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Introdução
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O presente curso é resultado de vinte anos de atuação profissional,
realizando avaliações psicológicas, em contextos variados (escolas,
postos de saúdes, Delegacias de Polícia, Juizados da Infância e da
Juventude, abrigos, etc.). Atuei em casos de violência sexual contra
crianças e adolescentes, abandonos, adoções, dificuldade de
aprendizagem e tantos outros.
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Como uma verdadeira investigação clínica, complexa, a AP trata-se de
um processo interativo e dinâmico, analisado sob a ótica de
pressupostos teóricos, reconhecidos pela ciência psicológica, voltados
para a solução de problemas.
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Seu objetivo, é ampliar o debate e subsidiar ações de estudantes e
profissionais da Psicologia, no que se refere aos aspectos básicos e
fundamentais relacionados à elaboração de documentos psicológicos, a
começar pela AP e os conceitos básicos relacionados a ela.
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Sabemos que, muitos são os desafios no que diz respeito à AP. Mas, os
constantes esforços dos órgãos fiscalizadores e orientadores da
profissão e de toda a categoria profissional, no sentido de garantir a
qualidade técnica e ética dos serviços prestados e o rigor teórico e
metodológico no emprego de instrumentos válidos e precisos,
certamente conduzirão a um caminho fomentador de reflexão, com
menos casos de imperícias e maiores avanços no sentido de um
processo avaliativo, que seja cada vez mais, benéfico às pessoas,
evitando que sejam submetidas à abordagens e tratamentos inócuos,
discriminatórios ou segregacionistas.
E, bons estudos.
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O PROCESSO DE AVALIAÇÃO PSICOLÓGICA:
ELEMENTOS NORTEADORES
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que, por meio de sua Comissão Consultiva em Avaliação Psicológica e
das Comissões de Orientação e Sistema de Conselhos, tem se esforçado
para garantir o rigor teórico, metodológico e ético, no uso da AP, no
emprego de instrumentos válidos e precisos e na produção de
documentos psicológicos coerentes e de qualidade.
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Neste sentido, o CFP oferece aos profissionais da psicologia,
informações sobre a AP, visando aprimorar a qualidade desse serviço no
Brasil, através de resoluções, cartilhas, manuais de orientações e do Site
SATEPSI (Sistema de Avaliação de Teste Psicológicos -
http://satepsi.cfp.org.br/), bem como através da promoção de debates,
cursos e discussões sobre o referido tema, como é o caso do Diálogo
Digital.
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Esses problemas envolvem desde a escassez de instrumentos
psicológicos de qualidade e apropriados ao uso nos contextos
específicos de aplicação, até falhas na postura ética e na qualificação
técnica dos profissionais (Noronha et al., 2002; Frizzo, 2004; Brasil,
2011), sendo este campo da Psicologia, que abarca a maioria dos
processos éticos existentes (Tavares, 2010).
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O CFP (Brasil, 2018) considera como Fontes Fundamentais de
Informação:
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pois “é a formação que dirige a ação do psicólogo e para que se
obtenha uma ação com um mínimo de problemas graves e frequentes,
deve-se investir na preparação profissional”.
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Isso se justifica porque durante a
formação dos graduandos em
Psicologia, é comum que o ensino e
o tratamento em Psicodiagnóstico,
sejam finalizados no exato
momento de se redigir um relatório
psicológico; implicitamente dizendo
que após se recolher os dados
necessários, de qual forma for, bem
como os resultados, não fosse tão
importante o processo de transmiti-
los” (Shine, 2009).
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A pesquisa de Borsa (2016), detectou que a maioria das infrações éticas
denunciadas ao CFP refere-se ao exercício equivocado de avaliações
psicológicas, envolvendo o uso de testes e técnicas inadequadas ou não
reconhecidas, falta de qualidade dessas ferramentas, falta de
orientações sobre encaminhamentos adequados ou ainda, a emissão de
documentos sem fundamentação teórica.
