Você está na página 1de 72

C1_1A_His_JR_2022.

qxp 18/10/2021 22:26 Página 1

HISTÓRIA INTEGRADA

Módulos 8 – Esparta
1 – Dividindo o tempo 9 – Atenas
2 – Pré-História 10 – Período Clássico
3 – Mesopotâmia 11 – Roma: Monarquia
4 – Egito 12 – Roma: República
5 – Fenícia e Israel 13 – A expansão republicana
6 – Pérsia 14 – A crise da República
7 – Grécia: Períodos Pré-Homérico e 15 – Alto Império Romano
Homérico 16 – Baixo Império Romano

Palavras-chave:
• Tempo
Dividindo o tempo
1 • Cronologia
• Calendário

1. O nascimento da Era Cristã do sol ao Natal. Em 1582, o papa Gregório XIII resolveu
reformar o calendário juliano e adaptá-lo às festas
A História tem de ser pensada em termos de tempo cristãs, daí o nascimento do calendário cristão grego-
ou não é História. É a sucessão dos acontecimentos, riano que utilizamos hoje em dia.
obedecendo a uma ordem cronológica, que forma o seu
Foi somente a partir do século XIX, com a corrida co-
material de estudo, facilitando a sua compreensão.
lonialista e a necessidade de padronização para facilitar o
Portanto, para começar a entendê-la, é preciso saber
como os acontecimentos foram classificados. comércio mundial, que o calendário e a cronologia cris-
tãos foram impostos aos povos não cristãos do mundo.
A unidade de tempo mais conhecida é o dia, mas é
uma unidade muito pequena. Os meses são unidades Outros calendários
maiores, mas ainda assim muito pequenas. Por isso,
utilizamos basicamente os anos. A datação dos anos era Embora o gregoriano seja aceito universalmente,
feita, na Antiguidade, a partir dos reinados dos sobe- cada povo tem uma forma diferente de contar o tempo
ranos, da fundação de cidades pelos romanos ou de cer- e o faz por ciclos naturais: o solar de 365 dias ou o lunar
tos acontecimentos importantes como os Jogos de 30 dias.
Olímpicos na Grécia. Entre os solares estão o gregoriano, o juliano e o
Durante os primeiros cinco séculos que se suce- maia. Já entre os lunares podemos citar o chinês, que
deram ao nascimento de Cristo, ainda se usava na inicia sua datação a partir do governo do patriarca
Europa uma tríplice cronologia: a fundação de Roma, o Huangti; o judaico, que tem como ponto de partida a
nascimento de Cristo e a data de início de um deter- criação do mundo; o islâmico, que utiliza a Hégira, fuga
minado reinado. de Maomé de Meca para Medina em 622 d. C.
Por muito tempo, seguiu-se o calendário juliano, Durante a Revolução Francesa, decidiu-se que os
criado por Júlio César em 46 a. C. No século VI d. C., o anos seriam contados a partir da proclamação da
monge Dionísio, o Pequeno, procurou estabelecer o República e, mais tarde, Napoleão, em seu governo,
suposto ano do nascimento de Cristo e adequar a festa restabeleceu o calendário cristão.

HISTÓRIA 1
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 2

A universalização da cronologia cristã fez com que Sobre essa divisão tradicional, é preciso considerar
os anos anteriores ao nascimento de Cristo fossem que se trata de um critério sobretudo político, em que
contados de trás para diante. Assim, temos o ano 10 d. os marcos fundamentais são todos ligados à história
C., que corresponde a 10 anos após o nascimento de política. Se considerássemos outros aspectos (econô-
Cristo, e o ano 10 a. C., isto é, 10 anos antes do nasci- micos, so ciais, reli giosos), pode ría mos en contrar
mento de Cristo. Observe que, como não existe um ano outras datas mais significativas. Como exemplo, o
0 na referida cronologia, o nascimento de Cristo situa-se Descobrimento da América, em 1492, é muito mais
já no ano 1 d. C., ou simplesmente ano 1. importante para a História do Ocidente do que a
Cem anos constituem um século. O primeiro século tomada de Constantinopla pelos turcos em 1453.
da Era Cristã começa com o nascimento de Cristo e vai Além do mais, situar um período de mudanças em
até o ano 100. Do ano 101 ao ano 200, temos o segundo uma única data é uma limitação muito séria, porque
século. Daí em diante, a cronologia segue a mesma uma época de transição não pode ser reduzida a
ordem. apenas um ano.
O mesmo acontece se quisermos contar os séculos
antes de Cristo: 765 a. C. pertence ao século VIII; 1598 Idade Antiga
a. C. pertence ao século XVI. O mecanismo somente
não vale quando o ano termina em dois zeros (final de A História inicia-se exatamente no momento em
século). Por exemplo, o ano 800 pertence ao século VIII que apareceram os documentos escritos; ora, como
e 1900 ao século XIX. eles surgiram em torno do IV milênio a. C., quer dizer,
por volta de 4000 a. C., podemos dizer que aí começa
Em resumo, os anos 1, 2, 3, ..., 98, 99 e 100 formam
a História propria men te dita. O perío do an terior
o primeiro século da Era Cristã. Para os demais anos,
utilize uma regra simples para a contagem dos séculos: somente pode ser reconstituído com base em docu-
se o ano terminar em 00, separe os dois últimos algaris- mentos não escritos. É necessário, portanto, interrogar
mos da direita (00) e o número que está à esquerda documentos “mudos” (instrumentos, armas, dese-
indica o século; se o ano não terminar em 00, separe os nhos, pinturas, restos) e, por isso, chamamos a esse
dois algarismos que formam a dezena e acrescente uma período de Pré-História.
unidade ao número que está à esquerda. A Antiguidade divide-se em Oriental e Ocidental –
ou Clássica. Com relação à primeira, estudamos as
Exemplos: civilizações surgidas no Oriente Médio, como os
egípcios, meso po tâmios (sumérios, babilônios e
476 – século V 1993 – século XX
assírios), fenícios, hebreus e persas. A respeito da
800 – século VIII 2000 – século XX segunda, analisamos a civilização grega e a romana.
1453 – século XV 2001 – século XXI Este período se encerra com a queda do Império
Romano do Ocidente por meio das invasões bárbaras.
Dez séculos ou mil anos formam um milênio;
assim, estamos no início do terceiro milênio depois de Idade Média
Cristo. A um período de 25 a 30 anos damos o nome O período medieval inicia-se com a queda de Roma
de geração, porque corresponde à média entre o e estende-se até a queda de Constantinopla em 1453
nascimento de um indivíduo e o momento em que ele (ou ainda o fim da Guerra dos Cem Anos), sendo a fase
constitui família e começa a procriar. Para a contagem
em que o feudalismo se formou, se consolidou e
do tempo, também se utiliza a década, que
iniciou a sua decadência, dando origem ao nascimento
corresponde a um período de dez anos. Assim, quando
do capitalismo.
citamos a década dos anos 60, do século XX, estamos
nos referindo ao período que começa em 1961 e
Idade Moderna
termina em 1970. Ainda é utilizada a expressão época
para especificar o período dominado por uma grande Neste período, estudamos a transição feudo-capita-
personalidade, como a Época de Péricles, na Grécia; lista, em que as características feudais são suplantadas
de Augusto, em Roma etc. aos poucos pelo capitalismo, até este se tornar dominan-
te. Seu marco final é a eclosão da Revolução Francesa em
2. Os períodos da História 1789.

Costuma-se dividir a História em períodos. Eles Idade Contemporânea


facilitam o trabalho do historiador; são cômodos, embora
superficiais. De fato, como não notamos a constante Nesta fase, ocorre a expansão e consolidação do ca-
continuidade no processo histórico, essas divisões têm pitalismo pelo mundo e seus efeitos perduram até os
um caráter meramente didático. dias atuais.

2 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 3

O conhecimento da História

A análise da causa como ligado ao efeito por um vínculo mais As mentalidades


instrumento do conhecimento direto, e quase não podemos evitar o A história das mentalidades obriga o
histórico sentimento de que só ele verdadei- historiador a interessar-se mais de perto
ramente o produziu. Aos olhos do senso por alguns fenômenos essenciais de seu
Suponhamos um homem a andar por
comum, que ao falar de causa tem domínio: as heranças, das quais o estudo
um caminho da montanha. E que tropeça
sempre dificuldade em desembaraçar-se ensina a continuidade, as perdas, as rup-
e cai num precipício. Para que se desse
de um certo antropomorfismo, este com- turas (de onde, de quem, de quando vem
um acidente, houve que verificar-se o
ponente da última hora, este componente esse hábito mental, essa expressão, esse
concurso de um grande número de ele-
particular e inopinado, assemelha-se um gesto?); a tradição, isto é, as maneiras
mentos determinantes. Entre outros,
pouco ao artista, que dá forma a uma pelas quais se reproduzem mentalmente
estes: a existência da gravidade, a pre-
matéria maleável já toda pronta. as sociedades, as defasagens, produto do
sença de um relevo, resultante ele próprio
de longas vicissitudes geológicas; o retardamento dos espíritos em se adap-
traçado do caminho, destinado, por História e verdade tarem às mudanças, e da inegável rapidez
exemplo, a ligar uma aldeia às suas pas- com que evoluem os diferentes setores
O raciocínio histórico, na sua prática
tagens de verão. Será, pois, perfeita- corrente, não procede de outro modo. Os da história. Campo de análise privilegiado
mente legítimo afirmar que, se as leis da antecedentes mais constantes e mais para a crítica das concepções lineares a
mecânica celeste fossem diferentes, se a gerais, por muito necessários que sejam, serviço histórico. A inércia, força histórica
evolução da Terra tivesse sido outra, se a continuam a ser simplesmente suben- capital, mais fato referente ao espírito do
economia alpestre não se baseasse na tendidos. Qual é o historiador militar que que à matéria, uma vez que esta evolui
transumância sazonal, não se teria pensará colocar entre as razões de uma frequentemente mais rápido que o primei-
verificado a queda no precipício. Mas se vitória a gravitação, que explica as tra- ro. Os homens servem-se das máquinas
perguntarmos entretanto: qual foi a jetórias dos obuses, ou as disposições que inventam, conservando as mentalida-
causa? Toda a gente dirá: o passo em fisiológicas do corpo humano, sem as des anteriores a essas máquinas. Os au-
falso. Não é que esse antecedente fosse quais os projéteis não provocariam tomobilistas têm um vocabulário de cava-
o mais necessário ao acontecimento. ferimentos mortais? Já os antecedentes leiros; os operários das fábricas do século
Muitos outros o eram no mesmo grau. mais particulares, mais dotados ainda de XIX, a mentalidade dos camponeses,
Mas distingue-se dos demais por vários uma certa permanência, formam o que se seus pais e avós. A mentalidade é aquilo
caracteres muito flagrantes: foi o último a convencionou chamar as condições. O que muda mais lentamente. História das
dar-se; era o menos permanente, o mais mais especial, aquele que no feixe das mentalidades, história da lentidão na
excepcional na ordem geral do mundo; e, forças gerais representa, de qualquer história.
finalmente, por virtude mesmo desta modo, o elemento diferencial recebe de
menor generalidade, a sua intervenção preferência o nome de “causa”.
(Jacques Le goff; Pierre Nora. História: Novos
parece a que poderia ter sido mais (Marc Bloch Introdução à História. Lisboa: Objetos. In As Mentalidades: uma História
facilmente evitada. Por todas estas Publicações Europa-América, Ambígua. Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1976.
razões, o passo em falso pode parecer 1976. p. 164-165.) p. 71-72.)

HISTÓRIA 3
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 4

Exercícios Resolvidos

Leia os dois documentos a seguir e responda a questão .

 Considerando os dois documentos, podemos afirmar


que a natureza do pensamento que permite a datação
da Terra é de natureza
a) científica no primeiro e mágica no segundo.
b) social no primeiro e política no segundo.
c) científica no primeiro e religiosa no segundo.
d) religiosa no primeiro e econômica no segundo.
e) matemática no primeiro e algébrica no segundo.
Resolução
As referências bíblicas, no primeiro documento, e as alusões a “isó-
topos de urânio” e “meias-vidas radioativas”, no segundo, indiciam
claramente o caráter religioso de um e a natureza científica do outro.
Note-se a redação tautológica do enunciado: “…a natureza do pensa-
mento… é de natureza…”
Resposta: C

Utilize o texto para responder a questão .


Pelo olhar do poeta, também é possível compreender determinados aspectos essenciais para a conceituação de História. Leia, por exemplo, Carlos
Drummond de Andrade:
“Aconteceu há mil anos?
Continua acontecendo.
Nos mais desbotados panos
estou me lendo e relendo.”

Ou, ainda, do mesmo autor:

“O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.”

 (UnB – MODELO ENEM – modificada) – Com o auxílio das observações de Drummond, julgue os seguintes itens, referentes ao conceito de
História e ao ofício do historiador.
I. Tendo por objeto o estudo do passado, a História parte das contingências da “vida presente” para inquirir aquilo que passou.
II. Especialmente em épocas de crise generalizada, sobressai o papel que se espera do historiador: lembrar o que os outros esqueceram.
III. O autor transmite a ideia de que o passado é continuamente reescrito, a partir de cada presente e de seus novos interesses, eliminando,
assim, a possibilidade de a História conter um caráter científico.
IV. A reconstrução do passado, exatamente como ele ocorreu, é o que fazem os historiadores, independentemente de suas convicções
ideológicas e pessoais.

Resolução
A afirmativa III está incorreta, porque a História é uma ciência que utiliza uma metodologia e critérios próprios, apesar do historiador interferir com
os seus valores e interesses na sua produção historiográfica.
A afirmativa IV está incorreta, pois é impossível reconstruir o passado, exatamente como ele ocorreu. Cabe ao historiador realizar um trabalho
investigativo de recomposição a partir dos dados existentes. Na falta desses dados, as conclusões serão sempre parciais.

4 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 5

Exercícios Propostos

 Por ser muito ampla e abrangente, a História pode ser c) o calendário cristão foi adotado universalmente porque,
fragmentada em vários aspectos do conhecimento, ajudando a sendo solar, é mais preciso que os demais.
relação das partes com o todo. Cite três ciências auxiliares da d) a religião não foi determinante na definição dos calendários.
História e defina-as. e) o calendário cristão tornou-se dominante por sua antigui-
dade.
RESOLUÇÃO:
Economia: estudo da produção, distribuição e consumo de bens e RESOLUÇÃO:
serviços; Antropologia: estudo dos “modos de vida” dos grupos O enunciado já determina a “variedade” na contagem do tempo em
sociais e da evolução da espécie humana; Arqueologia: estudo “diversas sociedades” e destaca a importância da religião na
dos materiais remanescentes de grupos sociais extintos. formação cultural de diversos povos, exigindo-se do examinando
apenas saber que, nas relações internacionais, é atualmente
utilizado o calendário cristão.
 Indique os séculos que correspondem às datas abaixo: Resposta: B

XX XVIII
1993 – século __________ 1789 – século ________

1453 – século XV
__________ 476 – século V
________  (MODELO ENEM) – O quadripartismo histórico, que divide
a história da humanidade em quatro “Idades”, é atualmente
XV
1500 – século __________ refutado pela maior parte dos estudiosos, uma vez que estes
entendem que os processos de transformação históricos são
 Relacione as colunas e assinale a alternativa correta:
muito mais complexos e não podem ser resumidos em apenas
um ano. Afirmar que a Idade Média termina em 1453 é partir do
A) Nascimento de Cristo
princípio de que apenas a Europa passou por mudanças
B) Hégira
relevantes nesse ano, ignorando qualquer outra civilização
C) Criação do mundo
presente em todos os outros continentes. Em outras palavras,
D) Proclamação da Convenção em 1792 (Vindimário)
esta divisão perpetua a visão eurocêntrica construída desde os
Descobrimentos até o início do século XX.
( ) Marca o início do calendário muçulmano.
( ) Marca o início do calendário judeu.
Com base no texto, assinale a alternativa correta
( ) Marca o início do calendário cristão.
a) a divisão da História em “Idades” desrespeita as sociedades
( ) Início do calendário revolucionário francês.
africanas e asiáticas, porém considera a América, uma vez
a) D, C, A e B. b) A, D, B e C. c) B, A, C e D.
que ela já havia sido “descoberta” pelos europeus na época
d) B, C, A e D. e) C, D, A e B.
que tal divisão foi feita.
RESOLUÇÃO: b) as “Idades” históricas valorizam a sociedade europeia, pois
A marcação do tempo difere de uma cultura para outra e obede- em outros continentes não havia a presença de sociedades
ce a critérios religiosos ou políticos. evoluídas o suficiente para possuírem escrita.
Resposta: D c) tal divisão histórica foi feita num momento em que a Europa
se considerava o centro das decisões tomadas no mundo
 Os quatro calendários apresentados abaixo mos- (século XIX) e, portanto, enfatiza suas mudanças como as
tram a variedade na contagem do tempo em mais importantes inclusive para as outras sociedades.
diversas sociedades. d) quando o quadripartismo foi criado, nenhuma sociedade,
além da europeia, possuía força militar suficiente para se
impor ao “velho mundo” e questionar tal visão.
e) A divisão em “Idades”, apesar de não ser a ideal, é a
melhor maneira de se estudar História, pois a visão
europeia foi sempre a mais justa, uma vez que eles eram o
único povo com capacidade tecnológica e alcance mundial
para tal tarefa.

