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FORÇA EXPEDICIONÁRIA BRASILEIRA (FEB)

Nome dado à divisão de infantaria constituída em 9 de agosto de 1943 e


enviada à Itália em 1944 sob o comando do general-de-divisão João Batista
Mascarenhas de Morais para lutar contra os países do Eixo (Alemanha, Itália
e Japão). A designação FEB passou a englobar as forças brasileiras de terra,
mar e ar que lutaram na Segunda Guerra Mundial.

A declaração do estado de guerra

Com a deflagração da Segunda Guerra Mundial, o Brasil, que se mantinha


neutro, começou a sofrer fortes pressões dos EUA para permitir a utilização
por parte das forças armadas norte-americanas de portos, aeroportos e
instalações aeronáuticas do Norte e do Nordeste, de estradas de ferro e de
rodagem, de usinas de energia elétrica e de outros setores vitais do Estado
brasileiro.

Estas propostas provocaram serias resistências entre alguns militares, que


viam no estacionamento de tropas norte-americanas em território brasileiro
uma violação da soberania nacional. Em 24 de julho de 1941, o governo
brasileiro autorizou finalmente a utilização de bases aéreas e navais pelos
EUA, que por sua vez se comprometiam a prestar auxílio material e técnico
para sua construção. Esta concessão manteve-se no entanto secreta, já que
o Brasil ocupava oficialmente uma posição de neutralidade diante do conflito
mundial.

Tendo em vista o interesse estratégico que as regiões Norte e Nordeste


representavam para a defesa do continente americano, o governo brasileiro
procurou tirar partido da situação e obter empréstimos dos EUA, visando o
reaparelhamento militar brasileiro e a solução de problemas como o da
construção de uma grande usina siderúrgica. As negociações entre os dois
países seriam concretizadas mais tarde, a 3 de março de 1943, com a
assinatura dos acordos de Washington. A cooperação econômica e militar
entre o Brasil e os EUA, entretanto, teve como contrapartida o envolvimento
direto do Brasil no conflito mundial.

A entrada do Brasil na guerra tornou-se iminente com o rompimento das


relações diplomáticas com os países do Eixo em 28 de janeiro de 1942,
após o ataque japonês a Pearl Harbor (7/12/1941). Além disso, entre
fevereiro e agosto de 1942 ocorreu uma série de torpedeamentos de navios
mercantes brasileiros que navegavam nas costas do país. O afundamento
de 21 navios provocou a indignação da população, que passou a exigir em
manifestações de rua a declaração de guerra do governo brasileiro. A
campanha de conscientização da população contra os países do Eixo e a
favor dos Aliados vinha sendo desenvolvida também pela Liga de Defesa
Nacional, pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e por outras entidades.
O rompimento da neutralidade brasileira iniciou-se em 22 de agosto de
1942, com a declaração do estado de beligerância, e concretizou-se alguns
dias mais tarde, a 31 de agosto, quando, pelo Decreto nº 10.358, foi
declarado o estado de guerra contra a Alemanha e a Itália.

A organização da FEB

Durante um almoço com as forças armadas, realizado no dia 31 de


dezembro de 1942, Getúlio Vargas afirmou que o Brasil não se limitaria ao
fornecimento de materiais estratégicos para os países aliados e que “o
dever de zelar pela vida dos brasileiros obrigados a medir as
responsabilidades de uma possível ação fora do continente. De qualquer
modo, não deveremos cingir-nos à simples expedição de contingentes
simbólicos”.

Alguns dias após a declaração de Vargas, o ministro da Guerra Eurico


Gaspar Dutra apresentou um memorando ao presidente indicando que o
contingente a ser enviado para o exterior deveria compor-se de cinco
divisões, totalizando cem mil homens.

No encontro que manteve com Vargas em Natal, em fevereiro de 1943, o


presidente norte-americano Franklin Roosevelt mencionou a possibilidade
de o Brasil enviar tropas aos Açores e à ilha da Madeira. Vargas lembrou
que esse envio dependia do recebimento de equipamento bélico para o
Exército, a Marinha e a Força Aérea, prometido pelos EUA. O envio de
tropas brasileiras ao exterior despertava internamente opiniões divergentes.
Do lado norte-americano tampouco existia um consenso, opondo-se
Roosevelt ao Departamento de Guerra, que considerava problemático o
transporte das tropas brasileiras para a África.