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No entanto, apesar de haver relatos significativos sobre problemas e
dificuldades relacionados à AP, uma pesquisa realizada por Hazboun e
Alchieri (2014), apontou que: a maioria dos profissionais da psicologia
que foram por eles entrevistados, afirmou não possuírem dificuldades
para realizar avaliações psicológicas.
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Entende-se que a Avaliação
Psicológica deveria ser encarada
como a espinha dorsal da ação
da(o) Psicóloga(o), pois o
desenvolvimento de práticas
psicológicas interventivas em
qualquer campo de atuação da
Psicologia sugere, no mínimo, um
conhecimento sobre fenômenos e
processos psicológicos que
caracterizem o objeto de
intervenção dessa(desse)
profissional” (CRP – PR, 2016).
Como afirmam Lago (et al., 2016), muitos psicólogos não possuem o
hábito de verificar as Resoluções emitidas pelo CFP.
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Para receber estes e-mails, basta o psicólogo (a) acessar a página do
CFP e atualizar seus dados, assinalando a opção de recebe-los.
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“Os profissionais da psicologia,
deveriam ser leitores habilidosos,
uma vez que o cliente é uma
história ambulante. E mais do que
ler, dominar a interpretação, o que
na prática clínica se torna a
capacidade de enxergar além da
queixa. Porém, percebe-se que o
hábito da leitura não está presente
nos alunos do ensino superior. (...)
a dificuldade em escrever
documentos psicológicos, “está
relacionada ao deficiente
comportamento de leitura e
consequentemente à inabilidade
em aplicar determinado
conhecimento teórico” (Oliveira,
2018).
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Além disso, sugere-se que haja uma modificação no modo de
compreender o que é a AP, uma vez que esta não é simplesmente uma
área técnica da psicologia, que produz instrumentos para o psicólogo
atuar.
“A avaliação psicológica é
compreendida como um amplo
processo de investigação, no qual
se conhece o avaliado e sua
demanda, com o intuito de
programar a tomada de decisão
mais apropriada do psicólogo.
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Mais especialmente, a avaliação
psicológica refere-se à coleta e
interpretação de dados, obtidos por
meio de um conjunto de
procedimentos confiáveis,
entendidos como aqueles
reconhecidos pela ciência
psicológica” (Brasil, 2013).
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Assim, para Reppold (2011), quando abordamos o tema da AP, não
estamos falando apenas sobre um assunto limitado a uma determinada
área, ou a um segmento isolado, que se dedica a criar instrumentos e
técnicas, mas sim, de um dos fundamentos mais gerais, e mais antigos
da psicologia, que está intrinsecamente ligado à ética, à promoção do
bem-estar e da saúde mental, à dignidade e à responsabilidade social.
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É fundamental ainda, que o psicólogo pondere se, os benefícios
trazidos por uma AP, serão maiores do que os possíveis prejuízos
advindos de uma avaliação imprecisa, realizada sem respaldo técnico-
científico e sem respeitar o avaliando em um momento de
susceptibilidade.
Para tanto, o psicólogo deve ter clareza a respeito de sua formação e de
sua capacidade, ou não, de realizar plenamente uma avaliação, capaz de
ofertar indicadores reais para futuras tomadas de decisões.
Mesmo sendo o profissional um especialista na aplicação de algum
instrumento, somente esta característica não pode ser definitiva em sua
prática. Além disso, é necessário que o psicólogo possa aliá-la à
situação-contexto na qual esta avaliação foi solicitada e, portanto,
possa interpretar corretamente os resultados provenientes dela (Hutz,
2009).
Groth-Marnat (1984) salienta a importância do profissional se
familiarizar com as reais necessidades do usuário, observando que,
muitas vezes, psicólogos competentes acabam por “fornecer uma
grande quantidade de informações inúteis para as fontes de
encaminhamento”, (através dos documentos psicológicos), por falta de
uma compreensão adequada das verdadeiras razões que motivaram o
encaminhamento ou, em outras palavras, por desconhecimento das
decisões que devem ser tomadas com base nos resultados da avaliação
psicológica.
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Como sabemos, os processos de AP, demandam, ao seu final, a
elaboração de documentos, que terão por finalidade a devolução dos
resultados encontrados, fundamentados em bases teóricas
reconhecidas sobre determinada demanda, auxiliando a tomada de
decisões.
