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UNIVERSIDADE FEDERAL DO NORTE DO TOCANTINS

DISCIPLINA: LHIS IV: HISTÓRIA DO TEMPO PRESENTE


DOCENTE: Bertone Sousa
DISCENTE: Jéssica Dayanne de Lima Santos

Fichamento

HOBSBAWM, Eric J. Guerra Fria. In: HOBSBAWM, Eric J. Era dos


Extremos: O Breve Século XX 1914-1991. São Paulo - SP, Companhia das
Letras, 1995, p 223-252.

I Pós - Guerra, corrida armamentista e ameaça nuclear


“A peculiaridade da Guerra Fria era a de que, em termos objetivos, não existia
perigo iminente de guerra mundial. (...) apesar da retórica apocalíptica de ambos os
lados (...), os governos das duas superpotências aceitaram a distribuição global de
forças no fim da Segunda Guerra Mundial, que equivalia a um equilíbrio de poder
desigual mas não contestado em sua essência.” (p.224)
“O problema é que o fim dos velhos impérios coloniais era previsível (...) mas a
futura orientação dos novos Estados pós-coloniais não estava nada clara. (...), foi
nessa área que as duas superpotências continuaram a competir, por apoio e
influência, durante toda a Guerra Fria, aquela onde o conflito armado era mais
provável, e onde de fato irrompeu.” (p.225)
“(...) as condições para a estabilidade internacional começaram a surgir, quando
ficou claro que a maioria dos novos Estados pós-coloniais, por menos que gostasse
dos EUA e seu campo, não era comunista; com efeito: a maioria era anticomunista
em sua política interna e (...) nos assuntos internacionais.” (p. 225)
“Até a década de 1970, esse acordo tácito de tratar a Guerra Fria como uma Paz
Fria se manteve. A URSS sabia, (...) que os apelos americanos para ‘fazer retroceder’
o comunismo não passavam de histrionismo radiofônico.” (p. 226)
“Provavelmente o período mais explosivo foi aquele entre a enunciação formal da
Doutrina Truman, em março de 1947(...), e abril de 1951, quando o presidente
americano demitiu o (...) comandante das forças americanas na Guerra da Coréia”
(p. 226)
“Assim que a URSS adquiriu armas nucleares (...) as duas superpotências
claramente abandonaram a guerra como instrumento de política, pois isso equivalia a
um pacto suicida.” (p. 227)
“Infelizmente, a própria certeza de que nenhuma das superpotências iria de fato
querer apertar o botão nuclear tentava os dois lados a usar gestos nucleares para fins
de negociação, ou (nos EUA) para fins de política interna (...)” (p. 227)
II Intransigência mútua como tática lógica
“(...) a Guerra Fria baseava-se numa crença ocidental, (...) de que o futuro do
capitalismo mundial e da sociedade liberal não estava de modo algum assegurado.”
(p. 228)
“(...) porque no fim da guerra os países beligerantes, com exceção dos EUA,
haviam se tornado um campo de ruínas habitado pelo que pareciam aos americanos
povos famintos, desesperados e provavelmente propensos à radicalização, mais que
dispostos a ouvir o apelo da revolução social e de políticas econômicas
incompatíveis com o sistema internacional de livre empresa, livre comércio e
investimento(...)” (p. 228)
“Além disso, o sistema internacional pré-guerra desmoronara, deixando os EUA
diante de uma URSS enormemente fortalecida em amplos trechos da Europa e em
outros espaços ainda maiores do mundo não europeu (...)” (p.228)
“Contudo, isso com certeza não basta para explicar por que a política americana
(...) deveria basear-se, pelo menos em suas declarações públicas, num cenário de
pesadelo da superpotência moscovita pronta para a conquista imediata do globo, e
dirigindo uma “conspiração comunista mundial” atéia sempre disposta a derrubar os
reinos de liberdade.” (p. 229)
“a URSS não apresentava perigo imediato para quem estivesse fora do alcance
das forças de ocupação do Exército Vermelho. Saíra da guerra em ruínas, exaurida e
exausta, com a economia de tempo de paz em frangalhos, (...). Sua postura básica
após a guerra não era agressiva, mas defensiva.” (p.230)
“George Kennan, (...) formulou a política de “contenção” que Washington adotou
com entusiasmo, não acreditava que a Rússia estivesse em cruzada pelo comunismo,
e (... )estava longe de ser um cruzado ideológico (...)” (p. 230)
“O comunismo, (...) em sua opinião tornava a Rússia ainda mais perigosa,
reforçando a mais brutal das grandes potências com a mais implacável das ideologias
utópicas, ou seja, de conquista do mundo. (...) a única “potência rival” da Rússia, ou
seja, os EUA, teria de “conter” a pressão desta por uma resistência inflexível, mesmo
que ela não fosse comunista.” (p.231)**
“Em suma, enquanto os EUA se preocupavam com o perigo de uma possível
supremacia mundial soviética num dado momento futuro, Moscou se preocupava
