been said would be valid either way even if
God did not exist, which would be a serious mistake, or in case God existed, He would
be disinterested in human things”. But then he argues: “But this law of the nature,
emanating from internal principles to men, can be attributed to God for He wanted
such internal principles to exist in us. Therefore, Chrysippus and the stoics thought
they should look for the origin of natural law in God and the Latin word jus which
means law and derives from Jupiter”. Hugo Grotius, De iure belli ac pacis, transl. M.
Pradier-Foder, Tome Premier (Paris: Librairie de Guillaumin et Cie., 1867), 13.
It should be noted that Grotius copied the sentence about the validity of natural law,
“even if God did not exist” from the XVI century philosopher, Gregorius of Rimini
(In Librum Secundum Sententiarum, dist. 34, q.1, art.2), without acknowledging the
author of this sentence. Grotius became, in this way, the father of the secularization
of natural law. On the contrary, Francisco Suárez extensively references Grotius in the
treaty De Legibus ac Deo Legislatore (Coimbra, 1612, II, VI, 9), which Grotius rightly
knew despite quoting Suárez 4 times only. In return, Francisco de Vitoria references
Gregorius of Rimini 60 times from whom he depends less in comparison to Suárez.
This difference is food for thought.
12. In the lecture De Dominio, delivered in Salamanca in 1535, Domingo de Soto will
mention this fundamental distinction: “To avoid moving into uncharted waters, we
understand ownership in two distinct ways: one as the right of ownership over things,
the other as jurisdiction”. Soto, “De Dominio,” 157.
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of power, where the Apostle states that “there is no power but of God”
(Rom 13,1).
From its intrinsic essence, civil power was not directly or indirectly
granted to the princes by God in the sense that they would receive it directly
and immediately from men assembled within the community. God is the
origin of civil power, while being the creator of the social nature of man,
for the one who gives the essence of a thing also directly and immedi-
ately gives what follows from it. Since the necessity of civil power follows
from the constitution and conservation of society, God is the origin of civil
power in the kingdoms and principalities of the earth.
As the author of the social nature of man, God is the efficient cause of
civil power, granting it to the whole of the community or, to put it in words
used at the time, to the totality of the Republic and not to a specific indi-
vidual or senate. By conceding civil power to men in the very act of consti-
tuting the community, God grants power “as a natural consequence of the
first impetus of His creation […] acting without the intervention of faith
and revelation in the sense that, through natural reason, we understand
this power as absolutely necessary to the Republic and its conservation”.13
In these terms, a republican and democratic principle was being formed as
long as we understand power as direct and immediately given by God to
the totality of the Republic and that, as such, it is naturally embedded in
the community.
In other words, and returning to Aquinas thought, all entities endowed
with an end in itself should possess the necessary faculties to make it
happen. And as the community was an entity whose end in itself was the
common good, it should also possess, in itself, the necessary faculties by
nature and directly granted by God.
Thus, Domingo de Soto proclaimed peremptorily in his Salamanca’s
lecture on ownership that “civil power is all over the Republic by the law
of nature”.14
Years before, in 1526, Francisco de Vitoria explained in Relectio de
Postestate Civile that civil power is legitimized by natural law and not
divine positive law, having underlined that God is the efficient cause of
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civil power as the creator of the social nature of human beings from which
follows the necessity of public powers.
For Vitoria, God is the “efficient cause” of civil power who direct
and immediately grants it to the constituted human communities. Hence,
one should conclude that “the material cause, on which this power is laid
by divine natural law, is the very Republic [est ipsa Republica], which is
responsible for governing and managing itself as well as guiding all of its
powers towards the common good”.15
In line with natural law, it was then essential to underline the
following:
There is no reason for civil power residing in certain men and not in
others. Consequently, the very community is self-sufficient as the sole
holder of such power.16
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 803
It is worth noting too that the peninsular masters not only speak of
civil power between Christians but also of civil power covering the whole
variety of the peoples of the world, since neither faith nor revelation
impose themselves as a necessary condition to define the nature of juris-
diction.
23. In this respect, we should not disregard the doctrine of John of Salisbury when, in
Policraticus, chapter XV, he defends that “those who do not attempt on the tyrant, attempt
on themselves and on the whole body of the political community”. Juan de Salisbúria,
Policraticus, transl. Miguel Ángel Ladero (Madrid: Editora Nacional, 1984), 303.
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figured as “impossible a law that did not take into account the common
good for such law would not be a law. Unless the law is subdued to the
common good, there is no reason to obey it”.24
From the Portuguese side of the Iberian Peninsula and well before
Suárez and Mariana, Martín de Azpilcueta also had a relevant role in this
tradition of limiting the secular power in the name of objective principles
of justice, established by natural law, which resulted in the relativism of
the princes’ sovereignty.
In effect, Azpilcueta was very clear in this respect, drawing on the
distinction between habit and act, later used by Suárez, as well as on a
subtler distinction, inspired by Accursius, between transference and
concession of power.
Azpilcueta thought that the people did not transfer the power to the
kings right from the start but have only granted it later. By granting and
not transferring it, the people kept the power through habit, being able to
get it back as an act under extreme situations of necessity.
The concept of habit dates back to Aristotle’s Categories (cat., 15, 15b,
16-25). Aristotle uses the concept in a generic sense, meaning an internal
determination that can hardly be removable. Thus, the habit is under-
stood as a good or bad disposition by which a being is either well or badly
predisposed in relation to himself or to another thing, that is, in relation
to a certain end.
Aquinas later retook and enriched the concept of habit. For Aquinas
(Sum. Theol. 1-2 q. 49 al), the habit supposes a potency able to receive it
as “its possible act” in the very metaphysical structure of potency-act. In
other words, the habit is more than potency, assuming itself as a dispo-
sition already equipped with the necessary capacities to act. This is the
reason why the habit simultaneously engages with the nature of potency
and the act.
By keeping the power in habitu (first act) the people or the political
community can reclaim and exert it in actu under extreme circumstances
of clear injustice and tyranny, thus breaking the peace unfounded in
justice.25
24. Vitoria, Comentario al Tratado de la Ley, ed. Vicente Beltrán de Heredia (Madrid: Consejo
Superior de Investigaciones Científicas, Instituto Francisco de Vitoria, 1938), 6.
25. In an expressive text equating the theme of the primacy of justice over peace, the
priest António Vieira wrote: “Justice and peace hugged each other, and justice went
ahead first for the hugging. For justice does not depend on peace (as some take as
an explanation) but peace on justice. If justice makes war just […], the most-wanted
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Kingdoms are superior to their kings, or better put it, they are superior
in those cases where kings have abused their granted power for the
destruction of their kingdoms or for an end contrary to those they were
made kings in the first place.28
peace, which we have been longing for so many years, will be finally born”. Padre
António Vieira, “Sermão ao Enterro dos Ossos dos Enforcados,” in Obra Completa do
Padre António Vieira, ed. José Eduardo Franco, Pedro Calafate, Tomo II, Volume XIV
(Lisboa: Círculo de Leitores, 2013), 89.
26. Azpilcueta, “Relectio c. Novit de Iudiciis,” 107.
27. Ibid., 108.
28. Ibid., 102.
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peoples of the New World, thus reaching beyond the limits of Europe: the
natural law of the Christian princes to resist foreign military aggression is
the same law of the Pagans.
So far, we have covered the origin and nature of civil power or juris-
diction as well as its limits set by natural law and the law of the nations
that frame the contingency of the prince’s authority. It is now important,
then, to dwell on the origin of the right of property ownership in the same
logic of universality that our Iberian authors cross natural law with the
law of the nations, despite this relationship not being covered by them in
the same way.34
In this respect, Vitoria´s and Soto’s lectures, delivered in Salamanca
in 1534-1535, were considered to be paradigmatic texts and were the usual
entry point for the commentaries of the masters of the Iberian School of
Peace. Nevertheless, the Latin manuscripts yet to be published of Fernando
Pérez and Pedro Simões on the Restitution were no less relevant than
Vitoria’s35 and Soto’s36 texts. It is also worth mentioning the new contri-
butions introduced by Suárez on the relationship between property and
labour that Locke37 will highly make use of at some point.
34. The law of the nations was constituted by principles derived, with more or less
necessity, from the exercise of human reason common to every human being.
Those were the general principles around which the habits of the peoples coincided
at least tendentially, if not in a total universal way. This form of positive law was
harmonised with natural law but was, nonetheless, distinct from it. A positive law
formulated through the always partial exercise of rationality of men and the peoples
in the circumstances of time and space that they had to confront with. Consequently,
this form of positive law was being continuously developed and perfected. It was a
form of positive law founded on the shared experience of the peoples around the
fundamental principles of peace and whose the tendential universality was founded on
the universality of natural law from which it came from and with whom it should be
harmonised. See the definition of Suárez: “In order to distinguish natural law from the
law of the nations, it is necessary to deduce the precepts of the latter not as an evident
consequence, but through less certain deductions […] so that they depend on moral
collusion and less from necessity”. Francisco Suárez, “De legibus ac Deo Legislatore,”
Vol. XIV, 110.
35. Fancisco de Vitoria, Comentarios a la “Secunda Secundae” de Santo Tomás, ed. Vicente
Beltran de Heredia (Salamanca: Biblioteca de Teólogos Españoles, 1932-35), tomo 3,
q. 62. De Restitutione.
36. Soto, “De Dominio,”.
37. Cf. Francisco Baciero Ruiz, “El concepto de derecho subjetivo y el derecho de
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In any case, the point of departure was common to all of them, that
is, the natural ownership granted by God to the human species as a whole
over all things: a form of ownership rooted in natural law.
While trying to demonstrate that the indigenous peoples were in
public and private the truly owners of their belongings, Francisco de
Vitoria warned his students in Relectio de Indiis38 that he would not cover
the question of ownership or property ownership in itself, since he had
already done it very clearly in his commentary on the 62 question of the
Secunda Secundae of Aquinas Summa Theologica.
In this text, Vitoria refers to restitution as an act of commutative
justice and shows that restituting consists in returning to equality or to
a primitive state. Therefore, investigating restitution as an act of justice
would first require covering the subject of ownership since it would legit-
imise or deny restitution.
The scholars of the Iberian School of Peace frequently mention
property ownership as a right rooted in permissive natural law originally
established, in terms of manner, by the jus gentium.
In this respect, while referring to private property as the jus or the
right of the person, Francisco de Vitoria clarifies that the ownership of
things admits man’s natural freedom as its requirement, in the sense
that man is the lord of his acts as a rational creature. In this sense, the
ownership of his acts is the precondition for any other kind of ownership.
Therefore, ownership resides in human freedom for only beings endowed
with intelligence and free will are capable of ownership.
According to Vitoria, “theologians and legal scholars employ such
name [ownership] in the sense of power or right [potestate seu iure] over
something”.39 Consequently, property ownership is a jus, that is: “power or
faculty similar to appropriation of some things for its licit use according
to the laws and the rights reasonably established”. Or better put it: “the
proper right (jus proprium) to seize something for any use which is not
prohibited by law”.40
Vitoria starts from the scholastic thesis on the originary community
of goods and natural ownership over the territory granted by God to the
human species in common and in every individual.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 809
In the state of innocence there was no reason for quarrels and each
person would wilfully do what is needed for the common good […]. Such
appropriation and division were immediately done after sin has been
committed. Attested: after sin there was a reason for division.41
This was also Vitoria’s stance on that same year and shared by most
of his disciples in Spain and Portugal.42
But it is here important to clarify an important thesis regarding the
universality of this particular jus since men managed to keep natural
ownership granted by God even after having sinned, thus leading to the
separation of two lines of reasoning: the one on natural law, ownership
and jurisdiction and the other on sin and faith.
This means that, even after having sinned, natural ownership
remained legitimate and active in all human beings. Or, in Vitoria’s words:
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“man kept being the lord of things after having sinned”.43 Subsequently,
the original sin would not prevent ownership as faith did not overrule
natural law and human law. We will see that this principle legitimates the
right of the peoples of the New World to own their goods thereby making
them the “true lords”.
So, either before or after the original sin, everyone possessed and
kept the authority to divide things if they were willing to. This division
should be materialized by human law and, in this case, by the law of the
nations and not by natural law or divine positive law. In other words,
natural law could order the need to divide things, by having in sight the
quarrels between men as a result of sin, but it could not order what each
person would be entitled to.44 For this reason, it was necessary to create a
law beyond natural law: the law of the nations.
There is a fundamental consequence from the above thesis: no one
is the owner of things neither by natural law nor divine positive law. In
this way, no one is the lord of the world by any of those laws in terms
of property ownership.45 Neither God nor natural law proceeded to the
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 811
division of things. Rather, this division was reached by the actual or virtual
agreement between men without opposing natural law.
It was commonly introduced a division in natural law to better
clarify this subject. On one hand, there was a focus on what natural law
prescribes or obliges to and, on the other, what natural law concedes or
allows to. Consequently, we can say that the universal community of goods
is inscribed in permissive, concessive and negative natural law and not
in positive and preceptive natural law. Natural law establishes the orig-
inary and universal community in concessive and permissive terms only.
However, it does not prescribe the community to remain motionless. On
the contrary, the community can be changed by the demands of reason and
by decision and agreement between men on the basis of the jus gentium.46
46. “Therefore, it was not necessary the repeal of natural law to divide things, as Duns
Scotus advances and against whom we argue. I say the division of things can be done
licitly by human authority without such repeal. – Objection: all things were common. –
I admit this, for, on the contrary, as all things were common, for that same reason, by
natural law, men could do these division and appropriation among each other as God
made man the truly lord of things; thus, men could have reached an agreement among
themselves to the extent they could say: you take control of this and you take control
of that while I keep the rest. And what hinders the division of things? Also, if man was
the lord of all things by natural law, he could do whatever he likes; for instance, if this
house is mine and yours by natural law, I could tell you: keep your part and I keep
mine. And, consequently, if men were the lords of all things, they could do whatever
they wanted to, divide and appropriate. Therefore, we admit that no precept existed by
which all things were common for only concession has existed so far. Thus, since men
as the true lords have power over all things by natural law, it follows that, by natural
law, they could divide the possessions and make whatever they wanted from them. So
[…] the division of things was done by human law.” Ibid., 62.
In the same way, Pedro Simões taught in Évora: “if we object: ‘by natural law, everything
is common, as we have in the chapter Jus naturale, d. 1, and as the doctors commonly
affirm; then, against natural law, the division of things could not have been introduced
by human law for natural law cannot be repealed by human law’. To this argument,
I reply that everything is common by natural law, yes, but negatively. The division of
things is not prescribed by natural law and, consequently, it was not by natural law
that things were divided and appropriated in favor of someone in particular (since it
was not its precept to divide things). Nevertheless, things are not positively divided as
if this was natural law’s precept after the original sin. Natural law neither determined
that everything was common nor prohibited the division of things if it appeared to be
convenient. It follows that natural law did not change itself, but the facts did.” Simões,
De Restitutione, fol. 3v.
Moreover, doctor Fernando Pérez was teaching in Évora that, “in schools, the majority
of the doctors affirm that all things are common in a negative sense, that is, they were
not divided by natural law but, once natural law made men the lords of things, as it can
be inferred from the Scriptures, men could do whatever they wanted from their things,
thereby dividing them; further on, it will be covered what hypothesis is most probable
under the subject of laws.” Pérez, De Restitutione, fols. 4v-5r.
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812 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
And if this was a legal question, in what ways men were actually
allowed to divide things under concessive natural law?
Here, Vitoria sets several hypotheses for the division of things:
domestic authority coming from Adam and Noah; authority of the
prince elected by men; or by occupation as stated in the Bible. In the
case of Adam and Noah, both could have done the division by “their own
authority or agreement” with their sons. The second hypothesis was, as we
said before, the authority of the prince.48 The third one, the most relevant
hypothesis, was the actual occupation by means of an agreement and a
virtual consensus between men.49
In Soto’s case, he prefers giving more credibility to the third hypothesis
by highlighting that Adam’s authority fell short of delivering laws with
coercive power since his authority was domestic only.
Under these terms, not all men could have reunited in assembly to
reach an agreement, although Vitoria sees that, if such an assembly had
taken place, the majority could have dictated its will in dividing things over
an eventual minority that had preferred to keep ownership in common.
However, while not being plausible that men had reunited in a
universal assembly, the solution was to consider the agreement on the
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Since all things are common in terms of ownership, it follows that the
division had to be done by mutual agreement between men.51
From then on, we see the emergence of the originary and natural
rights52 of property ownership. Two titles allowed the exchange of
ownership between men: through the owner’s will or through the authority
of the prince. However, there is an exception with the transitory ownership
of things in cases of extreme necessity within the frame of the right of
subsistence to safeguard the dignity of the human person. In this situation,
all things become common due to the highest value of the right to subsist
and to preserve life.53 The right to transitory ownership of necessary goods
50. “We could also affirm that the division could have been done by virtual and interpretative
agreement, each one occupying its place, leaving the other seats to other men. And,
probably, this is how it happened, not by precise and formal agreement, but through
a certain implicit consensus in such a way that some men started to farm some lands
and others started to farm other lands; and, by the use of things, some men remained
in the land they have occupied, and others remained in other lands, in such a way that
no one occupied the land of the other. And this happened not by formal agreement
but virtual one. For as soon as one knew about owned lands, one would avoid taking
those and would occupy other lands instead. And this agreement suffices the law of
the nations, for the law of the nations is, without a doubt, composed by the former.
Since men never contracted among themselves that the ambassadors were unviolated
and safe, as it presently happens, but expressed it via consensus, more by facts than
by words, they started to consider the ambassadors unviolated among themselves and
they kept this use. Thus, some ambassadors went to some provinces with priority, such
as, v.g., to Turkish provinces and others to Gallia. Therefore, the division of things was
done by similar consensus. And this is probably more truthful.” Ibid., 79.
51. Soto, “De Dominio,” 143.
52. Pedro Calafate, “The rights of indigenous peoples of Brazil: historical development
and constitutional acknowledgment,” in International Journal on Minority and Group
Rights, 25 (2018), 183-209.
53. Recalling the medieval doctrine on the concept of extreme necessity, Franscisco de
Vitoria says: “all things are common in times of extreme necessity for what can assist
to the extreme necessity of our neighbor is ours. Certainly, if this city was dying from
starvation and I knew there was a miser with many ducats, I could legally seize them,
because that money belongs to the poor; in those times, all things are common. This
is derived from natural law and men could not agree to establish laws so iniquitous
that, in case of extreme necessity, it was not legal to seize other’s wealth. Vitoria,
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 815
7
The pope has universal jurisdiction of the entire world, not only in
spiritual things, but also in temporal things […] for as much as there is
only one Christ, priest and king, lord of all things, there is also only one
general-vicar in His land and in everything […]. The pope is the vicar of
God not of a pure man […]; therefore, the earth and its plenitude belong
to the pope since Christ conceded all the rights of temporal and spiritual
powers to Saint Peter.54
The thesis that political power comes from God, through the figure of
the pope, framed the plenitude of the pope’s power. In this way, the power
of the emperor and of the secular princes was directly granted by the pope
and not by the people. This thesis was at odds with Vitoria, Suárez, Molina
and the other scholars of the Iberian School of Peace. The consequence
of this thesis was obvious: the Pagans were not legitimate lords of their
territories.
However, one of the key moments of these theocratic or hierocratic
conceptions was the work of Egidio Romano, De ecclesiastica sive de
summi pontificis potestate,55 written at the start of the XIV century. In this
work Romano argues that it was the spiritual power that had instituted
the temporal power, being this the reason why only the kingdoms that
recognize the pope as authority could be legitimate.
For Romano, true justice was the basis of political power existing
exclusively on the republic founded and governed by Christ. However,
things were under Christ´s government if they were under the pope’s
authority only, that is, the vicar of Christ. Therefore, the peoples who
did not recognise the authority of the pontiff were illegitimate propri-
etors of their goods and their kings were illegitimate sovereigns. Only
through baptism human beings could be entitled to legitimate ownership.
Therefore, infidels were illegitimate proprietors.
The above reasoning could not be more contrary to the Iberian
scholars who overtly antagonise the above conception on the basis of
an interpretation of Saint Paul’s first letter to Corinthians where the
Apostle claimed the lack of authority over those “who are without [God]”
(1Cor 5,12).
54. Álvaro Pais, De Status et Planctu Ecclesiae, transl. Miguel Pinto de Meneses, vol. I
(Lisboa: Instituto Nacional de Investigação Científica, 1983), 347.
55. Egídio Romano, Sobre o Poder Eclesiástico, transl. Luís De Boni (Petrópolis: Vozes,
1989).
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816 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
But before their claim on the absence of authority over the gentiles,
they negated the thesis of the plenitude of the pope’s two powers.
Let us take as an example the text of Martín de Azpilcueta (1548)
to which we already made reference to and which constitutes one of the
best and most complete works of the Iberian Renaissance about the rela-
tionship between the pope’s power and the civil power of the princes.
Azpilcueta’s thesis argued that Christ kept the totality of his spiritual
power and the temporal sword away from Peter – as it was the case with
the highest power to do miracles.56
Thus, he defends that the pope did not own the two swords, neither
he had the secular, supreme, medium or minimal powers in habit or in
act; moreover, the power of the seven Electors of the German emperor
could not have been granted by the pope since, due to the spiritual nature
of such power, he did not hold it; the transference of the empire of the
East to the West was not legitimised by the thesis of the pope’s plenitude
of authority in the spiritual and temporal spheres; the anointing of the
kings by the popes was not an act of transference of secular power but a
simple blessing that did not transmit royal power; Bonifacio’s VIII Unam
Sanctam, invoked by the defenders of the plenitude of pope’s power,
should have been interpreted, not in the sense of ownership of direct
temporal power by the Church, but only on the plane of indirect power
of the pope in temporal matters; the secular power, with the advent of
Christ and the foundation of the Church, did not pass to the hands of the
Church so that the jurisdiction and propriety of the Pagans and gentiles
could be considered illegitimate; and, in result of this, the Pagans could
not be deprived of their kings and goods or submitted to slavery, as such
war would be unjust.
Thus, we could only consider ecclesiastical power as a power “imme-
diately and supernaturally established by Christ to govern the faithful
according to the evangelical law on supernatural things and on natural
things”.57 However, in regard to natural things, ecclesiastical power could
only be exerted among the Christians.
In its turn, ecclesiastical power revealed several types: the power of
order (the power to consecrate and deliver the sacraments) and the power
of jurisdiction (the power to judge, correct and punish, ordain ministers
and ecclesiastical dignities, the apostleship and the preaching). This
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 817
So far, we have seen how the Iberian scholars have launched the
basis for jurisdiction and grounded the primacy of justice on peace that
entailed the right of resistance. They have also established the originary
and universal right of the peoples and human beings to private property
of their goods and the rejection of the pope’s universal authority. So, the
next step of the scholars of the Iberian School of Peace was to frame these
doctrines in a world unknown by Europeans and Christians not that long
ago.
In terms of jurisdiction, the point was to defend the legitimacy of
the indigenous sovereignty, showing that the theoretical insights on the
grounding of civil power in nature and in the social nature of men were
valid for the entire humanity despite the cultural and religious differences.
By equating jurisdiction with the rational nature common to all
human beings, the legitimacy of the civil authority of the Christians over
the Pagans should be taken in the same ground of legitimacy of the civil
power of the Pagans over the Christians. Then, from the perspective of
natural law, the conversion to Christianity was dispensable for a prince
to rule even if, as Francisco Suárez claims, “he does not have a rightful
soul”58. Furthermore, Suárez replied to the counterargument founded on
the words of Saint Paul “Be ye not unequally yoked together with unbe-
lievers” (2 Cor 6,14) with the thesis that Saint Paul only wanted to say that
58. Suárez, “Defesa da Fé Católica e Apostólica contra os Erros da Seita Anglicana,” 271.
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818 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
“we should not take part on the actions of the infidels as infidels”,59 that is,
in regard to questions of faith.
For this reason, the distinction between the faithful and the infidels
did not suppress the right of the Pagan princes to govern their peoples
neither the right of the infidel princes to politically govern the Christians.
They only needed to be the proprietors of a legitimate title.
As Francisco de Vitoria put it:
The infidelity allows for true ownership […]. Faith retains natural law
and human law. Now, ownership is either from natural law or from
human law. So, the absence of faith keeps ownership […]. It is illicit
to dispossess the Saracens, the Jews and the rest of the infidels from
their goods by the simple fact of not being Christians; taking their goods
from them is theft or looting in the same terms as if we expropriated the
Christians.60
In the same way, the conversion of the Pagans to Christianity did not
nullify natural law or the human contract of power concession from the
Pagan community to its prince. Consequently, the Pagan princes retained
the legitimate civil power over their converted subjects. Christ was a King
and he took nothing from men.
Luis de Molina taught the same principle in Évora postulating that:
Grace and faith perfect nature without contradicting it. Thus, if men
were kings before becoming faithful to Christ […], in result of the power
conferred and owned by the Republic through natural law, it becomes
evident that, by receiving faith, men do not lose power and ownership
even if they will eventually submit to the pontiff when entering the
Church.61
Following Aquinas, we should add that, for the Jesuit of Évora, the
power of the Christian princes is closer to perfection than the other princes
for grace refines nature without contradiction. Thus, civil power, founded
on nature and natural law, was independent from faith and charity as
much as it was independent from an imperial juridical order.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 819
In this context, the power and authority of the emperor, the Roman-
German emperors, the kings of Hispania and Lusitania, were restrained
on the basis of the theses on the democratic origin of civil power.
In this way, none of the kings, princes or emperors had the right to
universal authority over men by invoking the divine, natural or human
law.
According to Francisco de Vitoria’s lecture in Salamanca, divine law
could not be invoked because in nowhere could be found that God had
given to someone such universal power; the same applies to natural law
since civil power emanated from the nature of the various communities
constituted on earth. And as far as human law is concerned, universal
authority could not be recalled since no one has ever conquered the world
through just war or has been democratically elected by the peoples on
earth.
Martín de Azpilcueta stressed the importance of these principles in
his Coimbra´s magisterium in a text worth of quoting in full:
The common opinion errs […] when it sees necessary to exist, by divine
law, only one secular sovereignty over the entire world in the same way
as it exists only one ecclesiastic sovereignty. Firstly, any divine law super-
naturally given or revealed cannot prove this is the case […]. Secondly,
any natural reason cannot conclude this either […] Equally, a wide-
spread opinion errs by seeing the emperor of the romans as the lord and
king of the world and earth just because the emperor Antoninus said: “I
am the lord of the world” […]. For it is not to presume that the emperor
Antoninus would lack sense to the extent that, with those words, he
meant that his conviction was that he was the lord of the entire world;
that, not even divided in half, the earth has ever been submitted to him
or any of his predecessors.
While it is true that if all the cities on earth and their sovereigns agreed
on electing one single sovereign, king or emperor of everyone, it would
only be sovereign, king or emperor the one chosen by the majority […]
because the power of kings and the power of free cities are the same in
nature and species.62
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63. Domingo de Soto, De Iustitia et Iure Libri Decem, transl. Marcelino González Ordoñez
(Madrid: Instituto de Estúdios Políticos, 1969), 145.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 821
power is the faculty and authority or right to govern the civil republic.
And, as shown before […] the public powers exist because of God and,
consequently, they are just and legitimate.64
64. Martín de Ledesma, “Secunda Quartae,” in A Escola Ibérica da Paz nas Universidades
de Coimbra e Évora: Escritos sobre o Poder, a Justiça e a Escravatura, ed. Pedro Calafate,
volume II (Coimbra: Almedina, 2015), 202.
65. Pedro Calafate (ed.), A Escola Ibérica da Paz nas Universidades de Coimbra e Évora:
Sobre as matérias da Guerra e da Paz, vol. I (Coimbra: Almedina, 2015).
66. Fernando Pérez, “De Bello,” in A Escola Ibérica da Paz nas Universidadeas de Coimbra
e Évora: Sobre as Matérias da Guerra e da Paz, ed. Pedro Calafate, vol. I (Coimbra:
Almedina, 2015), 383.
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822 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
In principle, all peoples, indigenous and Spanish included, have the right
to self-defence by armed force from the unjust aggression of the infidels
or Christians in their own countries, and they have the right to wage
war to dissuade the aggressors threatening their integrity and national
security.67
The 1588 manuscript on war written by Pedro Simões, SJ, from the
Évora University circle, is also worth of mentioning here:
If the [Pagan prince] does not oppress the Christians nor governs the
republic in a tyrannical way but according to a natural end, he cannot be
deprived of his ownership by the simple fact of neither being Christian
nor managing the republic according to the spiritual good. Once proven
the fact that he is the legitimate lord, neither the pontiff nor the Church
have jurisdiction over him. […] If the barbarians – the prince as much as
his people – who freely understand the prudence and the humanity of the
Hispanics, that is, without fear, fraud and ignorance, decided to elect the
king of Spain or Lusitania as their prince and sovereign, such title would
be legitimate and according to natural law because every republic can
ordain any king it wants and grant its government to him.68
In any case, the absence of the Christian emperor’s authority over the
peoples of the world, parallel to the recognition of the right of self-deter-
mination of the peoples, cracked a powerful argument of conquest and
war between the states and the republics: the argument of civilizational
conquest.
In effect, the edification of peoples characterized by their rudeness
or uncultured manners was one of the arguments to legitimise what we
call today “colonization” and incorporate them in the Christian states or
republics. In these cases, there was the possibility of invoking the prin-
ciple of tutelage to which Francisco de Vitoria makes reference in the most
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cautious and ambiguous way while other scholars from the Iberian school
deny it with more clarity.
The question was to know if, in the first place, a more civilized state
could conquer another one for being less civilized by arguing on moral
terms, thus opposing or preventing crimes against nature. Secondly, it
was important to know if there were barbarian peoples so uncultured and
close to bestiality that would make sense to revive Aristotle’s notion of
natural slavery.
Francisco de Vitoria addresses this topic in the most cautious way,
being this the reason why he has been so badly understood. He starts
by saying that he left the analysis of this question to the end of the final
chapter of De Indis where he deals with the legitimate titles of American
occupation as the question is hard to resolve in a clear-cut way: “There is
one other title that cannot be sustained with certainty, but it can be the
object of a dispute, as it looks legitimate to some. About this title, I neither
affirm nor condemn with absolute certainty”.69
And Vitoria joins the dispute: he presents the argument of the
supporters of those titles and he refers that, if the Indians were truly irra-
tional, “it could be said that [“posset ergo quis dicere”], for their benefit,
they could be managed by the Spanish kings”, as long as “it can be verified
how convenient it is for their own well-being”.70 In other words, if the
Spanish management of the Indians could be justified, then it had to be
restricted to a certain period.
Reinforcing his caution, Vitoria highlights that, what he says about
the American Indians, lies in the appearance and fragility of the conclu-
sions: “Et confirmatur hoc apprenter”.71 If they were irrational, “as some say
they are”, they could be temporally put under the management of someone,
but just for their own benefit and well-being in light of the charity precept.
Vitoria was a catholic and, as such, he makes use of the key concept
of his work: charity, understood as a precept rather than advice.
This might be the reason why, in the same university, his disciple and
successor Melchor Cano will get back to the subject in a clearer way:
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others is part of charity and not of justice […] but charity does not have
coercive force, as it is evident with the alms or fraternal correction […].
With the argument of utility, we could intervene by force only if they
were oppressed by tyranny and called us to intervene; not in any other
circumstance.72
In a similar vein, the Iberian scholars judged and denied the the
authority of the Christian princes to punish crimes against nature
committed by other peoples. Inasmuch as the kings of Castile had to leave
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unpunished crimes against nature in France, they had to proceed the same
way in America.75
There was, however, a relevant exception here: the death of innocents.
In this case, many of these scholars defended that the death of inno-
cents was unacceptable and should be prevented in the context of estab-
lished habits (death of innocents to be eaten by humans) and as result of
the princes’ authority (human sacrifice to idols). The death of innocents
should be denied, by war if necessary, since it represented an “injury to the
human species”, that is, a crime against the Humanity.
In this light, any Christian or gentile people committed an unbearable
aggression against us or against the whole humanity if it violated the
right to live or the bodily integrity of innocent people even if they did
not directly target their people or lands. Independently of who they were
and what sovereign they had, any people who attacked innocent peoples
would not have a sovereign but a tyrant who could be dismissed from his
authority in light of the right of active resistance.
In these cases, the blood of the innocents was a universal scream for
help who should be listened to and prevented through war in the name
of human dignity, if no more alternatives were existent. Innocents’ death
should be avoided with the legitimacy conferred by the universal authority
of the globe, Vitoria’s totus orbis, inhered from the Ciceronian tradition,
turning every single human a subject of the law of the nations, seed of the
international law.76
75. In this respect, Melchor Cano, master of Salamanca and Victoria’s disciple, says: “If
[the Spanish King] cannot wage war against the Gauls in case they do not hold to
natural law, he cannot wage war against the barbarians either as these sin less than
the others. There would not be more apt way for war and tumults than this one”. Cano,
“De Dominio Indorum,” 563.
76. Declaring the principle of the universal community, Vitoria says: “The whole globe not
only strengthens itself through the pact or agreement between men but also through
the force of law. In effect, the whole globe, which constitutes one sole commonwealth,
has the power to promulgate laws that are just and convenient to everyone as laws of
the law of the nations.” Vitoria, “Relectio de Potestate Civili,” 63.
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826 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
77. Las Casas not only considered the number of human sacrifices extremely scarce
among the Indians (historically untrue) but he also accepted the legitimacy principle
of the communities to sacrifice human lives to gods they believed being true. Las Casas
momentarily supported his argument on the Old Testament where manifestations such
as these seem to be legitimated. Moreover, as the Indians sincerely believed (wrongly
though) in their gods as the true ones, Las Casas understood the need to respect their
convictions while it would not be possible to show them the error of their idolatry
through persuasion and not war.
78. On Alonzo de la Vera Cruz see, on the issue of the Revista Portuguesa de Filosofia, the
study of Prof. Ambrosio Velasco Gomez, which is entirely dedicated to um.
79. Ledesma, “Secunda Quartae,” 199.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 827
Above the authority were the universal principles of law, the recta
ratio, the Reason of the Humanity, the objective and sovereign conception
of justice. So, even if the Indians agreed on the practices against these prin-
ciples, the Hispanics could not allow them to happen, for they configured
an attack to the human species, given its substantial unity and a break of
one of the basic principles of peace.
In this sense and following the theses of Francisco de Vitoria,
Fernando Pérez taught in Évora:
In this way, the necessary authority of the world was established and
fortified on the basis of the universality of human reason and its respective
habits, where a prince could invoke the Reason of the Humanity to
intervene in a foreign state to prevent offenses against the human species.
Moreover, natural law prevailed over the relativist argument of the victims’
consensus and the habits of the peoples.
The same principle was applied to the accusation of soldiers in war
times, as the argument of doing one’s duty could not be evoked to justify
harmful acts against the dignity of the human person and the Reason
of Humanity, thereby anticipating the principle IV of the Statute of the
Nuremberg Court.
This was the case, among many others, of António de São Domingos
who taught in the University of Coimbra around 1560:
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828 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
king. It can also be proven, then, why they act against their conscience
[…]. In the second place, it is here argued that crass ignorance cannot
clear someone from committing sin. Now, those soldiers dwell on this
ignorance; therefore, they are not forgiven. while this evidence endures,
the least can be proven for they are not obliged to inform themselves
about the justice of war.81
In texts no less empathic than the previous one, Fernando Pérez took
a similar position in Évora, affirming the primacy of the internal order
of the individual conscience on following orders to kill innocent human
beings.
8. The pope is not the lord of the world and does not have the
authority over the gentiles
81. António de São Domingos, “De Bello,” in A Escola ibérica da Paz nas Universidades de
Coimbra e Évora, ed. Pedro Calafate, vol. I (Coimbra, Almedina, 2015), 262.
82. Vitoria, “Relectio De Indis,” 51.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 829
quotes the text of Saint Paul in favour of this opinion, already exposed by
us, For what have I to do to judge them also that are without?83
The pope has no more authority over the temporal than the spiritual
things, so, he does not have spiritual authority over the infidels. As Saint
Paul said, For what have I to do to judge them also that are without?84
Not only guilt but also jurisdiction is required to punish someone. Now,
neither the pope nor the Christian prince has jurisdiction over the infidels;
thus, it is neither illicit to the former to punish the latter nor to wage war
against them. The smallest evidence can be proven with 1 Cor 5. 12: For
what have I to do to judge them also that are without?, Therefore, it is not
licit to us to judge those peoples […]. Thus, Saint Paul does not prohibit
us from punishing and judging the bad Christians, but, in regard to the
infidels, he sees it as a pointless subject; therefore, while someone can be
an idolatrous person, it is not up to the Christian to judge him.85
These are examples of a shared doctrine which have the aim to found
natural law and the law of the nations to all the peoples, safeguarding
their sovereignties and their freedom.
The best the pope could do was exerting his right or duty to preach in
all nations and make the voice of Christ being listened to.
According to Vitoria and many thinkers of this school, the pope could
make a call to arms to the Christian princes whenever the gentiles deny the
practice of the jus praedicandi. Nevertheless, this title, which legitimized
the use of force against an illegitimate force preventing a universal right
of the Church, should be employed with as many restrictions as possible.
The argument consisted in seeing the Spanish as having gone far
beyond what the law and the morals allowed them to. On the other hand,
there was a need to separate what was licit from what was convenient.
Although this title could be licit, it seems reasonable to conclude that, in
most of the cases, it was inconvenient due to scandal. Thirdly, the most
radical position on the jus praedicandi, such as the one taken in Coimbra by
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830 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
People say that the barbarians embarrass the preachers of the Gospel
by forbidding them to preach among themselves being this a just cause
to wage war against the barbarians as we can, in this way, oblige them
to allow the Gospel to be freely preached. Vitoria and others defend this
opinion […]. However, this reason does not seem sufficiently just, […] as
we cannot prove to them that Christ could concede this right.86
From another point of view, the pope was powerless to punish the
offenses to God or the sins of idolatry as God only gave to men the right
to military punish the offences committed against them. Nevertheless, this
was not the case of offences against Him as a result of his Omnipotence.
Thus, the offences to God were an illegitimate title of war among the
peoples.
For this reason, the Church could only subtract the converted
gentiles from the authority of their princes in case these put the salvation
of their souls in clear danger. Hence, the authority of the Church aimed
at conserving and defending the faith and, if necessary, it could even
nominate an emperor for those territories but only within the limits of the
mission mentioned above. As Bartolomé de Las Casas put it:
In this second case, law or precept [he refers to the defence and conser-
vation of the faith among the faithful subjects of the Church], the cause
was more than respectable and necessary whereby the Holy See could
justly and providentially concede the supreme and universal principality
of that globe to a catholic king.87
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 831
second generation of the School of Salamanca, will list the various powers
of the pope in the indigenous territories in America:
1. The pope has the authority to preach the Gospel to all living creatures
and also the authority to coerce those who prevent the preaching and
offend the life of the preachers.
2. The pope could allow Spanish expeditions only to the West Indies with
the aim of preaching the Gospel without any other prince being allowed
to do that without the consent of the Spanish king. The same terms apply
to the Portuguese king who could send expeditions to the East Indians.
3. The pope could grant legitimacy to the authority of the Spanish king over
the infidels who freely acknowledge him as the king.
4. The pope conceded to the kings of Spain and Portugal that, if during
the preaching of the Gospel some cause for just war occur and the king
of Spain or Portugal are victorious, only them can be the lords of the
surrendered and defeated land.
5. He has also conceded that the kings of Portugal and Spain receive, under
their guardianship, the converted Indians in order to protect them from
other Christian princes and, if necessary, to free them from slavery and
tyranny of the Pagan princes.
6. Finally, Juan de La Peña says:
89. Juan de La Peña, “De Bello Contra Insulanos,” Corpus Hispanorum de Pace, ed. Luciano
Pereña, vol. IX (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1982), 199.
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God”. In other words, the empire was about defending and safeguarding
the faith among the baptized over whom the pope had spiritual power
and indirect power over the temporal things in regard to the spiritual aim
among the Christians.
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The Iberian School of Peace: Natural Law and Human Dignity 833
Overall, these were the bases for the universal community as envisaged
by Francisco de Vitoria and developed later in depth by Francisco Suárez
in Coimbra.91 In this universal community, the authority will neither stem
from an emperor nor the pope but from the law of the nations, growingly
complexified and enriched with institutions erected through a constructive
dynamism.
Applying this doctrinal scheme to the American world, Francisco de
Vitoria gives a highly relevant answer:
I answer in the first place that commerce had no reason to stop […],
for the Portuguese also sustain an intense commerce with similar and
unconquered nations [“quae non subjecerunt”] and they gain plenty of
gains from it.92
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834 Pedro Calafate | Ricardo Ventura
new converts would be under the protection of the pope and the temporal
authority of an emperor “on God’s matters”.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 837-860.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0837
Abstract
The purpose of this study is to bring more clarity, under a historical-philosophical basis,
to the idea of peace, and thus to peace as an object of value and desire. The strategy of the
exposition is to analyse the concept of peace first in the illuminating treatment by Thomas
Aquinas and then by one of the founders of the so-called School of Salamanca in the 16th
Century, i.e., Francisco de Vitoria. The comparative analysis of the use of the concept by
both thinkers should allow the conclusion that from Aquinas to Vitoria there is a shift from
the idea of peace as an effect of love and perfect fulfillment of human desires to the idea
of peace as an effect of justice and common agreement about justice as the rule of human
relationships.
Keywords: concord, peace, Francisco de Vitoria, justice, just war, Thomas Aquinas.
1. Introdução
N
ão há dúvida de que a ideia de “paz” desempenha um papel impor-
tante em qualquer reflexão e representação individual, coletiva ou
institucional de uma vida humana boa e, mais especificamente,
de desejadas formas de organização social e política. É arguível que a paz,
como um objeto de valor e desejo, seja algo como um universal humano1 –
em um sentido mais amplo, ela talvez até mesmo seja um objeto de desejo
de todos os entes sencientes.2 Com efeito, o conceito de paz tem sido
837-860
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[omnia] desejam a paz”), 159-160, todos os entes que, como um aspecto comum,
sentem e desejam. Cf. ibid., resp., 159: “Respondeo dicendum quod [...]. Et ideo
necesse est quod omne appetens appetat pacem: inquantum scilicet omne appetens
appetit tranquille et sine impedimento pervenire ad id quod appetit, in quo consistit
ratio pacis, [...]”. Daqui em diante, eu abrevio com ST…. Em particular, a paz (ou o
desejo da paz) é um universal humano porque, dado que todos os seres humanos têm
desejos e amam coisas que eles tomam por boas, e a paz é definida como o efeito de
atingir, de uma maneira unificada e não impedida, aquelas coisas boas, todos os seres
humanos querem a própria paz como um bem e a desejam. Cf. também Heinrich
Maria Christmann, “Kommentar”, in: Thomas von Aquin, Summa theologica – Die
Liebe (1. Teil): II – II / 23 – 33 (Heidelberg – Graz-Wien-Köln: Gemeinschaftsverlag (F.
H. Kerle – Verlag Styria), Band 17A, 1959), 515. De toda maneira, in ST IIaIIae q. 29,
a. 2, Tomás de Aquino recorre em especial a passagens de Agostinho in De civitate Dei
XIX,12-14, em que a paz como desejo ou condição desejada de “todas as coisas” possui
uma dimensão cosmológica. Cf. Christoph Horn, Augustinus (München: Verlag C. H.
Beck, 1995), 124-125.
3. Pode-se obter uma ideia adequada do enorme montante de contribuições especializadas
ao conceito de paz e mais recentemente aos “estudos sobre a paz” (peace studies) ou
à “pesquisa sobre a paz” (“Friedensforschung”) ao ler alguns artigos de enciclopédia
referenciais, tais como Hans-Werner Gensichen, “Frieden, I. Regligionsgeschichtlich”;
Hans Heinrich Schmid, “Frieden, II. Altes Testament”; Werner Thiessen,
“Frieden, III. Judentum”; Gerhard Delling, “Frieden, IV. Neues Testament”, in
Theologische Realenzyklopädie (Berlin – New York: Walter de Gruyter, Band XI,
1983 (Studienausgabe Teil I, 1993)), 599-605, 605-610, 610-13, 613-618; Wolfgang
Huber, “Friedensforschung”, in Historisches Wörterbuch der Philosophie (Darmstadt:
Wissenschaftliche Buchgesellschaft, Band 2, 1972), cols. 1119-1122; Wolfgang Huber,
“Frieden, V. Kirchengeschichtlich und ethisch”, in Theologische Realenzyklopädie
(Berlin – New York: Walter de Gruyter, Band IX, 1983 (Studienausgabe Teil I, 1993)),
618-646; Terry Nardin, “War and Peace, Philosophy of,” in Routledge Encyclopedia of
Philosophy, ed. Edward Craig (London – New York: Routledge, Vol. 9, 1998), 684-691;
Hans J. Giessmann und Bernhard Rinke (Hrsg.), Handbuch Frieden (Wiesbaden: VS
Verlag für Sozialwissenschaften – Springer Fachmedien, 2011).
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Sobre o conceito filosófico de paz 839
para a noção que foram feitas pela “Escola de Salamanca” nos séculos
16-17, aqui, mais especificamente, pelo seu próprio iniciador, ou seja,
Francisco de Vitoria O.P. (1483–1546). Nas Considerações Finais, destaco
que as contribuições, por escolásticos ibéricos, possuem um potencial
singular para auxiliar a pensar normativamente a paz com respeito a situ-
ações de conflito contemporâneas, em níveis interno e externo de relações
políticas.4
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840 Roberto Hofmeister Pich
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Sobre o conceito filosófico de paz 841
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842 Roberto Hofmeister Pich
sentido de que o ser humano, por sua natureza, está como tal relacionado
com alguma coisa que realiza ou preenche por completo os seus desejos –
em que a paz, como um estado desejado ou uma condição desejada
aparece, novamente, como um valor humano universal. Essa realização
integral do desejo é encontrada em Deus somente, como Bem Absoluto.
Além disso, é importante enfatizar que a paz como objeto de valor é um
desideratum humano complexo, difícil – que, talvez, jamais se possa ver
totalmente alcançado. Não é de admirar que Tomás de Aquino consi-
derou a paz um efeito do amor, que, em perspectiva teológica e meta-
física, é atingível apenas através de uma “dupla união”, isto é, a união
de desejos na pessoa individual, tornada possível pelo amor unificador a
Deus, e a vontade consensual daquelas pessoas diversas que vivem juntas
em sociedade, à medida que elas são efetivamente capazes de amar o seu
próximo tal como amam a si mesmas.15
Em verdade, é possível adicionar ainda, às três condições para a paz
acima colocadas, uma condição final, a qual está mais ou menos implícita
nelas todas e se relaciona com a pergunta se é possível para alguém ter uma
“paz má” e, não obstante isso, estar em paz. Tomás de Aquino trabalha com
um sentido normativo de paz – que, com efeito, tem base metafísica –, de
acordo com o qual, se a paz é definida como a realização unificada daquilo
que é desejado como bom, (iv) há paz, no entanto, somente se há verda-
deira paz, ou seja, se o que se dá é tanto o apetite quanto a posse do que é
realmente bom, e não aparentemente bom. No primeiro caso, tem-se “paz
verdadeira” (pax vera) e paz boa, no segundo caso tem-se “paz aparente”
(pax apparens) e paz má (paz baseada nos desejos das pessoas por aquilo
que é erroneamente tomado como bom, portanto, por aquilo que é apenas
aparentemente bom). Pode-se dizer que Tomás de Aquino admite o uso de
“paz” nesse último caso apenas em sentido metafórico, uma vez que ele
explicitamente menciona que nenhum desejo realizado por aquilo que é só
aparentemente bom pode trazer ou levar ao fim as perturbações da alma.16
Tomás de Aquino também estava consciente de que, no intuito de levar o
status (e, no mesmo passo, a análise do conceito) da paz até o fim, seria
preciso falar de uma paz verdadeira e perfeita (pax perfecta), a qual, mais
uma vez, é o finis ultimus de toda criatura racional, mas pode ser atingida
só através do amor unificado ao Bem Sumo, e de uma paz verdadeira mas
imperfeita (pax imperfecta), a qual pertence à condição humana agora ou
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Sobre o conceito filosófico de paz 843
17. ST IIaIIae q. 29, a. 2, ad 4, 160: “Ad quartum dicendum quod, cum vera pax non sit nisi
de bono, sicut dupliciter habetur verum bonum, scilicet perfecte et imperfecte, ita est
duplex pax vera”.
18. Aurelius Augustinus, De civitate Dei (CCSL XLVIII, Pars XIV,2), XIX,13, 679: “A paz
dos homens é a concórdia ordenada”.
19. De fato, ainda que Cícero fosse endossar essa definição e traz expressões similares para
ela, Tomás de Aquino abrevia e cita erroneamente Cicero in ST IIaIIae q. 29, a. 3, resp.,
160, onde a passagem é, em realidade, uma sentença sobre a amizade que Salústio
atribuiu a Catilina in Bellum Catilinae (London – New York: Heinemann – Putnam’s
Sons (Loeb Classical Library), 1931), ch. 20,4-5, 34. Eu tirei essa informação de Daniel
Schwartz, Aquinas on Friendship (Oxford: Clarendon Press, 2007), 44, nota 10.
20. ST IIaIIae q. 29, a. 1, ad 1, 159: “Ad primum ergo dicendum quod Augustinus loquitur
ibi de pace quae est unius hominis ad alium. Et hanc pacem dicit esse concordiam,
non quamlibet, sed ordinatam: ex eo scilicet quod unus homo concordat cum alio
secundum illud quod utrique convenit. [...]. Et propter hoc [Augustinus] praemittit
quod pax est tranquillitas ordinis. [...]”. Cf. também ST IIaIIae q. 29, a. 2, resp., 159.
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844 Roberto Hofmeister Pich
aquela não tenha oposição por princípio a essa condição.21 No final, Tomás
de Aquino parece dar a entender que, pressuposta a dimensão individual
da união dos apetites e considerando que os apetites dentro do indivíduo
estão também relacionados com os outros seres humanos e com esferas
mais amplas – também relacionais –, que demandam um acordo comum
e conveniente, a tranquillitas ordinis significa que todos os impulsos dese-
jantes em um ser humano se tornaram quietos ou foram apaziguados.22
21. ST IIaIIae q. 29, a. 1, 158: “Sed contra est quod concordia potest esse aliquorum
impiorum in malo. Sed non est pax impiis, ut dicitur Isaiae 48, [22]. Ergo pax non
est idem quod concordia”; ST IIaIIae q. 29, a 1, resp., 159: “Haec autem unio non
est de ratione concordiae. Unde concordia importat unionem appetituum diversorum
appetentium: pax autem supra hanc unionem, importat etiam appetituum unius
appetentis unionem”.
22. ST IIaIIae q. 29, a. 1, ad 1, 159.
23. Cf. as referências bibliográficas nas notas 3 e 6, acima.
24. Sobre a ideia de “Segunda Escolástica”, cf. Roberto Hofmeister Pich, “An Index of
‘Second Scholastic Authors’,” in Right and Nature in the First and Second Scholasticism,
ed. Alfredo Santiago Culleton and Roberto Hofmeister Pich (Turnhout: Brepols
(Rencontres de Philosophie Médiévale, 14), 2014), IX-XVII. Sobre a formação das
ideias e da estrutura institucional da Segunda Escolástica hispânica, em especial
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Sobre o conceito filosófico de paz 845
ligada à Universidade de Salamanca, cf. José Luis Fuertes Herreros, “El discurso de
los saberes en la segunda escolástica”, in Right and Nature in the First and Second
Scholasticism, ed. Alfredo Santiago Culleton and Roberto Hofmeister Pich (Turnhout:
Brepols (Rencontres de Philosophie Médiévale, 14), 2014), 55-92.
25. Sobre isso, cf. a monografia de Johannes Thumfart, Die Begründung der globalpolitischen
Philosophie. Zu Francisco de Vitorias “relectio de indis recenter inventis” von 1539
(Berlin: Kulturverlag Kadmos, 2009); cf. também as observações feitas por Joachim
Stüben, “II. Vorbemerkungen des Übersetzers”, in Francisco de Vitoria, De lege – Über
das Gesetz, hrsg. und übers. Joachim Stüben (Stuttgart – Bad Cannstatt: Frommann-
Holzboog, 2010), XLIX-LIV. Cf. Markus Kremer, Den Frieden verantworten. Politische
Ethik bei Francisco Suárez (1548–1617) (Stuttgart: Verlag W. Kohlhammer, 2008),
especialmente 69-168 e 169-261.
26. Algumas referências básicas sobre a teoria da guerra justa são A. Vanderpol, La doctrine
scolastique du droit de guerre (Paris: A. Pedone, 1919); F. H. Russell, The Just War in the
Middle Ages (Cambridge: Cambridge University Press, 1975); J. Barnes, “The Just War,”
in The Cambridge History of Later Medieval Philosophy. From the Rediscovery of Aristotle
to the Disintegration of Scholasticism 1100-1600, ed. N. Kretzmann, A. Kenny, and J.
Pinborg (Cambridge: Cambridge University Press, 1982), 771-784; J. Cruz Cruz, “La
injuria al honor como motivación de guerra, según Vitoria, Molina y Suárez”, Veritas
54, no. 3 (2009): 13-21. O tópico da “guerra justa” na Segunda Escolástica foi abordado
em diversos estudos de Giuseppe Tosi; cf., por exemplo, G. Tosi, “La teoria della guerra
giusta in Francisco de Vitoria”, in Figure della guerra. La riflessione su pace, conflitto
e giustizia tra Medioevo e prima età moderna, org. M. Scattola (Milano: Franco Angeli,
2003), 63-87.
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846 Roberto Hofmeister Pich
27. Cf. Francisco de Vitoria, “De los índios recientemente descubiertos. (relección
segunda) / De indis recenter inventis relectio posterior”, in Francisco de Vitoria, Obras
de Francisco de Vitoria – Relecciones teologicas, ed. Teofilo Urdanoz (Madrid: Biblioteca
de Autores Cristianos, 1960), 811-858.
28. Ibid., 819-823. Esse ponto conceitual foi enfatizado por “discípulos” ou seguidores
de Vitoria, tais como Fernando Perez S. J. (ca. 1530–1595); cf. Roberto Hofmeister
Pich, “Revisiting the Topic of the “Law of War”: The Comments on Thomas Aquinas’
Summa theologiae IIaIIae q. 40 aa. 1-4 by Fernando Perez (16th Century),” in Right
and Nature in the First and Second Scholasticism, ed. Alfredo Santiago Culleton and
Roberto Hofmeister Pich (Turnhout: Brepols (Rencontres de Philosophie Médiévale,
14), 2014), 252-254.
29. Tais princípios de “natural sociedade e comunicação” e de não-lesão deveriam
fundamentar, normativamente, alegações de direito de hospitalidade, ir-e-vir ou
atravessar fronteiras, imigração, comércio, etc. Cf. Francisco de Vitoria, “De los
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Sobre o conceito filosófico de paz 847
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848 Roberto Hofmeister Pich
daquela ideia de iniuria como causa justa para travar a guerra qualquer
razão tal como diferenças religiosas, mero desejo por expansão terri-
torial, ofensas puramente sentidas por um líder político em nível pessoal
(as quais, se tomadas como razões necessárias para a guerra, caracteri-
zariam um traço de governo tirânico), alegações (até mesmo) justas de
ofensas de menor importância ou desacordos menores de um lado com
o outro, e – ao menos implicitamente – a vontade que seres humanos e
poderes políticos, por quaisquer razões e em algum momento por meio
de “estratégia” e “cálculo racional”, possam ter de sujeitar os inimigos
pelo exercício da sua força (um aspecto mais tarde enfatizado e explicado
por Carl von Clausewitz (1780–1831) em sua inovadora obra Vom Kriege,
examinada criticamente por Michael Walzer35 nos seus estudos históricos
sobre a guerra), etc.36 Em uma visão ética de cunho aristotélico acerca das
questões humanas contingentes e incertas, Vitoria adverte os seus leitores
de que qualquer iniuria alegada daquele tipo gravíssimo precisaria ser
prudencialmente verificada no intuito de medir com segurança o quanto
ela de fato representava uma agressão ao direito e um perigo à preser-
vação da república e ao bem comum,37 relativamente aos quais a guerra
seria seguramente justa e melhor. Assim, pois, um princípio de proporcio-
nalidade para o exercício de tal justiça corretiva – que levaria em conta a
medida do justo devido e do melhor benefício à república – haveria de ser
observado desde o começo: uma vez que uma guerra é uma ação punitiva
maximamente severa, a culpa no agressor e a necessidade de reagir puni-
tivamente a ela precisariam ser proporcionalmente elevadas.
Está-se em condições de dizer que os debates sobre as alegações
justas para travar uma guerra se relacionavam, muitas vezes, com ofensas
a guerra, pois aqueles que vão atrás de conflitos e guerras desejam a paz, isto é, a
satisfação proveniente de adquirir aquilo que valorizam e desejam como bom, mas
crêem que não há tal paz. Através do conflito e da guerra, os seres humanos basicamente
tentam adquirir uma paz mais perfeita do que anteriormente; cf. Aurelius Augustinus,
De civitate Dei (CCSL XLVIII, Pars XIV,2), XIX,13, 679; ST IIaIIae q. 29, a. 2, ad. 2, 159.
Com efeito, é aceitável identificar em Francisco de Vitoria, como condições para uma
guerra justa, na linha de Tomás de Aquino e de seus comentadores, (i) a autoridade
máxima de uma entidade política completa, (ii) a causa justa ou a injúria grave que
justifica moralmente a declaração de guerra e (ii) a correta intenção do combate e dos
combatentes, que consiste, nos termos do direito antes, durante e depois da guerra, na
meta de restauração da paz perdida.
35. Michael Walzer, Just and Unjust Wars: A Moral Argument with Historical Illustrations
(New York: Basic Books, 1977), 21-25.
36. Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”, 823-826.
37. Ibid., 821-826.
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38. In Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”, 841-842, há uma
exemplificação daqueles que são os “inocentes” em uma guerra.
39. Cf. a nota 28, acima. Para a lista deveras extensa de obras deixadas por Fernando
Perez, cf. Friedrich Stegmüller, Filosofia e teologia nas Universidades de Coimbra e
Évora no século XVI (Coimbra: Universidade de Coimbra, 1959), 41-42.
40. Cf. Fernando Perez, In materiam de bello ac pace (1588) [Lisboa Nac. F. G. 3299, II;
Lisboa, Nac. F. G. 3841, III], Disputatio tertia, [228b – 229a]: “[...] responsio eos facere
gravissimam iniuriam toti generi humano, unde tanquam iniustissimi invasores
generis humani possunt debellari a nobis, qui partes generis humani sumus. […]”.
41. Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio prior”, 720: “Alius titulus posset
esse propter tyrannidem, vel ipsorum dominorum apud barbaros, vel etiam propter
leges tyrannicas in iniuriam innocentum, puta quia sacrificant homines innocentes
vel alias occidunt indemnatos ad vescendum carnibus eorum. Dico etiam quod sine
auctoritate Pontificis possunt hispani prohibere barbaros ab omni nefaria consuetudine
et ritu, quia possunt defendere innocentes a morte iniusta”. Trata-se, com efeito, da
ideia de uma legítima guerra de intervenção, por razões “humanitárias”. Cf. também
Teofilo Urdanoz, “De los indios recientemente descubiertos – Introducción a la relección
primera”, in Francisco de Vitoria, Obras de Francisco de Vitoria – Relecciones teologicas,
ed. Teofilo Urdanoz (Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1960), 628-630.
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42. Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”, 826-828, 840-846.
43. Cf. a nota 34, acima. Naquelas passagens, Vitoria faz uso das expressões “pax”,
“tranquillitas” e “securitas”.
44. Até onde pude verificar, Vitoria, no seu De iure belli, não faz uso da expressão “concordia”
ou “tranquillitas ordinis”, mas antes de “tranquillitas” e “securitas”, bem como “pax
et securitas” e “tranquillitas et pax”. Naturalmente, ele estava familiarizado com o
tratamento dado por Agostinho e Tomás de Aquino à “concordia” e à “tranquillitas
ordinis”, noções que estão implícitas na sua exposição. Mas, há agora uma ênfase
diferente (cf. o texto).
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45. Isso é especialmente desenvolvido in Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis
relectio posterior”, 826-829 e, em seguida, 838-857. Sobre a “justiça corretiva” na ética
de Aristóteles, cujo texto em Ethica Nicomachea V vem a ser a base do tratado de
Tomás de Aquino sobre a justiça, cf. Otfried Höffe, Aristoteles (München: Verlag C.
H. Beck, 2006), 230-233; Otfried Höffe, Gerechtigkeit. Eine philosophische Einführung
(München: Verlag C. H. Beck, 52015), 23-25; Christoph Horn, “Gerechtigkeit bei
Aristoteles: Moralische und politische Aspekte”, in Vernunft oder Macht? Zum Verhältnis
von Philosophie und Politik, hrsg. Otfried Höffe (Tübingen: Francke, 2006), 43.
46. Cf., por exemplo, Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”,
826-827, 838-839, 845, 851, 853-858. No final de 1535, Vitoria preparou comentários
sobre Tomás de Aquino ST IIaIIae q. 62, ou seja, sobre a restituição como parte dos
seus comentários sobre o tratado acerca da justiça de Tomás de Aquino – e, aqui,
mais especificamente, acerca da teoria da justiça comutativa. Cf. Francisco de Vitoria,
De iustitia – Über Gerechtigkeit Teil 2, hrsg. und übers. Joachim Stüben (Stuttgart –
Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 2017). Como se pode ver, nos séculos 16-17 a
obrigação de restituição, em base teológica, moral e legal, se tornara um tópico maior
da teoria formal da justiça e da sua parte aplicada, em que se nota os começos das
discussões acerca da defesa de direitos individuais subjetivos, tais como vida, bom
nome e honra. Cf. também Tilman Repgen, “I. De restitutione – eine kommentierende
Einführung”, in Francisco de Vitoria, De iustitia – Über Gerechtigkeit Teil 2, hrsg. und
übers. Joachim Stüben (Stuttgart – Bad Cannstatt: Frommann-Holzboog, 2017),
XVII-LVII.
47. ST IIaIIae q. 62, a 1-8, 302-308.
48. ST IIaIIae q. 62, a. 1, 302: “Sed contra, restitutio ablationi opponitur. Sed ablatio
rei alienae est actus iniustitiae circa commutationes. Ergo restitutio eius est actus
iustitiae quae est in commutationibus directiva”.
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49. ST IIaIIae q. 62, a. 1, 303: “Respondeo dicendum quod restituere nihil aliud esse
videtur quam iterato aliquem statuere in possessionem vel dominium rei suae. Et ita
in restitutione attenditur aequalitas iustitiae secundum recompensationem rei ad rem,
quae pertinet ad iustitiam commutativam. Et ideo restitutio est actus commutativae
iustitiae: quando scilicet res unius ab alio habetur, vel per voluntatem eius, sicut in
mutuo vel deposito; vel contra voluntatem eius, sicut in rapina vel furto”.
50. ST IIaIIae q. 62, a. 2, resp., 303: “Respondeo dicendum quod restitutio, sicut dictum
est, est actus iustitiae commutativae, quae in quadam aequalitate consistit. Et ideo
restituere importat redditionem illius rei quae iniuste ablata est: sic enim per iteratam
eius exhibitionem aequalitas reparatur. Si vero iuste ablatum sit, inaequalitas erit ut
ei restituatur: quia iustitia in aequalitate consistit. Cum igitur servare iustitiam sit de
necessitate salutis, consequens est quod restituere id quod iniuste ablatum est alicui,
sit de necessitate salutis”.
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Sobre o conceito filosófico de paz 853
4. Considerações finais
51. Cf. Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”, 845-858.
52. Ibid., 854: “56. Septima propositio: […]. Quia poena debet esse proportionata culpae.
[…]”.
53. Isso inclui a ideia de criar um aparato militar, por exemplo, para evitar ou desencorajar
inimigos ou lados ofensores para que tracem quaisquer planos de guerra – obviamente,
também para, a modo de prevenção, possuir meios de defesa e vingança no caso de
uma guerra concreta. Os dois aspectos estão presentes na ideia de “segurança” de uma
república. Cf. as passagens indicadas na nota 34, acima. Com efeito, pode-se dizer que
tal sentido de paz como não-violência, como a pax ou a tranquillitas a ser re-obtida
depois de uma guerra travada justamente, está implícito in ST IIaIIae q. 40, a 1, 206-
207. Além disso, in ST IaIIae q. 70, a. 3, resp., Tomás de Aquino afirma que um dos
significados de “paz” (pax) – o primeiro – é estar livre de perturbações externas, sendo
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Sobre o conceito filosófico de paz 855
causados por iniuriae, que retiram da sociedade a paz e têm de ser supe-
rados por meio de medidas normativas e políticas concretas. Ao falar-se
de repressão, opressão histórica, discriminação, segregação, em parti-
cular a partir do estado para com a população e a partir de um grupo ou
uma organização da sociedade contra outra – algo que não foi levado em
consideração nas exposições de Vitoria –, é intrigante pensar o quanto a
paz social, em termos de restauração, preservação e concordância sobre
o bem comum na forma de justiça interna e global, é um princípio cons-
trutivo para sociedades pacíficas (menos pacíficas e mais pacíficas). Isso
não se relacionaria com políticas concretas – por certo, tangendo os dois
tipos de “justiça particular” nos termos aristotélico-tomasianos56 – para
combater a distribuição e a retenção injusta de bens, os delitos nas trocas
entre estados e grupos ou classes, as discriminações históricas, o racismo,
a segregação, os hiatos sociais, etc.?
Eu gostaria de concluir com duas observações. Primeiramente, a
“paz justa”, como a forma do florescimento humano em sociedade, em
uma dada entidade política completa ou ainda, se fosse o caso, na “repú-
blica de todo o orbe”, não deve ser confundida, assim creio, com a “tole-
rância”, a qual, na modernidade – especialmente a partir das obras de
John Locke57 e de John Stuart Mill,58 entre outros –, é tanto uma virtude
ética quanto um virtude epistêmica. Pode-se arguivelmente mostrar que
a tolerância como uma capacidade possui diversos aspectos vantajosos
para as sociedades plurais modernas e contemporâneas – a tolerância,
contudo, é, provavelmente, uma atitude privativa em dimensões éticas.
Ela não põe uma concórdia de desejos sobre bens mutuamente conve-
nientes e tampouco implica diretamente uma concordância refletida sobre
e uma realização concreta comum do que é correto ou justo – antes, a
tolerância ingressa no terreno da paz justa, o mais claramente, apenas no
sentido de ser um consenso sobre a importância e a apropriabilidade da
própria tolerância. O perfil da tolerância é outro. Ela é, antes, um poder de
restringir ações ou expressões possíveis para com o que não se gosta e com
o que não se concorda, abrindo, pois, um espaço para as diferenças e para
a pluralidade na esfera pública – nesse corte específico de seu campo, a
tolerância toca antes a paz “simples” como não agressão ou não violência,
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mas não ainda a paz “justa”. Como a paz, a tolerância também é um valor,
mas a paz – invocando novamente, agora, o seu sentido positivo de realizar
o que se deseja ou acorda – é um valor mais elevado e mais difícil de
realizar. Em segundo lugar, é significativo questionar o que ocorre, para
o propósito da paz justa, se pessoas ou grupos, se coletividades dentro
de países ou em diferentes países e nações viveram em conflitos severos
e se ofenderam mutuamente em tal medida que nenhuma reparação,
nenhuma compensação, nenhuma satisfação é ou será jamais possível, em
termos humanos e históricos? Nessas situações, como restabelecer a paz?
Imagine-se apenas os conflitos entre judeus e palestinos no Oriente Médio:
como calcular qualquer reparação ou qualquer compensação – alguma
desigualdade de justiça que seria possivelmente restituível –, no intuito
de ganhar de volta a paz na vida em conjunto ou nas relações interna-
cionais, através da mediação equânime da justiça corretiva? Eu não tenho
a pretensão de qualquer resposta às perguntas ora feitas – Vitoria, nesse
sentido um filho do seu tempo e em referência à política internacional
da sua época, mencionou que o conflito entre cristãos e muçulmanos,
dado o montante de injúrias dos segundos com respeito aos primeiros, é
uma guerra “perpétua” ou “perene”.59 Se nenhuma restituição a modo de
correção devida pode ser calculada de forma justa, talvez o único caminho
para a “paz” entre os seres humanos, não para uma mera “tolerância”,
seja o “perdão”. Mas, essa é uma exigência elevada e até mesmo arriscada;
afinal, o “perdão” como atitude para além da justiça reconhecida, talvez
esteja, estritamente falando, além das capacidades humanas.
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59. Francisco de Vitoria, “De indis recenter inventis relectio posterior”, 846: “Unde quando
bellum est talis conditionis quod licet spoliare indifferenter omnes hostes et occupare
omnia bona illorum, etiam licet ducere in captivitatem omnes hostes, sice nocentes
sive innocentes. Et cum bellum adversus paganos sit huiusmodi, quia est perpetuum,
et nunquam satisfacere possunt pro iniuriis et damnis illatis, ideo non est dubitandum
quin liceat et pueros et feminas saracenorum ducere in captivitatem et servitutem”.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0861
Abstract
The work of Francisco de Vitoria has always been related to the founding of the Salamanca
School and the defense of the rights of the Indians, as well as with the origin of other similar
groups as Coimbra, Évora or Mexico that constitute the Iberian School of Peace. But in
recent years it has been questioned that Francisco de Vitoria was the only creator of these
schools of thought. Some researchers affirm that there were other thinkers before him who
should be recognized for this merit. The purpose of this study is to show the originality of
Victoria’s doctrines and to see how they were assimilated by the members of the groups
that form the Iberian School of Peace. From our point of view, with independence of the
recent debates that have emerged around him, Francisco de Vitoria should continue to be
considered the creator of the School of Salamanca as well as of the Iberian School of Peace.
Keywords: conquest of America, Francisco de Vitoria, iberian school of peace, school of
Salamanca.
1. Consideraciones preliminares
E
n este curso 2018-19 la Universidad de Salamanca celebra su
VIII centenario desplegando las iniciativas propias de la conme-
moración y a la vez afianzando el origen de su fundación en el
año 1218. Entre los múltiples y diversos actos organizados por razón de
la efeméride, la Universidad de Salamanca ha resaltado su patrimonio
cultural, literario y filosófico, mostrándose especialmente orgullosa
de sus más grandiosos intelectuales: Miguel de Unamuno, fray Luis
de León, Pedro Ciruelo, Beatriz Galindo… De entre todos ellos, por su
importancia y relevancia internacional, cabe destacar al catedrático de
Teología Francisco de Vitoria (1484-1546) y la nómina de discípulos suyos
que podemos incluir dentro de la Escuela de Salamanca: Domingo de
Soto, Melchor Cano, Bartolomé de Medina, Domingo Báñez, Mancio de
Corpus Christi, etc. Por esta razón, la conmemoración de la Universidad
861-890
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862 María Martín Gómez
1. Véase María José Villaverde Rico y Francisco Castilla Urbano (Dirs.), La sombra de la
leyenda negra (Madrid: Tecnos, 2016).
2. Francisco Castilla Urbano, El pensamiento de Francisco de Vitoria: filosofía política
e indio americano (Barcelona y México: Anthropos y Universidad Autónoma
Metropolitana, 1992), 23.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 863
sidad de entablar un debate que abordara la noción crítica sobre qué era
en verdad la Escuela de Salamanca y qué se entendía por tal3. Es más, en
un momento dado de su estudio, Belda Plans se hacía eco de las dudas que
también existían en referencia a si Francisco de Vitoria podía considerarse
el fundador único de este movimiento4. Estas y otras cuestiones sobre la
Escuela pronto traspasaron las fronteras físicas y culturales. Dieciocho
años después, el Director del Instituto Max-Planck de Frankfurt, el profesor
Thomas Duve, coordinador del proyecto The School of Salamanca: a digital
collection of sources and a dictionary of its juridical-political language, en
un artículo publicado en Alemania5 nos invitaba una vez más a abordar el
debate sobre el nuevo y viejo concepto de la Escuela de Salamanca.
Aprovechando, por tanto, la ocasión de este monográfico nos gustaría
retomar esta antigua, pero siempre actual polémica6, con el objetivo prin-
cipal de defender no tanto un concepto unívoco de Escuela de Salamanca7
cuanto el hecho de su magisterio cierto: Francisco de Vitoria fue el fundador
no sólo de la Escuela de Salamanca sino también de la Escuela Ibérica de
la Paz. A este fin necesitaremos primero delimitar qué se entiende por
Escuela de Salamanca y qué entendemos por Escuela Ibérica de la Paz,
avanzando en este capítulo primero que en este estudio vamos a utilizar
conceptos dispares a la hora de referir ambas escuelas. Veamos entonces
las características principales de estas dos corrientes de pensamiento.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 865
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866 María Martín Gómez
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(1955): 167.
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García, “Proyección de la Escuela de Salamanca en América: Primeras interpretaciones
de la historia de las conquistas hispanas en Indias”, Cuadernos salmantinos de filosofía
(Ejemplar dedicado a: La Escuela de Salamanca y el Pensamiento Iberoamericano: teoría
y praxis) 30 (2003): 45-57; Miguel Anxo Pena González, “La(s) Escuela(s) de Salamanca:
Proyecciones y contextos históricos”, en Universidades hispánicas: colegios y conventos
universitarios en la Edad Moderna, coord. por Luis Enrique Rodríguez San Pedro
Bezares y Juan Luis Polo Rodríguez, vol. 2 (Salamanca: Universidad de Salamanca,
2010), 185-240; José Barrientos García, Repertorio de moral económica (1526-1670): la
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15. Cfr. María Martín Gómez, La Escuela de Salamanca, fray Luis de León y el problema de
la interpretación (Pamplona: EUNSA, 2017), 38.
16. José Luis Fuertes Herreros “Una filosofía para el viejo y nuevo mundo en la Universidad
de Salamanca, siglos XV-XVI”, en La Escuela de Salamanca. Filosofía y Humanismo
ante el mundo moderno, ed. por Ángel Poncela González (Madrid: Editorial Verbum,
2015), 30.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 871
estamos, pues, ante un esfuerzo genial por adecuar las tesis vitorianas,
que, como hemos dicho, se movían sobre bases hipotéticas, a la real
coyuntura concreta del momento histórico, decantándolas, perfilándolas
y modificándolas para darles virtualidad y eficacia en la situación objetiva
de la realidad americana de entonces. En este talante activo y atento
aflora, en esta primera generación de la Escuela, el aspecto dinámico y
creador de la misma23.
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874 María Martín Gómez
32. María Idoya Zorroza, “Francisco de Vitoria: actualidad y perspectivas para su estudio”,
Azafea. Revista de Filosofía, 18 (2016): 58.
33. Vicente Beltrán de Heredia, Domingo de Soto. Estudio biográfico documentado
(Salamanca: Biblioteca de teólogos españoles, 1960), 504.
34. Merio Scattola, “Domingo de Soto e la fondazione della scuola di Salamanca”, Veritas:
revista da Pontificia Universidade Catolica do Rio Grande do Sul 54, no. 3 (2009): 56.
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876 María Martín Gómez
37. Manuel Reyes Mate, “Estos, ¿no son hombres?” La pregunta en tiempos de peligro”,
Cuadernos de Filosofía Latinoamericana 33, no. 107 (2012): 31.
38. Matías de Paz, Acerca del dominio sobre los indios (Salamanca: San Esteban, 2017), 17
y 20.
39. Beltrán, Francisco de Vitoria, 176-177.
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40. Francisco de Vitoria, Relecciones teológicas, en Obras de Francisco de Vitoria, ed, Teófilo
Urdanoz (Madrid: BAC, 1960), 491.
41. Beltrán, Francisco de Vitoria, 177. Según Beltrán de Heredia, “la palabra mágica de
Vitoria ejercía sin duda más atractivo que la de Soto”.
42. Ibid., 142.
43. Melchor Cano, “Prólogo al Libro Duodécimo”, en De locis theologicis, ed. Juan Belda
Plans (Madrid: BAC, 2006), 667.
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878 María Martín Gómez
44. Para conocer los problemas que un imperio así construido tuvo después se recomienda
el libro de José Luis Villacañas, ¿Qué imperio? Un ensayo polémico sobre Carlos V y la
España imperial (Córdoba: Almuzara, 2008).
45. Véase la importancia que tuvieron en aquel tiempo fray Tomás Torquemada y fray
Diego de Deza en el estudio de Luis G. Alonso Getino, “Dominicos españoles confesores
de reyes”, Ciencia Tomista 14 (1916): 374-451.
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46. Francisco de Vitoria lo explica así: “Aristóteles dice que es doble la potestad: una
es la familiar, cual es la del padre respecto de los hijos y la del hombre respecto de
su mujer, y ésta es neutral. Otra es la civil, que, aunque es cierto que deriva de la
naturaleza (y puede, por tanto, llamársele natural, como Santo Tomás lo hace en De
regimine principum c.1 1.1., al decir que el hombre es animal civil), no obstante, no
está constituida por la naturaleza, sino por la ley”. Cfr. Vitoria, Relecciones teológicas,
670.
47. Ibid., 664.
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880 María Martín Gómez
48. Según Fernando Rodirgues, “Vitoria tinha grande desconfiança quanto ao nível de
civilidade dos mesmos. A antropofagia, os sacrificios humanos e outras práticas dos
índios faziam Vitoria crer que eles distavam tão pouco dos amentes que não teriam
condições para se autogovernar e, logo, poderiam vir a ser tutelados. É verdade que
isso não depõe contra Vitoria, pois esse via a tutela como algo bom”. Ver Fernando
Rodrigues Montes D’oca, “Francisco de Vitória e a teoria aristotélica da escravidão
natural”, Thaumazein 7, no. 14 (2014): 27.
49. Vitoria, Relecciones teológicas, 723-724.
50. Manuel da Nóbrega, Obra completa, 93.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 881
51. Antonio García y García, “El sentido de las primeras denuncias”, en Francisco de
Vitoria y La Escuela de Salamanca, 68.
52. Ibid., 69.
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884 María Martín Gómez
56. Bartolomé de las Casas, Brevísima relación de la destrucción de las Indias (Madrid:
Sarpe, 1985), 34-35.
57. Vitoria, Relecciones teológicas, 649.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 885
Si bien Matías de Paz compuso su obra Acerca del dominio sobre los
indios antes de que Vitoria impartiera sus famosas Relecciones, lo cierto es
que su escrito sigue defendiendo la autoridad suma del Romano Pontífice,
una idea que para Vitoria resulta ya un tanto caduca. Así, mientras que
Matías de Paz defiende la potestad del Papa sobre los infieles, Francisco
de Vitoria lo pondrá en duda. Tanto Beltrán de Heredia como los editores
del tratado de Matías de Paz se han percatado de esta diferencia y por
eso señalan que Matías de Paz “incurre en dos errores que Francisco de
Vitoria refutaría años después”60. El primero, que el Papa tiene jurisdicción
temporal sobre todo el orbe. El segundo, que Cristo delegó su dominio en
San Pedro.
Pero es que incluso podríamos afirmar que las Relecciones de Vitoria
pueden concebirse precisamente como una contestación a esta argumen-
tación que se encontraba presente tanto en el Requerimiento como en el
tratado de Matías de Paz. Aunque en la Relección de Vitoria titulada De
la potestad del Papa y del Concilio podemos leer que el Papa, como vicario
58. Matías de Paz estudió teología en París y según los editores de su obra, “tuvo el acierto
de anticiparse a Vitoria explicando la Teología según la guía de la Suma Teológica de
Santo Tomás”. Matías de Paz, Acerca del dominio, 19.
59. Ibid., 147. Una argumentación muy similar se encuentra asimismo en el Requerimiento.
60. Ibid., 32.
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Francisco de Vitoria y la Escuela Ibérica de la Paz 887
5. Conclusiones
Llegados a este punto, creemos que los ejemplos que hemos aducido
de algunas ideas vitorianas acopiadas por autores posteriores, que pueden
considerarse discípulos o seguidores suyos, muestran que Francisco de
Vitoria no sólo fue el creador de una Escuela de pensamiento que tuvo
su sede en la Universidad de Salamanca. Entendemos asimismo que
Vitoria fue el fundador de lo que hemos denominado Escuela Ibérica de
la Paz, con independencia de los debates surgidos en los últimos años.
Naturalmente, no negamos que Vitoria fue hijo de su tiempo y, como tal,
aprovechó los trabajos realizados por pensadores anteriores a él como
Matías de Paz, Antón de Montesinos o Palacios Rubios. Pero también
creemos que Vitoria supo aunar todas estas tradiciones en un discurso
teórico y filosófico sin precedentes que ofreció una serie de argumentos y
herramientas metodológicas para defender con vehemencia los derechos
de los indios.
Así las cosas, si existe una nota concordante entre autores tan
diversos como el jesuita Manuel da Nóbrega, el dominico Bartolomé
de las Casas o el agustino Alonso de la Veracruz es porque todos ellos
recogen el legado vitoriano y lo aplican a las circunstancias concretas de
América. Puede que algunas partes de las Relecciones de Francisco de
Vitoria nos resulten excesivamente teóricas, basadas en casos hipotéticos
(“si los indios no permitieran a los españoles ejercer sus derechos, podrían
los españoles hacerles guerra justa…”), pero lo importante es que Vitoria
brindó una base doctrinal, filosófica y teológica, desde la que poder justi-
ficar sus posiciones. Por eso, la característica fundamental de los inte-
grantes de la Escuela Ibérica de la Paz se resume en que supieron adecuar
y concretar las teorías de Vitoria para poder difundirlas después por lo que
ellos mismos denominaron “nuevo mundo”.
Es una buena metáfora la del nuevo mundo. Lo acontecido en
América, el pensamiento moderno de Francisco de Vitoria, nos transporta
a una nueva época que rompe con los clichés y prejuicios de una sociedad
anclada en sus obstinaciones imperialistas. La pregunta es si sabremos
continuar con el legado que esta Escuela nos transmitió: defender al
inocente, sentirse miembro de una sociedad de filosofía americana, hacer
valer el iberismo filosófico, ser lo suficientemente valientes como para
denunciar las injusticias propias de nuestro tiempo, etc. Todo eso son
nuevos y viejos problemas de la filosofía.
De todos modos, me gustaría recordar que estamos en una posición
de privilegio. Por primera vez podemos acercarnos a esta parte de nuestra
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888 María Martín Gómez
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0891
Abstract
Francisco de Vitoria is considered the creator of modern international law, in addition to
having set the legal conditions for justice before, during and after the wars. The political and
legal philosophy of Vitoria was animated by a sincere and undeniable desire for peace as a
natural and desirable state for the Republic. To that end, he proceeded to legally establish the
limits of the right to war in its entirety. However, the foregoing does not mean that Vitoria
built a “right to peace” in the subjective sense that this term has, since even today there is no
precise legal configuration of said “right to peace”.
Keywords: fair war, human right to peace, peace, right to war, war.
1. Introducción
F
rancisco de Arcaya y Compludo3 ha pasado a la historia por su
nombre como fraile dominico: Fray Francisco de Vitoria. No es
solo una cuestión adjetiva. A nuestro juicio, ningún análisis de la
* Universidad de Córdoba.
ji1almaj@uco.es
1. Michael Walzer, Guerras justas e injustas. Un razonamiento moral con ejemplos
históricos, traducción de Tomás Fernández Aúz y Beatriz Eguibar (Barcelona: Paidós,
2001), 440.
2. John Rawls, El derecho de gentes y “Una revisión de la idea de razón pública”, traducción
de Hernando Valencia Villa (Barcelona: Paidós, 2001), 159.
3. Fue Beltrán de Heredia quien primero hizo notar la filiación de Vitoria. Vid. Vicente
Beltrán de Heredia, Los manuscritos del maestro Fray Francisco de Vitoria. Estudio
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 893
7. Sobre la influencia de los “nominales” [sigo en este punto la terminología del Prof.
Francisco Carpintero: “Ellos eran nominalistas, pero no fenomenistas, y no ‘se movían’
en el vacío. Porque admitían la existencia de Dios y entendían que fundamentaban
sus actos de voluntad en la Prima justitia Dei. El primer nominalista coherente del
segundo milenio fue Hobbes. Él sí fue fenomenista porque no admitió la existencia
de Dios y no supo, en definitiva, cómo explicar el deber que generan las leyes para ser
obedecidas o el derecho del poder político para gobernar”; Vid., Francisco Carpintero
Benítez, Diálogo sobre el derecho natural y los derechos humanos, (Madrid: Editorial Y,
2019, 71.)] en la teología de Vitoria, véase, por todos, Introducción biográfica de Teófilo
Urdanoz en Obras de Francisco de Vitoria. Relecciones Teológicas. Edición crítica del
texto latino, versión española, introducción general e introducciones con el estudio de
su doctrina teológico-jurídica por Teófilo Urdanoz, O.P. (Madrid: Biblioteca de Autores
Cristianos, 1960), 16. Salvo indicación en contra, todas las referencias a las relecciones
De indis, De iure belli, y De potestate civile, se entienden hechas a la citada edición de
Urdanoz.
8. Francisco Titos Lomas, La filosofía política y jurídica de Francisco de Vitoria (Córdoba:
Publicaciones del Monte de Piedad y Caja de Ahorros de Córdoba, Cajasur, 1993), 19.
9. Marcelino Rodríguez Molinero, La doctrina colonial de Francisco de Vitoria o el derecho
de la paz y de la guerra. Un legado perenne de la escuela de Salamanca (Salamanca:
Librería Cervantes, 1993), 21.
10. Luciano Pereña, Bien Común y Paz dinámica, (Madrid: Euramerica, s/f.), 37 y ss.
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 895
14. Raúl Madrid, ‘El concepto de “guerra justa” en relación con la unidad de los pueblos
europeos’, en Verbo, nº 305-306 (1992), 641-650, cita a la 642.
15. Teófilo Urdanoz, Introducción a la relección segunda, en Vitoria, op. cit., 730.
16. Francisco Titos Lomas, op. cit., 228.
17. Teófilo Urdanoz, op. cit., 733.
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 897
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 899
paz y justicia puede solventarse y justificarse en cada caso determinado, según las
específicas circunstancias, ya sea en el caso de Uganda o en el de Chile. Vid., Walzer,
Terrorismo y guerra justa. op. cit., 52-53. Victorino Rodríguez consideraba la justicia
como “parte y presupuesto de la paz”. Vid, ‘Teología de la Paz’, Revista Verbo, n º 251-
252 (1987): 7-39, 28. Jesús Ballesteros estima que hay muchas exigencias de justicia
que conducen a la paz. Vid., Jesús Ballesteros, Repensar la paz, (Madrid: Ediciones
Internacionales Universitarias, 2006), 107-110.
32. Luis Legaz y Lacambra, ‘Justicia y Paz’, en Anuario de la Asociación Francisco de
Vitoria XVIII (1971-72), 13-24. Cita a la 14.
33. Schaetzel, Walter, ‘La teoría de la guerra de Francisco de Vitoria y la moderna guerra
de agresión’, traducción del original alemán inédito de Antonio Truyol y Serra, 407-
424. (Murcia: Universidad de Murcia, 1954), 413.
34. Ángela Aparisi, op. cit., 676.
35. Vid., especialmente, Norberto Bobbio, El problema de la guerra y las vías de la paz.
Traducción Jorge Binaghi (Barcelona: Gedisa, 1992), 58-59.
36. Alfonso Ruiz Miguel, La justicia en la guerra y en la paz (Madrid: Centro de Estudios
Políticos y Constitucionales, 1988), 106-107. El Prof. Ruiz Miguel, en esta obra de
referencia, solo cita a Vitoria en cuatro o cinco ocasiones, y siempre, a nuestro juicio,
con relación a aspectos tangenciales de su doctrina. Así, por ejemplo, para considerarlo,
junto a otros muchos, como un filósofo que estudió la paz (p. 19), en lo relativo a la
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900 José J. Albert Márquez
vindicación de las ofensas (103), para apuntar un perfil utilitarista en Vitoria (140), o
con relación a la “inocencia” de los no combatientes (301).
37. Norberto Bobbio, op. cit., 58-59. En el caso de Ruiz Miguel, vid., op. cit., 106.
38. En la conocida carta al Padre Arcos, recogida textualmente Jesús Cordero en su
Estudio Preliminar a la edición de De potestate civile, XLIII. Se refiere aquí Vitoria a los
abusos cometidos por algunos encomenderos españoles en Perú (“peruleros”) contra
los indígenas. Vid., Francisco de Vitoria, Relectio de Potestate Civile. Estudios sobre su
filosofía política. Corpus Hispanorum de Pace, segunda serie, vol. 15, edición crítica
por Jesús Cordero Pando (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas,
2008).
39. Sobre la actualidad de tal principio, vid., p.ej., José J. Albert Márquez, ‘El principio
de neutralidad en internet. Una aportación a la libertad de comunicación en internet
desde el pensamiento de Francisco de Vitoria’ en Revista Estudios de Deusto 66, n.º 2
(2018): 71-103. doi http://dx.doi.org/10.18543/ed-66(2)-2018
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 901
40. Luciano Pereña, Bien Común y Paz dinámica, op. cit., 48.
41. Luciano Pereña, Estudio Preliminar, op. cit., 64.
42. Teófilo Urdanoz, Introducción a la relección segunda, op. cit., 747.
43. Ibid., 731.
44. Tomás de Aquino, Suma Teológica, II-II, 29.3. (Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos,
1990), 278.
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902 José J. Albert Márquez
paz; pero no basta la justicia para que haya plenamente paz, si no median
actitudes de amistad45.
De modo análogo, Raúl Madrid recuerda que Tomás de Aquino trata
el tema de la guerra como uno de los elementos contrarios a la concordia
de los pueblos, un vicio contrario, por acción, a la paz. Así, pues, la guerra
sirve a la justicia en orden a la paz. Sin embargo, la paz es un efecto de
la caridad, de modo que la guerra puede ser entendida como un vicio
contrario a la caridad46. Aquino, en suma, concibe la “guerra justa” como
un medio lícito y necesario para restablecer la paz y por tanto, para
regresar a la caridad.
Por otra parte, con respecto a la mayor o menor subjetividad a la hora
de legitimar la justa causa de la guerra, para Santo Tomás, la causa de la
guerra justa era la culpa, y ésta tiene una significación puramente moral.
Aquino se mueve en este campo en un ámbito más filosófico y moral que
jurídico. Sin embargo, para Vitoria, reparaba Urdanoz, la simple iniquitas
agustiniana o la culpa de Santo Tomás, no pueden constituir títulos de justa
intervención bélica. Se trata ahora de la culpabilidad también en el orden
jurídico, es decir, la injusticia cometida contra el beligerante ofendido o
sus aliados; “injuria” ha de entenderse pues como toda injusta lesión de
los derechos de otro, implicando toda clase de daños reales47. Visto desde
otro punto de vista, escribe Titos que “el maestro salmantino rehúsa el
pecado, por muy grave que sea, como causa de guerra justa”48: la razón de
la guerra justa será siempre la violación de los derechos de otro. Vitoria, en
consecuencia, convierte en categorías jurídicas objetivables, los conceptos
morales que San Agustín, y muy especialmente Santo Tomás utilizaron
para fundamentar la legitimidad de la guerra. Fray Francisco (y tras él
todos los teólogos del XVI), sustituye la expresión tomista “culpa” por la
de “injuria” o “injusticia” inferida a la parte inocente49. Así, se desplaza la
problemática del tratamiento de la guerra desde el campo moral al orden
estrictamente jurídico.
Por su parte, el propio Vitoria, en su comentarios a la Suma Teológica,
escribe que “es claro que la justicia es virtud más perfecta que toda la
virtud de la fortaleza, puesto que se ordena a la gobernación y conser-
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vación del reino, y tiene actos muy perfectos, como impedir las guerras y
sediciones, y conseguir la igualdad. La guerra es un hecho accidental, la
paz es de derecho natural; y, por consiguiente, la fortaleza no es virtud tan
perfecta como la justicia. Así mismo, la justicia es útil en tiempo de guerra
y en tiempo de paz, lo cual no se da en la fortaleza”50.
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después se puede desear que, una vez que se ha establecido este nivel de
coexistencia, se den diversas interacciones positivas entre los miembros
del colectivo”52. Nos parece este del norteamericano un buen punto de
partida para entender que la paz (ahora y en tiempos de Vitoria) debe de
considerarse como el estado o situación social en que no hay guerra, si
bien lo deseable es que supusiera un plus, un estado o situación de mutua
cooperación entre las personas y los Estados para el bien común de todos.
La significación usual de la paz es la que le otorgó San Agustín en la
Ciudad de Dios, como tranquillitas ordinis con las modalidades apuntadas
por el propio Agustín de Tagaste: “Así, la paz del cuerpo es la ordenada
complexión de sus partes; y la del alma irracional, la ordenada calma de
sus apetencias. La paz del alma racional es la ordenada armonía entre
el conocimiento y la acción, y la paz del cuerpo y del alma, la vida bien
ordenada y la salud del animal. La paz entre el hombre mortal y Dios es
la obediencia ordenada por la fe bajo la ley eterna. La paz de los hombres
entre sí, su ordenada concordia. La paz de la casa es la ordenada concordia
entre los que mandan y los que obedecen en ella; y la paz de la ciudad es
la ordenada concordia entre los ciudadanos que gobiernan y los gober-
nados. La paz de la ciudad celestial es la unión ordenadísima y concor-
dísima para gozar de Dios y a la vez en Dios. Y la paz de todas las cosas, la
tranquilidad del orden”53. Como Victorino Rodríguez señala, solo le quedó
a Aurelio Agustín por consignar la paz entre las naciones o paz interna-
cional para tener un cuadro completo de la paz y de sus pormenorizadas
realizaciones humanas54. En suma, si la paz se define como tranquilidad
del orden o tranquila libertad, la falta de paz y la guerra serán correlati-
vamente, razona Rodríguez, falta de orden, de libertad, de tranquilidad o
sosiego55.
Sea como fuere, la cuestión es dilucidar si en la obra de Francisco de
Vitoria hay elementos para fundamentar la existencia de un “derecho a la
paz” tal y como actualmente se entiende. En buena medida, esta es una
cuestión que gravita sobre el concepto que defienda de “derecho”, y este es
un asunto que sin duda desborda el objeto de estas páginas. En cualquier
caso, estimamos que el derecho constituye un sistema subsidiario de reso-
lución de conflictos humanos guiado por el ideal de aplicar lo justo al caso
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concreto56. Es decir, que, ante una situación conflictual, los afectados por
ella y en su caso la autoridad deben de recurrir en primer lugar a modos de
solución pacíficos de controversias inter partes o con auxilio de un tercero
neutral. Entre estos modos de solución pacífica de controversias (que por
otra parte Vitoria conoce perfectamente) se encuentran, fundamental-
mente, el diálogo racional y sincero entre las partes, la transacción, la
negociación, la mediación, el arbitraje o la conciliación, cada uno de ellos
con sus particularidades. Solo si estos métodos fracasan, puede y debe
el derecho intervenir como mecanismo social de resolución de contro-
versias, de ahí el llamado carácter subsidiario del derecho, o su conside-
ración de última ratio sancionadora, que cobra especial relevancia en el
ámbito del derecho penal. En este sentido coercitivo, el más conocido –
alabado y denostado-, jurista del pasado siglo XX, Hans Kelsen, entendía
el derecho como técnica social que consiste en establecer un orden coer-
citivo mediante el cual se fomentan determinadas acciones bajo amenaza
de sanción57, y desde este punto de vista, recordando los postulados de
Max Weber, el derecho es concebido por Kelsen como un orden coercitivo
que monopoliza el uso de la fuerza58.
En suma, que el estado conflictual, añadimos nosotros, es inherente a
la naturaleza humana. Hannah Arendt, al hilo de la relación entre violencia
y poder, afirmaba que “el fin de la guerra – fin concebido en su doble signi-
ficado – es la paz o la victoria; pero a la pregunta ¿Y cual es el fin de la
paz?, no hay respuesta. La paz es un absoluto, aunque en la Historia que
conocemos los periodos de guerra hayan sido siempre más prolongados
que los de paz”59. La paz, pues, es considerada un absoluto, subrayemos.
Ya Emmanuel Kant escribió a fines del siglo XVIII que el estado de
paz entre hombres que viven juntos no es un estado de naturaleza (status
naturalis); es más bien un estado de guerra, es decir, un estado en el que, si
bien las hostilidades no se han declarado, sí existe una constante amenaza
de que se declaren. El estado de paz debe, por tanto, ser instaurado, pues
la omisión de hostilidades no es todavía garantía de paz y si un vecino
56. Vid. José J. Albert Márquez, ‘Fundamentos para la cultura de la paz. Una aproximación
desde la axiología jurídica’, en Aproximaciones a las complejidades de la paz,
coordinadores Víctor M. Martín Solbes y Mª Teresa Castilla Mesa, 37-53. (Granada:
GEU Editorial, 2017).
57. Hans Kelsen, ¿Qué es justicia?, traducción y estudio preliminar a cargo de Albert
Casamiglia, (Barcelona: Planeta-De Agostini, 1993), p.152.
58. Ibid., 158.
59. Hannah Arendt, Sobre la violencia, traducción Guillermo Solana (Madrid: Alianza
Editorial, 2013), 34.
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60. Inmanuel Kant, Hacia la paz perpetua. Un esbozo filosófico, (Madrid: Ciro Ediciones,
2011), 23.
61. Hans Kelsen, op. cit., p 160. Sin embargo, aunque parezca paradójico, es necesario
recordar que Kelsen fue un convencido pacifista, si bien su afán por construir una
Teoría Pura del Derecho desprovista de cualquier contaminación extraña le hizo adoptar
un formalismo jurídico incompatible con ciertas manifestaciones de subjetividad o
con cualquier contaminación de tipo moral, religiosa, o simplemente metafísica.
62. Johan Galtung, ‘Essays in Peace Research I. Peace: Research, Education, Action’, en J.
Galtung, Sobre la Paz, traducción de C. Martínez, 56-98 (Barcelona: Fontamara, 1985).
63. Diego Medina Morales, El Derecho subjetivo en Hans Kelsen, (Córdoba: Servicio de
Publicaciones de la Universidad de Córdoba, 2005).
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64. Diego Uribe Vargas, ‘Fundamentos del Derecho humano a la Paz’ en, Diálogos, nº 21
(1997): 1-23, 13.
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sino también colectiva, pues alcanzaría a los pueblos, las naciones y los
Estados. Desde el otro punto de vista, y puesto que desde que se consagra
un derecho existe la correlativa obligación de velar por su cumplimiento,
obligados fundamentales de mantener la paz serían los Estados, pero
también los individuos y las personas. Este es el sentido del art. 13, apar-
tados 1 y 2, de la Declaración de Santiago de Compostela, cuyo tenor
literal es: “1. – La realización efectiva y práctica del derecho humano a la
paz comporta necesariamente deberes y obligaciones para los Estados, las
organizaciones internacionales, la sociedad civil, los pueblos, las personas,
las empresas, los medios de comunicación y otros actores sociales y, en
general, toda la comunidad internacional. 2. – La responsabilidad esencial
para la preservación de la paz y la protección del derecho humano a la
paz incumbe a los Estados y también a las Naciones Unidas como el
organismo más universal que armoniza los esfuerzos concertados de las
naciones para realizar los propósitos y principios proclamados en la Carta
de las Naciones Unidas”.
Tercera dificultad, relacionada con la anterior, sería su compleja
viabilidad procesal. Una vez determinada la legitimación activa y pasiva
para su titularidad, habría que establecer mediante que tipo de acción y
por cual o cuales procedimientos jurisdiccionales se podría hacer efectivo
el ejercicio de este derecho. Resulta difícil imaginar, particularmente en
este caso, una viabilidad procesal universal ante un organismo con compe-
tencias específicas para ello (problema, por cierto, vigente en tiempos de
Vitoria, al no existir una autoridad mundial ante quien dirimir conflictos
internacionales).
Y por último, una cuarta dificultad, vendría constituida por la impo-
sibilidad de asegurar la eficacia práctica del derecho a la paz mediante la
coacción (dificultad inexistente en la regulación del derecho a la guerra
justa en la teoría clásica que representa, entre otros, Francisco de Vitoria).
Y es que, aunque pudiera resultar paradójico con relación al derecho a la
paz, como Kelsen quería, en última instancia el derecho también significa
posibilidad de aplicarlo por la fuerza. De ahí la íntima relación del derecho
a la paz con el derecho a la seguridad, con el que camina indefectible-
mente de la mano. La Declaración de Santiago de Compostela parece ser
bien consciente de ello, y en su art. 3 consagra la “seguridad humana”
como un derecho. Esto es, que existe una obligación legal de asegurar
esa seguridad y aunque la Declaración no lo mencione directamente, si
fracasan los métodos pacíficos de solución de controversias el derecho a
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65. Según los tres primeros apartados del artículo 3: “1. – Toda persona tiene derecho a la
seguridad humana, lo que incluye la libertad frente al miedo y frente a la necesidad,
ambos elementos de la paz positiva.
2. – Los pueblos y los seres humanos tienen derecho a vivir en un entorno privado y
público que sea seguro y sano, así como a recibir protección contra cualquier acto
de amenaza o de violencia física o psicológica, con independencia de su procedencia
estatal o no estatal.
3. – Los pueblos y los seres humanos tienen derecho a exigir a sus gobiernos que
apliquen efectivamente el sistema de seguridad colectiva establecido en la Carta de las
Naciones Unidas, en particular el principio de arreglo pacífico de controversias, con
pleno respeto a las normas del derecho internacional, del derecho internacional de los
derechos humanos y del derecho internacional humanitario”.
66. Jesús María Alemany Briz, ‘La Paz. ¿Un derecho humano?’ (Zaragoza: Fundación
Seminario de Investigación para la Paz, 1998) recuperado de www.seipaz.org/
documentos/AlemanyDHPaz.pdf, última consulta 3-02-2019, 3.
67. Janne Haaland Matlary, Derechos humanos depredados. Hacia una dictadura del
relativismo, traducción de María Jesús García González. (Madrid: Ediciones
Cristiandad, 2008), 75.
68. Karel Vasak, ‘El derecho humano a la paz’, en Tiempo de Paz, nº 48 (1998): 19-24, 23.
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69. Héctor Gros Espiell, ‘El derecho humano a la paz’, en Anuario de Derecho Constitucional
Latinoamericano, (2005): 517-546, 530.
70. Ibid.
71. Ibid., 533.
72. Ibid., 537.
73. Ibid., 533.
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912 José J. Albert Márquez
74. Teresa Gelardo ha destacado esta posición, aunque la intervención humanitaria debería
de contemplarse como la última salida a una situación de injusticia o de opresión
grave que por otros medios políticos o jurídicos es inviable (y se refiere a modo de
ejemplo a las matanzas de Rwanda o Sbrenica) y además, la intervención humanitaria
debería ser excepcional, valorable políticamente desde la cautela y teniendo siempre
presentes, como elementos esenciales, la proporcionalidad, la justa causa, la exigencia
de autorización del Consejo de Seguridad (que asegura la multilateralidad) y, por
supuesto, el resultado humanitario. Teresa Gelardo, ‘La intervención por razones
humanitarias’, en José Justo Megías, Manual de Derechos Humanos. Los Derechos
Humanos en el Siglo XXI. (Pamplona: Thomson Aranzadi, 2006), 230-242, 242.
75. Álvaro D’Ors, op. cit., 807.
76. Vid., por todas, en la doctrina española, Garrido Gómez, María Isabel, ed. El derecho a
la paz como derecho emergente (Barcelona: Atelier, 2001).
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Sobre el Derecho a la Paz y a la Guerra En Francisco de Vitoria. Una Cuestión Actual 913
77. José Justo Megías Quirós, ‘De la facultad moral a la cualidad moral: El derecho
subjetivo en la Segunda Escolástica tardía’, en Anuario de Filosofía del Derecho IX,
(1992): 325-349. 326.
78. Ibid., 348.
79. Ibid., 349.
80. Francisco Carpintero Benítez, Diálogo sobre el derecho natural y los derechos humanos,
op. cit., 90. También, del mismo autor, por lo que toca a Suárez, ej., La crisis del derecho
en la escolástica española del siglo XVI, (Madrid: Editorial Sindéresis, 2018), pp.109 y ss.
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914 José J. Albert Márquez
4. Conclusiones
81. Por ejemplo, respecto del principio de libertad de los mares con relación a la política
imperial española, vid., Marta Albert Márquez ‘El principio de libertad de los mares en
la Relectio de Indis. ¿Se enfrentó Francisco de Vitoria a los intereses españoles?’, en
Derecho y Opinión, n º 6 (1998): 169-184.
82. Francisco Javier Espinosa Antón, ‘La guerra y la paz en Francisco de Vitoria’, en
Fragmentos de Filosofía, n º 12 (2014): 47-65, 49.
83. Luciano Pereña, Estudio Preliminar, La tesis de la paz dinámica, op. cit., 52.
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916 José J. Albert Márquez
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 919-958.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0919
Abstract
The significance of Francisco de Vitoria (1483-1546) in the great debate of XVIth century
Spain on the morality of colonization is a matter of contention to this day. Some 150 years
ago, at the time of the establishment of International Law as an autonomous discipline,
Vitoria was rediscovered and magnified. Legal historians praised his defence of American
natives’ rights against his own countrymen, and thus presented this unassuming Dominican
monk as nothing less as the founding father of International Law. In the following decades,
however, literature based on Critical Legal Theories and Third World Approaches to
International Law has criticized Vitoria as a hailer of Conquest. This essay argues that
both the presentations of Vitoria as a champion of the freedom of the Indians and as a
supporter of their submission are inaccurate, and due to a presentist bias in historiography
of International Law. The following pages try to read Vitoria’s De Indis taking due account
of its historical context, of its author’s affiliation to Thomist philosophy, and of his probable
intentions as a theologian and a confessor. The article concludes that the aim of Francisco de
Vitoria was to lay out a model for convivence between Indians and Spaniards.
Keywords: colonization, history, international law, ius gentium, scholasticism, thomism.
1. Introdução
A
percepção historiográfica sobre Francisco de Vitoria (1483-1546)
variou bastante ao longo do tempo. Ele foi considerado, sucessiva-
mente, o criador do Direito Internacional Público, o antevisor de
institutos como a Sociedade das Nações e a Cruz Vermelha, um intelectual
orgânico a serviço do projeto colonizador espanhol, um dominicano into-
lerante e um dos advogados da liberdade comercial. Celebrado em vida e
após a morte, esquecido durante a ruína do Império Espanhol, redesco-
berto e promovido no final do século XIX e, enfim, alvo preferencial da
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 921
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922 Rafael Zelesco Barretto
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 923
3. Richard Tuck, The Rights of War and Peace: Political Thought and the International
Order From Grotius to Kant (Oxford: Oxford University Press, 1999), 42.
4. Francisco de Vitoria, De indis recenter inventis relectio prior, trad. Teófilo Urdanoz
(Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1960) I, 4.
5. Sobre a grande divulgação da teoria da escravidão natural dos índios à época, ver
Lewis Hanke, Aristóteles e os índios americanos, trad. Maria Lúcia Galvão Carneiro
(São Paulo: Martins Editora, 1959), 35-56.
6. Vitoria, De indis, I, 23.
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924 Rafael Zelesco Barretto
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 925
9. Venancio Diego Carro, La “Communitas Orbis” y las rutas del Derecho Internacional
según Francisco de Vitoria (Palencia: Merino, 1962), 69.
10. Camilo Barcía Trelles, “Francisco de Vitoria et l’École moderne du droit international,”
Récueil des Cours de l’Academie de Droit International de la Haye 17, no. 2 (1927):
210-211.
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926 Rafael Zelesco Barretto
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 927
12. Jesús Cordero Pando, Relectio de potestate civili: Estudios sobre su Filosofía Política
(Madid: CSIC, 2008), XXV-XXVI.
13. Vitoria, De indis, III, 18.
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928 Rafael Zelesco Barretto
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 929
19. Luis G. Alonso Getino, Fray Francisco de Vitoria – fundador del Derecho Internacional
moderno (1546-1946) (Madrid: Cultura Hispánica, 1946), 15.
20. Ramón Hernández Martín, Francisco de Vitoria. Vida y pensamiento internacionalista
(Madrid: BAC, 1925), 320-321.
21. Teófilo Urdanoz, “Introducción a la relección primera,” in Francisco de Vitoria,
Relecciones Teológicas, ed. Teófilo Urdanoz (Madrid: BAC, 1960), 630.
22. Vitoria, Relectiones, III, 2.
23. Gaius, Institutas do Jurisconsulto Gaio, trad. J. Cretella Jr. e Agnes Cretella (São Paulo:
Revista dos Tribunais, 2004), 1,1.
24. Para o primeiro expoente dessa posição, ver: Francisco de Vitoria. De indis et de iure
belli relectiones, ed. Ernest Nys (Washington, D.C.: Carnegie Institution, 1917), 42-43.
Ver também: Urdanoz, Introducción a la primera relección, 567-569. Para partidários
mais recentes, ver Antonio Gomez Robledo, Fundadores del Derecho Internacional:
Vitoria, Gentili, Suárez, Grocio (México: Universidad Nacional Autónoma de México,
1989), 12-16. Também: Roberto Gerardo Ortiz Treviño, “La naturaleza jurídica del ius
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930 Rafael Zelesco Barretto
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 931
30. Leslie Claude Green, “Claims to Territory in Colonial America”, in The Law of Nations
and the New World, ed. Leslie Claude Green e Olive P. Dickason (Edmonton: The
University of Alberta Press, 1989), 42.
31. Teófilo Urdanoz, “Las Casas y Francisco de Vitoria (en el V centenario de nacimiento
de Bartolomé de las Casas 1474-1974) [1ª parte],” Revista de estudios políticos 198
(1974): 116 et seq.
32. Para Martti Koskenniemi, tratava-se de justificar não a dominação pura e simples
sobre os índios, mas toda uma teoria do direito internacional baseada nos direitos
de livre navegação e (especialmente) livre comércio, que os príncipes não poderiam
obstaculizar. Martti Koskenniemi, “Empire and International Law: The Real Spanish
Contrbutions”. University of Toronto Law Journal 61 (2011): 28.
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33. Robert A. Williams Jr, “The Medieval and Renaissance Originis of the Status of the
American Indian in Western Legal Thought,” Southern California Law Review 57
(1983): 90.
34. Anthony Anghie, Imperialism, Sovereignty and the Making of International Law
(Cambridge: Cambridge University Press, 2004), 30.
35. Vitoria, De indis, III, 4.
36. Macedo, O mito.
37. Henry Mechoulan, “Vitoria: Père du droit international?” in Actualité de la pensée
juridique de Francisco de Vitoria, ed. Antonio Truyol y Serra (Bruxellles: Bruylant,
1988), 24.
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 933
38. Paulo Potiara de Alcântara Veloso, “A guerra justa e o papel dos povos infiéis:
transformações do Ius Gentium sob as perspectivas de Paulus Vladimiri e Francisco
de Vitoria” (Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina, 2013), 205.
39. Beatriz Maldonado Simán, “La guerra justa de Francisco de Vitoria,” Anuario
Mexicano de Derecho Internacional 6 (2006), https://revistas.juridicas.unam.mx/index.
php/derecho-internacional/article/view/166/269.
40. Joe Verhoeven, “Vitoria ou la matrice du droit international,” in Actualité de la pensée
juridique de Francisco de Vitoria, ed. Antonio Truyol y Serra (Bruxellles: Bruylant,
1988), 112.
41. Maldonado Simán, La guerra justa.
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gentes quisesse ser respeitado pelos homens de Estado, era mister que
pudesse apresentar boas credenciais históricas. Daí a bem-intencionada,
porém pouco esclarecedora, releitura de Francisco de Vitoria, que fez do
pacato monge dominicano um político visionário, antecipador de todas as
tendências e modismos das relações internacionais do século XX.
Mas também a descrição de Vitoria como um propagandista do colo-
nialismo dificilmente resiste a uma crítica histórica precisa, ou mesmo a
uma leitura integral de sua obra magna. Tome-se como exemplo o argu-
mento de que o dominicano seria um defensor do livre comércio, mesmo
contra a vontade das nações indígenas50. É verdade que ele defende as
liberdades de circulação e comércio, que em seguida beneficiariam os
espanhóis no impulso inicial do mercantilismo imperialista. Mas Vitoria
provavelmente não enxergava tais liberdades como fins em si, à moda dos
atuais direitos humanos de primeira geração, ou como uma antecipação
do modelo econômico capitalista. Conforme explicado por Justenhoven,
Vitoria estava sendo influenciado, nesse ponto, por uma poderosa corrente
intelectual do humanismo renascentista, que buscava, na ideia de unidade
do gênero humano, uma resposta pacifista ao aumento brutal na quan-
tidade e violência das guerras na Europa pós-medieval51. O teólogo
burgalês defende o livre comércio como meio para alcançar a paz na
Cristandade, não como modo de criação de riqueza ou como manifes-
tação de um direito humano abstrato.
Grande parte das críticas à postura vitoriana acerca do problema da
conquista provém de autores afiliados à corrente Third World Approaches to
International Law, que enfatiza a proximidade entre Direito Internacional,
imperialismo e colonização. Estas também produziram seus exageros,
como classificar as ideias de Francisco de Vitoria na mesma categoria das
razões para o sistema de mandatos da Sociedade das Nações, os acordos
TRIPS e a OMC52, chegando-se a encontrar semelhanças entre o trata-
mento pejorativo que teria sido dado por Vitoria aos índios americanos e
a legítima defesa preventiva e a Guerra do Iraque53.
É preciso reconhecer que as abordagens da escola crítica lançam
luzes sobre aspectos menos evidentes, porém presentes, na obra de
50. Koskenniemi, Empire, 1-36. Ignacio de la Rasilla del Moral, “Francisco de Vitoria’s
Unexpected Transformations and Reinterpretations for International Law”, Intemational
Community Law Review 15 (2013), 314-315. DOI: 10.1163/18719732-12341254.
51. Justenhoven, Francisco de Vitoria, 127-129.
52. Anghie, Imperialism, 168, 220, 271.
53. Ibid., 292-293.
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 937
Vitoria. Alguns destes são: sua falta de isenção (e até mesmo a impossi-
bilidade desta); sua vontade de não desagradar ninguém; as dificuldades
para conceber o “outro” como um igual e para ultrapassar o paradigma
geográfico da Cristandade; o entusiasmo de sua época pela exploração
máxima de recursos econômicos; a facilidade com que se permitia o
recurso às armas. Da mesma forma, houve um aporte historiográfico
interessante, ao denunciar a romantização da figura de Vitoria feita por
alguns de seus divulgadores nos últimos dois séculos.
Por outro lado, não convém exagerar. Muitas das críticas a Vitoria, ou
das tentativas de rotulá-lo como representante do imperialismo europeu,
revelam uma tendência a projetar, no estudo do passado, os paradigmas
típicos da época histórica do observador, em detrimento dos valores do
observado. Isso parece claro na avaliação da solução vitoriana para o
problema da moralidade da conquista. Aparentemente, a distinção entre
títulos legítimos e ilegítimos, e as condicionantes que norteiam estes
últimos, não foram suficientes para convencer a abordagem crítica de que
Vitoria seria contrário à forma em que a colonização era levada a cabo. Na
verdade, o que leva os críticos a considerá-lo complacente com a guerra
aos índios é a falta de condenações claras a todo o projeto colonial. Uma
terceira via, na figura de uma colonização alternativa dos territórios já
encontrados, parece impossível aos olhos dessas abordagens questiona-
doras.
Acredita-se que tais descrições da obra de Francisco de Vitoria são
falhas por, ao menos, três razões conectadas entre si. Em primeiro lugar,
elas operam uma ruptura entre o autor estudado e seu objeto. Analisam
a tomada de posição de Vitoria sobre o tema das guerras índias, mas
evitam enxergar tal evento com os olhos de Vitoria. Ao invés, apresentam
a Conquista desde o ponto de vista atual: episódio concluído, histori-
camente situado e passível de estudo como uma realidade passada. É
possível que o estudioso de hoje possua melhores condições de estudar a
colonização americana, como um todo, do que o pensador que a viveu em
seu tempo. Mas se o cerne da investigação não for o fenômeno histórico,
e sim o trabalho do pensador quinhentista que o discutiu em sua própria
contemporaneidade, então o estudo (presente) do episódio histórico só
servirá como contexto – o objeto mesmo da pesquisa deverá ser o modo
como o autor estudado percebeu o evento, pois só assim seus argumentos
manterão o sentido que ele lhes deu. Simplificando, a corrente crítica
analisa uma discussão política de Vitoria sem saber do que o autor estava
falando. Pois seu tema “a guerra dos espanhóis contra os índios” no século
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XVI não é o mesmo que no século XXI – ainda que se trate da mesma
guerra, e dos mesmos índios.
Em segundo lugar, tais autores projetam, em sua interpretação de
Francisco de Vitoria, perguntas que fazem sentido apenas no presente,
por estarem baseadas em conceitos de formulação mais recente. Assim,
interrogam Vitoria sobre sua posição em relação a igualdade soberana,
direitos humanos, pacifismo universal, pluralismo cultural... A própria
pergunta sobre se ele era, afinal, “a favor” ou “contra” a guerra contra os
índios, parece não conseguir libertar-se das experiências acumuladas até
o momento presente. Hoje, a posição “a favor” equivale, na prática, ao
genocídio – e a posição “contra” já não implica em que outro país venha
a conquistar os mesmos territórios índios. Isso não estava implícito no
tempo de Vitoria.
Por fim, a interpretação de Vitoria como apologista do colonialismo é
tributária direta dos valores e visões de mundo atuais, baseados inclusive
na experiência histórica. Tais como a ideia do repúdio à guerra, calcada no
mal-estar provocado pelas memórias das Guerras Mundiais, das corridas
imperialistas e da colonização. Ou a ideia de direitos humanos individuais,
como contraponto às experiências totalitárias, à escravidão e ao agiganta-
mento do Estado absolutista. Ou a ideia do pluralismo cultural e da tole-
rância, com precedente histórico na convivência entre povos diferentes,
nas migrações e no desenvolvimento das tecnologias de comunicação. Os
contemporâneos de Vitoria não possuíam nenhum desses valores – não
porque fossem contrários aos mesmos, mas porque não correspondiam às
necessidades de sua época. Ora, as abordagens “pós-coloniais” de Vitoria
parecem inseri-lo, à força, na oposição a esses valores modernos. E, se
ele não os defende, então são-lhe atribuídos outros valores, igualmente
desenraizados de seu tempo: liberalismo econômico, imperialismo, into-
lerância.
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54. Santo Tomás de Aquino, Suma de Teología, t.3, trad. VVAA. (Madrid: Biblioteca de
Autores Cristianos, 1960), II-II q. 57, “De iure”. Michel Villey, Questões de Tomás de
Aquino sobre direito e política (São Paulo: Martins Fontes, 2014), 109-130. Javier
Hervada, Lições propedêuticas de Filosofia do Direito (São Paulo: Martins Fontes,
2008), 345-349.
55. Aquino, Suma, II-II q. 62, “De restitutione”.
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Qual foi a real posição de Francisco de Vitoria em relação à colonização da América? 943
63. Michel Villey, Formação do pensamento jurídico moderno, trad. Claudia Berliner (São
Paulo: Martins Fontes, 2005), 389-393.
64. Guzmán Brito, El derecho, 63.
65. Ibid., 63.
66. Ibid., 66.
67. Ibid., 68.
68. Francisco de Vitoria, De iustitia, q. 62 a. 1 n. 5. Apud Guzmán Brito, El derecho, 40.
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73. Enquanto que, para Tomás de Aquino, os conceitos pertencem a ordens distintas,
pois a “lei” é a razão do “direito”. Assim, a lei natural consiste nas regularidades
perceptíveis na natureza – tanto física quanto, no caso específico do ser humano, em
todo o atinente a uma vida boa. A lei natural precede e informa o direito, identificado
como a parte que corresponde ao partícipe de uma relação interpessoal envolvendo
bens, materiais ou não.
74. A metáfora não é de Vitoria.
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Será que Vitoria não propõe nada, então, acerca do problema dos
índios? Na verdade, sua contribuição para a questão que atormentava a
mente dos espanhóis e a vida dos ameríndios pode ser bem compreendida
quando se atenta para uma recorrência em sua conferência sobre os índios:
as suposições e condicionantes que se espalham por toda a argumentação.
