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Universidade Federal de Uberlândia

Instituto de Economia e Relações Internacionais


Graduação em Relações Internacionais
História das Relações Internacionais II

CARVALHO, Beatriz (11711RIT006)


CRUVINEL, Victória (11711RIT036)
GOULART, Jessica (11711RIT003)
SAMPAIO, Anna Clara (11711RIT007)
VANCIM, Lucca (11711RIT045)

Bibliografia: The Twentieth-Century World - Capítulo 10 - Detente and Multipolarity


(1962-1975) (William R. Keylor)

Introdução

Durante a Crise dos Mísseis em Cuba em 1962, os Estados Unidos eram o único país
passível de ser considerado uma potência global, pois só ele era capaz de exercer influência
decisiva em qualquer lugar do mundo à época, sem contar sua preponderância econômica,
que era indisputável. No início dos anos 60, a influência política do país, que já estava
firmada desde o final da década de 40 sobre a parte Ocidental europeia, estendeu-se para
nações de Terceiro Mundo, sob o discurso de ajuda estrangeira. Dessa forma, os EUA podiam
contar com o apoio da maioria na Assembleia Geral das Nações Unidas, além do apoio de
seus três leais e membros permanentes do Conselho de Segurança aliados.
Basicamente, a posição política estadunidense cresceu drasticamente entre os países
não comunistas até meados da década em questão. A retórica de Kennedy deu um tom ainda
melhor à política externa do país do que aquela posta por Eisenhower e Dulles. Havia um
comprometimento em promover a modernização do Terceiro Mundo e a tentativa de garantir
que as reformas socioeconômicas do mundo em desenvolvimento, que deveriam ser
aceleradas pelos programas de ajuda dos EUA, fossem feitas de forma evolutiva e não
revolucionária. Este aspecto da política americana era bastante atrativo às elites dos países em
desenvolvimento, que temiam o acontecimento de uma revolta.
Enquanto os EUA se portavam como os responsáveis por reformas sociais pacíficas e
modernização econômica durante a primeira metade dos anos 60, URSS deixou a crise dos
mísseis cubana como aquele que não estaria firmemente ao lado de seus aliados quando a
situação ficasse mais difícil. Mesmo que brevemente, parecia que EUA estavam vencendo
aquilo que o Presidente Kennedy carinhosamente gostava de chamar de competição “pelos
corações e mentes dos povos não desenvolvidos e não comprometidos do mundo”.

