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Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com CONTRATOS EM ESPECIE 1. COMPRA E VENDA 1.1, NOGOES GERAIS SOBRE A COMPRA E VENDA ‘Art. 481, CC — Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga a transferir 0 dominio de certa coisa, @ o outro, a pagar-lhe corto prego em dinheiro. Eo contrato pelo qual uma parte assume a obrigagao de pagar um prego e a outra parte assume a obrigagao de entregar um bem, mediante o pagamento do prego. Perceba, portanto, que a compra e venda é uma relacao juridica obrigacional bilateral, em que se transfere 0 dominio mediante contraprestagao respectiva, visando a circulagao de riquezas, Diferentemente de outros sistemas, no direito brasileiro a compra e venda nao implica, por si s6, aquisigdo de propriedade. A propriedade é adquirida pelo REGISTRO, se imével, ou pela TRADICAO, se mével. Art. 1267, CC + A propriedade das coisas ndo se transfere pelos negécios Juridicos antes da tradi¢ao. Art. 1245, CC Transfere-se entre vivos a propriedade mediante o reqistro do titulo translativo no Registro de Iméveis. ‘Como visto a compra e venda é tao somente relagao obrigacional, o que significa que nao implica aquisig&o de propriedade. Desse modo, j4 podemos perceber que no direito brasileiro, temos duas situagées absolutamente diferenciadas: 1) Contrato de compra e venda: relagao obrigacional. 2) Aquisigao de propriedade: relagao real. Se a compra e venda nao é aquisitiva da propriedade, ndo havendo tradigao/registro no ha aquisigao da propriedade. Nesta senda, os riscos pelo perecimento da coisa ANTES da tradigdofregistro sao de responsabilidade do proprietario, isto é, do vendedor (alienante), Res perit domino. Essa regra traz mais seguranga juridica as relagdes obrigacionais porque os riscos pelo perecimento e deterioragao da coisa correm por conta do alienante. Ademais, se a compra e venda implicasse transferéncia de patriménio, haveria consequéncias fiscais também ao adquirente, Exemplo: compra e venda de carro, tudo pago, tudo certo. O comprador decide que ird levar 0 carro apenas no dia seguinte, Durante & noite, cai 0 teto da concessionaria. Quem suportaré o prejuizo? O proprietario (concessionéria), eis que ndo houve transmissao de propriedade. *Excegao: Compra e Venda e Alienagao Fiduc ‘em Garantia: na alienagao fiducidria em garantia a simples celebragao do contrato, por si s6, implica aquisicao de propriedade resolivel para @ credor fiducirio. IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com Art. 1361, CC — Considera-se fiduciéria @ propriedade resolivel de coisa MOVEL infungivel que 0 devedor, com escopo de garantia, transfere ao credor. © comprador, néo hé como negar, é um consumidor. Ou seja, a indole da compra e venda é adquirir um bem para ser consumido, em que a aquisicéo no ¢ feita para adquirir a propriedade e sim para 0 mero consumo. Compra e Venda e Leasing: o Jeasing (arrendamento mercantil) nao passa de um contrato de compra e venda de uso. Isso porque, no contrato de compra e venda, uma pessoa paga enquanto outro transfere 0 dominio. Porém, no contrato de leasing, uma pessoa paga enquanto a outra, em contraprestagao, entrega 0 uso da coisa. Uma instituigo financeira adquire para si um bem e o arrenda para terceiro usé-lo. O particular iré receber 0 bem e pagaré um valor mensal a titulo de renda, para manutengao do bem. O prazo minimo de leasing seré de 36 meses, exceto de automével que é 24 meses. arrendatario, portanto, tem direito ao uso do bem transferido e, findo o contrato, surgem para ele 03 opgées: 1) Extingao do contrato, 2) Renovagao do contrato por novo periodo. 3) Direito de compra (0 arrendatério pode comprar a propriedade do bem, pagando a diferenca entre 0 valor do bem e o valor pago a titulo de arrendamento > valor residual de garantia - VRG). J que a 1% e 2" opgao nao sao opgdes benéficas ao arrendante, é pratica usual que o valor residual de diferenga seja diluido nas parcelas mensais pagas a titulo de arrendamento. Verifica-se, entéo, que 0 /easing, na pratica, esta se transformado em compra e venda a prazo (o arrendatario ja esta comprando o bem, ele perde as outras opgées, jé que impositivamente perde o direito de compra). Assim, a cobranga antecipada de VRG implica em transmudagéo da natureza do leasing. Por isso, 0 STJ editou a simula 263: STJ Stmula n° 263 Asobrange—antesipada—de—valerresidual {VRG) ‘Quem néo gostou nada disso foram os bancos. Perceba: se tratando de compra e venda a prazo, se 0 comprador parar de pagar o banco nao tem direito de reintegragao de posse, por um motivo simples: 0 comprador ja é proprietario, visto que a tradi¢do ja transferiu a propriedade. No leasing nao, © banco é vendedor, proprietario e possuidor indireto, aqui ele teria a garanlia da reintegracao de posse (ou busca e apreensdo se mével). Entéo os bancos pararam de fazer leasing, grandes empresas estagnaram, funcionou como um prejuizo, se nao tinha leasing eles tinham que celebrar outro contrato, ‘como financiamento, empréstimo, inclusive com incidéncia de imposto antes e nao depois, entre outros pontos negativos. Entéo, 0 STJ muda de entendimento: a cobranga antecipada do VRG nao descaracteriza 0 contrato de leasing. ‘Sdmula 293, STJ + A cobranga antecipada do valor residual garantido (VRG) ndo descaracteriza o contrato de arrendamento mercanti. SS IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados Assim, sob 0 ponto de vista processual, se 0 arrendatario for inadimplente, deixando de pagar as parcelas mensais, o arrendante tem direito a busca e apreenso ou reintegracdo de posse porque a propriedade do bem continua sendo sua (alienante) 1.2. CLASSIFICAGAO DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA 1) Bilateral; 2) Oneroso; 3) Comutativo; 4) Consensual; 5) Nao solene. Vejamos Obrigagdes para as ambas as partes. 12 Oneroso Vantagem econémica para ambos os contratantes. 1.2.3. Comutative ‘As vantagens patrimoniais s8o previamente conhecidas. E exatamente por sua caracteristica COMUTATIVA que a compra e venda é o palco principal para a evicgao e os vicios redibitérios. Eventualmente, a compra e venda pode assumir natureza aleatéria quando se tratar de venda de venda sujeita 4 prova, venda a contento ou venda de coisa incerta (ver abaixo) 12 Consensual Em regra, a compra e venda, é consensual ja que, para a sua formagdo/aperfeigoamento basta a vontade das partes (contrario dos contratos reais, em que deve haver a tradi¢ao). 12. Informal e nao solene Em regra, nao exige forma especifica. Porém, em determinados casos, o ordenamento juridico exige formalidade para a celebragao do contrato de compra e venda, ou seja, assumird natureza de contrato solene. Exemplo: compra e venda de bens IMOVEIS, Nesses casos, a forma integrara a substancia do ato, razo pela qual seré NULA a compra e venda que desatender a forma de lei SS IRE TO civiL. 120 Ce Cadernos Sistematizados DG ersemorsatamatzadon PAconogcacemosssteatzad com ‘Art. 108. Nao dispondo a lei em contrério, a ESCRITURA PUBLICA é essencial 4 validade dos negécios juridicos que visem a constitui¢éo, transferéncia, moditicagao ou rentincia de direitos reais sobre iméveis de valor superior a trinta vezes o maior salério-minimo vigente no Pais. Art. 109, CC No negécio juridico celebrado com a cléusula de nao valer sem instrumento puiblico, este é da substancia do ato. Ressalta-se que, em relagdo ao art. 108 do CC, 0 valor do bem ¢ o determinado pelo fisco e nao © valor do negécio estipulado pelas partes, segundo entendeu o STJ no informativo 562. Vejamos: A compra e venda de bens IMOVEIS pode ser feita por meio de contrato particular ou & necessério escritura piblica? + Em regra: 6 necessério escritura piblica (art. 108 do CC). » Exceed: a compra e vende pode ser felta por contrato particular (ou seja, sem escritura piblica) se o valor do bem imévelalienado for inferior @ 30 salérios-minimos. Art, 108, Nao dispondo @ lei em contrério, @ escritura publica 6 essencial a validade dos negocios juridicos que visem & constituigéo, transferéncia, modificagéo ou rentncia de direitos reais sobre iméveis de valor superior a trinta vezes o maior saldrio-minimo vigente no Pais. Para fins do art. 108, deve-se adotar 0 preco dado pelas partes ou o valor calculado pelo Fisco? O valor calculado pelo Fisco. © art. 108 do CC fala em valor do imavel (e nao em prego do negécio). Assim, havendo disparidade entre ‘ambos, 6 0 valor do imével calculado pelo Fisco que deve ser levado em conta para verificar se sera necesséria ou ndo @ elaboragéo da escritura publica. A avaliagao feila pola Fazenda Piblica para fins de apuragéo do valor venal do imével é baseada em critérios objetivos, previstos em lei, os quals admitem aos interessados 0 conhecimento das circunsténcias consideradas na formagéo do quantum atribuido ao bem. Logo, trata-se de um critério objetivo e publico que evita a ocorréncia de fraudes. Obs: esta superado o Enunciado 289 das Jornadas de Direito Civil do CJF. STJ. 4° Turma. REsp 1099480-MG, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/12/2014 (Info 562). Cuidado com 0 enunciado 289 do CJF Existe um enunciado da Jornada de Direito Ci pelo STJ. Confir | do CJF em sentido contrario ao que foi dec! Enunclado 289: O valor de 30 salérios-minimos a que se refere o art. 108 do Cédigo Civil brasileiro, ao dispor este sobre a forma publica ou particular dos negécios juridicos que envolvam bens iméveis, é 0 atribuido pelas partes contratantes, @ ndo qualquer outro valor arbitrado pela Administragao Publica com finalidade exclusivamente tributéria. De acordo com o Professor Marcio Cavalcante, 0 presente enunciado foi proposto pelo grande doutrinador Silvio de Salvo Venosa, mas encontra-se superado pelo entendimento do STJ. Assim, em provas de concurso ou mesmo na pratica forense, ndo se deve adotar o enunciado, mas sim a decisao do STJ, 4.3. ELEMENTOS ESSENCIAIS DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA 1) Consentimento das partes; €S- DIREITO CIVIL 2022.1 GS Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com 2) Prego; 3) Coisa. Lembrando: a forma nao é elemento essencial da compra e venda (salvo iméveis + 30 SM); a forma pode ser elemento essencial da prova do contrato de compra e venda (matéria de processo civil. Vejamos: 13. Consentimento © consentimento deve ser manifestado de forma livre ¢ desembaracada, devendo ser espontaneo, O consentimento viciado é causa de anulabilidade do contrato (teoria do NJ). ‘Ademais, o consentimento deve ser manifestado por pessoa capaz. Para algumas pessoas, além da capacidade do manifestante, exige-se também legitimagao. Legitimacao é um requisito especifico para a pratica de determinados atos, razdo pela qual so & exigida para quem tem capacidade. agées Especificas: em determinadas situagdes 0 conse! ‘comprador, por si s6, ndo é 0 bastante. lento do vendedor e 1) Venda de bens de nascituro ou incapaz; 2) Compra e venda de ascendente para descendente; 3) Compra e venda entre marido ¢ mulher; 4) Venda de bem imével por pessoa casada; 5) Compra e venda de bem condominial; 6) Proibigdo de venda bens sob administracéo. Vejamos 1) Venda de bens de nascituro ou incapaz ‘Além do representante, precisa de autorizagdo judicial, ouvido o MP. Exemplo: menor recebe bem por doagao, podem os pais irem ao cartério e vender este imével? Nao. Exige autorizagdo judicial, ouvido o MP. 2) Compra e venda de ascendente para descendente E preciso 0 consentimento dos demais descendentes ¢ do cénjuge do vendedor sob pena de anulabilidade do negécio. Art. 496, CCE anuldvel a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e 0 cénjuge do alienante expressamente houverem cconsentido. IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados E anulavel a compra e venda de ascendente para descendente sem o consentimento dos demais interessados. No sistema juridico brasileiro, a compra e venda de ascendente para descendente & diferente da doagao. Ora, a doagao de ascendente e descendente presume ser antecipacdo de heranga, salvo se, no ato da doago, houver indicacdo expressa de que o bem sai da parte DISPONIVEL, respeitado o limite da legitima. Ja a compra e venda de ascendente para descendente, salvo ma-fé, 6 uma compra e venda qualquer. Dispensa-se 0 consentimento do cénjuge se o casal é casado pelo regime da separacdo convencional ou se vivem em unio estavel (por ser excegao, interpreta-se restrtivamente). ‘A Siimula 494 do STF, sob a égide do CC/16, indicava como prazo de anulabilidade 20 anos. SUMULA 494, STF -» A-AGAG-PARA-ANULAR_VENDA DE-ASCENDENTE-A MINTE-ANOS,CONTADOS DA DATADO ATO REVOGADA A SUMULA452. Porém, essa stimula perdeu seu objeto em face da superveniéncia do art. 179 do CC/02. ‘Art. 179, CC + Quando @ lei dispuser que determinado ato 6 anulével, sem estabelecer prazo para pleitear-se @ anulacdo, serd este de dols anos, a contar da data da conclusao do ato. Entdo, 0 prazo de anulabilidade do contrat de compra e venda, no caso de venda de ascendente para descendente sem consentimento dos demais, como nao ha referéncia expressa, é de 02 anos, a contar da data da celebragao do contrato. Porém, nos termos da tese da actio nata, 0 prazo devera comegar a corer da data do conhecimento do dano, Sendo assim, o prazo de 02 anos para anular a compra e venda do ascendente para descendente fluira a partir do conhecimento da venda. Enunciado 368, IV Jornada de Direito Civil -- 0 prazo para anular venda de ascendente para descendents 6 decadencial de dois anos (art. 179 do Cédigo ivi) ‘Atengao! A venda por interposta pessoa nao ¢ outra coisa que nao a tentativa reprovavel de contornar-se a exigéncia da concordancia dos demais descendentes e também do cénjuge. Em outras palavras, 6 apenas uma tentativa de se eximir da regra do art, 496 do CC, razdo pela qual deverd ser aplicado © mesmo prazo decadencial de 2 anos (STJ. 3* Turma, REsp 1679501-GO — Info 667). ‘OBS.: a compra e venda de descendente para ASCENDENTE NAO necesita do consentimento dos demais interessados. Isso porque o art. 496 do CC é uma norma restritiva de direito, o que significa que nao pode haver interpretagao ampliativa, Enunciado 177, Ill, Jornada de Direito Civil > Por erro de tramitacao, que retirou a segunda hipstese de anulagao de venda entre parentes (venda de SS piRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com descendente para ascendente), deve ser desconsiderada a expresso “em ambos 0s casos", no paragrafo tinico do art. 496. ‘Art. 496 Parégrato tnico. Em ambos os casos, dispensa-se 0 consentimento do ‘cénjuge se o regime de bens for o da separagéo obrigatéria. ATENGAO! Para que a venda de ascendente para descendente seja anulada (art. 496 do CC), 6 imprescindivel que 0 autor da agao anulatoria comprove, no caso conereto, a efetiva ocorréncia de prejuizo aos herdeiros necessérios, ndo se admitindo a alegagao de prejuizo presumido. Isso porque este negécio juridico nao é nulo (nulidade absoluta), mas sim meramente anulavel (nulidade relativa). Logo, nao é possivel ao magistrado reconhecer a procedéncia do pedido no 4mbito de ago anulatéria da venda de ascendente a descendente com base apenas em presungao de prejuizo decorrente do fato de 0 autor da agao anulatéria ser absolutamente incapaz quando da celebragao do negécio por seus pais e irmo. 3) Compra e venda entre marido e mulher E licita a compra e venda entre marido e mulher, mas somente no que diz respeito aos bens excluidos da comunhao. Isso porque ninguém pode comprar ou vender aquilo