com a hegemonia de fato dos EUA, então exercida sobre todas as partes do mundo
não ocupadas pelo Exército Vermelho.” (p. 231)
“(...) o governo soviético, embora também demonizasse o antagonista global, não
precisava preocupar-se com ganhar votos (...) ou com eleições presidenciais e
parlamentares. O governo americano precisava. Para os dois propósitos, um
anticomunismo apocalíptico era útil, e portanto tentador (...)” (p.232)
“Não foi o governo americano que iniciou o sinistro e irracional frenesi da caça às
bruxas anticomunista, mas demagogos (...) que descobriram o potencial político da
denúncia em massa do inimigo interno.” (p. 232)
“(...) com uma estratégia voltada mais para as bombas nucleares que para os
homens, como também com a sinistra estratégia de “retaliação em massa” anunciada
em 1954. (...) Os dois lados viram-se assim comprometidos com uma insana corrida
armamentista para a mútua destruição, (...) também se viram comprometidos com o
“complexo industrial-militar”, ou seja, o crescimento cada vez maior de homens e
recursos que viviam da preparação da guerra.” (p. 233)
“ Nas décadas de 1970 e 1980, outros países conseguiram a capacidade de fazer
armas nucleares (...), mas essa proliferação nuclear só se tornou um problema
internacional sério após o fim da ordem bipolar de superpotências em 1989.” (p.
233) ***
“Mas [isso] não explica o tom apocalíptico da Guerra Fria. Ela se originou na
América. (...) Se alguém introduziu o caráter de cruzada (...) e o manteve lá, esse foi
Washington.(...), a questão não era a acadêmica ameaça de dominação mundial
comunista, mas a manutenção de uma supremacia americana concreta.” (p. 234)
“(...) os governos membros da OTAN, (...), estavam dispostos a aceitar a
supremacia americana como o preço da proteção contra o poderio militar de um
sistema político antipático,(...) Tinham tão pouca disposição a confiar na URSS
quanto Washington. Em suma, “contenção” era a política de todos; destruição do
comunismo, não.” (p. 234)**
III Mudanças econômicas
“As potências nucleares se envolveram em três grandes guerras (mas não umas
contra as outras). (...) Em suma, o material caro e de alta tecnologia da competição
das superpotências revelou-se pouco decisivo” (p. 234, 235)
“Muito mais óbvias foram as consequências políticas da Guerra Fria.(...) ela
polarizou o mundo controlado pelas superpotências em dois “campos”
marcadamente divididos. Os governos de unidade antifascista que tinham acabado
com a guerra na Europa (...) dividiram-se em regimes pró-comunistas e
anticomunistas homogêneos em 1947-8” (p. 235)
“Contudo, o efeito da Guerra Fria foi mais impressionante na política
internacional do continente europeu que em sua política interna. Provocou a criação
da “Comunidade Européia”, (...) uma forma de organização sem precedentes, (...)
para integrar as economias, e em certa medida os sistemas legais, de vários Estados-
nação independentes.” (p.236,237)
“A ‘Comunidade’, como tantas outras coisas na Europa pós-1945, era ao mesmo
tempo a favor e contra os EUA. (...) um aliado indispensável contra a URSS, mas um
aliado suspeito,(...) podia pôr os interesses da supremacia americana no mundo
acima de tudo mais” (p. 237)
“Contudo, para os americanos uma Europa efetivamente restaurada, parte da
aliança militar anti-soviética que era o complemento lógico do Plano Marshall (...) a
(OTAN) de 1949 — tinha de basear-se realisticamente na força econômica alemã,
reforçada pelo rearmamento do país.” (p. 238)
“Os franceses, portanto, propuseram sua própria versão de união européia, a
‘Comunidade Européia do Carvão e do Aço’ (1950), (...) e, a partir de 1993, ‘União
Européia’.(...) A Comunidade Européia foi estabelecida como uma alternativa ao
plano americano de integração europeia” (p. 238)
“E, no entanto, à medida que a era da Guerra Fria se estendia, abria-se um
crescente fosso entre a dominação esmagadoramente militar, e portanto política, que
Washington exercia na aliança e o enfraquecimento da predominância econômica
dos EUA. O peso econômico da economia mundial passava (...) para as economias
européia e japonesa, as quais os EUA julgavam ter salvo e reconstruído” (p. 238)
“Quando a Guerra Fria terminou, restava tão pouco da hegemonia econômica
americana que mesmo a hegemonia militar não mais podia ser financiada com os
recursos do próprio país.” (p. 239) **
IV Desaceleração ou Détente
“(...) longe de ter de lutar contra a crise social, os países da Europa Ocidental
começaram a observar que estavam na verdade vivendo uma era de inesperada e
disseminada prosperidade (...) o afrouxamento da tensão era a détente."