Arms Control and Strategic Parity

A URSS era uma ameaça à supremacia global americana, apenas no setor militar. O
alarme tratava sobre um “missile gap”, um conjunto de mísseis, a URSS tinha o primeiro
míssil balístico intercontinental em agosto, e em outubro de 1957 lançou ao espaço o
primeiro satélite terrestre, Sputnik. Essa capacidade tecnológica da União Soviética era além
do que os norte americanos estimaram. Em dezembro do mesmo ano, os EUA lançaram o
Atlas ICBM, e nos anos 60 tinham um arsenal estratégico de 50 mísseis contra 35 da URSS.
Eisenhower foi surpreendido por Khrushchev que se humilhou ao assumir as falhas das
exigências estratégicas soviéticas, que estavam inflacionadas. Khrushchev, atento para
avançar nas áreas defensivas americanas na Eurásia, implantado um sistema de armamento
soviético em Cuba, demonstrou um desespero para retificar essa estratégia que desequilibrava
em uma pancada decisiva. As condições humilhantes do refúgio soviético em Cuba causou
um efeito que não se esperava, acabou-se então se estabelecendo entre as duas superpotências
uma balança de poder nuclear mais estável. A crise cubana revelou para o mundo a
inferioridade militar soviética. O bloco comunista estava, novamente, buscando revigorar a
URSS, nesse momento, a China se sentiu motivada a estabelecer sua liderança e
desvincular-se do mundo soviético. Além da exaltação de Khrushchev aos olhos do grupo
militar soviético e seus aliados nas lideranças civis, aconteceu o aumento da insatisfação
interna que eventualmente a direcionava para a queda. O fracasso cubano resultou na adoção
de duas estratégias: uma diplomática, que estabeleceu a coexistência pacífica com o bloco
ocidental e buscava minimizar a possibilidade de um confronto nuclear; e a outra, uma
estratégia militar, previa uma ação de longo prazo, que começaria no meio da década de 50 e
poderia ser variada de acordo com as razões domésticas para transformar a Rússia em um
poder terrestre, marítimo e aéreo capaz de defender seus interesses em qualquer lugar no
mundo. A pior consequência da política de coexistência pacífica estava na estratégia de
controle das armas. O final da Segunda Guerra Mundial trouxe vários debates sobre o
desarmamento nuclear, que foram conduzidos pelas Nações Unidas e os resultados periódicos
de Washington e Moscou. Ao final da reunião da Comissão de Energia Atômica das Nações
Unidas sob o domínio norte-americano, que se tornasse responsável pelas bombas atômicas e
não permitiria que outro país produzisse armas nucleares. E desta forma, o Oeste Europeu
não teve chance de exercer nenhuma autoridade real.
Porém, comprovou-se ser impossível o desarmamento das superpotências quando veio
à tona a crise dos mísseis cubanos que levou os dois lados a buscar um objetivo mais modesto
e acessível e, União Soviética; Estados Unidos e Grã Bretanha assinaram um tratado banindo
testes nucleares na atmosfera e no mar. Em 1967, essas 3 nações com a França concordaram
em estabelecer um espaço livre para armas nucleares. Ao final desse ano, a América Latina
declara como zona livre para testes nucleares pela maioria dos estados membros, com
aprovação de Washington e Moscou.
Quando a União Soviética cooperou com outras nações para impor limites à corrida
de armas nucleares, possuía uma meta estratégica para alcançar os EUA. Com o tempo
conseguiu se equiparar a nação norte americana em questões militares fazendo com que um
não houvesse uma hegemonia de apenas um país, com a URSS ascendendo posteriormente.
Ao final da década de 60, a limitação das lacunas estratégicas entre as duas
superpotências estimulou a primeira negociação do controle de armas, bem sucedida, após o
início da Guerra Fria. Porém, a escalação americana ao Vietnã o conflito Árabe-Israelense e a
intervenção soviética na Tchecoslováquia, balançaram as relações entre Washington e
Moscou. Por uma complexa série de razões políticas e economicas, Nixon e Brezhnev,
tinham desenvolvido simultaneamente , uma apreciação de várias vantagens que eram
favoráveis para ambos os lados, o que acalmou as tensões.
O acordo relativo a controle de armas em estratégias de artilharia foi assinado em 26
de maio de 1972, dois anos após o início das negociações. O problema é que com o
desenvolvimento de um sistema de proteção antimíssil (ABM) o equilíbrio entre as duas
potências poderia ser afetado. Caso uma das potências desenvolvesse um projeto mais
qualificado que a outra isso proporcionaria uma maior proteção do seu território o que gera
una maior motivação para programar um ataque sem medo da retaliação.
Sendo que essa possível consequência não se adequaria aos objetivos do SALT I. O
SALT I possuía como premissa preservar a estabilidade das estratégias de equilíbrio de poder
pela redução de incentivos ao conflito por meio de estabelecimento de políticas e estratégias
que protegessem a central de comando e o território de ambos os Estados, pois diminuiria o
medo do ataque e os anseios da retaliação. Apesar da consolidação do SALT I os EUA
conseguiu manter-se em vantagem com relação ao número de bombas de longo alcance que
guardava em seus arsenais. É importante ressaltar que apesar de alguns fatores que causaram
um pequeno desequilíbrio na balança de poder do sistema bipolar na Guerra Fria que não
puderam ser evitadas pelo SALT I não tirou o mérito desse acordo ser o primeiro a consolidar
uma efetiva conscientização de que era necessário refrear a corrida armamentista nuclear.
Desse modo, foi ratificado em 24 de novembro de 1974 o SALT II que tinha como objetivo
reparar o que não havia sido consolidado pelo SALT I. Durante a década de 60, 3 fatores
contribuíram para a dissolução de forma gradativa do sistema bipolar internacional. O
primeiro fator a ser considerado é a consolidação dos EUA independentes no terceiro mundo
que tinham como política a postura de “não alinhamento”. O segundo fator é o crescimento
de posturas de caráter independente por parte dos Estados Europeus que começaram a
negociar tanto com uma potência quanto com a outra com o intuito de reduzir os riscos de
conflito nuclear. E o terceiro fator é referente deserção da China em relação ao bloco
comunista o que fez emergir com mais força independente no sistema internacional.