(Adaptado de Época, n.° 55, 7 de junho de 1999.) RESOLUÇÃO:


O quadripartismo histórico foi feito para atender os interesses
Com base nas informações apresentadas, pode-se afirmar que civilizatórios europeus frente às demais civilizações, no final do
a) o final do milênio, 1999/2000, é um fator comum às dife- século XIX. Ao reduzir o papel dos povos não europeus nas
rentes culturas e tradições. transformações ocorridas no processo histórico, a Europa se
b) embora o calendário cristão seja hoje adotado em âmbito autoafirmava como o projeto de desenvolvimento hegemônico,
sobrepondo suas mudanças políticas, econômicas e sociais às das
internacional, cada cultura registra seus eventos marcantes
demais sociedades.
em calendário próprio. Resposta: C

HISTÓRIA 5
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 6

Palavras-chave:

Pré-História • Caça e coleta


2 • Pedra lascada

Paleolítico Inferior e Superior: 2. A Revolução Neolítica


de 2 600 000 a.C. a O Período Neolítico marca uma profunda
transformação das relações do homem com a natureza,
10 000 a.C. denominada Revolução Agrícola. Nesse período,
verifica-se a passagem da economia de depredação (em
O Paleolítico Inferior (do grego paleos = antigo + que o homem se preocupa apenas com sua sobrevivên-
lithos = pedra) é o período mais longo da Pré-História. cia, destruindo recursos naturais) para uma economia de
Ele abrange a fase das glaciações, quando prolongadas produção: quando o homem começa a plantar e aper-
baixas da temperatura provocaram a expansão da feiçoar, pela seleção, ervas, raízes e frutos comestíveis.
calota polar, alterando profundamente o clima do É também a fase em que se inicia a domesticação
Hemisfério Norte. A América do Sul também sofreu de animais. O homem resolve adaptar o meio geográfico
glaciações, mas antes que o homem nela se fixasse. às suas necessidades e não mais se ajustar a esse meio.
Os geólogos identificam quatro glaciações no A vida em grupo permite a dinamização da agri-
cultura e do pastoreio. O próprio processo de seden-
Hemisfério Norte. Elas começaram cerca de 600 000
tarização garante o desenvolvimento da agricultura e da
anos atrás e se prolongaram, intercaladas com longos
pecuária, assim como a melhoria de vida, promovendo
períodos mais cálidos, até perto de 10 000 a.C. então um aumento populacional.
Durante as épocas glaciais, os ancestrais do homem
Quanto mais cresce o grupo, mais é necessário
atual abrigavam-se em cavernas e viviam basicamente
semear; e, assim, os mais jovens podem ser utilizados
da caça; às vezes, a escassez de alimento os obrigava como força de trabalho no pastoreio e em serviços leves
ao nomadismo. Para abater os grandes mamíferos que no campo.
viveram nessas fases de baixas tempera turas
O homem é caçador ainda. Entretanto, cada vez mais
(mamutes, rinocerontes lanudos, bisões e alces), os
passa a percorrer maiores distâncias para que possa
homens começaram a organizar-se em grupos e a encontrar caça, cabendo à mulher o desenvolvimento da
estabelecer laços de cooperação e solidariedade, pois agricultura. Mesmo assim, segundo mostra a Arqueologia,
disso dependia a própria sobrevivência da espécie. nos períodos intermediários de caça, o preparo da terra e
O maior passo dado pelo homem no Paleolítico In- as atividades mais difíceis eram encargos masculinos.
ferior deveu-se ao Homo erectus. Trata-se da utilização A vida em sociedade vai se desenvolvendo. O homem
do fogo, que lhe permitiu aquecer-se, obter iluminação vai aperfeiçoando ferramentas e armas que facilitam a vida
à noite, afastar animais ferozes e cozer alimentos. em comunidade e o contato com a natureza. O aumento
da produtividade agrícola cria a necessidade de encontrar
O Paleolítico Superior coincide aproximadamente
utensílios para armazenar alimentos. Para tanto, desen-
com a última glaciação. O homem de Cro-Magnon (o
volveram-se as técnicas para a fabricação de cerâmica.
primeiro Homo sapiens sapiens que conhecemos),
Outros instrumentos deviam ser testados e o plantio do
que surgiu por volta de 40 000 a.C., é o representante algodão e a tosa da lã vão permitir ao homem a fabricação
característico do período. Essa subespécie do Homo de tecidos, o que exige conhecimentos e cultivo de deter-
sapiens dividiu-se em várias culturas locais, minadas plantas, além da técnica de tecer.
distribuídas pela Espanha, pelo Sul da França e pela Nas comunidades, a terra era de uso coletivo, as
Europa Centro-Oriental. técnicas de plantio eram precárias e quase não sobrava
Os Cro-Magnon ainda eram coletores, caçadores e excedente de produção. O homem ainda não havia
pescadores. Seus instrumentos, porém, passaram por completado seu processo de sedentarização.
transformações. Como o gelo da glaciação dificultava a Em torno dessa nova realidade econômica, a
obtenção de pedras, diversos utensílios começaram a sociedade também passou por transformações. Os
ser confeccionados com ossos e marfim; o arco e a homens organizaram-se na chamada comunidade
flecha surgiram nesse período, bem como arpões e primitiva, fundada a partir de laços de sangue, idioma e
agulhas. costumes. A posição social do indivíduo dependia do

Neolítico: referente ao período da pedra nova, também chamado de Idade da Pedra Polida (18 000 a 5 000 a. C.).
Sedentarização: ato de sedentarizar-se, isto é, ter habitação fixa.

6 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 7

grau de parentesco que possuía com os membros do pois surgiu a técnica da fundição do estanho, que
grupo, começando a estruturar-se o conceito de família. permitiu a obtenção do bronze, resultado da liga desses
A característica marcante desse período é a presença dois minérios. Por volta de 3000 a. C., o bronze era pro-
de monumentos megalíticos, grandes blocos de pedra, duzido no Egito e na Mesopotâmia, estendendo-se sua
que possuíam um caráter funerário, pois os mortos eram utilização, a partir daí, para algumas regiões da Europa.
enterrados junto a eles, geralmente com seus pertences. O conhecimento da metalurgia do ferro é posterior ao
Esses monumentos são representados pelos: do cobre, tendo início apenas por volta de 1500 a. C., na
menires, simples pedras fincadas no chão; dolmens, Ásia Menor. Sua difusão, porém, foi mais lenta, em
compostos de duas pedras fincadas verticalmente no virtude da dificuldade de extração e da necessidade de
chão sobre as quais repousa uma terceira, horizon- uma temperatura de fundição muito alta. Desta forma, o
talmente; cromlechs, formados por pedras dispostas em cobre continuou predominando. No entanto, a resistência
fileiras em torno de um dólmen. do ferro para a fabricação de armamentos contribuiu para
a supremacia dos povos que souberam utilizá-lo com esta
finalidade.
As pequenas comunidades primitivas transforma-
ram-se em cidades grandes e povoadas, dando origem a
uma Revolução Urbana. Nesses novos centros, a eco-
nomia primitiva foi substituída por uma agricultura
intensiva, permitindo a produção de excedentes, além
do desenvolvimento do artesanato, da manufatura e do
comércio. Os homens passaram a utilizar a força de
tração animal e dos ventos, a usar o carro de rodas e o
barco a vela. A nova economia que se estabeleceu pas-
sou a exigir processos de contagem e padrões de me-
A evolução do homem. Da esquerda para a direita: Australopithecus,
Homo habilis, Homo erectus, Homo sapienses neanderthalensis e dida e deu origem à escrita.
Homo sapiens sapiens. A apropriação dos excedentes agrícolas e artesanais
apenas por alguns membros das comunidades gerou as
3. A Idade dos Metais diferenciações sociais. Para manter seu domínio sobre a
Aos poucos, o conhecimento técnico do homem propriedade e sua posição social, alguns indivíduos
estendeu-se à fundição de metais, sendo abandonados passaram a organizar o poder político, com a finalidade de
progressivamente os instrumentos de pedra. O primeiro arbitrar os antagonismos sociais, o que culminou no
metal a ser fundido foi o cobre, por ser pouco duro; de- aparecimento do Estado.

4. Cronologia geral da Pré-História


PERÍODOS CARACTERÍSTICAS SOCIEDADES

Sociedade comunitária.
Paleolítico Esboço de organização social.
Coup de poing (machado manual sem cabo).
Inferior Nascimento da instituição familiar.
Coup de poing aperfeiçoado e lascas.
(500 000 a. C. a Domínio do fogo.
Início do emprego de ossos na confecção de objetos.
30 000 a. C.) Rudimentos de linguagem.
Indícios de rituais funerários. Primeiras práticas de magia.

Nascimento da arte por meio da magia.


Utilização de ossos, chifres e pedras lascadas.
Instrumentos especiais para gravar e esculpir. Organização social mais complexa (agrupamentos basea-
Paleolítico Pequenas esculturas (Vênus de Willendorf). dos em famílias e clãs).
Superior Bastões de comando. Redução do nomadismo.
(30 000 a. C. a Auge do trabalho com sílex. Desenvolvimento da linguagem.
18 000 a. C.) Lâminas e pontas de arpão dentadas. Maior diversidade de ritos funerários.
Atiradores de dardo. Uso mais frequente da magia.
Apogeu da arte das cavernas (Altamira e Lascaux).
No final, declínio da produção artística.

HISTÓRIA 7
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 8

PERÍODOS CARACTERÍSTICAS SOCIEDADES


Agricultura.
Formação da consciência de ser social.
Neolítico Domesticação de animais.
Embrião da vida urbana organizada em aldeias.
(18 000 a. C. a Teares simples (cordas, tecidos e redes trançadas).
Sedentarismo mais frequente.
5 000 a. C.) Cerâmicas.
No final, esboço de concepções religiosas.
Barcos.
Idade dos Vida urbana, agrícola e pastoril.
Emprego de cobre, bronze, ferro e outros metais. Sociedade estratificada.
Metais
Avanço técnico na agricultura, transporte e indústria.
(5 000 a. C. a Surgimento do Estado e da religião, agora como
Escrita.
4 000 a. C.) instituições definidas.

Exercícios Resolvidos

(UFPel – MODELO ENEM) – Leia os dois  Os textos analisam  Segundo a explicação mais
textos e responda à questão . a) o final do Período Neolítico e se posicionam difundida sobre o povoamento
de forma convergente quanto ao papel da América, grupos asiáticos teriam chegado a
Texto 1 revolucionário desempenhado pela agricul- esse continente pelo Estreito de Bering, há 18
“Em todo o mundo, a leste e a oeste, as tura e pela domesticação dos animais. mil anos. A partir dessa região, localizada no
populações começaram a trocar a dependência b) o início do Período Neolítico e divergem entre extremo noroeste do continente americano,
às hordas de grandes animais, muitas das si a respeito da existência da Revolução esses grupos e seus descendentes teriam
quais em rápido declínio, pela exploração de Neolítica, pois enquanto um indica uma migrado, pouco a pouco, para outras áreas,
animais menores e de plantas. [...] Onde as transformação radical, o outro destaca a chegando até a porção sul do continente.
condições fossem particularmente adequadas simultaneidade da caça, coleta e agricultura. Entretanto, por meio de estudos arqueológicos
[...], as peças do quebra-cabeça da domes- c) o início do Paleolítico Inferior e são realizados no Parque Nacional da Serra da
ticação se acomodaram e os coletores trans- contraditórios entre si, no que se relaciona Capivara (Piauí), foram descobertos vestígios da
formaram-se em agricultores.” aos efeitos da agricultura, dentre eles a presença humana que teriam até 50 mil anos de
sedentarização humana. idade.
(Alfred W. Crosby. Imperialismo ecológico. Validadas, as provas materiais encontradas
d) o final do Paleolítico Superior, no momento
São Paulo: Companhia das Letras, 1993.) pelos arqueólogos no Piauí
em que ocorreu a Revolução Agrícola,
a) comprovam que grupos de origem africana
ambos afirmando que a caça e a coleta
Texto 2 cruzaram o Oceano Atlântico até o Piauí há
foram suprimidas pela agricultura.
“Os historiadores acostumaram-se a 18 mil anos.
e) a Transição Mesolítica, e concordam que,
separar a coleta e a agricultura como se b) confirmam que o homem surgiu
com o cultivo das plantas e a criação de ani-
fossem duas etapas da evolução humana primeiramente na América do Norte e,
mais, ocorreu a suspensão das atividades
bastante diferentes e a supor que a passagem depois, povoou os outros continentes.
de caça e coleta, provocando a Revolução
de uma à outra tivesse sido uma mudança c) contestam a teoria de que o homem
Neolítica.
repentina e revolucionária. Hoje, contudo, americano surgiu primeiro na América do
Resolução Sul e, depois, cruzou o Estreito de Bering.
admite-se que essa transição aconteceu de
A explicação dada no primeiro texto apresenta d) confirmam que grupos de origem asiática
maneira gradual e combinada. Da etapa em
uma visão cartesiana da evolução humana, cruzaram o Estreito de Bering há 18 mil anos.
que o homem era inteiramente um caçador
enquanto o segundo texto demonstra que e) contestam a teoria de que o povoamento
coletor passou-se para outra em que começava
houve uma simultaneidade das atividades. da América teria iniciado há 18 mil anos.
a executar atividades de cultivo de plantas
Entretanto, cabe lembrar que, admitindo-se Resolução
silvestres [...] e de manipulação dos animais
uma evolução no desenvolvimento técnico e Os estudos arqueológicos no Parque Nacional
[...]. Mas tudo isso era feito como uma
social da espécie, ela não ocorreu da Serra da Capivara (PI) apontam para uma
atividade complementar da coleta e da caça.”
uniformemente em todos os agrupamentos origem do homem americano muito mais
(Cláudio Vicentino. História para o ensino médio: humanos espalhados pelo planeta Terra. remota (50 mil anos) do que a teoria da “ponte
história geral e do Brasil. São Paulo: Scipione, Resposta: B de gelo” no Estreito de Bering (18 mil anos).
2005.) Resposta: E

Exercícios Propostos

 Por que podemos dizer que o processo de datação que


considera o início da História com a invenção da escrita é de
certa forma pouco científico?

RESOLUÇÃO:
Porque estabelece um critério dado pelos ocidentais sem consi-
derar outros aspectos relevantes das culturas.

8 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 9

IV. Os homens ainda não produziam seus alimentos, não


plantavam, nem criavam animais. Em verdade, eles coleta-
vam frutos, grãos e raízes, pescavam e caçavam animais.

