O TEMPO E A

CONSTRUÇÃO DA
HISTÓRIA
Prof. Marcelo Ferraz
S
e a História estuda os
grupos humanos através
do tempo, precisamos
explorar esse conceito, pois a
noção de “tempo” é bastante
ampla, abrangendo aspectos
cronológicos e históricos.
Segundo o site Significados:
“Tempo é a duração dos fatos, é
o que determina os momentos,
os períodos, as épocas, as horas,
os dias, as semanas, os séculos
etc. A palavra tempo pode ter
vários significados diferentes,
dependendo do contexto em
que é empregada”. O tempo é
sentido e observado, entretanto
“[...] o homem não precisa da
cultura para perceber o tempo,
poissuas funções vitais são
temporais [...]. O tempo do
relógio ao mesmo tempo se
inspirava na regularidade da
natureza e a substituiu na
organização da sociedade [...].
O surgimento das cidades
reguladas pelo tempo mecânico
do relógio pôs fim à somente o movimento circular
exclusividade dessa vida
camponesa e religiosa”.
O tempo cronológico não deve
ser confundido com o tempo
histórico, por serem duas
noções diferentes. O tempo
cronológico é apenas uma
percepção que temos sobre o
passado, o presente e o futuro.
O modo como atualmente
medimos o tempo é apenas uma
possibilidade de medição
desenvolvida em nossa cultura,
sendo uma construção
histórica. O modo como o dia é
dividido em horas, minutos e
segundos é apenas uma
convenção.
O tempo histórico é um
instrumento para o historiador
medir a mudança, serve para
ordenar a história, e se
relaciona com as percepções
sobre mudanças e
permanências nos modos de ser
e de viver das sociedades. O
tempo histórico é o das
coletividades públicas, das
sociedades, civilizações, que
serve de referência aos
membros de um grupo.
Para os gregos, o tempo
apresentava um movimento
circular, com as categorias da
continuidade e eternidade, e
podia ser eterno. O movimento
circular, para Aristóteles era
infinitamente contínuo indo de
um ponto a esse mesmo ponto.
O regime de historicidade ou a
“mentalidade grega”, portanto,
ainda se movia em uma lógica
mítica: impunha a lembrança
dos grandes eventos e
personagens exemplares, exigia
que os homens do presente os
imitassem. O horizonte de
expectativa do homem grego era
tornar-se um imortal, ter a fama
eterna.
Os judeus tiveram a coragem
de aceitar a historicidade
porque acreditaram que os
eventos descontínuos
expressavam a vontade de Deus
e, como presença de Deus,
teriam sentido e seriam reais.
Deus estaria presente na
história, intervendo nos
assuntos humanos.
A “mentalidade cristã”, renovou
o problema do tempo e da
história, porque é uma religião
quase humana, que possui
datas, eventos, lugares
sagrados, presente, passado,
futuro, uma escatologia. O
cristianismo abriu o círculo
grego e impôs a linearidade.
Agora havia um começo e um
fim.
Os primeiros povos marcavam
o tempo seguindo os ciclos da
natureza, como as fases da lua,
a posição dos astros e a posição
do Sol. Observando a natureza
começam a marcar as horas e os
dias, criando os calendários,
que permitiram que
entendêssemos as sucessões, os
sincronismos e as sequências
dos acontecimentos históricos.
O calendário é um sistema que
estabelece um modo de contar o
tempo. Diferentes povos criaram
calendários, deacordo com seus
conhecimentos e necessidades,
com base em observações
astronômicas ou crenças
religiosas.
Para os judeus, tem-se por base
a criação do mundo, narrado na
Torá, ocorrida em 7 de outubro
de 3760 a.C.
Para os muçulmanos, a fuga de
Maomé, de Meca para Medina,
ocorrido em 622, e chamada de
Hégira, é o ponto inicial de seu
calendário.
Para os cristãos, a história é
datada tendo como referência o
nascimento de Cristo. Tudo o
que aconteceu antes do
nascimento de Cristo é
catalogado com a.C. e tudo o
que ocorreu depois, por d.C. O
tempo cristão também pode ser
observado pela abreviação A.D.
(Anno Domini, em latim, “ano
do Senhor”).
O calendário maia é um entre os
diversos sistemas temporais
utilizados pelos maias. Ele tem
início em 11 de agosto de 3114
a.C. O processo de enumeração
ocidental dos séculos é infinito,
mas o calendário maia tem uma
duração limitada prescrita,
5200 anos. Assim, ele teria seu
fim em, como a data cultivada
por nossa civilização, 21 de
dezembro de 2012.
O calendário chinês, por sua
vez, é um dos mais antigos
registros cronológicos da
história e se baseia nos
movimentos da lua e do sol. Sua
origem remonta ao ano de 2697
a.C. Cada ano possui doze
meses correspondentes a do mundo.
lunações de 29 ou 30 dias que
totalizam 354 dias. Um mês é
acrescentado
aproximadamente a cada três
anos para sincronizar com o
ciclo solar de 365,25 dias. No
dia 25 de janeiro de 2020
chegamosao 4718º ano do
calendário chinês.
Podemos identificar uma data
qualquer por meio de uma
operação matemática simples.
Se a data em questão terminar
em dois zeros (por exemplo
2000), o século corresponde
aos primeiros algarismos à
esquerda do número analisado
(século XX, no caso do
exemplo).
Quando o ano não termina em
dois zeros, basta eliminar a
unidade e a dezena e somar 1.
Ex: 2020 = 2020 = 20+1 = 21 =
século XXI
DIVISÃO DA HISTÓRIA
OCIDENTAL
Uma visão eurocêntrica
No mundo ocidental,
convencionou- se adotar a