France’s Assault on the Bipolar World

O retorno de Charles de Gaulle ao poder, na França, em junho de 1958, representou


um desafio à posição hegemônica dos Estados Unidos na Europa ocidental, levando ao
reaparecimento da política de guerra de retaliação do antigo presidente Roosevelt. Em face da
incapacidade de controlar uma insurreição da maioria árabe na Algéria (colônia francesa no
norte africano), o líder francês desocupou não só o território algeriano, bem suas demais
possessões coloniais na África. No ano de 1962, a França havia concluído, virtualmente, seu
doloroso processo de descolonização, enquanto uma reorganização constitucional instaurou
autoridade nas mãos de um chefe executivo. Esses eventos livrou a França dos fardos
políticos e coloniais de seu passado e preparou o terreno para uma série de iniciativas
diplomáticas que convergiam ao objetivo de de Gaulle desde o fim da Segunda Guerra
Mundial: a criação de um bloco europeu político, econômico e estratégico, agindo como uma
terceira força no cenário internacional independente dos Estados Unidos e da União
Soviética. Embora o resultado dessa tentativa de independência europeia não tenha atendido
às expectativas, a política externa Gaullista de 1962 a 1969, marcou as relações entre Leste e
Oeste ao afrouxar as amarras da OTAN, assumindo uma posição subserviente em relação à
autoridade americana e seu objetivos globais.
A política externa de de Gaulle derivava de sua insatisfação com a ordem
internacional proposta pelos líderes estadunidenses e soviéticos nas conferências do pós
Segunda Guerra e formalizada nos anos 1950, em meio à Guerra Fria. O líder francês não
tolerava, por uma série de motivos, a divisão da Europa (e de todo o mundo) em um sistema
bipolar sob a hegemonia de duas potências não europeias. Primeiramente, essa ordem
imposta privava os estados independentes do continente europeu da liberdade de ação,
pré-requisito ao status de poder, restando-lhes apenas a condição de protégé. Esse
ressentimento da condição de subserviência alastrou-se pela Europa ocidental que se
recuperara política e economicamente do pós-guerra e do sentimento de vulnerabilidade
instalado nos primeiros anos da Guerra Fria, pela dependência militar e econômica em
relação aos Estados Unidos. Diante disso, a Comunidade Econômica Europeia, formada em
1957, desenvolvia-se rapidamente em um bloco econômico, superando os norte-americanos.
Além do fato de que muitos europeus começaram a questionar essa adaptação ao modelo
imposto, especialmente com o retrocesso da ameaça soviética.
Ademais, a partir da dependência militar da Europa em relação aos Estados Unidos,
explorou-se o sentimento de medo estimulado pela corrida armamentista nuclear, devido ao
interesse secundário, e a relativa proximidade em caso de confronto, dos países europeus em
regiões onde os norte-americanos posicionavam suas bases e instalações de mísseis. Essas
apreensões tinham como base as tensões em Cuba, no Vietnã e as provocações do secretário
de Estado norte americano, Dulles, em relação aos seus armamentos nucleares. No entanto,
do outro lado dessa apreensão, estava a do abandono dos Estados Unidos em caso de um
ataque da União Soviética ao continente. Isso se devia à descredibilidade do juramento de
proteção contra uma ofensiva soviética contra a Europa e da política de massiva retaliação
proposta pelo governo de Eisenhower e alterada sob a administração de Kennedy com
abordagens de uma resposta mais flexível, a qual garantia tempo de planejamento para
retaliação estadunidense, mas por outro lado, alimentava a insegurança dos europeus.
Desde metade da década de 1950, a França vinha considerando meios alternativos de
promover sua defesa. Uma das possibilidades - a qual atenuava o receio de um abandono
norte americano - era a formação de um diretório entre Estados Unidos, Grã Bretanha e
França, que compartilhariam o controle da OTAN e planejariam, conjuntamente, as
estratégias políticas e militares. Com a recusa de Eisenhower, a solução foi a aceleração do
desenvolvimento nuclear francês autorizado pelo governo de de Gaulle, tornando seu país o
quarto membro do clube nuclear.
O Ato McMahon de 1946, nos Estados Unidos, que impedia o governo de ajudar
outros países no desenvolvimento de suas capacidades nucleares, foi modificado em 1957
para permitir o compartilhamento desse tipo de tecnologia com a Grã Bretanha. Entretanto,