que ja 6 seu. Art. 499, CC — E licita a compra e venda entre cénjuges, com relagao a bens cexcluidos da comunhao. ‘Quem é casado no regime da comunhao universal de bens nao podera celebrar compra e venda entre si, porque todos os bens pertencem a ambos os cénjuges. De acordo com Cristiano Chaves, “é possivel a compra e venda entre pessoas conviventes em unio estavel por ndo se tratar de norma restritiva, imitadora, de direitos. Um companheiro pode, entao, vender bens para outro companheiro, desde que tais bens nao integrem o patriménio comum do casal, sendo bens particulares 4) Venda de bem imével por pessoa casada Exige-se 0 consentimento do cénjuge para a venda de bem imével e para fianga e aval. Art. 1647, 1, CC —Ressalvado 0 disposto no art. 1.648, nenhum dos cénjuges pode, sem autorizaeao do outro, exceto no regime da separagao absoluta: {-allenar ou gravar de nus real os bens IMOVEIS. ‘© consentimento nao é necessario para a venda de bem MOVEL. Se 0 cénjuge, imotivadamente, se recusa a dar 0 consentimento, cabe suprimento judicial desse consentimento através de procedimento de jurisdigao voluntaria (competéncia da vara de familia). Dispensa-se 0 consentimento se o casamento for sobre o regime de separacdo, participacdo final dos aquestos se assim estiver no pacto antenupcial ou se 0 casal viver em unio estavel. A jurisprudéncia entende que se exige o consentimento do cénjuge também para a promessa de ‘compra e venda de bem imével. ~DIREITO CiviL 2022.1 66 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com ‘Se no houver consentimento, a venda seré anulavel no prazo de 02 anos, contados do término do casamento Art. 1649, CCA falta de autorizacao, néo suprida pelo juiz, quando necesséria (art. 1.647), tornaré anulével o ato praticado, podendo o outro cénjuge pleitear- ihe a anulacéo, até dois anos depois de terminada a sociedade conjugal, Porém, o professor entende que se 0 cénjuge, sabendo da venda sem o seu consentimento, nao reclamar a anulagao do negécio juridico, ndo poderia, depois de 10 anos, reclamar a anulabilidade do ato sob a pena de incorrer em comportamento contraditério (venire contra factum proprium).. E preciso 0 consentimento do cénjuge para a venda de bens excluidos da meagao? SIM; € necessario 0 consentimento do cénjuge mesmo para a venda de bens iméveis excluidos da ‘comunhao. Isso porque, apesar do imével nao entrar na comunhao, os seus frutos se comunicam ao outro cénjuge. Como a falta de consentimento gera anulabilidade, o interesse é de ordem privada, razo pela qual 0 oficial nao pode recusar o registro do negécio juridico. 5) Compra e venda de bem condominial ‘A venda do bem condominial como um todo precisa do consentimento de todos os condéminos. ‘Se um dos condéminos se recusar, imotivadamente, a dar o consentimento, podera haver suprimento judicial. Porém, quando se tratar de compra e venda da quota condominial (fragao ideal), deve-se observar 0 direito de preferéncia dos demais condéminos. © condominio que pretende vender a sua fragao ideal devera dar preferéncia aos demais condéminos. Este direito de preferéncia sera garantido por meio de notificagao judicial ou extrajudicial com prazo minimo de 30 dias. direito de preferéncia s6 ocorre na alienagao onerosa; nao se aplica na alienagao gratuita. ‘Se houver a venda sem observancia da preferéncia, 0 negécio é INEFICAZ em relacéo os condéminos preteridos Dessa forma, 0 condémino preterido tera 0 prazo de 180 dias para promover uma agao de adjudicagao compulséria, Art. 504, CC -+No pode um condémino em coisa indivisivel vender @ sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por tanto. O condémino, a quem no se der conhecimento da venda, poderé, depositando o prego, haver para si 2 parte vendida a estranhos, se 0 requerer no prazo de cento e oitenta dias, ‘sob pena de decadéncia. Nessa ago, o interessado, para adjudicar a fragao, deveré depositar 0 valor, devendo formar-se um litisconséreio necessério unitario entre o adquirente e alienante Se mais de um condémino exercer a preferéncia, terd preferéncia aquele que tiver 0 maior ntimero de benfeitorias Nenhuma dessas regras se aplica ao condominio EDILICIO. 6) Proibicao de venda bens sob administracao = DIREITO CiviL 2022.1 67 Cadernos Sistematizados ) @ ecatemorsstemstzados Pconiatogeacemonsntematzada com E nula a venda realizada de bens sob administragao, isto é, bens sujeitos ao dever de zelo e guarda. Exemplo: tutor e curador. ‘Art. 497, CC Sob pena de nulidade, nao podem ser comprados, ainda que em hasta publica: | -pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados sua guarda ou administragdo; Il- pelos servidores piiblicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa juridica a que servirem, ou que estejam sob sua administragao direta ou indireta; IN| ~ pelos juizes, secretérios de tribunais, arbitradores, peritos ¢ outros serventudrios ou auxiliares da justica, os bens ou direitos sobre que se ltigar em tribunal, juizo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV = pelos leiloeiros @ seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. 1.3.2. Preco Toda compra e venda tem uma expresséo monetéria Se 0 adquirente, ao invés de pagar o prego, puder entregar outra coisa, trata-se de {roca ou permuta e ndo compra e venda. No contrato de traca ou permuta, o préprio contrato prevé a entrega de coisa diversa. J na compra e venda, com dacdo em pagamento, 0 contrato prevé a entrega de dinheiro. Mas, em caso de inadimplemento, o devedor pode propor a entrega de coisa diversa, e o contrato continua sendo de compra e venda, sendo o mesmo extinto por modo diverso. © prego nao precisa ser necessariamente determinado; basta que seja DETERMINAVEL. O que nao se permite é uma indeterminagao absoluta. O prego pode se submeter a taxa de mercado ou bolsa de valores bem como indices econémicos. Art. 486, CC +Também se poderé deixar a fixag&o do prego taxa de mercado ou de bolsa, em certo e determinado dia e lugar. Art. 487, CC — E licito as partes fixar 0 prego em fungao de indices ou parémetros, desde que suscetiveis de objetiva determinagao. ‘Ademais, 0 prego pode ser indicado por terceiro que assume a posigao de mandatario para arbitrar o valor. Art. 485, CC —+A fixacao do prego pode ser deixada ao arbitrio de terceiro, que 0s contratantes logo designarem ou prometerem designar. Se o terceiro néo aceitar a incumbéncia, ficaré sem efeito o contrato, salvo quando acordarem os contratantes designar outra pessoa. Esse terceiro ocupa a posigéo de mandatério de uma das partes, ndo se tratando de arbitro porque nao hd litigio, © que nao se admite é que o prego esteja submetido ao arbitrio EXCLUSIVO de uma das partes, Art. 489, CC —» NULO é 0 contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbitrio exclusive de uma das partes a fixagao do preco. SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 6 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados Lembre-se também que, no Ambito do CDC, o prego deve estar submetido ao dever de informagao do fomecedor (exemplo: géndolas de supermercado).. Nos termos do art, 315, 0 prego se submete ao princ{pio do nominalismo. Art. 315, CC — As dividas em dinheiro deverdo ser pagas no vencimento, em MOEDA CORRENTE e pelo valor nominal, salvo 0 disposto nos artigos subsequentes. [..] Excegies: na forma do DL 857/69, é possivel cumprir obrigagao em moeda estrangeira em 02 hipéteses: 1) Aquisigées decorrentes de importagao; 2) Compra e venda celebrada em territério estrangeiro. prego deve ser SERIO, REAL, isto 6, deve retratar 0 valor do bem objeto do contrato (lembrar © aniincio digitado errado, geladeira de 1.999,00 estava por 199,00, consumidor ajuizou e perdeu, queria levar 06 geladeiras por 199,00 cada). E se o prego, apesar de ser sério, ndo for JUSTO? Se houver onerosidade excessiva, a consequéncia sera a invalidade ou a ineficdcia do negécio juridico, dependendo do caso. ‘Sera INVALIDO, se a onerosidade excessiva ocorrer no momento da formago do contrato. Exemplo: lesdo e estado de perigo (0 contrato é anulavel). Porém, seré INEFICAZ, quando a onerosidade excessiva for posterior a formagao do contrato. Nesse caso, haverd a revisdo ou resolugao do contrat com base na teoria da imprevisao (0 contrato sera resolvido ou revisado), conforme visto acima. Art, 488. Convencionada a venda sem fixacao de preco ou de critérios para a ‘sua determinacao, se ndo houver tabelamento oficial, entende-se que as partes ‘se sujeitaram ao prego corrente nas vendas habituais do vendedor. 133. Coisa “Bem economizavel.” Todo e qualquer bem, mével ou imével, corpéreo ou incorpéreo, atual ou futuro, coisa alternativa ou incerta, pode ser objeto de compra e venda, Tudo pode ser objeto, até mesmo a coisa litigiosa. Veremos aqui alguns pontos pertinentes: 1) Venda de coisa incorpérea; 2) Venda de coisa futura; 3) Venda de coisa litigiosa; 4) Venda de coisa incerta e venda altemativa. Vejamos IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com 1) Venda de coisa incorporea ‘Quando se tratar de bem incorpéreo, a compra € venda ganha o nome de CESSAO ONEROSA DE DIREITOS, 2) Venda de coisa futura A venda de coisa futura que nao pertence ao alienante, mas que um dia pode ser dele, é chamada de VENDA A “NON DOMINO”. Nesse caso, a eficacia do contrato fica subordinada a aquisigéo superveniente do bem pelo alienante. Por exemplo, compra e venda de iméveis na planta. ‘Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficaré sem efeito 0 contrato se esta nao vier a existir, salvo se a inteng&o das partes era de concluir contrato aleatério. Art. 1268, §1°, CC — Se o adquirente estiver de boa-fé e o alienante adquirir depois a propriedade, considera-se realizada a transferéncia desde o momento ‘em que ocorreu a tradi¢ao. 3) Venda de coisa litigiosa Além disso, também é possivel a venda de coisa litigiosa, hipstese na qual nao existem os riscos da evicgao se 0 comprador sabe que a coisa é litigiosa. CPC/2015 Art. 109. A alionagao da coisa ou do direitoItigioso por ato entre vivos, aititul@ particula?, nao altera a legitimidade das partes. § 12 O adquirente ou cessionério néo poderé ingressar em juizo, sucedendo 0 alienante ou cedente, sem que o consinta a parte contréria. § 2° 0 adquirente ou cessionario poderé intervir no processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente. § 3 Estendem-se os efeitos da sentenga proferida entre as partes originarias 0 adquirente ou cessionario. ‘Aestd discutindo com B uma coisa ou direito ‘x’. A coisa ou direito ltigioso, poder ser alienada? E possivel transferir, alienar coisa ou direito litigioso? R: E possivel. Porque se nao fosse possivel alienar coisa ou direito ltigioso a economia seria travada por completo. Como uma empresa compraria outra? Quando uma compra outra, ela compra todo patriménio, direitos, direitos litigiosos etc. Entdo, qual o impacto que esta transferéncia gera no processo em que se discute essa coisa ou esse direito? A (adversario) xB (alienante ou cedente) > C (adquirente ou cessionério) 1* Observagao: a transmissao é ineficaz em relagao ao adversério do alienante, ou seja, quem compra coisa litigiosa, deve saber que se aquele que vendeu perder a causa, quem comprou se da mal, quem compra coisa litigiosa sabe que esté comprando algo que pode perder depois, titularidade incerta. Se A ganha, poderd buscar a coisa na mao de C. Se A ganhar, C se submete a decisao. Art. 109, § 32 Estendem-se os efeitos da sentenca proferida entre as partes originérias ao adquirente ou cessionario. piRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados "Ha um caso em que nao se submete: alienagao de imével itigioso em que a matricula nao tenha sido averbada a pendéncia do processo (A é obrigado a registrar a pendéncia). O comprador esta ‘comprando de boa-fé, temos um “imével limpo", nao pode ser prejudicado depois da compra, trata-se de seguranga juridica. 2° Observagao: o alienante, nao perde a legitimidade de estar no proceso embora ele ndo seja mais 0 dono, ele continua legitimado a discutir a coisa em julzo. 3* Observagao: 0 adquirente ‘C’ pode, porém, suceder o alienante, entrar no lugar do alienante, assumir 0 lugar do alienante ‘B’, mas para isso 6 preciso que ‘A’ consinta. Entéo, havendo consentimento de ‘A’ haveré sucesso processual. 4* Observacdo: ‘B' pode, se ‘A’ consentir com a sucesso processual, ir para casa. Agora se ‘B’ quiser ficar no processo para ajudar ‘C’, poderd? Essa assisténcia sera assisténcia simples, ‘B' podera ficar no processo, podera ser assistente simples de ‘C’. Seu interesse é reflexo, pois a coisa foi vendida e poderé haver ago de regresso caso ‘A’ ganhe, ‘Ou seja, ‘A’ CONSENTINDO na sucessao, pode ocorrer aqui uma sucessao processual {exclusao do alienante 'B’) e assisténcia simples de ‘B’ para ‘C’ (alienante continua no processo ajudando 'C’, se quiser). 5° Observagao: se ‘A’ ndo consentir, 'C’, pode intervir como assistente de B. Essa assisténcia sera litisconsorcial. Porque ‘C’ ira discutir direito proprio, a coisa é dele agora, Neste caso, ‘B’ continua no processo, como legitimado extraordinario, porque continua no proceso defendendo ‘em nome préprio interesse alheio. Entéo ‘B' era legitimado ordinario, e passa a ser legitimado extraordinario, visto que, durante o proceso aliena 0 bem, continuando no proceso defendendo em nome préprio interesse alheio. Legitimagao extraordinaria superveniente ou derivada. ‘Ou seja, ‘A’ ndo consentindo, pode-se gerar uma assisténcia litisconsorcial de uma legitimagao extraordindria superveniente (substituicao processual) de ' interesse de ‘C’). para ‘B' + (defendera CPC/2015: Art. 109. A alienagéo da coisa ou do direito Iitigioso por ato entre vivos, a titulo particular, néo aitera a legitimidade das partes. § 12 0 adquirente ou cessiondrio (C) néo podera ingressar em julzo, sucedendo o alienante ou cedente (#8), sem que o consinta a parte contréria (A). § 22 O adquirente ou cessionério (C) poderd intervirno processo como assistente litisconsorcial do alienante ou cedente. § 3 Estendem-se os efeitos da sentenga proferida entre as partes origindrias a0 adquirente ou cessionéiri. CC -Art. 457. Nao pode o adquirente demandar pela evicgéo, se sabia que a coisa era alheia ou iitigiosa. 4) Venda de coisa incerta e venda alternativa Por fim, admite-se a venda de coisa incerta e venda alternativa. piRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados ‘S6 nao 6 possivel a compra e venda cujo objeto seja heranga de pessoa viva (art. 426, CC, vedago da pacta corvina) bem como de bens personalissimos, coisas fora do comércio e clausulados com as seguintes restritivas: inalienabilidade, impenhorabilidade e incomunicabilidade. ‘Art. 426. Nao pode ser objeto de contrato a heranca de pessoa viva. Conferir 0 art, 1.911 do CC: ele estabelece que a causa de inalienabilidade faz presumir as. demais. Ait, 1.911. A cléusula de inalienabilidade, imposta aos bens por ato de liberalidade, implica impenhorabilidade e incomunicabilidade. Frise-se que a reciproca nao é verdadeira. 