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Descrição
Propósito
Objetivos
Módulo 1
A história antiga
Módulo 2
Vestígios e documentos
Identificar documentos e vestígios investigáveis em história antiga.
Módulo 3
Introdução
A Revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (RIHGB) foi
lançada no país em 1839. Muitos historiadores argumentam que
esse periódico foi um dos movimentos mais importantes para a
formalização da pesquisa histórica no Brasil, razão pela qual
continua sendo um documento bastante examinado.
Não deixa de ser curioso que, em seu Tomo I, tenha sido publicado,
além de estatutos, atas e outros registros da instituição, o relatório
de uma expedição científica encomendada pelo próprio IHGB para
elucidar a misteriosa inscrição na Pedra da Gávea, localizada na
capital do Rio de Janeiro. Aquela inscrição poderia mudar a história
do país.
Reprodução da inscrição na Pedra da Gávea, no Rio de Janeiro, feita por uma expedição
financiada pela RIHGB.
1 - A história antiga
Ao final deste módulo, esperamos que você reconheça a definição de história antiga e sua
historiografia.
Exemplo
Ainda que o nome desse continente seja de origem grega, como bem
mostrou o historiador francês Jacques Le Goff, a época em que se deu a
gênese da Europa como realidade e representação é a Idade Média (LE
GOFF, 2007, p. 28). Em outras palavras, a noção de unidade associada
ao continente europeu, talvez uma quimera até os dias de hoje, não
existiu na Antiguidade.
Usos do passado
Muitas pessoas têm dificuldade para entender como a história pode
mudar; afinal, os acontecimentos do passado não podem ser alterados.
Tal dificuldade é criada pelo fato de muitos não distinguirem a disciplina
história do passado, seu principal foco de interesse.
História não é sinônimo de passado, ainda que muitas vezes ela assim
ressoe. É precisamente por isso que a história muda sem que o passado
se altere.
Por vezes:
Essas leituras não são apenas subjetivas, mas também podem estar no
núcleo de intensas disputas políticas.
Saiba mais
Mas não deixa de ser curioso que um episódio similar, que também
relatava um gigante de um olho só com hábitos antropofágicos, seja
conhecido desde a Grécia Antiga:
A Odisseia expand_more
Sua navegação pelo Mar Mediterrâneo durou uma década por
força de um acontecimento inusitado: em determinado momento,
quando estavam quase sem suprimentos, o herói e seus
companheiros aportaram em uma ilha tão próspera e fértil que
nem era preciso plantar para tudo dar: “Tudo cresce e dá fruto
sem se arar ou plantar o solo”.
Não é equivocado supor que esse encontro hostil com os nativos norte-
americanos tenha sido narrado com elementos tradicionais da história
de Odisseu, o herói navegador com quem o próprio Colombo quis se
associar. Ambos teriam enfrentado os perigos no mar e gigantes
antropofágicos para a defesa de uma causa maior:
Idade Antiga
Idade Média
Idade Moderna
Idade Contemporânea
Na sequência assim ordenada, em que ponto “nossa” história, com
meros 500 anos, poderia estar alocada? Não tivemos Antiguidade ou
Idade Média? As populações que viviam no Brasil antes dos europeus
têm direito à história? Caso tenham, seria correto dizer que a “história
antiga do Brasil”, que eventualmente terminaria em 1500, teria ocorrido
enquanto a Europa atingia a Idade Moderna?
Qualquer tentativa de solução gera alguma defasagem,
pois essa forma de organizar o tempo, que se ajusta ao
passado europeu, foi assimilada por nós graças à
imensa simpatia que nossas elites coloniais
mantiveram com o Velho Continente.
Saiba mais
Em 2015, o termo “catilinárias” chamou a atenção do público por ter sido
usado pela Polícia Federal para designar a operação que levou à cadeia,
entre outros, o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo
Cunha (MDB). Catilina, político romano de origem patrícia do século I
a.C., foi acusado pelo orador e cônsul romano Marco Túlio Cícero de
conspiração.
Para que você entenda melhor, vamos citar um exemplo. Há, pelo menos,
200 filmes produzidos pelo cinema internacional apenas sobre
Cleópatra, rainha egípcia do século I a.C. conhecida, entre outras coisas,
por seu poder político.
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Última flor do Lácio
Neste vídeo, apresentaremos o poema Última flor do Lácio do poeta
Olavo Bilac.
Exemplo
A democracia, de fato, se consolidou na Atenas Clássica, mas ela é
bastante diferente das democracias dos séculos XX e XXI.
Dizer que a democracia nasceu em Atenas não resolverá muita coisa se
o debate terminar na mera informação. Essa talvez seja a melhor de
todas as razões que temos para se estudar a história antiga:
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Pesquisando em história antiga
Neste vídeo, contaremos a história da Ilíada e como a história foi
investigada ao longo do tempo no Brasil.