isso se aplicava aos britânicos, haja vista a permanência sob as condições e as doutrinas norte
americanas, e, por isso, não se estendia aos franceses, que tinham a clara intenção de
desenvolver por completo uma força nuclear.
Houve, então, uma tentativa do presidente Kennedy de explorar a credibilidade dos
sistemas de lançamento nuclear britânico e francês, a qual fora rejeitada por de Gaulle, visto
que a independência militar da França era incompatível com controle supranacional de seu
armamento nuclear emergente. Finalmente, proposta da Força Nuclear Multilateral, que havia
sido aceita pela Grã Bretanha, fracassou em 1964, devido à relutância dos outros países
pertencentes à OTAN de se oporem à França, por medo de provocar uma crise.
A racionalidade em torno da estratégia da força nuclear francesa era da teoria de
“detenção proporcional” de um antigo general, de acordo com a qual ambos superpotências
requerem uma massiva capacidade devido ao risco de destruição em vista de qualquer
desproporcionalidade. Essa teoria se mostrava em cascata, pois o desenvolvimento da força
nuclear francesa ameaçava o território soviético, cuja provocação poderia acarretar na
retaliação norte-americana.
A formação da Comunidade Econômica Europeia em 1957, seu progresso em direção
à integração econômica e a possibilidade de integrações nos âmbitos político e militar
questionavam a relação com os Estados Unidos. A administração de Kennedy concebeu todo
um melhoramento das relações entre ambos, saudando a comunidade emergente como um
sinal de boas vindas a um aliado valioso, apesar de representar uma ameaça aos seus
interesses comerciais no continente.
Após um pós-guerra marcado por tentativas de imposições punitivas aos alemães, de
Gaulle se opôs à reintegração do estado alemão ocidental ao sistema ocidental em si, por
medo de que um dia sobrepusesse a França. No entanto, nos anos de 1960, uma política de
reconciliação podia ser avistada devido ao fortalecimento de laços econômicos entre os dois
na década de 50, ao ponto de que se tornaram os principais parceiros comerciais um do outro;
bem como à conquista francesa do status de potência nuclear, colocando-o em posição de
superioridade. Diante disso, Alemanha e França firmaram um tratado de reconciliação em
1963, estabelecendo cooperação bilateral em assuntos militares e de defesa do continente
europeu. Isso representava a tentativa do líder francês em formar um sistema de segurança
próprio da Europa ocidental, baseado em sua capacidade nuclear.
Entretanto, a entente franco-germânica não durou muito, devido à reafirmação dos
laços entre Alemanha e Estados Unidos, e a incapacidade de de Gaulle de convencer os
alemães da força de proteção do sistema nuclear europeu frente à ameaça de seu vizinho
soviético. Frustrado, o líder francês continuou provocando uma crise na OTAN, ao expressar
sua insatisfação com gestos de não cooperação, ao recusar o controle tático dos
norte-americanos sobre as armas nucleares em território francês, ao remover a frota francesa
do mediterrâneo da jurisdição e ao desanexar a frota francesa do atlântico do comando do
tratado. Contudo, ainda foi um choque em 1966, quando o presidente francês anunciou sua
retirada do comando militar da OTAN.
Aliado ao desengajamento da OTAN, uma aproximação à União Soviética mostrava a
intenção de de Gaulle em se tornar o representante da relação da Europa Ocidental com o
bloco comunista. A ideia era basicamente que sob dominação francesa, o resto do continente
europeu tomaria uma posição de vantagem para negociação com os soviéticos para resolver
as disputas políticas da Guerra Fria e afrouxar a ameaça no leste europeu.
A manutenção das contribuições francesas à OTAN por meio de acordos especiais fez
com que as consequências de sua saída não fossem sentidas. Ainda, o país manteve
representatividade nos órgãos políticos da aliança e oficiais ligados aos órgãos militares,
provando a capacidade de adaptação do tratado ao ambiente internacional plural que se
apresentava. Além disso, o movimento estudantil e operário do ano de 1968 na França deixou
uma crise monetária e financeira, mostrando como o país ainda não era preparado para
assumir um papel de potência independente como buscava de Gaulle. Enfim ele renunciou
em 1969, dando fim ao seu grande design para França e Europa, ao superestimar o poder
francês e assumir erroneamente a vontade e capacidade europeia de se defender sem
assistência dos Estados Unidos.

