Você está na página 1de 5

Teoria Geral do Direito Penal

Teoria Geral do Direito Penal

Conceito Objetivos
Conjunto de leis que traduzem normas que pretendem Prevenção geral: retribuição (mecanismo
tutelar bens jurídicos cuja violação se chama “infração inconsciente, reprimir tendências, privar-se)
penal” e tem como consequência uma coerção jurídica Prevenção especial: reeducação e ressocialização
particularmente grave – “sanção penal”. Història
Sistema de interpretação (compreensão) desta DP é a mais antiga camada da história da
legislação, isto é, o saber do direito penal evolução do Direito
Obs.: Surgimento da concepção do homem como
Direito penal x direito criminal (CF, art.22, I) pessoa, como ser dotado de autonomia moral
Dogmática penal: interpretação, sistematização e Evolução: vingança divina, privada, pública e
aplicação lógico-racional do Direito Penal. humanização das penas
Política criminal: críticas e propostas para a Povos primitivos: tríplice divisão
reforma do DP em vigor para ajustá-lo aos ideais Vingança divina: temor religioso ou mágico,
jurídico-penais e de justiça. Ponte entre a teoria caráter expiatório, lei de origem divina e, como tal,
jurídico-penal e a realidade. sua violação consistia numa ofensa aos deuses,
Criminologia: aspectos sintomáticos, individuais e punia-se o infrator para desagravar a divindade,
sociais do crime e da criminalidade, ou seja, bem como para purgar o seu grupo das
aborda cientificamente os fatores que podem impurezas do crime, a fim de amenizar sua cólera
conduzir o homem ao crime. e reconquistar sua benevolência para com o seu
povo. Ex: desterro e morte (forca, cruz, serra, fogo,
Características apedrejamento, espada, afogamento, roda,
Ciência cultural (dever ser) x natural (ser) esquartejamento, feras, flecha, espinhos, pisoteio,
Positivo: existência e coercibilidade através de queda de precipício);
normas escritas (positivas) ditadas pelo Estado A lei se fazia intangível por divina
Público: vedação de vingança privada. Corrupção de sangue: é punida a família e o grupo
1. Monopólio do estado Sanções a coisas e animais
2. Relação autor e vítima é secundária Penas mutilantes: marca indelével (exemplos)
3. Particular só detém excepcionalmente o Vingança privada: crescimento dos povos e
persecutio criminis e nunca o ius puniendi complexidade social.
Autônomo: não subordinado a outros ramos do Vingança entre grupos: extinção das tribos, surge
direito a lei do talião (talis = tal qual) “pagará a vida com
Sancionatório: não cria bens, apenas da proteção a vida; mão com mão, pé por pé, olho por olho,
penal (não constitutivo), não cria a queimadura por queimadura” (Êxodo, 21) -
antijuridicidade (arts. 186, 927, 948/CC) princípio da proporcionalidade.
Fragmentário: tutelar os bens mais valiosos do Idade antiga: o Direito Penal se torna laico
ponto de vista político (CNH, art.309, Lei 9.503/97; Vingança pública: Estado avoca o poder-dever de
art.151/CP) manter a ordem e a segurança social, conferindo
Valorativo: escala varia de acordo com o fato aos seus agentes a autoridade punir em nome dos
súditos
Pena assume caráter público: garante a ✓ Relação da Bahia, 1609
segurança do Soberano. Império:
Roma: magistrados poder discricionário e limitado 1. Constituição de 1824: art 179
pela apelação ao povo, “o que os sufrágios do 2. Código Criminal do Império (1830- Bernardo
povo ordenaram em último lugar, essa é a lei”. Pereira de Vasconcelos): aboliu a pena de galés,
Idade média: trabalhos forçados, banimento, tortura, marca de
DP Canônico: procedimento de inquisição, pena ferro quente, açoites. Princípio da personalidade,
para cura. Sistema do dia-multa
Contribuição para disciplina da repressão, 3. Penas fixas: caráter retributivo
combate à vingança privada
Surgimento da prisão moderna, penitência – República:
penitenciária (pelo sofrimento e solidão a alma do 1. Decreto nº 847/1890- Código Penal dos Estados
homem se depura e purga o pecado) Unidos do Brasil (João Batista Pereira)
A autoridade se isenta de responsabilidade pela 2. Decreto- Lei 2.848/1940- Código Penal (Alcântara
lei e pela aplicação concreta (ordálias ou provas Machado, Nelson Hungria Vieira Braga, Narcèlio
de Deus: saco, escolha entre a cruz e a espada, de Queiroz e Roberto Lyra): influência do Código
azeite fervente, brasa, “positivismo”) Rocco
Idade moderna (humanização das penas): iluminismo 3. Atualizado pelas Leis 6.414/77 e 7.209/84
Dos delitos e das penas (1764 – Beccaria): fim do (Francisco de Assis Toledo, Francisco Serrano
absolutismo, atos de punição cruéis e arbitrários. Neves, Miguel Reale Júnior, Rene Ariel Dotti,
Pacto social de Rousseau, criminoso adversário da Ricardo Antunes Andreucci, Rogerio Lauria Tucci e
sociedade, pena perde caráter religioso, Hélio da Fonseca): revoga a parte geral
predominando a razão 4. Lei 9.714/98: penas restritivas de direitos
Os gritos de horror da tortura não retiram a 5. Lei 13.964/19: pacote anticrime
realidade do crime.
Brasil:
Fontes
Colônia: De produção (material ou substancial): sujeito que dita
1. Ordenações Afonsinas, 1446/1514 (Dir. Romano e ou do qual emanam as normas jurídicas
Canônico): crueldade das penas e arbitrariedade União (art.22,I CF)
dos juízes (predomínio da pena de morte, açoite, Estados membros: somente questões específicas
amputação, galés) autorizadas por LC (art. 22§ único/ CF)
2. Ordenações Manuelinas, 1514/1603 De conhecimento (formais ou cognitivas): modo ou
3. Ordenações Filipinas, 1603/1830: Tiradentes (crime meio pelo qual se manifesta a vontade jurídica, a forma
de lesamajestade: enforcado, esquartejado, como o direito objetivo se cristaliza na vida social, se
membros fincados em postes colocados à beira da exterioriza.
estrada de Vila Rica Imediata: Lei (art. 5º, XXXIX/CF). Estão fora
✓ Morte para a maioria dos delitos: cruel (lentamente, decretos, resoluções, portarias ou MPs
Mediatas ou secundárias: podem influenciar mais
suplícios), atroz (confisco de bens, queima do cadáver,
ou menos na sanção e modificação das leis
esquartejamento), simples (degolação
enforcamento) e civil (direitos de cidadania)
ou
✓ Costume: regra de conduta praticada de modo
✓ Penas vis: açoite, corte de membro, galés ou geral, constante e uniforme com convicção de sua
necessidade jurídica (ex. art 233/ CP)
trabalhos públicos.
✓ Pena arbitrária: a pena fica ao talante do julgador, ✓ Princípios gerais do direito: normas fundamentais
que a fixava como ´´lhe bem, e direito parecer, segundo do sistema que inspiram a elaboração e preservação do
a qualidade da malícia e a prova, que dela houver`` ordenamento jurídico.
✓ Atos administrativos: complementam leis penais em ✓ Retroatividade da lei penal: art 3º, CPM (não
branco recepcionado.