Em 5 de março de 1943, o presidente Vargas aprovou o memorando de


Dutra sobre a força expedicionária, ressalvando contudo que o envio de
tropas dependia do recebimento do material bélico necessário ao
aparelhamento tanto da força expedicionária como da tropa que deveria
guarnecer o território brasileiro.

Em 9 de agosto de 1943, finalmente, pela Portaria Ministerial nº 4.744,


publicada em boletim reservado de 13 do mesmo mês, foi estruturada a
FEB, constituída pela 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária (1ª DIE) e por
órgãos não-divisionários. A 1ª DIE, comandada por um general-de-divisão,
deveria compreender: um quartel-general constituído de estado-maior
geral, estado-maior especial e tropa especial; uma infantaria divisionária,
comandada por um general-de-brigada e composta de três regimentos de
infantaria; uma artilharia divisionária, comandada por um general-de-
brigada e composta de quatro grupos de artilharia (três de calibre 105 e um
de calibre 155); uma esquadrilha de aviação destinada à ligação e à
observação; um batalhão de engenharia; um batalhão de saúde; um
esquadrão de reconhecimento, e uma companhia de transmissão (na
verdade, de comunicações). A tropa especial, além de seu próprio comando,
deveria incluir o comando do quartel-general, um destacamento de saúde,
uma companhia do quartel-general, uma companhia de manutenção, uma
companhia de intendência, um pelotão de sepultamento, um pelotão de
polícia e uma banda de música.

Ainda no mês de agosto, o general João Batista Mascarenhas de Morais,


comandante da 2ª Região Militar, foi convidado pelo ministro Dutra a chefiar
uma das divisões da FEB. Vários generais, entre os quais Valentim Benício,
Amaro Bittencourt e Francisco Gil Castelo Branco, teriam sido consultados
para exercer o cargo.

O general Estêvão Leitão de Carvalho era o nome da preferência de Osvaldo


Aranha, não só por ser seu amigo pessoal, mas também por ter sido
encarregado das negociações em Washington sobre o envio da FEB à
guerra. Partindo em seguida para os EUA, o general Dutra foi portador de
uma carta de Vargas a Roosevelt em que o presidente brasileiro expressava
o desejo do Exército nacional de participar ativamente da guerra.

Durante a fase de estruturação da FEB vários oficiais brasileiros foram


enviados aos EUA para participar de cursos em bases militares norte-
americanas. Em sua maioria, esses oficiais passaram três meses na Escola
de Comando e Estado-Maior de Fort Leavenworth, no estado de Kansas.
Esse estágio permitiu que os oficiais brasileiros se familiarizassem com os
métodos de luta norte-americanos, destinados a substituir os métodos
franceses, até então empregados pelo Exército no Brasil. Orientado no
sentido de movimentos rápidos e audaciosos, altamente motorizados, o
novo método reduzia as marchas a pé e a utilização de cavalos. Os norte-
americanos propunham ainda a padronização das armas, cabendo aos
brasileiros os calibres de 105mm e 155mm, de que o Brasil ainda não
dispunha.

Segundo Mascarenhas de Morais, muitos obstáculos tiveram de ser vencidos


na organização da FEB. Alguns ligavam-se à substituição dos métodos de
luta franceses pelos norte-americanos, outros, à forma como foi selecionado
o contingente de tropa, sem critérios rigorosos físicos ou intelectuais. Havia
ainda as dificuldades interpostas por elementos do governo simpatizantes
dos países do Eixo.

Nos últimos meses de 1943, ficou decidido que o Brasil enviaria um corpo
expedicionário para lutar no Mediterrâneo. Em 30 de novembro, foi
designada a Comissão Militar Brasileira, que, sob a chefia do general
Mascarenhas de Morais, tinha por objetivo observar de perto o teatro de
operações no Mediterrâneo. Além de oficiais brasileiros, a comissão era
também integrada por oficiais norte-americanos. Pouco antes de regressar
da Itália e da África, o general Mascarenhas foi nomeado oficialmente
comandante da 1ª Divisão de Infantaria Expedicionária.