Questão 1
C
é necessário reconstruir o passado, contando a
absoluta verdade como ele era.
Questão 2
C
a história da humanidade é única, estando sempre
voltada para as civilizações mais desenvolvidas.
2 - Vestígios e documentos
Ao final deste módulo, esperamos que você identifique documentos e vestígios investigáveis
em história antiga.
Ferramentas
Armas
Edifícios
Cerâmicas
Pinturas
Túmulos
Vestimentas
Textos escritos
Não parece razoável admitir que nós, seres humanos, a partir de nossos
corpos, devamos ser avaliados com as mesmas diretrizes utilizadas para
a análise de objetos ordinários, como joias ou latrinas.
O papel de Atenas
A rica senhora ateniense
Quando lemos uma peça do teatro grego, certamente estamos diante de
um discurso autêntico. Os gregos antigos conheciam Medeia, Édipo,
Héracles, Alceste, Clitemnestra e outras famosas personagens que nos
ajudam a entender suas concepções de mundo e até aspectos da vida
cotidiana deles.
Não foram encontrados indícios de que ela tivesse tido doenças, traumas
ou hipertrofia muscular significativa. Descobriu-se ainda que alguns
ossos não pertenciam a ela nem a qualquer animal encontrado.
Como as tumbas do período são bem menos ricas, é possível que fosse
esposa de um rei, sacerdote ou algum sujeito rico e influente para
garantir um fausto banquete para honrar a esposa e seus filhos tão
aguardados (afinal, as gestações costumavam acontecer antes mesmo
dos 18 anos).
Até mesmo a avaliação do crânio, feita com recursos que Lawrence não
dispunha, permitiu a reconstrução facial dessa rica senhora ateniense
por meio de técnicas de desenho forense.
Reconstrução facial da rica mulher ateniense feita com técnicas forenses. Desenho de Graham
Houston, 2001.
Exemplo
Hieróglifos egípcios presentes em tumbas ou tabletes de escrita
cuneiforme oriundos da Mesopotâmia são inequivocamente originais —
milhares, aliás, seguem esperando tradução.
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O detetive O historiador
Vestígio I
Uma marca de sapato no tapete macio que decorava a sala.
Vestígio II
A tampa de uma caneta Montblanc que ele acidentalmente deixou
cair durante a fuga.
Por fim, foi preciso saber que a Montblanc é uma marca cara e,
portanto, inacessível a pessoas mais pobres. Uma pesquisa
simples permitiu identificar que aquela tampa pertencia a uma
caneta com edição limitada no valor de R$21 mil.
Para encerrar a analogia, por mais que todos os indícios tenham sido
considerados, a confirmação do suspeito não se deu apenas pelas
características dos objetos encontrados, mas também por entrevistas,
imagens de vídeos e listas de ingressantes documentadas na portaria.
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O uso e abuso da história antiga
Neste vídeo, faremos um debate sobre o mal uso da documentação e os
desafios e possibilidades no século XXI.
O epínetro de Erétria
Vamos permanecer em Atenas, mas cerca de 420 anos após a morte da
rica senhora. Enquanto ela permanecia enterrada para ser descoberta
somente pelos arqueólogos do século XX, muitas coisas aconteciam na
superfície da cidade.
Oito anos depois (ou um pouco mais), entre 430 e 425 a.C., um oleiro
produzia uma peça de cerâmica conhecida como Epínetro de Erétria
(THEML, 2000), que também representava, por meio de imagens, a
história de Alceste.
Foto ampliada.
Eurípides não inventou a história, mas é bem possível que tenha dado
um grande incentivo para aumentar sua popularidade.
Alceste expand_more
Esposa dedicada
Ela aceitava sofrer por seu marido e era a melhor das esposas, gloriosa,
dedicada, devotada e corajosa, sabendo ainda ter uma morte honrada.
Boa mãe
Ela também era uma mãe preocupada e atenta observadora das
necessidades do oîkos, ou seja, do espaço doméstico.
Curiosidade
O que torna esse documento ainda mais interessante é o fato de que
aquela parte superior áspera, em forma de escama de peixe, servia para
cardar o fio de lã para a tecelagem, atribuição tradicional dada às
esposas dos atenienses. A forma de telha servia para que a cerâmica
ficasse bem ajustada à coxa da mulher, que a utilizaria sentada para ir
aprimorando o fio.
Como era um trabalho lento, é possível que a dona original dessa peça
tenha ficado horas sentada diante dessa imagem de Alceste, que, de
alguma forma, a fazia lembrar o tempo inteiro que tipo de esposa ela
deveria ser: a que dá a vida em favor de seu marido.
Mas essa não parece ser a pergunta mais interessante. Hoje em dia, por
força da historiografia vinculada a questões feministas, os debates
acerca das relações de gênero se tornaram necessários e inescapáveis.