The Political Settlement in Europe


A França de de Gaulle almejava orquestrar o relaxamento das tensões no centro do
continente, o que, segundo o ele, representava um imaginário fértil por parte da França, que
superestimava suas próprias capacidades de atuar como interlocutor do lado leste no oeste.
Tal estratégia ressaltava dois elementos fundamentais das políticas de poder européias:
primeiro, que apenas a Alemanha Ocidental poderia garantir à URSS os pré-requisitos que
eles pleiteavam para a promoção de um détente na Europa. Segundo, que Bonn,
diferentemente de Paris, não buscaria por acomodação com o bloco oriental sem o
consentimento de Washington, uma vez que dependia de seu amparo militar e diplomático
para sua segurança.
A Guerra Fria na Europa havia se iniciado em razão de questões oriundas da divisão
da Alemanha e de Berlim, e a incapacidade de resolver essas questões orientou sua
continuidade. O principal obstáculo para tal incapacidade fora a recusa do chanceler da
alemanha do ocidente, Konrad Adenauer, em aceitar a divisão da Alemanha, trazendo um
apelo emocional aos votantes. Havia uma recusa quanto à soberania da Alemanha Oriental
em prol da crença em um direito exclusivo de representar todas as Alemanhas, o que fora
deixado bem claro com a promulgação da doutrina Hallstein, na qual Bonn caracterizava o
reconhecimento da Alemanha Oriental como um ato inimigo, uma vez que, em sua
perspectiva, este causaria a aceitação da divisão alemã. Desse modo, a Alemanha Ocidental
restringiram suas relações diplomáticas com o Leste Europeu que reconheciam Pankow,
exceto a União Soviética, a qual fora isenta do alcance da doutrina.
Em dezembro de 1966, enquanto de Gaulle performava seu “tratamento de choque” à
aliança ocidental, a Alemanha Ocidental trouxe ao ministério das relações exteriores Willy
Brandt, um pacifista que tinha por objetivo o realinhamento com as políticas comunistas,
mesmo que isso significasse o abandono à reunificação alemã e também à recuperação de
territórios perdidos, o que representava uma mudança significativa da atitude por parte da
Alemanha Ocidental em prol da aceitação do status quo europeu. O que Brandt propunha era
que tal aceitação e normalização das relações políticas com os vizinhos do leste levasse a um
gradativo relaxamento das tensões, podendo vir, em um futuro longínquo, a ocasionar a
reunificação pacífica da Alemanha. A ideia de que a reunificação levaria ao detente fora
substituída pela perspectiva de que o detente levaria à reunificação.
Brandt, assim, em direta violação à doutrina Hallstein, iniciou sua campanha de
retomada das relações pacíficas com os países do leste. Em 1967, retomou as relações
diplomáticas com Bucareste; em 1968, visitou diversas capitais de modo a fundamentar uma
inserção comercial sem precedentes. Nas eleições de 1969, então, Brandt fora trazido ao
poder como chanceler.
Em resposta às aberturas da Alemanha Ocidental de Brandt, os Estados da aliança
militar de Varsóvia especificaram seu preço, requerendo a aceitação formal do status quo
europeu e o reconhecimento da soberania da Alemanha Oriental pela Alemanha Ocidental.
Antes de qualquer atitude precipitada, o Brandt construiu o fundamento para uma mútua
acomodação através da assinatura do Tratado de Não Proliferação Nuclear e da conclusão de
um pacto de não agressão com a União Soviética. Em 1970, ainda, Brandt assinou um pacto
de não agressão com a Polônia, renunciando formalmente aquele pleiteio territorial alemão.
A questão da aceitação oficial do status quo europeu carecia de mais tempo para ser
resolvida. Brandt, em uma tentativa de atenuação das insatisfações alemãs de ambos os lados,
chegou a sugerir que as alemanhas fossem consideradas “Estados diferentes de uma só
nação”, mas não obteve o efeito esperado no líder da Alemanha Oriental, Walter Ulbricht,
que reafirmou a demanda pela soberania de seu regime. A resistência de Ulbricht
representava o principal fator de impedimento ao acordo com o novo governo conciliatório
em Bonn, levando-no a ser substituído como primeiro secretário, em maio de 1971, por Erich
Honecker, o que teve consequências notórias. Em 1971, as quatro potências que ocupavam
Berlim assinaram um acordo que afirmava a relação política especial entre Berlim Ocidental
e a República Federal Alemã. Em dezembro de 1972 a Alemanha Ocidental foi compelida a
assinar um “Tratado Básico” com a República Federal Alemã, que mesmo que não garantisse
a Pankow um reconhecimento diplomático formal antes requerido para a reconciliação alemã,
providenciou o aumento de relações comerciais, culturais e pessoais entre as alemanhas. Em
1973, ambas as alemanhas adentraram às Nações Unidas como dois Estados soberanos e,
meses depois, fora resolvida a questão da fronteira entre a Alemanha e Tchecoslováquia
através de um acordo mútuo de anulação do Pacto de Munique 1938. As questões pendentes
da Segunda Guerra Mundial foram acordadas na medida que os países da Europa Central se
preocupavam. Agora só restava que as potências mundiais deixassem seu “selo de
aprovação” aos acordos bilaterais entre as alemanhas.
A perspectiva que se ressaltava entre os países da Europa era de que acordos políticos
eram dispensáveis se em concordância com eles não houvesse redução das forças militares no
continente. A redução do recrutamento das forças militares estadunidenses, gerada em razão
da Guerra do Vietnam, prenunciava a redução das tropas americanas na Europa, o que
causaria a necessidade de uma medida impopular na Europa: o aumento dos gastos em
defesa.
A chave para uma nova política conciliatória na Rússia encontrava-se na sua relação
com a China. Tais aliadas encontravam-se em uma crescente disputa territorial, então, em
1971 o representante do conselho secretarial americano, Henry Kissinger, visitou a China,
transparecendo o fortalecimento das relações Sino-Americanas a despeito da Rússia. Dessa,
forma, com uma China hostil e fortalecida, a URSS não pode deixar de reconhecer a as
vantagens em uma détente e estabilizar o seu acesso à Europa. Brezhnev concordara em
participar de um conferência com a pauta de Redução e Equilíbrio Mútuo de Forças. As
discussões a respeito da redução de forças militares na Europa se tornaram muito técnicas e
não chegara a propor nada prático, porém, em contraposição, as discussões políticas
atingiram resultados muito satisfatórios em razão dos fundamentos já acertados entre as duas
Alemanhas e o bloco comunista. O reconhecimento do status quo europeu tanto almejado
pela Rússia fora considerado como dado através da assinatura do Tratado Básico entre Bonn
e Pankow.
Em adição às resoluções políticas, as modificações na conjuntura econômica da URSS
também foram indispensáveis à sua mudança de posição sobre o détente na Europa. A
Comecon, idealizada por Moscou como uma integração econômica em oposição ao plano
Marshall, havia falhado em sua premissa e representara, na prática, o estrangulamento
econômico da URSS e seus aliados no leste europeu. Seus aliados, tais como Romênia,
Tchecoslováquia e Polônia, passaram a demonstrar intensas insatisfações a respeito do papel
que exerciam dentro da dinâmica econômica do bloco, vindo a ressaltar a disparidade entre a
prosperidade econômica do ocidente e a estagnação do oriente na europa. Em 1970, Breznev
chegou à conclusão de que uma abertura econômica e uma migração para a dinâmica
econômica não comunista seriam necessárias para o suprimento das demandas populacionais
da Rússia e demais nações aliadas. Para tal, realizou acordos de cooperação com França e
Alemanha Ocidental, declarando oficialmente sua abertura econômica para o Oeste.
Tais resoluções levaram, gradativamente, a concessões do lado oriental, que
declararam, implicitamente, a dominação do oriente. Uma delas fora a chamada “basket three
provisions”, que garantia o cumprimento da declaração de Yalta sobre respeito aos direitos
humanos e à liberdade política. Complementando a détente política e militar oficializada em
1970, houve uma “détente econômica”, resolução informal que previa a desobstrução dos
canais comerciais e financeiros entre os países do Leste e do Oeste, o que deu espaço a uma
crescente troca de produtos e investimentos entre eles. No entanto, na medida que as relações
políticas e econômicas se fortaleciam entre os dois blocos, a situação do Oriente Médio se
tornava mais degradante, ameaçando findar a promissora reconciliação entre oeste e leste.

