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História

Como Estudar História? Métodos e Sugestões

Teoria

O que é História para você?


Como definiu o historiador francês Marc Bloch, a história é uma ciência que estuda os seres humanos e suas
ações no tempo. Seja através dos aspectos políticos, culturais, econômicos ou sociais ou até mesmo
utilizando fontes como memórias, filmes, documentos oficiais ou livros, o historiador, ao fim, tem como
interesse fundamental as relações humanas e as suas contradições.
Assim, as fontes que falam sobre o passado podem ser múltiplas e hoje, para o historiador, nada é
descartável. Podemos citar como exemplo o próprio impacto das chamadas Fake News no desenrolar de
questões políticas e sociais na contemporaneidade, pois, se um historiador rejeita uma fonte histórica por
não ser legítima ou por não contar “uma verdade”, ele descarta também uma série de indagações que
poderiam ser feitas ao documento, afinal, qual seria o propósito da mentira? O que teria levado alguém a
falsificar um documento? Qual história o falsificador queria contar?

Cena do filme "O capital no século XXI", uma referência ao lema da Revolução Francesa, porém com o nome da cantora Beyoncé.
Disponível em: http://variluxcinefrances.com/2020/filmes/o-capital-no-seculo-xxi/

Posto isso, hoje, podemos considerar uma grande quantidade de fontes para estudar o passado, entre filmes,
fotografias, estatísticas, lendas urbanas, documentos, roupas, marcas, livros, tecnologias etc. Para utilizar
essas fontes e interpretar o passado, construindo uma narrativa, o historiador, portanto, deve sempre indagar
tais fontes e levantar questões e problemas postos pelo presente de forma crítica.

A questão do anacronismo também é fundamental ao se estudar história, pois, ao olhar para o passado,
estamos sempre presos às convenções e aos problemas do presente, no entanto, ao estudar a história
devemos sempre compreender o tempo através de suas próprias características, sem impor valores pessoais
ou contemporâneos ao passado, pois este seria um olhar anacrônico. Um outro problema que também deve
ser evitado para uma melhor compreensão do passado é o etnocentrismo.

Essa prática, muito comum, acaba levando estudantes e historiadores a compreensões muitas vezes
preconceituosas sobre uma determinada sociedade de um tempo. Afinal, definir que um grupo seria atrasado
comparado ao outro, ou hierarquizar etnias e civilizações coloca mais uma vez a imposição de valores
pessoais sobre o passado, desrespeitando uma outra característica fundamental da história, que é a

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relatividade do tempo e a sua não-linearidade. Diferentes sociedades possuem diferentes formas de se


desenvolver e de lidar com o mundo e com a sua história, logo, isso também deve ser levado em conta ao
estudarmos o passado.

A divisão da História em períodos


Assim, tendo em vista essas questões fundamentais sobre o estudo da história e tendo em mente que hoje
os historiadores trabalham com uma ideia de história não linear, ou seja, sem uma noção de “início, meio e
fim” e nem comparações entre o tempo histórico de diferentes grupos, vale destacar que, para fins didáticos,
ainda realizamos uma divisão linear e cronológica da história no ocidente. Deste modo, o estudo da história,
sobretudo não acadêmico, continua impregnado por uma visão eurocêntrica e limitada do tempo, mas que,
apesar de ser muito criticada, por fim, auxilia na compreensão cronológica dos fatos estudados.

Visto isso, um dos pontos fundamentais dessa cronologia, para as tradições ocidentais, seria o nascimento
de Jesus Cristo que, para uma civilização historicamente cristã, esse é o momento mais importante da
humanidade. Logo, seguimos esta orientação independente de outras religiões. Essa escolha, apesar de muito
baseada também em aspectos astronômicos, revela como as relações de poder influenciam na maneira
como a história é contada.

Desta forma, ainda classificamos os séculos de acordo com períodos que se iniciam e terminam com eventos
que tiveram grande poder de ruptura com o passado e que proporcionaram mudanças na própria estrutura da
sociedade ocidental.

Pré-história Idade Antiga Idade Média Idade


Idade Moderna Contemporânea

400 a.C. 476 d.C. 1453 d.C. 1789 d.C.

Invenção da Queda do Império Queda de Revolução


escrita Romano Constantinopla Francesa

Linha do tempo histórico utilizado pela cultura cristã ocidental.

Pré-História
Período que trata das sociedades anteriores ao domínio da escrita. Essa nomenclatura é muito questionada
atualmente já que traz, implicitamente, que os povos sem escrita não teriam história.

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Idade Antiga
A Idade Antiga se iniciou com as Civilizações da Antiguidade Oriental, as primeiras a desenvolverem um
código escrito. A Idade Antiga se inicia em aproximadamente 4 mil anos a.C., com civilizações como os
egípcios, os persas, os babilônios, etc, além da chamada Antiguidade Clássica, período em que se
desenvolveram as civilizações grego e romana.

Idade Média
O período chamado de Idade Média durou aproximadamente mil anos. Ele se iniciou com a queda do Império
Romano do Ocidente e se encerrou em 1453 com a Tomada de Constantinopla. É nele que estudamos o
Feudalismo, período de fortalecimento da Igreja Católica.

Idade Moderna
A Idade Moderna se iniciou no século XV, período de transição do feudalismo para os Estados Nacionais
Modernos. É um dos períodos mais cobrados nos vestibulares e costumamos caracterizá-lo, na Europa, como
o período do Antigo Regime. Ele encerra com a Revolução Francesa em 1789.

Idade Contemporânea
A Idade Contemporânea se iniciou com a Revolução Francesa, contexto no qual muitos
dos pilares da sociedade que vivemos hoje são fundados. Os acontecimentos dos
séculos XIX, XX e XXI, incluindo os atuais, estão inseridos no que chamamos de Idade
Contemporânea.

Sendo assim, pela contagem do calendário Cristão, estamos no período conhecido


como o século XXI Depois de Cristo (d.C.). Para a contagem dos séculos, basta
observarmos o ano escolhido e separar os dois últimos algarismos. No caso de uma
data que termine com dois zeros, por exemplo, 1800, eliminam-se os zeros, sobrando
apenas o 18, logo, 1800 é o século XVIII. No entanto, se os dois últimos algarismos não
forem zero, eles também podem ser riscados, mas, desta vez, acrescentamos +1 aos dois primeiros, assim,
1802, por exemplo, seria século XIX (1802 / +1 ou 1835 / +1). Lembrando que os séculos, em história, são
sempre escritos usando os algarismos romanos: I, II, III, IV...

Deste modo, vale reforçar que, apesar da cultura cristã ocidental utilizar essa forma como padrão para
estudar, classificar e entender o passado, existem outras culturas, no entanto que, lidam com a história de
outras formas. No caso judaico, por exemplo, o calendário está sempre 3.761 anos “a frente” do calendário
cristão, enquanto o muçulmano, ao contrário se inicia no que consideramos o ano 622, que marca a fuga de
Maomé para Medina. Também podemos destacar que alguns povos africanos e nativo-americanos, diferente
destes outros, preferem compreender o tempo muito mais pela oralidade do que pela escrita, logo, também
se relacionam com o passado e com a passagem do tempo de outra forma.

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Eixos temáticos
Como muitas vezes os períodos históricos são muito abrangentes, entre os historiadores acadêmicos, ainda
existe a análise histórica focada em eixos temáticos que são divididos da seguinte forma:

Cultura
A cultura dentro do estudo histórico ajuda a compreender a vida dos operários, camponeses e artesãos, assim
como das elites, já que este conceito abrange comportamentos sociais em um determinado contexto e região.
Com o conceito de cultura, podemos abordar assuntos como a religiosidade, a arte, os hábitos cotidianos,
mentalidades, etc. É importante lembrar que as culturas não devem ser hierarquizadas, ao contrário disso, a
valorização da pluralidade de culturas é um caminho para a construção de um conhecimento que respeite a
diversidade das sociedades.

Política
Geralmente associamos o conceito de política aos governantes e tendemos a pensar em um passado recente.
No entanto, a política é tão antiga quanto à humanidade, já que este conceito se relaciona à ideia de poder e
de administração das relações humanas em grupo, ou seja, desde que os homens começaram a viver em
grupo e tomaram consciência de sua existência, existiam atos políticos. O estudo da política nos ajuda, assim,
a compreender que poderes são instituídos em cada conjuntura histórica e, claro, como se relacionam com o
restante da sociedade.

Sociedade
O estudo da sociedade nos ajuda a compreender como nos organizamos no decorrer da história. As formas
de organização social se transformam ao longo do tempo, assim como variam muito de região para região. É
importante relacionar o conceito de sociedade com o de cultura e de política, já que estão em permanente
diálogo.