Não há dúvidas de que a imagem sugere um esforço pedagógico do
provável marido que a presenteou com o epínetro para ajustar a esposa
à ideologia masculina. No entanto, se ela se comportasse como
esperado pelos homens, para que insistir tanto nesse discurso?
Questão 1
Questão 2
Óstrakon expand_more
Óstraco com o nome de Címon, estadista ateniense condenado ao exílio (486 ou 461
a.C.). Ancient Agora Museum in Athens.
Katádesmoi expand_more
Outro uso bastante inusitado da escrita no período clássico de
Atenas é atestado pelos chamados katádesmoi, pequenas
lâminas de chumbo utilizadas para fazer imprecações.
Depositadas em frestas nas paredes das casas dos inimigos ou
em corpos enterrados nos cemitérios, esse expediente buscava
causar mal ao adversário por meio de fórmulas mágicas escritas.
Defixiones expand_more
Defixio localizado na Inglaterra com maldição dirigida a Tretia Maria. Século II d.C.
Acervo do Museu Britânico.
Romanos e a identidade pela escrita
A desconfiança que os gregos nutriram por séculos em relação à escrita
não teve o mesmo eco em Roma. Seria equivocado, contudo, imaginar
os romanos como uma sociedade que dependesse em última instância
do saber escrito.
Famoso filósofo e político, Marco Túlio Cícero seguiu sua vida pública
(cursus honorum) com uma oratória fina e bem-posta. A maioria dos
cidadãos do Império, na cidade e no campo, era iletrada, mas isso não
lhes gerava grande dificuldade.
Construída para armazenar 12 mil rolos de papiro, ela foi financiada com
recursos do próprio Celso, que também foi sepultado no local.
Reprodução do verso da nota turca que circulou entre 2001 e 2005 com a imagem da Biblioteca
de Celso.
A coluna de Trajano à esquerda e inscrição na coluna com exemplo das letras que se
desdobraram na família romana das tipografias modernas à direita.
Saiba mais
As inscrições nas paredes são chamadas de grafites justamente em
função do instrumento usado na escrita da época, o graphium, que
possuía uma ponta dura que permitia o desenho das formas desejadas.
A escrita traçada nas paredes (graphio inscripta) era muito mais comum
do que os vestígios que sobreviveram podem sugerir: além de efêmeras,
as paredes não costumam permanecer intocadas por séculos.
Escrita egípcia.
Essa lógica também pode ser observada nos dias atuais: há questões
que comunicam de forma muito mais eficiente por imagem do que por
texto. Por exemplo, a fotografia de uma criança com fome não comunica
a mensagem da mesma forma que um discurso escrito o faria por mais
minucioso e detalhista que ele fosse.
Exemplo
Um áureo, moeda com grande quantidade de ouro no século I a.C., não
chegava às mesmas mãos que faziam circular os denários de prata pela
cidade latina.
Como lembra Paulo Martins (2011, p. 54), Roma vivia em 49 a.C. uma
grave crise econômica provocada pelas guerras civis. Para intervir no
problema, o então imperador Júlio César iniciou uma reforma monetária
que visava restringir o entesouramento do dinheiro, aumentando a
circulação de moedas.
No entanto, ainda que haja alguns traços regulares, a aparência dela não
é nada similar à de outras estátuas, como aquela na qual o imperador
está representado como o poderoso deus Júpiter, na que figura como um
general montado em seu cavalo (ainda que jamais tenha participado de
batalhas) e até mesmo na que está representado como como um faraó
seguindo a famosa lei da frontalidade, como se vê em uma parede do
templo egípcio de Kalabsha, na Núbia.
Discursos em imagens
A documentação escrita que chegou até nós, salvo algumas exceções,
costuma representar as aspirações e as visões de mundo das elites.
Como vimos, saber ler e escrever, ainda que não fosse uma exigência
para a vida prática, costumava ser um privilégio das elites em boa parte
do mundo antigo.
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A iconografia do poder no mundo
antigo
Neste vídeo, abordaremos o estudo da construção das iconografia de
poder, pensando em imperadores, reis dos reis e faraós.
Questão 1
Questão 2
“O documento não é inócuo. É, antes de mais nada, o resultado de
uma montagem, consciente ou inconsciente, da história, da época,
da sociedade que o produziram, mas também das épocas
sucessivas durante as quais continuou a viver, talvez esquecido,
durante as quais continuou a ser manipulado, ainda que pelo
silêncio.”
Considerações finais
Como fechar um assunto tão complexo? Com um exemplo provocativo:
a história antiga não é a história restrita de um passado que deve ser
buscado como origem do homem. Ela integra, na verdade, parte dos
imaginários construídos das sociedades ocidentais de que fazemos
parte.
Explore +
Vamos ver alguns documentos que nos ajudam a entender a história
antiga: