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Síntese da rronognfia apresentada no Curso de Especialização em Psicologia Jurídica
- PUCPR.
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PsfcóJoga, Especialista cm Psicologia Jurídica PUCPR,
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Psicóíoga, Mestra fcm Psicologia da Infância e Adolescência UFPR; Professora do
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curro de Psicologia PUCPR; Coordenadora, Professora e Orientadora de monogra¬
fias do curso de Especialização em Psicologia Jurídica - PUCPR.
namentos sobre a saúde mental de tais sujeitos, inquietando assim os pro¬
fissionais dessa área.
O comportamento dos reeducandos é resultante de experiências
vividas, antes do crime praticado, e dos efeitos do aprisionamento, que
também podem influenciar as condutas do indivíduo. Muitas são as teorias
que tentam explicar esses fatores determinantes para o crime. Há o modelo.
behaviorbía, que sugere que o comportamento criminoso é determinado
pela situação, resultante das experiências anteriores e também de outras
semelhantes. Sob esse prisma considera-se apenas os aspectos ambientais e
subestima-se as influências biológicas, ou seja, os fatores hereditários. Já
na concepção de Lombroso, o criminoso é considerado nato, onde a influ¬
ência do físico atua no psiquismo, ou seja, o indivíduo canega consigo um
património genético denominador da criminalidade, apresentando assim os
estigmas biológicos. Porém, é importante enfatizar que tanto os determi¬
nantes biológicos quanto os ambientais conjugam-se para produzir as dife¬
renças individuais.no comportamento criminoso (FELDMAN, 1977, p.
296). A psicologia acrescenta, sob o enfoque da psicanálise, discussão so¬
bre o comportamento criminoso, demonstrando através de sua teoria a es¬
trutura e formação da personalidade do indivíduo delituoso.
Nada é descartável quando se fala das inúmeras possibilidades
de um comportamento delituoso. Várias são as causas discutidas como
fator desencadeante, e é nesse contexto que se pretende abordar este tão
complexo assunto.
Normalmentc se observa, que o número de homicídios de uma
região está infimamente ligado ao nível de violência existente nesta co¬
munidade e com os problemas sociais da população. Também a forma
como essa sociedade lida com esses problemas, com os fatores relaciona¬
dos ao desemprego, a desorganização social e a desestrutura familiar,
entre tantos, toma-se importante na compreensão dos homicídios.' Verifi-
ca-se que o crime não está restrito a determinada sociedade, mas sim, a
uma questão universal, que atinge a humanidade de maneira indistinta, e
que precisa ser discutida e avaliada.
Essa relação entre a causalidade do ato criminoso e o indivíduo
criminoso, ou seja, como e o que leva alguém a cometer um ato tão atroz e
tão reprovável social, moral e religiosamente, que muda sua vida de maneira
trágica, e que o resultado do ato praticado acaba sendo de carater iireversí*
vefe irremediável, são questionamemos que inquietam e geram discussões.
Também são apresentadas neste trabalho as questões jundicas
que envolvem o processo-crime, sendo as mesmas conceituadas e discuti¬
das no que se refere aos crimes hediondos, mais especiflcamente o homi-
•m
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 161
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162 Tânia Batista Rosa e Maria Cristina Netva de uarvaino
pena, por sua natureza, è retribuitiva, tem seu aspecto moral, mas sua
finalidade não é simplesmente prevenção, mas um misto de educação e
correção” (GONZAGA, SANTOS e BACARIN, 2CÒ2, p. 62).
A pena vem com a finalidade dc inibir a prática delituosa, não
devendo a idéia de punição estar totalmente descartada, mesmo porque,
esta deve ser suficiente para impedir a transgressão. Ainda hoje, a pena é
Ksiaaogia Jurídica: Temas de Aplicação
163
A CAUSALIDADE DO COMPORTAMENTO
CRIMINOSO
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. junuiui. i etnas ae Aplicação 165
na, penal humanista, antropológica, entre outras) faz referência a este fato
(VIEIRA, 1997, p. 21-33), demonstrando que os motivos são endógenos e
exógenos, e que constituem um complexo de sentimentos e sensações de
um indivíduo, que se manifesta em toda a sua personalidade. Portanto,
cada indivíduo age de acordo com seu próprio modo de ser, sob a influ¬
ência do ambiente físico e social.
Vergara (1980, p. 62), cm sua obra: Dos Motivos Determinan¬
tes no Direito Penal, assegura que a grande maioria dos criminalistas
mantém a mesma opinião, que, para uma avaliação dos determinantes do
crime é necessária a apreciação do delito a posteriori, ou seja, só resulta
demonstrado após a ação. Como já dito, a produção de um ato criminoso se
dá mediante forças e estímulos resultantes de meie interno ou do ambiente
externo, portanto o agente criminoso responde a estas solicitações inter¬
nas ou externas, que por sua vez vão tentar vencer as forças resistentes,
levando o sujeito ao ato delituoso.