periodização com bases
cronológicas relacionadas à
história da Europa. Essa
convenção gerou uma grande
crítica à periodização, por
defender um caráter
eurocêntrico, dificultando sua
aplicação a todas as sociedades
Além disso, essa periodização
dá a falsa ideia de que as
mudanças históricas
ocorrera
m simultaneamente em todos os
grupos humanos, o que não é
verdade. Nem ocorreram
também repentinamente, mas
dentro de um processo lento e
gradual.
Pré-História?
A primeira fase da História da
humanidade ficou conhecida
como Pré-história,
caracterizada pela ausência da
escrita. O termo foi utilizado
pela primeira vez em 1832, mas
só se tornou de uso corriqueiro a
partir do lançamento do livro
Prehistoric times, de John
Lubbock, em 1865. No início do
século XIX, a maioria das
pessoas acreditavam na
cronologia bíblica, e a Igreja
afirmava que a Terra havia sido
criada há 4.000 a.C.
No entanto, atualmente, esse
conceito não é consenso entre
historiadores, uma vez que a
denominação expressa certo
preconceito ao negar a história
aos povos ágrafos, ou seja, as
sociedades que não dominavam
a escrita. Ainda hoje existem
culturas ágrafas e, apesar disso,
são agentes de sua própria
história.
Outras expressões foram
propostas para substituir o
termo Pré-História, como, por
exemplo, História dos Povos
Ágrafos, mas o mais
importante é estarmos cientes
de que todo passado humano
faz parte da História.
Dessa forma, segundo a
periodização clássica, a Pré-
História abrange o recorte
que vai do surgimento do ser
humano até o aparecimento
da escrita, cerca de 3.500 a.C.
Antiguidade
Após o surgimento da escrita,
a humanidade entrou em uma
nova fase, caracterizada pelo
surgimento das relações de
poder, a formação dos
primeiros Estados e as
mudanças nos modos de
produção.
Essa fase, chamada de Idade
Antiga ou Antiguidade, foi
palco do surgimento de várias
civilizações, localizadas entre o
Crescente Fértil, Oriente
Próximo e Mediterrâneo, e
seguiu até a queda do último
imperador romano, em 476.
Medievo
Após a queda do último
imperador romano e o colapso
daquele império, várias tribos
germânicas forçaram as
fronteiras, invadindo-as e
formando novos reinos. Com
isso, houve um novo desenho
da Europa. Esse período ficou
conhecido como Idade Média
ou Medievo, e vai até a
tomada de Constantinopla
pelos turcos ou o fim da Guerra
dos Cem Anos, em 1453, ou
ainda a chegada de Colombo à
América, em 1492. Não há um
marco específico para seu fim.
Isso ainda é matéria de grande
debate.
Idade Moderna
A Idade Moderna começaria
após a tomada de
Constantinopla ou a chegada do
homem europeu às Américas,
abarcando as mudanças
políticas e econômicas que
resultaram na Revolução
Francesa, com a tomada da
Bastilha, em 1789.
Idade Contemporânea
O advento da Revolução
Francesa causou um impacto
tão grande na Europa que se
tornou a linha divisória entre a
Idade Moderna e a Idade
Contemporânea, que engloba
as alterações sociais resultantes
das revoltas liberais do século
XIX até os dias atuais.
Outras divisões
Essas concepções tradicionais
foram criticadas e superadas ao
longo do tempo. A divisão da
História, como apresentada, foi
duramente questionada pelos
motivos já discutidos, que
levaram à exclusão do estudo
de várias sociedades em
diferentes pontos do globo.
Apesar de todas as discussões
sobre essa temática, a divisão
clássica da História ainda
permanece firme no currículo
do ensino básico e superior,
bem como nos livros didáticos.
Entretanto, devemos nos ater a
compreender as mudanças
históricas como eventos de
média e longa duração. A Idade
Média, por exemplo, não
surgiu de uma hora para outra.
Nem o mundo antigo se
dissolveu de uma vez. A
passagem de uma era à outra
sempre foi feita de modo lento
e gradual, com nuances
comuns, que se transmutavam
lentamente.
História do Tempo Presente e
História Imediata
A partir da década de 1970,
surgiram outros recortes
históricos, passando a se
discutir a História do
Tempo Presente,
caracterizado pelo testemunho
de personagens que ainda
estão vivos, e foram
testemunhas dos eventos,
como por exemplo, a Segunda
Guerra Mundial e o Holocausto
judeu. No Brasil, temos os
estudos sobre o Regime Militar
e a forte repressão exercida
pelo Estado, com o exercício da
tortura de presos políticos.
Outro recorte atualmente
utilizado é o da História
Imediata, que, por sua vez,
remete ao processo de
construção do evento histórico
por meio de fatos jornalísticos
mais recentes.
Referências:

BRAICK, Patrícia; MOTA, Miriam.

História das cavernas ao terceiro
milênio. São Paulo, Moderna, 2016.
BOSCHI, Caio César. Por que
estudar História? São Paulo: Ática,
2007.
COTRIM, Gilberto. História global:
Brasil e geral. São Paulo: Saraiva,
2013.
FERREIRA, João Paulo Mesquita
Hidalgo; FERNANDES, Luiz Estevam
de Oliveira. Nova História
integrada. Curitiba: Terra Sul, 2010.
REIS, José Carlos. Teoria &
história: tempo histórico,
história do pensamento histórico
ocidental e pensamento
brasileiro. Rio de Janeiro: Editora
FGV, 2012.
SELBACH, Simone (org). História e
didática. Petrópolis: Vozes, 2010. p.
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