A 15 de maio de 1944, no Rio de Janeiro, foi instalado o Estado-Maior


Especial, com a função de planejar e executar o embarque da 1ª DIE,
dividida em vários escalões. Era integrado por três oficiais do Estado-Maior
Divisionário, o coronel Lima Brayner e os tenentes-coronéis Amauri Kruel e
Humberto Castelo Branco, e dois membros da Missão Militar norte-
americana, os tenentes-coronéis Sewel e Strong. A representação da FEB
no interior coube ao general Henrique Teixeira Lott, e a supervisão, ao
general Hayes Kroner.

O embarque do 1º Escalão para a Itália ocorreu na noite de 30 de junho


para 1º de julho de 1944 no navio norte-americano General Mann, sob o
comando do general Euclides Zenóbio da Costa. O 1º Escalão era
constituído de um regimento de infantaria (6º Regimento de Infantaria), um
grupo de artilharia, uma companhia de engenharia e elementos ligados aos
setores de manutenção, reconhecimento, saúde, comunicações, polícia,
justiça, Banco do Brasil e correio, num total de 5.075 homens. Junto com o
1º Escalão embarcaram o general Mascarenhas de Morais e alguns oficiais
de seu estado-maior. O 2º Escalão embarcou a 22 de setembro no navio
General Mann, sob o comando do general Osvaldo Cordeiro de Farias, com
5.075 homens. O 3º Escalão embarcou nesse mesmo dia no navio General
Meigs, sob o comando do general Olímpio Falconière da Cunha, com 5.239
homens. O maior efetivo era o do 11º Regimento de Infantaria. O 4º
Escalão deixou o Brasil a 23 de novembro no navio General Meigs, sob o
comando do coronel Mário Travassos, com um efetivo de 4.691 homens. O
5º Escalão partiu a 8 de fevereiro de 1945 no navio General Meigs, sob o
comando do tenente-coronel Ibá Jobim Meireles, com um efetivo de 5.082
homens. Os médicos e enfermeiras foram transportados por via aérea.

A Força Aérea Brasileira (FAB) partiu para a Itália em princípios de outubro,


com um contingente de mais de quatrocentos homens sob o comando do
major Nero Moura.

Ao contrário dos planos originais, portanto, a FEB foi constituída por uma
única divisão, com um efetivo de 25.334 homens.

A FEB na Itália

A partir de 5 de agosto de 1944, quando chegou à região de Tarquínia, na


Itália, o 1º Escalão passou a integrar o V Exército norte-americano sob o
comando do general Mark Clark. O V Exército norte-americano, juntamente
com o VIII Exército britânico, integrava o X Grupo de Exércitos Aliados, sob
o comando geral de sir Harold Alexander. O V Exército, nesse momento,
estava constituído por dois corpos de exército, o II e o IV, pois acabava de
ser desfalcado de sete divisões, desviadas para os desembarques efetuados
pelos Aliados no sul da França. O II Corpo operava ao norte de Florença na
tentativa de desalojar os alemães de Bolonha. O IV Corpo, chefiado pelo
general Crittenberger, tinha a missão de abrir brechas na chamada Linha
Gótica, em poder dos alemães. Esta linha partia da região costeira do mar
Tirreno, apoiava-se na região montanhosa dos Apeninos e terminava nas
áreas de Pesaro e Rimini, já na faixa litorânea do Adriático. A faixa
compreendida pela Linha Gótica abrangia montanhas escarpadas que
proporcionavam excelentes vistas sobre as tropas aliadas. As forças
regulares alemães eram estimadas em 28 divisões (26 alemãs e duas
italianas), integrantes do Grupo de Exército C, sob o comando do marechal
Albert Kesselring.
Nessa fase da guerra, o objetivo dos Aliados na Itália era manter o Exército
alemão sob permanente pressão através de ofensivas de fixação, a fim de
impedir que o comando nazi-fascista transferisse para a França algumas
divisões de alto valor combativo.