É correto o que se afirma apenas em


a) I e II. b) II e III. c) III e IV.
d) I, II e III. e) II, III e IV.
Copo de ouro do Mar
Egeu (ao lado) e espadas
RESOLUÇÃO:
de bronze (abaixo).
A afirmativa III está errada, pois esses navios começaram a ser
fabricados quando se formaram as civilizações, portanto, numa
fase posterior à Pré-História.
A afirmativa IV está errada, porque as atividades descritas fazem
parte do Período Paleolítico, que antecede ao Neolítico.
Resposta: A

 (ESAN) – Sobre a conhecida Idade dos Metais, na transição


entre a Pré-História e a História, é possível afirmar que  A tribo não possui um rei, mas um chefe que
a) foi marcada pela utilização do cobre, bronze e ferro, na não é chefe de Estado. O que significa isso?
produção de armas, instrumentos agrícolas, utensílios Simplesmente que o chefe não dispõe de nenhuma
domésticos etc. autoridade, de nenhum poder de coerção, de nenhum meio de
b) apenas o bronze pode efetivamente ser apresentado como dar uma ordem. O chefe não é um comandante, as pessoas
o primeiro metal utilizado. da tribo não têm nenhum dever de obediência. O espaço da
c) os homens lutavam entre si, enquanto a economia chefia não é o lugar do poder. Essencialmente encarregado de
continuava coletora. eliminar conflitos que podem surgir entre indivíduos, famílias
d) a vida nômade dos primeiros grupos humanos foi um e linhagens, o chefe só dispõe, para restabelecer a ordem e a
estímulo para o uso dos metais. concórdia, do prestígio que lhe reconhece a sociedade. Mas
e) não existe ligação entre o uso dos metais e a formação de evidentemente prestígio não significa poder, e os meios que o
grandes impérios. chefe detém para realizar sua tarefa de pacificador limitam-se
ao uso exclusivo da palavra.
RESOLUÇÃO:
(CLASTRES. P. A sociedade contra o Estado.
O homem sedentário percebeu que certas rochas (minérios) derretiam
quando submetidas ao fogo constante e que poderiam ser moldadas. Rio de Janeiro: Francisco Alves. 1982. Adaptado.)
Resposta: A
O modelo político das sociedades discutidas no texto contrasta
com o do Estado liberal burguês porque se baseia em:
a) Imposição ideológica e normas hierárquicas.
b) Determinação divina e soberania monárquica.
c) Intervenção consensual e autonomia comunitária.
d) Mediação jurídica e regras contratualistas.
 (MODELO ENEM) – “O Período Neolítico marca uma e) Gestão coletiva e obrigações tributárias.
profunda transformação das relações do homem com a
RESOLUÇÃO:
natureza, denominada Revolução Agrícola. Nesse período,
O texto evoca o exemplo de sociedades tribais hierarquizadas mas
verifica-se a passagem da economia de depredação (em que o sem Estado e, portanto, sem coerção, organizadas por consensos
homem se preocupa apenas com sua sobrevivência, devastando entre indivíduos, famílias e linhagens, para mostrar a possibilidade de
os recursos naturais) para uma economia de produção.” existirem sociedades desestatizadas, em que a comunidade
Com base nessas informações, escolha na relação a seguir as participaria da gestão política.
Resposta: C
hipóteses compatíveis com este período.
I. Os homens descobriram uma forma nova de obter alimentos:
a agricultura, que os obrigou a conservar e cozinhar os
cereais.
II. Semeando a terra, criando gado, produzindo o próprio alimen-
to, os homens não tinham mais por que mudar constante-
mente de lugar e tornaram-se sedentários.
III. Os alimentos eram transportados por navios de grande
porte, estimulando o comércio entre as várias civilizações.

HISTÓRIA 9
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 10

Palavras-chave:
• Impérios
Mesopotâmia
3 • Teocráticos
• Crescente fértil

1. Nascimento das civilizações Os povos das planícies, agricultores, viviam assedia-


dos, desde a época dos primeiros estabelecimentos hu-
As primitivas comunidades de agricultores, autossu- manos na área, pelos povos das montanhas, que viviam
ficientes, transformaram-se em núcleos urbanos, alimenta- mais do saque e do pastoreio.
dos por suas “indústrias” (entenda-se a produção de arte-
As civilizações da Baixa Mesopotâmia puderam desen-
fatos) e pelo surgimento das primeiras relações comerciais.
volver-se mais, notabilizando-se por seus aspectos eco-
Numa fase em que as últimas glaciações modifi- nômicos e culturais. Surgiram assim importantes socieda-
caram o planeta, o homem fixou-se em regiões ribeiri- des hidráulicas, com a instituição de um Estado baseado
nhas, como o vale dos Rios Tigre e Eufrates, Nilo, Jor- na posse das terras e no controle das águas dos rios.
dão, Indo e Amarelo, dando origem aos povos da Anti-
guidade Oriental. Essas regiões são o berço de nossa Evolução política
civilização, ou seja, nossa herança oriental.
A Mesopotâmia possuía várias cidades-Estado
Crescente fértil: região de fertilidade em forma de importantes – Ur, Uruk, Lagash, Nipur, Nínive, entre
meia-lua, cercada por desertos e que compreende os outras. No seu comando, havia um rei, chamado patesi,
Rios Tigre, Eufrates, Orontes e Jordão. que governava de forma teocrática.
“Toda a sociedade, toda a civilização está condi- Ao sul, viviam vários povos – sumérios, acádios,
cionada por fatores econômicos, técnicos, biológicos, amoritas, caldeus etc. – e, nessa região, formou-se o
demográficos. As condições materiais e biológicas são Império Sumério-Acadiano (2800 a 2000 a. C.), no qual
sempre um fator importante no destino das civilizações. se destacou o importante rei Sargão I.
O aumento ou a diminuição da população, a saúde ou a
decadência física, o auge ou o declínio econômico ou Na parte central, constituiu-se o Primeiro Império
técnico repercutem-se tanto no edifício cultural como so- Babilônico (1800 a 1600 a. C.), em que reinou o grande
cial. A economia política, entendida no seu sentido mais Hamurábi.
lato, é o estudo de todos estes imensos problemas.” O Império Assírio (1875 a 612 a. C.), ao norte, teve
(Fernand Braudel. Le Monde Actuel,Histoire et Civilizations.
momentos de glória e decadência alternados, sendo
Senaqueribe seu grande rei. Tornou-se conhecido pela
Paris: Ed. E. Belin.)
extrema violência no trato com os cativos.
2. Sumérios, babilônios e Finalmente, estabeleceu-se o Segundo Império
Babilônico (612 a 539 a. C.) no qual sobressaíram os reis
assírios Nabucodonosor e Nabopolasar. Este último foi derrotado
O meio geográfico pelos persas durante a expansão para o Ocidente e na
região não se formou outro império.
Costuma-se dizer, geograficamente, que a Meso-
potâmia é a região do Oriente Médio compreendida entre
os Rios Tigre e Eufrates, onde predominavam condições
semelhantes às do Egito, pois os dois rios forneciam
facilidades para o transporte de mercadorias e as aves
ribeirinhas e os peixes eram abundantes. O regime dos
rios está preso ao derretimento da neve das grandes
altitudes, onde se situam suas cabeceiras, inundando as
terras e propiciando a abertura de canais de irrigação e a
construção de diques.
Apesar das enchentes periódicas dos rios, a
Mesopotâmia apresentou certas dificuldades para o
estabelecimento de populações ribeirinhas, pois essas
cheias eram irregulares. Além disso, o clima mais seco e
as doenças tropicais tornavam o trabalho do solo mais
difícil, apesar de sua fertilidade.
Ribeirinho: que se encontra ou vive próximo a rios ou ribeiras; referente aos povos que habitavam as margens dos rios.
Mesopotâmia: meso (no meio, entre); pótamos (rios).
Sociedade hidráulica: povo que dependia da força das vias fluviais e gravitava em torno delas.

10 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 11

Vida social e econômica A inexistência da noção de propriedade privada, no


modo de produção asiático, impediu a ocorrência do es-
Nas sociedades hidráulicas da Mesopotâmia, o
cravismo entre as comunidades camponesas. Havia es-
poder passou a se estruturar com a disputa pela posse
cravos urbanos, mas estes não podem ser considerados
das melhores áreas cultiváveis e da água. Os mais fracos
como parte de um modo de produção essencialmente
foram submetidos pelos mais fortes que, utilizando-se
ligado à agricultura.
da violência, reduziram-nos ao trabalho compulsório.
Economicamente, a Mesopotâmia vivia mais da
O homem da Mesopotâmia não era um indivíduo agricultura. As cheias dos rios eram aproveitadas para a
que se preocupava muito com a vida além-túmulo, como fertilização das terras, completando-se com a construção
era o caso dos egípcios; estava mais voltado para a vida de canais de irrigação e diques, que garantiam uma
presente, tendo por isso formado sociedades pouco produção regular de trigo e cevada.
éticas, mas bastante organizadas juridicamente.
Grande parte da população dedicava-se ao plantio e à
As grandes distâncias entre os estamentos sociais colheita. Quando as águas dos rios abaixavam, o húmus
eram marcadas: de um lado, pelo rei, apoiado por fortes fertilizante acumulava-se às margens do Tigre e do Eufra-
contingentes militares, pelos sacerdotes e pelos ricos tes, proporcionando abundantes colheitas à população.
mercadores; de outro lado, pelos artesãos, camponeses
e escravos, que viviam de maneira miserável. A situação Em razão do desenvolvimento da agricultura, a cria-
social era regulada pelo Código de Hamurábi, que ção de gado era pequena. Porém, desde o Neolítico,
acabou por prevalecer em toda a Mesopotâmia, em razão quando a produção artesanal marcou um grande avanço,
dos contatos contínuos entre os povos ali estabelecidos. os objetos de uso doméstico começaram a se aperfei-
çoar. O artesanato egípcio e o mesopotâmico, com o sur-
Modo de Produção Asiático gimento do tear e da cerâmica, apresentaram um notável
avanço e forneceram novos produtos para a sociedade. A
Nesse modo de produção, as terras cultiváveis eram construção de embarcações e a produção de tecidos
propriedade do Estado (rei) ou dos deuses (representan- desempenharam um importante papel nessas regiões.
tes do templo), mas o trabalho era executado por
camponeses com direito à posse do solo. Essa posse, O comércio da Mesopotâmia desenvolveu-se essen-
porém, tinha caráter coletivo, e não individual, já que o cialmente por causa de sua posição geográfica, visto que
trabalho era exercido comunitariamente por todos os al- é centralizadora das rotas provenientes do grande
deões. continente asiático e da África, e também pelas ligações
entre o Alto e o Baixo Eufrates. Dessa forma, surgiram
as condições para o nascimento de cidades-portos.

A religião na Mesopotâmia
Os sumérios dedicavam aos seus deuses templos,
oferendas, alimentos e sacrifícios, só que os deuses
sumerianos eram basicamente antropomórficos (seme-
lhantes à forma humana). A incapacidade em explicar os
fenômenos da natureza conduziu-os à criação de muitos
deuses, entre eles: Shamash, o Sol; Ishtar, Vênus;
Marduc, o deus principal. Esses deuses confundiam-se
com os astros do firmamento. Os sumérios buscavam a
origem do mundo na religião, desenvolvendo uma série
de lendas.
Os mesopotâmicos adotaram uma religião politeísta,
em que não lhes era acenada a vida além-túmulo, nem
havia quaisquer preocupações éticas. As orações visa-
vam à obtenção de favores dos deuses e os templos
funcionavam até mesmo como bancos, emprestando di-
nheiro a juros; serviam ainda como depósitos de cereais.
Era costume que todas as mulheres, uma vez na vida,
deveriam se prostituir com um estrangeiro e entregar o
Estela babilônica, na qual Hamurábi aparece recebendo do deus dinheiro para a manutenção do templo. O clero era
Shamash as leis que compuseram o seu famoso código, em destaque poderoso e interferia no poder político. Apoiando-se na
a escrita cuneiforme.

Compulsório: refere-se ao que não é livre; obrigatório.


Estamento: cada um dos grupos da sociedade com status jurídico próprio; sociedade na qual o nascimento e a tradição determinam a posição do
indivíduo.
Húmus: fonte de matéria orgânica, proveniente da decomposição de restos vegetais e animais, em menor escala, de grande importância na
constituição do solo.

HISTÓRIA 11
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 12

crença da predestinação e do destino, lançaram os famo- morreu e chegou ao mundo subterrâneo, a vida se dete-
sos horóscopos, que combinavam leituras astronômicas ve na Terra e as plantas secaram. “Aquele que fazia nas-
com uma interpretação mística. cer os brotos sobre a Terra já não vive. O rei da força ter-
No Império Babilônico, região essencialmente agrí- restre já não existe.” Assim chorava a deusa Ishtar pelo
cola, acreditava-se no deus da fertilidade, representado seu falecido esposo. Com grande esforço, Ishtar atraves-
por Tamuz. O mito dessa divindade é semelhante ao sou os sete pórticos do mundo subterrâneo e devolveu
mito egípcio de Osíris. Contava-se que, quando Tamuz Tamuz à Terra. Quando regressou, toda a natureza reviveu.

3. Cronologia
IV milênio a. C.: ocupação da Mesopotâmia por povos originários da Armênia.
2800 a 2500 a. C.: chegada dos semitas à Mesopotâmia.
2500 a. C.: surgimento da primeira dinastia histórica, em Ur.
2800 a 2000 a. C.: predomínio dos sumérios e acádios.
2000 a. C.: destruição de Ur pelos elamitas.
1800 a 1600 a. C.: Primeiro Império Babilônico.
1728 a 1686 a. C.: reinado de Hamurábi na Babilônia.
Século XVI a. C.: invasão dos hititas e cassitas.
1875 a 1375 a. C.: Antigo Império Assírio.
1375 a 1047 a. C.: Médio Império Assírio.
883 a 612 a. C.: Novo Império Assírio.
745 a 728 a. C.: reinado de Teglat-falasar III.
668 a 626 a. C.: reinado de Assurbanipal.
612 a. C.: tomada de Nínive pelos medos.
612 a 539 a. C.: Segundo Império Babilônico.
605 a 563 a. C.: reinado de Nabucodonosor.
539 a. C.: conquista da Babilônia por Ciro II.
331 a. C.: conquista da Babilônia por Alexandre Magno.

O Código de Hamurábi

Encontram-se as leis de Hamurábi gravadas em um enorme bloco de pedra negra ou coluna monolítica de
2,25m de altura.
Eis alguns artigos do Código: “Se um homem negligenciar a fortificação do
seu dique, se ocorrer uma brecha e o cantão inundar-se, o homem será
condenado a restituir o trigo destruído por sua falta. Se não puder restituí-lo,
será vendido assim como os seus bens, e as pessoas do cantão de onde a
água arrebatou o trigo repartirão entre si o produto da venda. Se um homem
der a um jardineiro um campo para ser transformado em pomar, se o jardineiro
plantar o pomar e dele cuidar durante quatro anos, no quinto ano o pomar será
repartido igualmente entre o proprietário e o jardineiro; o proprietário poderá
escolher a sua parte. Se um homem alugar um boi ou um asno, e se nos
campos o leão matar o gado, é o proprietário do gado quem sofrerá a perda.
Estelas com escrita cuneiforme. Se um homem bater em seu pai, terá as mãos cortadas. Se um homem furar
o olho de um homem livre, ser-lhe-á furado um olho. Se um médico tratar da
ferida grave de outro homem, com punção de bronze, e se ele morrer, terá as mãos decepadas. Se um arquiteto
construir para um outro uma casa e não a fizer bastante sólida, se a casa cair, matando o dono, esse arquiteto é
passível de morte. Se for o filho do dono da casa quem morrer, o filho do arquiteto será também morto.”

(J. Isaac; A. Alba. Oriente e Grécia. São Paulo: Mestre Jou. p. 77.)

12 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 13

Exercícios Resolvidos

 (UFSM – MODELO ENEM) – “(...) E a situação sempre mais ou  (UFRS – MODELO ENEM) – O mapa a seguir apresenta a região
menos / Sempre uns com mais e outros com menos / A cidade não da Mesopotâmia.
para, a cidade só cresce / O de cima sobe e o de baixo desce / (...)”
Este trecho da música do pernambucano Chico Science (1966-
1997) e grupo Nação Zumbi nos remete à vida em cidades, processo
que passou a ser significativo na História, a partir do 4.° milênio a. C., na
Mesopotâmia.