“Contudo, a détente primeiro teve de sobreviver ao que pareceu um período
extraordinariamente tenso de confrontos entre o gosto de Kruschev pelo blefe e os gestos
políticos de John F. Kennedy” (p. 240)
“Por outro lado, a URSS se preocupava não só com a retórica ambígua (...) de
Washington, mas com o rompimento fundamental da China, (...) Ao mesmo tempo, a
súbita aceleração da descolonização e de revolução no Terceiro Mundo (...) parecia
favorecer os soviéticos.”(p.240) **
“Os EUA, nervosos mas confiantes, enfrentavam assim uma URSS confiante mas
nervosa por Berlim, pelo Congo, por Cuba.” **
“(...) um acordo tácito das duas superpotências (...) simbolizado pela instalação da
‘linha quente’ telefônica que então (1963) passou a ligar a Casa Branca com o Kremlin. O
Muro de Berlim (1961) fechou a última fronteira indefinida entre Oriente e Ocidente na
Europa” (p. 240)
“Kennedy foi assassinado em 1963; Kruschev foi mandado para casa em 1964 pelo
establishment soviético, que preferia uma visão menos impetuosa da política.” (p. 240)
“Em meados da década de 1970, o mundo entrou no que se chamou de Segunda Guerra
Fria (...).Coincidiu com uma grande mudança na economia mundial” (p. 241)
“(...) de início a mudança no clima econômico não foi muito notada pelos participantes
do jogo das superpotências, a não ser por um súbito salto nos preços da energia provocado
pelo bem-sucedido golpe do cartel de produtores de petróleo, a OPEP” (p. 241)
“(...) economia à parte, dois acontecimentos inter-relacionados pareciam então alterar o
equilíbrio das duas superpotências” (p. 241)
“O primeiro era a presumida derrota e desestabilização nos EUA, quando esse país se
lançou numa nova grande guerra. A Guerra do Vietnã desmoralizou e dividiu a nação, em
meio a cenas televisionadas de motins e manifestações contra a guerra; destruiu um
presidente americano” (p. 241)
“E, se o Vietnã não bastasse (...) o secretário de Estado americano, Henry Kissinger (...)
decretou o primeiro alerta nuclear desde a crise dos mísseis cubanos (...) Isso não abalou
os aliados dos EUA, muito mais preocupados com o fornecimento de petróleo do Oriente
Médio do que em apoiar uma manobra local americana que Washington dizia (...) ser
essencial para a luta global contra o comunismo” (p. 242)
“(...) entre 1974 e 1979, uma nova onda de revoluções surgiu numa grande parte do
globo (...) parecia que podia mudar o equilíbrio das superpotências desfavoravelmente aos
EUA, pois vários regimes na África, Ásia e mesmo no próprio solo das Américas eram
atraídos para o lado soviético e (...) forneciam à URSS bases militares, e sobretudo navais,
fora de seu núcleo interior” (p. 242)
“A injustificada auto-satisfação dos soviéticos estimulou esse clima sombrio. Muito
antes de os propagandistas americanos explicarem(...) que os EUA haviam decidido
ganhar a Guerra Fria levando seu antagonista à bancarrota, o regime de Brejnev começara
a conduzir a si próprio à falência” (p.243)
“O sistemático esforço da URSS para obter uma marinha com presença mundial nos
oceanos (...) pareceu aos adeptos da Guerra Fria americanos uma prova clara de que a
supremacia ocidental poderia acabar, se não fosse reafirmada por uma demonstração de
força.” (p. 243)
“Os soviéticos, rudes e inflexíveis, podiam com esforços titânicos ter construído a
melhor economia da década de 1980 (...) mas de que adiantava à URSS o fato de que em
meados da década de 1980 ela produzia 80% mais aço, duas vezes mais ferro gusa e cinco
vezes mais tratores que os EUA, quando não se adaptara a uma economia que dependia de
silício e software (...)?” (p. 244)