Divçrsas teorias sociológicas, psicológicas e biológicas se unem
'
na tentativa de explicar os “crimes de sangue”, pois sozinhas se viram
impossibilitadas de acharem o causador da criminalidade, assim se inte¬
gram em uma visão holistica do sujeito homicida (SICA, 2003, p. 25).
Surgiram aj as &reJ(asjCrirninológicas como- modelos-teóricos explicati¬
vos do comportamento criminoso.
Há os que defendem os aspectos biológicos como causais do
comportamento criminoso, o que incute a idéia de que os criminosos já
nascem assim, “prontos para o crime”, dotados de caraçterísticas físicas
que os diferenciam das pessoas comuns. Estas correntes tentam explicar o
comportamento criminoso através de patologias, disfunções cerebrais ou
algum transtorno orgânico, dando ênfase a todos os fatores biológicos.
Lombroso foi um dos precursores dessa linha de pensamento, quando
criou a Antropologia Criminal, e até os dias atuais há os què defendem
essa idéia, de que os indivíduos herdam uma predisposição para o crime,
revelada pela sua fisionomia, ou seja: através destas caractèrfsfícas físicas
seria possível reconhecer o indivíduo capaz de delinqíiir. São sujeitos que
apresentam defeitos na formação moral, sendo considerados criminosos
natos (VIEIRA, 1997, p. 24).
As idéias que enfocam o aspecto psicológico como determi¬
nante para a ação criminosa, englobam fatores como os aspectos cogniti--
vos,- afetivos, traços de caráter, temperamento e controle dos impulsos.
Buscam com isso entender o comportamento criminoso, através dos pro¬
cessos psíquicos anormais, e também na estrutura do inconsciente. A
166 Tânia Batista Rosa a Maria Cristina Neivá de Carvalho
4 OBJETIVO .
5 METODOLOGIA
6 RESULTADOS E DISCUSSÃO
A análise de resultados e sua respectiva discussão dividem-se
cm três partes, sendo que a primeira, se refere à caracterização da po¬
pulação pesquisada, a segunda, à atribuição de causalidade para o com-
portamento criminoso, e a terceira, aos aspectos relacionados ao ato
criminoso.
170 Tânia Batista Rosa e Maria
Cristina Neiva de Carvalho
6.1 Caracterização da população pesquisada
A média de idade dos reeducandos
a escolaridade se apresentou como Ensino era de 42.5 anos de idade, e
reeducandos em sua maioria estão com suasFundamental
famílias
incompleto; os
de casamento civil ou união constituídas através
estável; nesta amostra quatro dos participan¬
tes foram condenados por
homicídio qualificado
cídio simples; a pena imposta nos pesquisandos e apenas um, por homi¬
anos de reclusão; quanto á reincidência, ficou ficou na média dos 11
haviam sido processados por outros crimes. constatado que três deles já
Discurso-síntese: Impulsividade
Os discursos, nesse contexto, mostraram, segundo os relatos dos
a provocação
próprios participantes, que só praticaram o crime mediante
internos, agiram de
exagerada, da vítima, e, não contendo seus impulsos
relação doentia e
maneira agressiva e definitiva, vindo a pôr fim em uma realizada, os crimi¬
já desgastada. Foi verificado que durante a entrevista retraído, denotando
nosos dessa categoria mantinham um comportamento palavras. Molina
dificuldades em expressar seus sentimentos através das
Psicologia Jurídica: Temas de Aplicação 171
Discurso-síntese: Fatalidade
Por znais que haja fatores externos ligados a circunstâncias que
levam à fatalidade da ocorrência de. um hnmiríHiVÿ razoável a in¬
fluência de fatores internos e inconscientes, que podem estar direcamente
vinculados aos mecanismos de defesa do ego, ainda na tentativa de racio¬
nalizar ou negar o fato ocorrido, como foima de justificar, cora uma ex¬
plicação aceitável pela consciência.
Na doutrina do direito, diz-se culpa consciente, quando o agente
prevê o evento como possível, mas não procura evitá-lo, esperando, sincera,
mas levianamente, que este não ocorresse (HUNGRIA, 1958, v. V, p. 47).
Na quarta, e última, categoria, ficou disposto àquele que negou
qualquer participação no crime pelo qual foi acusado e condenada Segue
o discurso literal:
Discurso-sintese: Negação
. Situações dolorosas ou traumáticas podem ser rejeitadas pelo
consciente e transferidas para o inconsciente. O aparelho psíquico, agindo
como aparelho defensivo, se utiliza dos mecanismos de defesa do ego para
retomar ao estágio de homeostase anterior, diante de uma situação que possa
resultar um perigo ameaçador ao equilíbrio do aparelho psíquica A opera¬
ção defensiva é automática e inconsciente (KUSNETZOFF, 1982, p. 187).