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§ 3º Os documentos técnicos
resultantes da atuação profissional
não correspondem às descrições
literais dos atendimentos
realizados, salvo quando tais
descrições se justifiquem
tecnicamente, e devem ser escritos
de formas impessoal, na terceira
pessoa, com coerência que
expresse a ordenação de ideias e a
interdependência dos diferentes
itens da estrutura dos
documentos.”
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Destaca-se aqui, a importância de uma escrita que não seja uma
descrição literal de tudo que foi falado durante os atendimentos,
entrevistas, avaliações, etc.
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Denota-se, portanto, que além de se tratar de um complexo processo
de análise que exige do psicólogo um grande preparo técnico, a AP
exige ainda um aprofundamento do conhecimento teórico, que
extrapola o conhecimento presente nos manuais que acompanham os
testes psicológicos (Borsa, 2016).
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Esse conhecimento certamente será incrementado, a medida em que o
psicólogo busca atualizar-se, informar-se, capacitar-se e, com certeza,
na medida realiza AP no seu cotidiano, supervisões com colegas mais
experientes, engajando-se em pesquisas, dentre outras formas.
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Além disso, a AP é um processo capaz de afetar o indivíduo avaliado,
seu comportamento, seus sentimentos e seus reações, produzindo
efeitos justamente nos processos de subjetivação com os quais lidamos.
Assim, eles são de responsabilidade de quem realiza o trabalho de
avaliação psicológica (Machado, 2011).
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Quanto mais buscamos e aprendemos, maiores condições de realizar
uma avaliação psicológica, ampla, abrangente, responsável e, que
perceba o indivíduo avaliado como um todo, de forma mais completa,
respeitosa e sensível.
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Este modo de compreensão inclui a capacidade emocional e social da
pessoa e a compreensão dinâmica de seus sintomas (PDM Task Force,
2006).
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Nós temos que compreender a
pessoa, sua fala, sua mensagem,
seu consciente e seu inconsciente:
por que é este o material que está
nos trazendo agora? Por que está
falando isto para mim? Por que está
respondendo assim a este teste?”
(Nascimento & Resende, 2014).
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Neste sentido, um preparo específico deve ser dedicado para que o
psicólogo possa exercer adequadamente sua função, quando se trata
de realizar uma AP (Nascimento & Resende, 2014).
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Novamente evidencia-se que, quando falamos em AP, não estamos
falando em apenas em métodos quantitativos de mensuração das
qualidades de um sujeito, nem mesmo em uma classificação nosológica.
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Os testes tornaram-se instrumentos auxiliares da AP, sendo utilizados
quando é preciso fundamentar o trabalho com material fidedigno,
passível de reaplicação, que chegue a conclusões confiáveis em curto
espaço de tempo para uma tomada de decisões.
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Os objetos que elegemos não são naturais: o casamento, a
adolescência, os problemas escolares, a depressão, o autismo, a
criança, o aluno e o bebê são efeitos de relações, não existem em si,
constituem-se no decorrer da história”. (Grifo meu)
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E assim o faz o psicólogo, ao iniciar um processo de AP, uma vez que ele
possui a prerrogativa de decidir de que forma realizará a investigação
dos fenômenos psicológicos e como fundamentará suas conclusões.
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Por fim, pergunta-se a autora: O conflito é ruim? Apresentar
dificuldades é algo que não deveria acontecer? Uma professora deve
sempre conseguir os resultados que almeja? (Machado, 2011).
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Devemos atentar para o fato de que, é possível conhecermos pessoas
com problemas graves e com muita força para lutar, assim como é
possível estabelecermos relações que conseguem imprimir novas
direções em uma história, pois (...) “aquilo que elegemos como uma
questão a ser avaliada habita, também, a relação na qual a avaliação
psicológica se dá” (Machado, 2011).