✓ Jurisprudência: origem na doutrina e nas teses ✓ Criação de crimes e penas pelos costumes.
defensivas ou acusatórias ✓ Emprego da analogia para criar crimes ou agravar
✓ Doutrina: resultado da produção científica, que penas : art 20 da Lei 7716/89; Inq. 3590/ STF; ADO 26/STF.
procuram sistematizar as normas jurídicas, ✓ Incriminações vagas e indeterminadas (art 9º e 20 da
construindo conceitos, princípios, critérios, Lei 7.170/83).
classificações e teorias. Obs. REsp. 1798.903- RJ: Crime contra a humanidade. Art
7º do Estatuto de Roma. Tratado internacional
Princípios internalizado pelo Decreto nº 4.388/2002. Ausência de
Conceito : lei em sentido formal. Princípio da Legalidade. Art. 5º,
Valores fundamentais que inspiram a criação e XXXIX, da CF. Ofensa. (Rio Centro).
manutenção do sistema jurídico, servindo de critério Obs. HC 143.890/STF semente de maconha.
para sua exata compreensão e definindo a lógica e a Anterioridade ou irretroatividade:
racionalidade do sistema normativo. Art. 5º, XXXIX e art 1º CP.
Reserva legal ou estrita legalidade (lei em sentido A lei somente será aplicável a fatos praticados
material e formal) depois de sua entrada em vigor
Magna Carta de João sem Terra, 1215: “nenhum Tempus regit actum
homem livre será preso, aprisionado ou privado de Vacatio legis
uma propriedade, ou tornado fora-da-lei, ou Retroatividade da lei benigna, art 5º, XL/CF:
exilado, ou de maneira alguma destruído, nem estupro e atentado violento ao pudor, Lei
agiremos contra ele ou mandaremos alguém 12.015/09 (HC 116904/STF)
contra ele, a não ser por julgamento legal dos REsp 1.894.560 e REsp 1.851.174: não se aplica ao
seus pares, ou pela lei da terra." entendimento jurisprudencial (prospective
Rei devia julgar os indivíduos conforme a lei, overruling)
seguindo o devido processo legal, e não segundo a Intervenção mínima ou da necessidade (bens
sua vontade, até então absoluta. fundamentais):
Legalidade: lei em sentido geral, qualquer espécie DP só deve se preocupar com a proteção dos bens
do art.59/CF. mais importantes e necessários à vida em
Estrita legalidade (material: lei válida perante os sociedade
direitos fundamentais) e não mera legalidade Critério político que varia de acordo com a época
(formal: lei vigente). (Sedução, art 217, Lei 11.106/05)
Art.5º, XXXIX/CF e art.1º/CP. Somente é legítima a intervenção penal apenas
Exclusividade da lei para criação dos delitos e quando a criminalização de um fato se constitui
definição das penas. meio indispensável para a proteção de
Nullum crimen nulla poena sine lege determinado bem ou interesse que não pode ser
Vedada MP sobre matéria penal,art.62, I, “b”/CF, tutelado de maneira eficaz por outros ramos do
salvo para beneficiar o réu, apenas LC ou LO. direito.
RE 254.818/STF, discutindo os efeitos benéficos Fragmentariedade:
trazidos pela MP 1571/97 (permitiu o Nem todos os ilícitos configuram infrações penais
parcelamento de débitos tributários e mas apenas os que atentam contra valores
previdenciários, com efeitos extintivos da fundamentais para a manutenção e o progresso
punibilidade) proclamou sua admissibilidade em do ser humano e da sociedade.
favor do réu. Âmbito abstrato (criação dos tipos)
Proíbe:
Subsidiariedade: adequadas não se revestem de tipicidade.
Direito Penal como ultima ratio: somente quando Ex. trote e circuncisão.
outros meios estatais de proteção mais brandos e Proporcionalidade:
menos invasivos da liberdade não forem Juízo de ponderação entre o bem que é lesionado
suficientes. ou posto em perigo (gravidade do fato) e o bem
Âmbito concreto: o crime existe mas o tipo não de que pode alguém ser privado (gravidade da
pode ser utilizado. pena).
HC 197601/STJ: furto de água. Abstrato (cominação legal) e concreto (cominação
Crime de desobediência, art .330/CP. das penas).