A participação da FEB nos combates iniciou-se com o grupo de Zenóbio da


Costa em 15 de setembro de 1944, substituindo uma força norte-americana
que estava sendo desligada do IV Corpo. Os oficiais brasileiros foram
incluídos na Força Aérea Tática do Mediterrâneo e dentro dela, no XXII
Comando Aerotático, que dava apoio às tropas do V Exército norte-
americano. As primeiras vitórias da FEB na Itália ocorreram nos dias 16, 18
e 26 de setembro, com a ocupação de Massarosa, a tomada de Camaiore e
a queda de Monte Prano.

No dia 24 de setembro, o general Eurico Dutra desembarcou em Nápoles


para uma visita à FEB e ao comando do V Exército. Nessa ocasião, além da
troca de condecorações entre norte-americanos e brasileiros, foi adotado o
distintivo “A cobra está fumando” para os soldados brasileiros. Ainda
durante a visita de Dutra à Itália, foram-lhe sugeridas modificações no
comando da FEB. Zenóbio da Costa adquirira um grande prestígio pelas
vitórias alcançadas, o que fez com que seus amigos procurassem induzir o
general Dutra a promovê-lo ao comando da Divisão. Ao general
Mascarenhas seriam atribuídas funções de comando geral, acompanhadas
da promoção a tenente-general, posto até então inexistente. O objetivo era
transformar Zenóbio em comandante da Infantaria Divisionária e Cordeiro
de Farias em Comandante da Artilharia Divisionária, restando a
Mascarenhas uma função meramente administrativa. Este plano foi
apresentado a Dutra pelo general Wooten, membro de sua comitiva e
comandante, em Natal, das Forças Aéreas Americanas do Atlântico Sul.
Mascarenhas de Morais, ao tomar conhecimento dessas sugestões através
do general Clark dias após o regresso do general Dutra, escreveu a este
uma carta afirmando que o desdobramento do comando da FEB, tal como
fora proposto, acarretaria uma limitação da autoridade do comandante,
sendo difícil crer que algum general-de-divisão aceitasse tal situação. O
certo é que a idéia não teve ressonância nem junto ao general Clark, nem
junto ao general Dutra.

Após a conquista do maciço Prano, as tropas brasileiras, já acrescidas do 2º


e do 3º escalões, foram transferidas para o vale do rio Sercchio, para se
aproximarem de Castelnuovo di Garfagnana, um dos fortes redutos da
Linha Gótica e importante entroncamento rodoviário, de grande interesse
estratégico por ser uma das portas de acesso à planície do rio Pó. A
primeira fase do ataque foi bem-sucedida, com a tomada de Sommocolonia,
Lama di Sotto e Monte San Quirico, chegando as tropas brasileiras a apenas
4km de Castelnuovo di Garfagnana. Entretanto, como afirma o general
Mascarenhas de Morais, a tropa brasileira, subestimando o poder de reação
do inimigo, descurou do remuniciamento e das medidas de segurança, não
tendo condições para resistir ao contra-ataque desferido pelas tropas
alemãs durante a noite de 31 de outubro. Este foi o primeiro revés das
tropas brasileiras, que tiveram de recuar para posições anteriores.
Esta derrota encerrou a campanha do grupo de combate de Zenóbio, pois,
com a incorporação dos 2º e 3º destacamentos da FEB, Mascarenhas
assumiu o comando da 1ª Divisão, no início de novembro de 1944. Zenóbio
da Costa tornou-se comandante da Infantaria Divisionária, e Cordeiro de
Farias comandante da Artilharia Divisionária.

Por outro lado, na reunião do Alto Comando Aliado realizada a 30 de


outubro em Passo della Futa, foi decidido que a 1ª Divisão brasileira deveria
operar no vale do rio Reno, 120km a nordeste do vale do Sercchio. Nessa
reunião o general Clark expôs as diretivas que recebera do marechal sir
Alexander, comandante do XV Grupo de Exércitos Aliados, no sentido de
prosseguir atacando a fim de apossar-se de Bolonha, mantendo o inimigo
sob pressão e obrigando-o a retirar efetivos das frentes francesa e russa
para a frente italiana.