1.4. EFEITOS JURIDICOS DA COMPRA E VENDA Todo 0 contrato de compra e venda possui 04 efeitos: 1) Garantia da eviccéo; 2) Garantia dos vicios redibitérios; 3) Garantia contra o perecimento da coisa; 4) Divisdo de despesas. Vejamos Garantia da eviceao Perda superveniente da coisa por conta de decisdo judicial ou administrativa que a concede a terceiro. As partes podem aumentar, reduzir ou afastar a garantia da evicodo. Esse era 0 Unico caso de denunciagao da lide obrigatéria (em tese), conforme 0 revogado art. 456 do CC, permitindo neste mesmo artigo, a denunciagao da lide per saltum (abolida com o CPC/15), REVOGADO pelo CPC/15. Vejamos 0 que diz Daniel Assumpgao: © caput do art. 456 do CC previa que a denunciagao poderia ser feita na pessoa do alienante imediato ou em qualquer dos anteriores. Na interpretacao dessa norma, formou-se doutrina majoritaria no sentido de que seria permitida a chamada denunciagdo per saltum, ou seja, o denunciante poderia escolher qualquer um dos sujeitos que participou da cadeia de transmissao do bem, mesmo aqueles que nao tivessem mantido qualquer relagao juridica de direito material com ele (Enunciado 29 do CJF). ‘A denunciagdo per saltum se prestava a evitar fraudes comuns, verificadas quando o alienante imediato néo tem nenhum patriménio e néo conseguiré responder pelos danos suportados pelo adquirente, enquanto 0 sujeito que alienou o bem a ele é extremamente saudavel economicamente ficaria a salvo de responsabilizagao sem essa espécie diferenciada de denunciagdo da lide. IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados © art 125,1, do CPC/15 parece ter repudiado a denunciagéo per saltum ao prever expressamente que a denunciagao deve ter como denunciado o alienante imediato, tendo, portanto, incluido 0 termo “imediato" ao texto que substituiu o do art. 70,1 do CPC/1973. 1.4.2. Garantia dos vicios redibitérios Podem gerar para o comprador as acées edilicias: REDIBITORIA — resolver o contrato — ou QUANTI MINORIS / ESTIMATORIA ~ abatimento do prego. 1.4.3, Garantia contra o perecimento da coisa Res perit domino: a coisa perece para 0 dono. Se ainda ndo houve a efetiva entreaa da coisa, nao houve a aquisicdo da propriedade, razéo pela qual a coisa perece para o vendedor. Por outro lado, se j houve a tradigao, a coisa perece para o comprador. Se a perda ou deterioragao sao culposos, a coisa perece para 0 culpado. Divisa Art. 490, CC — Salvo cléusula em contrério, ficardo as despesas de escritura € registro a cargo do comprador, e a cargo do vendedor as da tradicgo. Despesas da escritura ¢ registro = comprador. Despesas da tradigao = vendedor. Porém, as partes podem dispor de forma contraria. 1.5. SITUAGOES ESPECIAIS DE COMPRA E VENDA \Veremos neste ponto duas situagées especiais de compra e venda: 1) Venda sobre amostras; 2) Venda Ad Mensuram e Ad Corpus. 1.5.1. Ven mostr: No caso de venda por amostras, o vendedor assegura a qualidade do produto, ou seja, 0 produto vendido deve ter a mesma qualidade do modelo ou do protétipo. Art. 484, CC — Se a venda se realizar & vista de amostras, protétipos ou ‘modelos, entender-se- que o vendedor assegura ter a coisa as qualidades que a elas correspondem. ‘Se houver contradigao entre a amostra e produto, prevalece a amostra em relacdo ao produto. IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados DG ersemorsatamatzadon PAconogcacemosssteatzad com Art. 484, § Unico —+ Prevalece @ amostra, o protétipo ou 0 modelo, se houver contradi¢ao ou diferenga com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato. 1.5.2. Ad corpus: 0 objeto da venda é um bem compreendido como um todo. Exemplo: sitio em Sao Paulo. Ad mensuram: é a venda sobre determinada e especifica medida. Exemplo: 500 hectares, Na venda ad mensuram pode ocorrer vicio redibitorio em relagao auséncia de medida do bem. ‘Sendo assim, o comprador pode se valer das ages edilicias: * Ago redibitéria: desfazimento, resolugao do contrato. * Agdo estimatéria (quanti minoris): redugao proporcional do prego pago. ‘Ademais, poder o comprador se valer da agao “EX EMPTO que visa a complementagao da rea, se for possivel. Art. 500. Se, na venda de um imével, se estipular 0 prego por medida de extensdo, ou se determinar a respectiva area, e esta no corresponder, em qualquer dos casos, as dimensées dadas, o comprador terd o direito de exigir 2 complemento da area (2030 °x ©mpio), @, nao sendo isso possivel, o de reclamar_a_resolu¢io_do_contrato (2°40 ro:jih6via)_ou_abatimento roporcional ao prego (2040 ostimatoria ou quanti minor's). Nao resta caracterizado vicio redibitério quando a diferenga encontrada for inferior 1/20 (5%) da rea enunciada. Consequentemente, nao cabe 0 ajuizamento da acao edilicia, mas serd cabivel agao de indenizagao pelos prejuizos (ou seja, no cabem agées edilicias, mas ha responsabilidade civil contratual, ilicito civil). O que nao se autoriza é 0 desfazimento do contrato. Art. 500, §1°, CC — Presume-se que a referéncia as dimensées foi ‘simplesmente enunciativa, quando a diferenca encontrada na der de um vigésimo da rea total enunciada, ressalvado a0 comprador o direito de provar que, em tais circunstancias, néo teria realizado o negécio. § 20 Se em vez de falta houver excesso, @ 0 vendedor provar que tinha motivos para ignorar a medida exata da drea vendida, caberé ao comprador, & sua escolha, completar o valor correspondente ao preco ou devolver o excesso. § 3° Nao haveré complemento de érea, nem devolugao de excesso, se o imével Tor vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a referéncia as suas dimensées, ainda que nao conste, de modo expresso, fer sido a venda ad corpus. Art. 501. Decai do direito de propor as acées previstas_no_artigo antecedente o vendedor ou o comprador que néo o fizer no prazo de UM ‘ANO, a contar do registro do titulo, Paragrafo Unico. Se houver atraso na imissao de posse no imével, atribuivel ao alienante, a partir dela fluiré o prazo de decadéncia. SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 "6 Ce Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com © STV firmou entendimento que a clausula de nao indenizar nos contratos de compra e venda ad mensuram é nula de pleno direito. ‘ST./Resp 436853 Civil. Recurso especial. Contrato de compra e venda de imével regido pelo Cédigo de Defesa do Consumidor. Referéncia 4 area do imével. Diferenca entre a drea referida e a drea real do bem inferior a um vigésimo (5%) da extensao total enunciada. Caracterizaco como venda por corpo certo. Isencao da responsabilidade do vendedor. Impossibilidade. Interpretacao favorével a0 consumidor. Venda por medida. Mé-fé. Abuso do poder econémico. Equilibrio contratual. Boa-fé objetiva. - A referéncia 4 area do imével nos contratos de compra e venda de imével adquiridos na planta regidos pelo CDC néo pode ser considerada simplesmente enunciativa, ainda que @ diferenga encontrada entre a érea mencionada no contrato © a area real nao ‘exceda um vigésimo (5%) da extensdo total anunciada, devendo a venda, nessa hipétese, ser caracterizada sempre como por medida, de modo a possibilitar a0, consumidor 0 complemento da rea, o abatimento proporcional do prego ou a rescisao do contrato. - A disparidade entre a descrigao do imével objeto de contrato de compra e venda e 0 que fisicamente existe sob titularidade do vendedor provoca instabilidade na relagao contratual. - O Estado deve, na coordenagao da ordem econémica, exercer a represso do abuso do poder ‘econémico, com o objetivo de compatibilizar os objetivos das empresas com a necessidade coletiva. - Basta, assim, a ameaca do desequilibrio para ensejar a corregdo das cléusulas do contrato, devendo sempre vigorar a interpretacao ‘mais favorével a0 consumidor, que néo participou da elaboragao do contrato, consideradas a imperatividade e a indisponibilidade das normas do CDC. - 0 juiz da equidade deve buscar a Justi¢a comutativa, analisando a qualidade do consentimento. - Quando evidenciada a desvantagem do consumidor, ocasionada pelo desequilibrio contratual gerado pelo abuso do poder econémico, restando, assim, ferido o principio da equidade contratual, deve ele receber uma protegéo compensatéria. - Uma disposi¢ao legal néo pode ser utilizada para eximir de responsabilidade 0 contratante que age com notéria ma-fé em detrimento da coletividade, pois a ninguém 6 permitido valer-se da lei ou de excecdo prevista em lei para obtencao de beneficio proprio quando este vier em prejuizo de outrem. - Somente a preponderancla da boa-fé objetiva é capaz de materializar o equilibrio ou Justiga contratual. Recurso especial conhecido e provide. (REsp 436853/DF, Rel, Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 04/05/2006, DJ 27/11/2006 p. 273) 4.6. CLAUSULAS ACESSORIAS (ADJETAS) DO CONTRATO DE COMPRA E VENDA ‘So clausulas que podem estar contidas no contrato de compra ¢ venda, desde que feitas de forma expressa: 1) Retrovenda; 2) Preferéncia ou preempgao; 3) Reserva de dor 4) Venda a contento ou sujeita a prova; 5) Pacto de melhor comprador; SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 7s Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com 6) Pacto comissério. Vejamos 1.6.1. Retrovenda E aquela que permite que ao vendedor, no prazo maximo de 03 anos, RECOMPRAR a coisa, depositando o valor de bem. © prazo pode ser menor, s6 nao pode ser maior. Art. 505, CC — O vendedor de coisa imével pode reservar-se o direito de recobré-la no prazo maximo de decadéncia de trés anos, restiluindo o prego recebido e reembolsando as despesas do comprador, inclusive as que, durante © periodo de resgate, se efetuaram com a sua autorizagao escrita, ou para a realizacao de benfeitorias necessérias. E, portanto, uma hipétese de propriedade resolivel (condicao resolutiva). Isso porque a qualquer tempo essa propriedade pode se extinguir. Para 0 vendedor, ocorre um curioso caso de direito potestativo de comprar a coisa (0 ‘comprador ndo pode se objetar). Exigindo somente 0 depésito tanto por tanto (despesas do registro e tal). Apesar de sua induvidosa indole obrigacional, muito curiosamente, a retrovenda pode ser opesta a terceiros, por isto deve ser expressa. Isto é, a cldusula de retrovenda pode ser oposta em relago ao terceiro adquirente. Assim, a cléusula de retrovenda grava o bem em si mesmo, de forma que 0s terceiros devem ser compelidos a respeitar a retrovenda: é uma eficdcia erga omnes dentro de uma relagao obrigacional 1.6.2. Preferéncia ou preempcao E aquela que impde ao comprador a obrigago de, querendo vender a coisa, oferecer o bem em primeiro lugar a quem o vendeu. O prazo de preferéncia ndo pode exceder a 180 dias se mével e 02 anos se imével. Art. 513, CC A preempodo, ou preferéncia, impde ao comprador a obrigacao de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai vender, ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelagao na compra, tanto por tanto. Paragrafo Unico. © prazo para exercer o direito de preferéncia nao poderé ‘exceder a cento e oitenta dias, se a coisa for mével, ou a dois anos, se imével, A cldusula de preferéncia decorre da vontade das partes. Diferentemente da retrovenda, a preferéncia impée uma obrigago ao comprador. Reflexdo: a violacdo do direito de preferéncia, neste caso, gera somente perdas e danos. Diferentemente da cota condominial, que gera a ineficdcia e adjudicagéo compulséria. Isto ocorre porque 6 direito de preferéncia convencional e nao previsto em lei. Perceba, portanto, que so diferentes as consequéncias da violagao do direito de preferéncia legal e do direito de preferéncia convencional. 1.6.3. Reserva de dominio ~DIREITO CiviL 2022.1 16 Cadernos Sistematizados J) semonsinematzados Peonatogeadenossteatzadacom ey es conto Nada mais 6 do que uma cléusula de garantia inserida no contrato de compra e venda. Entéo, até que 0 prego seja integralmente pago, o vendedor reserva a propriedade da coisa para si Condiciona a obtengéo da propriedade ao pagamento integral do valor, ou seja, condiciona a transferéncia da propriedade @ quitagdo do prego. Neste caso temos, na pratica, uma verdadeira alienagdo fiduciaria dentro de um contrato de compra e venda. Art. 521, CC — Na venda de coisa MOVEL, pode 0 vendedor reservar para sia ropriedade, até que o prego esteja integralmente pago. A diferenga entre reserva de dominio e alienagao fiducidria é que esta é um contrato em si enquanto aquela é uma cléusula inserida no contrato de compra e venda. Embora a lei permita a reserva de dominio apenas aos bens MOVEIS, como a alienagao fiducidria se aplica aos bens IMOVEIS e MOVEIS (lei 9514/97), deve-se estender a reserva de dominio aos bens iméveis. O art. 521 foi redigido quando a alienagao fiduciaria era exclusiva de bens méveis, no interpretando com razoabilidade, chegariamos a obrigatoriedade de feitura de dois contratos, um de compra e venda e um de alienagao fiducidria, quando se tratasse de bem imével. Seria contraproducente. Portanto, a doutrina interpreta o art. 521 no sentido de admitir tanto para bem mével como para bem imével. PROVA: se, expressamente, o examinador perguntar, CONFORME © CC a clausula de reserva de dominio é exclusiva para bem mével, esta correto. 16. Venda a contento ou sujeita a prova 1) Venda a contento E uma clausula subordinativa de efeitos (condigao suspensiva) fazendo com que a eficacia do negécio fique subordinada ao agrado do comprador. Se o comprador se agradar, o contrato produz seus regulares efeitos. ‘Art. 509, CC A venda feita a contento do comprador entende-se realizada sob condicego SUSPENSIVA, ainda que a coisa Ihe tenha sido entregue; e ndo se reputaré perfeita, enquanto o adquirente ndo manifestar seu agrado. Nessa, o comprador ndo conhece o produto. Perceber que, aqui, dependemos da vontade do adquirente. 2) Venda sujeita a prova E uma cléusula subordinativa de efeitos (condigéo suspensiva) fazendo com que a eficacia do negocio fique subordinada a verificagao da qualidade do objeto. Art. 510, CC — Também a venda sujeita a prova presume-se feita sob a eondi¢éo SUSPENSIVA de que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idénea para o fim a que se destina. Nessa, 0 comprador conhece 0 objeto, mas precisa verificar a QUALIDADE do produto. IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Perceber que, aqui, nao dependemos somente da vontade do agente, e sim de o objeto ter as qualidades descritas no contrato, Essas cldusulas também séo chamadas de cléusulas de venda AD GUSTUM (depende do gosto do comprador). A doutrina vem admitindo duas outras cléusulas acessérias nao previstas no CC: Bs melhor compr: E a cléusula que estabelece que, no limite de 01 ano, o vendedor pode encontrar um melhor comprador e, se encontrar, pode vender o objeto > condicao resolutiva. 1.6.6. P: missoris E a cldusula que prevé 0 desfazimento do contrato caso o comprador deixe de cumprir 0 contrato. Exige-se, nesse caso, a constituigéo em mora do devedor. Essas clausulas so admitidas em razdo da autonomia da vontade, 2. GONTRATO DE DOACAG 2.4, NATUREZA JURIDICA DO CONTRATO DE DOAGAO. E um contrato (negécio juridico), embora no passado houvesse quem dissesse que era um ato luridico exclusive do doador. 2.2. DOAGAO COMO ATO DE LIBERALIDADE Quando se fala em doagdo, liberalidade é a primeira palavra que vem a mente. Liberalidade nada mais é do que o ato de beneficiar patrimonialmente outra pessoa. Assim, fica claro que a doagao tem em sua finalidade, em sua fungao, uma liberalidade. ‘© motivo da doagao no se confunde com a liberalidade (beneficiar outro patrimonialmente), podendo ser qualquer um, que estar sempre na esfera psiquica do doador, podendo ser motivos nobres ou até mesmo vis, mas, sobretudo impossiveis de serem analisados pelo direito, 2.3. CONCEITO DE DOAGAO A doagao é um negécio juridico BILATERAL firmado entre 0 doador e o donatario, em virlude do qual o primeiro transfere bens para o patriménio do segundo que os aceita, nos termos do art. 538 do cc ‘Art. 538. Considera-se doagéo o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patriménio bens ou vantagens para o de outra. 