The Middle East as Perennial Hot Spot

O envolvimento das duas superpotências mundiais no Oriente Médio começou no


final dos anos 50. Os Estados Unidos viram a aproximação da União Soviética do Oriente
Médio como um esforço de explorar para benefício próprio a oposição dos países árabes a
presença do poder colonial europeu na região e a criação do Estado de Israel. Como medida
os Estados Unidos em 5 de Janeiro de 1957, através da proclamação do Doutrina de
Eisenhower, afirmaram responsabilidade em dar assistência a qualquer nação no Oriente
Médio que estava se sentindo ameaçada pelo Comunismo. A Doutrina de Eisenhower serviu
como justificativa para ações americanas contra o Egito, que tinha intenções expansionistas
que ameaçavam Estados aliados aos Estados Unidos. Em 1958 tropas americanas intervieram
para resgatar regimes da Jordânia e Líbano, que apoiavam o Ocidente, das forças do líder
egípcio Nasser que tinha como objetivo unir todos os Estados Árabes do Oriente Médio e do
norte da África sob seu comando. Para conseguir atingir esse objetivo Nasser se aproximava
cada vez mais, politicamente e economicamente, com a União Soviética e foi essa
aproximação que chamou atenção dos Estados Unidos.
Além dos benefícios econômicos para o Egito, com a aproximação da União Soviética
o principal objetivo do líder Nasser era a esperança que os soviéticos iriam dar assistência
diplomática e militar para poder remover, o que ele considerava o maior empecilho na seu
plano de unir os países árabes, o Estado de Israel. Depois da proclamação da Doutrina
Eisenhower, os duas superpotências ficaram no meio da disputa entre o Estado Judeu e seus
vizinhos Árabes, a União Soviética forneceu assistência militar e treinamento para o exército
da Síria,, vizinho de Israel que estava sob controle de um líder contra a influência Ocidental
na região. Com medo de que um regime pró Comunista na Síria iria ameaçar os regimes
aliados da Jordânia, Líbano e Turquia, os Estados Unidos intercederam com uma ajuda
militar para esses países enquanto abasteciam Israel com armamento para poder se defender e
contra atacar o crescente poder militar que o Egito estava desenvolvendo com a ajuda
soviética.
Quando que a relação com União Soviética não estabeleceu o que a Síria e o Egito
planejavam, os dois Estados se juntaram, armados com tanques e aviões, Nasser demandava e
obteve a remoção das forças de paz da ONU que estavam na península de Sinai, devido ao
incidente em 1956. Em 22 de maio de 1967, Nasser fechou o acesso de Israel a seu o único
porto no Mar Vermelho, interpretando esse bloqueio como um prelúdio de uma guerra Israel
contra atacou no dia 5 de Junho. Com um único ataque em três direções, Israel dizimou as
forças militares de seu adversário mais determinado, além de capturar territórios em todos os
lados, como as zonas tampão estratégicas das Colinas de Golã da Síria, toda a península do
Sinai incluindo a margem leste do Canal de Suez do Egito e a margem oeste do Rio Jordão,
incluindo um setor jordaniano da cidade sagrada de Jerusalém. O Conselho de Segurança das
Nações Unidas, no dia 22 de novembro aprovou a Resolução 242, que determinava a retirada
de Israel dos territórios ocupados e em troca teria o reconhecimento de sua soberania dentro
de fronteiras seguras e sua liberdade de navegar em águas internacionais, porém Israel não
cumpriu com a resolução.
A Guerra dos Seis Dias de Junho de 1967 representou uma derrota humilhante para a
União Soviética e seus Estados aliados no Oriente Médio. Os Estados Unidos, por já estarem
envolvidos militarmente no Ásia do sul estava relutante em entrar em um segundo conflito,
mantiveram neutralidade no conflito Árabe Israelense porém provia assistência militar a
Israel para demonstrar que estava do seu lado. Durante a Guerra de Seis Dias metade dos
Estados Árabes cortaram relações diplomáticas com os Estados Unidos e grande parte deles
forneceram a União Soviética o uso de seus portos como forma de vingança contra a falta de
apoio americano.
Em 28 de março de 1971, o então presidente egípcio Anwar Sadat, que sucedeu o
presidente Nasser depois de sua morte em setembro de 1970, firmou um tratado de 15 anos
de cooperação com a União Soviética, foi o primeiro compromisso militar soviético com um
país de “terceiro mundo”. Sadat tinha como objetivo conseguir uma quantidade ainda maior
de armamentos sofisticados, para assim reconquistar o território do Sinai que havia perdido
para Israel em 1967. Entretanto, não foi como planejado assim como as tentativas de Israel de
obter apoio incondicional dos Estados Unidos. Nenhuma das duas superpotências estavam
interessadas em um confronto nesta região, Nixon e Brezhnev estavam se esforçando para
diminuir as tensões porém nenhum deles era capaz de controlar seus respectivos aliados.
A situação de tensão entre Egito e Israel que nos anos 70 era pela disputa do Canal de
Suez, aumentou ainda mais por causa da difícil situação de 2.75 milhões de árabes e
palestinos sem um Estado, metade desses refugiados da área incorporada pelo novo Estado de
Israel depois da guerra de 1948-49. O governo de Israel se negava a permitir a volta desses
refugiados pois não permitia que os cidadãos judeus do novo Estado fossem numericamente
menor do que os árabe. Os refugiados mais politicamente ativos formaram, em 1964, a
Organização para Libertação da Palestina (OLP), operaram no território da Jordânia até serem
expulsos em 1970, que organizou vários atentados terroristas como forma de expor os
problemas dos palestinos.
Quando a União Soviética não conseguiu os armamentos, que o presidente Sadat
necessitava para garantir superioridade em um confronto com Israel, o Egito se voltou contra
os soviéticos. Sadat acreditava que mesmo sem a ajuda da União Soviética, conseguiria ao
menos reconquistar a parte do território no Sinai, o presidente também se convenceu que uma
luta armada no Oriente Médio era necessária para envolver as duas superpotências e assim,
negociar a paz na região. No feriado judaico de Yom Kippur em outubro de 1973, o Egito
junto com a Síria lançaram um ataque surpresa contra Israel, e depois de duas semanas das
batalhas de tanques mais violentas desde a Segunda Guerra Mundial, Israel foi superior.
O Conselho de Segurança das Nações Unidas aprovou uma resolução em 22 de
outubro de 1973, autorizando uma força emergencial de sete mil homens para supervisionar o
cessar-fogo. Em dezembro de 1973 israelenses e árabes sob intensa pressão internacional
principalmente das superpotências, conduziram suas primeiras negociações frente a frente em
vinte e cinco anos em uma conferência em Genebra. Após dois anos, chegaram em um
acordo que estabelecia uma retirada parcial do Sinai pelos israelenses com a intenção de criar
uma zona tampão, ocupada por observadores dos Estados Unidos e dos Nações Unidas para
garantir o cessar-fogo. Como a União Soviética não participou das negociações, não
reconhecia essa resolução provisória entre os países porém abriu mão de interferir no
processo.
Apesar do aparente bom resultado do ponto de vista americano e israelense, em
retaliação ao transporte aéreo de suprimentos dos Estados Unidos para Israel, com intuito de
reparar as perdas em tanques e aviões, os Estados Árabes produtores de petróleo impuseram
um embargo de cinco meses nas embarcações do produto para os Estados Unidos, o que
causou falta de gasolina e uma enorme inconveniência aos consumidores norte americanos.
Esse grupo de países árabes formaram um cartel internacional, chamado de Organização dos
Países Exportadores de Petróleo (OPEP) que quadruplicou o preço do petróleo bruto em 1973
e 19175, causando um grande choque na economia mundial.