A 1ª DIE deveria ser retirada da área em que vinha atuando, e deslocada


para o vale do Reno. A 1ª DIE substituiria um destacamento da 1ª Divisão
Blindada norte-americana, conhecido sob a designação de CCB (Combat
Command B), na defesa da Linha Bombiana Brainetta Volpara-Torre di
Nerone-Fornaci-Querceto. No vale do Reno, a divisão brasileira ficaria
enquadrada, a leste (direita), pela 6ª Divisão Blindada sul-africana, e a
oeste (esquerda), pela Task Force 45, grupamento tático norte-americano,
constituindo o IV Corpo de Exército sob o comando do major-general Willis
D. Crittenberger. Após a reunião de Passo della Futa e diante das novas
diretivas emanadas do XV Grupo de Exércitos Aliados, o general Zenóbio e o
general Cordeiro de Farias iniciaram o adestramento das tropas recém-
chegadas à Itália.

Ao assumir o comando da 1ª DIE no setor do Reno, o general Mascarenhas


de Morais instalou seu quartel-general avançado na localidade de Porretta
Terme, e o quartel-general recuado primeiramente em San Rossore e, mais
tarde, na cidade de Pistóia. O quartel-general avançado era dirigido pelo
tenente-coronel Lima Brayner, compreendendo o comando da 1ª DIE, a
chefia e as seções do estado-maior e os serviços de comunicações e de
engenharia. Em Porretta Terme ficaram as seções de operações (3ª), sob a
chefia do tenente-coronel Humberto Castelo Branco, e de informações (2ª),
sob a chefia do tenente-coronel Amauri Kruel. As seções de pessoal (1ª) e
suprimento (4ª) foram transferidas para Pavana devido aos constantes
ataques da artilharia inimiga.

Em 20 de outubro de 1944, o general Mascarenhas de Morais designara o


general Olímpio Falconière da Cunha inspetor-geral do 1º Escalão. Suas
funções consistiam em resolver os problemas da retaguarda, principalmente
os que se ligavam diretamente ao suprimento qualitativo do pessoal
brasileiro, e as questões de relacionamento entre as autoridades brasileiras
no Brasil e norte-americanas na Itália, tais como hospitalização, correios,
fundos, transporte de pessoal por via aérea etc. Mais tarde, em 25 de
março de 1945, as funções do general Falconière seriam incluídas dentro de
um novo departamento denominado Órgãos Não-Divisionários.
A operação defensiva-agressiva

Nos dias 24, 25 e 29 de novembro e 12 de dezembro de 1944, a Task Force


45, comandada pelo general Paul Rutlegde, tendo à sua disposição o 3º
Batalhão (6º RI) e o Esquadrão de Reconhecimento brasileiros, atacou sem
êxito a fortificação de Monte Castelo. Segundo Mascarenhas de Morais, o
malogro dos ataques brasileiros na região do Reno deveu-se a uma
preparação inadequada e insuficiente. Foram apontadas ainda como causas
do insucesso as deficiências dos meios empregados no cumprimento da
missão, a falta de apoio da artilharia e da aviação, as condições climáticas
desfavoráveis e a falta de coordenação entre as unidades.

Segundo John F. Dulles, na preparação do ataque de 12 de dezembro,


Amauri Kruel, de posse de informações fornecidas pela 2ª Seção, fez uma
avaliação da força inimiga e a apresentou à 3ª Seção (chefiada por Castelo
Branco), tentando demonstrar que o ataque, tal como fora planejado, não
teria sucesso. Kruel baseava-se em informações de que os alemãs haviam-
se fortificado, cavando trincheiras e colocando minas por trás das redes
protetoras de arame farpado, e de que haviam também aumentado o
número de posições artilhadas em Monte Castelo. Kruel considerava um
erro tentar a tomada de Monte Castelo com soldados de infantaria,
precisando atravessar uma longa distância. Monte Castelo tinha 987m de
altitude e os montes que o cercavam — Belvedere, Gorgolesco, La Torraccia
— variavam entre 1.120 e 1.140m. Castelo Branco, porém, não aceitou a
avaliação de Kruel e, em reunião realizada a 8 de dezembro com o general
Mascarenhas de Morais, teve seu plano aprovado. O revés sofrido pelos
brasileiros significou uma baixa de 145 soldados, entre mortos e feridos.