Sobre esse processo, é correto afirmar:


a) Com o surgimento e crescimento das cidades, houve um
progressivo aumento da especialização do trabalho e da igualdade
social, enfraquecendo o poder político.
b) A diminuição da produção agrícola assegurou excedentes para a
manutenção de especialistas, desenvolvendo a urbanização em
cidades-Estado socialmente desiguais.
c) Apesar da urbanização e das novas tecnologias de irrigação, mantém-
se um Estado de caráter exclusivamente político e que não
intervém na economia, conservando a ordem social hierarquizada. A planície do Eufrates e do Tigre não constitui, como o vale do Nilo, um
d) A sedentarização do homem, o desenvolvimento de cidades, a longo oásis no meio do deserto. Ela tem fácil comunicação com outras
especialização do trabalho e uma sociedade socialmente desigual terras densamente povoadas desde tempos remotos. Por isso, a
levaram à constituição de polos de poder, como o Templo e o história da civilização mesopotâmica está marcada por uma sucessão
Palácio. de invasões violentas e de migrações pacíficas que deram lugar a um
e) Mesmo se legitimando através de conquistas militares ou como contínuo entrecruzamento de povos e culturas.
mediadores entre o mundo terreno e o mundo divino, os soberanos Entre esses povos, destacam-se
separaram a esfera política da religiosa no intuito de conservar uma a) egípcios, caldeus e babilônios.
sociedade desigual. b) fenícios, assírios e hebreus.
Resolução c) hititas, sumérios e fenícios.
As civilizações do Modo de Produção Asiático se caracterizaram pela d) sumérios, babilônios e assírios.
formação de Estados teocráticos, onde o governante se apresentava e) hebreus, egípcios e assírios.
como um deus ou o seu representante.
Resposta: D Resolução
A Mesopotâmia (região entre os Rios Tigre e Eufrates) possibilitou a
fixação de diversos agrupamentos humanos. Ao norte, os assírios; ao
centro, os babilônios e ao sul, os sumérios, que se dividiam em vários
povos: caldeus, acádios e amoritas.
Resposta: D

Exercícios Propostos

 Explique o que era o Modo de Produção Asiático.  Discorra sobre o “Crescente Fértil” e as “civilizações
hidráulicas”.
RESOLUÇÃO:
Modo de produção em que as terras eram propriedade do Estado, RESOLUÇÃO:
mas o trabalho agrícola era realizado pelos camponeses comuni- Região de extrema fertilidade, compreendida entre os vales dos
tariamente. Rios Tigre, Eufrates e Jordão. O aproveitamento das águas dos
rios promoveu o desenvolvimento agrícola e a dependência do
homem em relação a eles.

HISTÓRIA 13
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 14

 (MODELO ENEM) – Leia este trecho do Código de Hamurábi:  “Sexto rei sumério (governante entre os
séculos XVIII e XVII a.C.) e nascido em Babel,
“Se um arquiteto construir para um outro uma casa e não a
‘Khammu-rabi’ (pronúncia em babilônio) foi fundador do I
fizer bastante sólida, se a casa cair, matando o dono, esse
Império Babilônico (correspondente ao atual Iraque), unificando
arquiteto é passível de morte. Se for o filho o dono da casa
amplamente o mundo mesopotâmico, unindo os semitas e os
quem morrer, o filho do arquiteto será também morto.”
sumérios e levando a Babilônia ao máximo esplendor. O nome
Levando-se em consideração o modo de organização da de Hamurabi permanece indissociavelmente ligado ao código
sociedade babilônica e a lei de Talião, conhecida pela frase jurídico tido como o mais remoto já descoberto: o Código de
“olho por olho, dente por dente”, este código: Hamurabi. O legislador babilônico consolidou a tradição
a) não possuiu importância histórica, uma vez que não inspirou jurídica, harmonizou os costumes e estendeu o direito e a lei a
outros códigos jurídicos futuros. todos os súditos.”
b) deve ser valorizado por sua importância histórica, ainda que
(Disponível em: www.direitoshumanos.usp.br.
possua uma noção jurídica primitiva se trazida para a
Acesso em: 12 fev. 2013. Adaptado.)
atualidade.
c) despreza as relações sociais, servindo de parâmetro apenas
Nesse contexto de organização da vida social, as leis contidas
para as primeiras civilizações do Crescente Fértil.
no Código citado tinham o sentido de
d) preservava os princípios de equidade, igualando juridi-
a) assegurar garantias individuais aos cidadãos livres.
camente pessoas pertencentes a diferentes estamentos.
b) tipificar regras referentes aos atos dignos de punição.
e) ate hoje inspira atitudes de grupos extremistas que,
c) conceder benefícios de indulto aos prisioneiros de guerra.
legitimados pelo Estado, utilizam isso como forma de
d) promover distribuição de terras aos desempregados
resolver questões de criminalidade urbana.
urbanos.
RESOLUÇÃO: e) conferir prerrogativas políticas aos descendentes de
O Código de Hamurabi foi o primeiro código de leis escritas da estrangeiros.
História, servindo de base para as civilizações subsequentes.
Porém, foi feito com base na sociedade estamental babilônica, RESOLUÇÃO:
onde prevaleciam privilégios a determinados setores sociais, além O Código de Hamurabi estabeleceu o princípio da reciprocidade,
de, se trazido para a atualidade, ferir os Direitos Humanos. no caso de o autor e a vítima pertencerem ao mesmo estamento.
Resposta: B Esse princípio é semelhante à Lei de Talião romana e à norma
bíblica do “olho por olho, dente por dente”.
Seu objetivo central era garantir regras para a comunidade,
controlando as relações sociais com duras punições aos
transgressores
Resposta: B
 (MODELO ENEM) – Considere as afirmações sobre a
Mesopotâmia e assinale verdadeiro (V) ou falso (F).
(0) Compreendia a região entre os Rios Tigre e Eufrates.
(1) O poder político nas cidades era exercido pelos
comerciantes marítimos.
(2) Os acádios, sob a chefia de Sargão, assimilaram a cultura
suméria.
(3) No Primeiro Império Babilônico, sobressaiu o rei Hamurábi
na religião.
(4) A guerra, como elemento econômico, deu aos assírios uma
característica belicosa e violenta.
(5) Nabucodonosor destacou-se no Segundo Império Babilôni-
co, construindo os Jardins Suspensos.
(6) Os zigurates expressavam sua preocupação religiosa e
científica.
(7) As cheias cíclicas dos rios impulsionaram as técnicas de
irrigação.

RESOLUÇÃO:
O item 1 é falso porque o poder era exercido pelo patesi (rei e
sacerdote). Essa característica pertence aos fenícios.
O item 3 é falso porque Hamurábi notabilizou-se pela criação do
primeiro conjunto de leis escritas.

14 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 15

Palavras-chave:
• Teocracia • Império
Egito
4 •Estamentos
• Cheias

1. As condições geográficas pelas inundações de um rio mais formidável que o de


hoje e infestado de animais ferozes. Essas tribos eram
das mais diversas origens.
Depois, com a seca produzida na África, durante o
período glaciário mais recente, essa parte do continente
passou progressivamente de floresta a estepe e, em
seguida, de estepe a deserto. Para escapar à seca, sua
população nômade se estabeleceu primeiramente em
volta dos lagos interiores e depois nos afluentes do Nilo;
enfim, quando também estes secaram, foram ocupar as
esplanadas dos penhascos que dominavam a imensa
vala onde corre o rio.
Foi preciso que esses povos, agrupados em famílias,
começassem por conquistar uma natureza hostil, a por-
ção do vale que lhes ficava defronte. Quando afinal
conseguiram, transferiram-se para seus novos domínios.
O Egito, então, acabou dividido em vários pequenos
principados independentes uns dos outros, conhecidos
como nomos, cada um deles liderado por um chefe: o
nomarca.
Cavando seu leito na rocha, cruzando todo o deserto
em busca do Mar Mediterrâneo, está o Rio Nilo, nascido
O Egito, localizado no nordeste da África, considerado uma “dádiva”
do Rio Nilo pelo historiador grego Heródoto de Halicarnasso.
no interior da África. Em suas margens, praticava-se a
agricultura, a qual está estreitamente ligada ao compor-
tamento do rio, uma vez que o nordeste da África é uma
Os fatores geográficos tiveram grande importância região seca e desértica, onde a água era obtida somente
para o estabelecimento das populações que se fixaram por meio de açudes e canais de irrigação. As cheias
nas diversas regiões do Oriente Próximo e do Oriente cíclicas do rio é que contribuíram para a formação de
Médio. Com a estiagem que varreu o interior africano, uma civilização peculiar, como foi a egípcia.
consequência da última grande retração dos gelos em
direção aos polos, os animais começaram a migrar em
busca de água, movidos pelo instinto de sobrevivência.
Os homens, ainda na fase pré-histórica, vivendo quase
exclusivamente da caça e da pesca, seguiram suas
trilhas, e assim, todos foram buscar refúgio no nordeste
da África, no Vale do Rio Nilo.
Para compreender o povoamento da região, é
preciso levar em conta as particularidades dele.
Em primeiro lugar, o Vale do Nilo não foi ocupado
desde o início por uma migração homogênea. Na fase do
Paleolítico, toda a África do Norte, coberta pela selva
tropical, era percorrida por tribos de caçadores, à
exceção do Vale do Nilo, devastado periodicamente Vista moderna do Rio Nilo, ainda hoje de importância vital para o Egito.

Paleolítico: referente ao período da pedra antiga (Pré-História), que antecede ao Neolítico, também chamado de Idade da Pedra Lascada.
Glaciário: relativo a gelo ou geleira; referente ao período geológico da Pré-História que corresponde à fase do Paleolítico Inferior
(500 000 a 30 000 a. C.).
Nomos: espécie de clã, que se constituiu na primeira unidade econômica, social e política dos egípcios.

HISTÓRIA 15
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 16

O regime das cheias e vazantes do Nilo está ligado Médio Império


ao derretimento da neve nas altas montanhas do interior
africano, bem como às chuvas que abundam nas Por volta de 2000 a. C.,
cabeceiras do rio. O volume de água aumentava consi- iniciou-se o Médio Império,
deravelmente por volta de julho, arrastando sedimentos com a restauração do poder
que eram depositados nas margens alagadas: o húmus. do faraó, a partir da cidade
de Tebas. A influência do
Com isso, o solo tornava-se fértil a ponto de permitir
Egito estendeu-se a Israel
uma ótima colheita e os canais de irrigação, construídos
(Canaã) e à Núbia, por meio
desde o Período Neolítico, ampliavam a área de apro-
da expansão comercial e
veitamento agrícola. Dotado de uma vasta flora (papiros,
militar. Por volta de 1750 a.
palmeiras e trigo-selvagem) e de uma fauna abundante
C., o Vale do Nilo foi invadido
(íbis, crocodilos e hipopótamos), o Nilo sustentou uma
e conquistado pelos hicsos,
das mais antigas civilizações do mundo: o Egito.
que conheciam sofisticadas
técnicas militares. Detalhe do Templo de Ramsés II.
2. A evolução política
À medida que a população explorava a fértil área
Novo Império
localizada às margens do Rio Nilo, os nomos se Durante o período de dominação estrangeira, os
agruparam, dando origem a dois reinos: um ao norte, no egípcios assimilaram os conhecimentos de guerra dos
Baixo Egito, e o outro ao sul, no Alto Egito. Por volta de inimigos e, por volta de 1580 a. C., os invasores
3200 a. C., Menés, um nomarca do sul, conquistou o acabaram sendo expulsos do Egito, dando início ao Novo
norte, tornando-se senhor absoluto de todas as terras do Império. A política expansionista e imperialista dessa
Egito e, portanto, o primeiro faraó. fase atingiu o auge no governo do faraó Tutmés III, que
conquistou a Síria, Israel (Canaã) e a Núbia, estendendo
Antigo Império seus domínios até o Rio Eufrates, na Mesopotâmia. A
abundância de escravos e riquezas promoveu um notá-
Nesse momento, teve início o Antigo Império, que vel desenvolvimento. Ao mesmo tempo, houve um au-
se prolongou por quase mil anos. Durante esse período mento no prestígio dos sacerdotes, que chegaram a
de grande esplendor, foram construídas as pirâmides de ameaçar o poder do faraó. O faraó Ramsés II deu conti-
Quéops, Quéfren e Miquerinos pelos faraós represen- nuidade ao expansionismo, porém, com a sua morte, o
tantes da IV dinastia. No final dessa fase, houve um pro- Egito iniciou um processo de decadência.
gressivo enfraquecimento do poder político dos faraós e Após sofrer a invasão dos assírios, em 670 a. C., o
os antigos nomarcas tomaram o poder. Egito acabou sob o domínio dos persas. Nos séculos
seguintes, foi dominado pelos gregos e romanos.

3. O cenário social e econômico


No decorrer de sua história, o Egito transformou-se
em uma imensa civilização presa ao comportamento do
rio. A população dedicava-se a lavrar o solo, levando uma
vida pacífica. Contando com uma proteção natural,
proporcionada pelos acidentes geográficos (Mar Verme-
lho, a leste; Saara, a oeste; Mediterrâneo, ao norte;
florestas do Sudão, ao sul), o felá (camponês egípcio)
pôde gozar de paz durante a maior parte da existência do
Império Egípcio.
As pirâmides de Quéfren, Quéops e Miquerinos, uma das maravilhas
da Antiguidade.
Nessas “sociedades hidráulicas”, a distinção social
começou a se fazer notar quando a luta pela posse das
áreas cultiváveis levou os camponeses a se defron-
tarem, na posição de possuidores da força de trabalho,
Corte de uma pirâmide.
Seguindo pelo corredor (7), com os proprietários das terras, que delas se apode-
atinge-se a galeria (3) que raram e as mantinham, invocando a proteção dos deuses
conduzia às câmaras do faraó (1) e dos sacerdotes.
e da rainha (2). A entrada (6) e O topo da pirâmide social era ocupado pela família
o corredor (5), que na Antiguidade
levavam à cripta primitiva (4),
do faraó; este, por considerar-se um deus encarnado,
permanecem fechadas. possuía prerrogativas únicas.
Papiro: material sobre o qual se escrevia, obtido das hastes de uma comprida folha, de uma erva própria das margens do Rio Nilo.
Íbis: gênero de aves pernaltas, com várias espécies espalhadas pelas regiões quentes da Europa e norte da África.
Hicsos: povos nômades originários dos planaltos da Ásia, também conhecidos como povos pastores.

16 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 17

Os sacerdotes também ocupavam uma posição in-


vejável, juntamente com a nobreza, que detinha o con-
4. A vida religiosa
trole das terras e o trabalho dos camponeses. Com o A religiosidade do Oriente pode facilmente ser aqui-
crescimento do comércio e do artesanato, durante o latada por uma constatação atual, pois as cinco grandes
Médio Império, surgiu uma camada social média religiões de nossos dias tiveram sua origem nessa
empreendedora, que chegou a conquistar uma certa região. Daí provém uma enorme variedade de deuses,
posição social e alguma influência no governo. fórmulas religiosas e cultos.
Os burocratas passaram a ocupar um lugar destaca- A existência dos deuses satisfazia à ânsia do
do na administração, principalmente no que tangia à homem em ver suas aspirações atendidas, ao mesmo
cobrança de impostos (em gêneros) dos camponeses. tempo que afastava seus temores íntimos. Protetores da
Havia toda uma hierarquia de escribas, cujos graus água, da chuva, da colheita, das plantas e dos
variavam de acordo com a confiança neles depositada pescadores eram todos cultuados de formas diversas,
pelo faraó e pela nobreza. que iam desde o incenso até o sacrifício de animais e
Os artesãos ocupavam uma posição inferiorizada homens, tudo com a intenção de conseguir suas boas
perante os camponeses. Estes eram fiscalizados por graças. Os próprios governantes revestiam-se de
funcionários especiais. O número de escravos aumentou caracteres divinos, a fim de serem mais respeitados.
consideravelmente a partir das guerras e do expansio- Paralelamente à instituição religiosa, uma casta fechada
nismo egípcio na fase do Novo Império. Apesar de de sacerdotes cresceu e estruturou-se em todas as
serem totalmente dependentes de seus senhores, em civilizações. O clero ocupava uma posição social e eco-
geral eram bem tratados. nômica privilegiada, influenciando o governo e o povo.
Apesar de o governo manter escolas públicas, estas
formavam, em sua maioria, escribas destinados a
trabalhar na administração do Estado Faraônico.
A agricultura, no Egito, detinha a maior concentração
de trabalho. Com exceção das culturas fenícia e egeia
(cretense), que se lançaram ao comércio marítimo, os
demais povos praticavam a agricultura, procurando
extrair da terra o sustento da população.
Assim como na Mesopotâmia, prevalecia o modo
de produção asiático. Além disso, o Egito foi o grande
celeiro do Oriente Médio e uma das mais privilegiadas Esfinge
civilizações. Suas terras, favorecidas pelo rio e pela ferti- de Quéops.
lização natural e beneficiadas pelos diques e canais,
No Egito, como em quase toda a Antiguidade, a
mostraram-se férteis e generosas. Ao longo do Nilo,
religião assumia a forma politeísta, compreendendo uma
estendiam-se as plantações de trigo, cevada e linho –
enorme variedade de deuses e divindades menores.
cuidadas pelos felás –, que se desenvolveram
rapidamente em razão do aperfeiçoamento das técnicas Muitos animais gozavam de um culto todo especial,
de plantio e semeadura. A charrua puxada pelos bois, e como era o caso do gato, do crocodilo, do íbis, do esca-
o emprego de metais propiciaram grandes colheitas. ravelho e do boi Ápis; havia também divindades híbridas,
Teoricamente, as terras pertenciam ao faraó, porém a com corpo humano e cabeça de animal (antropozoomór-
nobreza detinha grande parte delas. Enormes armazéns ficas): Hator (a vaca), Anúbis (o chacal), Hórus (o falcão
guardavam as colheitas, que eram administradas pelo protetor do faraó). Cultuavam-se ainda fenômenos
Estado. Uma parte da produção chegava a ser exportada. naturais, como as cheias do Rio Nilo.
O comércio processava-se entre o Alto e o Baixo Egito O mito de Osíris ilustra bem a religiosidade dos
por meio de embarcações que subiam e desciam o rio egípcios, que decidiram erigir túmulos e templos em
abarrotadas de cereais e produtos artesanais. homenagem à morte e à vida futura.
A presença da tecelagem e da fiação e a confecção O principal deus egípcio era Amon-Rá, combinação
de sandálias de folhas de papiro, como também a de duas divindades, e era representado pelo Sol. Em tor-
ourivesaria, propiciaram um desenvolvimento razoável no dele, girava o poder sacerdotal. A preocupação com a
do comércio interno, uma vez que poucas relações eram vida futura era grande e os cuidados com os mortos
mantidas com o exterior. eram contínuos, bastando lembrar as cerimônias fúne-
Rebanhos de gado bovino e ovino podiam ser vistos bres, nas quais eram realizadas as oferendas de ali-
nos campos próximos ao rio, guiados por pastores. mentos e de incenso.

Escriba: funcionário real; pessoa que tinha instrução, permitindo-lhe o acesso à complicada escrita egípcia.
Charrua: arado grande, de ferro, utilizado para alargar o sulco da terra.
Ourivesaria: oficina onde se trabalha o ouro, com trabalhadores denominados ourives.

HISTÓRIA 17
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 18

Acreditava-se em um julgamento após a morte, quan- Reforma monoteísta


do o deus Osíris iria colocar em uma balança a alma do
Por volta de 1500 a. C., o Egito viu nascer o primeiro
indivíduo, representada pelo seu coração, para julgar seus
culto monoteísta: o culto a Áton, representado pelo disco
atos. Os justos e bons teriam como recompensa a rein-
solar. O faraó Amenófis IV levantou-se contra a religião
corporação e depois iriam para uma espécie de Paraíso. politeísta, expulsou o clero, fechou seus templos e distri-
buiu suas terras. Com essa revolução religiosa, esperava
quebrar o poder dos sacerdotes. Em seguida, organizou
uma nova classe sacerdotal e construiu, a 32 quilômetros
ao norte de Tebas, a cidade de Tell el-Amarna (“a cidade
do horizonte” ou “a morada de Áton”), transformada em
residência real, e mudou seu nome para Akhenáton,
compondo ao novo deus o Hino ao Sol.
Essa tentativa monoteísta foi efêmera. Com a morte
do faraó Amenófis IV, seu sucessor, Tutancáton, permitiu
ao clero recuperar sua influência e restaurar o culto ao
deus Amon, sendo obrigado a mudar seu nome para
Tutancamon.

O embalsamento era um rito ligado ao deus Osíris, o rei do reino dos


mortos. A gravura mostra o deus Anúbis embalsamando um morto.

O politeísmo entravava o progresso egípcio, pois a


camada sacerdotal era muito grande e a sua manutenção
era bastante onerosa para o Estado, que desta forma
aumentava constantemente a tributação. Os sacerdotes
interferiam com frequência nos assuntos públicos e o
próprio faraó, muitas vezes, não passava de um
instrumento do clero. Aproveitando-se da religiosidade
do povo, os sacerdotes alcançaram uma extraordinária
ascendência, convertendo a civilização egípcia como se
fosse sua propriedade particular. Máscara de Tutancamon, faraó da Ao lado, vemos um exemplo da es-
XVIII dinastia egípcia. crita ideográfica, a primeira forma
O perigo do poder clerical já havia sido constatado utilizada pelos egípcios.
por Amenófis III. Para se livrar da influência do clero, o
faraó havia mudado seu palácio para longe dos templos.

5. Cronologia
IV milênio a. C.: formação dos nomos no Egito.
3200 a. C.: unificação do Alto e Baixo Egito por Menés, dando início ao Antigo Império.
2850 a 2052 a. C.: Antigo Império.
2650 a 2190 a. C.: época da construção das grandes pirâmides (Quéops, Quéfren e Miquerinos).
2400 a. C.: ascensão dos nomarcas ao poder.
2052 a 1570 a. C.: Médio Império.
1800 a. C.: chegada dos hebreus ao Egito.
1650 a. C.: invasão do Egito pelos hicsos.
1580 a. C.: expulsão dos hicsos e início do Novo Império.
1377 a 1358 a. C.: introdução do culto a Áton por Amenófis IV.
1320 a. C.: início do reinado dos faraós da dinastia de Ramsés II.
663 a. C.: curto período de recuperação.
525 a. C.: derrota de Psamético III em Pelusa por Cambises; o Egito torna-se uma província persa.
332 a. C.: invasão do Egito por Alexandre Magno.
30 a. C.: início do domínio romano.
1798 d. C.: descoberta da Pedra de Roseta.
1822 d. C.: decifração dos hieróglifos por Champollion.

18 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 19

Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – Entre os tesouros encontrados no túmulo de Analise a charge e o texto a seguir e responda à questão .
Tutancamon (faraó que reinou entre 1332 e 1322 a. C.), acha-se este
baixo-relevo em ouro representando uma cena da vida privada da
família real: a esposa do faraó esfregando óleo perfumado no corpo do
marido (a seguir). Dos artesãos e trabalhadores em geral que
produziram o túmulo e suas riquezas, não se acharam vestígios.

“Heródoto, historiador grego do século V antes de Cristo, dizia que o


Egito era um presente do Rio Nilo. Durante os meses de cheias, suas
águas inundavam as terras e as cobriam de adubos naturais. Mas isso
não era o bastante, como dizia um documento provavelmente escrito
por volta do ano 2000 antes de Cristo: ‘Desejamos a inundação, nela
achamos vantagem. Mas nenhum campo lavrado cria-se por si mesmo’.
De fato, eram muitas e árduas as tarefas que os camponeses tinham
de realizar para criar os campos lavrados e eram os movimentos do
Nilo que regulavam suas atividades durante todo o ano.”
Sobre essas figuras anônimas, pode-se afirmar:
I. Eram cidadãos do Estado teocrático egípcio e, como tais, tinham
(Rubin Aquino; Maria Bernadete Moura; Luiza Aieta. Fazendo a História.
direitos semelhantes aos dos seus reis e patrões.
Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico S.A. Edição Revisada, 1993.)
II. Serviram aos soberanos egípcios e garantiram a sobrevivência dos
valores deles por meio de obras artísticas.
 (MODELO ENEM) – Quanto à relação do Nilo com o trabalho dos
III. Eram operários das obras funerárias dos reis e aristocratas e tinham
camponeses, é válido argumentar que os camponeses
seus direitos garantidos por severa legislação do Código de
a) podiam se ocupar com as atividades de lazer, quando o rio voltava
Hamurábi.
ao seu leito e, então, o trabalho agrícola cessava.
IV. Eram homens e mulheres que entregavam o trabalho e a vida para
b) precisavam construir diques, represas e canais de irrigação, para
que a grandeza do Estado egípcio se perpetuasse no tempo.
armazenar e distribuir as águas do rio para diferentes regiões.
c) semeavam e colhiam, durante os meses em que ocorriam as inun-
Está(ão) correta(s)
dações, aproveitando-se do solo úmido, fertilizado e amolecido.
a) apenas I.
d) eram recrutados pelos faraós para o trabalho artesanal e doméstico
b) apenas I e II.
nos palácios, durante os períodos de vazante.
c) apenas II e IV.
e) constituíam a camada social mais privilegiada, em razão da impor-
d) apenas III e IV.
tância atribuída ao seu trabalho.
e) I, II, III e IV.
Resolução
Resolução
As cheias do Rio Nilo ocorriam entre julho e novembro, e depositavam
A afirmativa I está errada, pois não havia o conceito de cidadania –
em suas margens uma lama extremamente fértil. Esta sedimentação
igualdade jurídica, que surgiria tempos depois na Grécia Antiga. A
foi utilizada pelos camponeses para o plantio de cereais que
afirmativa III está errada, pois o código de Hamurábi surgiu na
garantiram a sobrevivência da civilização egípcia em meio àquela
Mesopotâmia. A rígida estrutura social egípcia era regida por princípios
região hostil.
religiosos, cuja base se encontrava no Livro dos Mortos.
Resposta: B
Resposta: C

HISTÓRIA 19
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 20

Exercícios Propostos

 “Amanheces formoso no horizonte celeste,  Ao visitar o Egito do seu tempo, o historiador


Tu, vivente Áton, princípio da vida! grego Heródoto (484-420/30 a.C.) interessou-se
Quando surgiste no horizonte do Oriente por fenômenos que lhe pareceram incomuns, como as cheias
Inundaste toda a terra com tua beleza. regulares do rio Nilo. A propósito do assunto, escreveu o seguinte:
És belo, grande, resplandecente e sublime sobre toda a “Eu queria saber por que o Nilo sobe no começo do verão e
terra; subindo continua durante cem dias; por que ele se retrai e a
Teus raios invadem as terras até o limite de tudo o que sua corrente baixa, assim que termina esse número de dias,
fizeste: sendo que permanece baixo o inverno inteiro, até um novo
Sendo Rei, alcanças o fim delas, verão. Alguns gregos apresentam explicações para os fenô-
Subjuga-as para teu filho predileto. menos do rio Nilo. Eles afirmam que os ventos do noroeste
Embora estejas longe, teus raios estão na terra; provocam a subida do rio, ao impedir que suas águas corram
Embora toques as faces dos homens, ninguém conhece o para o mar. Não obstante, com certa frequência, esses ventos
teu destino.” deixam de soprar, sem que o rio pare de subir da forma
(Akhenáton, Hino a Áton) habitual. Além disso, se os ventos do noroeste produzissem
esse efeito, os outros rios que correm na direção contrária aos
Com base no texto, responda: ventos deveriam apresentar os mesmos efeitos que o Nilo,
a) Que faraó egípcio implantou o culto a Áton no Egito Antigo? mesmo porque eles todos são pequenos, de menor corrente.”

RESOLUÇÃO: (Heródoto. História (trad.). livro II, 19-23.


Amenófis IV (Akhenáton). Chicago: Encyclopaedia Britannica Inc. 2ª ed. 1990, p. 52-3.
Adaptado.)

b) Qual o motivo dessa revolução religiosa no Novo Império? Nessa passagem, Heródoto critica a explicação de alguns
gregos para os fenômenos do rio Nilo. De acordo com o texto,
RESOLUÇÃO: julgue as afirmativas abaixo.
Diminuir a influência dos sacerdotes na vida política, substituindo
I. Para alguns gregos, as cheias do Nilo devem-se ao fato de
o culto politeísta pelo monoteísmo de Áton.
que suas águas são impedidas de correr para o mar pela
força dos ventos do noroeste.
II. O argumento embasado na influência dos ventos do
noroeste nas cheias do Nilo sustenta-se no fato de que,
quando os ventos param, o rio Nilo não sobe.
 Coloque falso (F) ou verdadeiro (V) nas assertivas sobre a III. A explicação de alguns gregos para as cheias do Nilo
baseava-se no fato de que fenômeno igual ocorria com rios
civilização egípcia.
de menor porte que seguiam na mesma direção dos ventos.
(0) As cheias cíclicas do Rio Nilo influenciavam a vida social.
É correto apenas o que se afirma em
(1) A organização política dissolveu-se por meio dos nomos.
a) I. b) II. c) I e II. d) I e III. e) II e III.
(2) Antigo, Médio e Novo Império correspondem à sua
evolução política. RESOLUÇÃO:
(3) As pirâmides de Gizé são exemplos do poder teocrático. Interpretação do texto, no qual Heródoto (considerado o “Pai da
(4) O faraó Menés unificou o Egito por volta de 3 200 a. C. História”) cita uma explicação da época para as cheias do Nilo, e
depois a destrói, com argumentos baseados na observação dos
(5) Amenófis IV revolucionou a religião tradicional, ao substituir
fatos.
o culto politeísta pelo monoteísmo. Resposta: A
(6) A religião era animista e antropozoomórfica.
(7) Os hebreus e os hicsos não tiveram relações com o Egito.

RESOLUÇÃO:
O item 1 é falso porque a primeira forma de organização política
ocorreu por meio dos nomos.
O item 7 é falso porque os hebreus viveram durante algum tempo
como escravos no Egito; os hicsos invadiram o Egito e se tornaram
seus governantes.

20 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 21

 O Egito é visitado anualmente por milhões de  (FATEC) – No século V a.C., Heródoto, historiador grego,
turistas de todos os quadrantes do planeta, afirmou que “O Egito é uma dádiva do Nilo”.
desejosos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do Assinale a alternativa que apresenta, corretamente, a principal
poder esculpida em pedra há milênios: as pirâmides de Gizeh, razão de se atribuir ao rio Nilo uma importância tão grande para
as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos o desenvolvimento do Egito Antigo.
construídos ao longo do Nilo. O que hoje se transformou em a) Nos períodos de cheias, as águas desse rio feritilizavam as
atração turística era, no passado, interpretado de forma muito margens, o que possibilitou a agricultura.
diferente, pois b) Os faraós construíram barragens para obter eletricidade,
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós aumentando a produção de itens de exportação.
tinham para escravizar grandes contingentes populacionais c) A navegação pelo grande rio permitiu que os egípcios
que trabalhavam nesses monumentos. conquistassem o sul da Europa, formando um grande
b) representava para as populações do Alto Egito a império.
possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho nos d) Das margens do rio se retirava o barro om que eram fa-
canteiros faraônicos. bricados os tijolos utilizados na construção das grandes
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma pirâmides.
vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas riquezas, e) Atravessando a África de norte a sul, o Nilo possibilitou a
construindo templos. integração cultural e econômica da área entre o Saara e o
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, deserto da Namíbia.
obrigando os desocupados a trabalharem em obras
públicas, que engrandeceram o próprio Egito. RESOLUÇÃO:
A função fertilizadora desempenhada pelas cheias do Nilo
e) significava um peso para a população egípcia, que
permitiu o desenvolvimento de uma brilhante civilização, baseada
condenava o luxo faraônico e a religião baseada em crenças sobretudo na produção agrícola, fazendo do Egito um marco
e superstições. civilizatório na história da Antiguidade.
Resposta: A
RESOLUÇÃO:
O Antigo Egito constituía uma monarquia teocrática, na qual a
servidão coletiva era a forma de trabalho dominante (modo de
produção asiático). Dentro dessa estrutura, o faraó dispunha do
poder necessário para mobilizar compulsoriamente grandes
contingentes de trabalhadores, destinando-os à construção de
obras monumentais, voltadas para a glorificação do soberano e
das divindades às quais ele estava associado.
Resposta: A

HISTÓRIA 21
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 22

Palavras-chave:
• Comércio Marítimo
Fenícia e Israel
5 • Escrita fonética
• Cedro • Êxodo

1. As disposições geográficas

O Crescente Fértil compreende a extensão de terra


que se inicia no Golfo Pérsico, avança na direção noroes-
te e se alarga à medida que os Rios Tigre e Eufrates se
distanciam um do outro. O Crescente chega até a costa
oriental do Mar Mediterrâneo, incluindo o Vale do Rio
Jordão, em território dos atuais Estados de Israel e do
Líbano. Embora nesta última área as condições não
fossem tão favoráveis à agricultura, o Crescente Fértil
abrigou fora da Mesopotâmia duas importantes
civilizações: a fenícia e a hebraica.

A antiga Palestina, considerada a Terra Prometida dos hebreus, com a


localização de outros povos que habitaram a região; ao norte, as
cidades fenícias de Tiro e Sidon.

Economia
Com exceção do fundo dos vales, onde a água pode
ser aproveitada pela agricultura, tudo o mais são planícies
secas, nas quais os pastores
apascentavam o gado, ou encos-
tas de montanhas onde crescia,
O Vale do Jordão ou a “Terra Prometida”. em abundância, o cedro, madeira
ideal para a navegação.