Economia
O estudo da economia está associado às relações de produção e troca. Ou seja, debruça-se sobre as
atividades produtivas e as relações a elas associadas. A forma como os indivíduos produzem traz, sem
dúvidas, inúmeros impactos sobre as demais relações sociais. Assim, um estudo da economia é fundamental
para compreensão de seus impactos das sociedades humanas em diversos contextos históricos.
Dentro cultura ocidental cristã, a divisão do tempo em períodos históricos também possibilita a compreensão
histórica através de três categorias: a estrutura (longa duração), a conjuntura (média duração), e os fatos
históricos (curta duração), propostos pelo historiador francês Fernand Braudel.
Essas três categorias também permitem olhar um determinado tempo através de uma mudança de escalas,
facilitando assim a compreensão. A estrutura de um tempo histórico seria, por exemplo, as coisas que
demoram muito a passar, que estão consolidadas em uma determinada sociedade, sem sofrer grandes
rupturas, um exemplo seria o capitalismo na idade contemporânea, ou o feudalismo durante a Idade Média.
A ruptura com essas estruturas normalmente marca momentos revolucionários de uma sociedade ou o início
de uma nova fase e, geralmente, estão associadas a aspectos econômicos.

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Já a conjuntura, seria algo que também é lento, mas que não tem raízes tão fortes e por isso acaba sofrendo
mais com a ação dos homens, como, por exemplo, as questões culturais e sociais. Podemos citar como
conjunturas de um determinado período o renascimento artístico, a reforma protestante ou o período de
formação dos Estados Totalitaristas no início do XX.

Por fim, a curta duração seriam os conhecidos fatos históricos, de percepção imediata e extremamente
instáveis, podendo sofrer alterações diretas pelas ações humanas. Geralmente, o que definimos como curta
duração se relaciona com os acontecimentos políticos, fatos históricos como revoluções, golpes, atentados,
pequenas guerras, campanhas militares, grandes eventos e coisas que mudam rapidamente.

Pesa a visão: Não esquece que a história não acontece de forma beeem separadinha, porque ela é igual a
nossa vida: tudo junto e misturado. Além disso, abandona essa ideia de que para estudar história é preciso
gravar datas e nomes. De que forma a História tem interferido na sua história? De que forma você está fazendo
História aí do outro lado da tela? O nosso lema (e o do Enem) é: pensamento crítico, bebê!

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Exercícios

1. (UFRGS 2018) Leia o texto abaixo:


Linguisticamente, a Europa tornou-se o lar dos ‘arianos’, falantes de línguas indo-europeias advindas
da Ásia. A Ásia Ocidental, por outro lado, foi o lar dos povos nativos de línguas semitas, um ramo da
família afro-asiática que inclui a língua falada pelos judeus, fenícios, árabes, coptas, berberes, e muitos
outros do norte da África e Ásia. Foi essa divisão entre arianos e outros, incorporada mais tarde nas
doutrinas nazistas, que, na história popular da Europa, tendeu a encorajar o subsequente menosprezo
das contribuições do Oriente para o crescimento da civilização.
GOODY, Jack. O roubo da história. Como os europeus se apropriaram das ideias e invenções do Oriente. São Paulo: Contexto,
2015. p. 38-39.

Assinale a alternativa que indica a visão de mundo aludida no texto.


a) Antropocentrismo
b) Eurocentrismo
c) Paganismo
d) Isolacionismo
e) Humanismo

2. (UEA 2013) As ciências, as técnicas, as instituições políticas, as ferramentas mentais, as civilizações


apresentam ritmos próprios de vida e de crescimento.
(Fernand Braudel. Escritos sobre a história, 1969. Adaptado.)
No fragmento, o historiador Fernand Braudel critica a classificação da história em grandes períodos
unificados e homogêneos, ao ressaltar que
a) a mudança histórica é orientada pelas concepções que os homens têm da política, da sociedade
e da economia.
b) as sociedades humanas seguiram, a partir da Revolução Industrial, um mesmo modelo de
transformação histórica.
c) as artes, a cultura e a tecnologia modificam-se, diferentemente dos fatos políticos, de maneira
muito semelhante.
d) a existência social dos homens é múltipla e que os elementos que a compõem modificam-se de
forma desigual no decorrer do tempo.
e) a economia é a determinação mais poderosa na vida dos homens e que a história da humanidade
é impulsionada pelas novidades técnicas.

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3. (Enem 2010) A política foi, inicialmente, a arte de impedir as pessoas de se ocuparem do que lhes diz
respeito. Posteriormente, passou a ser a arte de compelir as pessoas a decidirem sobre aquilo de que
nada entendem.
VALÉRY, P. Cadernos. Apud BENEVIDES, M. V. M. A cidadania ativa. São Paulo: Ática, 1996.