2.4. DOAGAO X CESSAO pIRETO civiL. 20 1 7 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Nao se deve utilizar a palavra doagao para caracterizar a transmissibilidade gratuita de um direito, Nao é técnico, se doa coisas, deve-se dizer CEDER direitos. Bem como “vender” direitos, também nao se deve utilizar, sim “ceder” (neste caso onerosamente — cessao onerosa de direitos), Repete-se: NAO se deve usar o termo “doagao” para representar a transmissao de um direito. Quando se estiver diante de direitos, a expresso correta 6 “CESSAO", pois os direitos so ‘cedidos’ @ NAO ‘doados'’. Doagdo se relaciona a bens (patriménio material). 2.5. CARACTERISTICAS DO CONTRATO DE DOAGAO Sao as seguintes: 1) Unilateral; 2) Formal e solene (regra); 3) Animus donandi (finalidade = liberalidade; motivo no interessa); 4) Gratuidade; 5) Necessidade de aceitagao. Refere-se aos efeitos e obrigagdes, porque o contrato de doagdo sé cria obrigagées para uma das partes, o doador. OBS1: Mas e 0 caso da doagéo ONEROSA? Doagao onerosa, aquela que vem acompanhada de encargo, embora crie 0 encargo para o beneficiario, NAO torna a doacao bilateral (leia-se: nao toma um contrato bilateral, continua sendo um contrato unilateral, posto seja negécio juridico bilateral - ha duas manifestagées de vontade). Isto porque o encargo nao chega a constituir uma obrigagao, dada a sua desproporcionalidade em relagdo ao beneficio auferido, sendo de valor muito inferior ao ultimo (caso contrério transmudaria em compra e venda ou permuta). OBS2: quanto 4 FORMAGAO, é um contrato BILATERAL, eis que exige a aceitagao do donatario. 25. Contrato formal e solene ‘A doagdo, fugindo a regra geral, é um contrato formal, devendo ser feita por ESCRITURA PUBLICA (solene) ou INSTRUMENTO PARTICULAR (contrato escrito — nao solene). Sim, a compra @ venda ¢ informal (e nao solene, em regra) e a doagao é formal (regra)! Art. 541, A doagao far-se-a por escritura publica ou instrumento particular. OBS: "DOAGAO MANUAL” - Contudo, nos termos do paragrafo tinico, a doagao de bens MOVEIS E PEQUENO VALOR (conceito aberto), poderdo ser feitas pela forma verbal. E a chamada doagao manual. Art. 841, Parégrafo Unico. A doagéo VERBAL seré valida, se, versando sobre bens méveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradicdo. IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados 25. Animus Donandi (liberali Toda doagao tem por finalidade, conforme ja dito, uma liberalidade, que 6 beneficiar outro patrimonialmente; tal é 0 animus donandi, que sera invariavel. © que ird variar é o motivo da doagao. Exemplo: realizo doagao de joia a namorada, A finalidade ¢ a liberalidade, mas 0 motivo pode sero amor, a culpa, a emogdo de uma data especial etc. 2. Gratuidade (reara) A doagao é um contrato gratuito (0 contrato em que uma das partes apenas se beneficia), pois 0 donatério apenas se beneficia, ndo tendo, em regra, contraprestacao. Todavia, nas doagdes com encargo, ndo se pode afirmar que sejam gratuitas, pois apesar de o encargo nao ser propriamente uma contraprestacao, é de alguma forma um dnus, sendo a doagao ‘com encargo uma DOAGAO ONEROSA, excepcionando a regra geral. 2.5.5. Necessidade de aceitacdo da doacao. A doago, em sendo um contrato bilateral na sua formacdo, exige aceitagdo do donatério, nos termos do art. 539: ‘Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatrio, para declarar se acelta ou no a liberalidade. Desde que o donatirio, ciente do prazo, no faca, dentro dele, a declaracéo, entender-se-4 que aceitou, se a doaco nao for sujoita a encarao. OBS1: DOAGAO TACITA - Conforme a segunda parte do art. 359, se a doagao é pura, ou seja, sem encargo, pode o doador assinar um prazo para que o donatério aceite a doagao realizada, findo (© qual, se este nao se manifestar sobre a aceitagao ou ndo, entender-se-4 que houve a aceitagao. OBS2: Lembrando que a classificacdo quanto a bilateralidade dos contratos pode ser sob dois enfoques: Contrato Bilateral QUANTO A FORMAGAO: 0 contrato bilateral, quanto @ formagao, 6 0 contrato que para surgir, exige a conjugacao de duas vontades. E a regra geral nos contratos. Exemplo: doagao (lembrar que & negécio juridico bilateral, e quanto aos efeitos, contrato unilateral). Contrato Bilateral QUANTO AOS EFEITOS: quanto aos efeitos, fala-se que o contrato é bilateral quando gera direitos e obrigacées para ambas as partes. Exemplo: Compra e venda. Doagao € unilateral no que diz respeito aos efeitos, pois somente gera obrigagao para uma das partes. OBS3: Classificagdo da doagao: A doagao é um contrato bilateral quanto a sua FORMACAO e unilateral quanto aos seus EFEITOS. OBS: O que é DOACAO MORTIS CAUSA? Trata-se da doacao realizada para gerar efeitos apés a morte do doador. Por sua semelhanga com a figura do testamento, o direito brasileiro NAO aceita a figura da doagao mortis causa. Isto porque esta forma de doacdo poderia ser usada para fraudar as leis sucessérias, que, como se sabe, estabelecem varias regras cogentes com relagao ao testamento, que devem ser observadas para que este seja valido. O maximo que pode ser permitido & a conversao da doagao mortis causa em testamento, se aquela houver sido feita de acordo com as regras deste. IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com 2.6. ESPECIES DE DOAGAO Estudaremos esta “pequena’ lista de espécies de doagdo: 1) Doagao pura; 2) Doagao condicional e a termo; 3) Doagao modal, onerosa ou com encargo; 4) Doagao contemplativa; 5) Doagdo remuneratéria; 6) Doagao conjuntiva; 7) Doagao em contemplagao a casamento futuro; 8) Doagao com cléusula de reversao; 9) Doagao mista (negotium mixtum cum donatione); 10) Doagées miituas; 11) Doagao sob a forma de subvencdo periddica; 12) Doagdo universal; 13) Doagio por procuragéo; 14) Contrato de promessa de doagao; 15) Doago entre cénjuges; 16) Doagéo para concubina; 17) Doagao inoficiosa. Vejamos 26. Doacao pura E aquela que consubstancia simples liberalidade, sem fixagao de encargo. A doagao pura traduz, pois, total espirito de beneficéncia, sem impor ao donatério nenhum gravame ou outro fator condicionante de eficdcia juridica do negocio. 26. Doacdo condicionale a termo No primeiro caso, é estipulada uma condigao ao negécio, e, no segundo, é estabelecido um prazo, findo 0 qual o donatario passa a exercer o dominio sobre a coisa alienada Doagao modal, onerosa ou com encargo SS IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com ‘Como o préprio nome indica, trata-se de doagao gravada com um énus (exemplo: obrigo-me a doar-Ihe uma fazenda, impondo-Ihe 0 encargo de vocé pagar uma pensao de meio salario-minimo minha tia idosa). Sua previsdo ¢ feita no art. 553 do Cédigo Civil “0 donatério 6 obrigado a cumprir os encargos da doagao, caso forem a beneficio do doador, de terceiro, ou do interesse geral”. Doacdo contemplativa (para lembrar: iqual a “explicativa E aquela em que o doador deciina ou indica as razdes (motivos) que o levaram a fazer a doagao (exemplo: doarei 1.000 reais a Mario, pelo seu espirito de beneficéncia, altrulsmo e compreensAo). Em geral, é espécie de doagdo pura, nao sendo indispensdvel, para a eficdcia da doagao, a indicagao desses motivos. 2.6.4. Doacdo remuneratéria E aquela feita em retribuigdo a servigos prestados pelo donatario. E 0 caso do médico da familia que serviu ao doador, com dedicagdo, durante toda a vida, sem cobrar nada por isso 26. Doacao conjuntiva E aquela feita a mais de uma pessoa, ex vi do disposto no art. 551 do Cédigo Civil: “Salvo declaragao em contrario, a doagao em comum a mais de uma pessoa entende-se distribuida entre elas por igual”. Em seguida, 0 pardgrafo Unico do mesmo dispositive prevé que: *Se os donatérios, em tal caso, forem marido e mulher, subsistiré na totalidade a doagéo para o cénjuge sobrevivo”. 2.6.6. Doacdo em contemplacao a casamento futuro Dispondo sobre essa espécie, 0 art. 546 do Cédigo Civil é extremamente claro e elucidativo: "A doagao feita em contemplagao de casamento futuro com certa e determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, néo pode ser impugnada por falta de aceitagéo, 0 $6 ficard sem efeito se o casamento nao se realizar’. 2.6.7. Doacdo com clausula de reversa Trata-se de interessante figura juridica em que se prevé a reversdo por premoriéncia do donatario. A.cldusula de reversao pode ser definida como a estipulagdo negocial por meio da qual o doador determina 0 retorno do bem alienado, caso o donatario venha a falecer antes dele. Tem-se, pois, inequivocamente, uma doagao geradora de propriedade resoliivel do adquirente. Nesse sentido, dispde 0 art. 547 do Cédigo Civil IRE TO civiL. 120 Cadernos Sistematizados DG ersemorsatamatzadon PAconogcacemosssteatzad com “O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patriménio, se sobreviver ao donatério”. E valida a cléusula de reversdo em favor de terceiro aposta em contrato de doagao celebrado a luz do CC/1916. E valida e eficaz a cléusula de reverséo estipulada em beneficio de apenas alguns dos herdeiros do donatério, mesmo na hipétese em que a morte deste se veriticar apenas sob a vigéncia do CC/2002. STJ. 3* Turma. REsp 1922153/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 20/04/2021 (Info 693) Trata-se, aqui, de um negécio juridico de contetido prestacional hibrido, com caracteristica de negécio oneroso, mas trazendo em seu bojo também um matiz de liberalidade. Exemplo classico pode ser invocado no caso de um sujeito pagar, livemente, 200 reais por um bem que vale apenas 100. 26. Doacées mituas Observe-se que, nesse item, grafamos propositadamente a expressdo no plural, pois esse negécio pressupde que duas partes realizem reciprocamente atos de liberalidade. Segundo BEVILAQUA, “as doagées miituas sao as que duas ou mais pessoas fazem umas as outras em um sé ato’, Acrescenta também que nada de especial encerra essa espécie, a nao ser que a nulidade, por incapacidade de uma das partes ou por vicio de forma acarreta a nulificacdo de todo o ato. 2.6.10. Doacdo sob a forma de subvencao periédica E prevista no art. 545 do Cédigo Civil, que dispée: “A doagao em forma de subveneao periédica ao beneficiado extingue-se morrendo 0 doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas néo poderd ultrapassar a vida do donatério”. 2.6.11. Doacao universal Trata-se de uma forma de doacao proibida em nosso sistema, na medida em que abrangeria todo o patriménio do doador. Nesse sentido, art. 548: Art. 548. E NULA a doagao de todos os bens sem reserva de parte, ou renda ssuficiente para a subsisténcia do doador. Tal vedagao ¢ exemplo de regra efetivadora do instituto do patriménio minimo, trabalhada pelo Ministro Edson Fachin. 2.6.12. Doacdo por procuracao Nao existe no CC de 2002 um dispositivo especifico sobre esse tema, Mas a doutrina admite a doagdo por procuragao, desde que o instrumento contenha poderes especificos sobre a permissao da doagao, indicagao do bem e do donatario. IRE TO civiL. 120 1 83 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Lembrando que se o bem que se pretende alienar por doagao exige instrumento piblico, deverd a procuragao observar a mesma forma. 2.6.13. Contrato de promessa de doacdo © contrato promessa é contrato que tem por objeto a obrigagao de fazer consistente em realizar um contrato definitivo, Na promessa de compra e venda, caso nao haja transmiss4o, apés o pagamento de todas as parcelas, 0 promitente comprador ira adjudicar o bem, execugao especifica. Nesse espeque é possivel a promessa de doagao? Sim, é possivel a realizagao de promessa de doagao. Todavia, como a finalidade do contrato de doacdo é uma LIBERALIDADE, resta invidvel a execucdo especifica da promessa de doagdo, pois nao se pode obrigar a alguém a realizar uma conduta por liberalidade. Que sentido tem em prometer doar algo, ndo doar e o donatario obrigar 0 doador a uma liberalidade? Nao tem sentido. Excepciona-se a situagao da promessa de doagao feita em sede de juizo de familia, em processo de separagao ou divércio, nos quais 0 beneficio da promessa se dirige a incapazes, quando, por um oritério de ponderagao, poder-se-ia admitir a execugao especifica do contrato de promessa de doagao. Importante frisar, contudo, que apesar dos apontados acima, nada impede que o beneficidrio da promessa, em que pese nao possa realizar a execugao especifica do contrato de promessa de doagao, intente ago de reparagao de danos, caso tenha sofrido prejuizos em decorréncia da expectativa gerada pelo recebimento dos bens prometidos e nao doados. Assim, poder-se-ia pleitear uma indenizagao com apoio na boa-fé objetiva 2.6.14. Doacdo entre cénjuges Professor Pablo considera totalmente possivel a doagdo entre cénjuges, assim como entre companheiros, desde que nao vise a fraudar o regime de bens. 2.6.15. Doacdo para concubina ‘A doagao para concubina (0) (para a pessoa da amante) é anulavel, nos termos do art. 550 do cc: Art. 550. A doagéo do cénjuge adiiitero ao seu climplice pode ser ANULADA pelo outro cénjuge, ou por seus herdeiros necessérios, até dois anos depois de dissolvida a sociedade conjugal. © prazo para a agdo anulatéria 6 de até dois anos, contados apés o témino da sociedade conjugal (que hoje s6 pode ser realizada pelo divércio), nada impedindo, todavia, que se entre com a ago anulatéria ainda durante a vigéncia do matriménio. O que o dispositivo diz é que o prazo SS 1 8 DIRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados decadéncia para desconstituicéo da doagao, que é anulavel, s6 comega a correr a partir da dissolugao, nao impedindo que sejam tomadas medidas ainda no curso desta. ‘A ago pode ser intentada tanto pelo cdnjuge quanto pelos herdeiros necessdrios do doador. 2.6.16. Doacio inoficiosa ‘A denominada doagao inoficiosa é aquela que viola a legitima dos herdeiros necessérios. Art. 549. NULA 6 também a doagao quanto 4 parte que exceder a de quo doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento. Essa nulidade ocorre porque a pessoa que possui herdeiros necessérios (descendente, ascendente ou cénjuge) NAO pode dispor, por liberalidade (contrato de doagao), de mais da metade do seu patriménio, haja vista que metade deste estara protegido pelo instituto da legitima. O nome doagéo “inoficiosa” decorre da antiga ideia de que o pai que doa parcela de seu patrim6nio protegido pela legitima falha em seu oficio de pai. Nos termos do entendimento do professor Paulo Lobo, o valor do patriménio do doador para efeito de se verificar se houve ou nao violagao da legitima deve ser auferido no MOMENTO DA ALIENAGAO. Paulo Lobo: O momento de cada doagao, para se aferir 0 limite, somando-se as anteriores & fundamental, o direito brasileiro ndo optou pelo momento da abertura da sucessdo para se verificar 0 excesso da parte disponivel ou a legitima dos herdeiros necessarios, mas, o critério a ser observado 0 momento da liberalidade. O patriménio sofre flutuagdes de valor ao longo do tempo, mercé das adversidades por que passa, se a redugao do patriménio se der posteriormente a data da doacdo, ‘comprometendo a legitima, a nulidade ndo pode ser retroativa: se houve aumento do patriménio posteriormente ao momento da doagao em excesso, nao altera este fato, a nulidade é cabivel, se de nada poderia dispor no momento da doagao, toda ela é nula, CC Art. 549. Nula também a doagdo quanto a parte que exceder a de que o doador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testament. Art. 1.796. No prazo de trinta dias, a contar da abertura da sucesso, instaurar- ‘se-4 inventério do patriménio hereditério, perante 0 juizo competente no lugar da ‘sucessao, para fins de liquidagao e, quando for 0 caso, de partilha da heranca, Quanto a colagdo ao inventario dos bens doados pelo de cujus aos descendentes: Art 2.004. O valor de colagao dos bens doados sera aquele, certo ou estimativo, que Ihes atribuir o ato de liberalidade. § 12 Se do ato de doagao nao constar valor certo, nem houver estimagao feita naquela época, os bens serdo conferidos na partiha pelo que entao se calcular valessem ao tempo da liberalidade. Enunciado 119 119 — Art. 2.004: Para evitar 0 enriquecimento sem causa, a colagéo seré efetuada com base no valor da época da doagdo, nos termos do caput do art. 2.004, exclusivamente na hipétese em que o bem doado nao mais pertenca ao patriménio do donatario. Se, ao contrério, 0 bem ainda integrar seu patrimdnio, piRE TO civiL. 120 o~. Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com « colago se faré com base no valor do bem na époc da abertura da sucessao, nos termos do art. 1.014 do CPC, de modo @ preservar a quantia que cefetivamente integrara a legitima quando esta se constitulu, ou seja, na data do bito (resultado da interpretacao sistemética do art. 2.004 e seus paragrafos, Juntamente com os arts. 1.832 884 do Cédigo Civil) Importante lembrar que a doagao feita a herdeiro necessério, se no indicado expressamente que a doagdo deriva da parte disponivel do patrim6nio, importaré em adiantamento da heranga: ‘Art, 544. A doagao de ascendentes a descendentes, ou de um cénjuge a outro, importa adiantamento do que Ihes cabe por heranca. OBS1: Nao ha impedimento da partilha de bens em vida. Ainda, pode o pai doar bem ao filho retirado da parte disponivel do seu patriménio, quando nao importara em adiantamento da heranga, mas mera liberalidade do pai. OBS2: O CC nao tem, ao contrario do que ocorre na compra e venda, dispositive exigindo a anuéneia dos demais herdeiros, para o caso de doagao feita a herdeiro necessario. Assim sendo, devo esquecer aquela velha diivida de que os herdeiros devem anuir em doagao do pai, a anuéncia somente & no caso de compra e venda, ou no caso de doagdo em que violar a legitima, caso em que poderd ser anulada. A partilha em vida, desde que ndo haja violagao de legitima, nao ha problema. ATENCAO! De acordo com o STJ, informativo 539, o herdeiro que cede seus direitos hereditarios continua tendo legitimidade para pleitear a declaragao de nulidade de doagdo inoficiosa realizada pelo autor da heranga em beneficio de terceiros. 2.7. EXTINGAO DO CONTRATO DOAGAO ‘A doagdo pode ser extinta de duas formas: 1) Exting&o comum; 2) Extingdo por revogagao. Vejamos Exting’o comum Ocorre pelo simples exaurimento do contrato, quando perfectibilizada a doagao. 2.7.2. Extingao por revogacao Revogacao da doagao é 0 direito potestativo conferido ao doador, segundo umas siluagdes previstas no art. 555, no sentido de tornar sem efeito a doagao celebrada, manifestando-se uma vontade contraria a liberalidade conferida. Nesse caso a doagao queda-se irrita (sem efeito) Art, 555. A doagao pode ser revogada por ingratiddo do donatério, ou por inexecueao do encarai DIRE ITO civit 2022.1 86 Cadernos Sistematizados WD) scons eng ‘Art. 556. No se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a liberalidade por ingratidéo do donatéirio. Vejamos as situagoes: 1° Hipétese - Inexecugao do Encargo (doagao onerosa): Existe a chamada doagao onerosa {modal ou com encargo) que é aquela que estipula um encargo ao donatario (exemplo: doa fazenda, com 0 encargo de que o donatario construa uma capela na propriedade), Art. 553. O donatéirio 6 obrigado a cumprir os encargos da doagéo, caso forem a beneficio do doador, de terceiro, ou do interesse geral. Paragrafo Gnico. Se desta tltima espécie for o encargo, o Ministério Publica poderé exigir sua execucao, depois da morte do doador, se este nao tiver feito. Art, 554, A doagdo a entidade futura caducard se, em dois anos, esta no estiver constituida regularmente. Art. 562, A doacdo onerosa pode ser revogada por inexecucdo do encargo, ‘s@ 0 donatério incorrer em mora. Nao havendo prazo para o cumprimento, 0 doador podera notificar judicialmente o donatério, assinando-lhe prazo razoavel para que cumpra a obrigacao assumida. OBS: Nao ha no CC de 2002, previsdo de prazo para o ajuizamento da ago revocatéria por inexecugéio do encargo, prazo este que, de acordo com a jurisprudéncia consolidada com base no CC de 1916, seria “prescricional de 20 anos” (REsp 54.720/RJ). Aplicando-se este raciocinio, o prazo atual seria de dez anos a luz do art. 205 do CC de 2002, tendo em ta o fato de que atualmente o maior prazo prescricional do CC é o deste dispositivo, Mas, ainda assim, nao seria a melhor solugao, uma vez que, tecnicamente, este prazo é decadencial por dizer respeito a um DIREITO POTESTATIVO. ‘Art. 205. A prescrig&o ocorre em dez anos, quando a lei ndo Ihe haja fixado prazo menor. Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulavel, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulagao, sera este de dois anos, a contar da data da conclusao do ato. lipdtese - Ingratidéo do Donatéri CC Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidéo as doagdes: 1 - se 0 donatério atentou contra a vida do doador ou cometeu crime homicidio dolose contra ele; I1- se cometeu contra ele ofensa fisica; IN| se 0 injuriou gravemente ou o caluniou; IV - se, podendo ministré-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava, Art, 658. Pode ocorrer também a revogagdo quando o ofendido, nos casos do artigo anterior, for 0 cénjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo, ou lnmdo do doador. SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 87 Cadernos Sistematizados DG ccrtemorsstemstzados PAconatogeademonsisenatzad com ‘Art. 559. A revoaacéo por qualquer desses motivos deverd ser plelteada dentro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador 0 fato que a autorizar, e de ter sido o donatério o seu autor. Art. 560. O direito de revogar a doacdo nao se transmite aos herdeiros do doador, nem projudica os do donatério. Mas aqueles podem prossequir na acao iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatério, se este falecer depois de ajuizada a lide. Art, 561. No caso de homicidio doloso do doador, a acdo caberd aos seus herdeiros, exceto se aquele houver perdoado. ‘Art. 563. A revogacao por ingratidéo nao prejudica os direitos adquiridos por terceiros, nem obriga o donatério a restituir os frutos percebidos antes da citagao valida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando nao possa restituir em espécie as coisas doadas, a indenizé-la pelo meio termo do seu valor. (hipolese. de propriedade AD TEMPUS). Gasos de irrevogabilidade da doaca Art. 564. Nao se revogam por ingratidao: 1 as doagdes puramente remunerat6rias (iembrar acima: médico da familia; ainda que em valor do que o servico prestado); |l-as oneradas com encargo jé cumprido, I~ as que se fizerem em cumprimento de obrigacdo natural (divida de jogo ou presenta); IVs feitas para determinado casamento, 3. CONTRATO DE EMPRESTIMO (COMODATO E MUTUO) 3.1. CONCEITO (© empréstimo & género do qual 0 comodato é apenas uma de suas espécies. Em linha de principio, o empréstimo nao tem uma ideia onerosa. 32, ESPECIES a) Para uso: comodato. 1b) Para consumo: mistuo. 3.3, ESTUDO DO CONTRATO DE COMODATO 3.3.1. Coneeite do Contrato de Comodato E 0 empréstimo gratuito de coisa infungivel. Qbjeto do Contr: Comodato SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 88 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Em regra, 0 comodato tem como objeto bens iméveis. Porém, poderd ter como objeto bem mével, desde que infungivel. © comodato é gratuito. Como 0 comodato tem a finalidade de uso, ele se aperfeigoa somente quando o bem é entregue ao comodatério. Para que haja contrato de comodato é preciso que ambas as partes sejam capazes. Porém, nao se exige a titularidade da propriedade. Quem empresta nao precisa ser proprietario Porque 0 comodato transfere apenas posse e nao propriedade. Basta que se trate de possuidor, direto ou indireto, para que seja possivel a formalizagéo do contrato de comodato. Exemplo: usufrutuario, superficiario, enfiteuta, locatario. Excegao: os administradores de bem alheios em geral néo podem dar em comodato, sem autorizagao do juiz, os bens a sua guarda. Art, 580, CC —+ Os tutores, curadores @ em geral todos os administradores de bens alhelos néo poderdo dar em comodato, sem autorizagdo especial, os bens confiados sua guarda. Esse dispositive nao trata de capacidade, mas sim de leg a pratica de um ato especifico). lade (capacidade especifica para 3.3, nites m 1) Unilateral (quanto aos efeitos/obrigagées); 2) Gratuito; 3) Real; 4) Nao solene; 5) Personalissimo; 6) Infungibilidade do bem Vejamos 4) Unilateral (quanto aos efeitos/obrigagées) Somente uma das partes (comodante) assume obrigagées. 2) Gratuito Nao hé valor de contraprestacao pelo comodatario. A cobranga de valor em contraprestagao caracteriza locagdo. Nao desnatura o comodato a obrigagao do comodatério assumir as despesas ordindrias. Da mesma forma, 0 pagamento de encargos especificos, em relagéo ao bem, também nao desnatura 0 comodato a comodato modal. Exemplo: pagamento de despesas de condominio. IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados 3) Real Exige-se a tradicao, efetiva entrega da coisa, para o aperfeigoamento do contrato. E 0 contrario de consensual, em que com a simples manifestagéo de vontade das partes o contrato se aperfeigoa. Exemplo de contrato consensual: compra e venda Art. 579, CC + 0 comodato 6 o empréstimo gratuito de coisas nao fungiveis. Perfaz-se com a tradicéo do of A efetiva entrega da coisa no comodato implica desdobramento da posse’ * comodante: posse indireta * comodatario: posse direta Dessa forma, tanto 0 comodante como 0 comodatario séo possuidores, o que significa que ambos podem se valer de agdes possessérias contra terceiros e legitima defesa da posse. © comodante pode ajuizar ago possesséria contra o comodatario e vice-versa? Sim; 0 possuidor direto tem ago possesséria contra 0 possuidor indireto e vice-versa. © possuidor indireto 86 nao pode ajuizar possesséria contra 0 possuidor direto, pois do contrario posse se tornaria algo inutil, desprezivel. Seria muito poder para o possuidor indireto (proprietario, por exemplo) e nenhum poder para o possuidor direto. Além disso, ao assim proceder, o possuidor indireto estaria invocando como fundamento de sua demanda o dominio sobre a coisa (propriedade), © que é vedado pelo art. 557 do CPC/15 (vedagao da excegao de dominio) CPC/15 Art. 557. Na pendéncia de agao possesséria 6 vedado, tanto ao autor quanto ao réu, propor agéo de reconhecimento do dominio, exceto se a pretensao for deduzida em face de terceira pessoa. O art. 557 do CPC e 0 art. 1.210, §2°, do CC estabelecem a vedacao da excecao de dominio. Hé uma separagdo absoluta entre os julzos petitério, baseado na propriedade, e 0 juizo possessério, baseado na posse. Isso porque a posse ¢ fendmeno fatico-social digno de tutela, sendo totalmente auténomo e distinto da propriedade. Um dos efeitos da posse é justamente a sua protegdo através da tutela estatal. Portanto, havendo uma agao possesséria em curso, nao é cabivel o ajuizamento de agao petitéria ou a discussdo a respeito da propriedade. ‘Ademais, a vedagdo a excegao de dominio no deve ser compreendida como limitagao aos direitos constitucionais de propriedade ou de ago, seja porque a propriedade deve obedecer & sua fungao social, seja porque 0 ndo debate sobre o dominio nas agdes possessérias representa apenas uma condigao suspensiva no exercicio do direito de agao fundada na propriedade. ‘A ago de imissao na posse, apesar do nome, nao se baseia na posse, mas sim na propriedade, sendo uma agao petitéria, E a agao cabivel para o proprietario obter a posse que nunca teve, Assim, havendo uma aco possesséria em curso, caso seja ajuizada a agao de imisso na posse, esta deverd ser extinta sem resolugao de mérito, ante a falta de pressuposto negativo de constituicéo e desenvolvimento valido do processo, qual seja, a auséncia de ago possesséria pendente sobre 0 bem como requisito para o manejo de agao petiteria, IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Sobre tema correlato, a despeito de nao ter sido citada no julgado, é importante recordar da ‘Sumula 637 do STJ ‘Stimula 637-STJ: O ente piiblico detém legitimidade e interesse para intervir, incidentalmente, na agao possesséria entre particulares, podendo deduzir qualquer matéria defensiva, inclusive, se for 0 caso, 0 dominio. 4) Informal e Nao solene Em regra, 0 comodato nao exige formalidade para sua celebraco, podend, inclusive, ser verbal {até mesmo em relagdo a bens iméveis). Excego: quando se tratar de comodato de bens pertencentes a tutelados, curatelados e incapazes em geral, como se exige de autorizagao judicial, 0 contrato é SOLENE. Art, 580, CC + Os tutores, curadores ¢ om goral todos os administradores de bens alheios nao poderao dar em comodato, sem autorizacao especial, os bens confiados a sua guarda. © comodato pode ser provado por qualquer meio de prova admitido no sistema. CPC/15 Art. 369. As partes tém o direito de empregar todos os meios legais, bem como os moralmente legitimos, ainda que ndo especificados neste Codigo, ‘para provar a verdad dos fatos em que se funda o pedido ou a defesa e influir eficazmente na conviegao do julz 5) Personalissimo © comodato é personalissimo, salvo disposi¢éo em contrario. Ora, se 0 comodato é empréstimo gratuito, ele é celebrado em razao de determinada pessoa, Logo, a morte do comodatério extingue o ‘comodato. Em se tratando de comodato presente em contrato de trabalho, a extingo da relagao de trabalho implica extingdo do contrato de comodato, Se a coisa for entregue ao empregado porque a coisa é necessaria para o desempenho da fungao, nao se trata de comodato. Isso porque a entrega da coisa é essencial ao cumprimento do contrato de trabalho. 6) Infungibilidade do bem © objeto do comodato deve ser infungivel; nao pode admitir substituigéo por outro. Isso porque © contrato de comodato impée ao comodatério a obrigagdo de restituir o bem emprestado. Art. 579, CC + 0 comodato 6 o empréstimo gratuito de coisas NAO FUNGIVEIS, Perfaz-se com a tradi¢ao do objeto. Em razo do dever de restituir, 0 comodato sé recai sobre bens infungiveis e inconsumiveis. A infungibilidade pode decorrer da vontade das partes. Sendo assim, um bem naturalmente fungivel pode ser objeto de comodato se as partes acordaram que o bem ¢ infungivel. piRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados No Brasil, admite-se uma Unica excegéo em que se permite 0 comodato sobre BENS FUNGIVEIS, 0 comodato de bens para ornamentagéo (COMODATUM AD POMPAM VEL OSTENTATIONEM). Ex. arranjo de flores. © comodato para ornamentagao pode incidir sobre bens fungiveis. 