HC 521.662/STJ: aproximação do agressor com Ex. art. 303/CTB e art. 129, § 5º/CP.
consentimento da vítima. Insignificância ou criminalidade de bagatela:
Ofensividade, Lesividade ou alteridade (comprovada a O Direito Penal não deve se ocupar de assuntos
lesividade): irrelevantes incapazes de lesar o bem jurídico.
Não há infração quando a conduta não tiver Funciona como causa de exclusão da tipicidade,
oferecido ao menos perigo concreto, real e efetivo desempenhando uma interpretação restritiva do
de dano a um bem jurídico. tipo penal.
Proibi a incriminação de : Requisitos/ STF:
✓ Atitude interna: meros atos preparatórios. ✓ Mínima ofensividade da conduta.
✓ Conduta que não exceda o âmbito do próprio autor: ✓ Ausência de periculosidade social da ação: emprego
autolesão e consumo de drogas, despenalização x de violência ou grave ameaça.
descriminalização, proibida prisão em flagrante (art. ✓ Reduzido grau de reprovabilidade do
48, § 2º da Lei 11.343/06; RE 430.105) e porte para comportamento.
consumo próprio (RE 635.659). ✓ Inexpressividade da lesão jurídica: sob a perspectiva
✓ Simples estados ou condições existenciais da vítima, moral administrativa: indisponibilidade do
(contravenção de viadagem, art.25/LCP, RE 583523) interesse público.
Ag. REsp. 1.553.489 Tipicidade formal x tipicidade material: incapaz de
Imputação pessoal, culpabilidade ou responsabilidade lesar ou colocar em perigo o bem.
penal subjetiva: 10% do salário- mínimo e reincidência: AgRg no HC
Nenhum resultado penalmente relevante pode 519452/STJ.
ser atribuído a quem não o tenha produzido por S. 599/STJ.
dolo ou culpa. Tema 157/STJ.
Nulla poena sine culpa Infrações penais de menor potencial ofensivo: art.
Inadmissibilidade da responsabilidade objetiva 98, I/CF e art. 61 da Lei nº 9.099/95.
pelo simples resultado (HC 88875/STF). HC 127.573/STF.
Somente cabe atribuir responsabilidade penal (i) a reincidência não impede, por si só, que o juiz
pela prática de um fato típico e antijurídico sobre da causa reconheça a insignificância penal da
o qual recai o juízo de culpabilidade conduta, á luz dos elementos do caso concreto; e
(imputabilidade, potencial conhecimento da (ii) na hipótese de o juiz da causa considerar penal
ilicitude, inexigilibidade de conduta diversa) ou socialmente indesejável a aplicação do
Culpabilidade é medida de pena princípio da insignificância por furto, em situações
Adequação social: que tal enquadramento seja cogitável, eventual
Não se pode considerar criminoso o sanção privativa de liberdade deverá ser fixada,
comportamento humano que, embora tipificado como regra geral, em regime inicial aberto,
em lei, não afronta o sentimento social de justiça. paralisando-se a incidência do art. 33, § 2º, c, do CP
As condutas que são consideradas socialmente (HC 123734/STF).
Princípio do ne bis in idem:
Não se admite a dupla punição pelo mesmo fato.
Reincidência (S.241/STJ).
Art. 20, II da Lei 10.826/03 (bis in idem).
Personalidade ou instranscendência:
Ninguém pode ser responsabilizado por fato
cometido por terceira pessoa, por isso não pode
passar da pessoa do condenado (art. 5º, XLV/CF)
Salvo a reparação cível.
Humanidade:
Decorre da dignidade da pessoa humana: art. 1º,
III/CF.
Veda a criação de tipos ou cominação de penas
que violem a incolumidade física ou moral de
alguém (art. 5º, XLVII/CF).
Individualização da pena:
Art. 5º, XLVI/CF.

Você também pode gostar