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Pouco se consegue quando um relatório termina descrevendo o
funcionamento psíquico e analisando os fatos como se o que faltasse
fosse a compreensão dessas descrições e análises pelos outros. Para
que essas descrições e análises afetem em uma certa direção escolhida,
deve-se assumir que a AP cria verdades, cria realidades e não apenas as
revela. Que realidades podemos/queremos criar? (Machado, 2011).
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“Para se tornar uma avaliação
psicológica válida é preciso
observar os princípios éticos,
técnicos, coerência teórica e
metodológica, bem como a
responsabilidade social com as
informações que o psicólogo
constrói ou que irá construir sobre
os sujeitos que atende/atenderá, as
quais poderão subsidiar tomadas de
decisões sobre a vida dessas
pessoas. Além disso, elas
expressam o tipo de compromisso
que se assumiu perante a
sociedade” (Reppold, 2011).
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possa compreender sua realidade, adquirindo assim, uma visão crítica
de si mesmo e do mundo, portanto, uma ação que pode ser
transformadora em si” (Cescon, 2013).
5. Conclusão
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A Cartilha de Avaliação Psicológica do Conselho Federal de Psicologia
(Brasil, 2013), define a avaliação psicológica como:
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Esse planejamento prévio e cuidadoso, preconizado pelo CFP, deve
considerar o contexto histórico e social em que o indivíduo a ser
avaliado, está inserido, a fim de que se possa compreender o que, de
fato, está acontecendo com o mesmo e qual a origem do
comportamento, do pensamento, dos fenômenos psicológicos que
provocaram tal demanda.
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A AP, é compreendida, portanto, como um amplo processo de
investigação, no qual se conhece o avaliado e sua demanda, com o
intuito de programar a tomada de decisão mais apropriada do
psicólogo. Mais especialmente, a avaliação psicológica refere-se à
coleta e interpretação de dados, obtidos por meio de um conjunto de
procedimentos confiáveis, entendidos como aqueles reconhecidos pela
ciência psicológica” (Brasil, 2013).
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Isso, demanda de uma constante
reflexão e aperfeiçoamento de
técnicas e saberes, pois a realidade
é dinâmica, e não se pode esquecer
que o próprio observador tem suas
próprias concepções, que podem
acabar interferindo no fenômeno
que é observado” (Cescon, 2013).
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Todos os que se submetem a uma AP, possuem o direito de saber o que
foi constatado a seu respeito. Em determinadas situações, como é o
caso de concursos públicos, os resultados podem ser fornecidos apenas
por escrito (Nascimento & Resende, 2014).
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No caso do documentos por escrito, o psicólogo deve ter o cuidado
para ser fiel aos resultados da AP, bem como as informações constantes
nesses documentos devem ater-se apenas ao que está sendo avaliado,
principalmente quando estes documentos deverão ser encaminhados
para terceiros, de forma a não expor a vida do avaliando, violando seu
direito à privacidade.
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“A avaliação pode ser um
importante momento de escuta,
uma chance para que o próprio
sujeito possa compreender sua
realidade, adquirindo assim uma
visão crítica de si mesmo e do
mundo, portanto, uma ação que
pode ser transformadora em si
mesma.” (Cescon, 2013)
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Assim:
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Se constitui em fonte de informações de caráter explicativo sobre os
fenômenos psicológicos, visando dar subsídio para trabalhos realizados
nas diversas áreas de atuação do psicólogo, entre elas, saúde,
educação, trabalho, sempre que houver necessidade (Santos, 2011),
contribuindo assim para a evolução do conhecimento na psicologia.
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Imagem disponível em:
https://www.ghc.com.br/noticia.aberta.asp?idRegistro=11504
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
59
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Psicologia, Brasília, 2011.
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PRIMI, R. NASCIMENTO, R.S.G.F. & SOUZA, A.S. Avaliação dos testes
Psicológicos. Em Avaliação dos Testes Psicológicos: Relatório . CDROM
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Conselho Federal de Psicologia, 2004. Disponível em www.pol.org.br .
Acesso: nov, 2018.
65
SANTOS, A. A.A. O possível e o necessário no processo de avaliação
psicológica. Ano da Avaliação Psicológica – Textos Geradores. Conselho
Federal de Psicologia, Brasília, 2011.
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