3.3.4. Promessa de Comodato Porque 0 comodato é um contrato, admite-se a sua promessa, ou seja, no empréstimo, pode ser celebrado contrato preliminar. Art. 462, CC O contrato preliminar, exceto quanto & forma, deve conter todos 0s requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado. 3.3, Prazo do Gomodato Se 0 comodato for celebrado sem prazo, resta caracterizada a doacdo. Sendo assim, todo comodato tem prazo. No comodato, o prazo deve ser determinado ou determinavel. Havendo prazo determinado, ndo 6 possivel ao comodante requerer a restituigao da coisa ANTES do prazo. Sé pode requerer a restituigao quando do termo final do contrato. Porém, ndo havendo prazo determinado, entende-se que o prazo do contrato é aquele necessario para 0 uso da coisa. Exemplo: comodato de barco para pescaria tem como prazo 0 perfodo de pesca; 0 comodato de material agricola tem como prazo 0 tempo da colheita. A jurisprudéncia do STJ entende que, se 0 comodato é por prazo determinado, a mora é ex re (dispensa notificagao). Porém, se 0 comodato tem prazo determinavel, a mora é ex persona, isto é, necessita de notificagao do comodatério para constitui-lo em mora. A reintegragao de posse do comodante depende de constituigéio em mora somente no ‘comodato por tempo determindvel. Se 0 comodato é por tempo determinado, como a constituigao em mora se dé automaticamente, 6 possivel o ajuizamento da reintegragao de posse sem prova da mora, Excegdio: € possivel ao comodante reaver a coisa havendo necessidade urgente imprevista reconhecida pelo juiz. Art, 581, CC + Se 0 comodato néo tiver prazo convencional, presumir-se-Ihe-4 © necessério para o uso concedido; néo podendo 0 comodante, salvo necessidade imprevista ¢ urgente, reconhecida pelo juiz, suspender 0 uso & gozo da coisa emprestada, antes de findo 0 prazo convencional, ou 0 que se determine pelo uso outorgado. Somente no caso concreto é que se pode definir o que seja necessidade urgente e imprevista 3.3.6. Obrigacées do Comodat: 1) Nao alterar a finalidade da coisa; IRE TO civiL. 120 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados 2) Usar a coisa de forma adequada; 3) Conservar a coisa como se sua fosse. Art. 582, CC+0 comodatério 6 obrigado a conservar, como se sua prépria fora, a coisa emprestada, néo_podendo usd-la sendo de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O ‘comodatério constituido em mora, além de por ela responder, pagard, até restitui-la, 0 aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. ‘© comodatario, portanto, responde pelas despesas da coisa sem direito de recobré-las, ja que deve conservar a coisa como se sua fosse. No que tange as despesas extraordinarias, o comodatario tera direito ao ressarcimento. Da mesma forma, 0 comodatério sé tem direito de ser indenizado e reter as benfeitorias necessarias, Nao tem direito de ser ressarcido pelas benfeitorias titeis. ‘Art. 584, CC — © comodatério no poderé jamais recobrar do comodante as despesas feitas com 0 uso e gozo da coisa emprestada. Havendo perigo, comodatario esta obrigado, primeiro, salvar as coisas do comodante e, depois as suas sob pena de responsabilidade civil Art, 683, CC —+ Se, correndo risco 0 objeto do comodato juntamente com outros do comodatério, antepuser este a salvagdo dos seus abandonando o do ‘comodante, responder pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir @ caso fortuito, ou forga maior. 4) Vedagao de subcomodato, salvo disposigao em contrario. 5) Restituicéo da coisa A nao restituigdo caracteriza esbulho, o que permite o ajuizamento de acao de reintegragdo de posse pelo comodante, Caracterizada a mora do comodatério, a partir dai ele responde de forma objetiva pelos danos causados a coisa ‘Ademais, a partir da constituigo em mora, 0 comodatério também responderd pelo aluguel da coisa arbitrado pelo comodante. Se o comodante cobrar mais do que devido, resta caracterizado abuso de direito. ‘Art. 582, CC +0 comodatéirio é obrigado @ conservar, como se sua prépria fora, a coisa emprestada, ndo podendo usé-la sendo de acordo com o contrato ou a natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. © comodatério constituido em mora, além de por ela responder, pagaré, até restitul-la, 0 aluguel da coisa que for arbitrado pelo comodante. Enunciado 170, I, Jornada de Direito Civil + A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociagoes preliminares © apds a execugao do contrato, quando tal exigéncia decorrer da natureza do contrato. 3.3.7. Obrigacées do Comodante SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 93 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados 1) Aguardar a data da restituicao; 2) Nao embaracar o uso; 3) Receber a coisa de volta; ‘Se 0 comodante se recusar a receber a coisa de volta, ele seré constituido em mora, 4) Ressarcir as despesas extraordindrias. Em se tratando de contrato gratuito, ndo ha vicios redibitérios e evicgao. 3.3.8. Casuistica Imagine-se que o bem entregue em comodato seja imével e seja localizado em area urbana, O comodante notifica para entregar, mas 0 comodatario nao entrega. © comodante passa a cobrar valores a titulo de aluguel. 0 comodatério ndo paga. Qual a medida judicial cabivel? Reintegragao de posse. Os aluguéis sao incluidos nas perdas e danos, nao ha transformacao do contrato em locacéo de imével urbano, E necessario que seja cumulado pedido de resolugao do contrato. ‘Art. 582. © comodatéirio é obrigado a conservar, como se sua propria fora, @ coisa emprestada, néo podendo usé-la sendo de acordo com o contrato ou a rnatureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. © comodatério constituido em mora, além de por ela responder, pagaré, até restitui-la, 0 aluquel da coisa que for arbitrado pelo comodante. E 0 chamado aluguel pena. O valor arbitrado pelo comandante nao precisa ser igual a média do mercado locativo. Segundo 0 STJ, o valor do aluguel-pena pode ser até o dobro do valor de mercado. 3.4. ESTUDO DO CONTRATO DE MUTUO 3.4.1. Conceito e rearas gerais do Contrato de Mutuo © mituo tem como objeto bens funaiveis, razéo pela qual o mutudrio nao esta obrigado a devolver o mesmo bem, mas somente a mesma espécie, qualidade e quantidade. Ademais, no mutuo havera a transferéncia da propriedade. Sendo assim, se a coisa perecer sem culpa, a coisa perece para o mutuério. O mutuério pode exaurir a coisa dada porque ele assume a propriedade do bem. ‘© miituo pode ser gratuito ou oneroso, a depender da vontade das partes (contrato bifronte) Excegao: se 0 miituo tiver finalidade econémica, ele devera ser, obrigatoriamente, oneroso a miituo feneraticio. Assim, presumem-se devidos os juros. A finalidade econédmica determina a onerosidade. Exemplo: miituo celebrado por instituigéo financeira é sempre oneroso. A taxa de juros, nese caso, é aquela prevista no art. 406 do CC. IRE TO civiL 120 Cadernos Sistematizados WD) cnn rennet ‘Art. 591. Destinando-se 0 miituo a fins econémicos, presumem-se devidos ures, os quais, sob pena de redugao, ndo poderdo exceder a taxa a que se refere o art. 406, permitida a capitalizacao anual. Art. 408, CC -+ Quando os juros moratérios no forem convencionados, ou @ ou quando provierem de determinacdo da lei, sero fixados segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do pagamento de impostos devidos & Fazenda Nacional. 3.4.2, Prazo do mituo prazo de miituo é estabelecido pelas partes e, em caso de siléncio, 0 prazo ser estabelecido conforme 0 art, 592, CC. ‘Art, 592, CC Nao se tendo convencionado expressamente, 0 prazo do miituo seré: | até a proxima cotheita, se o miituo for de produtos agricolas, assim para 0 ‘consumo, como para semeadura; 1 - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro; IIl- do espaco de tempo que declarar © mutuante, se for de qualquer outra coisa fungivel. No caso do inciso III do art. 592, 0 prazo do mutuo sera estabelecido pelo mutuante que nao. pode abusar do seu direito. OBS: superveniéncia da insolvéncia do mutudrio — podera o mutuante buscar garantia ou a obrigagao ser vencida antecipadamente. ‘Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituicdo, se antes do vencimento_o mutudrio_sofrer_not6ria_mudanca_em_sua_situacdo ‘econémica. Art. 333. Ao credor assistira o direito de cobrar a divida antes de vencido o raze estipulado no contrato ou marcado neste Codigo: I-no caso de faléncia do devedor, ou de concurso de credores; I1- se os bens, hipotecados ou empenhados, forem penhorados em execucéo por outro credor; I~ se cessarem, ou se se tornarem insuficientes, as garantias do débito, fidejussérias, ou reais, e o devedor, intimado, se negar a reforcd-las. 3.4.3. Miitue feito ao incapaz ‘Art. 588. O miituo feito a pessoa menor, sem prévia autorizagao daquele sob cuja guarda estiver, néo_pode ser reavido nem do mutuério, nem de seus fiadores. Aregra acima ndo traz a invalidade do mutuo, Caracteriza uma obrigagao natural. O mutuario 6 devedor, mas nao ha exigiblidade, O fiador, no caso, néo vai ter nem responsabilidade nem dever. Como a fianga 6 contrato acessério, se 6 ine) Excegées a regra acima: ivel do fiador. jel do devedor, também 6 €S- DIREITO CIVIL 2022.1 95 Cadernos Sistematizados WD) scons eng ‘Art. 589. Cessa a disposicao do artigo antecedente: 1-se a pessoa, de cuja autorizagao necessitava 0 mutudrio para contrair 0 ‘empréstimo, o ratificar posteriormente; Il se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair 0 ‘empréstimo para os seus alimentos habituais; I~ se 0 menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a ‘execugao do credor nao thes poderd ultrapassar as forcas; IV se 0 empréstimo reverteu em beneficio do menor; V- se 0 menor obteve o empréstimo maliciosamente, 3.5. DISTINGAO ENTRE COMODATO E MUTUO. CGT ee) Bem fungivel Bem infungivel (a infungibilidade pode ser determinada pela natureza ou pela convengao). Pode ser gratuito ou oneroso. ‘Comodato sempre é gratuito. Pluralidade de mutuérios ndo sao solidarios Pluralidade de comodatarios sao solidarios entre si, entre si, Art. 685. Se duas ov mais pessoas forem simultaneamente comodatarias de uma coisa, ficardo solidariamente responsdveis para com © comodante. Obrigagdo de entregar os bens ou 0 Obrigagdo de restituir 0 mesmo bem. une mesma espécie. O contrato _contrato transfere a posse transfere a propriedade 4. GONTRATO DE LOCACAO 4.1. CONCEITO E PREVISAO LEGAL DO CONTRATO DE LOCAGAO O contrato de locagao regulado pelo CC é complementado pela Lei 8245/91, que trata da locagao de iméveis urbanos. ‘Art. 565, CC Na locagao de coisas, uma das partes se obriga a ceder a outra, por tempo determinado ou nao, 0 uso © gozo de coisa néo fungivel, mediante corta retribuigao. Contrato mediante o qual uma das partes compromete-se a fornecer a outra 0 uso e/ou gozo de uma coisa nao fungivel, por certo tempo, mediante remuneragao (aluguel). Locagao ¢ utilizada para iméveis urbanos e arrendamento para iméveis rurais e riisticos, O CC se aplica no caso de NAO SER APLICADA LEGISLAGAO ESPECIAL, no caso, a Lei 8.245/91 ou o Estatuto da Terra, para iméveis, rurais. © Cédigo Civil se aplica para locagdo de vagas auténomas de garagem e espacos destinados a velculos, assim como para flats (pode ser aplicado também o CDC, neste tiltimo caso). E bilateral, oneroso, comutativo, consensual, de execugao continuada, informal e nao solene, IRE TO civiL 120 Ce Cadernos Sistematizados ) @ ecatemorsstemstzados Pconiatogeacemonsntematzada com © locador ¢ 0 locatério possuem legitimidade para propor as agdes possessérias. Se a locagao for firmada com prazo certo, e 0 locador exigit a coisa antecipadamente, deverd indenizar 0 locatario pelas perdas ¢ danos, sendo que este possui o direito de retengao do imével até o pagamento. Se o locatério devolver antes do prazo, devera pagar multa prevista no contrato, proporcional ao tempo faltante para o término. Essa multa pode ser reduzida equitativamente pelo juiz, caso se mostre excessiva. art. 572, que fala que seré “facultado” ¢ aplicado as locagées regidas pelo Cédigo Civil. O art. 413, que fala que a penalidade “deve ser’ reduzida equitativamente é aplicado a Lei de Locagées, conforme enunciado 357 das Jornadas de Direito Civil. CC Art. 572. Se a obrigagdo de pagar o aluguel pelo tempo que faltar constituir indenizagao excessiva, sera FACULTADO ao juiz fixé-la em bases razoaveis. > locagdes pelo CC Art, 413, A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a ‘obrigagao principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negécio, > locacées pela lei 8245/91 JDC 357 Art. 413: 0 art. 413 do Cédigo Civil 6 0 que complementa o art. 4° da Loin. 8.245/91. Revogado o Enunciado 179 da Ill Jornada, ‘Art. 4 Durante 0 prazo estipulado para a duracao do contrato, néo poderé o locador reaver o imével alugado. Com excego ao que estipula 0 § 22 do art. 54- A, 0 locatério, todavia, poderd devolvé-lo, pagando a multa pactuada, proporcional ao periodo de cumprimento do contrato, ou, na sua falta, a que for Judioialmente estipulada. — (Redacdo dada pela Lei n® 12.744, de 2012) Paragrafo tnico. O locatérr ficaré dispensado da mutta se a devolugao do imével decorrer de transferéncia, pelo seu empregador, privado ou publico, para prestar sservigos em localidades diversas daquela do inicio do contrato, © se notificar, por ‘escrito, 0 locador com prazo de, no minimo, trinta dias de antecedéncia. 4.2. CARACTERISTICAS DO CONTRATO DE LOCAGAO a) Bilateral: estabelece obrigagées para ambas as partes. b) Oneroso ¢) Comutativo: as vantagens s40 previamente estabelecidas. 4) Nao soleni ‘do exige forma prescrita em lei, exceto quando de tratar de iméveis urbanos que necessitam ser feito por escrito, 43. _ ELEMENTOS DO CONTRATO DE LOCAGAO 4-Objeto; 2-Prego; 3-Consentimento; cs-piRerTo civ 2022. @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados 4-Prazo; Vejamos 4.34. Qbieto A locagao pode ter como objeto bens méveis ou iméveis. Em razdo do dever de restituir, o bem, seja mével, seja imével, precisa ser infungivel ‘Assim como no comodato, a locagao de bens méveis destinados a ornamentagao pode recair sobre bens fungiveis. Em se tratando de bem imével urbano, o contrato de locagao esta disciplinado pela Lei 8245/91 Art. 1°, Lei 8245/91 — A locagéo de imével urbano regula - se pelo disposto nesta lei Excego: continuam regidas pelo CC, ndo se aplicando a Lei 8245/91 as locagées de - Iméveis de propriedade de Poder Puiblico. - Vagas de garagem - Espacos para publicidade. ~ Apart-hotéis Lei 8245/91 Art. 1°, § nico + Continuam regulados pelo Cédigo Civil e pelas leis especiais: a) as locagées: 1. de iméveis de propriedade da Unio, dos Estados e dos Municipios, de suas autarquias @ fundagées publicas; 2. de vagas aulénomas de garagem ou de espagos para estacionamento de velculos; 3. de espacos destinados a publicidade; 4. em apart-hotéis, hotéis - residéncia ou equiparados, assim considerados aqueles que prestam servicos regulares @ seus usuarios € como tais sejam auforizados a funciona; ») 0 arrendamento mercant, em qualquer de suas modalidades. 43. Preco prego deve ser indicado pelas partes, inclusive no que tange aos reajustes. Porém, eventual politica econémica do governo podera limitar 0 percentual de reajuste do aluguel. © prazo de pagamento também fica submetido a vontade das partes. Havendo controvérsia, decidira o juiz. © prego e o prazo de pagamento devem ser deliberados pelas partes. Mas rompido 0 contrato de locagdo sem a restituigao da coisa, 0 locador tem direito de arbitrar unilateralmente o prego. Essa indicagao unilateral do prego nao pode ser abusiva, sob pena de pratica de ato ilicito pelo abuso de direito (art. 187, CC). SS 1 98 IRE TO civiL 120 Cadernos Sistematizados DG ersemorsatamatzadon PAconogcacemosssteatzad com (CC Art, 187. Também comete ato ilfcito 0 titular de um direlto que, a0 exercé-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econ6mico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. 