Comentários

Inicialmente, o autor ressalta a preponderância estadunidense em relação a qualquer


outra potência da época, sendo o único país que poderia ser considerado uma potência
mundial, por razões econômicas e políticas. Até a primeira metade dos anos 60, os EUA
transmitiam a imagem de promotor da paz durante reestruturações socioeconômicas em
países de desenvolvimento, enquanto a URSS ficou taxada como não fiel à sua palavra de
proteger seus aliados em tempos difíceis.
Enquanto a formação da Comunidade Econômica Europeia foi de grande relevância
para a integração do continente europeu,viabilizando convergências nos âmbitos político e
militar, não significava a vontade de seus países de se desfazer da condição de protégé dos
norte-americanos. Contudo, para o líder francês, Charles de Gaulle, sim e era isso que
incentivava seus posicionamentos e suas pretensões hegemônicas na Europa Ocidental, por
meio de seu desenvolvimento nuclear.
As pretensões francesas de se tornar uma potência nuclear tratavam-se da
superestimação, por parte de de Gaulle, da capacidade francesa em promover tão grande
impacto dentro da Europa. Ele se enganara também ao fazer esforços no sentido de
desvincular a Europa da influência estadunidense acreditando ter o apoio dos demais países,
quando, na realidade, estes se viam favorecidos pela presença americana no continente.
As disputas que se viam de difícil conciliação entre os blocos leste e oeste da Europa
foram, em sua maioria, facilitadas através do “Tratado Básico”, assinado entre ambas as
Alemanhas uma vez que o status quo da Europa fora finalmente aceito e ambas
conquistaram seu status de soberania. Desse ponto em diante, acordos foram facilitados entre
os blocos, que tiveram suas relações fortalecidas e sua dinâmica diplomática gradativamente
restaurada.
A retirada de tropas militares da Europa era acreditada ser o ponto principal de
facilitação do détente, no entanto, o que veio a promover de fato a conciliação entre os blocos
fora o esforço dos Estados na promoção de acordos políticos, tendo as negociações militares
se tornado demasiadamente técnicas e não vindo a promover nenhuma resolução prática para
o impasse.
Já o confronto entre Estados Unidos e União Soviética no Oriente Médio foi impedido
pela decisão de Kremlin de se abster em relação a intervenção Ocidental e o acordo unilateral
dos Estados Unidos para reconciliar o Egito e Israel. As duas superpotências aprenderam a
apreciar a estabilidade no Oriente Médio como uma diminuição das tensões na Europa e o
estratégico acordo de armamentista.

Perguntas

1. Que privilégios a França obteve com o desenvolvimento de sua capacidade


nuclear e que se mantêm até os dias de hoje?
2. De que maneira a organização da dinâmica econômica russa gerou a
degradação de suas alianças políticas?
3. A integração política e econômica da Europa Central, possibilitada pelo CEE,
fez frente à influência russa do lado oriental?
4. Até que ponto a CEE deu bases para a União Europeia?
5. Por que podemos afirmar que a personalidade dos diplomatas representantes
das Alemanhas Ocidental e Oriental interferiram diretamente no ensejo do
détente?

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