A negação constitui um mecanismo de defesa de que o indivíduo faz uso
“na tentativa de não aceitar na realidade ura fato que perturba o ego” (FA-
DIMAN e FRAGER, 1979, p. 20). Segundo Fenichel (2000, p. 134), lia
tendência a negar sensações dolorosas é tão antiga quanto o próprio senti¬
mento de doP\
a) Emoção
Foi observado o predomínio da emoção em - três dos entrevista¬
dos, quando descreveram respostas ligadas a forte emoção, antes e du¬
rante o ato criminoso, mostrando nervosismo, agitação e sentimentos de
ódio e ira em relação à vítima.
As emoções são acompanhadas de várias reações, que podem ser
somáticas ou psíquicas,'podendo causar perturbação e confusão no indiví¬
duo que comete um delito, pois nè a errtòção-choqúe, que origina o chama¬
do crime de ímpeto** (GÒMES, 1993, p. 92). Não há atos que sejam exe¬
cutados sem nenhuma carga afetiva; o que pode variar é a intensidade da
emotividade do sujeito, pois as emoções podem ir de uma leve excitação
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psíquica até uma violenta emoção. Segundo Hungria (1958, v. V, p. 145)
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Existe no fenômeno da emoção um estado subjetivo especial que, se
no auge da impulsividade quase automática, permite, entretanto-, na
sua fásè incoativo, a interferência dos motivos da consciência ou dos
freios inibitórios, 0 exercício dopoder lógico no sentido de resistência
à emàtbfidqde,- o predomínio da inteligência. experiente, a ' atuação
normalizadora dafaculdade de critica e seleção dos motivos.
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Para a justiça interessa saber se aemoção seria um fato capaz dè
determinar que o agente não fosse mais o condutor e controlador de seu
comportamento deixando-se levar pela emotividade que o domina, alte¬
rando assim sua capacidade de decisão e vontade, levando-o ao crime.
b) Álcool
*
Entre ós entrevistados, apenas um deles havia ingerido bebida
.
alcoólica, ainda que ém pequenas doses, antes do crime, no auge da dis¬
cussão. Diante das circunstâncias apresentadas não se pode considerar o
álcool, nesse caso, como fator determinante para o crime, mas; como um
aspecto relacionado ao ato criminoso. *’
O crime cometido sob forte efeito de álcool, ainda gera bas¬
tante polêmica, pois “aceita-se, em geral, que o mau uso do álcool etili-.
u .«.ana oiouiia itpvd ue uaiVdlUU __
CO está relacionado ao crime". (BALTIERI e FREITAS. 2003. p. 158).
Sabe-se que o abuso de álcool náo exime o criminoso de sua responsa-
bilidade diante da justiça. Mas também há que se considerar que sub¬
stâncias etílicas podem exagerar o comportamento agressivo
(FELDMAN, 1977, p. 141), podendo desencadear reações que levam a
um comportamento criminoso.
c) Arrependimento
Três dos entrevistados se mostraram arrependidos pelo crime
cometido. Se pudessem voltar no tempo, resolveriam a situação de outra
maneira, que nâo, tirando a vida da vítima. Esse sentimento de arrepen¬
dimento vem logo em seguida ao crime, quando não é mais possível re¬
verter a situação, que, no caso do homicídio, nâo tem volta, pois a vida
não é mais devolvida.
O sentimento de arrependimento não retira a responsabilidade
penal, pois, mesmo "se o agente não conseguir impedir o resultado, por
mais que se tenha arrependido, responderá pelo crime consumado” (BI-
TENCOURT,- 1997, p. 245). Apesar disso, autores dos crimes podem
apresentar o discurso de arrependimento como uma tentativa de demons¬
trar a reparação de seu ato.
O sentimento de arrependimento pode estar ligado ao senti¬
mento de culpa que a psicanálise vem explicar como um conflito total¬
mente inconsciente, que tem a participação 'do superego na sua formação
(KUSNETZOFF, 1982, p. 185).
e) Efeitos do aprisionamento
%
7 CONCLUSÕES
O comportamento criminoso tem sido, àò longo dos tempos, tema
de diversas pesquisas nas mais variadas áreas de estudo e atuação, seja da
Psicologia, seja do Direito, da Sociologia ou da Antropologia, em que se
buscam respostas a essas inquietações da alma humana. Todos esses campos
da ciência, muito embora, pareçam que não se relacionam, se mostram mais
unidos do que nunca, quando se fala da psique humana e do comportamento
desviante, pois só com a junção de cada uma das ciências e da forma como
cada uma Uda com o delito e o infrator, é que poderemos nos aproximar de
uma conclusão sobre o comportamento criminoso. Dentre as inúmeras cor¬
rentes de pensamento sobre o assunto, há um consenso de que o criminoso
apresenta em seu comportamento influências de fatores endógenos e exóge¬
nos, ou seja, fatores intrínsecos e extrínsecos à sua personalidade. .
O ato criminoso e suas implicações subseqiientes levam a sen¬
timentos de culpa e arrependimento, não. somente pelo fato de ter tirado a
vida de alguém, mas também pelas consequências dessa atitude que re-
Psaottfria. Jurídica: Temas de Aplicação 177