4.3.3. Consentimento © consentimento pode ser expresso ou tacito ‘© consentimento deve ser dado por quem tem poderes de administragdo do bem dado em aluguel; ndo precisa ser o consentimento do proprietari Exemplo: 0 usufrutudrio, 0 superficidrio e 0 enfiteuta, embora nao sejam proprietarios, tem poderes de administragao e, por isso, podem alugar o bem. 43. Prazo Todo 0 contrato de locagao deverd ter prazo determinado ou determinavel Nao pode haver locacao perpétua. Em se tratando de locagao de imével urbano, se 0 prazo for superior a 10 anos, exige-se 0 consentimento do cénjuge do locador. Art. 3°, lei 8245/91 —0 contrato de locagao pode ser ajustado por qualquer prazo, dependendo de vénia conjugal, se igual ou superior a dez anos. Paragrafo Unico + ausente a vénia conjugal, 0 cénjuge néo estaré obrigado a observar o prazo excedente. Durante o prazo de contrato de locaco, € proibido ao locador reaver a coisa bem como ¢ proibido ao locatério devolvé-la antes do prazo. Se o locador retomar antecipadamente o bem, cabem perdas e danos em favor do locatério. Por outro lado, se o locatario resolve devolver o bem antes do prazo, deverd pagar clausula penal (multa). Na forma do art. 413 do CC, a multa deverd ser reduzida equitativamente quando for abusiva ou quando a obrigagao tiver sido cumprida em parte Art. 413, CC — A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a ‘obrigagao principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do negécio. OBS: lembrar que art. 572 aplica-se aos aluguéis do CC. ‘Art, 872, Se a obrigagaio de pagar o aluguel pelo tempo que faltar constituir indenizagao excessiva, sera facultado ao juiz fixa-la em bases razoaveis. > locagées pelo CC Exemplo: a multa estabelecida R$ 100,00 cujo contrato tinha duragao de 12 meses. Se o locatario devolver o bem no 6° més, a multa sera de R$ 50,00. Nos contratos de locagéo de iméveis urbanos com prazo determinado inferior a 30 meses (dois anos e meio), 56 se admite a dentincia cheia (a lei exige, para a retomada do imével, que o locador demonstre que existe alguma das hipéteses previstas na lei), isto é, motivada em uma das hipéteses previstas em lei. Néo se admite dentincia vazia (possibilidade de o locador solicitar a IRE TO civiL 120 Cadernos Sistematizados ) eo cersemossstmarzacor Pcomatogeacemorsnematzado com retomada do imével sem a necessidade de apresentar justificativas), imotivada, nos contratos de locagao de iméveis urbanos com prazo dete! 1ado inferior a 30 meses. ‘Admite-se, entdo, a dentincia vazia quando o contrato ultrapassou 30 meses e for por prazo indeterminado, Art. 46. Nas locagdes ajustadas POR ESCRITO e por prazo igual ou superior a trinta meses, a resolugao do contrato ocorreré findo 0 prazo estipulado, independentemente de notificagao ou aviso. § 1° Findo o prazo ajustado, se 0 locatério continuar na posse do imével alugado por mais de trinta dias sem oposigéo do locador, presumir- se - é prorrogada a locacéo por prazo indeterminado, mantidas as demais cléusulas © condigées do contrato. § 2° Ocorrendo a prorrogacéo, o locador poderé denunciar o contrato a ‘qualquer tempo, concedido o prazo de trinta dias para desocupagéo. Art. 47. Quando ajustada VERBALMENTE OU POR ESCRITO e como prazo inferior a trinta meses, findo 0 prazo estabelecido, a locagao prorroga - se automaticamente, por prazo indeterminado, somente podendo ser retomado 0 imével: I- Nos casos do art. 9°; Art. 9° A locagéo também poderd ser desfeita: 1 por mituo acordo; Il em decorréncia da prética de infragéo legal ou contratual; I - em decorréncia da falta de pagamento do aluguel e demais encargos; IV - para a realizagao de reparagées urgentes determinadas pelo Poder Pablice, que néo possam ser normalmente executadas com a permanéncia do locatério no imével ou, podendo, ele se recuse a consenti-las. I1- em decorréncia de extingao do contrato de trabalho, se a ocupacao do imével pelo locatério relacionada com o seu emprego; I - se for pedido para uso préprio, de seu cénjuge ou companheiro, ou para uso residencial de ascendente ou descendente que néo disponha, assim como seu cénjuge ou companheiro, de imével residencial préprio; IV- se for pedido para demolicéo e edificacao licenciada ou para a realizacao de obras aprovadas pelo Poder Publico, que aumentem a érea construida, em, no minimo, vinte por cento ou, se o imével for destinado a exploragao de hotel ou pensao, em cinquenta por cento; V- sea vigéncia ininterrupta da locagao ultrapassar cinco anos. § 1° Na hipétese do inciso Ill (para us0 proprio, cénjuge, ascendente, cescendente...), a necessidade deverd ser judicialmente demonstrada, se: a) 0 retomante, alegando necessidade de usar o imével, estiver ocupando, com ‘a mesma finalidade, outro de sua propriedade situado nas mesma localidade ou, residindo ou utilzando imével alheio, ja tiver retomado o imével anteriormente; b) 0 ascendente ou descendente, beneficiério da retomada, residir em imével proprio. § 2° Nas hipéteses dos incisos Ill (para parente morar) @ IV (obras que aumentem ‘a drea em 20% ou destinem o imével a hotelaria em 50%), 0 retomante deverd comprovar ser proprietério, promissério comprador ou promissério cessionério, €S- DIREITO CIVIL 2022.1 100 Cadernos Sistematizados WD) scons eng ‘em carter irrevogavel, com imissao na posse do imével e titulo registrado junto matricula do mesmo. Quando o contrato for por prazo indeterminado, a constituigao em mora do localario dependerd de sua notificagao, judicial ou extrajudicial. A notificago premonitéria constitui pressuposto processual para agéo de despejo em locagao por deniincia vazia de contrato por prazo indeterminado, STJ. 3° Turma. REsp 1.812.465/MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/05/2020 (Info 672). A celebragao do contrato locagao do bem nao retira do locador o seu poder de disposi¢éo em relagao ao bem, Assim, é possivel a alienagao do bem alugado. Nesse caso, 0 terceiro adquirente nao esta vinculado a locagao e, consequentemente, admite- se 0 despejo do locatario. Nos casos de alienacéo em que locador nao esteja obrigado a respeitar o contrato de locagao, no podera despejar o locatdrio sendo observado o prazo de 90 dias apés a notificagdo. ‘Art. 8° Seo imével for alienado durante a locacéo, o adquirente poderd denunciar ‘© contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupagao, salvo se a locagao for por tempo determinado @ 0 contrato contiver cléusula de vigéncia em caso de alionagao e estiver averbado junto a matricula do imével. § 1° Idéntico direito teré 0 promissério comprador eo promissério cessionério, ‘om cardter irrevogavel, com imiss&o na posse do imével e titulo reaistrado junto a do § 2° A dentincia devera ser exercitada no prazo de noventa dias contados do registro da venda ou do compromisso, presumindo - se, apés esse prazo, a oncordancia na manutengéo da locacéo. 4.4. RESPEITO A LOCAGAO PELO TERCEIRO ADQUIRENTE O contrato de locacdo sé pode ser oponivel a terceiros se ele estiver registrado no Cartério de iméveis, ‘A obrigago que se tem, no contrato de locagao, é uma obrigagao que une locador e locatario. Essa obrigagao tem eficdcia interpartes, em geral as obrigagdes 86 geram efeitos entre as proprias partes. Se o dono do imével resolve vender, mesmo estando alugado, como a obrigagdo sé gera efeitos entre as partes, eo dono vende o apartamento ao terceiro, este dard um “chute” (denuneiar 0 contrato, com prazo de 90 dias para desocupacao) no inquilino. EXCETO se, na forma do art. 8° da lei do inquilinato, for averbada a retagdo locaticia no registro de iméveis, entéo ela tera eficdcia real, qualquer pessoa que comprar o imével, tera de respeitar a locacdo. Isso se chama obrigagao com eficdcia real. Lei do inquilinato Art. 8° Se o imével for alienado durante a locagéo, o adquirente poderd denunciar 0 contrato, com o prazo de noventa dias para a desocupacéo, salvo se a locacdo for por tempo determinado e 0 contrato contiver cléusula de vigéncia em caso de alienacéo e estiver averbado junto a matricula do imével. § 1° Idéntico direito teré 0 promissério comprador e 0 promissario cessionério, ‘em caréter irrevogavel, com imissao na posse do imével e titulo reqistrado junto a matricula do mesmo. SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 01 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com GS Cadernos Sistematizados Portanto, se o imével for alienado, 0 novo proprietario no 6 obrigado a respeitar 0 contrato, a nao ser que contenha cldusula de vigéncia no caso de alienagao, e 0 contrato esteja registrado no CRI ou Cartério de Titulos e Documentos. OBS: ‘Suimula 442 do STF A inscri¢ao do contrato no registro de iméveis, para a validade da cldusula de vigéncia contra o adquirente do imével, ou perante terceiros, dispensa a transcrigao no registro de titulos e documentos. 4.5. DIREITO DE PREFERENCIA DO LOCATARIO A Lei 8245/91, no art. 27, estabeleceu o direito de preferéncia em favor do locatario para a aquisigao do bem. ‘Art. 27, Lei 8245/91 —+ No caso de vende, promessa de venda, cesséo ou promessa de cesséo de direitos ou dagao em pagamento, o locatério tem referéncia para adquirir o imével locado, em iqualdade de condicées com ferceiros, devendo 0 locador dar - Ihe conhecimento do negécio mediante notificagao judicial, extrajudicial ou outro meio de ciéncia inequivoca. Esse direito de preferéncia sé incide nas alienagdes onerosas. direito de preferéncia devera ser materializado por meio de notificago, judicial ou extrajudicial, ‘com prazo minimo de 30 dias. Lei 8245/91 Art. 28. O direito de preferéncia do locatério caducara se nao ‘manifestada, de maneira inequivoca, sua aceitagao integral 4 proposta, no prazo de trinta dias. direito de preferéncia do locatario depende do registro do contrato de locagao para que se observem seus efeitos perante terceiros. Se o contrato de locagao estiver registrado no Cartério de Iméveis, 0 direito de preferéncia ter oponibilidade erga omnes, razéo pela qual poderd o locatario depositar 0 valor da coisa tanto por tanto e adjudicar o bem para si. Isso se chama eficdcia real. ‘Sendo assim, se o contrato de locago nao estiver registrado, o terceiro de boa-fé podera adquirir © imével e a preferéncia do locatario resolve-se em perdas e danos. Art, 33. O locatério preterido no seu direito de preferéncia poderé reclamar do alienante as perdas ¢ danos ou, depositando o preco e demais despesas do ato de transferéncia, haver para sio imével locado, se 0 requerer no prazo de seis meses, a contar do registro do ato no cartério de iméveis, desde que o contrato de locagao esteja averbado pelo menos trinta dias antes da alienacao junto 4 matricula do imével. Paragrafo tinico. A averbacao far - se - 4 4 vista de qualquer das vias do contrato de locagao desde que subscrito também por duas testemunhas. Art. 34. Havendo condominio no imével, a preferéncia do condémino teré prioridade sobre a do locatério. 46. BENFEITORIAS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 02 G Cadernos Sistematizados G eescemossstematzador PtcontateGcadeossnieateado.com Benfeitorias: apesar do locatario ser possuidor de boa-, ele sé tera direito as benfeitorias titeis quando houver prévio consentimento do locador. Art. 35, lei 8245/91 — Salvo expressa disposicao contratual em contrério, as benfeitorias necessarias introduzidas pelo locatério, ainda que nao autorizadas pelo locador, bem como as utels, desde que autorizadas, serdo indenizéveis @ ermitem o exercicio do direito de retengao. Se 0 locador nao anuiu, a benfeitoria util nao ser indenizavel. Essa regra da previa anuéncia nao se aplica as benfeitorias necessdrias, que so sempre indenizaveis sob pena de enriquecimento sem causa, Por fim, as benfeitorias voluptuarias nao geram direito a indenizagao, mas sim direito a retirada da benfeitoria. Discute-se a respeito da validade das cldusulas contratuais que preveem renuncia antecipada por indenizagao de benfeitorias. E valida a cléusula que prevé a rendincia antecipada da indenizagao das benfeitorias pelo locatario? O professor entende que essa cldusula 6 abusiva por afronta a boa-fé objetiva. Porém, de acordo com Stimula 335 do ST4J, é valida a cléusula que prevé renuncia antecipada das benfeitorias. ‘Stimula 335, STJ —» Nos contratos de locagao, é vélida a cléusula de renincia & indeniza¢do das benfeitorias @ ao direito de retengéo. professor entende que essa stimula se aplica somente as benfeitorias tteis, porque as benfeitorias necessarias sao sempre indenizaveis. Benfeitorias necessérias Tem Benfeitorias titeis Tem direito, apenas se autorizado no contralto. | Stimula 335 STJ — nos contralos de locagao, é valida a cldusula de reniincia a indenizagao das benfeitorias e ao direito de retengao. 4.7. DEVERES DO LOCADOR E LOCATARIO ‘+ Deveres do locador: entregar a coisa ao locatario com todas suas pertengas e em condigées de ser utilizada. Reduzir o valor da locagdo ou resolver o contrato, caso a coisa se deteriore sem culpa do locatério. + Deveres do locatério: servir-se da coisa conforme sua natureza ou uso convencionado, pagar em dia o aluguel, avisar ao locador a turbagao sofrida por terceiro, restituir a coisa, ao fim da locagao, como a recebeu — salvo as deterioragdes naturais do uso. 48. PRESUNGAO DE CULPA DO LOCATARIO Presume-se a culpa do locatario pela perda ou deterioragao da coisa durante 0 contrato de locago. Portanto, cabe ao locatario provar que a deterioragao ou perda se deu sem culpa sua. IRE TO civiL 120 Cadernos Sistematizados D @ terserossnamatzadon Peonatogeasemorsstanatzade com Art. 567, CC Se, durante a locagao, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatério, a este caberé pedir reducao proporcional do aluguel, ou resolver 0 ccontrato, caso jé nao sirva a coisa para o fim a que se destinava. 49. TRANSMISSIBILIDADE DA LOCAGAO O contrato nao é personalissimo no que tange a sucesso; logo, falecendo locador ou locatérro, 0 contrato transfere-se aos herdeiros. Transmissibilidade da Locagao: a Lei 8245/91 nao ignorou a possibilidade de morte das partes ou desfazimento do casamento, razo pela qual abracou a regra da transmissibilidade da locagdo. Lei 8245/91 Ar. 10 > Morrendo © locador, @ locagao transmite - se aos herdeiros. Art. 11 — Morrendo o locatéirio, ficaréo sub - rogados nos seus direitos obrigagdes: 1 - nas locagdes com finalidade_residencial, 0 cénjuge sobrevivente ou o ‘companheiro e, sucessivamente, os herdeiros necessérios @ as pessoas que viviam na dependéncia econémica do de cujus, desde que residentes no imével; ‘A morte do locatario na locagao residencial implica sub-rogago, ou seja, os herdeiros assumem © contrato nas condigées origindrias. Se a locagao era comercial, trata-se de sucessdo empresarial. I~ nas locagdes com finalidade néo residencial, o espélio e, se for 0 caso, seu sucessor no negécio. ‘Também havera sub-rogacao na hipétese de separagao, divércio ou dissolugao de unio estavel do locatério, Nos casos de sub-rogagao, o locador ndo pode se objelar a continuidade do contrato, estando obrigado a dar continuidade ao contrato. Porém, o locador teré direito de exigir garantia ou reforgo. Lei 8245/91 Art. 12, Em casos de separagéo de fato, separacéo judicial, divércio ou dissolugao da uniéo estavel, a locacéo residencial prosseguiré automaticamento ‘com 0 cénjuge ou companheiro que permanecer no imével. (Redacéo dada pela Lein® 12.112, de 2008) § 12 Nas hipdteses previstas neste artigo e no art. 11, a sub-rogagéo seré ‘comunicada por escrito ao locador € ao fiador, se esta for a modalidade de garantia locaticia. (Incluido pela Lei n® 12.112, de 2009) § 2 0 fiador poderd exonerar-se das suas responsabilidades no prazo de 30 (trinta) dias contado do recebimento da comunicagéo oferecida pelo sub-rogado, ficando responsével pelos efeitos da fianca durante 120 (cento e vinte) dias apés a notificagao ao locador. (Incluido pela Lei n® 12.112, de 2009) A sublocagao, 0 empréstimo @ a cessao dependem de prévio consentimento do locador, sob pena de descumprimento contratual ¢ possibilidade de despejo. 