“A política de Ronald Reagan, eleito (...) em 1980, só pode ser entendida como uma
tentativa de varrer a mancha da humilhação sentida demonstrando a inquestionável
supremacia e invulnerabilidade dos EUA, se necessário com gestos de poder militar contra
alvos imóveis” (p. 244)
“No fim, o trauma só foi curado pelo colapso final, imprevisto e inesperado, do grande
antagonista, que deixou os EUA sozinhos como potência global.” (p. 244)
“A cruzada contra o ‘Império do Mal’ a que (...) Reagan dedicou suas energias
destinava-se assim a agir mais como uma terapia para os EUA do que como uma tentativa
prática de restabelecer o equilíbrio de poder mundial.” (p. 245)
“(...) fora feito (...) quando a OTAN havia começado seu próprio rearmamento, e os
novos Estados esquerdistas na África tinham sido contidos desde o início por movimentos
ou Estados apoiados pelos americanos, com bastante sucesso no Sul e Centro da África,
onde os EUA podiam agir em conjunto com o pavoroso regime de apartheid da República
da África do Sul, e menos no Chifre da África.” (p. 245)
“A contribuição reaganista para a Guerra Fria (...) Não foi tanto prática quanto
ideológica” (p.245)**
“Governos da direita ideológica, comprometidos com uma forma extrema de egoísmo
comercial e laissez-faire, chegaram ao poder em vários países por volta de 1980.(...) Para
essa nova direita, o capitalismo assistencialista patrocinado pelo Estado das décadas de
1950 e 1960 (...) sempre havia parecido uma subvariedade de socialismo” (p. 245)
“A Guerra Fria reaganista era dirigida não contra o ‘Império do Mal’ no exterior, mas
contra a lembrança de F. D. Roosevelt em casa: contra o Estado do Bem-estar Social, e
contra qualquer outro Estado interventor. Seu inimigo era tanto o liberalismo (...) quanto o
comunismo.” (p. 245)
“Em princípios da década de 1980, a URSS ainda era vista (...) como empenhada numa
confiante ofensiva global. (...) o próprio presidente Reagan, (...) acreditava na coexistência
de EUA e URSS, mas uma coexistência que não se baseasse num antipático equilíbrio de
terror nuclear. Ele sonhava era com um mundo inteiramente sem armas nucleares. E o
mesmo pensava o novo secretário-geral do Partido Comunista da União Soviética, Mikhail
Sergueievich Gorbachev” (p. 246)
“Provavelmente era mais fácil para um líder soviético que para um americano tomar
essa iniciativa, porque, ao contrário de Washington, Moscou jamais encarara a Guerra Fria
como uma cruzada (...)” (p. 246)
“Para fins práticos, a Guerra Fria terminou nas duas conferências de cúpula de
Reykjavik (1986) e Washington (1987).” (p. 246)
“(...) as perspectivas do socialismo como alternativa global dependiam de sua
capacidade de competir com a economia mundial capitalista, reformada após a Grande
Depressão e a Segunda Guerra Mundial, e transformada pela revolução “pós-industrial”
nas comunicações e tecnologia de informação na década de 1970. Ficou claro, depois de
1960, que o socialismo estava ficando para trás em ritmo acelerado.” (p. 246)
“As duas superpotências estenderam e distorceram demais suas economias com uma
corrida armamentista maciça e muito dispendiosa, mas o sistema capitalista mundial podia
absorver os 3 trilhões de dólares de dívida (...) Não havia ninguém, interna ou
externamente, para absorver a tensão equivalente dos gastos soviéticos” (p. 247)
“No fim da década de 1970, a Comunidade Européia e o Japão juntos eram 60%
maiores que a economia americana. Por outro lado, os aliados e dependentes dos soviéticos
jamais andaram sobre os próprios pés. Continuaram sendo um dreno constante (...)