2. Fenícios
Localização
Uma estreita faixa de terra, representada hoje pela
República do Líbano, estende-se por aproximadamente
200 quilômetros, com menos da metade de largura,
comprimida do lado leste pelos contrafortes das
montanhas do Líbano e, a oeste, pelo Mar Mediterrâneo.

Os fenícios criaram a primeira escrita fonética, da qual derivaram várias


outras, entre elas, os alfabetos grego e latino.

22 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 23

A disposição geográfica da região, associada ao cres- 4. Israel


cimento populacional, levou os fenícios em direção ao
Mar Mediterrâneo, buscando a sobrevivência na pesca. Economia
Aproveitando-se da decadência do comércio cretense,
desenvolveram uma notável indústria de navegação, A região dos judeus primitivos era também uma
pondo seus barcos, sua habilidade comercial e as técni- estreita faixa de terra, se bem que mais extensa, irrigada
cas náuticas a serviço dos grandes impérios continen- pelo Rio Jordão, que flui em direção ao Mar Morto. A
tais: egípcio, assírio, babilônico etc. área é seca, possui clima quente, pouca chuva e campos
dedicados à criação de gado, principalmente de caprinos
“Antes de tudo negociantes, os fenícios mostraram-se e ovinos, dada a pobreza da vegetação existente. Os
hábeis em contar, medir, trocar os produtos por meios rebanhos eram obrigados a migrar constantemente à
de barras de metais preciosos. Provavelmente para procura de melhores pastagens, pois a agricultura de
facilitar a sua correspondência comercial, simplificaram fundo de vale era ainda mais difícil do que na Fenícia.
os antigos sistemas de escrita e puseram progressi-
vamente em uso uma das maiores invenções humanas, Política
o alfabeto: escolheram vinte e dois sinais para repre-
sentar não mais sílabas ou palavras, mas letras, tendo Muito provavelmente, os hebreus chegaram a Canaã
cada uma um som diferente. Pôde-se assim notar todos (Terra Prometida) originários das proximidades da cidade
os sons e todas as articulações de uma língua falada. de Ur, na Mesopotâmia, às margens do Rio Eufrates, onde
Esse alfabeto prático foi logo imitado pelos gregos e viviam agrupados em clãs e comandados pelos patriarcas.
latinos: é o ancestral do nosso alfabeto moderno.” Na Terra Prometida, não jorrava tanto leite e mel
(J. Isaac; A. Alba. Oriente e Grécia. São Paulo: como afirmavam as profecias de Abraão. As constantes
Mestre Jou, 1964. p. 97.) secas e o domínio dos hicsos no Egito deram-lhes a
esperança de dias melhores em uma nova e rica terra.
Política Migraram para o Egito, por volta de 1800 a. C., onde
Os fenícios foram ímpares também na organização foram acolhidos pelos povos pastores. Com a expulsão
política, pois, em vez de optarem pelos Estados dos hicsos, pelo faraó Amósis I, inverteu-se a situação
centralizados dos grandes impérios orientais, introdu- dos hebreus: passaram à condição de escravos.
ziram o regime político de cidades-Estado, isto é, cida- Moisés, líder hebraico, empreendeu o Êxodo, isto é,
des independentes, autônomas e soberanas, controla- a saída dos hebreus do Egito para Canaã, terra de seus
das geralmente pelos grandes comerciantes. Desta- ancestrais. Após um período de constantes lutas,
caram-se, entre elas, Sidon, Tiro e Biblos. lideradas pelos Juízes, que exerciam o poder militar e
Ultrapassando suas fronteiras e realizando verdadei- religioso, os hebreus retomaram a terra dos filisteus e
ros périplos, os fenícios fundaram colônias em grande cananeus. Nesse momento, surgiu a necessidade de um
parte da orla do Mar Mediterrâneo, como a importante Estado centralizador, materializado na figura dos reis
cidade de Cartago, fundada no norte da África. Saul, Davi e Salomão.
“Deus deu a Salomão sabedoria e inteligência
Religião assombrosa e uma magnanimidade de coração como a
Na Fenícia, como na Mesopotâmia, o politeísmo areia que há na praia do mar. E a sabedoria de Salomão
adquiriu feições sanguinolentas. Os sacrifícios humanos excedia a de todos os orientais e egípcios. Ele foi mais
eram comuns, notadamente de crianças. Cada cidade sábio do que qualquer outro homem; [...] e a sua fama
possuía um Baal (deus) protetor, como: Melcart, em Tiro; estendeu-se por todas as nações circunvizinhas [...].”
Adonis, em Biblos; Eshum, em Sidon. Cartago tinha como (Primeiro Livro dos Reis, 4:29-31)
protetor Moloc. Possuíam ainda divindades menores, Apesar de organizador e pacífico, as extravagâncias
protetoras do comércio, das rotas dos navios etc. O culto e a ambição de Salomão, com a construção do
público era feito pelo clero que governava a cidade. imponente Templo de Jerusalém, provocaram um
profundo deficit na economia do país e um grande des-
3. Cronologia contentamento entre seus súditos. Após sua morte,
ocorreu o Cisma, a divisão das tribos em dois reinos:
1500 a. C.: início da hegemonia das cidades fenícias so- Israel, ao norte, representado por dez tribos, com capital
bre as cidades cretenses. em Samaria; Judá, ao sul, formada por duas tribos, com
capital em Jerusalém.
1100 a. C.: supremacia de Tiro.
Périplo: navegação em volta de um continente, semelhante à que foi
Séc. IX a. C.: surgimento do alfabeto fonético.
realizada pelos portugueses e espanhóis, na época das “Grandes
814 a. C.: fundação de Cartago. Navegações”, nos séculos XV e XVI.
Séc. VIII a. C.: conquista da Fenícia, com exceção de Patriarca: chefe de família, ao mesmo tempo sacerdote, juiz e chefe
Tiro, pelos assírios. de uma pequena tribo.
Deficit: o que falta para as receitas igualarem o montante das
332 a. C.: conquista de Tiro por Alexandre Magno.
despesas.

HISTÓRIA 23
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 24

As tribos do norte foram conquistadas pelo Império Em 1948, a Organização das Nações Unidas (ONU)
Assírio, levadas para o cativeiro e misturadas a outros pôs fim ao longo período de dispersão, fundando o
povos. Por isso, ficaram conhecidas como as “dez tribos moderno Estado de Israel.
perdidas de Israel”.
Mais tarde, as duas tribos do sul caíram no domínio
Religião
do Segundo Império Babilônico. Jerusalém foi destruída, Durante todas as vicissitudes da história hebraica, a
e a população de Judá também foi levada para o cativeiro religião foi o elo entre todos os judeus e assegurou a
na Mesopotâmia, de onde saiu somente quando os sobrevivência da nação de Israel, por meio do
persas derrotaram os babilônios e autorizaram o retorno monoteísmo. Iavé ou Jeová é a denominação que foi
dos judeus a Canaã. dada a Deus, embora os hebreus o chamassem Adonai
Restauraram o reino e passaram ainda pelo domínio (Senhor) ou Adonai Elohim (o Senhor do Alto).
macedônio e romano. Durante o domínio romano, a A religião foi estruturada por Moisés, que divulgou o
província da Judeia foi uma das mais rebeldes do Império Decálogo (Dez Mandamentos) e escreveu o Pentateuco
por causa de uma série de insurgentes religiosos e da (os cinco primeiros livros do Antigo Testamento). Foi
recusa em aceitar o culto ao deus-imperador. adotada uma série de práticas religiosas, como a guarda
Em 70 d. C., Jerusalém foi destruída pelo general do sábado, a frequência à sinagoga, a circuncisão etc.
Tito Flávio e sua população dispersa pelo mundo –
Diáspora judaica.
5. Cronologia
1500 a. C.: chegada dos hebreus a Israel.
1250 a. C.: êxodo dos hebreus, conduzido por Moisés.
1010 a. C.: proclamação de Saul como o primeiro rei
dos hebreus.
1006 a 966 a. C.: reinado de Davi.
966 a 926 a. C.: reinado de Salomão.
926 a. C.: divisão de Israel em dois reinos: Israel e Judá.
722 a. C.: conquista de Israel pelos assírios.
587 a. C.: conquista e destruição de Jerusalém por
Nabucodonosor.
586 a 538 a. C.: cativeiro dos hebreus na Babilônia e
início da Diáspora.
332 a. C.: conquista de Israel por Alexandre Magno.
63 a. C.: anexação de Israel ao Império Romano por
Pompeu.
70 d. C.: conquista e destruição de Jerusalém pelo
imperador romano Tito.
133 d. C.: expulsão dos judeus de Jerusalém: segunda
Moisés Quebrando a tábua da Lei. Rembrandt. 1659. Diáspora.

A púrpura dos fenícios e a obra de


Davi e Salomão em Israel
O fabrico da púrpura râneo e que contém em certas glândulas nal e tiravam-lhes a referida glândula para
uma mucosidade esbranquiçada que, a triturarem. A massa assim obtida era
aplicada a tecidos e exposta ao sol, misturada com sal e deixada em repouso
Para a obtenção da púrpura, os fení-
adquire primeiro uma cor amarelada que durante três dias para se lhe extrair o
cios utilizavam uma espécie de molusco
brevemente se torna azul ou arroxeada. suco. Este era depois concentrado duran-
ou caracol marinho, o múrex (ou múrice),
Os fenícios pescavam estes molus- te dez dias, a fogo moderado, em vasilhas
que se encontra em grande quantidade
cos em quantidade, por meio de isca; de chumbo, tendo-se o cuidado de coar o
em quase todas as praias do Mediter-
abriam-nos depois em sentido longitudi- líquido.

24 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 25

Quando este estava suficientemente A obra de Davi e Salomão O cisma político que sobreveio após
espesso e purificado, mergulhava-se nele Davi escolheu para capital de todo o reinado de Salomão, anulando a obra
a peça que devia receber o tinto e que, Israel a cidade de Jerusalém, que unificadora da monarquia, desdobrou-se
depois de bem embebida, era exposta ao conquistara aos jebuseus e que, sem em cisma religioso. Embora israelitas e
sol. Resultava daí que as cores obtidas pertencer nem a Judá nem às tribos judeus sentissem formar, a igual título, o
não podiam ser alteradas por efeito dos setentrionais, parecia simbolizar a união e povo de Yahweh, embora aspirassem a
raios solares. a igualdade entre o Sul e o Norte. Esse recompor uma única nação e produzis-
A utilização da tinta amplo raciocínio político tinha ainda um sem compilações de tradições estreita-
aspecto religioso. O rei mandou trans- mente comparáveis (compilação iaveísta
Assim se tingiam principalmente a lã
portar para lá a Arca da Aliança, que, ao e compilação eloísta, respectivamente do
fina da ovelha, os finíssimos tecidos
fixar, por assim dizer, a presença efetiva Sul e do Norte), não tardou a se manifes-
egípcios que os gregos chamavam
de Deus na montanha de Sião, acres- tar um distanciamento na religião dos dois
“byssos” e, nos últimos tempos, a seda.
centava ao brilho da capital histórica o reinos politicamente inimigos.
Segundo as manipulações, a escolha das
espécies dos moluscos, a maior ou me- prestígio e a santidade de metrópole do
(Paul Garelli; V. Nikiprowetzky.
nor espessura e a redução mais ou iaveísmo. Salomão levou a termo a obra O Oriente Próximo Asiático – Impérios
menos lenta do líquido, os preparativos e empreendida pelo pai, construindo o Mesopotâmicos – Israel. São Paulo: Pioneira,
Templo para abrigar a Arca. Foi precisa- 1982. p. 162.)
a repetição das imersões, assim se obti-
nham os mais variados matizes de cor. A mente a presença da Arca o que
púrpura de Tiro tinha uma cor vermelho- conferiu ao Templo uma preemi-
violácea, semelhante à do sangue coalha- nência de fato sobre os demais
do, que era a mais apreciada e se cha- santuários do iaveísmo, aos quais,
mava “púrpura real”; o tinto dos molus- na origem, não se destinava a
cos das costas gregas era mais violáceo; substituir. A ideia de que Deus
o de Tarento, mais vermelho; e o dos residia em Jerusalém como em
moluscos do Atlântico, mais escuro. sua morada de predileção
sobreviveu ao desaparecimento
Como o tinto em púrpura era muito
da Arca e do Templo, e o
caro por causa da pequena quantidade que
sentimento de que a santidade se
dava cada animal, e porque não havia outro
irradiava de Sião, como de um
processo de conseguir tintos insensíveis
foco central, para Israel inteiro
aos raios solares, o uso das vestes de púr-
associou-se em definitivo à
pura tornou-se próprio da dignidade real.
fisionomia moral da cidade con-
(M. Torres Ferrandis. Maquete do Templo de Salomão.
sagrada.
História Geral da Cultura. p. 126.)

Exercícios Resolvidos

Leia o texto para responder à questão . III. No século XX, após a Segunda Guerra  (UEL – MODELO ENEM) – “ ... essen-
Mundial, com a criação do Estado de Israel cialmente mercadores, exportavam pescado,
“Subitamente, entreabria-se o quadro pela ONU, os judeus voltaram a se reunir vinhos, ouro e prata, armas, praticavam a
sonoro para irromper o coro das lamentações. em um território. pirataria, e desenvolviam um intenso comércio
Acabavam no ar, lucíolas extintas, os derra- IV. O dilúvio, narrado no Antigo Testamento, de escravos no Mediterrâneo...”
deiros sons da harpa de David; perdia-se em provavelmente foi inspirado em um relato
ecos a derradeira antístrofe de Salomão; [...]. muito mais antigo, conhecido pelos O texto refere-se a características que
Clamavam as imprecações do dilúvio, os sumérios. identificam, na Antiguidade Oriental, os
desesperos de Gomorra; flamejava no V. A construção do Templo de Jerusalém por a) fenícios. b) hebreus. c) caldeus.
firmamento a espada do anjo de Senaqueribe; Salomão foi um marco na centralização d) egípcios. e) persas.
dialogavam em concerto tétrico as súplicas do política dos hebreus durante o período
Egito, os gemidos de Babilônia, as pedras monárquico. Resolução
condenadas de Jerusalém.” É correto o que se afirma apenas em Os fenícios habitavam uma faixa aproximada
(Raul Pompeia. O Ateneu. São Paulo: Ática, a) I e II. b) I, II e III. c) II, III e IV. de 200 Km, entre o Mar Mediterrâneo e as
1990. p. 37.) d) I, II e III. e) III, IV e V. montanhas, onde atualmente existe o Líbano.
Resolução A falta de um rio caudaloso (que facilitasse a
 (MODELO ENEM) – Leia as afirmativas A afirmativa I está incorreta, porque a religião é agricultura), o extenso litoral e a abundância de
abaixo: a base da identidade judaica. madeira foram fatores que impeliram os
I. A religião dos hebreus não teve nenhuma A afirmativa II está errada, porque o primeiro fenícios à prática do comércio marítimo.
importância na construção da identidade patriarca foi Abraão, que recebeu dos caldeus, Resposta: A
daquele povo. em Canaã, o nome de hebreu (aquele que veio
II. David foi considerado o primeiro patriarca de um lugar próximo do Rio Ur, na Suméria).
hebreu. Resposta: E

HISTÓRIA 25
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 26

Exercícios Propostos

 Faça uma relação entre o desenvolvimento do comércio  (MODELO ENEM)


fenício e a invenção da escrita fonética.

RESOLUÇÃO:
A partir do desenvolvimento mercantil, surgiu a necessidade de
se criar um sistema de escrita, a fim de facilitar sua organização
comercial.

Levando-se em consideração a história do povo hebreu, desde


a antiguidade até os dias de hoje, a permanência de cultos
 Qual a importância da religião monoteísta para a praticados entorno do Muro das Lamentações pode ser
entendido como um ato de:
preservação do povo hebreu?
a) resistência e memória.
b) submissão e violência.
RESOLUÇÃO:
Manteve a unidade política do povo, em razão da crença em c) religiosidade e monumentalidade.
apenas um único Deus. d) ceticismo e universalismo.
e) teocentrismo e territorialidade.