Nesse mesmo dia, 12 de dezembro, chegou a Porretta Terme o ministro da


Aeronáutica Salgado Filho, para uma visita à frente brasileira. O ministro
presenciou a discussão entre os oficiais brasileiros e o major-general
Crittenberger, que criticava o encerramento da operação em Monte Castelo.
Os norte-americanos ameaçavam retirar as tropas brasileiras da frente de
combate “por falta de espírito ofensivo”. Os oficiais brasileiros responderam
às críticas lembrando que, entre outros fatores, a derrota fora determinada
pela ausência da cobertura prometida pelos norte-americanos. Os
brasileiros não foram retirados da frente, mas foram dispensados de
desempenhar naquele momento um papel agressivo na operação defensiva-
ofensiva.

O revés de Monte Castelo acirrou as disputas entre o coronel Lima Brayner


e os tenentes-coronéis Kruel e Castelo Branco, e levou o general
Mascarenhas de Morais a pensar em renunciar ao comando da FEB. De fato,
ocorreram algumas alterações no comando: Mascarenhas de Morais
assumiu direta e pessoalmente a direção das operações de combate,
abolindo a delegação a comandos intermediários. Passou a atuar ao lado do
chefe da Seção de Operações, tenente-coronel Humberto Castelo Branco,
atribuindo-lhe a ligação direta com o chefe da Seção de Operações do IV
Corpo de Exército.

Seguiu-se um período de estabilização, de 13 de dezembro de 1944 a 18 de


fevereiro de 1945, durante o qual foram introduzidas algumas modificações
nos comandos aliados: o marechal sir Alexander assumiu o comando do
teatro de operações da Itália, o general Clark passou a chefiar o XV Grupo
de Exércitos Aliados, e o tenente-general Lucian King Truscot Junior
assumiu o comando do V Exército norte-americano. O general Mascarenhas
de Morais aproveitou a fase de estabilização para intensificar o
adestramento dos quadros e da tropa brasileiros, providenciando junto ao
novo comandante do V Exército o provimento do armamento necessário à
nova tropa recém-chegada do Brasil. Determinou também a organização de
planos de descanso, férias e divertimento para os soldados brasileiros.

A Operação Encore e a vitória de Monte Castelo

O plano para o reinício da ofensiva aliada, denominado Operação Encore,


previa a captura de Monte Castelo e a atuação no vale do Marano, com a
conquista de Santa Maria Viliana e a tomada de Torre di Nerone e
Castelnuovo. A Operação Encore teve início no dia 19 de fevereiro de 1945.
Participaram da conquista de Monte Castelo a 10ª Divisão de Montanha
norte-americana, a artilharia brasileira, o 1º Regimento de Infantaria
brasileiro (Regimento Sampaio), comandado pelo coronel Caiado de Castro,
e a Força Aérea Brasileira. O plano da operação foi elaborado pelo tenente-
coronel Humberto Castelo Branco e consistia em um ataque sob a forma de
duas pinças, sendo que a da esquerda arpoaria desde o início o flanco
direito inimigo, e a da direita investiria frontalmente. Monte Castelo foi
conquistado a 21 de fevereiro, seguindo-se a conquista de La Serra, na
madrugada de 23 para 24, e, horas depois, a tomada de Monte della
Torraccia pelos norte-americanos.

A tomada de Monte Castelo inaugurou uma série de vitórias da FEB. A 3 de


março foi iniciada a ofensiva no vale do rio Marano pela 10ª Divisão de
Montanha norte-americana e pelos 6º e 11º regimentos de Infantaria
brasileiros (Regimento Ipiranga e Regimento Tiradentes). A 5 de março foi
capturado Castelnuovo, encerrando-se aí a Operação Encore. Iniciaram-se
então os preparativos para a Operação Primavera, no vale do rio Parano,
destinada a desmantelar a nova linha Gengis Khan que os alemães
preparavam nas montanhas dos Apeninos, no vale do Pó e nos passos
alpinos de Brenner e de Sillano.