Geográfica e demograficamente (...) representavam 80% do mundo. Em termos
econômicos, eram periferia” (p. 247)
“ a combinação entre seus próprios defeitos econômicos, cada vez mais evidentes e
paralisantes, e a acelerada invasão da economia socialista pela muito mais dinâmica,
avançada e dominante economia capitalista mundial.** (...) Foi a interação da economia
do tipo soviético com a economia mundial capitalista, a partir da década de 1960, que
tornou o socialismo vulnerável.” (p. 247.248)
“O paradoxo da Guerra Fria é que o que derrotou e acabou despedaçando a URSS não
foi o confronto, mas a détente.” (p. 248)
V Mudanças geopolíticas
“A Guerra Fria transformara o panorama Internacional em três aspectos.Primeiro,
eliminara inteiramente, ou empanara, todas as rivalidades e conflitos que moldavam a
política mundial antes da Segunda Guerra Mundial.” (p. 248)
“Alguns deixaram de existir porque os impérios (...) desapareceram, e com eles as
rivalidades das potências coloniais pelo domínio de territórios dependentes. Outros
acabaram porque todas as ‘grandes potências’ (...) haviam sido relegadas à segunda ou
terceira divisão da política internacional, e suas relações umas com as outras não eram
mais autônomas (...) eram, na verdade, membros subordinados da aliança americana” (p.
248)
“Segundo, a Guerra Fria congelara a situação internacional, e ao fazer isso estabilizara
um estado de coisas essencialmente não fixo e provisório . Estabilização não significava
paz. (...) não foi uma era em que se esqueceu a luta. Dificilmente houve um ano entre 1948
e 1989 sem um conflito armado bastante sério em alguma parte.(...) os conflitos eram
controlados, ou sufocados, pelo receio de que provocassem uma guerra aberta — isto é,
nuclear” (p. 249)
“Apesar disso, a combinação de poder, influência política, suborno e a lógica da
bipolaridade e antiimperialismo manteve as divisões do mundo mais ou menos estáveis.
Com exceção da China, nenhum Estado importante de fato mudou de lado, a não ser por
uma revolução autóctone, que as superpotências não podiam provocar nem impedir” (p.
250)**
“Terceiro, a Guerra Fria encheu o mundo de armas num grau que desafia a crença. Era
o resultado natural de quarenta anos de competição constante entre grandes Estados
industriais para armar-se (...) para fazer amigos e influenciar pessoas distribuindo armas
por todo o globo” (p. 250)
“Economias largamente militarizadas, e de qualquer modo com enormes e influentes
complexos industrial-militares, tinham interesse econômico em vender seus produtos no
exterior (...)” (p. 250)
“A moda global (...) proporcionou um mercado agradecido, alimentado não só por
generosidade das superpotências, mas — depois da revolução nos preços do petróleo —
pelas rendas locais multiplicadas além da imaginação de antigos sultões e xeques do
Terceiro Mundo.” (p. 250)
“Todo mundo exportava armas. Economias socialistas e alguns Estados capitalistas em
declínio(...)” (p. 250)
“Uma era de guerra de guerrilha e terrorismo também desenvolveu uma grande
demanda de artefatos leves, portáteis e adequadamente destrutivos e mortais, e os
submundos das cidades de fins do século XX (...)” (p. 250)
“Desta forma a Guerra Fria se perpetuou. As guerrinhas que antes punham clientes de
uma superpotência contra os de outra continuaram depois que o conflito cessou, em base
local, resistindo aos que as haviam lançado e agora queriam encerrá-las. (...) Eles não
ficariam sem armas” (p. 251)
“Os EUA e a ONU se mobilizaram para levar alimentos e paz. Isso se mostrou mais
difícil do que inundar o país de armas.” (p. 251)
“(...) as tribos podiam agora explorar elas mesmas a florescente demanda de Stingers,
que vendiam lucrativamente no mercado internacional de armas.” (p. 251)**
“O fim da Guerra Fria retirou de repente os esteios que sustentavam a estrutura
internacional e (...) as estruturas dos sistemas políticos internos mundiais.” (p. 251)
“E o que restou foi um mundo em desordem e colapso parcial (...). A idéia, alimentada
(...) pelos porta-vozes americanos, de que a velha ordem bipolar podia ser substituída por
uma ‘nova ordem’ logo se mostrou irrealista. Não poderia haver retorno ao mundo de antes
da Guerra Fria, porque coisas demais haviam mudado, coisas demais haviam
desaparecido.” (p.251)
“É provável que as conseqüências do fim da Guerra Fria teriam sido enormes de
qualquer modo, mesmo que ele não coincidisse com uma grande crise na economia
capitalista e com a crise final da União Soviética e seu sistema.” (p. 252)
“O fim da Guerra Fria provou ser não o fim de um conflito internacional, mas o fim de
uma era: não só para o Oriente, mas para todo o mundo.” (p.252)
“Só uma coisa parecia firme e irreversível entre essas incertezas: as mudanças
fundamentais, extraordinárias, sem precedentes que a economia mundial, e
consequentemente as sociedades humanas, tinham sofrido no período desde o início da
Guerra Fria” (p. 252)

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