4.40. GARANTIA DO CONTRATO DE LOCAGAO €S- DIREITO CIVIL 2022.1 04 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Em todo contrato de locagao ha exigéncia de uma garantia As garantias possiveis no contrato de locagao sao: a) Caugdo. b) Fianga, ) Seguro. A exigéncia de duas ou mais garantias implica nulidade das garantias que excederem. Ademais, caracteriza contravengao penal. O locador, entao, pode exigir garantia, mas nao pode exigit duas ou mais garantias, exceto na locagao por temporada. Assim, na locagao por temporada é possivel exigir duas ou mais garantias. ‘A ago de despejo por falta de pagamento permite ao locatario inadimplente purgar a mora, independentemente do niimero de prestagées vencidas. A jurisprudéncia entende que se 0 locador deixar para promover a ago de despejo de uma vez wiabilizando a purgago da mora, ocorre a pratica de abuso de direito & “duty to mitigate the loss” Esse instituto nada mais do que é uma das variagées do abuso do direito, & um dos conceitos parcelares da boa-fé objetiva. Exemplo: locador promove a agao de despejo pelo atraso de 12 meses de aluguel, o que inviabiliza a purgagao da mora Nesses casos, 0 juiz pode estabelecer os meses para a purgacao da mora; os demais meses em atraso autorizam ajuizamento de agao cobranga. 5, CONTRATO DE PRESTACAO DE SERVICOS 5.1. CONCEITO Art. 594, CC— Toda a espécie de servico ou trabalho Iicito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribulg&o. Negécio juridico pelo qual alguém se compromete a realizar uma determinada atividade licita no interesse de outrem mediante remuneragao. Aplica-se o CC nas prestagdes de servigo que ndo sejam enquadradas como relagées trabalhistas e nao estejam sujeitas @ legislagao especial (como 0 CDC). Assim, o contrato de prestagdo de servigos se caracteriza de forma residual, ou seja, somente se caracteriza quando nao for caso de contrato de emprego (relagao trabalhista), relagao de consumo (CDC) ou empreitada (outra espécie de contrato do CC). Certamente, as regras do CC podem servir para a aplicagéo da tese do didlogo das fontes, mesmo quando o contralo néo se submeta integralmente ao regramento civil. Art. 593, CC— A prestagao de servico, que néo estiver sujeita as leis trabalhistas ou a lei especial, reger-se- pelas disposigdes deste Capitulo. Se a prestago de servigo esta submetida a pessoalidade, continuidade, subordinagao e onerosidade, resta caracterizado a relacdo de trabalho regida pela CLT. SS IRE TO civiL 120 1 05 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com Se a prestagao de servigo esta submetida a vulnerabilidade e hipossuficiéncia, resta caracterizado gontrato de consumo. Se a prestacao de servigo é para um resultado especifico, caracteriza-se 0 contrato de empreitada, Porém, se ha uma atividade humana em favor de outrem que nao se caracterize a nenhuma dessas figuras, resta 0 contrato de prestacdo de servicos, E uma obrigacao de fazer. A obrigacdo de fazer assumida é a realizado de um servigo em favor de outra pessoa. 5.2, CARACTERISTICAS DO CONTRATO DE PRESTAGAO DE SERVIGO a) Bilateral. b) Oneroso. ¢) Comutativo, d) Nao solene (nao exige forma prescrita em lei). Embora seja nao solene, se 0 contrato for celebrado por escrito, deverd ser formalizado na presenga de 02 testemunhas, especialmente quando for assinado a rogo. ‘Art, 595. No contrato de prestagao de servico, quando qualquer das partes nao ssouber ler, nem escrever, o instrumento podera ser assinado a rogo e subscrito por duas testemunhas. ) Personalissima: a prestagao de servigo uma atividade em favor da outra pessoa. O contrato é intuitu personae, logo, 6 vedada a cessao de contrato, seja por parte do tomador ou do prestador, sem autorizagao do outro contratante. Art. 605, CC + Nem aquele a quem os servicos sao prestados, poderé transferir 2 outrem o direito aos servicos ajustados, nem o prestador de servicos, sem aprazimento da outra parte, dar substituto que os preste. A substituigao do prestador depende do consentimento do tomador, e nao caracteriza terceirizagao, 5.3. OBJETO DO CONTRATO DE PRESTAGAO DE SERVICO objeto do contrato é uma atividade humana, sendo todo e qualquer servigo ou trabalho. Art. 594, CC— Toda a espécie de servico ou trabalho licito, material ou imaterial, pode ser contratada mediante retribuigao. Considerada a amplitude do objeto, o art. 601 do CC dispée que se a contratagao nao for especifica, 0 objeto do contrato seré todo e qualquer servigo compativel com a forga do prestador. Art. 601, CC + N&o sendo o prestador de servico contratado para certo determinad trabalho, entender-se-4 que se obrigou a todo e qualquer servico compativel com as suas forgas e condigdes. IRE TO civiL 120 1 06 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com 5.4. REMUNERAGAO NO CONTRATO DE PRESTACAO DE SERVICO Toda prestagéo de servio 6 remunerada; s6 se admite a prestagao de servigos gratuita com disposigao expressa. No siléncio das partes, presume-se que a prestagdo de servicos é remunerada. © valor da remuneragao deve ser indicado pelas partes. E se as partes nao indicaram o valor da remuneragao, o juiz decidira de acordo com os costumes do local, o tempo de servigo e a sua qualidade, Art. 596, CC —+ Nao se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar- se-4 por arbitramento a retribuigdo, segundo o costume do lugar, o tempo de servigo e sua qualidade. As partes devem indicar nao s6 0 valor da remuneragao, mas também 0 periodo do pagamento. Se no ha indicagao do periodo do pagamento, a lei presume que este devera ocorrer depois de realizado o servigo. Nada impede, todavia, que as partes estabelegam 0 pagamento antecipado, © CC estabeleceu o nao pagamento da remuneracéo quando ausente a habilitagdo do prestador do servigo. Porém, se do servigo prestado resultar beneficio para outra parte, o juiz atribuira uma compensagao razoavel, desde que tenha o prestador agido com boa-fé. Art. 606, CC + Se o servico for prestado por quem néo possua titulo de habilitagao, ou nao satisfaca requisitos outros estabelecidos em lei, ndo poder quem os prestou cobrar a retribuigéo normalmente correspondente ao trabalho executado, Mas se deste resultar beneficio para a outra parte, o juiz atribuird a. quem o prestou uma compensacao razodvel, desde que tenha agido com boa-fé, No entanto, nao haveré compensagao judicial razoavel atribuida pelo juiz se a proibigao resulta de lei de ordem piiblica, Como no se sabe o que é lei de ordem piiblica, essa regra 6 um absurdo. [Art 606, §tinico, CO—+Néo se aplica a segunda parte deste artigo (compensacao razoavel judicial, quando a proibigao da prestacao de servico resultar de lei de ordem publica. 5.5. PRAZO DE DURAGAO DO CONTRATO DE PRESTAGAO DE SERVICO O prazo maximo do contrato é de 04 anos. Segundo Cristiano Chaves, néo se admite renovacdo. Mas, se houver, todas as renovagées deverdo respeitar o limite temporal estabelecido. Art, 598, CC > A prestagao de servico néo se poderé convencionar por mais de quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de divida de quem 0 presta, ou se destine 4 execugao de certa e determinada obra. Neste caso, decorrides quatro_anos, se-4 por findo o contrato, que no concluida a obra, IRE TO civiL 120 Cadernos Sistematizados WD) scons eng ‘Art. 599, CC > Nao havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbitrio, mediante prévio aviso, pode ‘resolver’ (0 fermo correto seria resi) 0 contrato. § tinico > Dar-se-4 0 aviso: 1-com antecedéncia de oito dias, se 0 salério se houver fixado por tempo de um ‘més, ou mais; |I--com antecipacao de quatro dias, se o salério se tiver ajustado por semana, ou quinzena; I -de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias. dia faltado sem culpa do prestador do servigo devera ser computado como dia de servigo prestado. O dia s6 nao é computado se o prestador do servigo faltar por culpa sua. ‘Art. 600, CC + Nao se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador de servico, por culpa sua, deixou de servir. Embora o dia seja computado para efeitos de cumprimento do contrato, ele nao é remunerado. 5.6. ALICIAMENTO DO PRESTADOR © CC previu a punigao do aliciamento do prestador de servicos. terceiro que aliciar o prestador de servico terd que indenizar o tomador do servigo pelos lucros cessantes que ele deixou de ganhar durante 02 anos. Essa indenizago se refere aos lucros cessantes, Art, 608, CO + Aquele que aliciar (BIAVIVA) pessoas obrigadas (Z=CA PAGODINHO) em contrato escrito a prestar sorvico a outrem (\VOVA SCHIN) agaré a esto a importéncia quo ao prestador de servigo, pelo ajuste desteito, houvesse de caber durante dois anos. (© fundamento dessa indenizacao é a fungdo social do contrato. O artigo consagra a tutela externa do crédito, decorrente da clausula geral de fungao social dos contratos, como fundamento da liberdade contratual, em sua eficacia trans subjetiva. Enunciado n.° 21 - Art. 421: A fungao social do contrato, prevista no art. 421 do novo Cédigo Civil, constitui cléusula geral a impor a revisdo do principio da relatividade dos efeitos do contrato em relagéo a terceiros, implicando a tutela 6.1. CONCEITO ‘Art. 610. O empreiteiro de uma obra pode contribuir para ela 86 com seu trabalho ou com ele @ os materias. § 1° A obrigagao de fornecer os materiais no se presume; resulta da lei ou da vontade das partes. § 2 O contrato para elaboragao de um projeto néo implica a obrigagéo de executé-lo, ou de fiscalizar-ine a execucao. SS €S- DIREITO CIVIL 2022.1 08 @ ceaceronsstemstzados Pconiatogeacemonsintematinda com o~. Cadernos Sistematizados Ocorre quando a prestagdo de servigos tiver como objeto uma obra especifica. E uma forma especial de prestagao de servigo, pois o servico é especificado: no caso, alguém se obriga a fazer ou mandar fazer determinada obra, em razio de uma remuneragao. + Sob administragao — 0 empreiteiro administra as pessoas contratadas pelo dono da obra. ‘+ De mao-de-obra— 0 empreiteiro fornece a mao-de-obra. Os materiais sao fornecidos pelo dono da obra ‘+ Mista (mao de obra e materiais) — 0 empreiteiro fornece mao-de-obra e materiais, ‘comprometendo-se a executar a obra inteira. Assume obrigagao de resultado. De se ressaltar 0 art. 618: ‘Art, 618. Nos contratos de empreitada de edificios ou outras construgées consideraveis, 0 empreiteiro de materials e execugao responderé, durante 0 ptazo irredutivel de cinco anos, pela solidez @ seguranca do trabalho, assim em razéo dos materiais, como do solo. Paragrafo Unico. Decairé do direito assegurado neste artigo o dono da obra que no propuser a a¢4o contra o empreitelro, nos cento e oltenta dias seguintes ao aparecimento do vicio ou defeito. O empreiteiro misto responde pela garantia da obra pelo prazo irredutivel de 05 anos (é um prazo de garantia). O pardgrafo Unico indica 0 prazo decadencial para propor ago redibitéria, contados do aparecimento do problema, desde que este seja um vicio mencionado no caput e ocorra no prazo ali mencionado. GARANTIA LEGAL. © prazo poderd ser ampliado, mas nunca reduzido. Sendo assim, se o empreiteiro deu garantia de 03 anos, ele acabou ampliando o prazo para 08 anos (05 + 03). O STJ entende que o conceito solidez seguranga merece uma interpretagao ampliativa, pois diz respeito a todos os aspectos do prédio, inclusive infitragdes. Porém, como dito, decairé do direilo de pleitear 0 direito assegurado, o dono da obra que nao propuser a ago no prazo decadencial de 180 dias seguintes ao aparecimento do vicio ou defeito. Sendo assim, se aparecer algum defeito ou vicio no prazo de garantia de 05 anos, o dono da obra tem o prazo de 180 dias para promover a ago redibitéria ou estimatéria Se 0 defeito apareceu depois do prazo de garantia ou se nao foi promovida a agao no prazo de 180 dias, 0 dono da obra tem direito a ajuizar ago de reparacéo de danos sob o fundamento da responsabilidade civil comum (prazo prescricional de 05 anos, se relagao de consumo ou 03 anos, se relagao civil). Em outras palavras: o artigo nao impede que sejam propostas ages indenizatorias baseadas em conduta lesiva do empreiteiro, em 03 ou 05 anos, dependendo de a relagdo ser civil ou de consumo, Neste caso, 0 prazo comegard a correr da ocorréncia do evento danoso ou da leséo a0 direito subjetivo (actio nata) Enunciado n.° 181 - Art. 618: O prazo referido no art, 618, pardgrafo Unico, do Cédigo Civil refere-se unicamente a garantia prevista no caput, sem prejulzo de IRE TO civiL 120 1 09 Cadernos Sistematizados ) eaccssemorisienassados Pconstogcademonsisenatiado com poder 0 dono da obra, com base no mau cumprimento do contrato de ‘empreitada, demandar perdas e danos. Se 0 empreiteiro ou seus prepostos causarem danos a terceiros, o dono da obra poderd ser responsabilizado, se comprovada a culpa do empregado ou preposto. Ainda, a responsabilidade entre empreiteiro e dono da obra é solidéria diante do ofendido. O construtor ou dono do prédio responde por sua ruina, se ficar demonstrada a necessidade de reparos. ‘Ao contrério da prestagao de servigos, a empreitada ndo é personalissima, de forma que nao se extingue com a morte de um dos contratantes, salvo se ajustado. ‘Art. 626. No se extingue 0 contrato de empreitada pela morte de qualquer das partes, salvo se ajustado em consideragéo as qualidades pessoais do empreiteir. 7. TROCA OU PERMUTA Contrato mediante o qual as partes se obrigam a dar uma coisa por outra que ndo seja dinheiro. Contrato bilateral (sinalagmatico), oneroso, comutativo e, em regra, translativo da propriedade e consensual. Aplicam-se & troca, subsidiariamente, as regras da compra e venda Na troca, ambas as prestagées séo em espécie, ou seja, ndo é possivel que uma das prestagdes seja dinheiro. Ao contrario do que ocorre na compra e venda, a parte poderd repetir 0 que deu, no caso de nao receber 0 objeto permutado (na compra e venda o vendedor pode cobrar o prego). Na permuta realizada entre ascendente ¢ descendente, sera necessario 0 consentimento dos demais herdeiros @ do cénjuge no caso de a coisa entregue ao ascendente ser de valor inferior & coisa que caiba ao descendente. Ou seja, depende de concordancia caso haja prejuizo ao ascendente. Nos demais casos, nao é necessario o consentimento, ‘Art. 533. Aplicam-se a troca as disposi¢des referentes & compra e venda, com as seguintes modificagdes: 1 - salvo disposi¢ao em contrério, cada um dos contratantes pagaré por metade as despesas com o instrumento da troca; Wl ~ & anulével_a troca de valores desiguais entre ascendentes ¢ descendentes, sem consentimento dos outros descendentes e do cénjuge do alienante. 8. CONTRATO ESTIMATORI VENDA EM CONSIGNACA\ Art. 534. Pelo contrato estimatério, 0 consignante entrega bens méveis ao consignatério, que fica autorizado a vendé-los, pagando aquele o prego ajustado, salvo se preferir, no prazo estabelecido, restituir-he @ coisa consignada. © contrato estimatério passou a ser um contrato tipico apenas com 0 Cédigo Civil de 2002, e definido como sendo 0 contrato em que o consignante transfere ao consignatério bens méveis para que este os venda, pagando o prego de estima, ou os devolva no fim do contrato, no termo ajustado. -DIREITO CIVIL 2022.1

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