Nessa definição, o autor entende que a história da política está dividida em dois momentos principais:
um primeiro, marcado pelo autoritarismo excludente, e um segundo, caracterizado por uma democracia
incompleta. Considerando o texto, qual é o elemento comum a esses dois momentos da história
política?
a) A distribuição equilibrada do poder.
b) O impedimento da participação popular.
c) O controle das decisões por uma minoria.
d) A valorização das opiniões mais competentes.
e) A sistematização dos processos decisórios.

4. (Vunesp 2013) O desenvolvimento do capitalismo provoca transformações. Ao se expandir, o


capitalismo encontra espaços com peculiaridades sociais, políticas e culturais diante das quais precisa
adaptar-se para lograr sua implantação. Flexível, o capitalismo assume, por conseguinte, colorações
diversas sobre a superfície do planeta, conservando e/ou dando novos significados a certos aspectos
das diferentes culturas.
(Marcos Lobato Martins. In: Carla Bassanezi Pinsky (Org.). Novos temas nas aulas de História, p. 138)

O trecho apresentado ressalta a renovada importância da História


a) regional.
b) política.
c) institucional.
d) ambiental.
e) demográfica.

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5. (UEMA 2020) A sociedade brasileira passou por muitas mudanças em relação às mulheres. As
pesquisas históricas nas últimas décadas têm mostrado a participação feminina em todos os
acontecimentos de nossa história. Analise as imagens a seguir.

Debret. O Jantar. c.1820. Disponível em: Foto oficial da seleção brasileira feminina para Copa do
https://ensinarhistoriajoelza.com.br/stj/wp- Mundo de 2019/CBF. Disponível em:
content/uploads/2015/11/Jantar_Debret.jpg https://www.cbf.com.br/selecao-
brasileira/noticias/selecao-feminina/selecao-brasileira-
feminina-faz-foto-para-a-copa-do-mundo-2019

Com base nas imagens e nos estudos históricos, compare a condição feminina, no Brasil, explicando
duas mudanças dos papéis sociais femininos concernentes ao período colonial e à atualidade.

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Gabaritos

1. B
O texto destaca como se deu o processo de construção linguística de uma Europa ligada essencialmente
ao arianismo, apontando que sua formação remete a aspectos culturais do Oriente que foram sendo
renegados ao longo do tempo. Além disso, o autor ressalta a fabricação do modus operandis da cultura
cristã ocidental baseado em uma dicotomia entre nós (europeus) e eles (tudo aquilo que não é europeu),
ou seja, apontando para uma visão eurocêntrica de mundo.

2. D
O autor aponta pra um aspecto importante do estudo de história: a não linearidade. Segundo o trecho, é
possível perceber que para ele os aspectos que compõem a história não podem ser vistos de forma
homogênea e nem evolucionista, uma vez que cada sociedade possui o seu próprio ritmo de crescimento
e tempo histórico.

3. C
Para o autor, a política está ligada a dois processos que possuem um denominador em comum: a
manutenção do poder na mão de uma minoria. Se em um primeiro momento a população era impedida
de participar ativamente da política, no segundo momento, ele aponta para o fato de que é permitida a
participação do povo, porém em um processo que elas não sabem como funcionam plenamente, em
ambos facilita-se o controle do poder político por parte de uma minoria.

4. A
O capitalismo pode ser considerado uma conjuntura histórica, que, de acordo com o autor do trecho,
encontra peculiaridades provenientes de cada região, sociedade e cultura e, portanto, precisa encontrar
formas de se adaptar a essas diferenças para lograr sucesso.

5. Analisando as imagens é possível perceber uma diferença gritante entre os períodos apontados, tanto
socialmente quanto racialmente. Na primeira imagem, a mulher branca é representada dentro do período
colonial em um ambiente familiar aonde sua função era de subserviência ao homem e a organização do
lar. Dentro do mesmo contexto, a mulher negra é representada como uma escravizada ao dispor de seus
donos. Já a segunda imagem, apresenta as mulheres ocupando um espaço que até pouco tempo era
considerado, essencialmente, masculino. Outro fator que podemos apontar na segunda figura, é que
essas mulheres estão em pé de igualdade entre elas, ainda que possamos fazer diversas ressalvas,
diferentemente da primeira imagem que existia uma evidente hierarquização.

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