RESOLUÇÃO:
O Muro das Lamentações, localizado em Jerusalém, é parte da
antiga estrutura do Templo de Herodes, que foi destruído em 70
d.C pelos romanos. Neste mesmo ano, teve início a Diáspora do
povo hebreu, quando estes se dispersaram por toda a Europa e,
posteriormente, pelo mundo. Após a criação do Estado de Israel,
em 1948, o fato da estrutura do Muro ter sobrevivido aos últimos
2 mil anos de história, fez com que ele passasse a ser visto como
símbolo da resistência do povo hebreu frente todas as
adversidades, além de representar a memória viva dos feitos
passados.
Resposta: A

 (MODELO ENEM)

26 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 27

Levando-se em consideração a localização geográfica da Coloque verdadeiro (V) ou falso (F) nas assertivas sobre os
civilização fenícia, é possível dizer que: hebreus.
a) graças à sua posição litorânea, o comércio marítimo teve
grande desenvolvimento, além da organização politica em (0) O documento principal para o estudo de sua história é a
cidades-Estado fundadas e lideradas pelos próprios Bíblia (Antigo Testamento).
comerciantes. (1) Escavações arqueológicas recentes fizeram importantes
b) se tornou um dos maiores impérios da antiguidade, descobertas que confirmam os relatos bíblicos.
expandindo suas posses até o Oceano Atlântico através da (2) O simbolismo da linguagem bíblica facilita sua interpre-
comercialização do cedro. tação.
c) se organizava entorno de cidades-Estado autônomas e sua (3) Sua origem é a cidade de Ur, de onde foram conduzidos por
principal atividade era o comércio com outras civilizações do Abraão.
Crescente Fértil, como a Babilônia e a Pérsia (4) Sua evolução política foi caracterizada pela presença de
d) possuía boas relações com todas as civilizações ao longo do patriarcas, juízes e reis.
Mediterrâneo, nunca se envolveu em qualquer conflito e (5) O reinado de Salomão foi um período de esplendor.
funcionava como uma nação conciliadora através do (6) O monoteísmo é um traço marcante de sua religião, sendo
comércio provavelmente uma influência egípcia.
e) possuía poderosas cidades-Estado ao longo de todo o litoral (7) Os profetas foram peças importantes na sua religião,
do Oriente Médio e monopolizava o comércio mundial, reforçando as tradições e pregando a vinda de um Messias.
porém foi derrotada em diversos conflitos marítimos que
RESOLUÇÃO:
surgiam devido ao seu imperialismo.
O item 2 é falso porque o simbolismo dificulta sua interpretação,
pois tem um caráter atemporal, ou seja, seu significado varia
RESOLUÇÃO: conforme a época da interpretação.
O mapa mostra como a posição geográfica dos fenícios foi
determinante para seu desenvolvimento comercial e a
estruturação política através de cidades-Estado.
Resposta: A (UFRN – MODELO ENEM) – Entre os hebreus da Antigui-
dade, os profetas eram considerados mensageiros de Deus,
lembrando ao povo as demandas da justiça e da Lei dadas por
Javé. Isaías, um dos profetas dessa época, em nome de Javé
proclamou:
“Ai dos que ajuntam casa a casa, reúnem campo a campo,
até que não haja mais lugar, e ficam como únicos moradores
 Coloque verdadeiro (V) ou falso (F) sobre a civilização no meio da terra!” (Isaías 5:8)
fenícia: “Ai dos que decretam leis injustas; dos que escrevem leis
(0) Era uma faixa estreita de terra com cerca de 200 de opressão, para negarem justiça aos pobres, para arreba-
quilômetros, situada entre o mar e as montanhas. tarem o direito aos aflitos do meu povo, a fim de despojarem
(1) Era de origem semita e ali foram fundadas diversas cidades as viúvas e roubarem os órfãos! “(Isaías 10:1-2)
como Ugarit, Arad, Biblos, Sidon e Tiro.
(2) Sua economia era essencialmente mercantil, praticada Esses pronunciamentos do profeta Isaías estão ligados a uma
principalmente por meio da navegação marítima. época da história hebraica em que ocorre
(3) Era contrária à prática da colonização e do comércio de a) a saída dos hebreus do Egito, sob o comando de Moisés, e
escravos. o estabelecimento em Canaã, conquistando as terras dos
(4) A política era monopolizada pelas oligarquias mercantis. povos que ali habitavam.
(5) Os sacrifícios humanos faziam parte dos rituais religiosos. b) a imigração para o Egito, quando os hebreus receberam
(6) Os fenícios eram excelentes artesãos em cerâmica, vidro, terras férteis no delta do Rio Nilo, por influência de José,
joias e tecidos. que exercia ali o cargo de governador.
(7) Cartago tornou-se sua principal colônia no Mediterrâneo. c) a formação de uma aristocracia, que enriquecera com o co-
(8) A unificação não se concretizou em razão do caráter político mércio e com a apropriação das terras dos camponeses
das cidades-Estado. endividados.
d) a conquista de Jerusalém por Nabucodonosor, quando os
RESOLUÇÃO: judeus foram despojados de suas terras e deportados para
O item 3 é falso porque uma das suas mercadorias eram justamente a Babilônia.
os escravos, e os fenícios criaram colônias pelo Mediterrâneo, como a e) a diáspora, quando os hebreus foram conquistado pelos
cidade de Cartago.
romanos e se espalharam pelo mundo.

RESOLUÇÃO:
Como profeta do Reino de Judá, Isaías previu a destruição de
Jerusalém pelos babilônios e o desterro do seu povo. Esse
episódio é conhecido como o ”cativeiro babilônico”.
Resposta: D

HISTÓRIA 27
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 28

Palavras-chave:
• Medos e Persas
Pérsia
6 • Satrápias • Dárico
• Expansão

1. Situação geográfica Cambises, filho e sucessor de Ciro, conquistou o


Egito na Batalha de Pelusa (525 a. C.), vencendo o faraó
Estendendo-se da Mesopotâmia ao Vale do Rio Indo, Psamético III. Morreu quando se preparava para voltar à
encontra-se o planalto iraniano. Grande parte dele está Pérsia, a fim de sufocar uma revolta.
acima de 2 000 metros: aqui e ali surgem bruscas
elevações, cujos vales são regados pelos rios que Em 522, Dario I subiu ao poder. Durante seu
buscam o mar. A região toda é pouco irrigada e, por isso, governo, o Império Persa atingiu o apogeu. Os
grande parte dela é desértica. domínios estendiam-se desde a Trácia, na Europa, até
A partir do II milênio a. C., essa região foi ocupada por a Ásia Central. Dario consolidou o despotismo real,
tribos de pastores de origem ariana, os quais deram origem dando à sua pessoa um caráter semidivino. Dividiu o
a dois reinos distintos: ao norte, a Média; ao sul, a Pérsia. império em satrápias, cuja administração era confiada
aos nobres escolhidos, os sátrapas, vigiados por
funcionários reais (“olhos e ouvidos do rei”) que
percorriam as pro vín cias fiscalizando a ação dos
dirigentes. Houve estímulo ao comércio e ao floresci-
mento das várias capitais (Susa, Persépolis e Pasárga-
da), pois a Corte persa deslocava-se periodicamente.

Localização geográfica do Império Persa.

2. Política
A unificação política do planalto iraniano foi obra de
Ciro, rei da Pérsia, que logrou anexar o Reino da Média
(555 a. C.). Em seguida, Ciro derrotou Creso, rei da Lídia, Ruínas do palácio
e conquistou o Segundo Império Babilônico, permitindo de Dario, em
Persépolis.
que os hebreus retornassem a Israel. Procurou instaurar
uma certa unidade econômica em seu império e tratou
Dario envolveu-se em uma disputa pela hegemo-
os povos submetidos com benevolência, deixando-os
nia comercial no Mediterrâneo e, apoiado por seus alia-
com seus próprios costumes, língua e tradição. Foi visto
dos fenícios, deu início às Guerras Médicas contra os
como um libertador do jugo dos caldeus.
gregos, sendo derrotado na Batalha de Maratona, em
490 a. C.
Começou, então, a derrocada do Império Persa.
No reinado de Xerxes, filho de Dario, foi realizada uma
nova investida contra a Grécia. Os persas foram
derrotados pelos atenienses na Batalha de Salamina.
Ao mesmo tempo, tiveram de enfrentar várias revoltas
de povos cujos territórios haviam conquistado.
O fim da independência política dos persas veio
com a derrota e morte de Dario lII, em consequência
O túmulo de Ciro, o da investida dos gregos e macedônios comandados
fundador do Império Persa. por Alexandre Magno.

28 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 29

3. A economia e Apesar de distorcido por seus seguidores, o zoroas-


trismo teve grande repercussão em certas regiões da
a sociedade persa Ásia, sendo ainda praticado, se bem que com modi-
ficações. Com base na existência dos princípios opostos
O ambiente econômico do Império Persa teve seu pe-
do Bem (representado pelo deus Ormuz) e do Mal
ríodo de apogeu sob o reinado de Dario I, que procurou
(Ariman), afirmava que ambos viviam em constante luta
estimular o comércio e a agricultura. Com a introdução de pelo controle das ações humanas. Os homens, agindo
um padrão monetário que ficou conhecido com o nome de corretamente, estariam ajudando o Bem a vencer o Mal.
dárico, cunhado em ouro ou prata, de peso fixo e com a Zoroastro previa que, no final dos tempos, Ormuz ven-
efígie do rei (inovação trazida da Lídia), o comércio interno ceria e os que ficassem ao lado do Mal seriam destruídos.
foi incrementado de maneira espetacular. A construção de
estradas, bem como um eficiente policiamento efetuado
por tropas reais, permitiram um tráfego maior de caravanas
que demandavam a Mesopotâmia, provenientes dos
confins da Ásia. Os correios reais facilitavam as
comunicações e dizia-se que “na capital, podia-se comer o
peixe pescado no mar no mesmo dia”.
Relevo mostrando o rei
O Império Persa nasceu do conflito entre as tribos Ardashis recebendo o
pastoras e agricultoras. Quando o persa Ciro se impôs poder das mãos do deus
pela força, a nobreza agrária e guerreira também se Ahura-Mazda
sobrepôs. O povo, constituído de artesãos, agricultores
e pastores, que podiam ser recrutados para a guerra, 5. Cronologia
ocupava uma posição superior à dos escravos.
549 a. C.: Ciro, o Grande, torna-se rei dos persas.
Entre os persas, o poder da camada sacerdotal era
539 a. C.: Ciro conquista a Babilônia.
menor do que na maioria das civilizações da Antiguidade
Oriental. 529 a. C.: morte de Ciro.
529 a 522 a. C.: reinado de Cambises II.
4. A religião 525 a. C.: Cambises conquista o Egito, na Batalha de
Pelusa.
dualista dos persas
512 a 484 a. C.: reinado de Dario I.
Antes mesmo do processo de unificação dos persas,
480 a 479 a. C.: expedição contra a Grécia.
realizado por Ciro, um personagem semilendário deu aos
persas uma forma peculiar de religião: o dualismo. Esse 448 a. C.: retirada persa do Mar Egeu, por meio da Paz
personagem, conhecido como Zoroastro ou Zaratustra, de Calias (Tratado de Susa) com os gregos.
escreveu o Zend-Avesta, estabelecendo os princípios 330 a. C.: conquista do Império Persa por Alexandre
gerais da religião persa. Magno.

Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – “Os persas são des- b) o nome “Irã” não possui relação alguma ‘Assim diz Ciro, rei da Pérsia: O Senhor, Deus dos
cendentes de povos que habitavam o planalto com o passado. céus, me deu todos os reinos da terra e me en-
iraniano há mais de 3 mil anos. Os termos Pérsia c) a língua é um elemento fundamental na carregou de lhe edificar uma casa em Jerusalém,
identificação de um povo. que está em Judá; quem entre vós é de todo o
e persa foram adotados por todos os idiomas
d) a história grega ignora a existência dos ira- seu povo, que suba, e o Senhor, seu Deus, seja
ocidentais por meio dos gregos, e vêm sendo
nianos. com ele.’ “
usados para se referir oficialmente ao Irã e seus
Resolução (II livro de Crônicas 36:22, 23)
habitantes desde 1935. Não só os iranianos
Os elementos que identificam uma nacio-
como também diversos outros povos são Pela leitura do texto, podemos concluir que
nalidade são a língua, a cultura (hábitos, costu-
descritos como persas pelo fato de eles terem a) a história dos persas não possui ligação
mes e crenças), o passado (história) e a
abraçado a língua e a cultura persa. O nome alguma com a dos hebreus.
ocupação de um espaço (geografia). b) ele ignora a relação entre religião e política.
‘Pérsia’ foi o nome ‘oficial’ do Irã no Ocidente
Resposta: C c) a história de alguns povos tem influência da
antes de 1935, porém os próprios persas se
referiam ao país desde o período sassânida de outros.
(226-651 d. C.) como ‘Irã’.”
 (MODELO ENEM) – “Porém, no primeiro d) o tempo é contado de forma idêntica por
ano de Ciro, rei da Pérsia, para que se cumprisse todos os povos.
(Texto adaptado de http://pt.wikipedia. a palavra do Senhor, por boca de Jeremias, Resolução
org/wiki/Persas, consulta em 7 de agosto de 2009.) despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Não existem culturas puras, pois todos os po-
Pérsia, o qual fez passar pregão (divulgar de vos têm relação (de uma maneira ou de outra)
A partir da leitura do texto, podemos afirmar que com outros povos e culturas, influenciando-se
forma cantada ou gritada) por todo o seu reino,
a) historicamente os persas têm uma origem mutuamente.
como também por escrito, dizendo:
indefinida. Resposta: C

HISTÓRIA 29
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 30

Exercícios Propostos

 Qual a importância de Dario I na organização política da  Coloque falso (F) ou verdadeiro (\/) nas assertivas sobre os
Pérsia? persas.
(0) Ciro unificou medos e persas, anexando a Lídia e toda a
RESOLUÇÃO: Mesopotâmia.
Dario I dividiu o Império em satrápias, governadas pelos sátrapas e (1) Os dáricos representavam a principal força militar.
fiscalizadas pelos “olhos e ouvidos do rei”, além de construir uma
rede de estradas que facilitaram a integração do vasto Império.
(2) Dario I criou um sistema administrativo baseado nas satrápias.
(3) Zaratustra ou Zoroastro revolucionou a religião persa.
(4) O dualismo religioso de Ahura-Mazda (o Bem) e Ahriman (o
Mal) dava uma dimensão transcendental à religião persa.
(5) A ideia de céu-inferno é originária dos hebreus, sendo
copiada pelos persas.
(6) Pasárgada, Persépolis e Susa foram grandes cidades
persas.
 Ao conquistar as regiões do Oriente, o Império Persa (7) O Zend-Avesta foi extraído das concepções religiosas da
avançou para o Ocidente, confrontando-se com uma civilização Mesopotâmia e do Egito.
em notável estágio de desenvolvimento.
RESOLUÇÃO:
A que povo estamos nos referindo e como foram chamadas
O item 1 é falso porque o Dárico era a moeda dos persas.
essas guerras?
O item 5 é falso porque, na verdade, foi o inverso.
O item 7 é falso porque foi criação original dos persas.
RESOLUÇÃO:
Aos gregos. Guerras Médicas ou Pérsicas.

 (MODELO ENEM) – No esquema a seguir, os algarismos I, II, III e IV correspondem às civilizações da Antiguidade.

Civilizações Localização Base econômica Organização político-administrativa Religião


Nordeste Predominância Predominância do politeísmo
I Monarquia teocrática
da África da agricultura antropozoomórfico

II Atual Líbano Comércio Talassocracia Politeísmo


da Ásia Menor
III Agricultura e comércio Divisão do Império em satrápias Zoroastrismo
à Ásia Central
Governo dos patriarcas,
IV Atual Israel Pastoril e agrária Monoteísmo
juízes e reis, sucessivamente

Assinale a alternativa que denomina corretamente as civilizações indicadas, respectivamente, por I, II, III e IV.
a) Fenícia, Hebraica, Egípcia e Persa. b) Egípcia, Fenícia, Persa e Hebraica. c) Persa, Fenícia, Hebraica e Egípcia.
d) Egípcia, Persa, Fenícia e Hebraica. e) Hebraica, Egípcia, Fenícia e Persa.

RESOLUÇÃO:
O quadro apresenta um pequeno resumo das primeiras civilizações.
Resposta: B

30 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 31

Palavras-chave:
Grécia: Períodos • Diáspora • Genos

7 Pré-Homérico e Homérico • Talassocracia


• Lendário

1. Períodos históricos
Costuma-se dividir a história da Grécia Antiga em
quatro períodos:
• Pré-Homérico – século XX a XII a. C.
• Homérico – século XII a VIII a. C.
• Arcaico – século VIII a VI a. C.
• Clássico – século VI a IV a. C.