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Em quarto lugar, não seria lícito aos franceses impedir aos espanhóis a
peregrinação à França ou mesmo o estabelecimento nela, ou vice-versa,
desde que de nenhum modo isso resultasse em seu dano ou lhes fizesse
injúria. Portanto, nem aos bárbaros. [...] não é lícito relegar hóspedes
sem culpa. [...] Portanto, não movendo os bárbaros uma guerra justa
contra os espanhóis, supondo que estes sejam inofensivos, não é lícito
que repilam os espanhóis de sua pátria. [...] é contrário à natureza evitar
o consórcio dos homens inofensivos.81
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Sob risco de soar repetitivo, Vitoria enfatiza logo a seguir, por duas
vezes no mesmo parágrafo, que o título de guerra pela liberdade de
anúncio do Evangelho fora estabelecido apenas em teoria, e que para sua
aplicação prática seria necessário examinar se a conversão dos nativos
não seria dificultada pela operação bélica.
Todos os demais títulos legítimos são acompanhados por condicio-
nantes. Pelo terceiro, os espanhóis podem guerrear contra os caciques
infiéis em defesa de membros da tribo que se converteram ao Cristianismo
e sofram perseguições, “se de outra forma não for possível”88. O quarto
título diz que o Papa poderia destituir os governantes indígenas caso
entendesse conveniente para a fé, “sem escândalo”89. O quinto permite
a intervenção por causa humanitária “se de outra forma não se pode
eliminar um rito sacrílego” e apenas para “proteger os inocentes de uma
morte injusta”90. Outro título para a dominação seria a livre escolha dos
índios, desde que “por verdadeira escolha voluntária”91. Já a defesa dos
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954 Rafael Zelesco Barretto
96. Francisco de Vitoria, Relectio de Iure Belli o Paz Dinámica, trad. Luciano Pereña
(Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1981), 139-162 e 223-227.
97. Macedo, O mito, 7.
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jurídica, e sim moral, fica mais evidente que o intuito é revelar um modo
de pensar, uma ética, e não fornecer soluções prontas.
Perante a realidade do descobrimento e da conquista, o mestre
salmantino opta por enfatizar o dever básico dos espanhóis na América:
estabelecer um governo justo. Ele não tem os meios (nem o interesse,
nem a vocação profissional) de caracterizar minuciosamente a forma de
governo ideal para o Novo Mundo. Mas insiste em mostrar a seus ouvintes
no Convento de Santo Estevão como tal dominação sobre os aborígenes
poderia estruturar-se da maneira mais suave e proveitosa possível. Todo
o exposto na conferência mostra que a guerra não deve ser buscada nem
temida pelos espanhóis, mas que os índios também não podem ser aniqui-
lados nem abandonados, e sim governados. A repetição do dever de preo-
cupar-se com os nativos não é apenas uma figura de linguagem destinada
a adoçar as causas para a guerra total: Vitoria ainda é muito escolástico
para desperdiçar palavras em uma conferência solene. Cada repetição da
obrigação que os espanhóis assumiram com o bem-estar físico e espiritual
dos índios reforça o dever da metrópole de manter um governo humano
em suas novas possessões.
É sem dúvida este o motivo pelo qual os estudiosos de Vitoria chegam
a conclusões tão distintas quando se debruçam sobre a De Indis em busca
de uma posição definitiva do palestrante sobre a juridicidade da guerra
contra os nativos. Na verdade, como visto, o dominicano espanhol centrou
suas preocupações no futuro da convivência entre colonizadores e colo-
nizados, advogando por um governo responsável que revertesse ultima-
mente no bem de toda a colônia.
6. Conclusão
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Williams Jr, Robert A. “The Medieval and Renaissance Originis of the Status of the American
Indian in Western Legal Thought.” Southern California Law Review 57 (1983).
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 959-980.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_0959
Abstract
The subject of human dignity in the thought of Francisco de Vitoria (1483-1546) has
been a subject of frequent attention. Almost unanimously, it has been associated with the
development of human rights and its manifestations about the Indians. However, during the
Renaissance, the topic de dignitatis hominis appears linked to the nature and possibilities of
the human being more than to his rights. The present article analyzes that idea, until now
neglected among the contributions of the Dominican, and usually associated with authors
identified with humanism more than with scholasticism, what would add an additional
element of interest to the study of the professor of the University of Salamanca.
Keywords: Francisco de Vitoria, human dignity, human rights, humanism, image of man,
renaissance, scholasticism.
1. Introducción
D
esde que gana la cátedra de Prima de Teología de la Universidad
de Salamanca en 1526, Francisco de Vitoria estaba obligado a
pronunciar una relección o repetición de dos horas de duración
cada curso. Estas conferencias tenían que impartirse en días festivos ante
sus Facultades o ante toda la Universidad y su contenido debía versar
sobre la materia que se había desarrollado en las lectiones ordinarias
de ese año académico. El dominico va a llevar a su máxima expresión
esta práctica que ningún otro profesor de Salamanca elevó a su altura1.
Existen, no obstante, razones para creer que no fue en su primer año como
catedrático cuando tomó conciencia de la importancia que podía dar a la
misma. La primera relección que se le atribuye, la De silentii obligatione,
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960 Francisco Castilla Urbano
si es que tuvo lugar2, debió ser abordada como un mero trámite y –dada la
inexistencia de tradición manuscrita que haya llegado hasta el presente–
tal vez ni siquiera llegó a escribirse o a copiarse3. Sólo a continuación, con
la De potestate civili, convierte Vitoria en costumbre dejar constancia de
la exposición realizada y para ello se obliga a preparar con profundidad y
originalidad los temas debatidos en tales escritos. Es así como las relec-
ciones se acaban convirtiendo en su aportación intelectual más valiosa.
Además, Sobre la potestad civil es, junto con la De indis y la De iure belli,
la relección de mayor trascendencia escrita por el dominico en cuanto
afecta a los asuntos políticos y sociales de su época. El burgalés estudia
en este texto los problemas del poder: su origen, necesidad, posesión, ejer-
cicio y límites. En torno a estas cuestiones surgen ya esbozos y aporta-
ciones de interés para su doctrina sobre las relaciones entre los príncipes
y las comunidades, la relación del poder civil con el poder espiritual, las
exigencias de la guerra justa, la obligación en conciencia de las leyes, los
distintos tipos de éstas, etc., que serán objeto de desarrollo posterior. En
este sentido, se puede decir que esta primera relectio vitoriana representa
tanto una aportación doctrinal consolidada como un programa de trabajo
que se irá completando en los años siguientes.
Estos temas han sido analizados desde hace más de un siglo por
numerosos eruditos y lo siguen siendo. Lo que no ha llamado tanto la
atención entre los estudiosos de la obra de Vitoria es que dentro de esta
primera relección conocida, el maestro salmantino introduce su trata-
miento del tópico renacentista de dignitate hominis, conforme era habitual
entre los humanistas de la época4.
Quizá sorprenda que se sitúe a un escolástico como Vitoria tras la
estela de Giannozzo Manetti y su De dignitate et excellentia hominis o de
Giovanni Pico della Mirandola, cuya Oratio elegantissima debía servir a
la presentación y defensa de sus Conclusiones o Novecientas tesis y que
alcanzaría fama años después como Oratio de hominis dignitate5, o de
otros muchos amantes de las bellas letras que desarrollaron esta misma
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 961
6. Francisco Rico, El pequeño mundo del hombre (Madrid: Alianza, 1988), 128-151, y
Francisco Rico, El sueño del humanismo. De Petrarca a Erasmo (Madrid: Alianza,
1997), 163-190.
7. Paul O. Kristeller, El pensamiento renacentista y sus fuentes (Madrid: FCE, 1993
(1979), 243.
8. De potestate civili, en Francisco de Vitoria, Obras. Relecciones teológicas. Edición de T.
Urdánoz. (Madrid: BAC, 1960), 151.
9. H. Baker, The Image of Man. A Study of the Idea of Human Dignity in Classical Antiquity,
the Middle Ages, and the Renaissance (Nueva York: Harper Torchbooks, 1961), 204-217.
10. Francisco Castilla Urbano, “Principales corrientes de conocimiento: escolasticismo,
neoplatonismo y humanismo,” in La Biblia Políglota Complutense en su contexto,
coord. por A. Alvar Ezquerra (Alcalá de Henares: Servicio de Publicaciones, 2016),
200-12.
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962 Francisco Castilla Urbano
11. Erika Rummel, The Humanist-Scholastic Debate in the Renaissance and Reformation
(Harvard University Press, 1998 (1995)), 11.
12. Katherine Elliot van Liere, “Humanism and Scholasticism in Sixteenth-Century
Academe: Five Student Orations from the University of Salamanca,” Renaissance
Quarterly 53, 1 (2000): 86.
13. Rico, El sueño del humanismo. De Petrarca a Erasmo, 170-171.
14. María José Vega, “La solitaria oscuridad del padre. El Dios de las tinieblas en la Oratio
de dignitate hominis de Pico della Mirandola,” Quaderns d’Italià 6 (2001): 199.
15. Rummel, The Humanist-Scholastic Debate in the Renaissance and Reformation.
16. Fernán Pérez de Oliva, Diálogo de la dignidad del hombre; Razonamientos; Ejercicios.
Ed. de M. L. Cerrón Puga (Madrid: Cátedra, 1995), 139, nota 34.
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 963
17. Por solo citar algunos ejemplos: Ramón Hernández Martín, “Francisco de Vitoria
y Bartolomé de las Casas, primeros teorizantes de los derechos humanos,” Archivo
Dominicano: Anuario 4 (1983): 199-266; F. Murillo Rubiera, América y la dignidad del
hombre. Los Derechos del Hombre en la Filosofía de la Historia de América (Madrid:
Mapfre, 1992); Enrique Rivera de Ventosa, “Derechos humanos en Francisco de
Vitoria: ¿naturales o personales?,” Cuadernos salmantinos de filosofía 20 (1993): 191-
203; Mauricio Beuchot, Los fundamentos de los derechos humanos en Bartolomé de las
Casas (Barcelona: Anthropos, 1994); Miguel Anxo Pena González, “Derechos humanos
en la Escuela de Salamanca”, in Los Derechos Humanos en Europa, coord. por José-
Román Flecha Andrés (Universidad Pontifica de Salamanca, 2009), 51-78.
18. Robert Spaemann, “Sobre el concepto de dignidad humana,” Persona y derecho. Revista
de fundamentación de las Instituciones Jurídicas y de Derechos Humanos 19 (1988): 16.
19. Francisco Castilla Urbano, “Los derechos humanos y el pensamiento de Francisco de
Vitoria,” Revista de Filosofía 36, 3 (2000): 7-30.
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966 Francisco Castilla Urbano
manera que tampoco era extraña en esa literatura– que por muy grande
que sea su excelencia nada vale en soledad28.
Tres eran, por lo tanto, las novedades que aportaba el dominico en
su relección: su cuidadosa escritura, la pretensión del teólogo de poder
desenvolverse en cualquier campo del saber y la trascendencia del tema
escogido para exponer. Habría que añadir también que el catedrático fue
consciente en todo momento de que se dirigía a un público más hetero-
géneo y amplio que el que asistía a sus lecciones29, por lo que preparaba
sus introducciones, como en la De potestate civili, con la clara finalidad
de situar a sus oyentes en el contexto más favorable para su correcto
entendimiento. Desde esta perspectiva, en la que va implícito un esfuerzo
por atraer con cierta habilidad retórica a su auditorio, algo a lo que no
necesitaba recurrir en igual medida en sus lecciones, debe verse la apro-
ximación vitoriana a la reflexión de dignitate hominis. Esta comienza afir-
mando que “todo poder público o privado por el cual se administra la
república secular, no sólo es justo y legítimo, sino que tiene a Dios por
autor de tal suerte, que ni por el consentimiento de todo el mundo se puede
suprimir”30. Para justificar esta afirmación, que constituye la primera de
las tres conclusiones de su relección, se embarca Vitoria en un análisis
en el que va a hacer un uso abundante de fuentes clásicas, patrísticas y,
en menor medida, bíblicas, muy en la línea humanista. Su contenido se
puede dividir en tres partes: la estructura del universo, la suficiencia de la
vida animal y la indigencia de la humana que, no obstante, se eleva por
encima de cualquier otra.
El desarrollo de la primera parte conduce a Vitoria a plantearse la
causa de los fenómenos naturales. Su investigación le llevará a enfrentar
una explicación atomista de la realidad a la explicación aristotélica de las
cuatro causas; de estas, la causa final es la primera y principal, y a ella
acude para evitar lo que considera errores en los que cayeron Epicuro
y Lucrecio. Al recordar el finalismo aristotélico tal y como se expresa en
la Física31, Vitoria quería señalar que estos desconocieron u olvidaron
que todo lo que hay en el universo “existe por algún fin y, por lo tanto,
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 967
todo es menester que haya sido hecho por algún fin, en el que hay que
buscar su razón de ser y su necesidad”32. Así, pues, la necesidad en las
obras de la naturaleza no se sitúa en el azar de un movimiento que genera
y corrompe cuanto existe, sino en la teleología que explica su utilidad
última. El maestro salmantino corrobora su concepción recurriendo a
argumentos tomados de la obra del Estagirita para mostrar la existencia
de esta finalidad33, pero los lleva más allá al atribuir a los filósofos materia-
listas ejemplos tan desafortunados que convierte en un absurdo cualquier
intento de fundamentar en la materia la necesidad de las cosas:
Y si los hombres tienen los pies debajo del cuerpo no es para andar con
ellos, sino porque son la parte más pesada.
Los animales tienen los huesos revestidos no porque así sea necesario
para que la carne y demás partes del cuerpo tengan estabilidad, sino
porque los huesos son más duros y sólidos34.
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968 Francisco Castilla Urbano
36. María José Vega, “La biblioteca del ateo en el Quinientos,” in Letras humanas y
conflictos del saber: la filología como instrumento a través de las edades, ed. A. Vian y C.
Baranda (Madrid: IUMP- Editorial Complutense, 2008), 301.
37. María José Vega, “Erasmo y la dignidad del hombre,” in La dignidad y la miseria del
hombre en el pensamiento europeo. Actas del Congreso internacional de Madrid, 20 a
22 de mayo de 2004 (Roma: Salerno Ed., 2006), 219.
38. Enrique Otón Sobrino, “Epicuro y Lucrecio en la polémica de Tertuliano y Lactancio,”
Helmantica: Revista de filología clásica y hebrea 40, 121-123 (1989): 143-158.
39. Kristeller, El pensamiento renacentista y sus fuentes, 232.
40. Ángel Escobar, nota a su edición de Cicerón, Sobre la naturaleza de los dioses (Madrid:
Gredos, 1999), 237; Martín de la Hoz, “Las relecciones teológicas en la Universidad
de Salamanca, siglo XVI,” 152, 156 y 191, alude al latín de corte ciceroniano, por
ampuloso o grandilocuente, de los prólogos de las relecciones.
41. Cicerón, Sobre la naturaleza de los dioses, II, 39, 98: “Ha de divisarse, en primer lugar,
la totalidad de la tierra, colocada en el centro del mundo, sólida, en forma de globo e
hinchada en todas las direcciones en virtud de sus propias tensiones internas, revestida
de flores, hierbas, árboles y mieses, de cuanto cabe distinguir una increíble cantidad
y una variedad insaciable. Añade a esto la gélida perennidad de las fuentes, el líquido
perlúcido de los arroyos, el tan reverdecido manto de las orillas”; para la alusión al ser
humano: ibídem, 54, 133: “Y se entenderá más fácilmente que los dioses inmortales
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han sido provisores para con los hombres, si se examina la estructura del hombre en
su totalidad y la perfecta figura que ofrece el conjunto de la naturaleza humana”.
42. Vitoria, De potestate civili, 153.
43. Ibid., 153: “¿Cuál puede ser la fuerza de la materia que entre los animales dio al
hombre el mirar levantado, mandándole que mirase hacia el cielo y que contemplase
los astros?”.
44. Cicerón, Sobre la naturaleza de los dioses, II, 56, 140: “La divinidad estableció en primer
lugar que, levantándose de la tierra, fueran altos y estuvieran erguidos, de modo que,
mirando al cielo, pudieran adquirir conocimiento de los dioses. Y es que los hombres
no han surgido de la tierra para ser sus pobladores y habitantes, sino casi para ser
espectadores de los fenómenos celestes que se producen allá arriba, cuyo espectáculo
no corresponde a ningún otro tipo de seres vivos”.
45. Lactancio, Instituciones divinas. Libros I-III. Ed. de E. Sánchez Salor (Madrid: Gredos,
1990), II, 1, 15: “nuestro padre, ése que es único y solo, al crear al hombre, es decir, al
animal inteligente y racional, le levantó de la tierra para que, erguido, contemplara a
su creador”.
46. Metamorfosis, I, 84: “Mientras que los demás animales miran inclinados hacia la tierra,
al hombre le dio un rostro elevado, le ordenó mirar hacia el cielo y levantar su cara
erguida hacia las estrellas”.
47. C. A. Patrides, “Renaissance Ideas on Man’s Upright Form,” Journal of the History of
Ideas 19, 2 (1958): 256-258, referencia que tomo de Rico, El sueño del humanismo. De
Petrarca a Erasmo, 174.
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a las cualidades con las que lo había dotado la divinidad podía llegar si no
a ser todo, como Pico había señalado, sí a pensar sobre todo y compar-
tirlo con sus semejantes en una vida donde la convivencia organizada se
ofrecía como el más elevado ideal.
Tras volverse de nuevo a Lactancio, aunque esta vez a través de su De
opificio Dei48, para mostrar las ridículas consecuencias a las que llevarían
las explicaciones de “la necia doctrina de Epicuro y de su discípulo
Lucrecio”49 en relación con los humanos y los animales, tocaba ahora el
turno de su refutación. Para lograr esta, el dominico, en estricta cohe-
rencia con el aristotelismo que profesaba, recurrió de nuevo a la existencia
de una causa final para todo cuanto existe, que sería causa de su razón de
ser y necesidad. Aquí apela de nuevo a la providencia divina, aunque esta
vez su intervención no se deja sentir en el cosmos, sino que se utiliza para
fundamentar las diferencias entre animales y humanos. Si poco antes
se ha ensalzado la figura de estos por su capacidad para contemplar los
cielos, ahora esta superioridad se localiza en su razón, sabiduría y palabra,
atributos que compensan las defensas naturales con las que la naturaleza
dotó a los animales. Las tres vienen a exaltar la excelencia del ser humano
frente a los animales, que carecen de ellas. Suponen, pues, el triunfo de la
cultura sobre la naturaleza, a la vez que establecen la verdadera esencia
humana, consistente en pensar, conocer y hablar. Las tres, por otra parte,
son instrumentos para la acción, lo que quiere decir que, a diferencia de la
dotación de los animales, fija y de una versatilidad limitada, están dadas
como posibilidades que no solo necesitan de su desarrollo, de su uso y
ampliación constante, sino que los exigen. Así, pues, al poner el énfasis en
estas tres capacidades lo que se subraya es que el ser del hombre se mani-
fiesta haciéndose y que está en constante renovación, porque ninguna de
esas capacidades se agota ni se conforma con alcanzar un objetivo, sino
que aspiran constantemente a su perfeccionamiento50.
Por tanto, la noción de dignidad de este discurso de Vitoria se
estructura conforme a un desarrollo que es más que conocido en el
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 971
51. J.-C. Margolin, “La notion de dignité humaine selon Erasme de Rotterdam,” in
Humanism and reform: The Church in Europe, England, and Scotland, 1400-1643.
Essays in honour of James K. Cameron, ed. J. Kirk (Oxford: Ecclesiastical History
Society - Blackwell Publishers, 1991), 37.
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972 Francisco Castilla Urbano
52. Vitoria, De potestate civili, 154; no está de más recordar aquí el texto de Santo Tomás,
De regimine principum, I, 1, que señala en su edición de Vitoria, Relectio de Potestate
Civili (Madrid: CSIC, 2008), 16, Jesús Cordero Pando: “Le es natural al hombre –más
que a todos los demás animales- ser animal social y político, y vivir en colectividades.
Esto se pone de manifiesto por la necesidad natural. En efecto, a los restantes animales
la naturaleza les proporciona el alimento y el vestido del pelo que les cubre. Asimismo,
les dota de defensas, como son los dientes, cuernos y uñas y, al menos, la velocidad
para huir. Por el contrario, el hombre ha sido formado sin que la naturaleza le dotase
de ninguno de estos medios; en lugar de todos ellos, a él le ha sido dada la razón,
mediante la cual será capaz de dotarse a sí mismo de todos ellos con el trabajo de sus
manos. Pero para proporcionarse todo esto un hombre aislado no se basta”.
53. Job, 14, 1: “El hombre, nacido de mujer, corto es de días y harto de miserias”.
54. Lucrecio, De rerum natura. Introducción de Agustín García Calvo. Traducción del
Abate Marchena. Notas de Domingo Plácido (Madrid: Orbis, 1984), V, 227.
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 973
como era más habitual en el discurso humanista55, sino que todos ellos
se insertan en la comunidad para dar a esta lo mejor de sí56. A partir de
este momento, la sociedad se convierte en el núcleo de su pensamiento y,
aunque ya se ha dicho que la preocupación por la persona no desaparece
de la relección, su consideración va a girar en torno a su relación con el
resto de miembros de la sociedad y sus estructuras de poder, que, aunque
pueden ser de distinto tipo, encontrarán en la relección su perfecta justi-
ficación.
Para superar su fragilidad y hacer frente a sus necesidades los seres
humanos necesitan, pues, vivir en sociedad y ayudarse mutuamente.
De esta forma se desarrolla el entendimiento, lo que resulta imposible
en soledad. También aquí poseen los animales ventaja sobre los seres
humanos; mientras aquellos pueden llegar a alcanzar por sí solos cuanto
precisan para salir adelante, los humanos carecen de esa capacidad. Es
muy significativo que Vitoria reivindique de nuevo, en la mejor tradición
de la dignitas hominis, el valor de la palabra, que eleva al hombre sobre
los animales a la vez que es condición de la vida política, para inmedia-
tamente dejar de lado el tópico al advertir que esa misma palabra care-
cería de valor “si estuviera en soledad”57. La naturaleza social del hombre
señalada por Aristóteles al inicio de la Política58 se constituye en el funda-
mento que acaba con la hipótesis del aislamiento. Ya no solo la palabra
sino la justicia y la amistad mismas, que forman parte de la vida humana,
son elementos que configuran la existencia de las sociedades y que care-
cerían de sentido para seres de existencia solitaria. La argumentación
vitoriana no es extraña a la tradición sobre la dignidad del hombre y es
fácil, sin alejarse mucho, encontrar su paralelo en el Diálogo de su colega
salmantino Pérez de Oliva:
Si bien consideras, hallarás que estas necesidades son las que ayuntan
a los hombres a bivir en comunidad, de donde cuánto bien nos venga,
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974 Francisco Castilla Urbano
59. Pérez de Oliva, Diálogo de la dignidad del hombre; Razonamientos; Ejercicios, 151.
60. La citada edición de J. Cordero Pando, Francisco de Vitoria, Relectio de Potestate
Civili, señala los paralelismos entre lo dicho por Vitoria y el De regimine principum de
Tomás de Aquino; véanse, asimismo las notas de la edición de A. Pagden y J. Lawrance,
Francisco de Vitoria, Political Writings.
61. Vitoria, De potestate civili, 157.
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 975
62. Aristóteles, Política, 1261a30: “Y no sólo la ciudad está compuesta de una pluralidad
de hombres, sino que también difieren de modo específico. Una ciudad no resulta de
individuos semejantes”.
63. Vitoria, De potestate civili, 157.
64. Ibid., 180.
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976 Francisco Castilla Urbano
65. José Antonio Maravall, Las Comunidades de Castilla. Una primera revolución moderna
(Madrid: Alianza, 1984 (1963)), 155-157.
66. Alonso de Castrillo, Tractado de Republica (Madrid: IEP, 1958 (1521)), 123-146.
67. Máximo Diago Hernando, “El factor religioso en el conflicto de las comunidades de
Castilla (1520-1521). El papel del clero,” Hispania Sacra LIX, 119 (2007): 85-140;
G. Nieva Ocampo, “Frailes revoltosos: corrección y disciplinamiento social de los
dominicos de Castilla en la primera mitad del siglo XVI,” Hispania. Revista Española
de Historia LXXI, 237 (2011) : 39-64; sobre sus antecedentes: Joseph Pérez, “Moines
frondeurs et sermons subversifs en Castille pendant le premier séjour de Charles-Quint
en Espagne,” Bulletin Hispanique 67, 1-2 (1965): 5-24.
68. Vitoria, De potestate civili, 161.
69. Ibid., 166.
70. Cordero Pando, en su edición citada, 42, nota 76, atribuye su desaparición del manuscrito
de Valencia, fechado en 1554, al rumbo tomado por la política hispana para esa fecha,
con el absolutismo desplazando definitivamente las viejas tradiciones castellanas.
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Otra cara de la dignidad humana en el pensamiento de Francisco de Vitoria 977
71. Vitoria, De potestate civili, 167: “Verum est autem quod tutissimus principatus et
administratio videtur esse mixtus ex tribus, qualis videtur esse hispaniorum”.
72. José Antonio Fernández Santamaría, El estado, la guerra y la paz. El pensamiento
político español en el Renacimiento, 1516-1559 (Madrid: Akal, 1988 (1977)), 18, ha
aludido a “la rapidez con que Castilla se había rendido al encanto de la idea imperial”.
73. Vitoria, De potestate civili, 180.
74. Vitoria, Relectio de indis, 99: “es evidente que después que se han convertido allí
muchos bárbaros, no sería conveniente ni sería lícito al Rey abandonar por completo
la administración y el gobierno de aquellos territorios”.
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978 Francisco Castilla Urbano
esfuerza por definir su papel en relación con esa potestad que ha querido
demostrar que es imposible separar de su concepción del ser humano, de
su sociabilidad y de la propia constitución de la sociedad.
De la comparación con los animales a la constitución de sociedades,
organización del poder y desarrollo de sus exigencias, el discurso sobre
la dignidad del hombre inserto por Vitoria en la relección Sobre el poder
civil, completa así las posibilidades de quien, por sus condiciones y capaci-
dades, define su lugar en el mundo como el escalón superior en la cadena
de los seres creados.
Referencias
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980 Francisco Castilla Urbano
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Abstract
This contribution aims to show the theory of human dignity of Pedro de Ledesma (1544-
1616), as traced in his De esse Dei and Suma Moral. In these two works the Dominican
author, within his life in Salamanca as professor of theology, recognizes human dignity in
the space created by human will and knowledge, when a man act in the world that surrounds
himself. Normed by distributive justice, human dignity according to Ledesma illustrates the
ways in which human beings are preserved in the world and answers to two questions: how
does a human being really say that he is free when he carries out an action and in what way
is this freedom fully ‘free’? Secondly, what guarantees that each individual freedom respects
the freedoms of others and contributes to the creation of a completely free human being?
Keywords: distributive justice, free will, human dignity, knowledge, Pedro de Ledesma.
1. Introduction
T
he discussion on the conduct of life by man during his earthly exis-
tence involves multiple fields of research and proposes an in-depth
analysis of the ways in which he develops his theoretical potential
in practice. Often today, this analysis can be traced back to the fields of
exact sciences, which try to codify human behaviour in the context of
precise biological and psychological laws. This is an attempt to give back
an effective predictive pattern of how men act in the world around them
and among themselves. This type of discourse, although absolutely valid
and incontrovertibly reliable, opens up many questions of a theoretical
* This contribution is part of the outputs of my Czech OP VVV MŠMT project CZ.02.2.69
/0.0/0.0/18_070/0010479 Human Dignity between Anthropology and Metaphysics. Pedro
de Ledesma (1544-1616) and His Contemporaries.
** University of South Bohemia, Czech Republic.
emanuele.lacca@gmail.com
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982 Emanuele Lacca
nature, which still today have not found a definite and definitive answer:
how science can study human behaviour in its entirety; whether such
behaviours are universally valid; whether it is inherent in mankind to
adopt certain behaviours or whether they are ‘imposed’ from the outside,
i.e. by the environment or by something superior. Science often does not
provide a satisfactory answer to these questions, or perhaps confines itself
to providing a statistical justification, which is applicable in function of
its being ‘theory’, or rebuttable as soon as a counter-example is drawn up.
In this sense, scientific disciplines generally do not go beyond this
type of methodological choice and the questions previously asked are
usually entrusted to the speculation of philosophy, theology and jurispru-
dence. In particular, the discourse on the external imposition of certain
human behaviours is discussed at the intersection of the three disci-
plines in relation to the problem of free will and freedom that every single
human being possesses when he carries out an action. Fundamental moral
theology, for example, taking up the teachings of Thomas Aquinas in
accordance with the Gaudium et Spes constitution of the Second Vatican
Council, codifies this problem by warning against the idea that being free
means having «permission to do anything».1 To recognize true freedom
in man means for him: to possess a very high sign of the divine image;
to have trust from God, who leaves him ‘in the hands of his counsel’; to
master the struggle against all internal and external impediments. To be
free, therefore, means to have no constraints in the will and in the action.
This, however, is always inherent to the relationship between man and
God. For this reason, the fundamental questions are: how does a human
being really say that he is free when he carries out an action and in what
way is this freedom fully ‘free’? Secondly, what guarantees that each indi-
vidual freedom respects the freedoms of others and contributes to the
creation of a completely free human being?
In this regard, history of thought is punctuated by several contri-
butions and many pages have been written to understand what freedom
really is. In my contribution I want to highlight one of these contributions,
represented by the thought of Pedro de Ledesma, Spanish Dominican who
lived between Avila and Salamanca between 1544 and 1616.2 From his
1. See Jean-Luis Bruguès, Corso di Teologia Morale Fondamentale, vol. 6 (Bologna: ESD,
2017), 30. Note to the reader: all the translations, except the Aristotelian ones, are
mine.
2. For a complete bio-bibliographic note on Pedro de Ledesma see Santiago Orrego
Sánchez, Sobre la perfección del acto de ser creado (Barañain: EUNSA, 2001), 7-22 and
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A cada uno sus meritos y dignidad. Pedro de Ledesma (1544-1616) on distributive justice 983
corpus, important for our purpose are two of his works. The first one is
the Tractatus de divina perfectione, infinitate et magnitudine, published
in Salamanca in 1596 for the types of Andreas Renaut. Usually cited as
De esse Dei, Ledesma’s treatise is interesting for understanding the onto-
logical status of the human being from the point of view of pure meta-
physics. Then, the two volumes Primera parte de la Suma, en la cual se cifra
y suma todo lo que toca y pertenece a los sacramentos and Segunda parte
de la Suma, en la cual se cifra y suma toda la moral y casos de conciencia
que no pertenecen a los sacramentos, both published in 1598 in Salamanca
under the types of Renaut brothers. Here he analyzes in depth the concept
of freedom and links it to the existing relationship between God and man,
understood as conferent and users of freedom.
The first volume analyzes the sacraments and everything that is
related to them. More precisely, Ledesma divides the text of the first
volume into ten treatises: on the sacrament in general, on baptism, on
confirmation, on Eucharist, on penance, on censorship, on excommuni-
cation, on extreme unction, on priestly ordination, on marriage. In the
second volume, however, he deals with all cases that do not belong to
that scanning. Ledesma analyzes these cases in thirty treatises, namely:
Christian faith, hope, charity, mercy, justice, legal justice, distributive
justice, commutative justice, religion, vote, oath, simony, compassion,
respect, obedience, gratitude, revenge, truth, friendship, liberality, fortress,
magnanimity, magnificence, patience, temperance, abstinence, clemency,
modesty, on the study, on the work of religious men.
In relation to the questions that have just been asked, namely in what
sense of free freedom and in what way society is truly free, Ledesma states
quite clearly that the only effective answer can come from the study of
justice, in its distributive and commutative forms. This is because these
two types of justice are the only ones that, respecting the juridical terms,
cross with theology as regards the relationship between man and God and
with philosophy as regards anthropological-social speculation. Here, even
though the study of commutative justice could be interesting, I believe that
the deepening of distributive justice is more fruitful, since it is that type
of justice which, by definition, deals with the perceived fairness of how
rewards and costs are shared by (or distributed across) group members,
according with the decision of an authority. And if this authority is God
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Leaving aside the analysis of the concept of virtue, which here exceeds
the proposed goal, it should be pointed out that the study of the meaning
of distributive justice is preceded in the seventh treatise of the second
book of the Suma Moral by the definition of what is justice in general. In
this way, it will be easier to determine the path to move later. For him,
«justice is nothing else, but a constant and perpetual will, which gives
each one what he has the right to».3 Justice, therefore, is nothing more
than a constant will that is attributed to each individual to determine his
or her rights. On the other hand, proceeding etymologically, justice comes
from the Latin iustitia, which comes from iustum, or fair. Therefore,
according to Ledesma, justice is not primarily, as Aristotle would like at
the beginning of the fifth book of Nicomachean Ethics, «the same kind of
state, namely, that which disposes people to do just actions, act justly, and
wish for what is just».4 It is a rule of law by means of which men agree and
following which they must behave. Man, assumed as a member of a social
group, possesses for himself the disposition to act good, but socially, not
to say politically, he is ‘helped’ to carry out the good and to know what it
really is.
Ledesma explains this clearly at the beginning of the treatise, when it
adds to the previous definition that «this is greatly necessary for behaviours.
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First of all, because justice is one of the main moral virtues, and secondly
also because in the Republic is one of the most used things».5 Justice,
therefore, besides being one of the principal moral virtues through which
man can define his own behaviors, is very functional to the structure of
the state, since it seems to be, in agreement with Ledesma, one of the most
used tools to guarantee its functioning. But, while commutative justice
makes possible to decide how citizens build the mutual relationships of
strength that are established within the state, it is more difficult to under-
stand how to give each of them their own just ‘reward’ for their behavior.
Once again, the opening questions come back: how are free freedom and
truly free society possible? Who decides and who guarantees, within
the state, what is right and how should it be distributed? It is distrib-
utive justice that comes into play here. Of this particular type of justice,
Ledesma at the beginning of the treatise provides four types of definitions,
progressive from the point of view of their theoretical depth:6
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• distributive justice distributes things that are not necessarily due, or that
belong to the private citizen. The citizen does not have acquired rights,
but has do so according to their value and quality; the good assured to
every single citizen through the distribution by the common good does
not automatically state the possession of the good for each citizen.
Distributive justice is proportional, and is based on the fulfilment of
two requirements: that of value and quality. Every citizen, in fact, must
deserve a certain amount of good, and must possess particular qual-
ities if he or she is to be truly worthy of credit. However, this definition
risks remaining a little generic and opens to multiple interpretations. So
Ledesma proposes the fourth definition, which in my opinion seems to
be the most appropriate and the most interesting from the theoretical
and hermeneutical points of view, on which I would like to focus further;
• distributive justice has the proper and particular role to give each one in
order to their merits and dignity; this fourth definition is the ‘driest’ of
the four, but it contains the greatest interpretative richness in itself. In
order to fully understand it, we may use the original Spanish version of
the text: «propio y particular de la Iusticia distributiva es dar a cada uno
conforme a sus meritos y dignidad».7
7. Ibid., 144.
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988 Emanuele Lacca
meaning. Distributive justice has not only the task of judging, but also that
of elevating, of composing a meritorious classification that gives man the
opportunity to feel worthy of living his life and to allow him to interact
with others, conscious of his work. Dignity, here, is a beautiful word,
which succeeds in embracing all the tradition that investigates the ethical
and moral status of human life.
In support of his analysis, Ledesma argues that his idea is shared by
many authors of his time. Among these authors, he quotes Pedro de Aragón,
Domingo Báñez, Cayetanus, Juan Gallo, Manuel Rodriguez, Franciscus
Silvestre, Domingo de Soto just to mention some of them, but he don’t
forget to quote also the Councils of the Church. However, Aristotle and
Aquinas are the authors dearest to him. The continuous references to the
Aquinas’ Summa, in particular part II-II, allow him to create a connection
with the magister thomistarum and the medieval tradition.8 In addition, as
far as distributive justice is concerned, Nicomachean Ethics is also clearly
relevant, especially again book V, where Aristotle claims that
justice is the state in accordance with which the just person is said to
be the kind of person who is disposed to do just actions in accordance
with rational choice, and to distribute goods either between himself and
another or between two others so as to assign not more of what is worth
choosing to himself and less to his neighbour (and conversely with what
is harmful), but what is proportionately equal; and similarly in distrib-
uting between two other people.9
8. Ledesma considers in particular the question 61 of Summa Theologiae but also the
question 5 of the Aquinas commentary to the third book of the Sentences of Peter
Lombard.
9. Aristotle, Nicomachean Ethics, 100.
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of laws has to take place, both divine and public; philosophical, because it
accounts for the ontological constitution of human behaviour in its ethical
and moral components; theological, because it proposes a way that leads
to salvation through the actions carried out by man in his earthly exis-
tence, contrasting both the theorists of predestination and recalling the
cornerstones of imitatio Christi as the highest moral degree of perfection
of human acts. He is therefore able to be perfectly positioned at the inter-
section of the three disciplines, arriving at the desired mixture stated at
the beginning of our contribution. And this through a sentence that is
simple only in appearance, but that truly restores the meaning of giving
each person his own merits and dignity.
Ledesma does not explain on a theoretical level how the practices
of distributive justice should be implemented, especially because he is
working on a moral work in which define the canons within which human
actions can be objectively studied and evaluated, especially a posteriori.
To open up the scope of his theory, Ledesma then continues the treatise
analysing all the particular case studies related to the practical appli-
cation of distributive justice.10 These confirm that each of us has complete
freedom on our own acts but, as a result of this, it can lead to rewards
and punishments that we cannot avoid, since they derive from a ‘just
distribution’, in accordance with divine law and sovereign law that jointly
evaluate human acts.
In this sense, human dignity is saved. In an era such as the
Renaissance, in which man increasingly assumes the role of ‘centre of the
world’, Christian theorists need to make it clear that Christian dogma is
not absolutely prevaricator towards humanity and is not deaf to the anxi-
eties of the new times. On the contrary, precisely because it encourages a
life conducted according to free will, it is proposed as one of the (maybe)
best solutions to the problem of freedom in society. Responsibility for acts
is completely delegated to man, who must now be fully aware of his own
role in the world and understand, from time to time, the consequences
of his behaviour, habits and inclinations, which lead him in hac vita to
a dignified life and post-mortem to a just salvation, in proportion to his
actions and according to a meritocratic logic. It is no coincidence that the
Council of Trent, following the ancient and medieval tradition and tuning
to Renaissance innovations, confirmed again the dogma of Purgatory, an
afterlife sign of earthly distributive proportionality.
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A cada uno sus meritos y dignidad. Pedro de Ledesma (1544-1616) on distributive justice 991
12. Luis Gutierrez Vega, ‘Domingo Báñez, filósofo existencial’, Estudios Filosóficos, no. 1
(1964), 80-95.
13. Santiago Ramírez, ‘Hacia a renovación de nuestros estudios filosoficos’, Estudios
Filosóficos, no. 1 (1952), 5-26.
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A cada uno sus meritos y dignidad. Pedro de Ledesma (1544-1616) on distributive justice 993
• first of all, those who have defined the pre-eminence of intellect and will
have done so by thinking of them as objects, as truly distinct and isolated
elements that can be treated. According to Ledesma, this is absolutely
wrong because it would mean first of all abandoning the metaphysical
side of the question; secondly, it would mean ascribing to the two faculties
the same connotation of sight and touch, which can alternatively exist
independently. Instead, intellect and will are intrinsically linked to each
other, so the one cannot exist without the other;
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• the faculty whose object is absolutely more perfect and more in action is
more noble;
• as each agent works for an end, so each principle of that agent moves
toward the end;
• the faculty that perfects man according to his natural acts is more perfect.
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• first of all, to understand how will and intellect can prevail over one
another in absolute form, that is, according to their essence;
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• a knowledge is perfect when it can dig deep into objects and get as close
as possible to their essence. Since the intellect is the only faculty that
also allows abstraction from objects, once they have been known, it is
natural that it is pre-eminent over the will. This is because the will orders
man towards objects, but it cannot abstract them. This demonstration is
supported by Aristotle, who in the tenth book of the Nicomachean Ethics
argues that the highest faculty of the soul is the intellect;
• if it is true that the will orders to good and evil, it is even more true that
it is the intellect that determines their inclinations. Every will, in fact,
depends on the application of a certain passage of the intellect. If it is
deflected, or shows any impairment, the will itself will be damaged and
will not be able to order itself to the correct end. Therefore, even if will
seems to be the first faculty to order man to good and evil, in reality it is
the intellect that is its remote foundation. This justifies the Scotus theory
of the De primo principio, which maintains that the close foundation that
leads to God is the will, but the direction of this way is the intellect, the
remote foundation of every action;
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A cada uno sus meritos y dignidad. Pedro de Ledesma (1544-1616) on distributive justice 997
• since, with respect to form and matter, that faculty which allows us
to move further away from matter is more perfect, it appears that the
intellect is better than the will in that it is able to abstract from matter
in order to reach knowledge of the form of objects in a pure way. The
intellect, in fact, compared to the will, has the possibility to abstract and
to strip the objects of its own material, to learn their form. This guar-
antees him absolute pre-eminence over the will.
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998 Emanuele Lacca
is not just an exercise in epistemology, but also plays a decisive role in the
life of man and his dignity.
Ledesma may be considered as a rather complex thinker who tries
in a perhaps sometimes excessive way to keep together all the heuristic
perspectives in his demonstrations. Here too, on a metaphysical level, it
seems to be no exception. On the other hand, however, he is very inter-
esting because it ultimately attempts to mediate between the Via Scoti and
the Via Thomae, which is absolutely original if we consider the historical
period in which he lived. His systematic nature, which makes him no less
dialectically intelligible, desperately attempts to work in this direction and
the profound knowledge and use of sources returns such an attempt.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1001-1022.
© 2019 by Revista Portuguesa de Filosofia. All rights reserved.
DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1001
Abstract
The discovery of the New World had a strong impact in European thought in many
different areas from Theology to Geography. This led to the need of a deep reassessment
of the prevailing image of reality and of traditional knowledge. Human nature in particular
acquired a new meaning after contact with the natives of the New World, raising the question
of the importance of habits and customs as well as of the rights of Man.
Keywords: customs, human nature, human rights, New World.
Car c’est la règle des règles et générale loi des lois, que
chacun observe celles du lieu où il est.
Montaigne, Essais (I, 23)
“
Desconheço o testamento de Adão que legou a meus primos reis de
Portugal e da Espanha metade da Terra” teria sido o comentário
de Francisco I, rei de França, em relação ao Tratado de Tordesilhas
assinado em 1494 e que traçou a linha dividindo as terras recém-desco-
bertas entre Portugal e Espanha.1 Desde o início, a conquista e a coloni-
zação do novo Mundo teriam provocado questionamentos quanto à sua
legitimidade.
A descoberta do Novo Mundo, hoje também denominada de
“encontro dos povos europeus com os povos do novo continente”, levantou
grandes questões para o pensamento europeu do século XVI, alterando
profundamente a visão de mundo vigente à época. Levou a uma crise dos
1001-1022
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1002 Danilo Marcondes
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1003
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1004 Danilo Marcondes
2. O argumento antropológico7
7. Desenvolvo aqui temas por mim tratados em Danilo Marcondes, As raízes da dúvida
(Rio de Janeiro: Zahar, 2018), 58-79.
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1005
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1006 Danilo Marcondes
9. Gabriel Soares de Souza, Tratado Descritivo do Brasil em 1587 (São Paulo: Companhia
Ed. Nacional, 1938), 130.
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1007
10. Ver Margaret T. Hodgen, Early anthropology in the sixteenth and seventeenth centuries
(Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1964).
11. Além do próprio Colombo e de Américo Vespucci, que embora italianos navegavam a
serviço da coroa espanhola, nos referimos acima a Pedro Mártir e Gómara.
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1008 Danilo Marcondes
12. Em 1479, a “Paz de Alcáçovas” sela a união de Castela e Aragão, porém Joana reinou
nominalmente em Castela até a sua morte em 1555.
13. Hugh Thomas, Rivers of gold: the rise of the Spanish Empire from Columbus to Magellan
(New York: Random House, 2003).
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1009
14. Ver Fredrich Heer, The Holy Roman Empire (London: Phoenix, 1995), 160.
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1010 Danilo Marcondes
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1011
vez que segundo o Gênesis, todo ser humano provém da criação de Adão
e, após o dilúvio, de Noé, cujos descendentes povoaram a terra. Com base
no Antigo Testamento (p.ex. II Reis, 17: 6, 23) surge também a hipótese
de que os povos das Américas seriam as tribos perdidas de Israel, disper-
sadas pelos Assírios no deserto.16 De qualquer forma, essa hipótese e a
crença na descendência de Noé enfrentam de imediato a necessidade de
explicar como esses seres humanos teriam vindo para o novo continente.
2) A segunda resulta de que a concepção universalista baseada na origem
comum de toda a humanidade ganha uma nova força com o advento do
Cristianismo quando a religião cristã é pregada, a partir da influência
de São Paulo, para todos os homens e não apenas para os judeus. Como
lemos na Epístola aos Gálatas (3, 28), “Já não há judeu nem grego, nem
escravo nem homem livre, nem homem nem mulher, pois todos vós sois
um em Cristo Jesus”. De acordo com essa concepção a salvação estaria
ao alcance de todos que pudessem receber a Revelação.17
3) A terceira baseia-se na tradição clássica grega e tem duas vertentes prin-
cipais. A platônica, em que encontramos os mitos da Atlântida (Crítias)
e da Idade de Ouro (Timeu, Leis). E a aristotélica, com base sobretudo
no Tratado de Política, que influenciará particularmente a discussão da
assim chamada “segunda escolástica” da escola de Salamanca quanto
à discussão sobre o direito de conquista e os direitos dos habitantes do
Novo Mundo em autores, como por exemplo, Francisco de Vitória e a
escola Ibérica da Paz (Coimbra e Évora).18 Segundo a posição aristo-
télica, contudo, há uma hierarquia na natureza humana, estando o
homem que habita a polis, o homem civilizado, no topo desta hierarquia.
4) A quarta tem sua origem em Heródoto na História, que em seus relatos
de viagem enfatiza a diversidade entre os povos e compara os gregos com
os persas e egípcios, que considera possuírem uma civilização digna de
respeito, e com outros povos vistos como bárbaros, como os citas do Mar
Negro, que inclusive teriam praticado a antropofagia. Herótodo é impor-
tante por introduzir a discussão sobre a relatividade cultural, argumen-
tando que o entendimento dos outros povos depende da valorização de
seus hábitos, costumes e línguas. Sua obra foi influente no Humanismo
do século XVI, principalmente após sua edição latina por Henri Étienne,
que escreve uma Apologia pro Herodoto como introdução a ela.19
16. Tudor Parfitt, The lost tribes of Israel: a history of a myth (London: Weidenfeld and
Nicolson, 2002), particularmente os capítulos 2 e 5.
17. Stuart B. Schwartz, All can be saved: religious tolerance and salvation in the Iberian
Atlantic World (New Haven &London: Yale University Press, 2008).
18. Pedro Calafate, A Escola Ibérica da Paz nas universidades de Coimbra e Évora (Lisboa:
Almedina, 2015).
19. Ver, a respeito da complexidade da relação entre os gregos e os outros povos, Paul
Vol. 75
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1012 Danilo Marcondes
Cartledge, The Greeks: a portrait of self and others (Oxford: Oxford University Press,
2002). Sobre a importância de Heródoto,ver François Hartog, Le mirroir d’Hérodote
(Paris: Gallimard, 1980).
20. Ver Jorge Luis Gutiérrez, Aristóteles em Valladolid (São Paulo: Editora Mackenzie,
2007).
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1013
5. A escravidão natural
21. As principais fontes são o tratado da Política I, caps.3-7, e a Ética a Nicomaco, VII.
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1014 Danilo Marcondes
22. Retomo aqui questões por mim discutidas em Danilo Marcondes, “Le nouvel Éden: la
quête du bonheur en Amérique au XVIème siècle,” in Sagesse et Bonheur, ed. Benoît
Castelnérace e Syliane Malinowski-Charles (Paris: Hermann, 2013), 25-40.
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1016 Danilo Marcondes
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1017
23. Pierre de Ronsard, « Discours des miséres et autres piéces politiques (1562-1563), » in
Oeuvres Complètes, vol. XI (Paris: Librairie Marcel Didier, 1946), 81.
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1018 Danilo Marcondes
1. São povos que possuem outra natureza, resultado talvez de uma outra
criação. A diferença radical de costumes deve indicar uma natureza
inteiramente diversa.
2. São seres humanos, mas como crianças, pertencendo a um estágio
primário, ou pouco desenvolvido, que possivelmente tiveram seu desen-
volvimento interrompido pelas condições geográficas ou físicas de onde
viviam.
3. São seres malditos, descendentes de Ham, amaldiçoados por Noé
(Gênesis, 9:18-10:32).
4. São seres que devido a um ambiente muito diverso têm costumes total-
mente diferentes, mas não necessariamente melhores ou piores. Não
constituem um estágio inferior da humanidade, mas uma outra forma
de vida.
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O Novo Mundo, a lei e o costume 1019
Não usam vestimentas, nem de lã, nem de linho, nem de algodão, porque
não necessitam disso; e não possuem nenhum patrimônio, todos os bens
são comuns a todos. Vivem sem rei, nem governador e cada um é senhor
de si. Têm tantas esposas quanto quiserem e não possuem templos, nem
religião e tampouco são idólatras. Que mais posso dizer? Vivem segundo
a natureza e podem ser considerados mais epicuristas que estoicos25.
24. Pierre Villey, Les Sources et l’Évolution des Essais de Montaigne (Paris : Librairie
Hachette, 1908) 144.
25. Amerigo Vespucci, Mundus Novus: Vespucci reprints, texts and studies (Princeton:
Princeton University Press, 1916), 5.
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1020 Danilo Marcondes
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1023-1046.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1023
Abstract
This paper analyze Alonso de la Veracruz critical philosophy. He was one of the most radical
and rigorous critic of Spanish Conquest of America in the XVI Century. He was founding
professor of Theology at the University of Mexico and in his first course of 1553 he addressed
the problem of the legitimacy of the Spanish Conquest, from the humanist and republican
perspective of The School of Salamanca (Vitoria, Soto). As a product of his first course he
wrote Relectio dominio infidelium and iusto bello, concluding that the war and the domination
of Spanish over Indians are unjust, because there is not any theological, legal or philosophical
justification. Therefore, Spaniards should give back lands expropriated to Indians and let
the Indian people free with their own laws and governments. Because of this and other
criticisms to Spanish powers, Alonso de la Veracruz was sent to an inquisitorial process. In
the analysis I distinguish three kinds of philosophical basis of Alonso de la Veracruz critique
to the Spanish Conquest and domination: A nominalist epistemology, a “multiculturalist”
humanism and a republican political theory. These three aspects constitutes a strong
philosophical net to criticize any kind of ethnocentrism and authoritarianism, which is still
standing in nowadays, after 500 years from the Spanish Conquest.
Keywords: Alonso de la Veracruz, conquest, Iberoamerica, Indian freedom, plurality and
justice, republican humanism.
I. Introducción
E
n 2019 se conmemoran los 500 años del inicio de la conquista
española del continente Americano, después del etnocidio sobre
los indígenas de las islas caribeñas, como lo atestiguó fray Antón
de Montesinos en diciembre de 1511.1 El problema fundamental de aquel
* Este trabajo se realizó dentro del proyecto de Investigación PAPIIT IN402216 (México).
** Universidad Nacional Autónoma de México.
ambrosio@unam.mx
1. El cuarto domingo de adviento de 1511, fray Antón de Montesinos pronunció un
enérgico sermón redactado por los misioneros dominicos en la Isla de la Española
en contra de los abusos de los encomenderos españoles que estaban exterminando
los indios isleños. Bartolomé de las Casas se encontraba entre los feligreses que
escucharon el sermón que lo influyó profundamente, a grado tal que pocos años
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tiempo, hace ya 500 años, era precisamente ¿Qué hacer con un “mundo
nuevo”, profundamente diferente al mundo europeo? Ante esta pregunta
se dieron una diversidad de respuestas y un intenso y desigual debate que
se polarizó en dos posiciones: La primera es de aspiración universalista
que asume la superioridad de la cultura europea, en todas sus dimen-
siones, pero sobre todo en lo religioso y lo político. Desde este presupuesto
el mundo radicalmente diferente de los pueblos indígenas era un mundo
incivilizado, bárbaro, incluso demoniaco frente a España, que se presenta
como el modelo universal de civilización y sobre todo de estado cristiano,
como lo señala Maquiavelo en El Príncipe al considerar que Fernando de
Aragón se ha convertido en el Rey de toda la Cristiandad. Esta posición
que asume una filosofía universalista de la historia y la cultura se concreta
en un proyecto político y civilizatorio: el imperio cristiano más grande de
toda la historia.
La segunda posición es totalmente opuesta y en buena medida es
una “visión de los vencidos” en España y en América, que encuentran en
su condición de vencidos por el imperio español una situación y un hori-
zonte común de resistencia y emancipación. Esta visión fue elaborada filo-
sóficamente en sus inicios por humanistas de la llamada época gloriosa
de la Universidad de Salamanca en el temprano Renacimiento español,
entre ellos Alfonso Madrigal, Pedro Martínez de Osma y Fernando de
Roa,2 que influyen decididamente en la revolución comunera de 1520
contra Carlos V y también en escritos de espíritu republicano de esos
años como El Tratado de la República de Alonso de Castrillo. Estos autores
y el mismo movimiento comunero de 1520 son antecedentes fundacio-
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La filosofía crítica de Alonso de la Veracruz a 500 años de la conquista: pluralidad, justicia y libertad 1025
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de los americanos sus formas de vida, religión, leyes, arte cultura, etc., y
desde esta visión endógena (emic, dirían los antropólogos), aprecian su
valía intrínseca e incluso la grandeza de sus civilizaciones que no por ser
diferentes a la europea son inferiores.
Entre los filósofos críticos al imperio hispánico en América, Fray
Alonso de la Veracruz es uno de los más destacados, por su radical
condena a la conquista y dominación española en América, su decidida
defensa de la equidad entre culturas diversas y del derecho de cada nación
al gobierno propio, así como la amplitud y solidez de pensamiento filo-
sófico. Pero, además, Alonso de la Veracruz se distingue por su intensa
y larga lucha en tierras mexicanas en defensa de los pueblos indígenas.
Su nombre original era Alonso Gutiérrez. Nació en Caspueñas, España,
en 1507. Estudió gramática en la universidad de Alcalá y artes y teología
en la Universidad de Salamanca con Francisco de Vitoria y Domingo de
Soto. Después de graduarse como bachiller y enseñar Artes en Salamanca,
vino a México como maestro de los misioneros agustinos en 1536 y al
llegar al puerto de Veracruz adoptó el nombre de Alonso de la Veracruz. A
partir de entonces dedicó su vida a la predicación del Evangelio, la ense-
ñanza universitaria y la defensa de los indios. En 1540 fundó, en Tiripitío,
Michoacán, la primera escuela de filosofía europea en América, y en 1553
fue invitado a la Universidad de México como catedrático fundador de
Sagradas Escrituras y de Teología.
Durante su magisterio en la Universidad de México, en sólo 3 años
escribió y publicó sus principales obras filosóficas, empezando por sus
tratados de lógica Recognitio Sumularum y Dialectica resolutio, que fueron
los dos primeros textos de filosofía publicados en el continente americano
en 1554, y que posteriormente fueron publicados en varias ediciones en
España; Relectio De Dominio infidelium et iusto bello, escrita y dictada
en 1554, Relectio De Decimis, escrita y dictada en 1555; Speculum coniu-
gorum, publicada en 1556; Physica Speculatio, publicada en 1557. A raíz
de las enérgicas y fundamentadas críticas que desde su cátedra y a través
de sus relecciones realizó a la conquista y al poder imperial y eclesiástico
sobre los indios, fray Alonso se convirtió en el principal enemigo del
Arzobispo de México Alonso de Montufar, al grado tal que con el apoyo
de Vasco de Quiroga lo acusó ante la Inquisición en 1558. A raíz de esta
acusación De la Veracruz tuvo que abandonar su cátedra universitaria y
viajar a España en 1561 para defender su causa.4 Aprovechó su regreso a
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España para defender ante el rey Felipe a las órdenes religiosas frente a las
presiones de los obispos cuyo creciente poder veía con preocupación. El
propio fray Alonso rechazó en tres ocasiones el nombramiento de obispo
del propio emperador Carlos V. Además, reunió una gran biblioteca de más
de 3000 volúmenes que llevó de regreso a México para fundar la primera
gran biblioteca en todo el continente americano. Durante su estancia en
España también estableció una cercana amistad e intensa colaboración
con Bartolomé de las Casas durante los últimos cuatro años de su vida.
De estos años provienen los escritos más radicales de las Casas, como el
memorial de 1565, leído por el propio Fray Alonso de la Veracruz ante el
Consejo de Indias, en el cual se afirma que “todas las guerras que llamaron
conquistas son injustísimas y propias de tiranos”.5 Esta radicalización del
pensamiento de las Casas es muy probable que se deba a la personal cola-
boración de fray Alonso de la Veracruz.
Después de salir airoso del proceso inquisitorial, regresó a México en
1573 para dedicarse el resto de su vida a la investigación y enseñanza de
la filosofía, las ciencias y la teología en el Colegio agustino de San Pedro y
San Pablo que él mismo fundó en 1575 en un barrio de indios en la ciudad
de México, con un profundo sentido humanista a favor de los derechos de
los pueblos indígenas. Francisco Cervantes de Salazar, cronista y también
profesor de retórica de la Universidad de México, describe a Alonso de
la Veracruz como “el más eminente maestro en artes y teología que haya
en esta tierra, y catedrático de prima de esta divina y sagrada facultad:
sujeto de mucha y variada erudición en quien compite la más alta virtud
con la más exquisita y admirable doctrina”.6 Sin duda De la Veracruz fue
el representante más destacado de la Escuela de Salamanca en América.
La obra filosófica de Alonso de la Veracruz abarca teología, filosofía
del lenguaje, lógica, epistemología, teoría de la argumentación, física, filo-
sofía de la cultura, filosofía del derecho y filosofía política. Esta última
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constituye el ápice que articula en una sólida y bien sustentada red todo su
pensamiento filosófico cuya principal motivación es la crítica a la guerra
de conquista y a la dominación española sobre los indios americanos y la
defensa de sus derechos y dignidad humana. En este trabajo nos propo-
nemos analizar los componentes principales de esta bien tramada red
filosófica a favor del reconocimiento de la diversidad de culturas, de la
racionalidad de los indios americanos, de su libertad política y de la paz
entre naciones. Primeramente, se analizará la filosofía nominalista del
lenguaje y su vinculación con la teoría de la argumentación dialógica que
propone Alonso de la Veracruz como fundamento de su filosofía pluralista
de la cultura y del derecho que a su vez sustenta su visión republicana de
la política desde la cual realiza una crítica radical al poder temporal del
papa y a las pretensiones de legitimidad de la guerra de conquista y del
poder imperial. Esta filosofía comprometida con los pueblos y naciones
del Nuevo Mundo constituye una alternativa al proyecto imperial de
los Reyes Católicos y sobre todo de Carlos V con los que da inicio a la
Modernidad, alternativa que dejó una profunda huella en el pensamiento
humanista iberoamericano que perduró hasta los movimientos de inde-
pendencia y aún hoy se manifiesta en los movimientos de resistencia de
los pueblos indígenas.
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8. “A principios del siglo XVI, en la Universidad de París había un nutrido grupo de Españoles
llevando a cabo sus estudios universitarios. Entre ellos se encontraba Juan Lorenzo de
Celaya (1490-1558), quien a su vez fue profesor de Francisco de Vitoria y Domingo de
Soto. Las universidades de Salamanca y Alcalá no escaparon a la influencia nominalista de
Paris.” Juan Abelardo Hernández Franco, “La Jurisprudencia como instrumento cultural
en el siglo XVI”, Tópicos, Revista de Filosofía, nº. 34 (Julio 2008), 152.
9. Alonso de la Veracruz, “Dialectica Resolutio,” in El Problema de los Universales en el
Libro Primero de la Dialectica Resolutio de fray Alonso de la Vera Cruz, traducido por
Miguel Ángel Romero, tesis de licenciatura en Letras Clásicas (México D.F.: Facultad
de Filosofía y Letras de la UNAM, 2010), 37.
10. Ibid., 37.
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Tres son los grados de certeza. El primero está en las matemáticas […].
El segundo grado de certeza está en los discursos dialécticos […] y así
el discurso dialéctico proviene del silogismo [con premisas probables y
topos comunes] o de la inducción y uno y otro de conocimientos previos.
El tercer y último grado de certeza está en la retórica. La retórica proviene
de la persuasión, de la conjetura y de otros conocimientos y así también
de un conocimiento preexistente.11
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Rodolfo Agrícola.12 Al igual que ellos Veracruz critica los excesos formales
de la dialéctica escolástica. Tanto en el Tratado de los tópicos dialécticos
como en el Libro de los Elencos Sofísticos y en la Dialectica resolutio,
Alonso reduce o elimina aquellos temas más deplorados por humanistas
como Erasmo y Vives y al igual que ellos condena la sofistería de los esco-
lásticos rigoristas que han degradado la dialéctica aristotélica volviéndola
inútil para asuntos prácticos de la ética y la política.13
En suma, Alonso de la Veracruz se aleja tanto de las falacias univer-
salistas de seudo argumentos demostrativos desarrollados por los defen-
sores del imperio (Ginés de Sepúlveda, por ejemplo), como de los excesos
rigoristas de dialécticos escolásticos. Frente a estas desmesuras argumen-
tativas, Alonso propone una equilibrada síntesis en clave humanista entre
retórica y dialéctica que procura la deliberación y juicio racional en la
confrontación de opiniones en controversia. Este método dialéctico es
apropiado para las controversias en torno a la conquista y dominación
imperial en América y es el método que utiliza en su Relección De Dominio
infidelium et iusto bello, que se analizará más adelante.
12. Cfr. Leticia López Serratos, El humanismo de Rodolfo Agrícola (México: Universidad
Nacional Autónoma de México, Facultad de Filosofía y Letras, 2008).
13. Cfr. Vicente Muñoz Delgado, “El Pensamiento lógico,” in Laureano Robles, editor,
Filosofía Iberoamericana en la época del Encuentro, Enciclopedia Iberoamericana de
Filosofía, Tomo I (Madrid: Editorial Trotta – Consejo Superior de Investigaciones
Científicas, 1992), 348-352.
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Los habitantes del Nuevo Mundo no solo no son niños o amentes sino que
a su modo sobresalen, y por lo menos algunos de entre ellos son de los
más eminentes. Es evidente lo anterior porque antes de la llegada de los
españoles, y aún ahora lo estamos viendo, hay entre ellos magistrados,
gobiernos y ordenamientos de lo más conveniente… luego no eran tan
infantes y amentes como para que fueran incapaces de dominio propio.14
14. Alonso de la Vera Cruz, Sobre el dominio de los indios y la Guerra Justa, traducción de
Roberto Heredia (México D.F.: Facultad de Filosofía y Letras, Universidad Nacional
Autónoma de México, 2004), 329.
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15. Ginés de Sepúlveda, Tratado sobre las justas causas de la guerra (México: Fondo de
Cultura Económica, 1996), 153-154.
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1034 Ambrosio Velasco Gómez
16. Luis Villoro, Los grandes momentos del indigenismo (México: Colegio de México,
Colegio Nacional, Fondo de Cultura Económica, 1998), 102.
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La ley natural en relación con aquellas cosas que son de segundos prin-
cipios, los cuales se deducen como conclusiones de los primeros prin-
cipios, es variable y no es la misma en todas las naciones. Se prueba en
primer lugar por la experiencia, pues vemos que en algunas naciones algo
que se considera como bien naturalmente conocido por la luz natural de
los primeros principios, en otras naciones aquello no se considera como
bien.17
17. Alonso de la Veracruz, Espejo de los cónyuges. Antología, traducción y notas de Carolina
Ponce (Universidad Panamericana, 2008), 105.
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1036 Ambrosio Velasco Gómez
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La filosofía crítica de Alonso de la Veracruz a 500 años de la conquista: pluralidad, justicia y libertad 1037
18. Alonso de la Veracruz, Sobre el dominio de los indios y la Guerra Justa, traduccíon
de Roberto heredia Correa (México D.F. :Universidas nacional Autónoma de México,
2007), 117-118.
19. Esta cita del evangelio de San Marcos es la primera oración de toda la Relección. Cfr.
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1038 Ambrosio Velasco Gómez
tiene poder temporal y no es señor del mundo20 para que pueda conceder
dominio sobre el Nuevo Mundo a los Reyes Católicos y sus herederos.
Respecto al tesis b) de que el emperador es señor del mundo,
sostenida por juristas de Bolonia como Oldardo, el Ostiense, Sassoferrato
y Ulzurrum, Alonso de la Veracruz los refuta en la Cuestión VIII con argu-
mentos históricos y teóricos que prueban que nunca ha existido un solo
señor del mundo. El argumento histórico consiste en mostrar que en toda
la historia de las monarquías no ha existido una monarquía universal,
un señor del mundo, sino que siempre han existido antes y después de
la venida de Cristo una diversidad de reinos y repúblicas y ningún rey ha
sometido a todo el resto.21 El argumento teórico consiste en probar que
ni por derecho divino, ni por derecho natural, ni por derecho humano
alguien puede ser señor del mundo en lo temporal.
Además de estos argumentos hay otro que fray Alonso considera
contundente: Si hubiese existido un señor de todo el orbe el papa no
hubiera podido dividir el Imperio romano en la parte oriental y en la occi-
dental y por lo tanto el Imperio romano germánico no tendría legitimidad,
y, en consecuencia, no sería válido el título de emperador de Alemania de
Carlos V.
Si por derecho divino hubiese uno sólo que tuviera dominio universal,
no había podido realizarse por medio de la dignidad pontificia la división
que se hizo en tiempos de Constantino El Grande entre sus dos hijos en
parte oriental y en parte occidental. Después el sumo pontífice Esteban
transfirió el imperio occidental a los germanos […] y todavía pude haber
otra prueba. Porque si por derecho divino el emperador fuese señor del
orbe nunca hubiese podido desprenderse de ciudades y concederlas
a la Iglesia, ni podría haber mayores cambios en el imperio que en el
Pontificado. Constan que ha habido cambios. Es necesario concluir que
tal potestad no es de derecho divino. Y hay que añadir el hecho de que, si
así fuese, no podrían otros reyes no estar sometidos al imperio romano:
De este modo ni el Rey de las Españas, ni el de los ingleses ni el de las
Galias podrían sustraerse a la majestad imperial; y sin embargo vemos
que así es, y que no se considera condenable sino razonable que haya tal
separación entre reinos.22
Ibid., 117.
20. “Si el sumo pontífice fuera señor del mundo lo sería por derecho natural, divino o
humano. Pero por ningún derecho es señor del mundo. Por consiguiente, no es señor
del mundo”, ibid., 265.
21. Cfr. ibid, 231.
22. Ibid., 334.
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Y en segundo lugar hay que decir que estos naturales no son tan necios
y estúpidos como algunos estiman… tienen sus métodos de gobernar
y sus costumbres, con las cuales viven; tienen leyes recibidas de boca
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En relación con la tesis e), fray Alonso reconoce que todo gobierno
tiránico es injusto, pues quien “gobierna debe dirigir todas sus obras al
bien común”.27 En caso contrario la transferencia del dominio puede ser
revocada por la propia comunidad, incluso si se tratara del emperador,
pues “el emperador no tiene otro dominio sino el que se le ha dado por
la propia república, de tal suerte que, si gobernara tiránicamente, podría
la república deponerlo y privarlo de su reino”.28 Si el tirano no atendiera
la revocación, la comunidad de la cual obtiene el poder tiene la facultad
de deponerlo por la fuerza de las armas e incluso en caso extremo tiene
derecho al tiranicidio.29 Pero estos derechos republicanos contra la tiranía
corresponden a la comunidad o pueblo que transfiere el dominio y sufre la
tiranía, no a otra nación o rey extranjero como sería el rey de España. Por
este y otros motivos relativos a la práctica de las guerras floridas pactadas
entre ejércitos indígenas para capturar guerreros sacrificiales, fray Alonso
afirma que la antropofagia no sería causa justa de guerra.30
Finalmente, respecto a la guerra, Alonso no la reconoce como causa
de dominio justo de España, pues sólo reconoce como procedimiento
lícito del origen del dominio político la voluntad libre de la comunidad
sea de manera implícita si se trata de una transferencia hereditaria o de
manera explícita a través de elecciones. La guerra, aunque fuese justa no
puede otorgar dominio legítimo, menos aún si es injusta, como fue el caso
de la conquista.
El punto anterior conduce directamente al segundo problema funda-
mental de la relección de fray Alonso: Si el emperador o el rey de Castilla
pudo declarar la guerra a los bárbaros (Cuestión X) o si hay alguna causa
que justifique la guerra contra el Nuevo Orbe (Cuestión XI y última).
La discusión y resolución de estas cuestiones constituye un resumen y
conclusión de toda la obra, pues la mayoría de los títulos o causas ilegi-
timas de guerra fueron ya tratadas y refutadas en relación con la primera
pregunta sobre el dominio justo del emperador o rey de España sobre
el Nuevo Mundo. Alonso de la Veracruz desecha como causas de guerra
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…no hay razón justa para atacar a los infieles bárbaros recientemente
descubiertos con base en que sean infieles, ni tampoco, con base en
que por derecho sean súbditos del emperador, ni con base en que, si
no quieren prestar obediencia ni someterse, deben ser compelidos. Esta
razón, digo, no es suficiente; ya que por derecho no son súbditos, porque
el emperador no es el señor de todo el orbe.31
V. Conclusiones
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Referencias
35. Para el caso de México, Miguel León Portilla señala: “Los pueblos indígenas se
debatieron a lo largo de tres siglos de dominación española […] su resistencia les
permitió preservar, en muchos casos las estructuras básicas de sus altepetl o pueblos,
sus lenguas, usos y costumbres, parte de sus territorios y una autonomía reconocida
en diversos grados por el régimen español… Podría suponerse tal vez que, al alcanzar
México y los otros países latinoamericanos su independencia respecto a España, la
situación de sus pueblos indígenas iba a cambiar favorablemente. En realidad, sucedió
lo contrario. En México y en otros países del continente los nuevos gobiernos y muchas
personas de la clase dominante llegaron a la conclusión de que había que suprimir
para siempre la distinción entre indios y no indios.” In Miguel León Portilla, “Pueblos
indígenas y globalización,” in Obras de Miguel León Portilla. Tomo I: Pueblos Indígenas
de México. Autonomía y diferencia cultural (México: Universidad Nacional Autónoma
de México, 2003), 292-293.
36. “Voto razonado del juez Antônio Augusto Cançado Trindade en la Corte Internacional de
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contra el Estado de Paraguay del 29 de marzo de 2006,” in Pedro Calafate y Ramón E.
Mandado, Op. cit. 15.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1047-1066.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1047
Abstract
The encounter between the Spanish-Lusitanian kingdoms and the indigenous peoples of
America is a turning point in the history of human rights. If, on the one hand, violence
and brutality were deep-rooted outcomes of the conquest and colonization of America, on
the other hand, it is also in this context that radical otherness is faced. This article aims to
approach how the Iberian School of Peace – built in a solid collection of sources accessible
to the Christian Medieval-Renaissance world, tempered by the missionary experience in
direct contact with the Peoples of the New World – establishes the foundations for what we
named in this article as a pluralistic jusnaturalism. Through this latter we will argue that it is
possible to indorse a sort of situated universalism, as one of the vital legacies of the Iberian
School of Peace for the contemporary human rights.
Keywords: iberian school of peace, indigenous peoples, natural law, New World, otherness.
Introdução
A
história dos direitos humanos, tradicionalmente ensinada e
pesquisada nos meios acadêmicos, é uma história que se pretende
universal, homogênea e eurocêntrica. A concepção predominante
dos direitos humanos vem sendo tecida a partir de contextos históricos e
geográficos particulares de doutrinas e filosofias triunfantes. Pelo predo-
mínio político, econômico e cultural, os grandes impérios europeus, a
partir do século XVIII, apresentaram a sua concepção de direitos humanos
como sendo a prevalecente e, como decorrência, outras vertentes signifi-
cativas para a história dos direitos humanos, que não a hegemônica, que
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6. As considerações que serão feitas na presente seção geralmente são tratadas pelos
estudiosos da literatura da conquista sob a rubrica da disputa sobre a legitimidade
do título de escravidão natural infligida aos povos indígenas do Novo Mundo, como
pode ser encontrado, por exemplo nas obras fundamentais de Lewis Hanke. Ver:
Lewis Hanke, The Spanish Struggle for Justice in the Conquest of America (Philadelphia
University of Pensilvania Press: 1959). Entretanto, optamos por pautar nossa
abordagem sobre a experiência radical de alteridade da Escola Ibérica da Paz no Novo
Mundo a partir da discussão sobre a racionalidade da alma indígena e sua capacidade
de ser sujeito de direitos no contexto dos autores em estudo.
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7. Joseph Höffner, La Ética Colonial Española Del Siglo de Oro, cristianismo y dignidad
Humana (Madrid: Rivadeneyra, 1957), 03-95. Vale a pena ressaltar que estamos nos
referindo ao tipo de domínio próprio do mundo medievo orbis christianus e não ao
domínio da escravidão transatlântica pós 1492.
8. Aqui divergimos pontualmente de Anibal Quijano. As disputas travadas entre os teólogos
e missionários da Escola Ibérica da Paz com seus opositores, acerca da racionalidade
dos índios, como é o caso mais célebre do confronto entre Bartolomé de Las Casas e
Juan Ginés de Sepúlveda na famosa Controvérsia de Valladolid de 1550-1551, não se
dava em termos raciais propriamente ditos. Se é verdade que Juan Ginés de Sepúlveda
jogava com argumentos para evidenciar uma assimetria entre os espanhóis cristãos
e os índios pagãos, lançando luzes sobre antagonismos de civilização/barbárie, e Las
Casas, por sua vez, argumentava no plano da unidade do gênero humano, a base
da discussão era essencialmente teológica, com um pano de fundo marcado pelas
diferenças culturais e, sobretudo, pela religião. Ver: Anibal Quijano, ‘Colonialidade do
Poder, Eurocentrismo e América Latina’, in A Colonialidade do Saber: Eurocentrismo e
ciências sociais. Perspectivas Latino-Americanas, ed. Edgardo Lander (Buenos Aires:
CLACSO, 2005), 107-130.
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transcrito: “Eles não são homens? Não têm almas racionais? Não sois
obrigados a amá-los como a vós mesmos?”
O sermão proferido pelo frei dominicano Antonio de Montesinos,
que, de acordo com Lewis Hanke, foi o primeiro importante e revolu-
cionário protesto público contra o tipo de tratamento que estava sendo
dispensado aos índios do Novo Mundo pelos colonos espanhóis, ocorreu
em uma modesta igreja da Ilha Espanhola (hoje República Dominicana e
Haiti), em 21 de dezembro de 1511, quarto domingo do Advento.9
Escolhido por sua oratória dentre os membros da pequena comu-
nidade de dezoito frades dominicanos, chegados em setembro de 1510 à
ilha Espanhola, frei Antônio de Montesinos foi o porta-voz do histórico
sermão preparado e assinado por todos aqueles religiosos, no qual foram
lançadas as sementes da dúvida sobre os rumos arbitrários e violentos que
o processo colonial espanhol estava tomando.
Para vo-lo dar a conhecer, subi aqui, eu que sou voz de Cristo no deserto
desta ilha, e por isso convém que com atenção, não qualquer, mas com
todo o vosso coração e com todos os vossos sentidos, a ouçais; a qual
será a maior nova que jamais ouvistes, a mais áspera e dura, a mais
espantosa e perigosa que jamais imaginastes ouvir. (...) esta voz (...) é que
estais em pecado mortal e nele viveis e morreis por causa da crueldade
e tirania que usais com estas gentes inocentes. Dizei, com que direito e
com que justiça tendes em tão cruel e terrível servidão estes índios? Com
que autoridade tendes feito tão detestáveis guerras a estas gentes que
estavam em suas terras mansas e pacíficas, onde em tão grande número,
com mortes e estragos nunca ouvidos, as tendes consumido? Como os
tendes tão oprimidos e fatigados, sem lhes dar de comer nem curá-los nas
enfermidades em que incorrem pelos excessivos trabalhos que lhes dais e
morrem, dizendo melhor, os matais, para tirar e adquirir ouro cada dia?
E que cuidado tendes de que alguém os doutrine, conheçam seu Deus e
criador, sejam batizados, ouçam missa, guardem as festas e domingos?
Eles não são homens? Não têm almas racionais? Não sois obrigados a
amá-los como a vós mesmos? Não entendeis isto? Não percebeis isto?
Como estais dormindo sono tão profundo e tão letárgico? Tende certeza
de que, no estado em que estais, não vos podeis salvar mais do que os
mouros ou turcos que não têm e não querem a fé de Jesus Cristo.”10
9. Hanke, The Spanish Struggle for Justice in the Conquest of America, 16-17.
10. O texto do sermão que chega aos nossos dias é o reproduzido por Bartolomé de Las
Casas na sua obra História Geral das Índias. Las Casas, então encomendero de índios,
teve sua vida transformada por este sermão, tornando-se, posteriormente, um dos mais
importantes defensores de mudanças nas leis e na política colonial espanhola em favor
dos índios. A versão citada em português foi reproduzida da obra de Suess, Paulo, ed.,
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1054 Bethânia Assy | Sílvia Maria da Silveira Loureiro
Gonçalo Álvares
Dizei-me, Irmão Nogueira, esta gente são próximos?
Mateus Nogueira
Parece-me que sim.
Gonçalo Álvares
Por que razão?
Mateus Nogueira
Porque nunca me acho senão com eles, e com seus machados e foices.
Gonçalo Álvares
E por isso lhes chamais próximos?
Mateus Nogueira
Sim. Porque próximos, chegados quer dizer, e eles sempre se chegam a
mim, que lhes faça o que hão mister; e eu como a próximos lhos faço,
cuidando que cumpro o preceito de amar ao próximo como a mim
mesmo, pois lhes faço o que eu queria que me fizessem, se eu tivesse
semelhante necessidade.
Gonçalo Álvares
Pois a pessoas mui avisadas ouvi eu dizer que estes não eram próximos,
e porfiam-no muito, nem têm para si que estes são homens como nós.
Mateus Nogueira
Bem! Se eles não são homens, não serão próximos, porque só os homens,
e todos, maus e bons, são próximos. Todo o homem é <de> uma mesma
natureza, e todo pode conhecer a Deus e salvar sua alma e este ouvi eu
dizer que era próximo. Prova-se no Evangelho do Samaritano, onde diz
Cristo N. S. que aquele é próximo que usa de misericórdia.”14
Gonçalo Álvares
Estes têm alma como nós?
14. Manuel da Nóbrega, Diálogo sobre a Conversão do Gentio (Manaus: Valer, 2010), 18-20.
Essa passagem foi publicada no catálogo/livro: Calafate e Gutiérrez, A Escola Ibérica
da Paz, 368.
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Mateus Nogueira
Isto está claro, pois a alma tem três potências, entendimento, memória,
vontade, que todos têm. Eu cuidei que vós éreis mestre já em Israel e vós
não sabeis isso. Bem parece que as teologias, que me dizeis arriba, eram
postiças do P. Brás Lourenço, e não vossas. Quero-vos dar um desengano,
meu Irmão Gonçalo Álvares: que tão ruim entendimento tendes vós para
entender o que vos queria dizer, como este gentio para entender as coisas
de nossa fé.15
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1056 Bethânia Assy | Sílvia Maria da Silveira Loureiro
18. Camilo Barcia Trelles, ‘Francisco Suarez (1548-1617): les théologiens espagnols du
XVIe siècle et l’école moderne du droit international’, Recueil des cours 43 (1933-I):
424-425.
19. É necessário compreender que, para Tomás de Aquino, o domínio de um indivíduo
livre por outro somente é aceito quando o dirige para o próprio bem daquele que
é dirigido ou para o bem comum. Esta forma de domínio, presente no estado de
inocência, é de direito natural e está relacionada com a condição do indivíduo como
ser social e materialmente desigual Ainda de acordo com Tomás de Aquino, no estado
de inocência, os homens viviam socialmente, porque, como visto, é da natureza
do homem constituir-se em comunidade e, assim, era necessário que alguém os
presidisse, preferencialmente aquele que tivesse mais ciência e mais justiça. Mas a
dita presidência deveria ser exercida na utilidade dos outros e do bem comum, não
pela simples ambição do poder e do mando. Ademais, no estado de inocência, todas
as coisas eram comuns e a posse dos bens era de direito natural. Porém, ainda de
acordo com Tomás de Aquino, seguiu-se que a divisão e apropriação dos bens foi
introduzida pelo direito das gentes e, desde então, a propriedade privada se legitimaria
apenas com a destinação comum das coisas em proveito de todos e da partilha com os
necessitados. Atenção ao emprego da palavra desigualdade, que de forma alguma deve
ser interpretada no sentido formal do jusnaturalismo iluminista e nem de inferioridade
e superioridade entre os indivíduos, pois é pressuposto basilar da antropologia cristã
que todas as pessoas foram criados à imagem e semelhança de Deus, dotados de almas
racionais capazes de exercer o livre arbítrio. A desigualdade a que se refere Tomás de
Aquino, no estado de inocência, é aquela que hoje se designa como desigualdade real
ou material, como por exemplo a diferença entre os sexos, idade, inclinação da alma e
compleição física. A este respeito, conferir os artigos 3 e 4 da questão 96 da Primeira
Parte da Suma Teológica.
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Do Jusnaturalismo Pluralista ao Universalismo Situado na Escola Ibérica da Paz 1057
20. Michel de Montaigne, Ensayos, Edición biligüe. Texto francés estabelecido por André
Tournon, tradución y notas de Javier Yagüe Bosch (Barcelona: Galaxia Gutenberb,
2014).
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Do Jusnaturalismo Pluralista ao Universalismo Situado na Escola Ibérica da Paz 1059
todos os seres humanos são dotados de razão, e que tal razão, entretanto,
é, por natureza, plural e compreende o mundo de formas distintas. A
pluralidade de alegações, em nome da razão, acerca da verdade, implica
ainda uma relação de equivalência que permite o reconhecimento da dife-
rença e da dissidência, e que, finalmente, ambos os lados, incluindo o lado
Ameríndio é, por direito, livre para aceitar ou rejeitar as proposições do
outro.
Apesar da maioria das releituras Aristotélicas subsequentes à lite-
ratura da Segunda Escolástica ter se centralizado ou na notória defesa da
escravidão natural por Sepúlveda ou na defesa Ibérica da racionalidade
da alma indígena como pré-requisito para a conversão, a nova figura do
Ameríndio natural-cultural que emergiu deste debate com os autores da
Escola Ibérica da Paz trouxe uma série de contradições para cada argu-
mento.24 De modo que o universalismo do mundo cristão passou a ser
constantemente desafiado por outras categorias que não mais aquelas
limitadas apenas às classes de infiéis. Neste disposição, Anthony Pagden
argumentou que para evitar tanto o relativismo de Montaigne, quanto a
negação de Sepúlveda acerca da humanidade dos Ameríndios, os Ibéricos
acabaram por criar uma nova doutrina acerca do universalismo da lei
natural.25
As narrativas escolásticas ibéricas acabaram por pluralizar o ius
naturale de modo a fundamentar o ius gentium ameríndio e a implicar em
um certo reconhecimento de suas distintas cosmologias. Por seu turno,
compele em um reconhecimento da pluralidade da razão – derivada,
como é entendida pelos ibéricos, da natureza comum – no interior do que
se pode nomear de jusnaturalismo pluralista. Esta diligência paradoxal
em descodificar e defender a alteridade da cultura indígena compatível à
visão eurocêntrica do início da modernidade, sem renunciar à noção de
direito natural, em parte, suplanta o portfólio interpretativo contempo-
24. Para os debates anteriores, ver o clássico: Lewis Hanke, All Mankind is One: A Study of
the Disputation Between Bartolomé de las Casas and Juan Ginés de Sepúlveda in 1550
on the Intellectual and Religious Capacity of the American Indians (DeKalb: Northern
Illionois University Press, 1994).
25. Tosi chama atenção a tais assertivas pronunciadas por Pagden acerca de Montaigne.
De fato, a noção de jus gentium havia que contemplar uma variedade de registros
culturais, por vezes radicais como na defesa do canibalismo ou sacrifício humano
como em Las Casas, e ao mesmo tempo manter um registro supra-cultural de jus
naturale. Ver: Giuseppe Tosi, ‘Sins Against Nature as Reasons for a ‘Just War’ e Las
Casas, ‘Apologia’. Ver também: Anthony Pagden, The Fall of Natural Man (Cambridge:
University Press Cambridge, 1982).
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Porque em realidade não são idiotas, senão que têm, a seu modo, uso
de razão. É evidente que têm certa ordem nas suas coisas; que têm
cidades devidamente regidas, matrimônios bem definidos, magistrados,
senhores, leis, professores, indústrias; comércio; tudo isto requer o uso
de razão. Além do mais, têm também uma forma de religião e não erram
26. Embora fora do escopo propositivo deste artigo, seria interessante uma aproximação
entre a relação natureza-racionalidade na experiência do encontro com a alteridade
radical da Escola Ibérica e a radicalidade epistemológica do multinaturalismo
proposta por Eduardo Viveiros de Castro, a partir do que o autor nomeia de
perspectivismo ameríndio. Ver Eduardo Viveiros de Castro, Metafísicas Canibais (São
Paulo: Cosacnaify, Edições N-I, 2015).
27. Ver: Tosi, ‘Sins Against Nature as Reasons for a ‘Just War’.
28. Ibid. Ver: Giuseppe Tosi, “La teoria della schiavitù naturale nel dibattito sul Nuovo
Mondo (1510-1573): ‘Veri domini’ o ‘servi a natura’”?, Divus Thomas – Rivista
Quadrimestrale dello Studio Filosofico Domenicano 33, n. 3 (2002): 5-258. Ver também:
Anthony Pagden, The Fall of Natural Man.
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Do Jusnaturalismo Pluralista ao Universalismo Situado na Escola Ibérica da Paz 1061
29. (grifo nosso) Francisco de Vitória, Relectio de Indis o Libertad de los Indios (Madrid:
Consejo Superior de Investigaciones Científicas, 1967), 29-30.
30. Ibid. Ver também: James Anaya, Indigenous Peoples in International Law, 2nd edition
(Oxford: Oxford University Press, 2004), 16.
31. Padgen, The Fall of Natural Man. Está fora do escopo deste artigo discutir as
controvérsias em torno das interpretações da literatura decolonal acerca de Francisco
de Vitória. Contudo, de fato, ao enquadrar a capacidade intelectual como linear e
evolucionária, Vitoria paradoxalmente afirmou simultaneamente a cultura irredutível
dos ameríndios e estabeleceu uma escala de progresso civilizacional em que os europeus
permaneceram superiores. Da mesma forma, Vitória afirmou a superioridade racional
dos colonizadores, mas argumentou que isso não justificava nem a conquista de terras
ameríndias nem a escravização de sua população.
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salidade na teoria dos direitos humanos. Visto sob esta ótica, alguns
aspectos desse jusnaturalismo pluralista vêm à tona de forma a destacar
o poder de ressignificação que a linguagem dos direitos humanos teve em
outro momento fundacional.
De fato, a discussão acerca da lei natural não deu em torno de um
conjunto de princípios puramente especulativos e abstratos, mas, ao invés,
foi focada numa concepção realista de direitos naturais fundados em
consonância com a razão, mas no plano de fundo de uma abertura à alte-
ridade histórica.32 Consequentemente, a própria complexidade do argu-
mento ibérico sobre direitos naturais é resultado da exaustiva tentativa de
situar, até mesmo confrontar, seu fundamento da razão frente à realidade
e experiência histórica da alteridade radical. Não se trata nem de abrir
mão da noção de universalidade, muito embora não se restrinja à noção
abstrata de universalidade, nem muito menos de aventar um relativismo
cultural.
O ius gentium efetivamente toma a forma de expressão histórica do
direito natural; a concepção de racionalidade própria do direito natural
será necessariamente apreendida a partir da concretude da experiência
ameríndia. Esta experiência de realismo universalista permitiu justa-
mente originar uma articulação da noção de universalidade que a sua
descrição abstrata era incapaz de articular. Impelia, notadamente, em um
universalismo fincado na pluralidade factual humana e justificado pela
experiência da alteridade radical ameríndia; que poderíamos denominar
de universalismo situado.
Em maior ou ou menor medida, a discussão dos autores Ibéricos em
torno do direito natural pode ser lida como ensejo, usando a expressão
inspirada em Ambrosio Velasco Gomez, do que já nomeamos de uma
espécie de jusnaturalismo pluralista. E é isso que parece notável nesses
autores, qual seja, o real desafio de pensar o humanismo33. Entretanto, e
de forma crucial, este jusnaturalismo pluralista não exprime o reconheci-
mento de um relativismo cultural inscrito, a posteriori, por meio do “ius
gentium”. Um jusnaturalismo pluralista nesses termos expressa, ao revés,
um acesso compartilhado ao direito natural, vincula ius naturale e ius
gentium. Não obstante condicione o ius gentium ao ius naturale, como a
literatura corrente sobre o tema já tem afirmado, o condiciona de forma
32. Ver: Velasco, ‘Las ideas republicanas para una nación multicultural de Alonso de la
Veracruz.’
33. Ibid.
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Do Jusnaturalismo Pluralista ao Universalismo Situado na Escola Ibérica da Paz 1063
Conclusão
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1064 Bethânia Assy | Sílvia Maria da Silveira Loureiro
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1067-1102.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1067
Abstract
In the debate on the origin of modern natural rights, the French philosopher Michel Villey
became famous for his counter current theses: that the origin of modern subjective rights
was a “deformation” or “degeneration” of the ancient and medieval concept of law; that those
responsible for this rupture were Ockham and his nominalist disciples, as well as the Scholastics
of Salamanca; that these last ones betrayed the thought of Aquinas on the right adhering to the
nominalist. These theses serve the purpose of justifying Villey’s radical opposition to the subjective
foundations of modern human rights. The reply of the historian of medieval law, the Englishman
Brian Tierney, is that Villey’s conception of ancient and medieval law is too restricted; that already
in Roman law there was a notion of subjective rights; that the origin of modern subjective rights
does not depend only on Ockham’s nominalism, but was already present in the medieval canonists;
that the scholastics of Salamanca did not betray the Thomist thought, but they brought it up to
the challenges of the new times; and that the idea of subjective
natural rights does not depend
on a particular ideology, but is compatible with different ideologies and worldviews. In revisiting
this debate, our main interest concerns the conclusions that Villey draws from the entire long
historical trajectory he has studied, and the criticism that Tierney makes of his radical opposition
to human rights. Finally the debate gives rise to some more general considerations about the
history of concepts and the distinction between the historical genesis of the ideas and their validity.
Keywords: jusnaturalism, objective law, subjective rights, Tierney, Villey.
1. Introdução
O
debate entre Tierney e Villey sobre a origem dos direitos subje-
tivos modernos se tornou um clássico da filosofia do direito e já
conta com inúmeras contribuições impossíveis de acompanhar na
sua abrangência.1 O debate envolve questões complexas: se a passagem
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1068 Giuseppe Tosi
e de suas Fontes”, Quaestio Iuris, Vol. 02, nº 01, (2006): 98-133. Jean-Pierre Schouppe.
«Reflexions sur la conception du droit de M. Villey. Une alternative a son rejet des
droits de l’homme». Persona y derecho. Revista de fundamentación de las Instituciones
Jurídicas y de Derechos Humanos, 25, 1991 (Escritos en memoria de Michel Villey
II), 151-169. Alain, Serieux, «‘Le droit naturel de Michel Villey». Revue d´histoire des
facultés de droit et Science politique. Aix-Marseille III, n. 6 (1988) 129-153.
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1070 Giuseppe Tosi
Quem pretenderia ficar alheio a essas justas causas e não teria vergonha
de se dissociar da Anistia Internacional? Uma vez que hoje a informação
é universal, é difícil ignorar a sorte dos mortos de fome de Calcutá,
das torturas de El Salvador e dos dissidentes soviéticos. Há a Polônia.
Em toda parte, a insuficiência das leis. Os direitos humanos seriam o
recurso. Essa ideia relativamente nova talvez seja nossa única espe-
rança de arrancar o direito da esclerose, e o único instrumento de seu
progresso. Para combatê-la, só se encontrariam imbecis reacionários?6
aparição perfeitamente visível na vida pública, ainda poderia ter sido escrito em 1958,
o ano da morte de Pio XII; mas sua verdade foi aniquilada de golpe quando o Papa João
XXIII introduziu seu Aggiornamento. O Concilio retirou, então, os fundamentos de
todo elogio”. Carl Schmitt, Teologia Política (Belo Horizonte: Del Rey, 2006), 80.
4. Villey, O direito e os direitos humanos, 2.
5. Ibid. 2: “Os direitos humanos são um produto da época moderna. O idealismo,
peculiaridade da filosofia moderna, e do qual não é certo que estejamos curados, erige
no lugar de Deus este grande ídolo: o Progresso – que deve assegurar as fruições e a
felicidade de todos, mito muito cultivado no tempo das Luzes; finalidade da política
moderna. E, quanto aos meios, a fim de ordenar no modo mais “racional” o trabalho
dos cientistas e dos técnicos, e de melhor explorar seus frutos, nosso mundo depositou
sua esperança na grande máquina estatal desenhada por Hobbes – o Deus terrestre,
Leviatã.”
6. Ibid., 4.
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1071
São “etnocêntricos”:
7. Villey, O Direito e os direitos humanos, 5. Ver também Michel Villey. Crítica dos direitos
do homem. In Filosofia do Direito. Definições e fins do direito. Os meios do direito,
153-160.
8. Ibid., 5: “Sua impotência é manifesta. A Constituição Francesa ou seus preâmbulos
proclamam o direito ao trabalho, há na França um milhão e meio de desempregados,
que nem por isso estão mais avançados. E terem inserido na Carta pretensamente
universal das Nações Unidas direitos a participar dos negócios públicos, das eleições
livres, dos lazeres, da cultura assim como da abastança, digamos que no Camboja ou
no Sahel, e em três quartos dos países do globo, essas fórmulas são indecentes!”
9. Ibid., 6.
10. Ibid., 6.
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11. Ibid., 7.
12. Ibid., 8. Essas críticas são muito próximas as de Norberto Bobbio em A Era dos
Direitos: a crítica ao caráter vago, contraditório e indeterminado do conceito de
direitos humanos, a tendência à proliferação dos direitos e a não distinção entre o que
é propriamente um direito e o que é uma exigência ideal ou moral. Bobbio, porém, não
retira dessas críticas as conclusões drásticas de Villey contra os direitos humanos; ao
contrário atribui aos direitos humanos uma relevância central na sua filosofia política
e do direito. Norberto Bobbio. “Sobre os fundamentos dos diretos do homem”. In A
Era dos direitos. Trad. de Carlos Nelson Coutinho (Rio de Janeiro: Campus, 1992) 15-
24. Desconheço comentários de Bobbio a respeito das posições de Villey, apesar de
serem contemporâneos, de serem dois filósofos do direito, e de pertencerem a duas
tradições culturais muito próximas.
13. Villey, O Direito e os direitos humanos, 8.
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1074 Giuseppe Tosi
E continua
Vimos que para Aristóteles o direito era uma proporção entre coisas
repartidas entre vários homens. A noção de direito «subjetivo», herdada
do nominalismo (o nominalismo se recusa a conceber qualquer coisa
que não seja a partir do indivíduo), recebida na escolástica espanhola,
triunfou no humanismo porque o humanismo põe ênfase na liberdade
da pessoa humana, e de acordo com suas fontes estoicas, procura o que
ao indivíduo seja ou não permitido fazer: confusão entre moral e lei.20
Concluindo que:
É por isso que eu dei como título desta palestra: deformações da filo-
sofia de Aristóteles entre Vitoria e Grotius. Como se poderia dizer sobre
a escolástica espanhola, a jurisprudência humanista às vezes aparenta
19. Villey, Déformations de la philosophie du droit d´Aristote entre Vitoria et Grotius, 208, 213:
“ D´abord ce me semble être une légende que celle de la fidélité de cette scolastique à
saint Thomas. [...] En tout cas, en matière de droit ou de théorie juridique, je n´ai pour
ma parte point retrouvé dans la Scolastique espagnole la doctrine de saint Thomas.
[...] Le jus est devenue droit subjectif, c´est-à-dire pouvoir, liberté reconnue à l´individu
de se conduire d´une certaine manière à l´égard de telle ou telle chose ou de telle ou
telle personne. J´ai “le droit” de conclure le contrat social, d´user de mon bien comme
il me plaît. C´est ici l´une des origines de nos “droits de l´homme” e du citoyen, et de
notre droit de propriété individualiste liberal”.
20. Ibid., 213 : “Nous avons vu que pour Aristote le droit était une proportion entre des
choses réparties entre plusieurs hommes. La notion du droit “subjectif”, héritée du
nominalism (le nominalisme se refuse à ne rien concevoir qu´à partir de l´índividu),
reçue dans la scholastique espagnole, a triomphé dans l´humanisme parce que
l´humanisme met l´accent sur la liberté de la personne humaine, et suivant se sources
stoïciennes, cherche de qu´à l´individu il est ou non permis de faire: confusion entre
moral et droit.”
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1075
21. Ibid,. 212: “C´est pourquoi j´ai donné comme titre à cet exposé: déformations de la
philosophie d´Aristote entre Vitoria et Grotius. Comme on pouvait le dire en effet de la
scolastique espagnole la jurisprudence humaniste affecte parfois de conserver, mas le
plus souvent déforme Aristote. C´est une longue suite de trahisons qu´il faudrait chaque
fois démêler”.
22. Domingo de Soto. De Iustitia et Iure. De la Justicia y del Derecho (1556). Introducción de
Venancio Carro, versión española de Marcelino Gonzáles Ordoñez. Madrid: Instituto
de Estudios Políticos, 1967, IV, I, 279. Texto latim: “Primum enim omnium aiunt isti
[iuniores], ius bisariàm accipi. Primo pro Lege: quo significatu dicimus, Ius Civile et
Canonicum. Secundo pro legitima potestate, qua quis fungitur in personam aliquam
vel rem. Deinde aiunt dominium idem est prorsus quod ius secundo modo acceptum.
Qua propter dominium, inquiunt, est potestas seu facultas propinqua assumendi res
alias in suam facultatem vel usum licitum secundum iura rationabiliter instituta”.
Para uma discussão desses conceitos, ver: Tosi, Raízes teológicas, 4.
23. Paolo Grossi. L´ordine giuridico medievale (Roma-Bari: Laterza, 1996).
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1076 Giuseppe Tosi
24. Paolo Grossi. “La proprietà nel sistema privatistico della Seconda Scolastica”. In Il
dominio e le cose percezioni medievali e moderne dei diritti reali. Milano: Giuffrè Editore
(1992), 281-383, 298-99: “Il libero arbitrio, costruito in chiave volontaristica per meglio
garantire l´autonomia del soggetto, é il presupposto insopprimibile di ogni dominium,
perché é esso stesso dominium. L´interscambiabilità tra libertà e proprietà, leit motiv
di tutte le correnti individualistiche dell´età moderna, é qui già pienamente posta. La
‘mia’ libertà coincide con la proprietà che io ho di me stesso e delle mie azioni, la
mia esistenza di soggetto libero consiste in una serie di comportamenti dominativi,
insomma della proprietà che ho di me stesso.” Inicialmente publicado in Quaderni
fiorentini per la storia del pensiero giuridico moderno, n° 1 (1973).
25. Grossi, La proprietà nel sistema privatistico della Seconda Scolastica, 312: “Il ‘mio’ é la
sfera del proprium, cioé della mia autonomia dagli altri, corroborata verso gli altri da
una cintura non insignificante di beni”.
26. Grossi, La proprietà nel sistema privatistico della Seconda Scolastica, 298: “Si capisce
come la Seconda Scolastica, nel suo respiro umanistico e nella coerenza a un mondo
cinquecentesco che comincia a spogliarsi delle architetture medievali, aderisca con
entusiasmo a questa idea base; perchè essa combacia, alla perfezione, con l´aspetto
essenziale dell´ordine umanistico – ispirato a un rigoroso monismo – che si attua e
si consuma nel microcosmo dell´individuo, entro il quale hanno lo scopo prevalente
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di rafforzare le sue suture. E si capisce come ogni trattato sulla proprietà dei nostri
Maestri abbia un capitolo iniziale sempre dedicato al dominium sui”.
27. Villey, O direito e os direitos humanos, 145-146.
28. Ibid., 163
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1078 Giuseppe Tosi
Não faz muito tempo, um entrevistador – após uma longa conversa sobre
as características de nosso tempo que despertam viva preocupação para
o futuro da humanidade, sobretudo três, o aumento cada vez maior e
até agora incontrolado da população, o aumento cada vez mais rápido
e até agora incontrolado da degradação do ambiente, o aumento cada
vez mais rápido incontrolado e insensato do poder destrutivo dos arma-
mentos – perguntou-me no final se, em meio a tantas previsíveis causas
de infelicidade, eu via algum sinal positivo. Respondi que sim, que via
pelo menos um desses sinais: a crescente importância atribuída, nos
debates internacionais, entre homens de cultura e políticos, em semi-
nários de estudo e em conferências governamentais, ao problema do
reconhecimento dos direitos do homem. O problema, bem entendido,
não nasceu hoje. Pelo menos desde o início da era moderna, através da
difusão das doutrinas jusnaturalistas, primeiro, e das Declarações dos
Direitos do Homem, incluídas nas Constituições dos Estados liberais,
depois, o problema acompanha o nascimento, o desenvolvimento, a
afirmação, numa parte cada vez mais ampla do mundo, do Estado de
direito. Mas é também verdade que somente depois da Segunda Guerra
Mundial é que esse problema passou da esfera nacional para a interna-
cional, envolvendo pela primeira vez na história – todos os povos.29
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1079
do original em inglês cotejado com a tradução italiana. Ver também: “Aristotle and
the American Indians-Again. Two critical discussion”, Cristianesimo nella Storia, 12
(1991), 295-322.
32. Tierney, The Idea of Natural Rights, 43-77: “Origins of the natural rights Language: text
and context, 1150-1250”.
33. Ibid, 93-206: “Ockham and the Franciscans”
34. Paolo Grossi identifica nas obras de Vitoria e Soto diferentes definições desses teólogos:
moderni, juniores, parisienses, neoterici, recentiores. Grossi, La proprietá nel sistema
privatistico della Seconda Scolastica, 286.
35. Sobre Summenhart ver: Jörg Alejandro Tellkamp. “Ius est idem quod Dominium:
Conrado Summenhart, Francisco De Vitoria y la Conquista de América”. Veritas, Porto
Alegre v. 54 n. 3 (2009) 34-51.
36. Ibid, 207-346: ‘From Gerson to Grotius’.
37. Tierney, The Idea of Natural Rights, 255-283: “Aristotle and the American Indians”.
Lewis Hanke, Aristotle and the American Indians (Bloomington & London, 1959).
38. Tierney, The Idea of Natural Rights, 13-42: “Villey, Ockham and the origin of Individual
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39. Michel, Villey. «La promotion de la loi et du droit subjectif dans la seconde scolastique».
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1080 Giuseppe Tosi
Quaderni Fiorentini per la Storia del Pensiero Giuridico Moderno, n° 1 (1973), 55: “La
thèse que je vais soutenir est que notre notion de la loi a le défaut d’être elle aussi
un corpe étranger, et le produit d’une infiltration dans le droit d’une Théologie, que
cette infiltration malheureuse s’est produit à l’époque moderne et que la scolastique
espagnole est la plus grande responsable de cet évènement”.
40. Tierney, The Idea of Natural Rights, 30: “Villey has devised a sort of Manicheean
universe. There is an Aristotelian thought-world, full of light and sweet reason, and
a Ockhamist thought-world, where all is darkness and blind will. The good theory of
objective right can flourish only in the first thought-world, the bad theory of subjective
rights only in the second. When clear-cut affirmations of individual rights are found in
texts before Ockham they have to be dismissed as exceptions or aberrations or mere
misunderstandings of vulgar persons who were so ignorant to attach precise meanings
to the terms they used in day-to-day discourse”.
41. Villey, O direito e os direitos humanos, 166: “Veja, [afirma o hipotético interlocutor] os
direitos humanos existem, estão instalados em seu lugar; este é o fato, de minha parte,
eu só sei os fatos. Sua imprudência é de indispor-se com algo mais forte que você. A
linguagem é um vínculo social – meio de comunicação intersubjetivo – , dizem-nos
os linguistas, força coletiva que se impõe aos indivíduos. Você esqueceu Durkheim?
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1081
Os vários sentidos de ius que ele [Villey] discute não são conceitos contra-
ditórios, mas correlatos. Quando estudamos Tomás e os canonistas,
sugerimos que os conceitos de jus como direito objetivamente justo e
como preceito moral ou legal não eram intrinsecamente incompatíveis
um com o outro. Agora podemos acrescentar que ambos os conceitos
são compatíveis com a ideia dos direitos individuais. (Podemos definir a
relação entre pais e filhos em termos de uma ordem objetivamente justa;
ou podemos defini-la em termos de um preceito moral – “Honra o pai e a
mãe”; mas podemos também definir a mesma relação afirmando que os
pais têm o direito de ser respeitados pelos seus filhos).42
Não está em seu poder mudar a linguagem de seu meio. Nesse ponto, estamos
determinados. Foi o que me ensinou a história científica. E, sinto muito por você, mas
essa linguagem é necessária”. Algo parecido Villey faz no ‘Post-scriptum. Discussões’.
In: Filosofia do direito. Definições e fins do direito, 453-458.
42. Tierney, The Idea of Natural Rights, 32-33: “The various senses of ius that he discusses
are not contradictory concepts. Rather they are correlative. In considering Aquinas
and the canonists we suggested that the concept of ius as objective right order and as
moral or legal precept are not intrinsically incompatible with one another. Now we can
add the both concepts are compatible with the idea of individual rights. (We can define
the relationship of parents and children in term of an objectively right order. Or we can
define it in term of moral precept – “Honor thy father and thy mother”. But we could
also define the same relationship by saying that parents have a right to the respect of
their children)”.
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43. Ibid., 33: “As for individual rights and ius naturale considered as meaning what is
objectively right: to affirm a right ordering of human relationships is to imply a
structure of rights and duties. In propounding a system of jurisprudence one can
emphasize either the objective pattern of relationships of the implied rights and duties
of person to one another – and then again one can focus on either the rights or the
duties. [...] Despite the assertions of Villey (and similar assertions by some disciples
of Leo Strauss in America), it is just not true that “the notion of subjective rights is
logically incompatible with classical natural rights”.
44. Ibid., 33.
45. Valentina Pazé, “Cittadinanza e Diritti, tra Antichi e Moderni, in F. De Luise:
Cittadinanza. Inclusi ed esclusi tra gli antichi e i moderni (Trento: Universitá degli studi
di Trento, 2018), 93-121, 96. Entre os autores que questionam a tese de Villey, Valentina
Pazè cita, além de Tierney: Emanuele, Stolfi. “Riflessioni attorno al problema dei ‘diritti
soggettivi’ fra esperienza antica ed elaborazione moderna”. Studi senesi, 55 (2006),
120-177. Leonardo, Marchettoni. I diritti umani tra universalismo e particolarismo.
Torino: Giappichelli, 2012.
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E concluia:
46. Giovanni Pugliese, ‘Res corporales’, ‘res incorporales’ e il problema del diritto
soggettivo’. In Studi in onore di Vincenzo Arangio-Ruiz. Napoli: Jovene (1954) 223-260.
Idem, 1979 e 2004 (as páginas são da reedição da obra pela Revista Quaestio Juris
de 2018). Tierney também é de opinião parecida: The Ideia of Natural Rights, 15-22:
“Classical Roman Law”.
47. Tierney, The Idea of Natural Rights, 36: “Two streams of thought flowed together in
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1084 Giuseppe Tosi
Concluindo que:
Talvez seria mais bonito afirmar que a ideia dos direitos naturais entrou
na história do pensamento político ocidental com o ruído dos tambores
e das tropas, em alguma altissonante anuncio tal como a Declaração da
Independência americana ou a Declaração dos Direitos do Homem e
do Cidadão francesa. Na realidade, porém, este conceito fundamental
da teoria política ocidental nasceu quase que imperceptivelmente nas
obscuras glosas dos juristas medievais. Poder-se-ia dizer que, nas obras
dos primeiros decretalistas, se verificou uma significativa mudança no
Ockham polemical works. One had its source in canonist writings, the other in the
early literature off the Franciscan disputes. […] Among the canonists one often found
the term ius used in a subjective sense long before Ockham, and also the specific
associations of “right” and “power” that Villey emphasized as a major contribution of
the Franciscan theory of rights. Sometimes too, in offering formal definitions of natural
right, ius naturale, the canonist gave a subjective sense to the term, understanding it
to mean, not objective natural law but a subjective “faculty”, “force” or “power” of a
human personality.”
48. Ibid., 42: “When Ockham in turn came to write on subjective rights there was no need
for him to inaugurate a ‘semantic revolution’. A rich language already existed in which
rights theories could be articulated. The doctrine of individual rights was not a late
medieval aberration from an earlier tradition of objective right or of natural moral law.
Still less it a seventeenth-century invention of Grotius or Hobbes or Locke. Rather we
shall argue, it was a characteristic product of e great age of creative jurisprudence that,
in the twelfth and thirteenth centuries, established the foundations of the Western
legal tradition.”
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1085
49. Ibid., 344: “Perhaps it would be more satisfying it the idea of natural rights had
entered Western political thought with a clatter of drums and trumpet in some
resounding pronouncement like the American Declaration of Independence or the
French Declaration of the Rights of Man and the Citizen. In fact, though, this central
concept of Western political theory first grew into existence almost imperceptibly in
the obscure glosses of the medieval jurists. One might say that, in the works of the
early Decretists, a distinctive mutation of thought and language occurred which gave
rise to a whole new species of ideas, the species of natural rights theories.”
50. Carlos A. Casanova, ‘Guillermo de Ockham y el Origen de la Concepción Nominalista
de los Derechos Subjetivos’, Cauriensia, Vol. XI (2016), 113-140. Ver também Leonardo
Marchettoni, “Ockham e l´origine dei diritti soggettivi”, Quaderni Fiorentini per la
storia del pensiero giuridico moderno, 37 (2008), 21-66.
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1086 Giuseppe Tosi
Mas que esses espanhóis tenham seguido a linha de Santo Tomás é extre-
mamente contestável. É errado que tenham aderido à maior parte de
suas ideias, no setor que nos interessa. Usando um método dialético
muito degenerado, associaram aos textos da Suma outras “autoridades”
na moda. O resultado é uma mistura, uma combinação entre escotismo,
nominalismo e teologia de Santo Tomás. Um bricabraque. Pouco lhes
importa serem incoerentes. São pragmáticos: influentes, ouvidos pelos
príncipes visam a um objetivo prático. Ajustaram Santo Tomás à causa
do restabelecimento de uma ordem monárquica e romana e, traindo o
espírito de pesquisa que caracterizava a Suma, puseram no lugar um
sistema dogmático rígido, criando o “tomismo”.53
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se encontra ao plural, a palavra na obra lascasiana possui o senso objetivo derivado não
o sentido objetivo que lhe se atribuiria espontaneamente em um contexto moderno.
Assim quando se lê em Las Casas “os direitos dos Índios” se pensa espontaneamente
ao sentido subjetivo (“direitos do homem”), quando na verdade se trata das leis do
Índios, ou mais exatamente daquele conjunto jurídico constituído pelos costumes, as
tradições dos diferentes mundos indianos”. Tierney discorda desta tese. Tierney, The
idea of natural rights, 275. A tese de André-Vicent é analisada e criticada por Tierney
também in: “Aristotle and the American Indians-Again”, Cristianesimo nella Storia 12
(1991): 297-305.: “Este ponto de vista não se sustenta. André-Vincent nunca realizou
um exame sistemático do uso efetivo dos termos ius e iura por parte de Las Casas.
[...] Las Casas escreveu, por exemplo, sobe ‘as dignidades, os bens e outros direitos
(iuribus)’ que também os infiéis possuem por lei natural; ou sobre “direitos regais”
(iura) pertencentes aos príncipes indígenas; das suas “jurisdições, dignidades, direitos
(iura) e deveres”.
55. Tierney, The idea of natural rights, 257.
56. Afirmam a presença nos escolásticos espanhóis de uma doutrina dos direitos subjetivos
Paolo Grossi, La proprietá nel sistema privatistico della Seconda Scolastica, e Daniel Deckers,
Gerechtigkeit und Recht. Eine historisch-kritische Untersuchung der Gerechtigkeitslehere
des Francisco de Vitoria (1483-1546), (Freiburg i.Br., Universitätsverlag-Herder 1991).
Defendem, ao contrário, uma continuidade entre os teólogos de Salamanca e Tomás,
além de Philippe Andre-Vincent, o dominicano espanhol Venâncio Carro, La teologia y
los teólogos-juristas españoles ante la conquista de América (Salamanca, 1951), 285-308;
assim como Jaime, Brufrau-Prats. ‘Introducción’. In Domingo de Soto. Relección de
Dominio (Grenada: Universidad de Grenada, 1964).
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1088 Giuseppe Tosi
Escreve Tierney:
E conclui
57. Tierney, The Idea of Natural Rights, 286: “Current writings of the rights theories of the
sixteenth – century Spanish authors often assume, either that they found a doctrine of
natural rights in Aquinas and simply appropriated it, or that they “betrayed” Aquinas
by adopting a doctrine that it was opposed to his teachings and that was derived
ultimately from Ockham´s nominalism and voluntarism. Both views are simplistic.
Ockham did not invent the concept of natural rights; it had deeper roots in medieval
jurisprudence. And the doctrine of subjective rights did not formally contradict
anything that Aquinas wrote”.
58. Ibid., 286-87: “The Spanish Dominicans were intent on reviving and propagating the
teaching of the greatest master of their Order. They might have decided to follow his
example in this matter also. But, in the context of their time, they needed a doctrine
of natural rights, above all to cope with the moral problems raised by the Spanish
conquests in America. Accordingly, the chose to associate a doctrine of rights with
the Thomistic principles that they professed. The result was that, when new problems
arose in the early modern era, a theory of natural rights was very widely diffused ad
was readily available for use by future generations of jurists and philosophers”.
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1089
59. Tierney. Aristotle and the American Indians–Again, 296. Ver: Karl Löwith. O sentido
da história. Tradução de Maria Georgina Segurado (Lisboa: Edições 70, 1991). Hans,
Blumenberg. La legittimità dell’età moderna (Genova: Marietti, 1992). Neste debate
se inseriu também Carl Schmitt: Hans, Blumenberg – Carl, Schmitt. L´enigma della
modernità (Roma-Bari: Laterza, 2012).
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1090 Giuseppe Tosi
A conclusão [de Villey] é então clara: “Sim, devemos sem dúvida reco-
nhecer uma divergência substancial entre o ensinamento da Suma e as
posições políticas de Jacques Maritain”. [...] Villey sublinha duas vezes
60. Tierney, The Idea of Natural Rights, 33-34: “In fact one finds natural rights regarded as
correlative with natural law at every stage in the history of doctrine – in the twelfth-
century renaissance of law, in the eighteenth-century Enlightenment, and still in
twentieth-century discourse. A modern thinker like Jacques Maritain, steeped in the
Thomistic tradition of natural law, has defended natural rights as consistent with
the tradition. More recently John Finnis, arguing in the language of contemporary
analytic jurisprudence has also treated the concept of rights as a ‘valuable addition ...
to the tradition of ‘natural law doctrine’”.
61. Ver Jacques, Maritain, Les droits de l’homme et la loi naturelle (Paris: Hartman,
1945). John Finnis, Lei natural e Direitos naturais, trad. Leila Mendes (São Leopoldo:
UNISINOS, 2007).
62. Louis-Damien Fruchaud, Jacques Maritain, Michel Villey Le thomisme face aux droits
de l’homme. Mémoire présenté et soustenu publiquement pour l’obtention du DEA
de droit public interne Sous la direction de Monsieur le Professeur Jean Mor, Paris
Université de Paris II Panthéon-Assas , le 9 septembre 2005.
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1091
que um dos pontos nos quais se observa mais, em sua opinião, esta
divergência são os direitos do homem. Ele nota en passant: “Jacques
Maritain cavalga com entusiasmo o vocabulário dos ‘direitos do homem”,
e depois afirma claramente: “Segue-se que São Thomas não embarcou na
linguagem confusa, ilusória (apenas moderna) dos “direitos do homem”.
Finalmente conclui que desviando em política, Maritain não poderia que
cair (déchoir), segundo Villey, e em nome do Doutor comum, sobre o
ponto dos direitos do homem: “Parece-nos que São Tomás poderia trazer
para ele o remédio para esses desvios. Não era, portanto, necessário deixar
sua linha, nem era indispensável ceder uma parte do terreno às ideologias
modernas: o historicismo, o democratismo, o palavreado dos direitos
humanos”.63
63. Ibid. Section 2. La genèse des droits de l’homme, 31: “La conclusion est alors claire: ‘Oui,
nous devons sans doute reconnaître une divergence substantielle entre l’enseignement
de la Somme et les positions politiques de Jacques Maritain’.[...] Villey souligne par
deux fois un des points où s’observe le plus, selon lui, cette divergence: les droits de
l’homme. Il remarque en passant: ‘Et Jacques Maritain d’enfourcher avec enthousiasme
le vocabulaire des «droits de l’homme’, puis il affirme nettement: ‘Il en résulte que saint
Thomas ne s’est pas embarqué dans le langage confus, illusoire, (seulement moderne)
des «droits de l’homme’. Finalmente ele conclui: ‘Déviant dans la politique, Maritain ne
pouvait que déchoir, selon Villey, et au nom du Docteur commun, sur le point des droits
de l’homme: ‘Il nous semble que saint Thomas pouvait apporter à lui seul le remède à ces
déviations. Il n’était donc point nécessaire de quitter sa ligne ni indispensable de céder
une part de terrain aux idéologies modernes: l’historicisme, le démocratisme, le verbiage
des «droits de l’homme’ ”.
64. Tierney, The Idea of Natural Rights, 345-347: “Once the idea that all persons possess
rights had grown into existence, it displayed a remarkable vitality and adaptability and
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proved relevant to a variety of emerging problems. […] The idea of natural rights in
its earlier formulations was not one of ‘atomic individualism”; it was not necessarily
opposed to the communitarian values of traditional society. Not was the idea
dependent on any particular version of Western philosophy; rather it coexisted with
a variety of philosophies, including the religiously oriented system of the medieval
era and the secularized doctrines of the Enlightenment. The one necessary basis for
the theory of human rights is a belief in the value and dignity of human life. The
idea of natural rights grew-up – perhaps could only grow up in the first place – in a
religious culture that supplemented rational argumentation about human nature with
a faith in which humans were seen as children of a caring God. But the idea was not
necessarily dependent on divine revelation, and later it proved capable of surviving
into e more secular epoch. […] The proponent of the secularized rights theory of the
Enlightenment had often forgotten the remote origins of the doctrines their embraced;
but their rhetoric about the rights of man become full intelligible only when it is seen
as the end product of a long process of historical evolution”.
65. Ibid, 343, 344: “The popes of our age, who have embraced so enthusiastically the
idea of natural rights, after their predecessors condemned it for many years as an
irreligious, Enlightenment aberrations, have been returning, unwittingly perhaps, to a
tradition rooted in the Christian jurisprudence and philosophy of the Middle Age.
66. Ver: Jacques Maritain, Os direitos do homem e a lei natural. Trad. de Afrânio Coutinho,
prefácio de Alceu Amoroso Lima, (Rio de Janeiro: José Olympio, 1967).
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4. Conclusões
67. Villey é plenamente consciente dessas raízes teológicas, mas insiste na tese de que elas
valem para a moral e a religião e não para o direito. Respondendo a um hipotético
leitor que afirma: “Homens do nosso tempo, optamos pelo positivismo jurídico. Sem
ignorar os progressos devidos ao cristianismo. Ele nos deu o sentimento da infinitude,
do valor infinito do homem. Do cristianismo nos veio a ideia dos direitos do homem“;
Villey replica: “O advento do cristianismo e do subjetivismo moderno, a descoberta do
valor infinito da pessoa humana não mudam em nada essa necessidade [da distinção].
Senão pelo fato de oferecerem uma razão suplementar para que não se confunda o
direito com a moral ou a política, o serviço ao bem-estar dos homens, ou como o
que se chama muito impropriamente hoje de “direitos do homem”. Villey, Filosofia
do direito. Definições e fins do direito, 454-455. Trata-se da antiga posição dos realistas
políticos, que separam ética da política, desde Maquiavel que elogiava a máxima de
Cosimo de Medici: “Non si governano i popoli con i pater noster in mano”, até Marx
Weber que afirmava que com o sermão da montanha não se governam as nações e
Carl Schmitt, segundo o qual, o universalismo cristão não elimina as diferenças entre
amigo e inimigo, as duas categorias principais de “o político”.
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1094 Giuseppe Tosi
68. Ver: Giuseppe, Tosi. La teoria della schiavitù naturale nel dibattito sul Nuovo Mondo
(1510-1573). Veri domini o servi a natura?Bologna: Edizioni Studio Domenicano, 2002.
69. Paolo, Grossi. L’ordine giuridico medievale (Roma-Bari: Laterza, 1996).
70. Domingo de Soto. De Iustitia et Iure, IV, q. I, 290: “Et cum fundamentum dominii sit
libertas, nullum amittunt suarum rerum ius”.
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O debate sobre a gênese e a validade dos direitos naturais subjetivos: Michel Villey e Brian Tierney 1095
verdadeiros senhores.”71; quando Las Casas prega que cada homem é livre
porque criado a imagem de Deus (fundamentum dominii est imago Dei) e,
portanto, não podem existir distinções “naturais” entre escravos e livres,
e que “desde o início do gênero humano, todo homem, toda terra e toda
coisa, por um primordial direito natural e das gentes, foi livre e alodial,
ou seja, franca, não sujeita a nenhuma escravidão”72; os teólogos-juristas
estavam admiravelmente aplicando à realidade do Novo Mundo os novos
conceitos elaborados nesses longos séculos de debates, de conflitos, de
disputas e criando uma nova teoria jurídica.
Tais doutrinas surgiram num determinado contexto histórico, como
ideologias com pretensão de universalidade, mas de fato expressões de
interesses particulares; sua validade histórica, porém, não está necessaria-
mente restrita ao contexto e às circunstâncias da sua gênese. Como afirma
Tierney, a ideia dos direitos naturais conviveu com diferentes ideologias,
uma vez que: “O único fundamento necessário de uma teoria dos direitos
humanos é a crença no valor e na dignidade da vida humana”.73
É o que reza o 1º Artigo da Declaração Universal dos direitos
Humanos: “Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade
e direitos”, afirmação que Villey ironiza considerando-a “tão contrária às
realidades, tão deliberadamente fictícia de nossa condição ‘natural’”.74
Mas Villey era por demais culto e inteligente para não saber que esta não
é uma afirmação de fato (porque seria uma mentira deslavada), mas de
direito; é uma deliberada homenagem dos redatores da Declaração (entre
os quais estava o neotomista Jacques Maritain) ao “eterno retorno do
direito natural”, conforme o título de um famoso livro de outro pensador
católico75. Os homens, embora sejam todos diferentes, são “por natureza”
71. Francisco de Vitoria. Relectio de Indis (1538) I, I, 16. Aos cuidados de L. Pereña e
J.M. Perez Prendes, Consejo Superior de Investigación Científica, Madrid, 1981 (1967)
30. (Corpus Hispanorum de Pace, Vol. V): “Restat ergo ex omnibus dictis quod sine
dubio barbari erant et publice et privatim ita veri domini, sicut christiani; nec hoc titulo
potuerunt spoliari aut principes aut privati rebus suis, quod non essent veri domini”.
72. Bartolomé de Las Casas, De Regia Potestate, 1.1., 5. A cura di Giuseppe Tosi. Roma-
Bari; Laterza, 2007. “A principio generis humani, omnis homo, et omnis terra, et
omnis res, de iure naturali et gentium primaevo, fuit libero et allodialis, id est, franca,
nulli subiecta servituti”.
73. Ver: Luiz Fernando Barzotto. “Os direitos humanos como direitos subjetivos”. Revista
do Ministério Público do Rio Grande do Sul, (2005) 47-88: ”Os direitos humanos são
uma espécie do gênero direito subjetivo: são os direitos subjetivos que cabem a todo
ser humano em virtude da sua humanidade”, 47.
74. Villey, O direito e os direitos humanos, 145.
75. Heinrich Rommen, Die ewige Wiederkehr des Naturrechts (München: Kösel Verlag, 1947).
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1096 Giuseppe Tosi
Mas Villey poderia objetar, com certa razão, que os direitos humanos
da Declaração Universal são “irreais, incertos e indeterminados, etnocên-
tricos e contraditórios”, direitos do individualismo e do egoísmo burguês,
que prometem mais do que conseguem cumprir. Isto porque, segundo
Villey, eles não são propriamente direitos, mas aspirações morais ou
ideais, moral rights como dizem os ingleses (um oximoro para Villey). Mas
a novidade trazida pela modernidade é justamente o processo que leva
esses moral rights, ou direitos naturais, a se tornarem legal rigths, direitos
positivos77. As Declarações, os tratados, os protocolos, as convenções de
direitos humanos promoveram um processo de universalização e positi-
vação dos direitos naturais, que não é uma “degeneração” ou uma “infil-
tração” da moral no direito, mas é a tradução na linguagem do direito
de princípios e normas morais e políticas que fundamentam o Estado
Democrático de Direito.78
E isso aconteceu através de um longo e contraditório processo
histórico que extrapolou a sua gênese e ampliou a sua validade. Os direitos
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humanos são “ideais” abstratos e indefinidos, mas foi esse caráter abstrato
que permitiu que neles se reconhecessem sujeitos sociais diversos e de
diferentes épocas históricas, que preencheram este conceito “vazio” de
um conteúdo histórico-social determinado. Retornando às conclusões de
Tierney:
Foi assim com a luta pelos direitos civis e políticos e pelo sufrágio
universal dos proletários e das feministas que ampliou os direitos políticos,
e rompeu com a cidadania restrita e censitária das sociedades liberais
burguesas. Foi assim com a luta dos excluídos das sociedades burguesas
que permitiu a conquista dos direitos econômicos e sociais contra o libera-
lismo, protagonizada pelos movimentos socialistas.80 Foi assim com a luta
dos abolicionistas que permitiu a superação do escravagismo. Foi assim
que em nome dos ideais de liberdade e de fraternidade os escravos negros
haitianos, liderados por Touissant Louverture se rebelaram e criaram a
primeira republica negra livre, posteriormente sufocada no sangue pelas
tropas napoleônicas.81 Foram os mesmos ideais de liberdade, igualdade
e fraternidade que mobilizaram as elites intelectuais dos países colo-
niais, como a Argélia e o Vietnam, que tomaram consciência de que eles
também, enquanto seres humanos, mereceriam viver dignamente em um
país independente. Foi em nome dos direitos humanos que o mahatma
79. Tierney, The Idea of Natural Rights, 346: “It is true that an ideology of rights first grew
up in the Western world. That has been the theme of this whole book. And it is most
certainly true that we cannot elevate every Western predilection into e imaginary
human right and then expect other people, regardless of their histories and cultures,
to embrace all such rights. But the Western origin of rights language does not in itself
preclude the possibility that the underlying ideals and aspirations inherent in that
language may prove to have a universal significance”.
80. Ver: Domenico Losurdo. Contra-história do Liberalismo. Tradução de Giovanni
Semeraro. (São Paulo: Ideia & Letras, 2006).
81. Ver Toussaint Louverture. Lettres à la France. Idées pour la libération di Peuple Noir
d´Haïti (1794-1798). Introducion et apparat critique d´Antonio M. Baggio et Ricardo
Augustin (Bruyères-le-Chãtel, Nouvelle Cité, 2011).
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1098 Giuseppe Tosi
82. Fabio Konder Comparato. A Afirmação histórica dos direitos humanos (São Paulo:
Saraiva, 2006).
83. José Damião de Lima Trindade. História social dos direitos humanos. 3. ed. (São Paulo:
Peirópolis, 2011).
84. Apocalipse, 21, 1-4.
85. E esta é a conclusão a que chegaram importantes intelectuais católicos, oriundos da
mesma tradição aristotélico-tomista de Villey, como Maritain. Ver: José Anastácio de
Gouveia Alves. ‘Os direitos do homem e a lei natural em Jacques Maritain’. Didaskalia,
XXVI (1996), 225-280. Renato Rabbi-Baldi Cabanillas, no seu detalhado ensaio sobre
Villey, afirma que ele nunca respondeu “às numerosas críticas dirigidas ao autor
a partir do setor jusnaturalista, que lhe reclamaram uma revisão dos tópicos aqui
mencionados – e de outros – em comuns harmonia com as próprias fontes teóricas”.
Renato Rabbi-Baldi, Cabanillas. “Michel Villey e o Tema dos Direitos Humanos: uma
Crítica a Partir de seus Escritos e de suas Fontes”, Quaestio Iuris, Vol. 02, nº 01, (2006):
98-133, 114.
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Referências
Alves, José Anastácio de Gouveia. “Os direitos do homem e a lei natural em Jacques Maritain”.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1103-1124.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1103
Abstract
Rights theories can be characterized by the conflicting views regarding the meaning of the
“subject” of those rights. Traditionally identified as a characteristic of modern legal thought,
individualism reflects not only in philosophical and political options, as well as in the
technical constructions which have contributed to the definitions of rights still very much
in use. Legal historiography has dwelled with the quest for the origins of what is seen as
the structural element of modern rights – subjectivism – in the disruption of a scholastic
paradigm of law, but broadening the sources used in that research suggests that the modern
“legal subject” as a “subject of rights” is drawn from a less disruptive concept and therefore
the modern notion of “rights” is structurally more complex – in fact, that underlying hidden
complexity emerges in some contemporary jurisprudential debates regarding the nature of
rights.
Keywords: legal historiography, modern legal thought, natural rights, rights theories, second
scholastics, subjective rights.
Introduction
R
ights theories have historically presented an open field for confron-
tational perspectives of law, where the effects of political recon-
structions of legal discourse are particularly visible.
In this paper we intend to approach the problematic of “rights” from
a juridical perspective, leaving the connection between legal and moral
rights aside. We are aware of the methodological difficulty of completely
leaving this aspect aside, since the problematic of rights is essentially phil-
osophical and the origin of much of contemporary dissentions on the defi-
nition of rights arise from conflicting jusphilosophical views, as can be
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1. Carl von Savigny, System des heutigen Römischen Rechts (Berlin: Veit und Comp.,
1840), vol. I, §4, §53. The same definition of right as a “power of the will” can be found
in Bernard Windscheid, Lehrbuch des Pandectenrechsts (Düsseldorf: Verlagshandlung
von Julius Buddeus, 1862), I, §37; and in Georg Friedrich Puchta, Vorlesungen über das
heutige römische Recht (Leipzig: Verlag von Bernhard Tauchnitz, 1862), vol. I, §22.
2. Rudolph Jhering, Der Geist des römischen Rechts auf den verschiedenen Stufen seiner
Entwicklung (Leipzig: Breitkopf und Härtel, 1852), vol. III, §60.
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The main points of criticism lie in two elements: the nature of “rights”,
focusing on its structure; and the very admissibility of the concept,
relating it, as well as a particular notion of “State”, to a concept of justice.
The potential of fragmentation that lies in the structural individualism on
which the subjective nature of rights rests present a ground for criticism
of a type of society characterised by the transformation of the rapports
between individuals and the community or other individuals into one-way
demands, which would eventually prove to be impossible to satisfy and,
as such, destructive of social and political order, as warned against by the
detractors of the “rights talk”.3
In this sense, the philosophical argument over “rights” is clearly
permeable to ideological dissent. The foundation of “rights” and the role of
State are closely linked in the jurisprudential debate, since the opposition
of utilitarian liberalism to rights-orientated liberalism lies in a concept
of justice, either rooted in utility or in respect for individual rights.4 Both
are based on deontological representations of “rights”5 (concerning the
foundation of “rights” and their role as limits to State action) – the reduc-
tionist perspectives being frequently supported by libertarian authors
such as Hayek6 or Nozick7; and the maximizing perspectives being backed
by egalitarian authors such as Dworkin8 (even if, as Hart pointed out, his
maximizing intention is compromised by the utilitarian justification to
the restriction of individual freedom to achieve the egalitarian purpose).
The problem of defining criteria of political decision – concerning the
limitation of rights, in particular – and whether neutrality is possible or
desired – preferring the “just” over the “good” – offers a good example of
how historical definitions are still effective. Take Rawls’ change of mind
towards setting the priority of justice expressed in axiological neutrality
in a Kantian notion of “person”(which is the basis of his rejection of util-
3. Mary Ann Glendon, Rights Talk: The Impoverishment of Political Discourse (New York:
The Free Press, 1991).
4. L. Hart, “Between utility and rights,” in Columbia Law Review, 79, nº. 5 (1979), 828-846.
5. These opposed, as morally preferable, to teleological theories of rights.
6. Friedrich Hayek, The Constitution of Liberty (Chicago: University of Chicago Press,
1960).
7. Robert Nozick, Anarchy, State and Utopia (New York: Basic Books, 1974).
8. Ronald Dworkin, Taking rights seriously (Cambridge, Mass.: Harvard University Press,
1977).
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9. John Rawls, A theory of justice (Cambridge, Mass.: Harvard University Press, 1971).
10. John Rawls, Political Liberalism (New York: Columbia University Press, 1993).
11. Isaiah Berlin, “Two concepts of liberty,” in Four Essays on Liberty, Oxford: Clarendon
Press, 1969.
12. Norberto Bobbio, “Della libertà dei moderni comparata a quella dei posteriori”,
in Politica e Cultura, (Torino: Einaudi, 1955), 172 ss.; Estudios de la Historia de la
Filosofia: de Hobbes a Gramsci (Madrid: Debate, 1985), 197-210.
13. In a way the medieval notions of “consensualism” and “pact” could never have upheld.
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14. Herbert Butterfield, The Whig Interpretation of History (London: G. Bell and Sons,
1931).
15. Michel Villey, Seize essays de philosophie du droit (Paris: Dalloz, 1969),192.
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16. Leo Strauss, Natural Right and History (Chicago: The University of Chicago Press,
1965); Ibid., The Political Theory of Hobbes (Chicago: University of Chicago Press,
1952).
17. Ernest Fortin, “Classical Christianity and the Political Order,” in Collected Essays, ed. J.
Brian Benstead, vol. 2 (Lanham, MD: Rowan and Littlefield Publishers Inc., 1996), 249.
18. John Finnis, Aquinas: Moral, Political and Legal Theory (Oxford: Oxford University
Press, 1998).
19. Brian Tierney, “Natural Law and Natural Rights – Old Problems and Recent
Approaches,” The Review of Politics, vol. 64, issue 03 (2002), 389-406 and 402 ss.
20. Brian Tierney, “Natural Law and Natural Rights – Old Problems and Recent
Approaches,” The Review of Politics, vol. 64, issue 03 (2002), 389-406 and 400 ss.
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1110 Ana Caldeira Fouto
There is, in fact, a gap in the line of research concerning the interpre-
tation of sources, since it is generally accepted to go from the scholastic
theological works of medieval authors such as Aquinas and Ockham to the
early-modern formulation of rights in an author such as Hobbes and from
then on to search for the meaning of this legal concept in philosophical
works or in legal treatises on natural law. This is awkward in the sense
that it is chronologically incomplete, on the one hand, and diverts from
the type of source which has, in fact, determined what we read in 18th and
19th century treatises when we search for a definition of “rights”.
This is not a trivial detail.
Traditionally, the consecration of “rights” in legal discourse is set in
the advent of Liberalism. This is more of an observation drawn from a
conclusive effect of the political use of pre-existing legal concepts – which
were taken from a civilistic tradition into the making of a political legal
science – rather than an explanation of the causes of the creation of such
concept. However, the subverted perception of the relation between the
legal concept and the political doctrine eventually limited the under-
standing of its sources, even if we tread with methodological precaution
assuming that it is one thing to identify the use of the same words in
different historical moments and to identify the use of the same meanings
in legal discourses.
That is perceptible when comparing significant examples of ratio-
nalist natural law jurisprudence and pandectistic definitions of ius.
Samuel Pufendorf’s definition of ius is based on the idea of a moral
quality by which one can rightfully act towards a person or a thing or by
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21. Samuel Pufendorf, De iure naturae et gentium, 1672 (Francofurti – Lipsiae: Ex officinia
Knochiana, 1759), l. I, cap. 1, §20: “accipiatur pro qualitate illa morali, qua recte vel
personis imperamus vel res tenemus aut cuius vi aliquid nobis debetur”.
22. Christian Thomasius, Intitutiones jurisprudentiae divinae libr tres, (Francofurti –
Lipsiae: Sumptib. Mauritii Georgii Weidmanni, 1688), l. I, cap. 1, §82: “Jus pro attributo
personae sumptum est qualitas moralis activa ex concessione superioris personae
competens”. Again in Fundamenta juris naturae et gentium, (Halae et Lipsia: Typis et
sumptibus Viduae Chr. Salfeldii, 1718), l. I, cap. 5, §1:”Jus sumitur varie. Potissimum
pro norma actionum, vel pro potentia agendi in relatione ad illam normam”.
23. Nikolaus Gundling, Jus naturae et gentium, Halae Magdeburgicae, 1727 (In Officina
Rengerian, 1736), cap. 1, §58: “Jus libertatem, seu facultatem et potentiam activam
significat, Grotius adtributum personae dixit”.
24. Gottfried Leibniz, Nova methodus discendae docendaeque jurisprudentiae, 1657, II, §14:
“potentia (agendi) moralis”.
25. Christian Wolff, Insitutiones juris naturae, (Halae Magdeburgicae: in Officina
Rengeriana, 1750), §46: “facultas ista, seu potentia moralis agendi”.
26. Joachim Darjes, Institutiones jurisprudentiae universalis, (Francofurti et Lipsiae:
Sumptibis Societatis, 1754), praef., 12: “…sequitur ut systema, quod inde componitur,
sit verum ac proprie acceptum jus naturale, quod, quo a jure naturali subjective sumto
possit distingui, systema juris naturalis seu jus naturale objective sumtum vocatur”.
27. Daniel Nettelbladt, Systema elementare universae iurisprudentiae naturalis, 1749 (Halae
Magdeburgicae: Ex Officina Libraria Rengeriana, 1767), §229: “Facultas agendi, id est,
possibilitas agendi, dicitur moralis si venit ex lege. Facultas agendi moralis vero dicitur
ius, quando subiective sumitur, cui opponitur ius obiective sumtum…”.
28. Anton Thibaut, System des Pandektenrechts (Jena: Friedrich Mauke, 1803).
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system of law dividing the Pars generalis into liber I: De juris fontibus sive
de jure objectivo; and liber II: De juribus sive de jure subjectivo”.29
It is particularly relevant to our analysis of this discourse-setting
process the explanation the same author had presented in another of
his works, identifying the distinction between “objective /subjective” ius
with the scholastic expressions “jus pro lege sumtum / jus pro facultate
sumtum”.30
The use of the adjective forms becomes constant in 19th century legal
literature, but it is not the general form to be adopted, coexisting with
the adverbial forms (“subjective sumtum” or “in subjectiver Bedeutung”31).
Portraying this inconsistency in juridical discourse, Savigny – who uses
the adverbial forms (“Recht im subjetiven – objektiven Sinn”) refers to the
alternative nomenclature as a modern linguistic use, preferring however
the traditional designation.32
The expression “subjectives Recht” appears to have only become
more stabilised after Winscheid adopted it unequivocally in the 1879 5th
edition of his Lerbuch des Pandektenrechts, making its way as the univer-
sally accepted designation in the subsequent works of referential authors
such as August Thon or Georg Jellinek.33
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Having presented the trail of both the notion and the name of “rights”
in 18th and 19th century legal discourse, the revolutionary nature of this
concept must be reconsidered. In fact, when Mühlenbruch referred to the
“scholastic” background of the senses of ius he was pointing out a link that
eventually became less noticed and that might question this perception of
disruption in juridical thought.
4.1.
The distinction of scholastic style between “jus pro lege sumtum” and
“jus pro facultate sumtum” identified by the Pandectistic author comprises
two different important elements.
The first that should be mentioned relates to the distinction itself. It
has already been pointed out that the polysemy of the term ius has been
continually stated in historical legal sources, but the dual identification,
that structures one by reference to the other, had been set in scholastic
thought. There are important influences on this process to be found in
medieval legal discourse, though they cannot be explored in this paper.
One is the definitive contribution of the medieval conformation of the
problem of universals (particularly in Franciscan theology) to the rising
of individualism and voluntarism in legal thought – which Villey demon-
strated, following Lagarde’s thesis.34 Another of these influences is the
development of legal technic both in Canon as in Roman law regarding
the notion of “permission” as a dimension of personal freedom, protected
by law, to act as one intended without any constraints and which was
appropriable by the individual (linguistically translated into the use of the
possessive form – “suum ius” – “his right”).35 Finally, the effects of concil-
34. Georges de Lagarde, La naissance de l’estprit laïque au déclin du Moyen Âge (Saint-Paul-
Trois-Châteaux : Editions Béatrice, 1934-1946) ; Michel Villey, “La genèse du droit
subjectif chez Guillaume d’Occam,” in Archives de Philosophie du Droit vol. IX (1964) ;
Villey, La formation de la pensée juridique moderne (Paris : 1975).
35. Brian Tierney, “Natural Law and Natural Rights – Old Problems and Recent
Approaches,” The Review of Politics vol. 64, issue 03 (2002), 389-406; Luca Padovani,
preface to Luca Parisoli, Volontarismo e Diritto Soggettivo. La nascita medievale di una
teoría dei diritti nella scolastica francescana (Roma: Istituto Storico dei Cappuccini,
1999); Kenneth Pennington, The Prince and the Law, 1200-1600: Sovereignty and Rights
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4.2.
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37. The concept of restitutio is introduced in the context of penance; the demand of
restitution had been set by Augustine in his Epistola ad Macedonium, included in
Gratian’s Decretum (C. 14, q. 6, c. 1) and developed in Aquinas’ Summa (IIa-IIæ, q.62, a.
1), having been established as a general legal principle in the Liber Sextus Decretalium
of Pope Boniface VIII (VI, 5, 13, 4).
38. Annabel Brett, Liberty, Right and Nature: Individual Rights in Later Scholastic Thought
(Cambridge: cambridge University Press, 2003), 159; Wim Decock, Theologians and
Contract Law: The Moral Transformation of the Ius Commune (ca. 1500-1650) (Leiden:
Martinus Nijhoff Publishers, 2012), 514-517; Thomas Duve, “La teoría de la restitución
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4.3.
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Revisiting “subjectivity” in Rights Theories 1117
4.4.
ratio est ipsa lex, ut ibi dicit; et ita ius coincidit cum lege (…). Unde ut habemus, brevia
nomina, quibus uti possimus, primum vocare possumus ius utile, secundum honestum;
vel primum ius reale, secundum legale.”
43. “Jus pro lege sumtum / jus pro facultate sumtum”, Christian Friedrich Muhlenbruch,
Lehrbuch des Pandekten-Rechts, 1835, §1.
44. This meaning of “moralis” in Suárez legal thought has been sustained by Alejandro
Guzmán Brito, El Derecho como Facultad en la Neoescolástica Española del Siglo
XVI, cit., 203-208; and Avelino Folgado, Evolución histórica del concepto del derecho
subjectivo. Estudio especial en los teólogos-juristas españoles del siglo XVI, San Lorenzo
de El Escorial, 1960, 217-224; an example of this definition of “qualitas moralis” as
opposed to “qualitas physica” given by Suárez can be found in Tractatus de legibus ac
Deo legislatore, l. IV, cap. I, 7: “Iurisdictio autem, sicut et dominium, non consistit in
qualitate physica sed in iure et potestate morali.”.
45. Francisco Carpintero, La Ley Natural. Historia de un concepto controvertido (Madrid:
Ediciones Encuentro, 2008), 199.
46. Hugo Grotius, De iure belli ac pacis (Pariisis: 1625), l. I, I, §4: “Qualitas moralis personae
competens ad aliquid juste habendum vel agendum”.
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some essential similarities. Grotius adopts that which was Suarez inno-
vative contribution – the notion of “qualitas moralis” and the particular
meaning this qualification has to Suárez juridical definition, accentuating
the “subjective” dimension of rights.
Grotius’s distinction between “facultas” and “aptitudo” as comprised
in that “moral quality” (the former being a “perfect moral quality” and
the latter an “imperfect moral quality”)47 presents a broader notion of
“ius” defined, as Suárez had done, as a “moral quality”, because it would
now comprise not only the “faculty” but also the “aptitude”; and, conse-
quently, it would seem to present a more limited notion of “faculty”. And
yet, not only does it resonate Suárez’ distinct use of “qualitas moralis”
and “facultas moralis” in De legibus to define “ius” but, more relevantly,
the proximity to Suárez is particularly visible when Grotius distances
himself from the “iurisconsulti” in the term they use to call that “right
which a Man has to himself”: what those called “facultas” he would now
call “ius proprie aut stricte” – comprising “potestas”, “dominium” and “cred-
itum”48, different from that “aptitude”, to which he dedicates so few and
somewhat imprecise lines49. In this sense, and while acknowledging that
his “proper or strict” sense of “right” is what was known as “facultas”
Grotius remains close to Suarez definition of “right” in a “stricter sense”
as a “moral faculty”.50
The influence of this concept of “right” defined by reference to a
scope of freedom determined by will and reason, as Suárez meant by the
use of the qualification “moralis”, can be traced even in Thomas Hobbes’s
revolutionary and assumedly disruptive explanation presented in De cive
and in Leviathan. Hobbes clearly rejected the philosophical frame of the
idealist tradition and undertook an empirical concept of knowledge as
well as an epicurean notion of man as an apolitical and asocial being51
47. Hugo Grotius, De iure belli ac pacis (Pariisis: 1625), l. I, I, §4: “Qualitas autem moralis
perfecta, Facultas nobis dicitur; minus perfecta, Aptitudo; quibus respondent in
naturalibus, illi quidem actus, huic autem potentia.”
48. Hugo Grotius, De iure belli ac pacis (Pariisis: 1625), l. I, I, §5: “Facultatem Iurisconsulti
nomine sui appelant: nos posthac ius proprie aut stricte dictum appelabimus: sub quo
continentur Potestas, tum in se, quæ libertas dicitur, tum in alios, ut patria, dominica:
Dominium, plenum sive minus pleno, ut usufructus, jus pignoris: et creditum cui ex
adverso respondet debitum.
49. Hugo Grotius, De iure belli ac pacis (Pariisis: 1625), l. I, I, §7.
50. Francisco Suárez, Tractatus de legibus ac Deo legislatore, l. I, cap. II, 5: “… et strictam
iuris significationem solet proprie ius vocari facultas quaedam moralis…”.
51. Leo Strauss, Natural Right and History (Chicago: The University of Chicago Press,
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that undoubtedly differentiate his concept of “right” from that of the theo-
logical scholastic tradition.
And yet, not only did he follow the traditional structure distinguishing
between “ius” and “lex” and used the roman law concept of natural obli-
gations as deriving only from one’s own consent to build on it his concept
of justice as solely deriving from pacts or contracts52; but, more so, he
defined “right” as a liberty to use one’s natural faculties according to
reason.53 Suárez’ well-known definition of “right” as a “moral faculty” –
a faculty of freedom determined by will and reason – underlies Hobbes’
innovative definitions. And he does innovate, since he presents a notion of
“liberty” to make use of “natural faculties” that breaks from the scholastic
natural law tradition and from the notion of “faculty” to ground his “right”
in pure instinct (of self-preservation). He presents different meanings to
the notions of “justice” (entirely relating to men in society and deriving
from reason and consent, consisting of social determinations)54, “natural
law” (meaning natural laws found out by reason)55 and “natural right”
(identified with a liberty to use one´s own power, determined by one’s own
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56. Thomas Hobbes, Leviathan, 1st Part, cap. 14: “The Right of Nature, which Writers
commonly call Ius Naturale, is the Liberty each man hath, to use his own power, as he
will himselfe, for the preservation of his own Nature; that is to say, of his own Life; and
consequently, of doing any thing, which in his own Judgement, and Reason, hee shall
conceive to be the aptest means thereunto.”
57. Thomas Hobbes, De Cive, præfatio: “(…) ostendo primo conditionem hominum extra
societatem civilem, quam conditionem appellare liceat statum naturæ, aliam non esse
quam bellum omnium contra omnes; atque in eo bello jus esse omnibus in omnia (…)”
58. Leo Strauss, The Political Theory of Hobbes (Chicago: University of Chicago Press,
1952), 157; Lawrence Berns, “Hobbes,” in History of Political Philosophy, ed. Leo
Strauss and Joseph Cropsey (Chicago: University of Chicago Press, 1987), 401;
Michael, Zuckert, “Do Natural Rights Derive from Natural Law?,” Harvard Journal of
Law and Public Policy (1996-1997), 695-731, 702; Ian Shapiro, The Evolution of Rights
in Liberal Tradition (Cambridge: Cambridge University Press, 1986), 42; Richard Tuck,
Hobbes (Oxford: Oxford University Press, 1989),102.
59. Villey, Seize essais de philosophie du droit, 189.
60. Ibid., 192.
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4.5.
Another element of scholastic legal theory that makes its way into
modern “rights” theories concerns the permissive dimension of Natural
Law.64
The definition of “rights” by reference to what is permitted to indi-
viduals had become a constant topic in Second Scholastics treatises, which
is developed by the enunciation of limits to rulers’ actions and determina-
tions. Such limits would be imposed by the natural right of every man to
exercise his dominium over everything which is necessary to his survival65.
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66. Annabel Brett, “The Development of the Idea of Citizens’ Rights,”, in Quentin Skinner,
Bo Stråth, States and Citizens. History, Theory, Prospects (Cambridge: Cambridge
University Press, 2003), 97-112, 100.
67. Hugo Grotius, De iure praedae commentarius, 1604, II, §6.
68. John Locke, Two Treatises of Government, 1689, Second Treatise, 128; 4; 6; 7; 59: “For in
the state of nature, to omit the liberty he has of innocent delights, a man has two powers.
The first is to do whatsoever he thinks fit for the preservation of himself, and others within
the permission of the law of nature (…). The other power a man has in the state of nature,
is the power to punish the crimes committed against that law.”
69. Christian Wolff, Institutiones iuris naturae et gentium, §47: “Lex naturæ dicitur
præceptiva, quæ ad actiones commitendas nos obligat; prohibitiva, quæ obligat ad
actiones omitendas; permissiva, quæ jus dat ad agendum.”
70. Samuel Pufendorf, De jure naturae et gentium, 1672, l. I, cap.1, §§19-20: “Operativæ
qualitates morales sunt activæ, vel passivæ. Illarum nobilissimæ species sunt potestas,
jus, & obligatio. Potestas est, qua quis aliquid legitime, & et cum effectu morali agere
potest.” ; “Juris vocabulum valde est ambiguum. (…) frequentissimum est, ut accipiatur
pro qualitate illa morali, qua recte vel personis imperamus, vel res tenemus, aut cujus vi
aliquid nobis debetur.”
71. Christian Wolff, Institutiones júris naturae et gentium, 1750, §46: “Facultas ista, seu
potentia moralis agendi dicitur Jus.”
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Conclusions
72. Brett, Liberty, Right and Nature, cit., 159: “Beyond that, man must not only have his
own rights as an individual, but he must also have their exercise in his own control: in
other words, he must be sui iuris, have dominium of himself or his liberty.”
73. In Juan de Lugo’s lapidary expression: “Est potestas moralis ad haec facienda propter jus
intrinsecum, et radicatum in persona...”; Juan de Lugo, Disputationum de justitia et jure
tomus primus, Editio novissima a mendis expurgata, Lugduni, sumpt. haered. P. Prost,
P. Borde et L. Arnaud, 1646, disp. 2, §41.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1125
Abstract
How to obtain eternal salvation when you are an old conquistador? Did he feel any remorse
for having participated in the destructuring of entire societies and in the death of the
peoples who lived in the American continent in the 15th and 16th centuries? Was it possible
to dissolve in Catholicism the morally condemnable effects of the conquest? The restitution
of goods to the Indians was one of the answers to these questions, given by theologians,
jurists and rulers as early as the sixteenth century, and put into practice in the Andes by the
encomenderos themselves, through donations and testaments. The objective of this article is
to take restitution seriously, as a manifestation of the conscience of the old conquerors, and
also to analyze the great diversity of motivations they could have to restore ill-gotten gains.
This took place while the Spanish Crown was questioning their power and therefore their
place in the colonial society that was then being built in the Andes.
Keywords: America, Bartolome de Las Casas, ill-gotten goods, indigenous communities,
justice, moral theology, Peru, restitution, testaments.
1. Introducción
D
espués de la promulgación de las Leyes Nuevas en 1542 y de su
relativo fracaso al concluir las guerras civiles en el Perú, reli-
giosos y gobernantes utilizaron diversos medios para controlar
el poder de los encomenderos. Muchos de ellos eran antiguos conquista-
dores, acusados de abusar de su poder y sospechosos de pretender fundar
señoríos particulares en el territorio de sus encomiendas. Este control
se ejerció mediante la teología moral, con el sacramento de penitencia,
que pertenece al foro interno de la conciencia. El objetivo era exigir la
restitución de los bienes mal habidos durante la conquista, en nombre
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1. Bartolomé de Las Casas, Aqui se contienen unos avisos y reglas para los que oyeren
confessiones de los Españoles que son o han sido en cargo a los indios de las Indias del
mas Océano (Sevilla: Sebastián Trujillo, 1552). Edición moderna en Bartolomé de Las
Casas, Obras escogidas, t. V, Opusculos, cartas y memoriales (Madrid: Biblioteca de
Autores Españoles, 1958), 235-249.
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della prima età moderna (Bologne: Il Mulino, 2004), 51-59. Sobre Jean Gerson, Prodi,
Una historia de la justicia, 168-170.
8. Lavenia, L’infamia e il perdono, 60-61. Y Vincenzo Lavenia, ‘L’Église, juge du fisc :
théologie et impôt aux XVIe et XVIIe siècles,’ in Philosophie de l’impôt, ed. Thomas
Berns, Jean-Claude Dupont, y Mikhaïl Xifaras, (Bruxelles : Bruylant, 2006), 37-67. En
el caso español la bula de la Cruzada cuyos fondos eran administrados por el Rey,
dependen del sistema fiscal que rige a toda la Monarquía católica. José Antonio Benito,
La Bula de Cruzada en Indias (Madrid: Fundación Universitaria Española, 2000).
9. Acerca del dialogo entre estas dos posiciones : Lavenia, L’infamia e il perdono, 163-182.
Y Lavenia, “L’Église, juge du fisc,” 46-53.
10. Lavenia, L’infamia e il perdono, 211-212.
11. Utilizamos la edición de 1566. Martin de Azpilcueta Navarro, Manual de penitentes
(Estella: Adrián de Anvers, 1566). Lavenia, L’infamia e il perdono, 219-264.
12. Azpilcueta, Manual de penitentes, 185.
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por parte del confesor. Eso permite que la penitencia no sea un pretexto
para la venganza y que el penitente sienta una verdadera contrición.
Bartolomé de las Casas cosecha los frutos de esas discusiones y
defiende un equilibrio de los foros en materia de restitución, con el
objetivo de obligar a los encomenderos a restituir, gracias a la ley del Rey.
En efecto, en 1552, Las Casas formaliza el uso de la práctica penitencial
como ofensiva contra los conquistadores a través de un opúsculo publicado
en Sevilla cuyo fin es servir de guía a los confesores de encomenderos,
preocupados por la absolución de pecadores culpables de haberse apro-
piado bienes de los indios fuera del derecho establecido por los teólogos
de Salamanca. Por lo tanto, la restitución se transforma en el contexto de
la discusión de los Justos Títulos de la Corona española en América. La
confesión y la absolución de los encomenderos y de los mercaderes de
armas durante las guerras de conquista están entonces subordinadas a la
restitución de los bienes sustraídos a los indios, por el carácter injusto de
esas guerras.13 Ya en 1536-1537, en el tratado De unico vocationis modo
omnium gentium ad veram religionem,14 Las Casas concluía que la guerra
era un medio injusto para llevar a los habitantes de las Indias a la religión
católica:15
Todos los que hacen la mencionada guerra y todos los que con cualquiera
género de cooperación, mandato, consejo, auxilio o favor, son causa de
que se les declare la misma guerra a estos fieles, cometen pecado mortal,
y gravísimo por cierto.16
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17. Rolena Adorno, Polemics of Possession in Spanish American Narrative (New Haven:
Yale University Press, 2007), 73-74.
18. Lavenia, L’infamia e il perdono, 156-162 y Anthony Pagden, “Dispossessing the
barbarian: the language of Spanish Thomism and the debate over the property rights
of the American Indians,” in The languages of political theory in early modern Europe,
ed. Anthony Pagden (Cambridge: Cambridge University Press, 1987), 79-98. Anthony
Pagden, “The school of Salamanca and the ‘Ius Naturae’ ,“ The uncertainties of empire:
essays in Iberian and Ibero-American intellectual history (Aldershot: Variorum, 1994).
Sobre Las Casas y la guerra justa, Lewis Hanke, La Lucha por la justicia en la conquista
de América (Buenos Aires: Ed. Sudamericana, 1949), 249-278.
19. Dos artículos fundadores estudian la cuestion de la restitucion en el Perú, como
manifestacion de la influencia de Las Casas y de los dominicos: Guillermo Lohmann
Villena, “La restitución por conquistadores y encomenderos: un aspecto de la incidencia
lascasiana en el Perú,” Anuario de Estudios americanos 23 (1966), 21-89; Guillermo
Lohmann Villena, “El encomendero indiano, cooperador de la evangelización,” in
Homenaje al profesor Alfonso García Gallo, vol. 5 (Madrid: Universidad Complutense,
1996), 113-136.
20. Tomás de San Martin, “Parecer de D. Fr. Tomas de San Martin, obispo de Charcas,
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Si los religiosos se rigen por los principios de los Justos títulos, la ley
divina y el foro de la conciencia, la ley del Rey no guarda silencio sobre
la restitución. La Recopilacion de 1681 repite una cédula real dirigida a la
audiencia de Lima, del 10 de mayo de 1554 que recuerda que el objetivo
de las encomiendas es la conversión de los indios y su instrucción en la
fe católica. Si los encomenderos no respetan ese deber, “sean obligados a
restituir los frutos, que han percevido, y perciven, y es legitima causa para
privarlos de las encomiendas”. El Rey le pide a los “Virreyes, Audiencias,
y Governadores, que con mucho ciudado, y diligencia inquieran, y sepan
por todos los medios posibles si los Encomenderos cumplen con esta obli-
gación: y si hallaren, que faltan a ella, procedan por todo rigor de derecho
a privarlos de las encomiendas, y hazerles restituir las rentas, y demoras,
que huvieren llevado, y llevaren sin atender a lo que son obligados, las
quales proveeran, que se gasten en la conversión de los Indios”.22 Otra ley
sintetiza unas cédulas de Carlos V del 20 de noviembre de 1536 y del 9 de
mayo de 1551:
sobre si son bien ganados los bienes adquiridos por los conquistadores, pobladores
y encomenderos de las Indias,” in Colección de documentos inéditos relativos al
descubrimiento, conquista y organización de las antiguas posesiones españolas de
América y Oceanía, vol. 7 (Madrid: Frias y Cia., 1867), 348-362. Archivo General de
Indias, Patronato 252, ramo 21.
21. Antonine Tibesar, “Instructions for the Confessors of Conquistadores Issued by the
Archbishop of Lima in 1560,” The Americas 3, no. 4 (Apr. 1947): 514-534.
22. Recopilación de las leyes de Indias (Madrid: Julián de Paredes, 1681), Libro VI, Título
IX, Ley I, f. 229 y Ley III. Richard Konetzke, Colección de documentos ara la Historia de
la Formación social de Hispanoamérica, 1493-1810, T.I. (Madrid, 1953), 322-325. María
de las Mercedes del Río, Etnicidad, territorialidad y colonialismo en los Andes: tradición
y cambio entre los Soras de los siglos XVI y XVII, Bolivia (Lima: Instituto Francés de
Estudios Andinos, 2005), 226-227.
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Que ningun niño muera sin bautismo ni ningun adulto baptizado sin
confision y que todos sepan las cossa necesarias a la fe como el credo
pater noster ave maria y los diez mandamientos de la ley y los manda-
mientos de la iglesia y se le platique y de a entender lo susodicho en la
mejor manera que ser pudiere según su capacidad.26
23. Recopilación de las leyes de Indias, Libro VI, Titulo IX, Ley III, f. 229v.
24. Silvio Zavala, La encomienda indiana (Madrid: Junta para ampliación de estudios
e investigaciones científicas-Centro de estudios históricos, 1935), 114-138 y sobre
los Andes: 174-177. Silvio Zavala, El servicio personal de los indios en el Perú, 3 vol.
(México: El Colegio de México, 1978).
25. Lavenia, “L’Église, juge du fisc”, 37-67.
26. Tibesar, “Instructions”, 529-530.
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27. “Yten se determino que el que falto de tener doctrina todo el tiempo que no la tuvo
por ningun ministro ni por su persona lo que avia al padre sacerdote o sacerdotes
necesarios para el enseñamiento bastante de los yndios a de rrestituir a los yndios
según el tienpo que no tuvo la dicha doctrina”, Tibesar, “Instructions”, 530.
28. Tibesar, “Instructions”, 530-531.
29. Gregorio Salinero, La trahison de Cortés: désobéissance, procès politiques et gouvernement
des Indes de Castilles, seconde moitié du XVIe siècle (Paris : Presses universitaires de
France, 2014).
30. Un análisis sintético de esta participación en Teodoro Hampe Martínez, “Fray
Domingo de Santo Tomás y la encomienda de indios en el Perú (1540-1570),” in Los
dominicos en el Nuevo mundo, ed. José Barrado (Salamanca: San Esteban, 1990), 354-
379. Un analisis más fino de la visita y de la política del compromiso de La Gasca en
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entre los foros se verifica también en los discursos de los mismos conquis-
tadores a la hora de restituir.
39. Archivo general de la nación del Perú (AGNP), Protocolos, siglo XVI, Pedro de Salinas,
n°154 (2), f. 477-483.
40. Lohmann Villena, “La restitución por conquistadores,” Antonio de Egaña, Monumenta
Peruana 3 (Roma: Institutum Historicum Societatis Iesu 1954)147-162.
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Teología moral, restitución y sociedad colonial en los Andes en el siglo XVI 1137
Juro y declaro que desde prinzipio que entré en esta tierra hasta que todo
se acabó de ganar, andube siempre con buena fe, paresciendome que la
guerra que se hazía a los naturales della er ajusta porque la hazía gober-
nador cristiano y enviado por rey cristiano, como si se hiziera contra
infieles turcos o moros; y no dudé en esto ni oy (sic) decir a hombre lego,
no sacerdote en púlpito o fuera del, ni tal cosa se trató entre nosotros que
yo supiese ni a mi noticia viniese, y si yo supiera que la guerra era injusta
y lo que en la tierra se avía era mal avido, y obligado a restituir lo buscara
remedio por otra vía y no viniese a Pirú, ni entrara en la conquista del;
y pues tuve buena fe y Dios sabe si en esto digo verdad, y ni teólogo ni
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1138 Aliocha Maldavsky
44. Efraín Trelles Aréstegui, Lucas Martínez Vegazo: funcionamiento de una encomienda
peruana inicial (Lima: Fondo editorial de la Pontificia universidad católica del Perú,
1991), 286-287.
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Teología moral, restitución y sociedad colonial en los Andes en el siglo XVI 1141
6000 pesos confieso que los devo bien debidos a los yndios deste rreino
en general de cosas que les he llevado y me e aprovechado dellos. Item
declaro que demás de lo que hasta oy e pagado y dado y soltado a los
yndios de Hica de mi encomienda e hecho y averiguado quenta de mi
conciencia y consultado con theologos y letrados de letras y conciencia
que dello tienen expiriencia y confieso que les devo y soi a cargo 8000
pesos de oro y plata ensayada y marcada, mando que se les paguen de
mis bienes.53
52. Riva-Agüero, El primer alcalde de Lima, 33. Teodoro Hampe Martinez, Fray Domingo
de Santo Tomás y la encomienda en el Perú (1540-1570) », Los dominicos en el Nuevo
mundo (Salamanca: San Esteban, 1990), 355-379, 375.
53. Ruben Vargas Ugarte, “Archivo de la beneficencia del Cuzco,” Revista del Archivo
Histórico del Cuzco, no. 4 (1953), 105-106.
54. Vargas Ugarte, “Archivo de la beneficencia del Cuzco”, 106-107.
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1142 Aliocha Maldavsky
por merced a las justicias de Su Magestad que por todo rigor de derecho
o via executiva me compelan a mi y a los dichos mis herederos y albaceas
a cumplir e pagar lo susodicho, según y de la forma que está dicho e
declarado, bien ansy como si lo que dicho es y fuere sentencia definitiva
de juez competente, por mí consentida e pasada en cossa juzgada, en
razón de lo qual rrenuncio qualesquiera leyes, fueros y derechos y horde-
namientos que en mi fabbor e de los dichos mis herederos sean o ser
puedan.55
55. “ […] rruego e pido por merced a las justicias de Su Magestad que por todo rrigor de
derecho o via executiva me compelan a mi y a los dichos mis herederos y albaceas a
cumplir e pagar lo susodicho, según y de la forma que está dicho e declarado, bien
ansy como si lo que dicho es y fuere sentencia definitiva de juez competente, por mí
consentida e pasada en cossa juzgada, en razón de lo qual rrenuncio qualesquiera
leyes, fueros y derechos y hordenamientos que en mi fabbor e de los dichos mis
herederos sean o ser puedan”, Vargas Ugarte, “Archivo de la beneficencia del Cuzco”,
108.
56. Hampe Martinez, “Fray Domingo de Santo Tomás”, 355.
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Teología moral, restitución y sociedad colonial en los Andes en el siglo XVI 1143
57. Testamento de Alonso de Cáceres, Biblioteca Nacional del Perú, Manuscritos Z1264.
58. Lo mismo vemos con las restituciones de Gómez de Solis y Lorenzo de Aldana,
estudiadas por Del Rio, María de las Mercedes del Rio, “Riquezas y poder: las
restituciones a los indios del repartimiento de Paria”, in Saberes y Memorias en los
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Teología moral, restitución y sociedad colonial en los Andes en el siglo XVI 1145
Conclusión
64. Juan Carlos Estenssoro Fuchs, Del paganismo a la santidad: la incorporación de los
Indios del Perú al catolicismo, 1532-1750 (Lima: IFEA, 2003).
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1146 Aliocha Maldavsky
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1149-1164.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1149
Abstract
The issue of Restitution as a duty of justice and as imperative of reason is recurrent and
very differently treated by most of the Ibero-American Scholastic authors. In this article we
address the peculiar perspective that the Dominican Tomás de Mercado gives to the subject
in his Suma de Tratos y Contratos published in 1571. In this work, one of the first in the
gender, Mercado emphasizing the obligatory aspect of Restitution as a moral virtue, and
places doubt in favor of an eventual injured. He’ll defend the Restitution as an imperative of
justice that binds in consciousness and which cannot be dispensed by any power since it is
a mandate of the natural law.
Keywords: colonial scholasticism, natural law, restitution, Tomás de Mercado.
1. Introducción
E
l carácter desmedido, desproporcionado y desregulado de la política
punitiva que muchas veces vemos en el sistema penal y carce-
lario en nuestros países llama a reivindicar límites en el ámbito
de las sociedades democráticas. Para esto se hace necesario revisar los
contenidos de los conceptos fundamentales que dan sustento a este tema
central de la filosofía política. La pena, la culpa, la reparación, la satis-
facción y la restitución han sido conceptualizadas recurrentemente por
los teólogos medievales y fueron tratados de manera muy viva y cuidadosa
por la Escolástica Ibero-americana.1
1149-1164
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1150 Alfredo Culleton
2. Santo Agostinho, De Civitate Dei, I, 21; PL 41. Citamos pela tradução de A Cidade de
Deus, (Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1991), 35.
3. Santo Agostinho, O Livre Arbítrio in: Patrística (São Paulo, Ed. Paulus, 1995).
4. San Anselmo. Cur Deus homo. Obras completas. Trad. Julian Alameda, OSB. (Madrid,
BAC, 1952), Vol I. Livro I, 15-20.
5. Alfredo Culleton, “Punishment and Human Dignity in the Cur Deus Homo by Anselm
of Canterbury (1033-1109)”. In: Roberto Hofmeister Pich. (Org.). Anselm of Canterbury
(1033-1109): Philosophical Theology and Ethics (Porto: FIDEM, 2011), 143-153.
6. San Anselmo, Cur Deus homo. Livro I, 15, 784.
7. San Anselmo, Cur Deus homo. Libro I, 15, 785.
8. San Anselmo, Cur Deus homo. Libro I, 19, 805.
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El imperativo moral de la restitución en Tomás de Mercado 1151
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3. El lenguaje y la metodología
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El imperativo moral de la restitución en Tomás de Mercado 1159
De tal manera que, para evitar tener que devolver el esclavo inmedia-
tamente y sin resarcimiento, además de las dificultades, cuando no impo-
sibilidades, de hacerlo a su patria original, lo mejor es no comerciar ante
cualquier sospecha de conciencia o mala fama relativa a la procedencia
del bien. Vale destacar un punto importante que la tradición escolástica va
transmitiendo por generaciones: la ignorancia no disculpa absolutamente
y coloca en aquellos involucrados, cualquiera sea el trato, la responsa-
bilidad de conocimiento pleno, o más completo posible, de la lisura del
trato. Solo ahí la consciencia será buena conciencia. Es de responsabi-
lidad del tratante certificarse del origen del bien y no puede apelar al
álibe de la ignorancia a no ser que haya agotado en conciencia todos los
recursos para tal conocimiento. El conocimiento es una virtud mientras
que la ignorancia no, y tanto las ciencias como la información serán de
gran importancia en este proceso de saber lo que es justo.
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1160 Alfredo Culleton
29. Cf. Tomás de Mercado, Suma de tratos y contratos, Libro VI, Cap. XV.
30. Tomás de Mercado, Suma de tratos y contratos, 710.
31. Tomás de Mercado, Suma de tratos y contratos, 710.
32. Tomás de Mercado, Suma de tratos y contratos, 709.
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El imperativo moral de la restitución en Tomás de Mercado 1161
8. Conclusión
33. Para entender mejor la relación entre el poder eclesial y el poder secular relativo a las
poblaciones nativas de las Américas, ver Pedro Calafate, “O pensamento político de
Martín de Azpilcueta: sobre o poder supremo”, Filosofia Unisinos 18 n. 3 (2017): 203-
212, doi: 10.4013/fsu.2017.183.12.
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El imperativo moral de la restitución en Tomás de Mercado 1163
Referencias
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Calafate, Pedro. “O pensamento político de Martín de Azpilcueta: sobre o poder supremo”, Filosofia
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Mercado, Tomás. Suma de tratos y contratos, edición y estudio introductorio de Restituto Sierra
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Mercado, Tomás. Suma de tratos y contratos. Sevilla: Hernando Diaz, 1571.
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San Anselmo. Cur Deus homo. Obras completas. Trad. Julian Alameda, OSB. Madrid, BAC, 1952
Santo Agostinho. De Civitate Dei, I, 21; PL 41. Citamos pela tradução de A Cidade de Deus, Lisboa:
Fundação Calouste Gulbenkian, 1991.
Santo Agostinho. O livre Arbítrio: Patristica. São Paulo: Ed. Paulus, 1995.
Tomás de Aquino. Suma Teologica. São Paulo, Loyola, 2015.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1165
Abstract
This text’s purpose is the critical analysis of the works of Francisco Suárez (1548-1617). These
works deal with the themes of slavery and freedom, especially in the context of free and slave
labour. Slavery and its legitimacy were much discussed by peninsular authors of the sixteenth and
seventeenth centuries, during the Second Scholasticism. These analyses gained momentum when
military forces and Spanish settlers began enslaving the “Indians” of the American continent. In the
seventeenth century, Suárez would validate the conceptions of earlier authors. However, the theme
appears in his work mostly accidentally and at another level of remove, through the enunciation of
abstract propositions or, at most, with reference to hypothetical situations. Like most authors of the
time, Suárez also deemed slavery to be permissible. He considered that freedom was a natural right
belonging to all men; however, he did not consider it inalienable: it could be sold or delivered by its
own proprietor. Without questioning the obedience or submission the slave was believed to owe
the master, Suárez held that the dominus’ power was not an absolute power but rather a “quasi-
dominance,” one that excluded the possibility of killing or mistreating the slave. It is also important
to analyse how, conceptually, slave and free labour were characterized and distinguished. Even
in the seventeenth century, distinctions in terms of the time of attachment were still common. A
rigorous distinction, founded on the kinds of obedience that can be demanded, can be found in
Suárez’s work. Although he affirmed that servants, like slaves, were obliged to obey their masters,
the former were only to be obedient insofar as they were bound by their office. Suárez’s text
clearly distinguished free workers’ duty of obedience and limited it to certain functions. This last
limitation, which may seem natural to us today, was unusual in the seventeenth century, so much
so that it drew attention because it seems to presuppose a limit for subordination and, on the other
hand, a dilation of the sphere of freedom in which that domain could not be exercised.
Keywords: free labour, obedience, slavery, Francisco Suárez.
O
objectivo deste texto é a análise crítica de textos de Francisco
Suárez (1548-1617)1 em que o mesmo tratou os temas da escra-
vidão e da liberdade, especialmente no plano do trabalho livre e
1165-1194
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1166 Margarida Seixas
Cardoso, António Manuel Martins e Leonel Ribeiro dos Santos (coord.), Francisco
Suárez (1548-1617) Tradição e Modernidade, actas do Seminário Internacional “A Obra
de Francisco Suárez” (Lisboa, Edições Colibri, 1999) e Ana Caldeira Fouto, Margarida
Seixas e Pedro Caridade Freitas (coord.), Suárez em Lisboa 1617-2017. Actas (Lisboa:
AAFDL Editora, 2018).
2. Francisco Suárez, Tractatus De legibus ac Deo legislatore in decem libros distributus,
(Coimbra: Diogo Gomez de Loureiro, 1612), livro III, capítulo XXI, 8, cit., 171:
“Similiter etiam servus tenetur in conscientia parere Domino, ut plane docet Paulus locis
citatis, & sumitur ex 1. Petri a ex. cap 1. de coniugio servorum, & de omnibus famulis
in eo, quod ex officio facere tenentur, idem est manifestum […]”. Tradução minha, bem
como a de todos os excertos das obras de Suárez que constam do texto.
3. Maria do Rosário Pimentel, Viagem ao fundo das consciências: a escravatura na
época moderna (Colibri, Lisboa, 1995), 25. Este foi realmente o desencadear do
que normalmente é denominado como “escravatura moderna”, embora quer a
continuidade de realidades previamente existentes, quer o recurso a ordenamentos
jurídicos anteriores, mormente ao direito romano, devam servir para afastar uma
visão que valorize em demasia a “fractura” que o novo tráfico originou.
4. Para esta questão, pode ver-se, por exemplo, António Domingues de Sousa Costa,
“O factor religioso, razão jurídica dos Descobrimentos Portugueses”, in Congresso
Internacional de História dos Descobrimentos Portugueses: Actas, vol. IV (Lisboa:
Comissão Executiva da Comemoração do V Centenário da Morte do Infante D.
Henrique 1961): 99-138, e, do mesmo Autor, “A Expansão Portuguesa à Luz do
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1167
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1168 Margarida Seixas
[…] todos os dias cometem grandes danos cativando escravos, e dão motivo
os portugueses a que eles entre si se escravizem por cobiça, e se vendam,
8. Ibid., I, 1, 16, cit.: “Ad hoc respondeo, quod certe Aristoteles non intellexit quod tales,
qui parum valente ingenio, sint natura alieni iuris, & non habeant dominium, & sui et
aliarum rerum: haec enim est servitutus civilis e& legitima, qu[i]a nullus est servus a
natura”. Referia ainda o passo de São Paulo (Rom., 13, 5) que impunha aos escravos a
obediência aos seus senhores.
9. Ibid., I, 3, 3.
10. Quanto aos guanches, Las Casas, acusava igualmente portugueses, franceses e
castelhanos, Historia de Las Índias, publicado pela primeira vez apenas em 1875, de
que se destaca a defesa dos guanches e dos negros, nos capítulos 17 a 27, publicados
em Portugal de forma autónoma e com título próprio: Bartolomeu de Las Casas,
Brevíssima Relação da Destruição de África (Lisboa: Antígona, 1996), capítulo III (XIX
no original), 5., 273.
11. O autor criticava a tomada de “mouros” da costa para lá do Bojador, Ibid., capítulo VI
(XXII no original), 5., 298.
12. Sobre a anterior posição de Las Casas e as acusações de ter sugerido ou mesmo
incentivado a introdução de escravos negros na América, existem diversas obras com
posições opostas; para uma síntese e crítica recentes, pode ver-se Nestor Capdevilla,
“Las Casas et des Noirs: quels problèmes?”, in Déraison, esclavage et droit – Les
fondements ideologiques et juridiques de la traite négrière et de l’esclavage, org. Isabel
Castro Henriques e Louis Sala-Molins (Paris: Éditions Unesco, 2002), 41-58.
13. Bartolomeu de Las Casas, Brevíssima Relação da Destruição de África, cit., capítulo IX,
5., 327.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1169
e este dano e estas ofensas que fazem a Deus não hão-de ser facilmente
recompensáveis.14
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1170 Margarida Seixas
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1171
27. No mesmo sentido, Jesús García-Añoveros, “Luis de Molina y la esclavitud de los negros
africanos en el siglo XVI: Principios doctrinales y conclusiones”, cit., 309: “Conviene
advertir que la institución de la esclavitud era comúnmente admitida en la época que
tratamos por todos los autores y practicada en muchísimos lugares del orbe. El Derecho
Romano y Canónico se limitaban a regularla, pues se consideraba una institución de
derecho de gentes, conforme al orden natural, aceptada por la filosofía natural e incluso
por la Sagrada Escritura, y cuyas raíces eran antiquísimas.”.
28. Pode ver-se Maria do Rosário Pimentel, Escravismo e antiescravismo em Portugal:
percurso e problemática da abolição, Tese de doutoramento em Estudos Portugueses,
apresentada à FCSH-UNL (Lisboa, 1989), vol. II, 423-451; Enriqueta Vila Vilar, “La
postura de la Iglesia frente a la Esclavitud. Siglos XVI y XVII”, cit., 26-27, referindo
alguns autores contrários à escravatura dos negros: os já mencionados Domingos de
Soto e Alonso Sandoval, Tomás de Mercado, frei Alonso de Montufar, Bartolomeu de
Albornoz, Francisco José de Jaca e Epifanio de Moirans. José Andrés-Gallego e Jesús
Maria García Añoveros, La Iglesia y la esclavitud de los negros, cit., 24-39, mencionam e
analisam muitos destes autores e ainda alguns outros, bem como missionários que se
opuseram, “no terreno”, à escravização como Gonçalo Leite e Miguel Garcia. Também
pode ver-se a síntese de Luis Carlos Amezúa Amezúa, “La cláusula suareciana sobre la
esclavitud de los negros”, Pensamiento: Revista de investigación e Información filosófica,
Vol. 74, Nº Extra 279 (2018): 238-245, que menciona vários dos autores referidos. Para
a posição assumida pelos professores da Universidade de Évora, Domingos Maurício,
S. J., “A Universidade de Évora e a Escravatura”, Didaskalia, vol. VII, fasc. 1 (1977):
153-200, refere não apenas Luís de Molina, mas também Fernão Pérez, Fernão Rebelo,
Estêvão Fagundes; ainda Carlos Alberto de Moura Ribeiro Zeron, “O debate sobre
a escravidão ameríndia e africana nas universidades de Salamanca e Évora”, in:
Jesuítas, ensino e ciência. Séculos XVI-XVIII, org. Luís Miguel Carolino e Carlos Ziller
Camenietzki (Casal de Cambra: Caleidoscópio, 2005), 212-213, destacando a “discussão
diferenciada sobre a américa espanhola, a América portuguesa e a África”. Pode ainda
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1172 Margarida Seixas
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1173
“cláusula” (consagrando o pagamento de um salário justo aos escravos negros pelo seu
trabalho nas minas, imprescindível para a obtenção de ouro e prata) tradicionalmente
atribuída a Suárez, na senda da indicação da sua autoria por Fernando de Rebelo, e,
posteriormente, por Diego Avendaño e Juan de Solórzano Pereira. Do mesmo autor,
referindo alguns destes e outros textos de Suárez, “Libertad natural y esclavitud
voluntaria: reflexiones de F. Suárez sobre la esclavitud”, Human rights and ethics/
Derechos humanos y ética – Proceedings of the 22nd IVR World Congress Granada 2005,
ARSP Beiheft Nº 108: 191-198.
32. Como, por exemplo, a propósito dos sacrifícios idólatras ou de imolação de crianças
e adultos, em que permite a sua libertação para salvar a vida dos mesmos, Francisco
Suárez, De fide (consultado em Opus De Triplici Virtute Theologica, Fide, Spe, Et
Charitate: In tres Tractatus, pro ipsarum virtutum numero distributum, Moguntiae:
Mylius Birckmannus, 1622), disputatio 18, sectio IV, 4, 171.
33. Francisco Suárez, Tractatus De legibus ac Deo legislatore in decem libros distributus,
cit., livro II, capítulo XIV, 16, 159: “Nam hac ratione libertas est de iure naturae, potius
quam servitus, quia natura fecit homines positive (ut sic dicam) liberos cum intrinseco
iure libertatis, non tamen ita fecit positive servos, proprie loquendo”. No mesmo sentido,
Ibid., livro II, cap. XVII, 2, 180: “Nam ius utile naturale dicitur, quando ab ipsa natura
datur, seu cum illa provenit, quomodo libertas dici potest ex iure naturali”. Ver ainda,
Ibid., no livro III, capítulo III, 7: “Nunc ostenditur ex adducto exemplo seu proportione
ad illud, nam libertas a servitute est naturalis hominis, et ideo dici solet esse de iure
naturae [...]”. Para confronto e confirmação das citações também utilizei a edição
crítica bilingue da obra, dirigida por Luciano Pereña Vicente, Corpus hispanorum de
pace, vols. XI-XV, (Madrid: Consejo Superior de Investigaciones Cientificas – Instituto
Francisco de Vitoria, 1971-1981).
34. Francisco Suárez, Defensio fidei Catholicae et apostolicae aduersus Anglicanae sectae
errores: cum responsione ad Apologiam pro iuramento fidelitatis & Praefationem
monitoriam Serenissimi Iacobi Angliae Regis, Coimbra: Diogo Gomez de Loureiro,
1613, III, cap. II, 9, 220: “Exemplum est de libertate hominis, qu[a]e servituti opponitur:
est enim de iure naturali, quia ex vi solius naturalis iuris homo nascitur liber, nec potest
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1174 Margarida Seixas
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1175
37. Hugo Grócio, De iure belli ac pacis libri tres, in quibus jus naturae et gentium; item
júris publici praecipua explicantur (Amesterdão: Johannem Blaev, 1646 [a 1ª edição
desta obra é de 1625]), livro II, cap. V, §. XXIX, 159: “Sed cum hoc jus naturaliter
ortum ducat ex ipsa necessitate, extra eam non est jus parentibus prolem suam cuiquam
addicere […]”. Grócio admitia o acordo que determinava a escravidão perpétua da
descendência não nascida dos escravos que se vendiam (livro III, cap. XIV, §. VIII,
547-548).
38. Samuel Pufendorf, De iure naturae et gentium libri octo (Lund: 1672 [1ª edição]), livro
VI, cap. III, §. 4, 840; §. 9, 847-848, entre outros trechos. Do mesmo Autor, De officio
hominis et civis iuxta legem naturalem libri duo (Leipzig: Gottlieb Gerhard Titius, 1709
[a 1ª edição é de 1673]), livro II, cap. IV, §.1, 510-511, e §.3, 513.
39. Para o desenvolvimento deste tema, podem ver-se as obras citadas, em especial as da
nota 28, bem como, para um tratamento extenso de cada uma das formas de aquisição
do estatuto de escravo no contexto jurídico-filosófico português, Margarida Seixas,
Pessoa e Trabalho no Direito Português (1750-1878): escravo, liberto e serviçal, cit.,
277-343.
40. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit., livro II, capítulo XIX, 8, 190: “In hoc
etiam ordine constituo servitutes: nam illo iure utuntur populi, et gentes inter se, et non
erat necessarium ex pura naturali ratione; posset enim alius modus poenae introduci, ut
dixi; nunc autem tale est hoc ius, ut et rei teneantur hanc poenam sustinere eo modo,
quo introducta est, et victores non possint iuste gravius punire hostes iam victos, et finito
bello, nisi alius specialis titulus interveniat.”.
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1176 Margarida Seixas
[...] por vezes resulta do direito das gentes ou do civil, como o poder do
senhor sobre o escravo cativo de guerra; noutras, resulta de um contrato,
como o domínio sobre o escravo que se vendeu, de modo que parece o
poder que pelo voto de obediência é conferido àquele a quem a obediência
se promete.44
41. Suárez dedica especificamente ao ius gentium os capítulos XVII, XVIII, XIX e XX, os
últimos do livro II do Tractatus De legibus..., cit., 180-184, 184-187, 187-191, 191-194.
Ver, em especial, para referências à escravidão adquirida por guerra, no capítulo XVII,
os §§. 2, 3; no capítulo XVIII, §§. 5, 8 e, para referência ao ius postliminio, §. 9.
42. Ibid., cit., livro II, capítulo XVII, 1, 180: “[...] est illi propinquissimum et quasi medium
inter naturale et humanum, et priori extremo vicinus”.
43. No mesmo sentido, ver, por exemplo, Francisco Suárez, Defensio fidei..., cit., livro III,
capítulo I, 8, 216: “Imo subiectio aliqua est homini naturalis, vel supposito naturali modo
generationis, ut est subiectio filii ad patrem, vel supposito aliquo pacto ut est subiectio
uxoris ad virum” ou, apenas quanto ao poder paternal, Ibid., livro III, capítulo II, 3, 218:
“[...] nam potestas patris in filium moralis est, et a Deo ipso ut auctore naturae immediate
confertur, non ut peculiare donum a natura omnino distinctum, sed ut necessario
consequens illam, supposito generationis fundamento, sicut e contrario subiectio filii ad
patrem naturalis est, et a Deo immediate, non ex peculiari institutione addita naturae,
sed ut necessario consequens ad talem naturam rationalem sic productam.”.
44. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit, livro I, capítulo VIII, 5, 27: “[...] aliquando
est ex iure gentium, vel civili, ut potestas domini in servum bello captum; interdum ex
humano contractu, et ut dominium in servum qui se vendidit, et huc spectat potestas,
quae per votum obedientiae confertur ei, cui obedientia promittitur”. Também, no livro
II, capítulo XVII, 2, 107: “Diz-se civil o que foi introduzido pelo direito civil, como
o direito de prescrição, das gentes aquilo que temos pelo uso comum das nações,
como o direito de transitar pelas vias públicas ou o direito de escravidão introduzido
pela guerra” (“Civile dicitur, quod ius civile introduxit, ut ius praescriptionis, Gentium
quod ex communi usu gentium habetur, ut est ius transeundi per vias publicas, vel ius
servitutis bello introductum”).
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1177
45. Francisco Suárez, Defensio fidei..., cit., livro III, capítulo II, 14, 222: “Nam immediate
non dedit Deus (ordinarie loquor) alicui homini proprium et peculiare dominium
alicuius rei, sed immediate omnia fecit communia. Privata autem dominia partim iure
gentium, partim iure civili introducta sunt, et nihilominus illa etiam privata dominia
sunt mediate a Deo, tum quia ducunt originem ex prima donatione Dei, tum etiam quia
per suam generalem providentiam ad illa concurrit, tum denique quia illa servari vult,
postquam sunt constituta.”
46. Ibid., cit., livro III, capítulo II, 14, 222: “Sicque dixit Augustin, tract. 6 in Ioan. in fine:
Unde quisque possidet quod possidet? Non ne iure humano? Nam iure divino domini est
terra, et plenitudo eius, iure tamen humano dicit, Haec villa mea est, haec domus mea,
hic servus meus est”.
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1178 Margarida Seixas
A [São] Paulo, que afirmava “Não vos façais escravos dos homens”, se
responde que não fala de sujeição civil, nem mesmo da escravidão penal ou
rigorosa, pois nenhuma se opõe ou derroga o preço da redenção de Cristo,
pois o mesmo Paulo antes dissera “Eras escravo quando foste chamado?
Não te preocupes com isso.48
47. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit., livro II, capítulo XIV, 14, 158: “Divisio
ergo rerum non est contra ius naturale positivum, quia nullum erat naturale praeceptum,
quod illam prohiberet”. No mesmo sentido, Ibid., livro II, capítulo XIV, 16, 159: “Quo
sensu manifestum est divisionem rerum non esse contra ius naturale quod illam
prohibeat absolute et simpliciter.”. Ver os §§. seguintes (17 a 19, 159-160).
48. Francisco Suárez, Defensio fidei..., cit., livro III, capítulo IV, 22, 237: “Ad Paulum autem
respondetur, cum ait, Nolite fieri servi hominum, non loqui de civili subiectione, imo nec
de servitute poenali, seu rigorosa: neutra enim repugnat vel derogat pretio redemptionis
Christ, nam ibidem paulo antea dixerat, Servus vocatus es? Non sit tibi curae.”. No
mesmo sentido, repetindo em parte o que afirma neste ponto, Tractatus De legibus...,
cit., livro III, capítulo V, 12, 214.
49. Ibid., livro III, capítulo IV, 18, 235: “Quod certe satis confirmat Paulus in epist. ad
Philemonem, in qua manifeste supponit, propter fidem quam Philemon habebat et
Onesimus servus eius susceperat, nec illi fuisse ablatum ius dominii, nec huic servitutem
esse ademptam.” (“Confirma-o certa e suficientemente Paulo na carta a Filémon, na qual
supõe de forma manifesta não fora pela mesma fé que Filémon tinha e o seu escravo
Onésimo recebera que se extinguira o direito de domínio ou que fora anulada a sua
escravidão”).
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1179
Nos quais também consta que, se a alguém é lícito reduzir outro ao cati-
veiro ou à escravidão, inclusive pela força, por isso mesmo o outro está
obrigado a submeter-se e a não resistir, porque a não pode existir guerra
justa de ambas as partes.51
Mas, pelo contrário, pode uma comunidade estabelecer que uma certa
determinação de direito das gentes não seja cumprida no seu território e
entre os seus membros, e isto é possível e moral. Assim, o direito das gentes
sobre a escravidão dos cativos em guerra justa foi modificado na Igreja
e não é cumprido entre os cristãos por força de um antigo costume ecle-
siástico, o qual como direito das gentes especial entre os fiéis é por todos
observado, como notavam Bártolo e Covarrubias.52
50. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit., livro III, capítulo V, 12, 214: “Obedientia
ergo ad homines si sit iusta et honesta, non est contra Christi redemptionem, sed est
paci et iustitiae consentanea. Ataque ita exposuit illa verba Chrysostomus (Homilia
19, In 1 ad Corinthios) qui etiam addit posse servum, manentem servum secundum
humanam conditionem, exuere conditionem servile, non serviendo domino ut homini
sed ut Christo [...]”.
51. Ibid., cit., livro II, capítulo XVIII, 5, 186: “In quibus etiam constat si uni licet alterum
in captivitatem vel servitutem redigere, etiam cogendo illum, eo ipso teneri hunc ad
parendum et non resistendum, quia non potest esse bellum iustum ex utraque parte.”.
52. Ibid., livro II, capítulo XX, 8, cit., 194: “Alio vero modo potest aliqua communitas
praecipere, ut inter partes, et membra sua tale ius gentium non servetur, et hic modus
est possibilis, et moralis. Sic enim ius gentium de servitute captivorum in bello iusto
in Ecclesia mutatum est, et inter Christianos id non servatur ex antiqua Ecclesiae
consuetudine, quae veluti speciale ius gentis fidelis, et omnino servandum ut notavit
Barthol [us] in l. hostis, ff. de captivis, n. 16 et Covar [rubias] plures alios referens in
Regulae peccatum, 2 parte, § 11, num. 6)”. Também, por exemplo, no Defensio fidei...,
cit., livro III, capítulo II, 20, 224: “Quando ergo bellum iustum habuit titulum, tunc
revera privatur populus potestate quam habebat, et princeps, qui contra illum praevaluit,
verum ius et dominium talis regni acquisivit, quia, supposita iustitia belli, illa est iusta
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1180 Margarida Seixas
[…] o homem não é apenas senhor dos seus bens externos, mas também
da própria honra e fama […], assim também é senhor da sua liberdade e
segundo o direito natural pode aliená-la e sujeitar-se à escravidão.56
poena, sicut capti in iusto bello privantur libertate a natura concessa, et efficiuntur vere
servi in poenam iustam.”.
53. Sobre esta problemática, ver, por exemplo, José Eisenberg, “A escravidão voluntária
dos índios do Brasil e o pensamento político moderno”, in Análise Social, vol. XXXIX,
170 (2004): 11-12.
54. A discussão epistolar traduziu-se num conjunto de cartas trocada entre os dois jesuítas.
A única cópia hoje disponível é a da Biblioteca Municipal de Évora, Livro sobre os
índios do Brasil, códice CXVI/1-33, fls. 145-146.
55. Segundo José Eisenberg, “A escravidão voluntária dos índios do Brasil e o pensamento
político moderno”, cit., 24, nota 44, Manuel da Nóbrega cita Soto e não Vitória porque
“o De iustitia et iure de Soto foi publicado quatro anos antes do relectio De indis (1557),
primeira obra de Vitória a vir a público. O tratado de Soto tornou-se a principal
referência da teoria legal dominicana no período”.
56. Luís de Molina, De iutitia et iure, cit., II, tractatus II, disputatione 33, col. 160, cit.: “[…]
hominem, sicut non solum externorum suorum bonorum, sed etiam proprii honoris
& famae est dominus […] sic etiam dominium esse suae libertatis, atque adeò stanto
in solo iure naturali, posse eam alienare, seque in servitutem redigere.”. Também na
disputatione 35, col. 181A a 184E.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1181
57. Ibid., disputatione 33, col. 160E e 161A para o primeiro aspecto e col. 161D/E e 162 e
disputatione 35, col. 181C e ss. para o segundo.
58. Ibid., disputatione 35, col. 181C. Sobre o tema, já antes tinham escrito vários autores;
ver, por exemplo Domingos de Soto, De Iustitia et Iure (Lugduni, apud Gulielmum
Rovillium, 1559), liber IV, quaestio II, articulus II Vtrum homo homini dominus esse
possit, 209-211, e também Martim Azpilcueta (Doutor Navarro), a questão está tratada
em Enchiridion, sive manuale confessariorum el panitentium (também editado apenas
como Manuale confessarionum et poenitentium) (Antuerpia, apud Philip Nedium,
1573), cap. XXIII De septem vitiis capitalibus, §.11 De fraude filia sexto genita avaritiae,
nºs 95-98, fls. 190-191.
59. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit, livro II, capítulo XIV, 18, 160: “[...] quam
vis natura dederit libertatem, et dominium eius, non tamen absolute prohibuisse, ne
auferri possit. Nam in primis eo ipso, quod homo est dominus suae libertatis, potest eam
vendere, seu alienare”.
60. Francisco Suárez, Defensio fidei..., cit., livro III, capítulo II, 17, 223: “Exemplum est
in servitute: nam si aliquis homo se vendat in servum alteri, servitus illa simpliciter est
de iure humano, et potestas quam dominus in servum accipit ab ipso servo immediate
data est per potestatem et libertatem naturalem quam ipse immediate habuit ab auctore
naturae.”.
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1182 Margarida Seixas
Logo, ainda que o rei tenha recebido do povo aquele domínio por força de
doação ou contrato, não pode o povo privar o rei desse poder nem reclamar
novamente a sua liberdade. Do mesmo modo, a pessoa particular que
renunciou à sua liberdade e se vendeu ou deu como escravo não pode mais
tarde eximir-se da escravidão a seu arbítrio.62
Suárez também referia que o Estado podia, com uma razão justa (por
exemplo, para o castigar), privar o homem da sua liberdade63. Embora
associemos actualmente este castigo à pena de prisão, nos séculos XVI
e XVII, a legislação portuguesa previa preferencialmente a pena de galés
(trabalhos forçados) e mesmo a pena de servidão/escravidão, mas esta
última de forma muito menos frequente do que em séculos anteriores.
A obediência ou submissão devida ao senhor era aquela que já São
Pedro, citado por Suárez, recomendara:
E depois ordena aos escravos que se sujeitem aos seus senhores, não apenas
aos bons mas também aos severos.64
61. Por exemplo, Ibid., livro III, capítulo III, 3, 225: “E pela mesma razão, se o rei justo
transformou o seu poder em tirania, abusando dele em manifesto prejuízo da comunidade,
pode o povo usar o poder natural para se defender; pois dele nunca se privou.” (“Et
eadem ratione si Rex iustam suam potestatem in tyrannidem verter et, illa in manifestam
ciuitatis perniciem abutendo, posset populus naturali potestate ad se defendendum vti,
hac enim nunquam se priuauit”).
62. Ibid., livro III, capítulo III, 2, 224: “Ergo quamvis rex habuerit a populo illud dominium
per donationem vel contractum, non ideo licebit populo dominium illud regis auferre,
nec libertatem suam iterum usurpare. Sicut particularis persona quae suae libertati
renunciavit et se in servum vendidit aut donavit non potest postea suo arbitrio se a
servitute eximere.”.
63. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit, livro II, capítulo XIV, 18, 160: “Respublica
etiam per potestatem altiorem, quam habet ad regendos homines, potest ex justa causa
(ut in poenam) hominem privare sua libertate”.
64. Francisco Suárez, Defensio fidei ..., cit., livro III, capítulo IV, 10, 233: “Et deinde praecipit
servis subditos esse dominis, non tantum bonis, sed etiam discolis.”. No mesmo sentido,
Tractatus De legibus..., cit, livro III, capítulo V, 11 (in fine), 214.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1183
palavras está incluído que os fiéis devem obedecer aos seus pais, os servos
aos senhores e os súbditos aos superiores.65
Ainda assim, o poder que o dominus tinha sobre o escravo não era
um poder absoluto e antes um “quase-domínio”, que excluía a possibi-
lidade de matar ou maltratar o servo:
65. Francisco Suárez, Tractatus De legibus..., cit, livro III, capítulo V, 11, 213-214:
“Ad tertium (ex Mat. ultimo) primo Christum dicendo docentes eos servare omnia
quaecumque mandavi vobis, non excluisse alia [...] Unde in illis verbis continetur quod
fideles debant obedire parentibus et servi dominis et subditi praelatis.”.
66. Ibid., livro I, capítulo VIII, 5, 27: “Atque hinc sequitur secunda differentia, quia in
potestate iurisdictionis multa maior vis ad coercendum, et cogendum invenitur, quam
in potestate dominativa [...] Et ita non licet domino saevire in servum, ut dicunt iura
civilia, expeditque reipublicae, ut severior correctio non nisi auctoritate publica fiat.”.
Igualmente em Operis de religione: Pars secunda..., tractatum 7, lib. 9, cap. 4, 1, 278.
67. Francisco Suárez, De sacramentis, consultado na edição Commentariorum ac
disputationum in tertiam partem divi Thomae; tomus tertius: qui est primus De
sacramentis (Mainz: Balthasar Lippius, 1619), a propósito do baptismo dos filhos dos
infiéis, disp. XXV, quanto aos filhos, sec. IV, 263-266; quanto aos filhos e cônjuges,
sec. V, 267-269 (afirmando, na 268, col. 2, que o poder paternal se transfere para o
senhor – “ius paternum translatura in dominum” – e que este exerce apenas o seu
direito); também quanto aos filhos, sec. VI, 269-271.
68. E sem pretensão de exaustividade, uma vez que o meu objectivo é a exemplificação do
pensamento de Suárez através de uma amostra dos seus textos. Para uma indicação
de alguns dos textos que refiro neste artigo e de outros que não menciono, pode ver-se
Luis Carlos Amezúa Amezúa, “Libertad natural y esclavitud voluntaria: reflexiones de
F. Suárez sobre la esclavitud”, cit., indicando excertos das seguintes obras: De opere sex
dierum, Defensio fidei, De legibus, De sacramentis, De charitate, De censuris, De fide, De
religione, De incarnatione, De iustitia Dei.
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1184 Margarida Seixas
que outras ideias (ou estas, com novas roupagens e diferente contexto)
se afirmassem para que a escravidão pudesse ser considerada ilegítima
e fosse defendida a sua abolição, mesmo que gradual, num pensamento
mais claramente anti-esclavagista.
69. Ordenações Filipinas, livro IV, títulos XXXIII (Que se não possa pedir soldada, ou serviço
passados tres annos), XXXIV (Do que lança de casa o criado que tem por soldada) e
XXXV (Do que demanda ao criado o dano que lhe fez), (Lisboa: Fundação Calouste
Gulbenkian, 1985), 811-812.
70. Também distinguindo o poder sobre os famulis (que designava oeconomica) como
diferente do poder sobre os escravos e sobre filhos, Francisco Suárez, De fide, cit.,
disputatio 18, sectio V, 1, 173.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1185
71. Francisco Suárez, De legibus ac Deo legislatore in decem libros distributus, cit., livro III,
capítulo XXI, 8, 171: “Similiter etiam servus tenetur in conscientia parere Domino, ut
plane docet Paulus locis citatis, & sumitur ex 1. Petri a ex. cap 1. de coniugio servorum,
& de omnibus famulis in eo, quod ex officio facere tenentur, idem est manifestum […]”.
72. Manuel Alonso Olea, De la servidumbre al contrato de trabajo (Madrid: Tecnos, 1979),
29: “[...] al reflexionar éste incidentalmente sobre los tipos de obediencia debidos, del
siervo dice sin más que está obligado a obedecer a su amo, mientras que los ‘criados’ –
famulis – afirma que sólo deben obediencia «en lo que por su oficio están obligados a
hacer», únicos servicios que pueden ser exigidos del trabajador que ha arrendado los
suyos [...]”.
73. Ibid.: “[...] y que además lo ha hecho, supone Suárez, en contemplación arrendador y
arrendatario de las prestaciones ciertas que derivan, se diría hoy, del oficio o cualificación
profesional [...]”. Do mesmo Autor, “La Persona Humana y la Prestacion de sus
Servicios (Un apunte sobre historia de las ideas de Bodino a Hegel)”, Anales de la Real
Academia de Ciencias Morales y Políticas, núm. 53 (1976): 210-212.
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1186 Margarida Seixas
No que toca à jurisdição sobre os criados que não são escravos, e que
servem com base num contrato, deve observar-se que o senhor terá sobre
eles tanta autoridade quanto ficar estipulado no contrato, de modo que, se
74. Luís de Molina, De iutitia et iure, II, disp. 505, De famulis qui ad seruiendum locant, col.
1135-1138, e disp. 506, De iusta famularum mercede, col. 1138-1044, desenvolve com
bastante pormenor esta matéria.
75. Sobre o Autor, v. algumas notas em Mário Santiago de Carvalho, O Curso Filosófico
Jesuíta Conimbricense (Coimbra: Imprensa da Universidade de Coimbra, 2018), 15-16.
DOI: https://doi.org/10.14195/978-989-26-1544-8.
76. Este texto (De materia restitutionis, BNP, cod. 5995) está a ser preparado para edição
na colecção A Escola Ibérica da Paz nas Universidades de Salamanca, Coimbra e Évora
(Século XVI), dirigida por Pedro Calafate.
77. Também este texto (Materia de restitutione, BNP, cod. 6015) está a ser preparado
para edição, no mesmo volume da colecção Escola Ibérica da Paz, dirigida por Pedro
Calafate. O tratado deve ter sido redigido no final do século XVI, talvez um pouco antes
do tratado de Cosme de Magalhães.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1187
78. Sobre o processo de elaboração da obra e os vários manuscritos existentes, pode ver-
se a edição do De Legibus dirigida por Luciano Pereña Vicente, Corpus hispanorum de
pace, vol. XI, cit., XXVI-XLI.
79. Francisco Suárez, “Utrum licitae sunt conditiones positae familiaribus domini, domini
Alexandri Brigantini? Consilium”, Conselho e Pareceres, volume II, tomo II (Coimbra:
por ordem da Universidade, 1952), 335-347.
80. Consultei o seguinte: Francisco J. Andrés Santos e Luis Carlos Amezúa Amezúa, in
“Observaciones sobre el contrato de servicios a la luz de un dictamen de Francisco
Suárez”, O Sistema Contratual Romano, coord. Jorge Miranda, org. de Eduardo Vera-
Cruz Pinto (Lisboa: Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa/Coimbra Editora,
2010), 427-447.
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1188 Margarida Seixas
81. Francisco Suárez, “Utrum licitae sunt conditiones positae familiaribus domini, domini
Alexandri Brigantini? Consilium”, cit., 336: “Quaeritur septimo, an sit justus sequens
contractus:vsque ad sextum annum remunerabo tibi justo praetio obsequia, quae mihi
praestiteris, sexennio vero elapso incurres obligationem, ut nullam a me remunerationem
excectes, quandiu mihi deinde servieris”.
82. Ibid., 340: “Ad septimum dico praepositum contractum mihi videri injustum, neque
a me inveniri posse viam aliquam ad illum justificandum [...] servum in eo caso non
voluntarie, sed coactae talem sibi imponere obligationem propter necessitatem serviendi,
quam necessitatem Dominus illi quodammodo vendit, dum facit euam tam inaequaliter
obligari.”.
83. Francisco J. Andrés Santos e Luis Carlos Amezúa Amezúa, “Observaciones sobre el
contrato de servicios a la luz de un dictamen de Francisco Suárez”, cit., 439: “[...]
Suárez no es coherente [...]”.
84. Ibid., 440: “[...] no puede tener otra causa sino la situación de necesidad o pobreza
extrema de quien pone su misma persona a la venta [...]”.
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Trabalho livre e trabalho escravo na obra de Francisco Suárez 1189
feria a vontade livre do contraente, que agia “não voluntária mas coactiva-
mente” ou, pelo menos, era passível de tornar o contrato usurário, pois o
comprador explorava essa situação de necessidade.
Esta posição reforça a natureza casuística de muitos dos textos dos
autores da Segunda Escolástica, que admitiam uma variação nem sempre
coerente face a princípios afirmados como imutáveis, evidenciando a difi-
culdade de responder a problemas concretos criticando abertamente insti-
tuições consolidadas.
O outro aspecto é tratado na resposta à décima dúvida, perguntan-
do-se se o serviçal podia ser obrigado a tarefas ou obrigações não previstas
no contrato inicialmente celebrado, desde que a remuneração já paga fosse
suficiente para a ampliação. Suárez respondia favoravelmente, embora
afirmasse que o serviçal podia despedir-se, se não lhe agradasse essa modi-
ficação, e que, apesar de verificar “alguma força e violência”, a mesma não
era “injusta” desde que o pretendido não excedesse “os limites da justiça”85.
Parece existir aqui uma flexibilidade quanto ao objecto contratual, pois o
serviçal obedeceria já não ao estritamente estipulado no contrato, numa
aproximação ao ius variandi (faculdade do empregador de alargar unila-
teralmente o objecto do contrato de trabalho), mas com o limite da remu-
neração justa.
No Tratado jurídico de Gregório Martins Caminha, numa edição de
1610, contemporânea de Suárez, encontramos a minuta de contrato a
celebrar entre o amo e o trabalhador livre que o servia a troco de soldada;
este último obrigava-se nos seguintes termos:
Saybam quantos este contrato virem como eu ff. morador em tal parte,
digo que eu me ponho a soldada com vós ff. que estaes presente por tantos
annos, que começaram por tal dia, pera que vos sirva o ditto tempo em
todo, o que me mandares, que honesto, e possivel seja.86
85. Francisco Suárez, “Utrum licitae sunt conditiones positae familiaribus domini, domini
Alexandri Brigantini? Consilium”, cit., 344: “[...] nisto intervém alguma força e violência,
no entanto esta não é injusta, desde que o que é pretendido não exceda os limites da
justiça” (“[...] in hoc intervenire aliqua vis, et violentia, ea tamen non est injusta cum id
quod modo postulatur, non excedat limites justitiae”).
86. Gregório Martins Caminha, Tractado da forma dos libellos, e das allegações judiciaes,
e do processo do juizo secular, & ecclesiastico, & dos contratos com suas glosas do
licenciado Gregorio Martins Caminha. Reformado de novo com addições, e annotações
copiosas das Ordenações novas do Reyno, leys de Castella, & modernos, & outras formas
de libellos, petições, & allegações judiciaes com a conferencia dos titulos das Ordenações
antiguas com as novas. Compostas pello Doutor Joam Martins da Costa (Lisboa: Pedro
Crasbeeck, 1610), fl. 88vº.
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Este amo era servido não apenas a troco de um ordenado que pagava
em dinheiro mas também mediante certas condições, que podiam ser as
seguintes, na mesma minuta: “E vós o dito ff. Me aveis de dar de comer
e beber, vestir, e calçar, e cama, em que durma, e vida razoada, e tantos
cruzados de soldada em cada hum anno por tal dia, &c.”87.
A obediência ao amo surgia aqui já delimitada, não pela função ou
ofício exercido, como encontramos em Suárez, mas circunscrita ao que
fosse “honesto e possível”. Ficava, todavia, bem marcado o pressuposto
no texto de Suárez: esta era uma relação contratual e regulada pelas cláu-
sulas acordadas entre as partes contraentes.
Conclusão
87. Ibid.
88. Hugo Grócio, De iure belli ac pacis libri tres, in quibus jus naturae et gentium; item júris
publici praecipua explicantur (Amesterdão: Johannem Blaev, 1646 [a 1ª edição desta
obra é de 1625]), livro II, cap. V, §. XXX, 159-160.
89. Ibid., livro II, cap. V, nota ao §. XXX, 169: “Mercenariorum] Inter quos ii in Anglia
apprenrisii dicuntur durante disciplinae suae tempore proxime ad servilem conditionem
accedunt”.
90. Pascoal José de Mello Freire, Instituições de Direito Civil Português, edição traduzida
por Miguel Pinto de Meneses (Boletim do Ministério da Justiça, Lisboa, 1966), Livro II,
Título I, § XIV, 20, sublinhado meu. Na outra edição que consultei, Institutiones juris
civilis Lusitani: cum publici tum privati (Lisboa: Typ. Academia Regia, 1828), Volume
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2, De jure personarum, pode ler-se Ҥ. XIV Qui alicujus in famulatu fuerint, servi proprie
non sunt; sua enim voluntate serviunt [...]”.
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1195-1218.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1195
Abstract
This paper engages with Suárez’s writings on the origins of political power in order
to ascertain whether he can be considered a social contract theorist at all. It focuses on
specific details of his consent theory, namely the ‘who’, the ‘what’, the ‘how’ and the ‘what
for’ of the agreements that originate government. The conclusion shows that even though his
systematic treatment of contracts falls short of becoming a social contract theory in the same
way as modern contractualist thinkers, he can still be considered a social contract theorist in
the tradition of the School of Salamanca.
Keywords: contractualism, counter-reformation, school of Salamanca, social contract,
social philosophy, Suárez.
T
he extensive literature on the social contract is myriad and, iron-
ically, full of disagreement. Disputes tend to be threefold. They
revolve around the essential characteristics that comprise an actual
social contract theory; the accurate historical origins of the concept; and
which writers or writings belong to a history of the social contract. The
three types of dispute, however, are intertwined insofar as assertions and
judgements concerning the proper ingredients of the social contract work
as criteria for solving problems concerning sources and membership.
Discussions about Francisco Suárez’s usage of the social contract
fit into these larger disputes. The problem of membership of a specific
category (such as a social contract tradition) depends upon how to char-
acterize the category in the first place. If commentators disagree about
* This work was supported by Fundação para a Ciência e a Tecnologia (Portugal), Grant/
Award Number: IF/01587/2015.
** Nova University of Lisbon, Faculty of Social Sciences and Humanities (Portugal).
andrecampos@fcsh.unl.pt
1195-1218
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the basic tenets of the concept of the social contract, then their different
responses to whether Suárez was a social contract theorist may not be
actual disagreements about how to interpret Suárez but about how to
regard a social contract.1 When discussing Suárez’s terminology of pacts
and contracts, they are often talking past one another – if their premises
differ, it is likely that their conclusions will differ as well.
The following pages reverse this methodological order. Firstly, they
present a brief historical characterization of the intellectual context in which
Suárez wrote about the social contract, within the School of Salamanca.
Secondly, they engage with Suárez’s writings in order to ascertain how his
references to contracts respond to problems of membership, formation
and purpose in the context of political obligation. The conceptual mecha-
nisms to understanding the nature of the social contract are to be traced
to his metaphysical assumptions. The conclusion shows that even though
his systematic treatment of the contract falls short of becoming a social
contract theory in the same way as Hobbes, Locke, Pufendorf, Rousseau
and Kant, he is still a full social contract theorist in the tradition of the
School of Salamanca.
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1198 Andre Santos Campos
2. Possible causes for this historical pressure are myriad: increasing interest in
biblical exegesis and in the study of Old Testament history; the ideas and practices
of the Reformed Churches; the legal arrangements of the German Empire, Aragon,
Switzerland, Poland, and Holland; the rise of capitalism; the gradual breakdown of the
extended family; the increasing appeal of urban life in detriment of rural areas; the rise
of individualism and of rationalism; and the impact of the scientific revolution. What
seems relevant in such a discussion is that religious conflict and political turmoil bring
forth the need to address issues of toleration and normative legitimacy under a new
frame of reference. In the beginning of the seventeenth century, two further historical
events contributed to such a pressure: the demise of a feudal organization of society
established with the birth of the modern nation-state that sprung from the Peace
of Westphalia in 1648; and the growing adoption of methods of analysis inherited
from scientific experimentation, more specifically the resolutive-compositive method
whereby the existence of wholes was explained from the standpoint of the constitutive
activities of their parts. Cf. Harro Höpfl and Martyn P. Thompson, ‘The History of
Contract as a Motif in Political Thought’, The American Historical Review 84 (1979).
3. The expression ‘school of Salamanca’ labels sixteenth-century Iberian Scholasticism
rooted in the intellectual and pedagogical work of Francisco de Vitoria. However, it
is far from being limited to the university of Salamanca insofar as it spread in an
‘ideological trade’ with the universities of Coimbra and Évora, in Portugal. See Luciano
Pereña, ‘La Escuela de Salamanca’, in La Ética en la Conquista de América: Francisco de
Vitoria y la Escuela de Salamanca, edited by Luciano Pereña (Madrid: Consejo Superior
de Investigaciones Científicas, 1984), 308.
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Francisco Suárez’s Conception of the Social Contract 1199
of the Americas.4 Consent theory, which seemed to prove more and more
influential either in arguments about freedom of religion or in argu-
ments against divine right monarchy, now served a new purpose – that of
regulating the relations between the conquistadors and the Amerindians
without contradicting the religious expectations of expansion of the papal
camp. These theologians and missionaries5 wanted to demonstrate that
political society was the immediate creation of men and served temporal
ends, whereas religious communities were created directly by God and
served spiritual ends. They still believed that the urge prompting men
to form a society of any kind might be the product of nature and divine
inspiration, yet it remained the case for them that the people were logi-
cally prior to their rulers and possessed the capabilities of participating in
their appointment. Spiritual power was bestowed by God directly to the
church; but temporal power was bestowed by God directly to the commu-
nities, which in turn, by means of election or any other form of collective
appointment, could organize it at will regardless of its religious commit-
ments.6
4. Cf. José Pereira, Suárez: Between Scholasticism and Modernity (Milwaukee: Marquette
University Press, 2006), 67-96, who mentions two different intellectual movements in
reaction to the conquest of parts of the New World by the Spaniards from the late XVth
century: what he calls ‘the Catholic Enlightenment’, which focused on freedom and the
peoples’ rights to self-determination by making use of the Scholastic method; and ‘the
Catholic Dis-Enlightenment’, comprised of theologians such as Juan Palácios Rubios,
Juan de Sepúlveda, and García de Toledo, who favoured oppression of the American
natives in the light of their infidelity and depravity. Suárez supposedly incorporates the
fulfillment of the former.
5. Theologians include, in Spain, Francisco de Vitoria, Domingo de Soto, Diego
Covarrubías y Leyva, Melchor Cano, Alonso de Veracruz, Juan de la Peña, Serafim de
Freitas; and, in Portugal, Martín de Azpilcueta (Dr. Navarrius), Martín de Ledesma,
Fernando Pérez, Luis de Molina, Pedro Simões, Fernão Rebelo. Missionaries include
Bartolomé de las Casas, Manuel da Nóbrega, José de Acosta, Juan Zapata y Sandoval,
and António Vieira.
6. See Martín de Azpilcueta’s (Dr. Navarrius) words: ‘The emperor receives the diadem
and the crown from the Roman pontiff neither by divine institution nor by a power
exclusively conferred upon him by Christ, but rather by human constitution added
when transferring the imperium. … There is a further difference between the temporal
and the spiritual power: namely, the fact that, even though both derive from God, the
former only derives indirectly. Temporal power is instituted through an express or
tacit election by the community, by means of which it grants to another that which
was theirs, or through a succession grounded on such an election’ (Relectio C. novit de
iudiciis, adnot. III, 1548, fol. 79, 86). Similar thoughts can be found in Francisco de
Vitoria, Relectio de Indis (Salamanca: 1537-1538), I.2.2; Domingo de Soto, De iustitia et
iure (Salamanca: 1556), bk. IV, q. II; Diego de Covarrubias y Leyva, Relectio in regulam
peccatum, in Omnium Operum (Salamanca: 1577), vol. II, par. 9. For all these sources,
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1200 Andre Santos Campos
see Pedro Calafate (org.), A Escola Ibérica da Paz, 2 vols. (Coimbra: Almedina, 2015).
7. A mistake often reproduced in the literature: see, for instance, J. W. Gough, The Social
Contract. A Critical Study of Its Development (Oxford: Clarendon Press, 1957), 68-71.
8. For further developments on this thesis, including additional references to supporting
sources to such broad claims, see our ‘The Idea of the Social Contract in the History of
“Agreementism”’, The European Legacy 6 (2019).
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1202 Andre Santos Campos
such cases, the contracting parties are families represented by their patres-
familias and civil power comes about only by subsidiarity.
10. D.L. III.1.3 (STW, 365). The thesis that families are natural communities that precede
and constitute civil societies by endowing them with certain powers by subsidiarity
already shows in earlier works such as De sacramentis. Disputatio XXV: De baptismo
parvulorum (Opera, vol. 20, 421-449), as well as in his De opere sex dierum, V.3-7 (Opera,
vol. 3, 289-419).
11. In his early lessons on faith (De fide. Disputatio V; Opera, vol. 12, 201-212), he already
seemed to claim that power derived from human individual wills. Further in the D.L.,
he states, for instance, that power derives ‘from singular men’ (a singulis hominibus)
(D.L. III.3.1); that ‘singular men have, by the nature of things, a partial (so to speak)
capacity to build or make a perfect community’ (singulos homines ex natura rei habere
partialiter (ut sic dicam) virtutem ad componendam seu efficiendam communitatem
perfectam) (D.L. III.4.1); and that ‘the commonwealth derives from men’ (principatus
ipse est ab hominibus) (D.L. III.4.5).
12. For instance, he says that ‘this power is in the human community by the force of
nature alone’ (potestatem hanc ex vi solius naturae esse in hominum communitate)
(D.L. III.2.4); that ‘there is no power in human nature until men come together in
a perfect community’ (potestatem non resultare in humana natura donec homines
in unam communitatem perfectam congregentur ) (D.L. III.3.6); and that power ‘is
immediately in the community’ (immediate sit in communitate) (D.L. III.4.8).
13. References to the people as the true origin of power appear as early as in his treatise
De bello of 1584 (De charitate. Disputatio XIII; Opera, vol. 12, 737-763). Further
references can be found, for instance, in D.L. III.4.4, when he mentions ‘the people’s
consent’ (populi consensionem); and often throughout the Defensio fidei catholicae, et
apostolicae adversus anglicanae sectae errores (hereafter D.F., in Opera, vol. 24), such as
III.2.5, and III.2.12-14.
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Francisco Suárez’s Conception of the Social Contract 1203
to bring into being one mystical body, which in moral terms can be called
an entity for its own sake and consequently needs a single political head.14
Firstly, the supreme civil power, considered in itself, was given directly by
God to men assembled in a State or in a perfect political community, not
through a special or, as it were, positive institution or through a donation
entirely distinct from the production of such a nature, but rather through
a natural consequence of the force of the first creation.16
14. D.L. III.2.4 (hominum multitudo, quatenus speciali voluntate seu communi consensu
in unum corpus politicum congregantur uno societatis vincula et ut mutuo se iuvent
in ordine ad unum finem politicum, quomodo efficient unum corpus mysticum, quod
moraliter dici potest per se unum; illudque consequenter indigent uno capite) (Opera, vol.
5, 181).
15. Cf. Gierke, Natural Law and the Theory of Society, 51; Paulo Merêa, ‘Escolástica e
jusnaturalismo: O problema da origem do poder civil em Suárez e Pufendorf’, Boletim da
Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra 19 (1943), 289-306; Robledo, El origen
del poder político, 113-4; Paulo Durão Alves, A filosofia política de Suárez (Porto: Livraria
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Anales de la Cátedra Francisco Suárez 3 (1963), 45-71; Schrock, ‘Anachronism’, 102-6.
16. D.F. III.2.5 (Primo enim suprema potestas civilis, per se spectata, immediate quidem data
est a Deo hominibus in civitatem seu perfectam communitatem politicam congregatis,
non quidem ex peculiari et quasi positive institutione, vel donatione omnino distincta a
productione talis naturae, sed per naturalem consecutionem ex vi primae creationis eius)
(Opera, vol. 24, 207). See also D.L. III.1.3.
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common, that is, they form a community because they agree rather than
the other way around, which means that consensus is a precondition of the
community.17 Secondly, consensus is said to emerge from expressions of
men’s volitions, which ultimately means that it must be voluntary (rather
than involuntary or non-voluntary)18. If the creation of communities is to
be regarded in terms of natural causality, then their direct efficient cause
is the consensus obtained by acts of free will and not men’s ‘natural socia-
bility’, which would then be a formal cause.
Still, organicist interpretations of Suárez are pertinent insofar as they
emphasize the impossibility of dismissing the relation between human
‘natural sociability’ and the existence of political communities as a ‘result’,
even if indirect with regard to efficient causality, of such a human char-
acteristic. Within the frame of reference of natural sociability, an utterly
isolated individual is a somewhat incomplete notion of a human indi-
vidual since she can only be conceived as existent per se when pursuing an
existence with others. Additionally, ‘natural resultancy’ requires that the
voluntary institution of political power and coercive authorities cannot
be explained outside a framework of natural causality. If Suárez is not a
straightforward organicist, then he is also not a straightforward individu-
alist in the same sense that later contractualist thinkers will purport to be.
The answer to this puzzle depends upon (i) a look at Suárez’s meta-
physical assumptions and (ii) a dismissal of the twofold organicist-indi-
vidualist frame of reference. What Suárez says about the origins of power
with regard to the contract is that power neither exists in one man (since
men are equally free at the outset and no man has a natural supremacy
over another) nor in a mere plurality of men (since coexistence measured
numerically is mere plurality or what Machiavelli had called a dissoluta
multitudo). Rather, power exists solely in a unity of men – men come
together to form communities with a special kind of unity, as if they were
one single body, and such a body requires a model of organization in the
light of which someone rules and others obey, that is, coercive power.
There is no power prior to the establishment of the organized community.
17. Terminology is here also important evidence. Suárez’s emphasizes consensus rather
than consent, since consent somehow presupposes an already existing coercive
authority to which subjects adhere. He mentions consent explicitly when referring
to power conquered as a result of just war (D.L. III.4.4); in such a case, the members
of the community accept the established power after the fact. Consensus, however, is
constitutive of the fact – without agreement, there is no collectivity in the first place.
18. For this distinction, see Aristotle, Nicomachean Ethics III.
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[T]his power, viewed solely according to the nature of things, resides not
in any individual man but rather in the whole body of mankind.19
More specifically,
the said power resides not in individual men separately considered, nor
in the mass or multitude of them collected, as it were, confusedly, in a
disorderly manner, and without union of the members into one body;
therefore, such a political body must be constituted, before power of this
sort is to be found in men, since – in the order of nature, at least – the
agent of the power must exist prior to the existence of the power itself.
Once this body has been constituted, however, the power in question
exists in it, without delay and by the force of natural reason20.
Power cannot exist without its agent; and the agent of power is a
political body; and such a political body does not exist naturally but only
comes about via agreement. So, who are those initial contracting parties
that agree to establish the political body in the first place? Certainly not
families nor their patresfamilias because families are natural communities
which domestically, at least, already exercise some form of power, even
though imperfectly;21 certainly not pre-established communities because
(with the exception of families) there are no communities logically and
chronologically prior to the human acts of coming together; certainly
not peoples because they are organized communities, that is, the concept
involves a unity that is made possible by the contract alone; certainly not
isolated human individuals either, given that power only comes about in
the establishment of the community.
The answer lies in Suárez’s metaphysics. For Suárez, the key to under-
standing reality consists in what he calls a ‘transcendental unity’, which
results from the principle of individuation. That which is real is neces-
sarily individual, and individuality comes about neither from an exter-
nally-imposed indivisibility nor from a larger universal setting, but rather
derives (physically and metaphysically) from the singular entity itself.
Individuality unfolds at the ontological level alone. There is equivalence
between the essential unit and the individual unit in the sense that indi-
viduality does not add anything (a property, an accident, an attribute, etc.)
to the singular essence. Rather, a singular essence simply is already indi-
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vidual. In his words, ‘All things, which are actual entities, that is, which
exist or may immediately exist, are singular and individual’.22 The indi-
vidual unit is a certa et determinata entitas and not even God can prevent
the existent entity from being singular and individual.23
Men are individuals in this sense. However, insofar as they are
considered in isolation, they seem to have no actual power.
[B]efore men congregate into one political body this power does not
reside in the individuals, whether wholly or in part, and furthermore,
it does not exist even in the rough mass (so to speak), or aggregate, of
mankind … and therefore, the power can never flow immediately from
men.24
But even though they do not have that power, they were created by
God in such a way as to have the proper form for receiving such a power
from God.
[M]en in a sense dispose the matter involved and render the recipient
capable of wielding the power, yet the form is imparted, as it were, by
God.25
It is exactly in this sense that power may be said to result from human
action – it emanates from the human form of rationality created by God.
22. ‘[R]es omnes, quae sunt actualia entia, seu quae existunt, vel existere possunt immediate,
esse singulares ac individuas’. Francisco Suárez, Disputationes metaphysicae (hereafter
D.M.) V.1.4 (Opera, vol. 25, 146).
23. D.M. V.1.5. For further developments, see Jean-François Courtine, Suarez et le système
de la métaphysique (Paris: PUF, 1990), 496-519; and Mariano Alvarez Gómez, ‘Sobre
el concepto de individuo en F. Suárez’, in Francisco Suárez (1548-1617). Tradição e
Modernidade, edited by Adelino Cardoso, António Manuel Martins and Leonel Ribeiro
dos Santos (Lisboa: Colibri, 1999), 45-64.
24. D.L. III.3.1 (STW, 377-8).
25. D.L. III.3.2 (STW, 378).
26. D.L. III.3.5 (STW, 379).
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[T]he accidental properties, especially those that follow upon or are owed
[to a substance] by reason of its form, are caused by the substance not
only as a material and a final cause but also as an efficient cause through
natural resultancy [...] [I]t is probable that the substantial form has a
certain power for having its proper accidents emanate from it. Likewise,
in this way one discerns more clearly the natural connection between a
form and its properties.27
For instance, water reduces itself to its ‘pristine coldness’ even after
having been heated by ‘the [substantial] form through a natural resul-
tancy’.28 Such a principle of efficient causality is ‘the inward substance
itself’.29 Emanation explains how things obtain their properties and why
they act and react in certain characteristic ways in different situations. But
if emanation has to do with formal causality, why does Suárez call it effi-
cient? For Suárez, properties of natural things are distinct entities whose
coming to being and persistence require a real action; and this makes
emanative causation a real action, even though it is not always counted
as such.30 In order for changes in the accidents of a substance to obtain,
a cause (and hence real activity) is needed – the emanative production
of properties must be, for Suárez, a genuine action. All this suggests that
emanation is efficient because it refers to a causal consequence or action.31
Politically, this entails that men individually have the form to receive
power from God but that such a power only comes about by means of
27. ‘[P]roprietates accidentales, praesertim illas quae consequuntur aut debentur rei
ratione formae, causari a substantia, non solum materialiter et finaliter, sed etiam
effective per naturalem resultantiam … probabile est habere formam substantialem
aliquam vim, ut ab ea manent accidentia sibi propria. Item, quia hoc modo melius
intelligitur naturalis connexio inter formam et proprietates.’ (D.M. XVIII.3.4; Opera,
vol. 25, 616).
28. D.M. XVIII.3.4.
29. D.M. XVIII.3.8.
30. D.M. XVIII.3.6.
31. On this issue, Suárez is far from being a Thomist. See Dennis Des Chene, Physiologia:
Natural Philosophy in Late Aristotelian and Cartesian Thought (Ithaca: Cornell
University Press, 1996), 158-61.
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their efficient action of coming together into one (mystical) body. Power
emanates from their form in the collective action by which they constitute
a compact. In addition, individual human power is lawful as a certain
‘moral faculty’,32 which is not simply the factual possibility of performing
an action but rather the ability and the subsequent actualization of doing
what is just. This is his notion of ius with regard to human individuals –
rights are then normative powers, so to speak.33 Mere natural resultancy is
lawful only by means of analogy, that is, metaphorically34; power, in its civil
and moral forms, always requires actualization by common consensus.
The upshot of such a line of inquiry is that there are no human indi-
viduals in the pre-aggregative moment except formally. The contract is the
efficient action by means of which communities follow from the formal
sociability or moral faculty of human individuals. The formation of the
compact is therefore constitutive of the community and of a common and
organized civil power; but it is also constitutive of human individuals them-
selves because it is the only way by which they can become empowered at
all. The contracting parties are agents in-between isolated individuals and
communities – they are individuals in relations (perhaps even family rela-
tions) whose existence as a formal cause requires a subsequent efficient
causative action that might be called a contract.
It is impossible to recognize in Suárez something akin to John Rawls’
attempt at conceiving of a contract strictly ‘political, not metaphysical’. It
is precisely Suárez’s metaphysical notions of individuals and of power that
support and justify the existence of a social contract. But they also entail
that there is no ‘baseline principle’ with the same characteristics that will
be developed by mainstream Protestant social contract theorists,35 given
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he did not place an intermediary (medium) between the people and God;
and, between the king and God, he wanted to make sure that the people
functioned as the intermediary (medium) by which the king receives
such a power.37
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38. For a slightly different interpretation, according to which the moment of institution
may be such that any community is elided, yielding a direct relationship between
sovereign and subjects, see Annabel Brett, ‘Individual and Community in the “Second
Scholastic”: Subjective Rights in Domingo de Soto and Francisco Suárez’, in Philosophy
in the Sixteenth and Seventeenth Century, edited by Constance Blackwell and Sachiko
Kusukawa (Aldershot: Ashgate, 1999), 146-168.
39. The idea that the people is the medium coheres with Suárez’s conception of how
efficient causality can extend to distant objects. According to his view, an agent’s action
on a distant object depends upon an equal action on the medium whereby it acts
on the object, and both actions must arise from the same power: ‘In order that the
agent should affect a distant patient, it is not enough that it should by another entirely
distinct power or action act in the medium; rather, it is necessary that by the same
power by which it acts on the distant patient, or by a subordinate power, it should
begin to act on the medium near to it, and spread its action or influence throughout
the medium out to the distant patient.’ (ut agens efficiat in passum distans, non satis est
ut per aliam virtutem seu actionem omnino distinctam agat in medium, sed necesse est
ut per eamdem seu subordinatam virtutem, qua agit in distans, incipiat agere in medium
sibi propinquum, et per totum illum diffundat actionem seu influentiam usque ad
passum distans) (D.M. XVIII.8.17; Opera, vol. 25, 656). For further developments, see
Dennis Des Chene, ‘Suárez on Propinquity and the Efficient Cause’, in The Philosophy
of Francisco Suárez, edited by Benjamin Hill and Henrik Lagerlund (Oxford: Oxford
University Press, 2012), 89-100.
40. Suárez sets this distinction in D.L. II.14.18 and in D.F. III.2.9.
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Francisco Suárez’s Conception of the Social Contract 1211
are equally free but they are not naturally forced to remain free. Similarly,
natural law attributes power to the community but it does not prescribe
that the aggregate must hold it indefinitely. The rights of individuals are
moral liberties, which they can (ex)change at will to creatively shape the
conditions of their political existence. Such rights deriving from natural
law can be transferred or alienated almost absolutely. The reason why
both the transfer and the alienation, despite occurring in accordance with
natural law, are not entirely absolute is that they need to be preserved
continuously in the exercise of the contract.
Such a normative relation can be explained in the light of the mech-
anism of derivatio per modum determinationis, which requires that the
human will adds certain contents to the natural law. More explicitly, he
states
41. D.F. III.2.17. He insists further on: ‘the king’s power is grounded on a contract or on
something resembling it – the fact remains that the just punishment of an offence
functions exactly as a contract with regard to the effects of transferring authority and
power, and that is why it must be observed’ (D.F. III.2.20).
42. For the ‘right-side-of-the-road argument’, see Anthony Pagden, The Enlightenment and
Why It Still Matters (Oxford: Oxford University Press, 2013), 36-37.
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appear only in a very general and undetermined form, they only become
binding the moment that they are posited and externalized by human
enactment – that is the moment their addressees are induced to act in a
certain way or restrained from acting in a certain way. Thus, positive laws
can bring moral obligation into the world: they command what, in the
absence of law, was merely morally optional and indeterminate.43
This does not entail necessarily that there is no natural goodness
and badness that can give rise to duties – but none of this is equivalent
to saying that something is obligatory, for obligation is tied to natural
law, and law requires an expression of will in order to be genuine law.44
The debate about whether Suarez favours voluntarism or intellectualism
with regard to the origins of normativity45 seems sterile in the sense that
the human will instituting civil power is a ‘moral’ faculty at the service
of natural law, and therefore also acts rationally. This is consonant with
Suárez’s notion of praxis, according to which the moral action is always
framed by a rationalist project of regulation:
43. For further developments, see Sebastián Contreras, ‘La determinación del derecho en
Domingo de Soto y Francisco Suárez’, Revista de Estudios Histórico-Jurídicos XXXV
(2013), 655-680.
44. I borrow this argument from Terence H. Irwin, ‘Obligation, rightness, and natural
law: Suárez and some critics’, in Interpreting Suárez: Critical Essays, edited by Daniel
Schwartz (Cambridge: Cambridge University Press, 2013) 142-162. See also his
Development of Ethics, vol. II (Oxford: Oxford University Press, 2008), 1-69, where he
claims that Suárez was a naturalist and eudaemonist in his conception of goodness
and rightness, but a voluntarist in his conception of natural law. Despite undertaking
alternative argumentative paths, a similar conclusion can be found in Pierre-François
Moreau, ‘La loi naturelle et ordre des choses chez Suárez’, Archives de philosophie 42
(1979), 205-218; and Thomas Pink, ‘Reason and Obligation in Suárez’, in The Philosophy
of Francisco Suárez, edited by Benjamin Hill and Henrik Lagerlund (Oxford: Oxford
University Press, 2012), 175-208.
45. Both expressions, introduced by legal historians in the nineteenth century, refer to
means of explaining how a norm becomes binding due to an accordance of wills. More
specifically, voluntarism claims that a norm is binding if it follows solely from someone’s
will, typically if in a position of authority; the opposite view is that of intellectualism,
which bases a norm’s binding force solely upon its conformity with a principle of
practical rationality. Most authors in medieval and in early modern political theory,
however, are able to strike a balance between the two in such a way as to require
value and will as sources of normativity, even though some put their emphasis on
voluntarism (Avicebron, John Selden and the early Grotius, for instance) and others
on intellectualism (Aquinas, Jean Gerson, and the mature Grotius, for instance). In
such cases, the mere assertion of will as an essential source of normativity, whether
or not exclusively, is sufficient to consider the existence of conventional voluntarism.
For further developments, see our Spinoza’s Revolutions in Natural Law (Basingstoke:
Palgrave Macmillan, 2012), 54-61.
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Francisco Suárez’s Conception of the Social Contract 1213
46. ‘[P]raxis ut sic natura sua supponit intellectionem illam, quae est eius regula’ (D.M.
XLIV.13.27; Opera 26, 730).
47. ‘[I]ntellectus non solum non fiat practicus absolute ex intentione voluntatis, sed etiam ipse,
quatenus practicus est, voluntatem moveat et afficiat’(D.M. XLIV.13.38; Opera 26, 733).
48. Also in this sense, see Bernice Hamilton, Political Thought in Sixteenth-Century Spain
(Oxford: Oxford University Press, 1963), 62; J.P. Sommerville, ‘From Suárez to Filmer:
a reappraisal’, Historical Journal 25 (1982), 525-540; Skinner, The Foundations of
Modern Political Thought, vol. 2, 158-166; and Howell A. Lloyd, ‘Constitutionalism’,
in The Cambridge History of Political Thought 1450–1700, edited by J. H. Burns
(Cambridge: Cambridge University Press, 1991), 296-7.
49. The ‘reciprocity principle’ of modern social contract theories expresses the idea of
limitation: political power is sovereign not because it is the absolute condition to do
whatever it can or wants, but because it is the actualization and representation of the
power transferred from individuals and is thereby limited by their consent. The social
contract institutes political power by establishing what the latter can do, must do, and
cannot do; and, almost paradoxically, such a reciprocity of responsibilities between
government and governed is not simply grounded in morality but is part of the very
process of strengthening that which is instituted, since limited power in this sense
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does not have obligations to his individual subjects that limit the range
of his legal powers; correlatively, individual rights cannot be opposed to
civil authorities as normative reasons for constraining their actions once
civil power emerges as consequence of the social contract.50 Still, since
there is no civil authority in the first place without a binding contract,
and the contract necessarily has a three-point structure which includes
the people, the civil authority cannot do whatever it can or wants but only
that to which it is authorized, that is, pursuing the common good within
the boundaries of natural law.
In fact, this is what the social contract is for. Suárez’s motivations
for developing the social contract terminology seem to be very different
from those which prompted early modern social contract theorists. He is
neither subject to a historical pressure to explain or justify the existence of
the modern nation-state (since there is no nation-state in the Westphalian
sense at the time at which he writes) nor in a need to engage with the reso-
lutive-compositive method of scientific experimentation (since he writes
inside a context framed by the Scholastic interpretation of Aristotelian
scientism). Explicitly, his motivations show chiefly in the D.F., where he
intends to make a case against any claims that favour the divine origins
of political power. The source of civil authorities is indeed God, but only
indirectly. This makes Suárez closer to the School of Salamanca than to
later Protestant social contract theorists.
Still, it is not sufficient to state that his motivations consisted in
restraining the Iberian conquistadors’ claims to power in the Americas,
as the members of the School of Salamanca intended. Firstly, because he
did not write about such a subject matter when he tackled the language
of contracts; and secondly because the addressees of some of his texts
about contracts are not Iberian at all, such as the D.F. proves. At most,
what Suárez intended in invoking contracts was to transfer the stability
provided by the terminology of (private) law to the realm of public rela-
tions, whether by discussions concerning the origins and foundations of
civil power or by presenting a systematic treatment of ius gentium.
Since political orders arise from social contracts, royal power cannot
but be at the service of the common good established with the contract –
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Francisco Suárez’s Conception of the Social Contract 1215
and only such a good, not the goods of a few or many private individuals,
whether they are contracting parties or not. There is neither a divine civil
power preceding the subjects’ consent nor a political right to rule peoples
(such as the indigenous communities of the Americas or any other commu-
nities subject to a iurisdictio imperii by force) that do not participate in the
formation of the contract. Rather than inaugurating a language of indi-
vidual rights that will be paramount to modern contractualist theories,
Suárez’s doctrine of the contract seems to open a new path to a universal
law of peoples – something akin to a pre-Westphalian international public
law. And that is already an important factor in his development of the
social contract emerging from the framework of the School of Salamanca.
Conclusion
51. Cf. Patrick Riley, ‘How Coherent is the Social Contract Tradition?’, Journal of the
History of Ideas 34 (1973): 543-562.
52. Cf. Adam Przeworski, ‘Minimalist Conception of Democracy: A Defense’, in Democracy’s
Value, edited by Ian Shapiro and Casiano Hacker-Cordon (Cambridge: Cambridge
University Press, 1999), 44.
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that such addressees are to be found in private law relations and that
consent is somehow legally binding to power-holders. This holds true to
the pretensions of the School of Salamanca. His doctrine of the social
contract, even if it merely hints certain principles that will be developed
within different conceptual contexts in the following centuries, cannot be
dissociated from an implicit claim to a systematic understanding of civil
power already present in the School of Salamanca.
The fact that his treatment of the social contract cannot be reduced
to an explanation of the tradition of contractualist terminology within the
School of Salamanca is not enough to exclude him from such a tradition.
Quite the contrary, he takes the tradition to higher levels of application
and clarification by providing it with a metaphysical basis, which is
exactly what prepares the contractual terminology for further usages in
different traditions. From this viewpoint, Suárez is not a proto-contrac-
tualist. Rather, he is the most prominent representative of the Catholic
version of contractualism.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1219
Abstract
A contribution of the School of Salamanca to the philosophy and theory of law is the
anthropological richness of some of its classical notions, e.g. ownership, use and dominion.
This article reviews Martin de Ledesma’s definition of dominion. Ledesma, one of the first
disciples of Francisco de Vitoria in Salamanca, has been credited with the use and collationes
of de Vitoria’s texts in his book, a practice consistent with the scholastic notion of science and
its transmission. The article shows Ledesma’s significant debt to Domingo de Soto, especially
to his treatise De iustitia et iure.
Keywords: anthropology, Domingo de Soto, dominion, justice, Francisco de Vitoria, Martín
Ledesma, ownership, Salamanca’s school.
E
n el contexto de una investigación sobre uso y dominio en la Escuela
de Salamanca, resulta de especial interés analizar el tratamiento de
este tema en Martín de Ledesma (1509-1574), uno de los primeros
discípulos de Francisco de Vitoria en Salamanca, y que marchó a Coímbra
como profesor de Teología; de su estudio pueden calibrarse, además de
la deuda de éste con Vitoria –ya estudiada por Beltrán de Heredia– al
mismo tiempo que su vinculación con otra fuente, el texto De iustitia et
iure del propio Domingo de Soto, la fidelidad en su enseñanza de las tesis
e ideas que en esos mismos años se estaban enseñando en Salamanca.
1219-1248
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1. Cfr. los datos de sus alumnos y discípulos ilustres en Luis G. Alonso Getino, El
maestro Fr. Francisco de Vitoria: su vida, su doctrina e influencia (Madrid: Imprenta
Católica, Publicaciones de la Asociación Francisco de Vitoria, 1930), 421 y ss.; 258-
261; Juan Belda Plans, La Escuela de Salamanca y la renovación de la teología en el
siglo XVI (Madrid: BAC, 2000), 198-200, haciendo síntesis de los datos de Franz Ehrle,
“Los manuscritos vaticanos de los teólogos salmantinos del siglo XVI,” Estudios
Eclesiásticos 8 (1929): 165-167; Vicente Beltrán de Heredia, Francisco de Vitoria
(Barcelona: Editorial Labor, 1939), 180-184; Teófilo Urdánoz, “Introducción,” in Obras
de Francisco de Vitoria: Relecciones teológicas (Madrid: BAC, 1960), 69-70; Luciano
Pereña, La Escuela de Salamanca. Proceso a la conquista de América (Salamanca:
CAMPS, 1986), 69-70; 218-221; 230-256.
2. Belda Plans, La Escuela de Salamanca, 766. De él dice más adelante (846) que es
“el profesor conimbricense de mayor relieve a la hora de examinar la influencia
salmantina en Portugal, por ser discípulo directo de Vitoria y el primero que enseña
en la Universidad portuguesa, con notable influencia, trasladado… directamente desde
Salamanca”.
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en que debió dejar Valladolid, puesto que habría sido sustituido por el
propio Melchor Cano. Esta disparidad la resume Barrientos, al expresar
que “algunos historiadores de la Orden lo sitúan en Valladolid, expli-
cando Teología en el colegio de San Gregorio; otros creen que continuó en
Salamanca hasta su marcha a Coímbra (Portugal)”.9
Por tanto, en todo caso, puede decirse que la presencia de Martín
de Ledesma en Salamanca entre 1525 y al menos 1534 coincide con los
primeros años de docencia de Vitoria, cuando se incorpora a su Universidad
en la cátedra de Prima de Teología.10 Según la distribución de los cursos,
Vitoria había enseñado: entre 1526-29 la Secunda Secundae; entre 1529-31,
el comentario al cuarto libro de las Sententiae; entre 1531-33, la Prima pars
de la Summa; entre 1533-34, la Prima Secundae; reiterando el ciclo de
nuevo con la Secunda Secundae desde el curso 1534-35. De ser ciertas las
fechas antes señaladas, Ledesma habría podido asistir a las relecciones
De silentii obligatione (1527, no conservada), De potestate civili (1528), De
homicidio (1530), De matrimonio (1531), De potestate ecclesiae I (1532), De
potestate ecclesiae II (1533) y De potestate Papae et Concilii (1534).11
Por las mismas fechas se encontraba Domingo de Soto primero en
San Esteban y luego comenzando su largo periodo de docencia en la
misma Universidad, sólo interrumpida en cumplimiento de sus obliga-
ciones como teólogo imperial.12 Así impartirá la Tertia Pars en el primer
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13. Barrio, Quintana, Historia del Convento, 600: “Fr. Martín de Ledesma, primer
catedrático de la Universidad de Coímbra”; en 601-602: “según buenas conjeturas a
este tiempo se hallaba leyendo en este convento, porque en el capítulo de Benavente
de 1537 se expuso para leer Sentencias con él con fr. Francisco de Bobadilla”.
14. Luciano Pereña, “Francisco de Vitoria en Portugal,” Arbor 46 (1960): 326-341; José
Barrientos García, “Cauces de influencia en Europa,” en Francisco de Vitoria y la
Escuela de Salamanca, La ética en la conquista de América (Madrid: CSIC, 1984), 457-
458. Raúl de Almeida Rolo, “Francisco de Vitoria e a renovaçâo da teologia portuguesa
no século XVI,” en I diritti dell’uomo e la pace nel pensiero di Francisco de Vitoria e
Bartolomé de las Casas (Milano: Massimo, 1988), 293-307. Ángel Marcos de Dios,
“Proyecciones salmantinas. Area Lusa,” en Manuel Fernández Álvarez, La Universidad
de Salamanca, vol. 1, Trayectoria histórica y proyecciones (Salamanca: Universidad de
Salamanca, 1989), 425-444; Beltrán de Heredia, “Las relecciones y lecturas,” 113.
15. Belda Plans, La Escuela de Salamanca, 846.
16. Vicente Beltrán de Heredia, “El intercambio hispano-lusitano en la historia de la
orden de predicadores,” en Miscelánea Beltrán de Heredia, t. I, 103-130; 115-117: quería
reproducir en Portugal, en plena expansión misionera por los nuevos territorios
hallados, la reforma ya realizada por los dominicos en Castilla. Reforma que reforzó
y manifestó también la que llegaría a las aulas universitarias (121-122). Sobre la
reforma en Castilla, cfr., del mismo autor: “Los comienzos de la reforma en Castilla,
particularmente en el Convento de San Esteban de Salamanca y su maduración en la
provincia de Portugal,” en Miscelánea Beltrán de Heredia, t. I, 403-425.
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17. Cfr., por ejemplo, Vicente Beltrán de Heredia, “El intercambio hispano-lusitano,” 122-
123. En Beltrán de Heredia, “Las relecciones y lecturas,” 114, se sitúa a Ledesma en
Portugal ya entre 1537-38, residiendo en el Colegio de Santo Tomás en Coímbra, luego
en el de Batalha, y luego en Coímbra de nuevo, en un nuevo convento y colegio junto
al centro universitario.
18. Señala Nicolás Antonio “fue tal su conocimiento de las ciencias sagradas y la estima de
su relevante talento en su época, esto es hacia el año mdxliv, que Juan III, rey de Portugal
lo prefirió a otros de modo que, dejando la ciudad de Salamanca, se incorporase
como lector de la cátedra de prima de teología de la Universidad de Coímbra que por
aquellos días dicho rey cuidaba diligentemente de dotarla con su obra más preferida
de los mejores y más sabios profesores”; Nicolás Antonio, Biblioteca hispana nueva (o
de los escritores españoles que brillaron desde el año 1500 hasta el de 1684), traducción
castellana revisada, corregida y ampliada, F. Pérez Bayer, ed. (Madrid: Imprenta de
la Viuda y Herederos de D. Joaquín Ibarra, 1788); nueva edición coordinada por M.
Matilla Martínez (Madrid: Fundación Universitaria Española, 1999), t. II, 129. Belda
Plans, La Escuela de Salamanca, 846. Allí se dice que el objetivo era evitar una marcada
dirección nominalista, citando la obra de Américo Ferreira, A eclesiología de Francisco
Carreira (Lisboa: Biblioteca da Ajuda, 1982), 59 ss. También se buscaba una formación
de calidad que frenara el importante “éxodo” de estudiantes portugueses al extranjero;
Belda Plans, La Escuela de Salamanca, 847.
19. Beltrán de Heredia, “Las relecciones y lecturas,” 114-115. Allí se añaden más datos
obtenidos de los libros de claustros, casi las únicas fuentes “que nos hablan de él desde
que salió de Salamanca”.
20. Belda Plans, La Escuela de Salamanca, 848.
21. Señala José Barrientos: “El 25 de agosto de 1560 Ledesma había solicitado el cómputo
del tiempo que había explicado Teología para ver si tenía ya derecho a la jubilación,
pero por llevar diecinueve años de maestro, aparte de algunas ausencias en su lectura,
no completaba los veinte años y hubo de esperar hasta el 9 de mayo de 1562, fecha en
la que cumplía ya todos los requisitos, para que se le concediese la jubilación. Durante
bastante tiempo fue su sustituto en la cátedra de Prima el también dominico Antonio
de Santo Domingo, que había sido su discípulo, y que fue su sucesor como titular”;
Barrientos García, Repertorio, 210.
22. Ello muestra el aprecio y reconocimiento que se le tributó en Portugal: Beltrán de
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Heredia, “Las relecciones y lecturas,” 117; también es otro indicio el ofrecimiento del
rico obispado de Viseo que rechazó: Barrio, Quintana, Historia del Convento, 602.
23. Las exigencias de los estatutos de la Universidad de Coímbra exigía (según Beltrán de
Heredia, siguiendo las noticias de él aportadas por los libros de claustros, como se ha
visto en la referencia de nota anterior) que se enseñara en la cátedra de Vísperas la
Suma Teológica de Santo Tomás, y se comentara las Sentencias de Pedro Lombardo en
la de Prima. Pero en la práctica el texto seguido era el del Aquinate, tal como era común
también en la Universidad de Salamanca, donde los estatutos imponían las Sentencias
y sin embargo los profesores tras dar noticia de lo tratado por Pedro Lombardo, se
detenían exponiendo las cuestiones según la obra de Santo Tomás. Al respecto, véase
además: Barrientos García, Repertorio, 210.
24. Beltrán de Heredia, “Las relecciones y lecturas,” 116-117. Además de las dos obras que
se señalan, son –según este estudioso– el códice 1200 de la Universidad de Coímbra
(con los comentarios al segundo libro de las Sententiae) y el códice 3635 de la Biblioteca
Nacional de Lisboa (con los comentarios a la Summa Theologiae, tratado De legibus).
25. Martín de Ledesma, Secunda quartae doctoris fratris Martini Ledesmii (Conimbricae:
apud Ioannem Aluarum, 1560), fols. 217-237. Un estudio imprescindible sobre
el derecho de propiedad en este autor es: José Barrientos García, “El derecho de
propiedad privada en Martín de Ledesma,” en Ángel Luis González, Mª Idoya Zorroza,
eds., ‘In umbra intelligentiae’. Estudios en homenaje al Prof. Juan Cruz Cruz (Pamplona:
Eunsa, 2011), 111-124.
26. Tomás de Aquino, In IV Sententiarum, d. 15, q. 1, a. 5, expositio textus. En el texto de
Pedro Lombardo (según ordena el Aquinate) aborda el problema de la penitencia y la
satisfacción. Especialmente, si la penitencia logra la satisfacción y borrar el pecado,
requisito para alcanzar la vida bienaventurada al remediar las consecuencias de
dicha acción, y cuál es el papel que cumplen la caridad, la buena acción, la limosna
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lo reconozca”,59 tanto de Vitoria como de Soto (al que sólo cita en una
ocasión).
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La presencia de Domingo de Soto en la teoría del dominio de Martín de Ledesma 1233
Sed iurisconsulti sunt qui hac Sed esto haec vox dominium apud
voce utuntur, ad significandum antiguos latinos non reperiatur,
id quod pariter vocant iurisconsulti eam invenerunt, et
proprietatem rerum: quae ab ea utuntur, ad significandum id
earum possessione distinguitur, quod pariter vocant proprietatem
atque ab usu et usufructu. Neque rerum: quae ab earum possessione
vero vox haec secundum huc distinguitur, atque ab usu et usufructu.
significatum, ceu barbara aut
invisitata habenda est.
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quod ius”,69 para después señalar el doble sentido de ius. El texto parejo
entre ambos autores tiene una diferente ordenación.
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Praeterea satis est ad rationem furti Secundo et melius dico raptum filii
quod fiat vel invito domino, vel eo vel uxoris esse proprie furtum quia ad
invito ad quem res pertinet, etiam rationem furti sufficit quod fiat vel invito
si non sit dominus, sed alio iure domino, vel invito eo ad quem res iure
possidens. aliquo pertinet, etiam si non fit proprie
dominus, sed alio iure possideat.
Quapropter Institut. De iure Et confirmatur hoc quia Institut. De iure
personarum, distinguuntur statim personarum, distinguuntur homines in
homines in liberos et servos: quoniam liberos et servos: quoniam ius in liberos
ius in liberos non proprie dicitur non proprie est dominium, sed ius in
dominium, sed in servos. servos proprie est dominium.
Princeps enim licet dominus sit Rex enim licet dominus dicatur urbium
urbium ac possessionum civium ac possessionum multarum (licet non
tamen non est dicendus nisi Rex aut omnium quae sunt in republica) civium
Dux etc., immo vero cum dominatu tamen non est dicendus nisi rex aut dux,
agit in subditos, utendo scilicet illis ad immo vero cum dominatu agit in subditos,
suam propriam utilitatem, tyrannus utendo illis ad suam propriam utilitatem,
sit. tyrannus est.
Quare neque iudex neque praelatus Unde colligitur quod nec iudex nec
etsi ius habeat in subditos, dicitur praelatus est proprie dominus subditorum,
proprie eorum dominus. Et hoc esto in eos ius habeat aliquod et hoc
notavit Christus Matth. 20. Principes videtur docuisse Christum redemptorem
gentium dominantur eorum etc. non Matth. 20 cum dixit: Principes gentium
ita inter vos. Etenim (ut in summa dominantur eorum etc. non ita inter
iam dicamus) dominium solum est vos. Unde colligitur dominium proprie
ius, quo quis utitur ad suum proprium dictum, solum esse ius, quo quis utitur
commodum: ius autem non hoc pro suo arbitrio et ad suum proprium
solum significat, sed amplectitur ius commodum: at ius absolute sumptum,
etiam quo superior ac praefectus in non significat solum illud, sed amplectitur
subditorum rem et bonum ipsis utitur. etiam ius quo superior ac praefectus in
Quo circa ius tanquam superius genus subditorum rem et bonum ipsis utitur:
ponendum est in definitione dominii: unde ius tanquam genus superius
tantum abest ut conversim dicantur. ponendum est in definitione dominii: ergo
ius et dominium non convertuntur.
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De viro autem respectu uxoris Sed videtur quod vir proprie sit
movere quempiam forte posset illud dominus uxoris, iuxta illud Genesis
Genesis 3. Sub viri potestate eris et tertio. Sub viri potestate eris et ipse
ipse dominabitur tui. Haud tamen dominabitur tui. Dico quod non habet
hoc ad dominium civile referendum vir proprie dominium super uxorem
est. Immo Arist. loco citato illud ius et illud testimonium citatum non est
viri in uxorem innominantum esse referendum ad dominium civile immo
ait. Arist. ubi supra illud ius viri in uxorem
innominantum esse ait.
Sed dicitur dominari, primum Sed dicitur vir dominari in uxorem,
quantum ad usum coniugalem: primum quantum ad usum coniugalem:
quia cum natura integra sine ulla quia cum natura integra fuisset sine
fuisset turpitudine laborisque ulla turpitudine molestiaque laboris:
molestia: post peccatum quia in post peccatum autem quia in dolore
dolore paritura mulier erat, dicta paritura erat mulier, dicta est esse sub
est esse sub viri potestate. viri potestate.
Praeterea quia innocentia Secundo, quia innocentia durante et
superstite nullus esset ignorantiae perseverante nullus esset ignorantiae
locus tupote quae peccatum locus, quae peccatum sequuta est: ideo
subsequuta est: ideo quantum quantum ad regimen dominari dicitur
ad regimen dominari dicitur vir vir uxori, quam debet docere: sicut
uxori, quam docere debet: sicut etiam homini prudentiores rudibus
infra dicturi sumus, elegantiores dominari dicuntur, non quidem
rudibus dominari non quidem legali dominio, in bonum proprium
legali dominio, in bonum proprium dominorum: sed urbano, in rem
dominorum: sed urbano, in rem ipsorum, qui disciplina indigent.
ipsorum, disciplinae egentium.
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la que se diferencia, por ejemplo, un dominio estricto del mero uso, mera
posesión o mero usufructo.
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1246 Mª Idoya Zorroza
4. Conclusión
Como era objetivo del trabajo: los textos mostrados en paralelo entre
Domingo de Soto y Martín de Ledesma muestran, además de la deuda
intelectual de Ledesma con su maestro Francisco de Vitoria –que ya había
trabajado y mostrado Vicente Beltrán de Heredia en su estudio70–, la
estrecha relación entre sus lecturas en Coímbra –de las que su publicación
es un reflejo– con lo aprendido por él de sus maestros, incluido Domingo
de Soto.
Ciertamente, para un lector moderno, la construcción de Ledesma
de su docencia –que bebe claramente de lo enseñado por sus maestros–
tendría una dura calificación por falta de originalidad.71 El texto de Beltrán
de Heredia citado nos coloca en la tesitura de su producción: primero, que
los trabajos que ahí expone ha recogido de otros teólogos “ex doctoribus
omnibus grana colligemus”;72 segundo, que fueron publicados sin poder
revisar el material utilizado en su docencia.73 Debemos tener en cuenta
que los textos publicados (tanto por Soto como por Ledesma) proceden
de sus lecturas académicas, más o menos elaboradas posteriormente para
darlas a imprenta. Por lo que no es ilógico que del texto elaborado por
un autor, en el que tuviera, reflexionara y completara el material inicial
obtenido de sus clases salmantinas, pudiera encontrarse no sólo el espíritu
sino también la letra de aquello que formaba parte de sus cuadernos y con
los que se preparó.
Por otro lado, debe tenerse también en cuenta la prioridad del
docente (e incluso de los autores de los cartapacios con los manuscritos
que nos han llegado de la docencia salmantina): la originalidad cedía prio-
ridad a la búsqueda colectiva de la verdad y la argumentación probada de
aquellos en que se apoya el expositor. Como es sabido, fue práctica común
en Salamanca, y de manera particular en el Convento de San Esteban,
que tanto los autógrafos con que los profesores preparaban sus lecciones,
como los apuntes tomados por los alumnos, copiados al dictado y alguna
vez revisados y corregidos por los propios profesores, pasaban de profe-
sores a profesores en la Cátedra (especialmente entre los maestros del
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1249-1286.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1249
Abstract
This article analyzes the contribution of Domingo de Soto in the context of the reform of
assistance in the sixteenth century, from the book Deliberación en la causa de los pobres, in
which the author discusses the recent legislation of the time that prohibited the begging of
foreigners and proposed a secularized model of assistance to the poor. It seeks to emphasize
that Soto, outstanding intelligence of the Iberian School of Peace, when engaging in the
relevant discussion around the theme, highlights the coherence of the key arguments and
characteristics on the aforementioned School, which allows a rather distinct humanist look
at its premises and conclusions in relation to the humanist reformers like Erasmus and
Vives. This peculiarity allows us to propose, in the end, that the structuring foundations of
the discourse of the thinkers of the Iberian School do not establish exclusive demarcation
lines between internal and external law, but instead recognize the legal phenomenon as
universal and uniform.
Keywords: Domingo de Soto, iberian school of peace, migrations, poverty, school of Salamanca.
1. Introdução
A
s migrações e os deslocamentos humanos foram parte constituinte
e, não menos, constitutiva das sociedades humanas durante a
história. É bastante conhecida a afirmação de Le Goff de que a
sociedade medieval tinha como característica uma intensa mobilidade a
tal ponto de ser “desconcertante”.1
Da mesma forma, a idade média não desconhece os problemas rela-
tivos à mendicância e desocupação de trabalho.
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2. https://ec.europa.eu/eurostat/statistics-explained/index.php/Migration_and_migrant_
population_statistics/pt#Popula.C3.A7.C3.A3o_migrante:_quase_22_milh.C3.B5es_
de_cidad.C3.A3os_de_pa.C3.ADses_terceiros_vivem_na_UE.
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maneira comum pela forte inserção e projeção nos debates mais candentes
de seu tempo, seja a reforma católica no Concílio de Trento e o enfrenta-
mento das teses do protestantismo, a conquista, colonização e os dilemas
da escravidão no Novo Mundo, seja a cornucópia de disrupções causadas
pelas rápidas transformações políticas, económicas e seus graves reflexos
sociais da Europa do século XVI.
Assim, desde logo, é assertiva que assumiremos a de que o elemento
distintivo de um conceito como o de Escola Ibérica da Paz é a emble-
mática capacidade desses pensadores em engajar-se na formulação e
adaptação de aparatos conceituais e soluções para questões de seu tempo
que envolviam de maneira horizontal a paz social, notadamente relevante
para fins dessa artigo a sua ênfase às repercussões no novo cenário inter-
nacional dos problemas teológico-jurídicos suscitados pelo incremento da
mobilidade humana, seja esta uma consequência das inovações tecnoló-
gicas e da revolução espacial provocada pelas grandes navegações, seja
pela dinâmica geopolítica dos Reinos em ascensão, da rápida redefinição
territorial, das guerras, epidemias e fome, especialmente na pensínsula
ibérica a partir do século XVI.
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Soto ritiene minacciata dalla nuova legislazione sui poveri e che tenta
quindi di difendere. Lo fa ricorrendo agli strumenti a lui più congeniali,
quelli del diritto.4
4. Lorenzo Coccoli, “Il conflitto sulla mobilità alle soglie dell’età moderna”, Jura Gentium,
XI, nº 1 (2014): 47.
5. Jacques Le Goff, Mercadores e banqueiros da Idade Média (São Paulo: Martins Fontes,
1991), 8.
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La stessa proiezione del cristiano del Vecchio Mondo verso terre che si
ritevano antiche, e che si riconosceranno appartenere, dall’ottica euro-
cêntrica, al Nuovo Mondo, porta i segni di mentalitá e di prassi non ignote
nei secoli precedenti, ma com più frequenza ed insistenza riemerse e
richiamate in vigore nell’età moderna.6
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10. Paz Molero Hernández, “La aparente actualidad en el debate sobre los inmigrantes y
refugiados”, Análisis, Vol. 48, Nº 89 (2016): 273.
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Por otra parte, y como ha señalado F. Calero, había una razón circuns-
tancial que podía motivar el escrito: una nueva mentalidad sobre el
problema de la mendacidad estaba recorriendo Alemania, los Países
Bajos, Inglaterra y España. El mismo Erasmo había escrito, dos años
antes, el Diálogo de los mendigos (1524), donde se plasma dicha menta-
lidad, que considera la pobreza perniciosa socialmente, pues la menda-
cidad es sinónimo de ociosidad, aunque también se critica al opulento
por su falta de virtud. Y en esta obra ya se habla de que pronto no se
permitirá que los mendigos vayan de una ciudad a otra, sino que cada
ciudad podrá albergar sólo a sus propios mendigos. No cabe la hospita-
lidad para el extraño, es lo que viene a decirse. Además, la mendicidad
es nido de delitos, por lo que se hace todavía más recomendable dicha
política.12
11. “Lo que pretendo hacer notar aquí, al fin de cuentas, es que el espíritu humanista
hispano no fue igual al florentino, ni a los otros humanismos en Italia o los países del
norte, y sin embargo, fue tan humanista como ellos. Sin necesidad de una ruptura
abierta con la Escolástica, superó en forma natural muchos de los defectos inherentes
al método y formas de la enseñanza escolástica. Tiene sus propios méritos y sus
propias limitaciones, pero en general, mantuvo una línea similar a la que se manifestó
en otros países europeos durante el Renacimiento, y en especial tiene similitudes con
el Humanismo italiano, aunque también tiene características muy diferentes a éste, y
muy específicamente hispanas. Uno de los problemas recurrentes en la interpretación
histórica del Humanismo renacentista español ha sido justamente la suposición de
que, para ser un auténtico Humanismo, o para ser auténticamente renacentista, tiene
que ser igual, o al menos parecido, al modelo italiano, y que en la medida en que
no lo sea, entonces no es lícito hablar siquiera de que haya existido realmente un
Humanismo renacentista español. Esta absurda y acomplejada manera de desacreditar
el pasado intelectual hispano debería de haber caído por su propio peso desde hace
mucho tiempo, pero desafortunadamente no ha sido así”. Jorge Roaro, “La Escuela
de Salamanca y la interpretación histórica del Humanismo renacentista español”,
Disputatio. Philosophical Research Bulletin, Vol. 3, Nº4. (2014): 242.
12. J. M. Panea Márquez, “Juan Luis Vives y la responsabilidad para con los pobres”,
Pensamiento, vol. 73, nº. 278, (2017):1176.
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15. Hernández, Análisis, 275. Para um exemplo desse debate em terras portuguesas refiro-
me a Miguel de Giginta (Tratado de remedio de los pobres – 1579) que desde Coimbra
advoga adoção de centros de recolhimento. A pretensão era a de excluir os mendigos
das ruas. Seriam classificados por sexo, idade e segundo o tipo de enfermidade de que
padeciam, se o caso. Manteriam-se pela arrecadação de esmolas e pelo trabalho dos
internos.
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16. “Tutto o quasi il Vecchio Continente veniva attraversato in quegli anni da un movimento
di riforma della beneficenza che sembrava presentare ovunque caratteristiche simili:
innanzitutto, una forte centralizzazione dell’assistenza, con la creazione di un’unica
borsa comune in cui far confluire tutte le rendite dei vari istituti caritatevoli (fondazioni
e ospedali), oltre al gettito derivante dalle offerte private. In secondo luogo, una certa
secolarizzazione dell’amministrazione degli apparati assistenziali, la cui gestione
veniva affidata a un consiglio composto in gran parte da laici. Terzo, la proibizione
della mendicità e la subordinazione dell’elargizione dei sussidi a criteri condizionali
e discriminatori, con la distinzione tra “veri” e “falsi” poveri. Quarto, un’attenzione
pedagogica alla correzione dei comportamenti considerati devianti che vedeva nella
coazione al lavoro lo strumento per eccellenza di una nuova ortopedia sociale, a cui
però si affiancavano progetti di istruzione e di educazione religiosa dei poveri e dei
figli dei poveri.” Coccoli, “Il conflitto sulla mobilità alle soglie dell’età moderna”, Jura
Gentium, XI, 1 (2014): 41-42.
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17. Domingo de Soto, Deliberación en la causa de los pobres (Instituto de Estudios políticos:
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El primero, que ninguno demande por Dios sin que sea examinado si es
pobre;
El segundo, que aunque sea pobre, nadie pida sino en su naturaleza,
dentro de ciertos limites, salvo si fuese en caso de pestilencia o grave
hambre;
El terceiro, que esos mismos, en sus naturalezas, no puedan pedir sin
cédulas del cura o del diputado;
Lo cuarto, que estas cédulas no se las den sin que sean primero confes-
sados como lo manda la Iglesia;
Y, lo quinto, que los peregrinos que van a Santiago no puedan salir a
pedir más de cuatro leguas del caminho derecho. Todas las otras cosas
que allí se añadieron fueron santas e buenas. E no tienen necesidad de
más examinación.
El postrer artículo que se puso fué, que por que si se pudiese hacer que
los pobres se alimentasen sin que anduviesen a pedir por las calles, los
Provisores y los Corregidores tuviesen cuidado cada uno en lo tocante
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21. “Y por eso tiene San Juan (I. Juan, 3) Por imposible que el que tiene de los haberes y
sustancia deste mundo viere a su hermano en necesidad y no le socorriere que éste tal
tenga caridad ni hermandad com él”. Soto, Deliberación en la causa de los pobres, 63.
22. Mt 5, 3-4.
23. Soto, Deliberación en la causa de los pobres, 30.
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Per certi versi, i vagabondi di Soto ricordano “la terza specie di barbari”
di cui parla Las Casas nel Sumario della celebre disputa di Valladolid,
quelli che, per i loro costumi perversi e per la rozzezza dell’ingegno e
l’indole brutale, sono paragonabili a delle fiere selvagge che vivono nei
campi, senza città, senza case, senza Stato (policia), senza leggi, senza
riti, né comportamenti secondo il diritto delle genti. Anzi, essi vanno
errando – palantes, come si dice in latino – ovvero rapinando e facendo
violenze [...]. Di essi si potrebbe accettare quello che sostiene Aristotele,
ossia che, così come è lecito dare la caccia alle fiere, allo stesso modo
è lecito fare loro guerra, difendendoci da essi, perché non ci arrechino
danno, e facendo in modo da ricondurli a una civile convivenza (policia)
umana.24
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25. Domingo de Soto, Deliberación en la causa de los pobres (Instituto de Estudios políticos:
Madrid, 1965), 23.
26. Ibid., 24.
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Quanto alla legge giustinianea, essa consente agli invalidi dei due sessi e
agli anziani di rimanere in Costantinopoli, senza discrimine tra indigeni
e stranieri. Carlo imperatore, d’altra parte, nelles cortes del 1540 nien-
tr’altro stabilì, se non che fosse stato provveduto nelle loro case ai poveri
non entro i limii dello stretto necessario, ma entro la soglia del più che
sufficiente, non sarebbe stata più permessa la mendicità. Essendo ciò
impossibile, anche che per le miserie corrennti, i cristiani, sul presu-
pposto del vincolo strettissimo che, in Cristo e secondo il diritto di natura,
lega gli uomini di tutto l’universo, non solo dovrebbero ammettere nelle
loro città i poveri do qualsiasi parte del regno, ma anche quelli prove-
nienti dai territori degli infedeli, se non fossero nostri nemici e so non
temessimo da parte loro un danno alla fede.27
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28. “Pues luego porque la doctrina destos santos pongamos en suma delante de los ojos:
lo que ellos enseñan es que el oficio de la misericordia no es discernir entre buenos y
malos, eso se reserva a solos los ministros de la justicia; la misericordia es socorrer a
todos” (Domingo de Soto, Deliberación en la causa de los pobres (Instituto de Estudios
políticos: Madrid, 1965), 91.
29. “Los pobres, por fuerza, han de ser como las hormigas que han de subir al cogollo. Y
aun no solamente todo un reino es obligado a mantener sus pobres, mas los pobres
de un reino tienen derecho de pedir por Dio sen el outro, si son verdadeiramente
pobres. Porque todos los cristianos, dice San Pablo (1. Cor. 12) somos membros de
un cuerpo. Y por ende, como agudamente está entre las fábulas griegas que un ciego
llevaba a cuestas a un cojo porque el cojo guiase ao cego, ansí los que saben han de
ser como ojos de los que no saben, y los que pueden trabajar han de ser como manos y
pies de los que entienden en la gobernación y culto divino; y los ricos han de ser como
estómago para mantender a los pobres y en Jesuscristo, como dice en outro lugar, no
hay distinción entre griego y latino, y judío y gentil, porque todos somos de un dueño”.
Soto, Deliberación en la causa de los pobres, 39.
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1274 Sandro Alex Souza Simões
Cada qual deve poder buscar sua sobrevivência onde melhor pouso e
frutos puder colher.
A quinta razão nos é particularmente relevante porque diz respeito a
uma vasta tradição que perpassa a religião e a filosofia, qual seja o dever
de hospitalidade. A tradição judaica já ressaltava o imperativo de tratar
bem ao estrangeiro e acolhê-lo, dado que os judeus devem lembrar que
já foram estrangeiros e peregrinos no Egito. Mas igualmente a tradição
da filosofia clássica greco-romana aponta para a hospitalidade como uma
virtude das mais elevadas e um dever que deriva da philia.
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31. Soto, Deliberación en la causa de los pobres, 73. A propósito, procurando resumir a
argumentação de Soto como linhas para interpretação e melhor aplicação das “Leis
dos pobres”, aduz Castaño: “Por lo tanto, si la finalidad de toda ley de pobres debe ser la
satisfacción de las necesidades materiales y corporales de los menos favorecidos, queda
claro que los tres preceptos lícitos de la ley del cardenal Tavera estarán bien aplicados
siempre que redunden en el beneficio de los pobres y colmen de forma eficiente las
urgencias de los más necesitados. En primer lugar, Soto va a tratar todo lo relacionado
con el examen de pobres y con la obtención de la cédula de mendicidad, es decir, va a
indagar cómo se puede poner en marcha todo esto para para no causarles problemas
o perjuicios que ahondarían aún más en su delicada situación. Nuestro autor señala
cinco limitaciones al examen de pobres y, en consecuencia, al condicionante de ligar
el ejercicio de la mendicidad a la concesión de la cédula pertinente por parte de las
autoridades. La primera, parte de la distinción entre justicia y misericordia y relaciona
el auxilio de los pobres únicamente con lo segundo. Eso quiere decir que el examen
debe ser flexible y no buscar únicamente la captura de vagabundos ya que, un solo
error, causaría un perjuicio irreparable al verdadero pobre. En segundo lugar, los
exámenes deben ser hechos por funcionarios buenos y justos para evitar cualquier tipo
de negligencia. El motivo aducido por Soto es que los pobres no tienen voz y no pueden
defenderse de injusticia. La tercera limitación al examen está en que se deben ampliar
los casos en los que se concede el permiso para pedir. No sólo deben ser considerados
pobres los enfermos, sino que se debe tener en cuenta a otros tantos que, aún sin estar
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enfermos, tienen dificultades para trabajar. Eso nos lleva a la cuarta limitación: se debe
conceder cédula para mendigar también a aquellos que se desplazan para conseguir
trabajo. Este permiso sería temporal y se limitaría obviamente al periodo en el que la
persona estuviera desempleada. El quinto y último motivo tiene que ver con el tercero
ya que amplía la consideración de pobres a aquellos de buena sangre y familia que han
perdido la hacienda y que, de otra forma, se verían compelidos a ejercer profesiones
mucho más vergonzantes.” (Castaño, Revista de filosofía moderna e contemporânea, 79).
32. “Efectivamente com Vitoria entran de lleno en la teologia los más diversos temas
humanos y sociales en el âmbito eclesiástico y civil, que son estudiados y solucionados
desde los princípios de la Fe cristiana. ‘Siempre mostro un interés preferente por los
problemas humanos planteados en la teologia moral, no deteniéndose en el terreno
árido de los princípios y cuestiones especulativas, sino buscando el contato imediato
com la realidade histórica y orientando su exposición a los temas vivos del orden
jurídico, social y político. El interés que despertaron sus leciones fue enorme. Su fama
de teólogo se difundió y propagó fuera de las aulas universitárias, comenzando a venir
a su mesa de estúdio multitude de consultas de índole muy diversa’”. Juan Belda Plans,
La Escuela de Salamanca y la renovación de la teologia (Madrid: BAC, 2000), 191.
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Notiamo tre cose. Innanzitutto, come già segnalato da Annabel Brett, qui
il teologo di Salamanca non fa che applicare allo scenario europeo quello
stesso ius peregrinandi che Francisco de Vitoria aveva teorizzato all’in-
terno della sua ricognizione dei possibili “titoli legittimi” della guerra
contro gli Indios. Anche nella Relectio de Indis (1538) troviamo infatti
l’idea di un diritto degli Spagnoli a viaggiare e trattenersi nei territori dei
“barbari” (sia pure a condizione di non arrecargli danno). Un diritto per
di più sostenuto con argomenti assai simili a quelli della Deliberación:
la legge dell’ospitalità, la proprietà comune delle vie di comunicazione,
l’impossibilità giuridica di infliggere l’esilio a stranieri senza colpa. A
questo proposito, quel che è interessante sottolineare è la facilità con cui
Soto può trasferire al contesto interno uno strumento giuridico elaborato
nell’ambito di quello che potremmo anacronisticamente definire “diritto
internazionale”: prova ulteriore della già rilevata fiducia della tarda
scolastica nell’uniformità dell’ordine razionale dell’essere, un ordine che
non conosce fratture normative di rilievo tra relazioni interne ed esterne
agli Stati.34
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35. “A palavra philia designa, no mundo grego, a ideia geral de amizade. Mas, entre os
termos que na semântica grega envolvem o conceito de amizade, foi o de hetairiké
(camaradagem militar) que prevaleceu. Passando do plano militar para o político,
indica solidariedade ideológica da aristocracia que se opunha à constituição das
tiranias, ligando a amizade política à democracia da polis”. Eduardo Vera-Cruz,
História do direito comum da humanidade, Vol.I, (Lisboa: AAFDL, 2003), 432. Ver
também Fábio Comparato, Afirmação histórica dos direitos humanos, 3º ed. (São
Paulo: Saraiva, 2003), 30.
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were to be limited. Such ruminations heralded the great works that later
were to adress more systematically the nature of the international legal
order ando f the modern secular state.36
36. Luis Valenzuela-Vermehen, “Vitoria, humanism and the School of Salamanca in early
sixteenth-century Spain”, Logos 16:2 (2013):117. A respeito também o clássico James
Brown Scott, The catholic conception of international law (Washington:Georgetown
University Press, 1934), 488.
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37. “…ao sustentar que os índios são verdadeiros senhores de suas terras, Vitoria é levado
a reconhecer não só que qualquer título legítimo de ocupação dessas terras deriva
forçosamente do direito das gentes e não do direito civil, pressupondo algum tipo
de injúria dos índios contra os espanhóis, como ainda que estes últimos podiam,
quando muito, pretender um domínio de jurisdição na América, mas não direitos
de propriedade. A argumentação de Grócio, de modo diferente, visava justificar
diretamente a existência de verdadeiros direitos de propriedade sobre as terras não
cultivadas dos índios”. (Miguel Nogueira de Brito, Estudo introdutório – II, in Calafate
(org.), A Escola ibérica da Paz, 54).
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1282 Sandro Alex Souza Simões
6. Conclusões
cover of some device invented to conceal the true nature of the transaction. In Spain,
the great stronghold of religious authoritarianism, such a situation could not idly be
tolerated”. Marjorie Grice-Hutchinson, The School of Salamanca. Readings in Spanish
Monetary Theory, 1544-1605 (Oxford, 1952), 41.
40. “Por este motivo, albergaba ds (Domingo de Soto) serias dudas de que se pudiera
prohibir a los pobres legítimos salir a mendigar, porque equivalía a obligarles a
pasar necesidad injustamente. Idéntica libertad de movimientos reivindicaba para
el peregrino, sobre todo si era extranjero. No negaba que el trasiego de peregrinos
ocasionara problemas, pero le parecían tan pocos, numéricamente, los que mendigan
en suelo extranjero, que no consideraba necesaria la expedición de una ley para
regularlos. Concluía que no es lícito a ningún poder político restringir la libertad a
ningún necesitado. Para Soto, el dominio sobre las cosas o el derecho de propiedad
privada no es un derecho absoluto, sino relativo y limitado al bien común de toda
la sociedad.” Hernández, “La aparente actualidad en el debate 1sobre los inmigrantes y
refugiados”, 284.
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1284 Sandro Alex Souza Simões
Referências
Anónimo. Lazarilho de Tormes, trad. Pedro Câncio da Silva. São Paulo: Página Aberta; Brasília,
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Mendicância, vagabundagem e a defesa do ius migrandi em Domingo de Soto 1285
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1287-1320.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1287
Abstract
In complex societies the condition of “the other” is defined by the religious, the ethnic, the
political, the cultural, etc., in this paper the “Indian” will be alluded to a figure that unites
practically all of these perspectives both from the vision of Francisco de Vitoria as from a
current perspective in order to determine the status of their rights.
Keywords: companies, Francisco de Vitoria, human rights, indians, indigenous peoples,
social philosophy, the “other”.
1. Introducción
L
as sociedades actuales se caracterizan por su diversidad, la cual se
puede contemplar tanto desde una perspectiva sociológica como
normativa. En el seno de las sociedades aparecen grupos que se
diferencian en atención a rasgos identitarios como la lengua, la religión,
las tradiciones, los valores y prácticas que se asimilan a una u otra cultura.
Por otra parte, la configuración política como Estados democráticos de
derecho exige, cuando menos, la presencia de principios como la libertad,
la igualdad y, sobre todo, el pluralismo. En este contexto se hace impres-
cindible gestionar no ya la coexistencia de estos grupos sino la convivencia.
Si esta es el objetivo a conseguir la pregunta evidente es cómo llevarlo a
cabo si para ello se requiere que la percepción del “otro” sea considerada
* Este trabajo se encuadra dentro del proyecto: “La nueva protección jurídica de las
personas vulnerables, (DER 2015-69120-R) cuyos investigadores principales son Cristina
Guilarte Martín-Calero y Javier García Medina.
** Universidad de Valladolid, Spain.
javier.garcia.medina@uva.es
1287-1320
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1288 Javier García Medina
1. A/HRC/40/48 https://undocs.org/es/A/HRC/40/48.
https://www.ohchr.org/Documents/Publications/UNDRIPManualForNHRIs_SP.pdf.
2. Se citará la relección De Indis por Francisco de Vitoria O.P. Relecciones Jurídicas y
Teológicas, Tomo II, Biblioteca de Teólogos Españoles, 52, (Salamanca; Editorial San
Esteban, 2017). Edición crítica usando los manuscritos y con nueva versión española
dirigida por Antonio Osuna Fernández-Largo. Con la colaboración de Jesús Cordero
Pando, Mauro Mantovani, Ramón Hernández Martín, Simona Langella y Ángel
Martínez Casado.
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1290 Javier García Medina
6. Ibid., 100-101.
7. Ibid., 101.
8. Anthony Pagden, “‘Las bases ideológicas de la disputa sobre el dominium y los derechos
naturales de los indios americanos”’, en Revista Internacional de Pensamiento Político,
I Época, Vol.1, (2006): 15.
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La consideración del “otro” 1291
Los indios son una realidad nueva que conlleva un desafío doctrinal
en todos los órdenes y al que Vitoria pretende dar respuesta estableciendo
tres preguntas que representan tres hipótesis de trabajo con las cuales
estructura su disertación: “(…) con qué derecho han venido estos bárbaros
al dominio de los españoles; (…) qué autoridad tienen los príncipes de
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los españoles sobre ellos en las cosas temporales y civiles; (…) qué poder
tienen estos mismos príncipes o la Iglesia sobre ellos en las cosas espiri-
tuales y en las que se relacionan con la religión”.12
Se adentra en la primera de las cuestiones de forma prudente y en
principio considera que quizás es una cuestión ya debatida y resuelta y en
la que él ni muchos otros tienen nada que decir dado que los príncipes de
España ni los consejos deben revisar los títulos. Es una cuestión extrema-
damente delicada, en atención a los argumentos que se habían manejado
y que tranquilizaban a la corona, pero al mismo tiempo transcendental
para fundamentar los posibles derechos sobre los indios.13
Corresponde, pues, a Vitoria buscar argumentos para, sin poner en
duda los títulos de los príncipes de España, si reforzarlos, eliminando toda
posible duda y que en caso de haberla, determinar a quién le corresponde
resolver dado que en este tema se superan los ámbitos de las comunica-
ciones, contratos y negocios y se entra en el de la salvación.14
Vitoria quiere introducir una salvaguarda y garantía mucho más
fuerte cuando se puedan generar dudas en la conciencia, que debe estar
tranquila “hasta que de nuevo sea advertido por una autoridad similar o
por diversas razones humanas, que le mueven seriamente a la duda o a
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Respondemos primero que, si así es, bendito sea Dios. Y nuestra discusión nada obsta
ni yo quiero mover nuevas querellas”.
19. Ibid., 525.
20. Ibid., 525.
21. Pagden, “‘Las bases ideológicas de la disputa sobre el dominium y los derechos
naturales de los indios americanos’, 17-18. V. Domingo Ramos Lisson, “El respeto a la
libertad personal de los Indios en los iniciadores de la Escuela de Salamanca, Vitoria
y Soto”, en José Luis Illanes Maestre / Pio Gonçalo Alves de Sousa / Teodoro López
Rodríguez / Augusto Sarmiento (eds.), Ética y teología ante la crisis contemporánea: I
Simposio Internacional de Teología, (Pamplona: Eunsa, 1980), 215-222.
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La consideración del “otro” 1295
[…] algunos son siervos por naturaleza, para los que, a saber, es mejor
servir que mandar. Estos son aquellos a quienes su razón no les alcanza
ni para regirse a sí mismos, sino solo para aceptar lo que se les manda, y
cuya fuerza está más bien en el cuerpo que en el alma.
Pero en verdad, si hay algunos así, ésos en máximo grado son los indios,
que realmente poco parecen distar de los animales brutos y son por
completo inhábiles para gobernar, y sin duda para ellos es mejor que
sean regidos por otros que regirse a sí mismos. Aristóteles dice que es
justo y natural que esos hombres sirvan. Luego éstos no pueden ser
dueños o señores de otros.
No obsta que antes de la llegada de los cristianos no tuvieran otros
señores, pues no es contraindicado que haya siervos sin dueño.22.
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Y como Dios hace salir su sol sobre los buenos y los malos, y llueve sobre
los justos y los injustos, según Mt 5,45, así da los bienes temporales a los
buenos y a los malos.27
De todo esto queda claro que no es lícito despojar de sus bienes ni a los
sarracenos, ni a los judíos ni a los demás infieles, hablando en general,
por el solo hecho de ser infieles. Sería un robo o rapiña no menor que si
se hace a los cristianos.30
Vitoria concluye:
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La consideración del “otro” 1297
niños al preguntarse si estos “antes del uso de la razón, pueden ser dueño”,
en su respuesta no hay duda para afirmar que “los niños antes del uso de
la razón pueden ser dueños” atendiendo a que:
[…] pueden padecer injuria: luego tiene derecho sobre las cosas; luego
tienen dominio, que no parece ser otra cosa que derecho.
Además los bienes de los niños no figuran entre los bienes del tutor, sino
que tienen sus dueños, que no son otros que esos pupilos. Luego éstos
son dueños.
[…] También decimos que el fundamento del dominio es la imagen de
Dios, que se da incluso en los niños. […] Y no es lo mismo que la criatura
irracional, porque el niño no existe por el bien del otro, como son los
animales, sino por razón de sí mismo.33
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1298 Javier García Medina
35. Ibid., 565-567: “(…) ciertamente Aristóteles no enseña que los que tienen poco ingenio
sean por naturaleza siervos, y no tengan dominio ni de sí ni de sus cosas. Esta sería la
esclavitud civil o legal, pues nadie es siervo por naturaleza.
Tampoco quiere decir el Filósofo que, si hay algunos que por naturaleza tienen poco
ingenio, sea lícito apoderarse de sus bienes, reducirlos a la esclavitud y poderlos vender.
Quiere decir solamente que por naturaleza, hay en ellos una necesidad o carencia, que
los hace aptos para ser regidos y gobernados por otros, y que es un bien para ellos estar
sometidos a otras personas, como los hijos antes de la edad adulta estar sometidos a
los padres, y a la mujer al marido.
Que sea ésta la mente del Filósofo es claro, porque dice también que hay algunos que
son por naturaleza señores, porque sobresalen en entendimiento. Mas es cierto que no
quiere decir que estas personas puedan tomar para sí el gobierno sobre los otros por
ese título de ser sabios, sino que por naturaleza tienen capacidad para regir y un don
especial para ello.
Por consiguiente estos indios, aunque sean tan ineptos y rudos para poder gobernar, no
por eso se les debe negar un verdadero dominio y no deben ser tenidos como esclavos.
Es verdad que por esta razón y título podría haber algún derecho para someterlos,
como diremos.
Queda por lo tanto como cierta esta conclusión: Antes de la llegada de los españoles a
aquellas tierras, los indios eran verdaderos dueños tanto pública como privadamente.
36. Pagden, “Las bases ideológicas de la disputa sobre el dominium y los derechos
naturales de los indios americanos”, 22.
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37. De Indis, Relecciones Jurídicas y Teológicas, Tomo II, 575: “(…) Por derecho natural los
hombres son libres, excepto en el dominio paterno y marital. (…) La otra es la potestad
civil, que, por tener su origen en la naturaleza, puede decirse de derecho natural (…);
pero esta potestad no viene establecida por la naturaleza sino por la ley. Tampoco
leemos que, antes de la venida de Cristo, por derecho divino haya habido emperadores
o señores del mundo”. Ibid., 579: (…) y que por ese título el emperador no puede
hoy arrogarse el dominio del orbe, y por consiguiente el de los indios. Después de
la venida de Cristo podría alguno pretender que por concesión del Señor exista un
emperador en la tierra. Ibid., 581-583: Pero tampoco esto puede sostenerse de ningún
modo. En primer lugar porque es dudoso que Cristo, según su humanidad, haya sido
señor temporal del mundo, y es probable que no lo fue. (…) Además, dado que Cristo
hubiera sido señor temporal, es de adivinos decir que dejó esa potestad al emperador,
siendo así que en toda la Escritura no se hace ninguna mención de esto”. Ibid., 587:
“Así queda claro que es pura imaginación defender que por concesión de Cristo hay
un solo emperador y señor del mundo. No dudo que se trata de pura fantasía. “Por el
derecho humano consta que el emperador no es señor del orbe, porque esto podría
serlo por la sola autoridad de la ley, y esta ley no existe; y, si existiese, no tendría
efecto, porque la ley presupone jurisdicción. Ahora bien, si el emperador antes de
la ley no tenía jurisdicción sobre el orbe, la ley no pudo obligar a los que aún no
eran súbditos. Tampoco el emperador pudo tener el dominio del orbe por legítima
sucesión o por donación o por compra etc. o por cambio o por elección o por algún
otro título legítimo. Luego nunca el emperador fue señor de todo el orbe”. Pero Vitoria
además añade, Ibid., 587: “(…) Aún concediendo que el emperador fuese dueño de
todo el orbe, no por esto podría tomar las provincias de los indios y constituir nuevos
señores y deponer a los anteriores y cobrar tributos. Se prueba porque, incluso los
que atribuyen al emperador ese dominio sobre el orbe, no dicen que él sea señor
con dominio de propiedad, sino sólo de jurisdicción. Ahora bien, este derecho no se
extiende al extremo de poder convertir las provincias en su propio provecho y donar
pueblos y campos según sus intereses. Luego, como se desprende de lo dicho, por este
título los españoles no pudieron ocupar las provincias de los indios”.
38. Ibid., 589.
39. Ibid., 593.
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Ambas cosas, dice Vitoria, son las que se han venido realizando en
concreto, pero eso no le impide analizar el dominio temporal del Papa,
remitiendo a la relección De potestate ecclesiastica, y plantear las siguientes
proposiciones: en primer lugar, “el Papa no es señor temporal de todo el
orbe, hablando de dominio en sentido propio” y, al igual que lo dicho
sobre el emperador “no le puede convenir ese dominio ni por el derecho
natural ni por el derecho divino, ni por el derecho humano”,40 en segundo
lugar, aún en el supuesto de poseer aquella, no podría transferirla a los
príncipes, reyes o emperadores; en tercer lugar, “el Papa tiene potestad
temporal en orden a las cosas espirituales, esto es en cuanto necesario
para administrar las espirituales”, pero nada más.41
De lo expuesto se extrae la conclusión, referida de forma específica a
la potestad sobre los indios: “El Papa no tiene ninguna potestad temporal
sobre los indios, ni sobre los otros infieles”.42 Pero es que además Vitoria va
más allá y señala que “si los indios no quieren reconocer ningún dominio
del Papa, no por eso se les puede hacer la guerra ni ocupar sus bienes”.43
40. Ibid., 595-597: “Proposición primera: (…) Y si Cristo, el Señor, no tuvo dominio
temporal, según hemos expuesto antes como lo más probable y hemos probado como
sentencia de Santo Tomás, mucho menos lo tendrá el Papa, que es vicario de Cristo.
Es claro; ellos atribuyen al sumo pontífice lo que éste nunca reconoció. Es más; en
muchos lugares ha confesado lo contrario, como lo hemos mostrado en la mencionada
relección, y hemos probado suficientemente, como más arriba sobre el emperador, que
no le puede convenir ese dominio ni por el derecho natural ni por el derecho divino,
ni por el derecho humano. Por el derecho natural y humano es cierto que no. Por el
derecho divino nadie lo ha probado”.
41. Ibid., 601-603: ”Segunda proposición: Dado que el sumo pontífice tuviera aquella
potestad temporal en el orbe, no podría concederla a los príncipes seculares. La razón
es clara, porque estaría aneja al papado y no podría el Papa separarla del oficio de
sumo pontífice, ni podría privar a su sucesor de esa potestad, ya que no puede ser
un sumo pontífice menor que su predecesor”. (…) Tercera proposición: (…) Por eso
también, cuando discrepan los príncipes en torno al derecho sobre algún reino y hay
peligro de guerra, el Papa puede ejercer de juez, examinar el derecho de ambas partes
y decidir la sentencia; la cual están obligados a aceptar los príncipes, para que no
sobrevengan tantos males espirituales como habrían de suceder por una guerra entre
príncipes cristianos.
Si el Papa no hace esto o no lo hace de ordinario, no es porque no pueda hacerlo,
como dice Durando, sino porque teme el escándalo; para que no piensen los príncipes
que lo hace por ambición, o por temor de que se rebelen los príncipes contra la sede
apostólica. Por dicha razón puede el Papa en algunas circunstancias deponer a los
reyes e instituir otros nuevos, como lo ha hecho algunas veces. Y ciertamente ninguno
legítimamente cristiano debería negar esta potestad al Papa”.
42. Ibid., 607.
43. Ibid., 607: “Está claro, porque el Papa no tiene semejante dominio. Se confirma esto
con toda evidencia. Porque, como se dirá y lo confiesan los adversarios, suponiendo
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La consideración del “otro” 1301
Por todo lo dicho queda claro que los españoles, cuando navegaron por
primera vez a la tierra de los indios, no llevaron consigo ningún título de
ocupación de aquellas provincias.45
que los indios no quieran recibir a Cristo por señor, no se puede hacerles guerra ni
causarles ningún mal. Ahora bien, es absurdísimo lo que ellos dicen, a saber, que
pueden impunemente rechazar a Cristo, y sin embargo estén obligados a recibir a su
vicario, y de lo contario acometerlos con la guerra y expoliarlos.
Se confirma también porque según estos autores la causa de no poder obligar con
la fuerza, aunque los indios no quieran recibir a Cristo ni creer en Él, es que no se
les puede demostrar esa fe evidentemente por razones naturales. Ahora bien mucho
menos se les puede probar el dominio del Papa. Luego tampoco se les debe obligar por
la fuerza a reconocer ese dominio”.
44. Ibid., 609: “(…) Ahora bien, es cierto que ningún infiel reconoce ese dominio, y sin
embargo ningún doctor, ni entre los adversarios, admite que por el solo título de
infidelidad se pueda expoliar. Luego es completamente ficticio lo que estos dicen, a
saber, que, si no reconocen el imperio del romano pontífice, pueden ser expoliados. Y
ninguno reconoce esto; no lo dudo.
De todo ello se deduce que tampoco este título es idóneo contra los indios, sea porque
el Papa dio el dominio al emperador sobre aquellas provincias, sea porque los indios
no quieren reconocer el dominio del Papa”.
45. Ibid., 611.
46. Ibid., 613.
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La consideración del “otro” 1303
54. Ibid., 635: “Digo esto, porque, como consta claramente por la segunda proposición,
no están obligados a creer, si no se les propone la fe con una persuasión probable.
Ahora bien, milagros y signos no oigo que haya habido; ni ejemplos de vida altamente
religiosa; al contrario, muchos escándalos, crímenes crueles y muchas impiedades”.
Por lo tanto no parece que la religión cristiana les haya sido predicada con suficiente
amabilidad y piedad como para que ellos estén obligados a asentir. Es verdad que
muchos religiosos y otros varones eclesiásticos con su vida y ejemplos, y con su
diligente predicación hubieran manifestado un trabajo y una dedicación suficiente, si
otros, movidos por otros intereses, no lo hubieran impedido.
55. Ibid., 635-639: “Además la guerra no es ningún argumento en pro de la verdad de la fe
cristiana. Luego por la guerra no pueden los indios ser movidos a creer, sino a fingir
que creen y que reciben la fe cristiana, lo cual es un gran sacrilegio”.
“Está claro, pues, que tampoco este título es idóneo y legítimo para ocupar las
provincias de los indios”.
56. Ibid., 639-641.
57. Ibid., 643: “Pongo la conclusión: Los príncipes cristianos, incluso con la autoridad del
Papa, no pueden apartar por la fuerza a los indios de los pecados contra la naturaleza
ni castigarlos por causa de ellos.
Se prueba esta conclusión. Primeramente porque presuponen algo falso, a saber, que
el Papa tiene jurisdicción sobre ellos, lo cual ya hemos rechazado arriba.
En segundo lugar, porque esos pecados contra la naturaleza o los entienden de modo
general del robo, de la fornicación, del adulterio, o los entienden de modo particular de
los que trata Santo Tomás en la Secunda Secundae, cuest.154, art.11 y 12, donde enseña
que pecado contra la naturaleza se dice no sólo el que es contra la ley natural, sino
contra el orden natural, que son los que San Pablo en 2 Cor 12,21 llama inmundicias, y
la Glosa pone como ejemplos el concubinato con los niños, los pecados con las bestias,
o de mujer con mujer, de los que habla el mismo San Pablo en Rom 1,26-32”.
58. Ibid., 645-647: “Igualmente no todos los pecados contra la ley natural de la naturaleza
pueden mostrarse con evidencia, al menos para todos.
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Brevemente, esto sería lo mismo que decir que por la infidelidad es lícito declararles la
guerra, pues todos son idólatras.
Además, no es lícito al Papa hacer la guerra a los cristianos, porque éstos sean
fornicarios o adúlteros, o incluso porque sean sodomitas. Y por lo tanto tampoco
pueden arrebatarles sus tierras y darlas a otros príncipes. Pues de este modo, como en
todas las naciones hay muchos pecadores, podría cambiar los reinos a diario”.
Y se confirma, porque estos pecados son más graves en los cristianos, ya que éstos
saben que esas cosas son pecados, y los indios, en cambio lo ignoran.
Asimismo es admirable que el Papa no pueda dictar leyes a los infieles y pueda, sin
embargo, juzgarlos e imponerles penas. No encuentro la causa”. Ibid., 649: “(…) Por
otra parte ¿a qué llaman éstos profesar la ley natural? Si es conocerla, los indios no
la conocen toda. Si es querer observarla, ¡contra!, también quieren observar la ley de
Cristo. Pues si supieran que la ley cristiana es ley divina, la querrían observar. Luego
no profesan más ésta que aquélla”.
59. Ibid., 651.
60. Ibid., 651.
61. Ibid., 651-653.
62. Ibid., 655.
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La consideración del “otro” 1305
1.
