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Autópsia psicológica

Por Verônyca Veras


A autopsia psicológica é uma forma de avaliação retrospectiva de
vítima de morte suspeita, que procura analisar o comportamento,
as emoções e o histórico da vítima antes de morrer, com o intuito
de identificar se a morte suspeita foi resultado de acidente,
homicídio ou suicídio, ou ao menos chegar em/na maior
probabilidade da causa.

Como envolve um método científico de avaliação psicológica, é


necessário que, pelo menos, uma das pessoas envolvidas nesse
trabalho seja psicóloga ou psiquiatra, tendo em vista que pode
envolver análise de psicopatologia e diagnóstico, trabalhando lado
a lado com o profiler se ele não for dessas áreas.

Trata-se de um método de investigação que utiliza informações


sobre a vítima para determinar características da personalidade
com a intenção de compreender o que ocorreu e como ocorreu,
por meio de técnicas desenvolvidas para isso.

Podendo ser utilizado principalmente no âmbito policial para


melhor tipificar em compreender um crime, com o Criminal Profiling
através da vitimologia e os conhecimentos da área, a autópsia
psicológica serve para compreender as características da vítima e
do meio através de análise da cena do crime; elementos
documentais e de informações coletadas para concluir se houve
crime ou não; que tipo de crime; e até adicionar possíveis
transtornos ou doenças da vítima ligados ao ocorrido e que
corroboraram com o fato, mas que seriam desconhecidos das
autoridades sem uma profunda investigação por meio desses
métodos e profissionais qualificados para isso.

Esse tipo de avaliação ocorre principalmente em casos de suspeita


de suicídio, quando a história pregressa da vítima, além de toda
uma gama de informações, possibilita uma percepção de como ela
estava, entre outras coisas, momentos antes do ocorrido,
permitindo, assim, um meio diferente de compreender a
fenomenologia da morte e suas dinâmicas.

Existem também outros tipos de casos que podem utilizar a


autópsia psicológica como de pessoas desaparecidas ou em
coma. O que é relevante para a autópsia psicológica é
compreender que esse tipo de método científico é feito quando a
vítima não se faz presente e existe suspeita de crime violento ou
os familiares, ou pessoas próximas, querem respostas sobre o que
ocorreu.

Em relação aos familiares, isso fica bem claro em casos de


suicídio, pois muitas vezes as pessoas próximas afirmam que não
perceberam que a vítima estava prestes a cometer suicídio e
sentem culpa por não compreender o ocorrido. Nesses casos
essas pessoas procuram respostas além do que a polícia está apta
a fazer e por isso procuram um parecer complementar.

Além disso, esse método também pode ser utilizado em


assistência técnica, tanto da defesa como da acusação em casos
que necessitem de provas técnicas para refutar ou comprovar
informações que possam favorecer uma das partes em processos
criminais, civis, trabalhistas e até previdenciários.

Entre os elementos abordados nos métodos de coleta e


interpretação de dados estão os traços de personalidade, o estilo
de vida pouco tempo antes da morte, possíveis experiências
traumatizantes recentes e gatilhos, e a dinâmica familiar e
socioprofissional a vítima.
Concomitantemente aos dados coletados na cena do crime, provas
documentais e testemunhais, tudo o que é juntado passa por uma
análise psicológica para compreender as dinâmicas do crime e
poder fazer um parecer sobre o que realmente aconteceu. Quanto
mais elementos forem juntados, melhor para um parecer mais
completo.

Serve, inclusive, para melhor delimitação dos tipos de mortes que


viram estatísticas e auxiliam na análise de estudiosos, de órgãos
da segurança pública e da saúde, que por falta de uma análise
mais profunda não possui números mais próximos da realidade,
principalmente em se tratando de acidentes, dados esses que
poderiam ser utilizados para trabalho de prevenção ao suicídio e
de combate à violência, por exemplo.

Para o perfil criminal essas informações são extremamente


relevantes, pois, em diversos casos, o que trazia a desconfiança
de um acidente ou suicídio pode se tornar um homicídio e trazer
informações essenciais para a elaboração do perfil criminal do
agressor.

Ademais, o perfil criminal e a autópsia psicológica são métodos


complementares que buscam investigar e encontrar respostas
trabalhando principalmente com informações relacionadas com
traços de personalidade e comportamento, tendo o profissional
de Criminal Profiling o conhecimento necessário para isso.
É imprescindível para o profiler entender e trabalhar com a
autópsia psicológica como complemento de seu trabalho, uma vez
que serve para acrescentar e aumentar o seu ramo de
conhecimentos para a prática de atuação envolvendo tanto a
vítima quanto o agressor quando existem os dois.

Por fim, a autópsia psicológica é um método com uma visão


científica inovadora e que assim como o perfil criminal, basta ter as
informações necessárias e profissionais qualificados para auxiliar
na melhor definição do que ocorreu. Na autópsia psicológica,
alguns exemplos disso são claros, como uma morte que muitas
vezes é confundida com um acidente somente com as provas
físicas, mas que com essa análise retrospectiva demonstra ser de
suicídio, ou a impressão de que alguém fugiu do seu meio, mas
que na verdade desapareceu de forma suspeita, e até um coma
que poderia ser de uma tentativa de suicídio, mas que na verdade
foi uma tentativa de homicídio.

REFERÊNCIAS
SANTOS, Maria de Fátima F. dos. A importância da autópsia
psicológica. Disponível aqui.
PAULINO, M. ALMEIDA, F. Profiling, Vitimilogia & Ciências
Forenses, Perspectivas Atuais. 2ª Ed. Editora: Pactor, Lisboa,
2013.

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