A Operação Primavera

A Operação Primavera prolongou-se de 5 de abril a 2 de maio de 1945 e


cobriu todo o norte da Itália. Partiu do sul de Bolonha, estendendo-se do
Adriático ao Tirreno. Dela participaram todas as forças aliadas que se
encontravam na Itália e que integravam o XV Grupo de Exércitos.

A ofensiva teve início a 5 de abril com o ataque preparatório desencadeado


a oeste, na planície litorânea do Tirreno, por uma tropa diretamente
subordinada ao V Exército. A leste, na região plana do Adriático, o VIII
Exército britânico garantiu o ataque secundário. O ataque principal iniciou-
se no dia 14 de abril, com duas divisões norte-americanas, a blindada e a
de montanha, lançadas nas direções de Vergato e de Tole, e uma divisão
brasileira enviada no rumo de Montese. As tropas brasileiras conquistaram
Montese ainda no dia 14, enquanto as divisões norte-americanas somente
no dia 16 ocuparam Tole e Vergato, abrindo assim a porta de acesso à
planície do Pó. A divisão brasileira continuou a ofensiva em direção a Zocca,
Vignola, San Polo d’Enza, Montecchio Emilia e Findeza. A 27 de abril foi
tomada Colecchio, importante posição para impedir a retirada dos alemães
em direção a Parma, o que lhes permitiria transpor o rio Pó e atingir
posições ao norte na direção de Verona-Milão. A 29 de abril caiu Fornovo, e
a 148ª Divisão alemã, os remanescentes da 90ª Divisão Motorizada alemã e
a Divisão Itália capitularam. Enquanto se processava a rendição da 148ª
Divisão germânica, a FEB foi instruída pelo IV Corpo norte-americano a
continuar a cortar os movimentos dos alemães no sul e a ocupar, a oeste de
Fornovo, a área em redor de Alessandria, onde estava sediado o 75º Corpo
de Exército germânico.

A 2 de maio, ao cessarem as hostilidades na Itália com a capitulação do


último corpo de Exército germânico, a divisão brasileira ocupava a cidade de
Alessandria desde 30 de abril, e estabelecia ligação com o Exército francês
em Susa, próximo à fronteira franco-italiana.

O fim da guerra deu-se a 8 de maio de 1945, com a vitória final dos Aliados
em toda a Europa após a queda de Berlim.

O Brasil deixou sepultados na Itália, no cemitério de Pistóia, 454


integrantes de sua Força Expedicionária. Em 5 de outubro de 1960, as
cinzas dos soldados brasileiros foram transladadas para o Monumento
Nacional aos Mortos da Segunda Guerra Mundial, erguido no aterro da
Glória, no Rio de Janeiro.

Repercussões internas

À medida que os Aliados derrotavam as tropas alemães e italianas na


Europa, crescia no Brasil a oposição ao regime instaurado em 10 de
novembro de 1937. Tornava-se mais clara a contradição de um país que
lutava no exterior pela democracia mas não a praticava internamente. A
volta dos brasileiros que combateram na Itália precipitou a queda de
Vargas, propiciando a instalação de uma fase de redemocratização.

Por outro lado, a participação do Brasil na guerra foi particularmente


importante no tocante às forças armadas, que iriam desenvolver uma
estratégia militar e política a partir da concepção de integração do Brasil no
mundo ocidental cristão sob a hegemonia dos Estados Unidos. A criação e a
atuação da Escola Superior de Guerra estão intimamente relacionadas com
esta nova estratégia.

Alzira Alves de Abreu


FONTES: BANDEIRA, M. Presença; BRAYNER, F. Verdade; DULLES, J.
Castelo; DULLES, J. Getúlio; ENTREV. FARIAS, O.; ENTREV. GUEDES, P.;
FARIAS, O. Alguns; MORAIS, B. Depoimento; MORAIS, J. FEB; MORAIS, J.
Memórias; VARGAS, G. Nova.

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