63. Ibid., 659: “Todas las cosas que no están prohibidas son lícitas, si por otra parte no
redundan en daño y detrimento de los demás. Este tránsito de los españoles no está
prohIbido y no va en detrimento de los indios, como suponemos. Por consiguiente es
lícito”. Ibid., 659-663: (…) Hay cosas que son comunes de todos por derecho natural:
el agua corriente y el mar; también los ríos y los puertos; y todas las naves de donde
quiera que vinieren pueden atracar en ellos, por el derecho de gentes, según las
Institutiones, De rerum divisione. Y por la misma razón parecen públicas esas cosas.
Luego a nadie se le puede prohibir el uso de ellas. De todo esto se sigue que los indios
hicieron injuria a los españoles, si los rechazaron de sus territorios.
(…) Porque si a los españoles no les fuera lícito viajar hasta ellos, esto sería o por
derecho natural o por derecho divino o por derecho humano. Por el derecho natural y
divino ciertamente es lícito”.
64. Ibid., 663. V. Luciano Pereña Vicente. “Derechos y deberes entre indios y españoles.
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La consideración del “otro” 1307
gentes y por el mismo Derecho natural, por lo que debe ser ejercida sin
límites ni restricciones legales”.69
Un derecho que consistiría en poder viajar pacíficamente contando
con la hospitalidad y el auxilio de los demás seres humanos, cuyo origen
es antiguo, está vinculado a la más básica condición humana y en conse-
cuencia la ley humana no puede suprimirlo. Este derecho de comuni-
cación y sociabilidad es un derecho absoluto que no puede ser interferido
por ninguna sociedad humana.70
Se inaugura de esta manera la idea de “una sociedad humana
universal” que vaya más allá de la comunidad política internacional,
basada sobre intereses nacionales, y prevalezcan los seres humanos dando
un nuevo sentido al ius gentium, comprendido como Derecho común de
la humanidad y anclado en los lazos de fraternidad y solidaridad entre los
seres humanos, con el fin de preservar los bienes y valores fundamentales
de toda la humanidad”.71
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1310 Javier García Medina
aplicar estos títulos, “de forma que los indios no dieran ninguna causa
para una guerra justa, ni quisieran tener a los españoles como príncipes,
etc., cesaría toda expedición y el comercio con gran perjuicio para los
españoles, como también los príncipes recibirían un gran daño en sus
ingresos, todo lo cual sería intolerable”.
Vitoria entiende que el comercio no va a cesar porque los cambios
se van a mantener y recomienda a los reyes “imponer una contribución
sobre el oro y la plata”, […] “porque esa navegación fue descubierta por el
rey y por su autoridad los negociantes se sienten seguros”. Pero además y
dadas las conversiones ya existentes “no sería conveniente ni sería lícito
que el rey de España dejara por completo la administración de aquellas
provincias”.81
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La consideración del “otro” 1311
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1312 Javier García Medina
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La consideración del “otro” 1313
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1314 Javier García Medina
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La consideración del “otro” 1315
no ha sido hasta finales del XX cuando las empresas se han sentido concer-
nidas por su posible aportación a la realización de los derechos humanos.
Hasta ese momento les bastaba con alcanzar sus beneficios y cumplir con
las exigencias que cada marco legal en los diferentes ámbitos y niveles
establecía. El discurso de derechos en el marco de la responsabilidad
social de las empresas (RSE)94 era completamente ajeno.
El cambio de planteamiento procede de la comprensión por parte
de las empresas que para la justicia de su propia sociedad y para el bene-
ficio de sus inversores han de asumir una responsabilidad en sus actua-
ciones en otros países más allá del cumplimiento de mínimos locales que
pueden provocar una evaluación inadecuada y conformista de prácticas
que pueden ser consideradas irresponsables, cuando menos, y que impac-
tarían de modo especial en la rentabilidad y viabilidad futuras.
La visión a corto plazo de beneficios empieza a ser insuficiente para
un contexto que sin limitar la eficiencia y competitividad empresarial,
posibilite evaluar el impacto de la actividad económica mediante indica-
dores eficaces para una situación de deterioro del medio ambiente y de un
entorno social en crisis, en el que las posibilidades de explotación laboral
se incrementan. Se trata de dar un paso adelante más de compromiso
ya que se pasaría de una situación de compromiso voluntario en estas
cuestiones a la búsqueda de regulaciones que limiten y permitan valorar
y evaluar las actuaciones de las empresas. La toma de decisiones en
inversión ha de contar con criterios no estrictamente financieros, en el
que los índices ambientales, sociales y de gobierno corporativo95 cada vez
cobran más importancia.
Avanzar en un marco regulativo no solo de ámbito nacional sino inter-
nacional, generando la posibilidad de vincular a empresas privadas parece
un escenario posible.96 Los pasos adelante que se han dado desde la puesta
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1316 Javier García Medina
de 23 de enero de 2013.
http://www.ohchr.org/Documents/Issues/Business/ForumSession1/a_hrc_fbhr_2012_4_sp.pdf.
http://www.ohchr.org/Documents/Publications/GuidingPrinciplesBusinessHR_EN.pdf.
Nueva York y Ginebra, 2011, Naciones Unidas, Derechos Humanos, Alto Comisionado.
97. Declaración de las Naciones Unidas sobre los derechos de los pueblos indígenas. Guía de
referencia para las empresas.
https://www.unglobalcompact.org/docs/issues_doc/human_rights/IndigenousPeoples/
BusinessGuide_ES.pdf. En el mismo sentido se expresa el documento Empresas y
Pueblos Indígenas que constituye la Guía de la Red Española del Pacto Mundial.
https://www.pactomundial.org/2017/08/la-red-espanola-del-pacto-mundial-lanza-
una-guia-orientar-al-sector-privado-respeto-los-pueblos-indigenas/. Vd. Christian
Felber, Por un comercio mundial ético: porque el debate no es entre libre comercio y
proteccionismo, sino entre comercio ético y no ético, traducido por Silvia Yusta.
(Barcelona: Ediciones Deusto, 2018).
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La consideración del “otro” 1317
4. Conclusiones
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1318 Javier García Medina
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1321-1340.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1321
Abstract
Recent years have seen a recovery of the value that the Salamanca School has had in the
defense of human rights and in the formation of International Law. This recovery has
brought with it a better knowledge of the dimensions it had, which were the institutions in
which it was developed and all the authors that were part of it. That is why today it is called
“Ibérica” or, more appropriately,”Iberoamericana”.
Keywords: America, human rights, peace, Portugal, rights, Spain.
S
e conmemoró el pasado año 2018 el septuagésimo aniversario de la
Proclamación de los Derechos Humanos. Fue el 10 de diciembre de
1948, con los rescoldos de la segunda gran guerra aún humeantes,
cuando la Asamblea General de las Naciones Unidas en París, en la
Resolución 217ª, expresó cuál debía ser el ideal común para todos los
pueblos y naciones. La Declaración establecía, por primera vez, los
derechos humanos fundamentales que debían protegerse en el mundo
entero.
Baste recordar ahora que la Declaración, en su comienzo, utiliza la
expresión “familia humana” y, un poco más adelante, en el quinto conside-
rando, hace lo propio con la palabra “pueblos”, que retoma en el artículo
21 para fijar la legitimidad del poder público. En total son más de veinti-
cinco ocasiones en las que retoma la expresión “persona humana”, “toda
persona” o “todo ser humano”, para acentuar el fuerte carácter de comu-
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1322 José Luis Mora García
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1324 José Luis Mora García
4. Ignacio Pinilla, Omníbona. Utopía del siglo XVI (Salamanca: SEMYR, 2018).
5. Francisco de Vitoria, De indis, in Calafate y Mandado, 165.
6. Anais do II Ciclo de Palestras Ibero-americanas. Anais...Manaus (AM) Programa de
Pós-Graduação em Direito Ambiental (PPGDA), 2018. Disponível em: <https//www.
even3.com.br/anais/2ciclo/140092- Acesso em: 23/02/2019.
7. Eduardo Nicol, “Libertad y comunidad. La filosofía de Francisco Suárez” (1948) y
“Propiedad y comunidad. Suárez frente a Locke y Marx” (1948), recogidos en La
vocación humana (México Ciudad: El Colegio de México, 1953), 203-249. Fueron
publicados incialmente en revistas mexicanas. Mora García, J.L., “Propiedad y
comunidad,” en II Ciclo de Palestras Ibero-americanas, 1-15.
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Lizaola, Xochilt López y los que son ya discípulos más jóvenes, lo que
da continuidad al proyecto que este equipo ha venido desarrollando los
dos últimos años: Crisis de la Escolástica, Humanismo del Siglo de Oro
Español y su influencia en México. Y las universidades de Perú y Colombia,
principalmente “la Javeriana” han completado una dimensión de esta
Escuela que hoy puede llamarse con propiedad Iberoamericana pues las
doctrinas salmantinas se expandieron con rapidez por las universidades
que la monarquía española iba fundando en los virreinatos de la Nueva
España y en el de Perú. Lógicamente también ha habido en España, con
Salamanca a la cabeza un gran número de estudios. En el número editado
con motivo de la conmemoración del octavo centenario de la fundación
de la Universidad de Salamanca, la revista de Filosofía, Azafea (18, 2016)
Emmanuel Lacca, profesor de la Università degli Studi di Cagliari, ha
dedicado un excelente artículo a trazar las que llama “Nuevas perspec-
tivas en el estudio de la Escuela de Salamanca”. En él subraya lo siguiente
apoyándose en la investigadora brasileña María Emilia Granduque José:
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10. Este artículo desea contribuir al reconocimiento de este trabajo, fruto de la colaboración
entre grupos de portugueses y españoles, para la mejor difusión de textos de aquellos
teólogos que son acompañados, en esta edición, por interesantes y bellas ilustraciones
realizadas por estudiantes de Bellas Artes de la Universidad de Lisboa.
11. Pedro Calafate “Introducción” en Pedro Calafate y Ramon Emilio Mandado, Escuela
Ibérica de la paz/Escola Ibérica da paz (Santander: Ediciones de la Universidad de
Cantabria, 2014), 119.
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12. Ramón Serrano Suñer, “Discurso pronunciado por el Excelentísimo Señor Ministro
del Interior D. Ramón Serrano Suñer en Ceuta el 17 de julio de 1938” en Dieciocho de
julio. Tres Discursos (Madrid: Ediciones “Arriba”, 1938), 7-22.
13. Tras la publicación del famoso libro de Elvira Roca, Imperiofobia y leyenda negra
(Madrid: Siruela,2016. 6ª ed.) menciono aquí algunos de los más recientemente
publicados el pasado año: Rike Bolte, and Jenny Hasse and Susanne Schulünder,
eds., La Hispanística y los desafíos de la globalización en el siglo XXI. Posiciones,
negociaciones y códigos en las redes transatlánticas (Madrid: Ed. de Iberoamericana,
2018); Fr. Dubosquet Lairis y Carmen Valcárcel, ) eds., Memoria(s) en transición.
Voces y miradas sobre la transición española (Madrid, Visor, 2018); Frigdiano Álvaro
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Durántez, Iberofonía y Paniberismo (Madrid, Última Línea, 2018); Beatriz Figallo, ed.,
Desarrollismo, franquismo y neohispanidad. Historias conectadas entre España, América
Latina y Argentina (Rosario, CONICET, 2018).
14. Juan Belda, La escuela de Salamanca (Madrid: BAC, 2000).
15. Ibid., 393.
16. Juan Luis García Hourcade, La rebelión de los astrónomos. Copérnico y Kepler (Madrid:
Nivola, 2000).
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La Escuela Iberoamericana de la Paz. Contribuciones a un diálogo con nuestro tiempo 1329
1.
17. Sacristán del Castillo, J.A. (y otros), Andrés Laguna, un científico español del siglo XVI
(Madrid: Fundación Lilly, 2013).
18. Andrés Laguna, Europa heautentimorumene, es decir, que míseramente a sí misma se
atormenta y lamenta su propia desgracia en Miguel Ángel González Manjarrés, ed.
Prólogo de Joseph Pérez (Valladolid: Junta de Castilla y León, 2001). El discurso fue
pronunciado en la Universidad de Colonia en enero de 1543.
19. Cançado Trindade, A., “Prefacio” en Pedro Calafate e Ramon Gutiérrez, Escuela Ibérica
de la paz/Escola Ibérica da paz (Santander: Ediciones de la Universidad de Cantabria,
2014), 47.
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Pues de ellas “la justicia es hermana, son rectas (como lo era la torre que
las custodiaba) e iguales por todas partes”. Pero –añadía– “por sí mismas
son mudas y sordas.”20 Por consiguiente, es preciso que las interprete
esa razón recta que emana de la conciencia del hombre que ha tener un
carácter universal. Por eso en la doctrina de Vitoria la recta razón es base
del Derecho Internacional como algo necesario y no simplemente volun-
tario.
Señala Cançado Trindade que esta recta razón es la fuente material
última del Derecho de Gentes. Dicho de otra manera, este Derecho es la
base de la razón de humanidad que impone límites a la razón de Estado.
En base a esto, el Dr. Trindade ha dictado votos de distinto carácter a
las sentencias que declaraban la impunidad de determinados Estados.
Se refiere, concretamente, al caso de las Inmunidades Jurisdiccionales del
Estado (2010) que establecían la inmunidad de un Estado frente a otro. Y
esto es así porque, como indica Pedro Calafate, “A la Razón de Estado los
maestros peninsulares antepondrán siempre la Razón de la Humanidad y
la dignidad de la persona humana, que es de donde proceden los mandatos
imperativos del Derecho”.21 Sobre este punto incidió insistentemente el
magistrado brasileño en su discurso de investidura como Doctor honoris
causa, ya mencionado.22
Así pues, es esa unidad de la razón, que no lo es solo de conocimiento,
que no reduce al sujeto a solo sujeto epistémico, la que se considera base
de la justicia y de la benevolencia tal como ha explicado muy bien Javier
García Gibert cuando explica cómo “la dignidad humana era una noción
bien asentada en las bases mismas de la cultura humanística cristiana, que
la fundaba a su vez sobre la idea previa de una especie humana común –un
universal humano–, ya apuntada por el estoicismo antiguo y reforzada por
la inequívoca formulación de San Pablo, al afirmar que existe un Dios que
no hace distingos entre judíos y cristianos, bárbaros y romanos” (…) “Es
un mérito extraordinario del humanismo renacentista el volver a la idea
del “universal humano”, al margen de estamentos, razas o religiones, y
20. Juan Luis Vives, “El templo de las leyes” en Juan Luis Vives, Diálogos y otros escritos.
Juan Francisco Alcina, ed., (Barcelona: Planeta, 1988), 171-172.
21. Pedro Calafate, Pedro Calafate e Ramon Gutiérrez, Escuela Ibérica de la paz/Escola
Ibérica da paz (Santander: Ediciones de la Universidad de Cantabria, 2014), 119.( Cito
por la versión española.
22. Ver nota 2.
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2.
Así queda fijado por Vitoria en la primera de las reelecciones sobre los
indios, la Relectio prior en la que prima la unidad de la societas gentium,
de la propia humanidad en un mundo que comenzaba a comprobar la
diversidad de culturas y en el que se iniciaban las formas embrionarias
de los que serían Estados. El apartado, dedicado por Cançado Trindade
en su Discurso de investidura, es muy largo y sólido, al tiempo que lo
contrapone al que sería, posteriormente, Derecho Positivo de los siglos
XVIII y XIX bien que, habría que añadir, el naturalismo del siglo XVIII
ofrece sustanciales diferencias con el renacentista. Sí queda clara la
dimensión universal del Derecho y de la Justicia, así como la titularidad
internacional de Derechos de la persona humana. Y queda, de esta manera,
también superada la concepción medieval del Orbis cristiano.
23. Javier García Gibert, Sobre el viejo humanismo (Madrid: Marcial Pons, 2010), 226.
24. Antonio Augusto Cançado Trindade, Discurso del Acto de Investidura como Doctor
Honoris Causa del Profesor Antônio Augusto Cançado Trindade Discurso de Investidura
(Madrid: Servício de Publicaciones de la Universidad Autónoma de Madrid, 2016), 27,
es 215., en Evora: do, R.E., o.c., 193, raciones. Baste añora señalar que 1543. de Lisboa.
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3.
Habrían sido los hechos americanos, tras los sucesos sangrientos del
Perú en 1534 y todas las noticias que iban llegando sobre las violaciones
infligidas a los indígenas, las que habrían producido esta conciencia crítica
en el P. Vitoria. Para el periodo posterior (1570-1620) Manuel Rivero26
habla de reducciones brutales de la población del antiguo imperio Inca
“donde los datos –señala– son más fiables gracias a que se conoce la
contabilidad tributaria”: en las tierras altas se consignó un descenso de
1.045.000 habitantes a 585.000; y en la costa de 250.000 a 87.000.
Las Relecciones que dicta Vitoria, a partir de 1537, sobre la
Temperantia (templanza o moderación alcanzarían su culminación en
las dos Relecciones de 1939, ambas sobre los derechos de los indios y la
guerra justa. Todas mostraban su enorme sensibilidad por este hondísimo
problema y suponían ya una negación a la mayor de las bases argumen-
tales del Requerimiento redactado en 1513 por Juan López de Palacios
que sostenía el derecho de conquista básicamente sobre la concepción
teocrática del poder.
Dan fundamento a la comunidad como la sustentadora de la legiti-
midad de ese poder que, si bien tiene su origen en Dios, llega mediado al
Soberano por la elección de la comunidad. Podríamos recordar aquí de
nuevo las lecturas que Eduardo Nicol, ya mencionadas, hizo de la obra
de estos teólogos, principalmente de Suárez a propósito de este concepto.
Nicol dedica la segunda parte de “Libertad y comunidad” y todo el que
tituló “Propiedad y Comunidad”, ambos de 1948, a mostrar que, tanto
en el ámbito de la libertad como en el de la propiedad, Suárez se habría
adelantado a los tratados sobre el gobierno civil publicados por Locke en
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27. Ángel Rivero, John Locke y “Traité sur le Goverment Civil” y el nacimiento del liberalismo
moderno en Manuel Rivero, Manuel, ed. La crisis del modelo cortesano. El nacimiento
de la conciencia europea (Madrid: Polifemo, 2017), 241-264.
28. Ibid., 261.
29. Juan Luis Vives, Sobre la concordia y la discordia en el género humano (Valencia:
Ayuntamiento de Valencia, 1997), 63.
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4.
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decir, por delimitar bajo qué exclusivas condiciones la guerra puede ser
justa. Por esta doctrina Vitoria es conocido como fundador del Derecho
Internacional. Es su doctrina americanista que divide entre los “títulos
no legítimos y los legítimos por los que los bárbaros del nuevo mundo
pudieron venir a poder de los españoles.”
Son dieciséis en el primer apartado y dieciocho en el segundo bien
conocidos; por eso me limitaré a citar estas palabras de Cançado Trindade
que pertenecen al título VIII del Discurso de Investidura, que venimos
mencionado, y que se titula, con mucha precisión, “La concepción huma-
nista en la Jurisprudencia Internacional”. Resume muy bien qué sostenían
aquellos teólogos y qué consecuencias se derivan, incluso para nuestros
días. Dice así:
33. Antonio Augusto Cançado Trindade, Discurso del Acto de Investidura como Doctor
Honoris Causa del Profesor Antônio Augusto Cançado Trindade. (Madrid: Servício de
Publicaciones de la Universidad Autónoma de Madrid, 2016), 29-30.
34. Ibid. 41.
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1336 José Luis Mora García
5.
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para el fraile dominico, uno de los fines propios del Estado “es la pacífica
convivencia civil, la felicidad humana dentro de la república”.36
Estas son, a mi entender, las propuestas relevantes de esta Escuela de
teólogos humanistas. Su presencia en la península ibérica y en las tierras
americanas resultó fundamental para ejercer una crítica severa, política
y moral frente a los efectos nocivos de la conquista. Al mismo tiempo
pusieron las bases de la que, a la distancia de aquel siglo XVI, puede cons-
tituir una comunidad internacional desde la hispanolusa o lusohispana
en su dimensión iberoamericana, tan respetuosa con las realidades nacio-
nales como cooperativa en todos los asuntos de repúblicas imperfectas
que son todas en este mundo que llamamos globalizado.
Cerremos con tres textos muy breves para que la palabra de sus
autores no quede muda.
a)
b)
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1338 José Luis Mora García
c)
Los habitantes de este Nuevo Mundo no solo no son niños o locos sino que
a su modo, están muy bien dotados. Esto es evidente: antes de la llegada
de los españoles, como acabamos de constatar con nuestros propios ojos,
había entre las autoridades, gobiernos y ordenanzas sumamente apro-
piadas, y tenían comunidad política y régimen no solo monárquico sino
aristocrático; y entre ellos existían leyes, y castigaban a los malhechores,
a sí como premiaban a los beneméritos de la república (…) Síguese del
análisis que aquellos, quienes fueren, que los consideran indignos del
dominio o del reino o de otras esferas en las que eran verdaderos dueños,
alegan un título injusto.39
Referencias
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Calafate y Ramón Gutiérrez, Escuela Ibérica de la paz/Escola Ibérica da paz (Santander:
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Ibérica da paz (Santander: Ediciones de la Universidad de Cantabria, 2014), 215.
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Ad Extra
Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1343-1380.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1343
Abstract
This essay analyzes the reflection of Alfred Schütz on music. The first part will focus on
the analysis of those that for Schütz are the constitutive elements of the phenomenology of
music. The second part will focus on the idea of music as a social interaction and relationship
of mutual harmony. The aim of the work is to demonstrate that Schütz’s reflection on music
does not constitute an isolated element within his thought process, but rather it constitutes
a fundamental element of his reflection because music represents in an exemplary way the
structure of the social relationship. Therefore, it will be demonstrated that music is for
Schütz a relationship based on the sharing of space and time, or an intersubjective sharing
of reality that allows simultaneous sharing in the experiences of one’s interlocutor.
Keywords: intersubjectivity, music, phenomenology, Schütz, social relation.
A
lfred Schütz (1889-1959) è ritenuto un classico del pensiero socio-
logico e filosofico1. Nato a Vienna, studia economia e diritto e si
laurea con Hans Kelsen, ma viene subito attratto da questioni filo-
sofiche. Incontra diverse volte Husserl e partecipa alle riunioni del circolo
fenomenologico di Vienna. Prima dell’invasione nazista, abbandona l’Au-
stria e risiede a Parigi fino al 1939, per poi trasferirsi definitivamente
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1344 Antonio Di Chiro
negli Stati Uniti. Dal 1943 al 1959 insegna alla Graduate Faculty della New
School for Social Research di New York e ha modo di studiare il pensiero
di James, Dewey e Mead2. Schütz è stato sostanzialmente un «teorico
delle scienze sociali»3 e il «fondatore della sociologia fenomenologica»,
ovvero «un approccio alla sociologia in cui confluiscono in una sintesi
originale elementi del pensiero di Weber e del pensiero di Husserl», quali,
l’aspetto «relativo ai presupposti epistemologici delle scienze sociali»4 e la
questione dell’intersoggettività5, ossia il complesso delle strutture e delle
2. Cfr. Di Chiro, L’uomo a più dimensioni. Alfred Schütz e le realtà multiple, 11.
3. Nicola Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica
di Alfred Schütz’, in Alfred Schütz, Frammenti di fenomenologia della musica, (Milano:
Guerini e Associati,1996), 9.
4. Paolo Jedlowski, ‘Introduzione’, in Alfred Schütz, Don Chisciotte e il problema della
realtà, (Roma: Armando,1995), 8.
5. A proposito della questione dell’intersoggettività nel pensiero di Husserl, bisogna
precisare che essa, come fa notare Emilio Baccarini in La fenomenologia. Filosofia
come vocazione, (Roma: Studium,1981), 72-73, è per il padre della fenomenologia
una vera e propria «ossessione che l’ha accompagnato per gran parte della vita,
come documenta la pubblicazione dei tre grandi tomi dell’Husserliana dedicati
all’intersoggettività» e che, pertanto, secondo Vincenzo Costa, Elio Franzini, Paolo
Spinnicci, La fenomenologia, (Torino; Einaudi, 2002), 186, la riflessione di Husserl
sul tema dell’intersoggettività, dalla quinta delle Meditazioni cartesiane ai vari scritti
tra il 1929 e il 1932, non si configura come un «luogo oscuro», ma come la logica
continuazione di un lavoro di «chiarificazione concettuale sulla costituzione del tutto
implicito in Idee I, e fors’anche in scritti precedenti, nella precisa consapevolezza
che la costituzione stessa non può compiersi nel solipsismo, cioè nell’ambito di un
progetto isolato e astratto. Il tema dell’intersoggettività, dunque, nasce non da vaghe
esigenze “esistenziali” […] bensì dalle ricerche sulla costituzione della natura nei suoi
vari strati d’esperienza, reale e possibile». I tre tomi sull’intersoggettività pubblicati
nell’Husserliana sono: vol. XIII, Zur Phänomenologie der Intersubjektivität, Erster Teil
(1905-1920), vol. XIV, Zur Phänomenologie der Intersubjektivität, Zweiter Teil (1921-
28), vol. XV, Zur Phänomenologie der Intersubjektivität, Dritter Teil (1929-35), tutti e tre
a cura di I. Kern, Nijhoff, Den Haag, 1973. Sul tema dell’intersoggettività in Husserl
si vedano i lavori di: Giuseppe Cacciatore, Il fondamento dell’intersoggettività tra
Dilthey e Husserl, in A. Masullo, C. Senofonte (a cura di), Razionalità fenomenologica e
destino della filosofia, (Genova: Marietti, 1988), 143-173; Vincenzo Costa, ‘L’esperienza
dell’altro. Per una fenomenologia della separazione’, in A. Ferrarin (a cura di), Passive
Synthesis and Life-World. Sintesi passiva e mondo della vita, (Pisa: Ets, 2006), 109-
125; Vincenzo Costa, Dan Zahavi, ‘Esperienza e intersoggettività nella prospettiva
fenomenologica’, in Bollettino filosofico, n. 16, (2000), 263-286; Giovanni Ferretti,
‘Soggettività e intersoggettività. Le “Meditazioni cartesianea” di Husserl’, (Torino:
Rosenberg & Sellier, 1997); Alice Pugliese, La dimensione dell’intersoggettività.
Fenomenologia dell’estraneo nella filosofia di Edmund Husserl, (Milano: Mimesis,
2004); Berhnard Waldenfels, Das Zwischenreich des Dialogs. Socialphilosophisce
Untersuchungen in Anschluẞ an Husserl, (Den Haag: Nijhoff, 1971), doi: 10.1007/978-
94-010-3000-7; Dan Zahavi, Husserl und die transzendentale Intersubjektivität. Eine
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1345
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1346 Antonio Di Chiro
In tal modo, «il nucleo dell’opera di Schütz può essere inteso essenzial-
mente come una riflessione sistematica sui modi e luoghi dell’incontro,
della costituzione e ri-costituzione della soggettività e della socialità»9.
All’interno di questo quadro teorico si collocano le riflessioni di Schütz
sulla musica, che, ben lungi dall’essere considerazioni occasionali, sono
in realtà, un elemento fondamentale all’interno del percorso culturale del
filosofo e sociologo austriaco.
9. Luigi Muzzetto, Il soggetto e il sociale. Alfred Schütz e il mondo taken for granted,
(Milano: FrancoAngeli, 2006), 9.
10. Pedone, Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di Alfred
Schütz, 9.
11. Il saggio ‘Fragments of Phenomenology of Music’ è in Music and Man, II/1-2, 1976, 23-
71. Gli altri due saggi, ‘Making Music Together’ e ‘Mozart and the Philosophers’ sono
contenuti nei Collected Papers, vol. II (The Hague: Martinus Nijhoff, 1964), 159-178.
In italiano tutti e tre i saggi sono in Schütz, Frammenti di fenomenologia della musica
(Milano: Guerini e Associati,1996).
12. Paola Prato, ‘La fenomenologia della musica di Alfred Schütz’, Rivista di estetica, n. 10,
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1347
(1982), 90.
13. Ibid. Sul tema dell’ascolto musicale si veda: Marian T. Dura, ‘The Phenomenology of
the Music-Listening Experience’, Arts Education Policy Review, 107, 3, (2006): 25-32,
doi: 10.3200/AEPR.107.3.25-32.
14. Per quanto riguarda la filosofia della musica il riferimento è al lavoro di Giovanni
Piana, Filosofia della musica, (Milano: Guerini e Associati, 1991). Sul tema della musica
nel pensiero di Schütz si vedano i lavori di: Timothy M. Costolloe, ‘Schutz, Music, and
Temporality: A Wittgensteinian Assessment’, Philosophy of the Social Sciences, 24, no.
4, (1994): 439-57, doi:10.1177/004839319402400403; Mendoza De Arce, ‘Alfred Schutz
on Music and Society’, The Annals of Phenomenological Sociology, no. 1, (1976): 47-
55; Gerd Sebald, ‘Fragment on the Phenomenology of Rhythm’, Schutzian Research,
5, (2013): 1-22, doi: 10.7761/sr.5.2013.11; Christine A. Skarda, ‘Alfred Schutz’s
Phenomenology of Music’, Journal of Musicological Research, 3, no. 1-2, (1979): 75-
132, doi: 10.1080/01411897908574508; Riccardo Venturini, ‘Time, intersubjectivity,
and musical relationship in Alfred Schutz’, in SocietàMutamentoPolitica, 6, no. 12,
(2015): 165-201, doi: 10.1080/01411897908574508. Sul tema della musica nella
tradizione fenomenologica si veda Augusto Mazzoni, ‘La musica nella prima estetica
fenomenologica’, Il saggiatore musicale, 9, no. 1/2 (2002), 137-150,
15. Cfr. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 10.
16. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, Frammenti di
fenomenologia della musica, 91.
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17. Prato, ‘La fenomenologia della musica di Alfred Schütz’, 95. Nel nostro lavoro non
prenderemo in considerazione il saggio Mozart e i filosofi, poiché il lavoro in questione
si sofferma sull’analisi della figura del musicista viennese e non sugli elementi
costitutivi dell’esperienza musicale e sulla natura sociale della musica.
18. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 11.
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Non è possibile – per lo meno per una comune mente umana – guardare
nomoteticamente l’oggetto ideale “opera musicale”. In un singolo sguardo
non possiamo afferrare il significato costituito di un’opera musicale. In
un solo sguardo possiamo, tutt’al più, afferrare il contenuto che l’opera
musicale comunica, il particolare stato d’animo o l’emozione che esso
evoca, oppure la sua forma interna […]. L’opera d’arte stessa, tuttavia,
può soltanto essere ricordata e afferrata ricostituendo i passi politetici
in cui è stata costituita, riproducendo mentalmente o effettivamente il
suo sviluppo dalla prima all’ultima battuta, seguendo il suo procedere
nel tempo26.
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1351
non il futuro. Infine, secondo l’ultima accezione, «il significato sorge dall’i-
dentificazione dell’ascoltatore col tempo interiore del compositore; può
sorgere solo reimmergendosi nel flusso corrente e riproducendo l’evento
musicale in tutti i suoi momenti costitutivi»30. In sintesi, per Schütz il
significato musicale si configura come una sorta di «svelamento», come
«intergioco dei meccanismi coscienziali del ricordo e dell’anticipazione,
e come effetto di sintonizzazione»31. Dunque, se nel primo caso si parla
di significato musicale come descrizione delle proprietà che l’autore del
brano musicale trasferisce su di un oggetto, nel secondo e nel terzo caso
si parla di una relazione tra il soggetto e l’oggetto: «relazione di distanzia-
mento (secondo caso) e relazione di identificazione (terzo caso)32.
Schütz si sofferma ad analizzare gli ultimi due aspetti. «La sua feno-
menologia è un tentativo di descrizione delle relazioni che il soggetto
stabilisce con l’oggetto. Il primo tipo di problematica (il significato come
complesso di qualità-attributi immanenti all’oggetto musicale) resta
sostanzialmente ai margini della sua trattazione, come assunto impli-
cito»33. Egli afferma che il «significato musicale non è di natura concet-
tuale: la musica non si riferisce né a concetti né a oggetti del mondo. Non
ha funzione rappresentative o semantiche»34. La «fruizione di un brano
musicale si caratterizza in riferimento ad un sistema di competenze
(linguistica, comunicativa, comportamentale) che sono parte di quella
“conoscenza a portata di mano” che costituisce l’orizzonte del senso
comune. Tale conoscenza ha origini sociali, può essere condivisa, perciò
i significati designativi sono una parte reale, se non fondamentale dell’e-
sperienza musicale»35. Qui è opportuno un chiarimento a proposito della
struttura sociale della conoscenza. Per Schütz, solo una piccola parte delle
conoscenze di cui noi disponiamo, scaturisce dai nostri vissuti e dalle
nostre esperienze, mentre, la parte restante risiede in vissuti ed esperienze
che noi non abbiamo avuto modo di vivere, ma che ci sono stati comu-
nicati e tramandati per eredità dai nostri simili36. Questo tipo di cono-
scenza si basa su «un genere di organizzazione dovuta ad abitudini, a
30. Ibid.
31. Ibid.
32. Ibid. 91.
33. Ibid.
34. Ibid.
35. Ibid.
36. Cfr. Alfred Schütz, ‘Il cittadino bene informato: saggio sulla distribuzione sociale della
conoscenza’, Saggi sociologici, 404-418.
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37. Alfred Schütz, ‘Il problema della razionalità nel mondo sociale’, Saggi sociologici, 355-
356. Corsivo nostro.
38. Ibid. 356.
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1354 Antonio Di Chiro
poiché rimanda sia all’aspetto fisiologico, sia a «eventi del mondo esterno
(marciare, camminare, ballare) e, infine, alle specifiche strutturazioni alla
nostra idea moderna di musica (ritmo come funzione dell’armonia)»43.
Una volta individuate le caratteristiche comuni dell’esperienza musicale
Schütz si sofferma sulla questione del tempo. Secondo Prato, egli parte
«dalla concezione bergsoniana del tempo per analizzare l’articolarsi del
flusso musicale nelle dimensione del tempo interiore […] e dalla conce-
zione husserliana della coscienza per discutere lo statuto ideale di un’opera
musicale, la sua costituzione politetica e il tipo di sintesi che permette di
rendere significante il flusso»44. Abbiamo già visto come per Schütz un
brano musicale abbia a che fare con una dimensione politetica, ovvero
possa «essere afferrabile ripercorrendo per intero l’estensione temporale
in cui esso si dispiega». Questo è possibile poiché il brano, al contrario
di una poesia o dei passaggi per dimostrare un teorema matematico che
possono essere colti in maniera nomotetica in quanto riferiti ad uno
schema concettuale, non può essere afferrato nella dimensione spaziale:
«l’arte della musica e i mezzi che essa impiega sono indipendenti dalla
nostra esperienza spaziale»45. Pertanto, proprio dell’esperienza musicale
è non la dimensione spaziale, ma quella temporale. Qui, come detto, i
riferimenti di Schütz sono, da una parte Bergson, dall’altra Husserl. Per
quanto riguarda il primo autore, Schütz da esso riprende «il tema della
durée, intesa come il tempo interno del nostro flusso di coscienza: nel
fluire ininterrotto della vita, il tempo non è riducibile ad una successione
di istanti, ma è un continuum in cui l’io vive in modo immediato e irri-
flesso». E questa è la dimensione del tempo interno che è propria dell’a-
scolto musicale. In contrapposizione a tale dimensione Schütz pone quella
del tempo «esterno o spazializzato», ovvero la dimensione che ci permette
di «segmentare il flusso temporale, e dunque di misurarlo»46 per gli scopi
pragmatici dell’esistenza. Per Schütz le due dimensioni temporali sono
inconciliabili e il tema musicale può essere colto, in maniera indivisibile,
solo nella dimensione del tempo interiore:
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1356 Antonio Di Chiro
51. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 16.
52. Schütz, ‘Frammenti di fenomenologia della musica’, 53.
53. Ibid. 54.
54. Ibid.
55. Ibid. 64.
56. Ibid. 65-67.
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per l’altro tipo di sintesi, quella associativa»60. Invece, per Schütz l’identità
riguarda solo la dimensione spaziale e non quella temporale. Così, nel
caso della musica, non si ha nessuna «sintesi di identificazione ma sintesi
di associazione (il riconoscimento di un tema musicale, ad esempio)
poiché nella dimensione del tempo interiore si hanno solo “somiglianze
ricorrenti”, non identità»61.
Alla luce di queste osservazioni, sarebbe erroneo e inappropriato
ritenere che per Schütz la musica sia una mera questione individuale che
riguarda il singolo. La musica è, nella riflessione del sociologo viennese
una sorta di Giano bifronte, ovvero ha a che fare con una dimensione
individuale, poiché, come abbiamo avuto modo di vedere, riguarda la
dimensione del tempo interiore dell’individuo, che può comprendere un
brano musicale in maniera politetica, ovvero ripercorrendo i passaggi che
lo hanno costituito, e tuttavia, essa esula dalla mera dimensione dell’indi-
viduo e si apre a quella della collettività, ovvero al complesso di persone che
interagiscono suonando insieme e che così facendo si trovano ad esperire
e condividere una realtà in comune. Pertanto, da «questa prospettiva,
la musica è affare eminentemente individuale. D’alta parte essa è anche
un evento che ha luogo nel tempo esterno, poiché coinvolge un gruppo
musicale o comunità di persone (esecutori e/o ascoltatori). Come tale la
musica è affare eminentemente sociale»62. Quest’ultima osservazione ci
porta verso la seconda parte del nostro lavoro e ci spinge a soffermarci sul
saggio Fare musica insieme. Uno studio sulle relazioni sociali.
Il saggio Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale si apre con
un richiamo ai Frammenti di fenomenologia della musica e inaugura una
nuova strada alla ricerca schütziana. Gli spunti analizzati nei Frammenti
«forniscono a Schütz la base filosofica per svolgere in Fare musica insieme
una ricerca sulle relazioni sociali che s’instaurano durante l’ascolto di un
brano» e soprattutto, quest’ultimo saggio «non è soltanto uno studio di
“teoria applicata”, ma rivela, a sua volta, l’esplicita ambizione filosofica
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1359
Inoltre, egli precisa che lo scopo del suo lavoro non ha che fare con
«problemi confinanti nell’ambito della cosiddetta sociologia della musica»,
né con «una fenomenologia dell’esperienza musicale». La sua intenzione
rimane quella di analizzare e chiarire «le interazioni sociali connesse con
il processo musicale» al fine di poter «illuminare la struttura dell’intera-
zione sociale in quanto tale, cosa che finora non ha avuto da parte dei
sociologi l’attenzione che pure meritava»65.
Una volta fatte queste doverose premesse, Schütz si sofferma ad
analizzare il rapporto tra interazione sociale e comunicazione. Innanzi
tutto, egli afferma che quando «i sociologi parlano di interazione sociale,
essi di solito hanno in mente una serie di azioni interdipendenti su
diversi esseri umani, posti in mutua relazione per mezzo del significato
che l’attore conferisce alla sua azione e che egli suppone venga inteso dal
suo partner» e questo ha fatto sì che essi abbiano, studiando il processo
comunicativo, preso a modello «sia lo scambio di gesti dotati di signi-
ficato, sia il linguaggio nel senso più ampio del termine»66. In entrambi i
casi si assume che «ciascun partner interpreti tanto il proprio comporta-
mento quanto quello dell’altro in termini concettuali che possono essere
tradotti e comunicati all’altro partner per mezzo di un comune sistema
semantico»67. Per evitare l’incomprensione linguistica e l’incomunicabilità
tra due o più attori sociali68, Schütz formula la tesi della reciprocità delle
63. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 21.
64. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 91.
65. Ibid, 91-92.
66. Ibid. 92.
67. Ibid.
68. Sul rapporto comprensione/incomprensione linguistica in Schütz si veda Talbot J.
Taylor, L’incomprensione linguistica, (Roma-Bari: Laterza, 1996), 231-238, e Antonio
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misura, che sia dato per scontato da “Noi”. Questo “Noi”, tuttavia, non
include necessariamente te e me, ma “ognuno che sia uno di noi” cioè
ognuno il cui sistema di attribuzione di importanza sia sostanzialmente
(sufficientemente) in conformità con il tuo e il mio. La tesi generale delle
reciproche prospettive conduce pertanto alla comprensione di oggetti e
di loro aspetti attualmente conosciuti da me e potenzialmente conosciuti
da te come conoscenza di ognuno. Tale conoscenza è concepita come
oggettiva e anonima, cioè staccata e indipendente dalla mia definizione
della situazione e da quella del mio compagno, dalle nostre circostanze
biografiche individuali uniche e dai fini attuali o potenziali a disposi-
zione che esse comportano73.
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contemporanei, (Roma: Carocci, 2015). Sempre sul pragmatismo si vedano i lavori di:
Antonio Santucci, Storia del pragmatismo, (Roma-Bari: Laterza, 1992); Carlo Sini, Il
pragmatismo americano, (Roma-Bari: Laterza, 1972); John P. Murphy, Il pragmatismo,
(Bologna: Il Mulino, 1997); Cornel West, La filosofia americana. Una genealogia del
pragmatismo, (Roma: Editori Riuniti, 1997). Si vedano inoltre i lavori di Charles
Sanders Pierce e William James, Che cos’è il pragmatismo, a cura di F. Vimercati,
(Milano: Jaca Book, 2000) e William James, Pragmatism: A New Name for Some
Old Ways of Thinking (1907), Prometheus, New York 1991, trad. it. di S. Franzese,
Pragmatismo: un nome nuovo per vecchi modi di pensare, (Torino: Aragno, 2007).
Il riferimento di Schütz a Mead riguarda il testo Mind, Self and Society, (Chicago:
University of Chicago Press, 1937), trad. it. R. Tettucci, Mente, Sé e Società, (Firenze:
Editrice Universitaria Barbera, 1966).
77. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 93. Sulla questione
del gesto all’interno della tradizione pragmatista si veda Giovanni Maddalena, The
Philosophy of Gesture, (McGill: Queen’s University Press, 2015).
78. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 93.
79. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 22.
80. Cfr. Charles H. Cooley, Human nature and the Social Order, (New York: Charles
Scribner’s Sons 1902).
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81. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 94. Schütz si confronta
con il pensiero di Sartre nel saggio ‘Sartre’s Theory of the Alter Ego’, Philosophy and
Phenomenological Research, 9, 1948, 181-199, poi in Collected Papers, vol. I, 180-203.
82. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 94.
83. Ibid.
84. Il riferimento di Schütz a Mead è a Mind, Self and Society, cit., 14, 63, 253 sgg. L’esempio
fatto da Mead, a cui Schütz accenna solo, sarà riproposto anche da Gregory Bateson
a proposito del concetto di frame e di gioco. L’antropologo americano racconterà che
le sue idee su questi concetti sono nate dall’osservazione del comportamento di alcune
scimmie dello zoo di San Francisco. Si veda Gregory Bateson, ‘Una teoria del gioco e
della fantasia’, Verso un’ecologia della mente, (Milano: Adelphi, 1976), 220-221.
85. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 94.
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1366 Antonio Di Chiro
correrei gli stessi rischi nella stessa situazione. Pertanto, ciò che per lui è
(o è stato) un oggetto realmente esistente della sua effettiva esperienza è
per me un oggetto potenzialmente esistente di un’esperienza possibile95.
95. Ibid.
96. Ibid. 416.
97. Ibid. 417.
98. Ibid. Sulla questione del «dato per scontato» (taken for granted) nel pensiero di Schütz
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1367
si veda: Muzzetto, Il soggetto e il sociale. Alfred Schütz e il mondo taken for granted,
e Pablo Hermida-Lazcano, ‘The taken-for-granted world: A study of the relationship
between A. Schutz and J. Ortega y Gasset’, Human Studies, vol. 19, n. 1, (1996), 43-69.
99. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’, 103.
100. Ibid.
101. Hans G. Gadamer, Verità e metodo, trad. it. G. Vattimo, (Milano: Bompiani,1983).
102. Ibid. 345.
103. Ibid. 347.
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1368 Antonio Di Chiro
non è più anzitutto un abisso che deve essere scavalcato, perché separa
e allontana, ma è invece, in verità, il fondamento portante dell’accadere,
nel quale il presente ha le sue radici. La distanza temporale, perciò, non è
qualcosa che debba essere superata. […] In realtà, invece, si tratta di rico-
noscere nella distanza temporale una positiva e produttiva possibilità del
comprendere. Questa distanza non è un abisso spalancato davanti a noi,
ma è riempito dalla continuità della trasmissione e della tradizione, nella
cui luce si mostra tutto ciò che è oggetto di comunicazione storica104.
104. Ibid.
105. Ibid. 350.
106. Ibid. 350-351.
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1369
egli vive in una dimensione di tempo non comparabile con quella che
può essere suddivisa in parti omogenee. Il tempo esterno è misurabile;
vi sono parti di lunghezza; vi sono i minuti e le ore e vi è la lunghezza
del solco che deve essere percorso dalla puntina del giradischi. Nella
dimensione del tempo interno in cui vive l’ascoltatore non vi sono simili
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1370 Antonio Di Chiro
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1371
115. Alfred Schütz, Le realtà multiple, trad. it. di I. Possenti, William James, Alfred Schutz,
Realtà multiple e altri scritti, (Pisa: Ets, 2005), 138-139. Sul tema del tempo in Schütz
si veda Luigi Muzzetto, ‘Time and Meaning in Alfred Schütz’, in Time & Society, 15, no.
1, (2006): 5-31, doi: 10.1177/0961463X06061334.
116. Schütz, ‘Fare musica insieme. Studio sulla relazione sociale’,110.
117. Ibid. 112-113.
118. Ibid. 113.
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1372 Antonio Di Chiro
4. Rilievi conclusivi
119. Ibid.
120. Pedone, ‘Intersoggettività, tempo e relazione sociale nella filosofia della musica di
Alfred Schütz’, 24.
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1373
sottolineare alcune criticità del suo discorso. La prima ha a che fare con
la rivendicazione «“in negativo”, dell’autonomia dell’atteggiamento feno-
menologico rispetto a altri orientamenti: una fenomenologia della musica
non è una teoria psicoacustica del suono e nemmeno sorge dallo studio
comparato di culture e sistemi musicali differenti. Al contrario, va posta fin
dall’inizio l’esperienza dell’ascolto come oggetto della riflessione filosofica».
E tuttavia, ciò non avviene in Schütz, che è caso mai interessato non all’a-
spetto legato al suono ma a quello della musica «in quanto oggetto strut-
turato» e quindi al brano musicale. Per il sociologo viennese, quest’ultimo,
piuttosto che il suono è meritevole di indagine filosofica. Pertanto, per
Schütz il problema centrale di una filosofia della musica è quello della
«definizione dello statuto ontologico dell’opera musicale»121. Questa consi-
derazione ci porta a una seconda criticità presente nel discorso schütziano,
ed esattamente all’importanza da lui attribuita al tema musicale definito
in termini di Gestalt e considerato «l’elemento base di ogni musica». E
tuttavia, il tema, pur esaminato al di là di un sistema musicale, è e rimane
sempre una successione di suoni. Tale aspetto ci sembra costituire un
problema all’interno della filosofia della musica di Schütz che egli non
affronta appieno e che tende a sminuire d’importanza. Allo stesso modo,
ci sembra costituisca un problema irrisolto all’interno della sua rifles-
sione la poca importanza attribuita all’aspetto spaziale rispetto a quella
accordata a quello temporale. Pedone fa notare come Schütz «abbia un
atteggiamento empiristico, che porta a negare la spazialità del suono come
suo tratto originario» e come egli «nel privilegio accordato all’elemento
temporale, si sia poi impedito di cogliere la spazialità che pure pertiene
al suono in maniera originaria e irriducibile»122. Per quanto riguarda la
questione legata all’aspetto spaziale della musica, siamo d’accordo con le
riflessioni di Pedone, anche se è opportuno precisare che tale distinzione
tra dimensione spaziale e temporale è presente, come abbiamo cercato
di dimostrare, solo nel saggio Frammenti di fenomenologia della musica
e non in Fare musica insieme e questo può in qualche modo essere indi-
cativo della continua attenzione data da Schütz al tema della musica e
che lo spingeva sempre verso ulteriori indagini fino al punto da fargli riva-
lutare l’aspetto spaziale della musica.
Questo per quanto riguarda le criticità del discorso schütziano.
Dall’altra parte, ci sentiamo in dovere di affermare che il discorso del
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1374 Antonio Di Chiro
123. Venturini, ‘Time, intersubjectivity, and musical relationship in Alfred Schutz’, 172.
124. Ibid. 179.
125. Alfred Schütz, lettera a H. Spiegelberg del 24/08/1945, in Helmut R. Wagner, Alfred
Schutz: An Intellectual Biography, 304, corsivo nostro.
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«Mutua sintonia», intersoggettività e «vivido presente». La filosofia della musica di Alfred Schütz 1375
mia convinzione che i futuri studi sui metodi delle scienze sociali e sulle
loro nozioni fondamentali condurranno necessariamente a problemi che
appartengono al dominio della ricerca fenomenologica126.
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1376 Antonio Di Chiro
Riferimenti
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Recensões | Book Reviews
Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1383-1386.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1383
Laurens van Apeldoorn & Robin Douglass (Eds.), Hobbes on Politics and Religion.
Oxford: Oxford University Press, 2018. Xiv + 297 pp., Isbn: 978-019-880-3409,
Doi: 10.1093/oso/9780198803409.001.0001.
1. A diversidade geográfica da filiação académica dos membros da EHS pode ser ilustrada
pela lista dos autores de Hobbes on Politics and Religion onde escrevem autores sediados
na Holanda (Laurens Van Apeldoorn e Glen Newey, U. de Leiden; Alexandra Chadwick,
Groningen; Johan Olsthroorn, U. de Amsterdão), no Reino Unido (Teresa M. Bejan
e Jon Parkin, U. de Oxford; Alan Cromatie, U. de Reading; Robin Douglass, King’s
College London), na Alemanha (Daniel Eggers, U. de Colónia; Patrícia Springborg,
Humboldt), em França (Franck Lessay, Paris – III), mas também em Israel (Elad
Carmel, U. Hebraica de Jerusalém), no Canada (Jeffrey Collins, Queen’s University) e
nos E.U.A. (Paul B. Davis, N.Y.; S.A. Lloyd, U. da California do Sul; A.P. Martinich, U.
do Texas; Alison McQueen, Stanford).
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[Recensão | Book Review] 1385
4. Cf. John Rawls, Lectures on the History of the Political Philosophy, ed. S. Freeman
(Cambridge MA: Belknap Press of Harvard University Press, 2007), 26; 29.
5. Laurens van Apeldoorn, Robin Douglass, Hobbes on Politics and Religion. (Oxford:
Oxford University Press, 2018), 5.
Vol. 75
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Revista Portuguesa de Filosofia, 2019, Vol. 75 (2): 1387-1396.
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DOI https://doi.org/10.17990/RPF/2019_75_2_1387
1387-1396
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1388 [Recensão | Book Review]
(assegura o autor), para que não se reduza a uma biografia, mas preferen-
cialmente se trate de uma hermenêutica do pensador e filósofo sui generis,
homem religioso desde sempre, manifestada na tríade de filósofo, político e
educador, e que num percurso filosófico, político e espiritual do nosso filósofo,
desde o seu anarquismo até ao seu catolicismo, se manifesta. “A vida e a filo-
sofia de Leonardo Coimbra constituem o polo de atração deste livro, que é
essencialmente uma biografia, uma historiografia de ideias filosóficas e uma
hermenêutica que adere à centralidade do texto como condutor e configu-
rador de interpretações”, como “verdadeiro nó górdio da hermenêutica”.1
Aprofundar em Leonardo Coimbra as noções de cousismo, ser como
excesso, memória intuitiva, razão experimental e ontologia do espírito, ou a
ética do filósofo do criacionismo como ética simbólica de fundamento teodi-
ceico. Ou, realçando a complementaridade entre A Razão Experimental, de
1923, e A Luta pela Imortalidade, de 1918, com a teoria geral da experiência
ética, estética, metafísica e religiosa; bem como a relação filosófica e poética
de Leonardo Coimbra e Teixeira de Pascoaes em 3 momentos: a coincidência
temporal de O Pensamento Criacionista e A Arte de ser português, mesmo que
de natureza e propósito diversos, até divergentes, mas parentes espirituais;
o diverso modo de entendimento da Saudade; e, por último, a leitura crítica
de Leonardo Coimbra em São Paulo (de 1933), no qual denuncia a hetero-
doxia e o panteísmo gnóstico de Teixeira de Pascoaes. O lirismo metafísico de
Leonardo Coimbra, expresso de forma sublime em A Alegria, a Dor e a Graça,
que a bela escrita de Manuel Cândido Pimentel testemunha como comunhão
espiritual com o mestre, é de indiscutível interesse na obra do nosso filósofo e
do pensamento português em geral. Porém, e o autor é claro, e concordando
com ele em pleno, a obra de Leonardo Coimbra abre clareiras para a sua vida,
e a sua vida e ação esclarece as suas opções filosófico-políticas e religiosas,
mas para os exegetas e hermeneutas da obra filosófica do filósofo do criacio-
nismo esta apresenta-se como uma “tarefa infinita”, uma obra “em aberto”,
“para novos possíveis”.2
Esta obra divide-se em 18 capítulos, que essencialmente correspondem
a 18 artigos ou trabalhos, que ao longo dos anos Manuel Cândido Pimentel
elaborou sobre o ilustre filósofo nascido entre o Sousa e o Tâmega, orador em
tantas partes de Portugal e de Espanha, e político interventivo, de anarquista a
crónico democrata, mas sempre homem religioso que gaguejou o cristianismo
e o abraçou na profissão de fé católica. Matemático de formação, educador
por vocação, privilegia no âmago da sua filosofia a humanidade, que coloca
no centro das suas maiores preocupações filosófico-político-religiosas. No
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3. Ibid., 29.
4. Ibid., 42.
5. Ibid., 58.
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era acérrimo crítico da instituição eclesial (para ele o mesmo que catolicismo,
ou o cousismo do cristianismo institucionalizado), bem como “a ideia de
que o pensamento humano é cocriador, isto é, define-se, na criação, como
consciência que ativamente participa do absoluto, com ele colaborando na
redenção espiritualizadora da matéria”.6 Em sequência deste capítulo, e este é
o meu entendimento, o autor coloca o IV, Da ciência à antropologia cristã, refor-
çando a ideia do capítulo anterior de continuidade e unidade, consequente,
do pensamento filosófico do nosso filósofo. Assim, na consciência plena do
cristianismo leonardino, Manuel Cândido Pimentel, e a partir desta matriz,
procura definir o caminho antropológico que Leonardo Coimbra percorreu,
que em A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre “é um singular trânsito de
aprofundamento de linhas e núcleos originais da sua filosofia, a que o novo
olhar sobre o catolicismo trouxe agudezas de visão e subtilezas de entendi-
mento, nomeadamente no que respeita à orientação da antropologia criacio-
nista, já de vasta conceção integral do homem, para uma ontologia do espírito,
em cujo núcleo principal reage uma soteriologia crística do tempo, da história
e da cultura, que acederá a uma mais fecunda inteligência das relações cató-
licas da matéria e da carne com o espírito e das implicações da ciência com a
religião e a moral”.7 Partindo da sua tese de doutoramento, Manuel Cândido
Pimentel apresenta a ontologia do espírito como uma grande novidade do
criacionismo em 1935, que sem negar o espiritualismo anterior e a metafísica
que o animava, percebe o recorte tomista que a enriquece com os planos onto-
lógicos da realidade, e acresce-lhe uma gnoseologia e uma antropologia. E
aqui se percebe a sua proximidade a Heidegger, mas num personalismo e exis-
tencialismo que se acentua numa antropologia da esperança, que se reforça
em teocentrismo (que coloca a humanidade no centro desta comunhão com
Deus e a criação) e se traduz na crítica severa dos humanismos passados e
presentes. Sobretudo “a crise europeia, aí chamando atenção para o delírio do
vazio e da ausência de Deus que a Europa cultural, científica e técnica sofre no
afastamento, por repúdio, das suas origens cristãs e católicas”.8
A ética, desenvolvida no capítulo V, é apresentada como essencial na
economia do pensamento leonardino, e que o acompanhou desde o anar-
quismo romântico até A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre. Aqui aborda
temas como a crise ocidental pós-moderna e apresenta uma ética da cultura
com acento tónico na crítica do materialismo e do cientismo, do positivismo
e da vontade de domínio, bem como a questão tão contemporânea da técnica
e da tenologia, ou da bioética e da ecologia, no diálogo ciência e ética, e as
causas modernas e contemporâneas desta crise. Mas o ponto central deste
6. Ibid., 71–72.
7. Ibid., 74–75.
8. Ibid., 77.
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9. Ibid., 87.
10. Ibid., 93.
11. Ibid., 94.
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[Recensão | Book Review] 1395
Pascoaes, reforçando que nesta obra o poeta amarantino fez ressurgir a linha
da nossa tradição messiânico-profética como uma ontologia de Portugal, e
mesmo uma antropologia do português. Já o nosso filósofo, no seu texto supra
citado, “tornou marginal o núcleo mais grave do imaginário religioso e político
de Teixeira de Pascoaes e da Renascença Portuguesa”.20 O que dele aceitou
foi a Saudade, mas – e reforça o autor, e eu concordo em pleno – sem uma
interpretação saudosista e revelando-a na experiência pensável, exprimindo-a
em uma gnoseologia e uma metafísica. Portanto, conclui o autor, estas duas
obras “revelam caminhos e destinos diversos, vivem e experienciam universos
e atmosferas de respiração que não são os mesmos, embora cada qual a seu
modo tenha intentado conduzir-nos à mais seleta e pura ordem”.21
Leonardo Coimbra é um filósofo que pensa como vive e vive como pensa,
mas sempre um pensamento pensável que perscruta a Vida na existência
concreta da humanidade e em tudo o que a rodeia. Seja a religião, a ciência ou
a filosofia. O capítulo XIV colocou O criacionismo face ao budismo sopesando
os temas doutrinários fundamentais do budismo, de sobremaneira o núcleo
especulativo da sua metafísica, realçando o autor as questões filosóficas: o
nada e a impensabilidade, e a sua impermeabilidade à noção teológica de
creatio ex nihilo, bem como a acusação ao budismo de eleatismo por analogia.
A crítica do seu núcleo pessimista vê-la manifesta na obra de Schopenhauer,
e em autores portugueses como Antero de Quental. No capítulo seguinte –
Criacionismo, positivismo e pós-positivismo (1910-1940) –, Manuel Cândido
Pimentel, coloca a luta antipositivista nas últimas décadas do século XIX, ou
“o contexto da génese, explicativo de apresentar-se a criacionismo na cena
cultural portuguesa do início do século XX como uma forma evoluída de anti-
positivismo”,22 até à sua última obra, A Rússia de Hoje e o Homem de Sempre,
na crítica do cientismo positivista e do seu humanismo antropolátrico. A visão
positivista da ciência não se reduz a uma só, mas são diversos e múltiplos os
positivismos à época, e Leonardo Coimbra foca a sua crítica em parâmetros
por si bem selecionados e na denúncia dos cousismos que produzem em
facetas diversas do saber e do fazer. E neste capítulo o autor percebe a mesma
denúncia, até à década de quarenta, noutros pensadores e intelectuais, noutras
correntes de pensamento filosófico e literário-cultural, até Álvaro Ribeiro,
discípulo do nosso filósofo, em Os Positivistas. E, finalmente, o Criacionismo
e raciovitalismo (capítulo XVI) que o coloca em contacto com outros filósofos
contemporâneos, particularmente o espanhol Ortega y Gasset. Convergências
e afinidades no nosso filósofo são muitas, mas “trilharam caminhos de pensa-
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Publicidade | Publicity
Colecção Pedagogia 1399
Margarida Miranda
(Introdução, Versão Portuguesa e Notas)
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
1400 Colecção Pedagogia
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
AXIOMA STUDIES
IN PHILOSOPHY OF NATURE AND IN PHILOSOPHY AND HISTORY OF SCIENCE
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(Faculdade de Filosofia e Ciências Sociais, UCP – Braga, Portugal)
GENNARO AULETTA
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LOUIS CARUANA
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PAUL MUELLER, SJ
(Vatican Observatory, Rome, Italy)
TATIANA ROQUE
(Universidade Federal do Rio de Janeiro, Brazil)
1402 Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science
Sobre a Série
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science 1403
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
1404 Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science
Acerca de la Serie
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science 1405
Alfredo Dinis, SJ
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
1406 Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019
Axioma Studies in Philosophy of Nature and in Philosophy and History of Science 1407
Álvaro Balsas, SJ
Vol. 75
Fasc. 1 RPF 2019