Cada uma dessas fases tem características próprias,


que procuraremos destacar a seguir.
civilização migrações
Séc. XX a. C.
creto-micênica indo-europeias

Séc. XIV a. C. apogeu de Micenas aqueus – jônios – eólios

Séc. XII a. C. 1.a diáspora – genos invasão dos dórios

Pólis Atenas – Esparta –


Séc. VIII a. C.
cidade-Estado Tebas
A invasão dos dórios provocou a fuga de eólios e jônios para a Ásia
Atenas – Esparta – Menor e pôs fim à civilização creto-micênica, criada por aqueus e
Séc. VI a. C. hegemonias
Tebas cretenses. Parte dos dórios se fixou na Lacônia, mas outros
atravessaram o Egeu, alcançando a Ásia Menor.
Império Macedônia
Séc. IV a. C.
Helenístico Alexandre Magno
Cronologia dos principais períodos da história da Grécia Antiga.
3. Período Pré-Homérico
A partir do segundo milênio a. C., vários grupos de
2. A geografia da Grécia povos nômades, de origem indo-europeia (arianos),
procedentes do norte do Mar Negro, deslocaram-se em
A Grécia é um país da Europa, localizado ao sul da Pe- direção à Península Balcânica e invadiram a Grécia em
nínsula Balcânica. O território grego compreendia duas sucessivas vagas de ocupação.
partes, unidas pelo Istimo de Corinto: ao norte, a Grécia
Continental; ao sul, a Península do Peloponeso, ambas Os primeiros a chegar foram os aqueus. A Grécia,
bastante montanhosas. A vida na Grécia foi determinada nesse momento, era ocupada por um povo de cultura
por duas paisagens distintas: a montanha e a orla marítima. bastante rudimentar, conhecido como pelasgos, que aos
poucos foram assimilados pelos invasores. Com o passar
As montanhas dificultavam as comunicações entre do tempo, fundaram diversos núcleos urbanos bem
as planícies e os pequenos vales férteis, fragmentando o fortificados, destacando-se Micenas, Tirinto e Argos.
território em numerosas comunidades, completamente
independentes entre si. Além disso, a existência de um Em seguida, entraram em contato com os habitan-
litoral bastante recortado e as numerosas ilhas do Mar tes da Ilha de Creta e assimilaram sua notável cultura, o
Egeu, muito próximas entre si, orientaram a vocação que deu origem à civilização creto-micênica.
marítima dos gregos, facilitando o contato com os povos Por volta de 1700 a. C., chegaram os eólios e jônios,
do mundo exterior. que se integraram pacificamente aos habitantes da
O clima da Grécia é muito seco, com chuvas raras, região. A partir daí, teve início uma notável expansão da
tendo poucas áreas férteis. Desta forma, a pecuária teve população grega, que se chocou contra a supremacia
um papel importante na economia. A agricultura era pra- cretense no mar – talassocracia. Cnossos, a principal
ticada nos vales e nas encostas das montanhas, repre- cidade de Creta, foi destruída. A lenda do Minotauro
sentada pelo cultivo do trigo, cevada e, principalmente, conta esse fato simbolicamente, transformando o rei de
de vinhas e oliveiras. Creta em um monstro antropófago que foi morto por
Teseu, herói grego de Atenas.
Arianos: da raça dos árias; os mais antigos antepassados que se conhecem da família indo-europeia.
Pelasgos (ou pelágios): primeiros habitantes da Grécia Antiga, cuja civilização se encontrava no estágio Neolítico quando chegaram os indo-europeus.

HISTÓRIA 31
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 32

A expansão micênica continuou pelo Mar Egeu em Os bens de produção (terras, sementes, instrumentos)
direção ao Mar Negro, culminando com a destruição de e o trabalho eram coletivos, sendo a produção distribuída
Troia, conforme a descrição feita pela Ilíada. Homero atri- igualmente entre todos os familiares.
buiu como responsável pela Guerra de Troia o rapto de He- Em razão da inexistência de diferenças econômicas,
lena, esposa de Menelau (rei de Esparta), por um príncipe predominava a igualdade social. As únicas diferenças
troiano. Na realidade, a destruição de Troia foi a continuação eram tradicionais, pois os parentes se hierarquizavam
de um capítulo que se iniciara com a tomada de Cnossos.
em função de sua proximidade com o pater familias, cujo
poder político se devia ao fato de ser ele o responsável
pelo culto dos antepassados, que era realizado todos os
dias, antes das refeições comuns. Entre suas respon-
sabilidades estavam o controle da justiça costumeira (as
leis eram orais) e o comando do exército do genos.
No final do período homérico, as comunidades gen-
tílicas começaram a se transformar. As famílias cresciam,
mas a produção agrícola não acompanhava o mesmo
Reconstituição ritmo. Faltavam terras férteis e as técnicas de produção
do Palácio de
Cnossos, Creta.
eram rudimentares. Em vista disso, o genos desintegrou-se
e seus membros resolveram partilhar as terras coletivas.
No auge da expansão micênica, a Grécia sofreu a Os parentes mais próximos do pater familias foram bene-
invasão dos dórios, também arianos, mas de nível cultu- ficiados com as melhores terras, passando a ser chamados
ral bem inferior. As cidades micênicas foram destruídas, eupátridas (bem-nascidos); os parentes mais afastados
o que provocou a Primeira Diáspora Grega. herdaram as terras menos férteis da periferia, sendo cha-
Os aqueus, eólios e jônios dispersaram-se em mados georgoi (agricultores); muitos outros, porém, fi-
direção ao litoral da Ásia Menor, ilhas do Mar Egeu e caram sem terras, o que lhes valeu a denominação thetas
regiões isoladas do interior da Grécia. Nesse processo, (marginais).
foram fundadas diversas colônias gregas. Os eupátridas herdaram a tradição do pater familias,
monopolizando o poder político e constituindo uma
aristocracia de base fundiária. Esses aristocratas se a-
grupavam em fratrias. Um grupo de fratrias, por sua
vez, formava uma tribo.
A reunião de várias tribos deu origem a pequenos
Estados locais, a pólis ou cidade-Estado. Por volta do
século VIII a. C., surgiram na Grécia cerca de 160 cidades
independentes. Cada uma delas possuía um templo cons-
truído em sua parte mais alta: a acrópole. Primitivamente,
Ruínas de Tirinto, destruída pela invasão dórica. a pólis era governada por um basileus (rei), cujo poder era
limitado pelos eupátridas. Em geral, quando os reis
No interior da Grécia, a população passou a viver
tentaram maior controle sobre o poder, foram depostos e
isoladamente, em comunidades familiares conhecidas
substituídos por Arcontes, magistrados indicados pelo
como genos. Esse fato assinalou o fim do Período
Conselho dos Aristocratas e renovados anualmente.
Pré-Homérico e o início do Homérico, assim chamado
porque só pode ser entendido a partir da Ilíada e da Durante a época arcaica (século VIII a VI a. C.), entre
Odisseia, poemas cuja autoria é atribuída a Homero. as numerosas cidades-Estado surgidas no final do
período homérico, ganharam importância Esparta e
Atenas, em razão da influência exercida sobre as demais
4. Período Homérico cidades e do profundo antagonismo existente entre elas.
O genos constituía a primitiva unidade econômica, Ao mesmo tempo, os gregos iniciaram uma
social, política e religiosa dos gregos. Toda a família vivia expansão que culminou com a colonização das principais
sob a autoridade do pater familias que, ao morrer, era áreas da Bacia do Mediterrâneo. Esse processo é
sucedido pelo primogênito, e assim sucessivamente. conhecido como segunda diáspora e foi motivado por
Era um grupo consanguíneo, e a solidariedade entre várias razões: o crescimento populacional, a escassez de
seus membros era muito grande. Os casamentos eram alimentos e terras cultiváveis, o ideal de aventura, o
feitos dentro da própria família. Por isso, o genos espírito de navegação e o próprio interesse das principais
agrupava uma população relativamente numerosa. cidades em manter colônias em outras regiões.
Genos (pronuncia-se “guenos”): espécie de família muito grande; um
Primogênito: o filho mais velho; o que foi gerado antes dos outros.
tipo de clã.
Fratria: irmandade; reunião de eupátridas originários de vários gene.
Pater familias: chefe de família, cujo poder era transmitido ao primogênito.

32 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 33

5. Cronologia
2000 a 1700 a. C.: chegada dos aqueus, jônios e eólios à Península Balcânica.
1400 a 1200 a. C.: predomínio de Micenas.
1150 a. C.: destruição de Micenas.
Século XII a. C.: formação do genos.
Século X a IX a. C.: colonização da Ásia Menor.
Século IX a. C.: surgimento da Ilíada, atribuída a Homero.
Século VIII a. C.: surgimento da Odisseia, desintegração do sistema gentílico e início da Segunda Diáspora Grega.

ILÍADA E ODISSEIA

Os dois livros são tradicionalmente atribuídos ao poeta Homero. Porém, pela diversidade de estilos e pelo tempo
abrangido nestas obras, acredita-se que sejam resultado de uma compilação feita por uma escola literária.
Ilíada: relata a história da destruição de Ilion (Troia) por causa do rapto da esposa do rei Menelau por um príncipe
troiano. A cidade foi invadida em razão da oferta de uma estátua gigantesca em forma de cavalo, que
internamente estava cheia de guerreiros. O Cavalo de Troia deu origem à expressão “presente de grego”, que
significa, segundo o dicionário Houaiss, “uma dádiva ou oferta que traz prejuízo ou aborrecimento a quem a
recebe”. Descreve ainda a fúria do guerreiro Aquiles e sua destreza nas armas.
Odisseia: retrata a história de Odisseus (Ulisses) em suas viagens e seus feitos, após o término da Guerra de Troia.

Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) b) Tarento, Síbaris e Crotona, no sul da Itália, II. a busca de recursos minerais e o desen-
denominada “Magna Grécia”. volvimento de novas técnicas náuticas.
c) Siracusa, na Sicília, e Marselha, na Gália III. a escassez de terras cultiváveis e um
(França). crescimento populacional significativo.
d) Bizâncio (hoje Istambul), no Mar Negro.
e) Damasco, hoje capital da Síria, de que Analise as afirmativas e assinale se a alterna-
foram os fundadores. tiva correta for:
Resolução a) I, apenas.
A cidade de Damasco foi provavelmente b) II, apenas.
fundada por povos de origem semita. c) III, apenas.
Os gregos, quando decidiam partir, organi- Resposta: E d) I e II, apenas.
zavam-se em grupos ao redor de um chefe. e) II e III, apenas.
Consultavam os deuses, principalmente o  (MODELO ENEM) – “A partir do século Resolução
oráculo de Delfos, e embarcavam, levando o VIII a. C., as cidades-Estado gregas conhece- A afirmativa I está incorreta, porque a guerra con-
fogo sagrado simbolizando a mãe-pátria. ram um rápido processo de consolidação de tra Troia (século XII a. C.) ocorreu no Período
Exploraram as costas do Mediterrâneo e do suas estruturas internas, e, dadas as condições Pré-Homérico.
Mar Negro, onde fundaram várias colônias ou locais, iniciaram o estabelecimento de domínios A afirmativa II está incorreta, porque a Segunda
cidades. As mais notáveis foram, exceto: territoriais em várias regiões do Mediterrâneo.” Diáspora Grega foi provocada pela disputa por
a) Mileto, na Ásia Menor, grande centro terras férteis. Aqueles que não conseguiram
mercantil, de onde a colonização se Os fatores determinantes para o estabeleci- dominá-las tiveram que partir à procura de
irradiou, dando origem a dezenas de outras mento dessas áreas coloniais foram novos locais para se estabelecer.
colônias. I. a derrota para os troianos, seguida de um Resposta: C
acentuado declínio econômico.

HISTÓRIA 33
C1_1A_His_JR_2022.qxp 28/10/2021 14:29 Página 34

Exercícios Propostos

 Quais foram as consequências da invasão dórica para a  No genos da Grécia, não existiam diferenças econômicas
Grécia Antiga, no final do Período Pré-Homérico? e sociais. Entretanto, havia um elemento diferenciador entre
seus membros. Estamos referindo-nos
RESOLUÇÃO: a) à existência da propriedade privada.
A destruição das antigas cidades gregas, como Micenas,
b) à utilização do trabalho escravo como uma prática comum
provocando a fuga das populações para outras regiões da Grécia
e para o exterior. na organização da sociedade.
c) às relações de parentesco com o pater familias, líder do
genos, o que dava aos seus filhos uma posição mais
destacada na comunidade.
d) ao caráter democrático-cidadão da sociedade gentílica.
e) à predominância da mulher na organização política, em
razão do caráter matriarcal da sociedade.
 Quais os principais documentos para o estudo do Período
Homérico, na Grécia Antiga? RESOLUÇÃO:
Como o Pater Familias tinha o poder maior, seus próximos goza-
vam de vantagens e privilégios.
RESOLUÇÃO:
Resposta: C
A Ilíada e a Odisseia, poemas épicos atribuídos ao poeta Homero.

 No período 750-338 a.C., a Grécia antiga era


composta por cidades-Estado, como por
exemplo Atenas, Esparta, Tebas, que eram independentes
umas das outras, mas partilhavam algumas características
 Disserte sobre a formação do genos na Grécia Antiga. culturais, como a língua grega. No centro da Grécia, Delfos era
um lugar de culto religioso frequentado por habitantes de todas
RESOLUÇÃO: as cidades-Estado. No período 1200-1600 d.C., na parte da
Após a Primeira Diáspora Grega, a população das cidades Amazônia brasileira onde hoje está o Parque Nacional do Xingu,
destruídas pelos Dórios passou a viver isoladamente em há vestígios de quinze cidades que eram cercadas por muros
pequenas comunidades familiares conhecidas como genos. de madeira e que tinham até dois mil e quinhentos habitantes
cada uma. Essas cidades eram ligadas por estradas a centros
cerimoniais com grandes praças. Em torno delas havia roças,
pomares e tanques para a criação de tartarugas.
Aparentemente, epidemias dizimaram grande parte da
população que lá vivia.
 A economia da Grécia, no Período Homérico (século XII a (Folha de S.Paulo, ago. 2008. Adaptado.)
VIII a. C.), tinha como um de seus traços marcantes o fato de
a) basear-se fundamentalmente na criação de animais, Apesar das diferenças históricas e geográficas existentes entre
especialmente o cavalo, por sua importância militar. as duas civilizações elas são semelhantes pois
b) explorar o trabalho escravo, por ser este trabalho a) as ruínas das cidades mencionadas atestam que grandes
considerado uma atividade indigna pelos proprietários. epidemias dizimaram suas populações.
c) visar ao comércio marítimo, estabelecendo ligações entre b) as cidades do Xingu desenvolveram a democracia, tal como
vários pontos do continente europeu. foi concebida em Tebas.
d) apresentar uma característica doméstica, concentrando-se c) as duas civilizações tinham cidades autônomas e
quase exclusivamente no pastoreio e na agricultura. independentes entre si.
e) explorar numerosas colônias, sobretudo na Magna Grécia, d) os povos do Xingu falavam uma mesma língua, tal como nas
tendo em vista a pobreza do solo continental. cidades-Estado da Grécia.
e) as cidades do Xingu dedicavam-se à arte e à filosofia tal
RESOLUÇÃO:
como na Grécia.
O sistema gentílico (clã), característico desse período, era basica-
mente familiar.
Resposta: D RESOLUÇÃO:
Alternativa escolhida por exclusão, pois não é explicitada no texto
transcrito. Trata-se, no entanto, do nexo mais plausível entre as
cidades-Estado da Grécia Antiga (certamente independentes entre
si) e as “cidades” do Xingu (possivelmente independentes entre si).
Resposta: C

34 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 35

Palavras-chave:
• Dórios • Licurgo
Esparta
8 • Militarismo
• Laconismo

Grécia Antiga

1. A organização primitiva vitória dos dórios, a população derrotada foi conduzida a


Esparta e reduzida à condição de escravos, cujo número
Esparta surgiu na planície da Lacônia, no sul da superava em muito o de seus conquistadores.
Grécia, região localizada na Península do Peloponeso. Foi nesse momento que começaram as transfor-
Seus fundadores foram os dórios, que ali se estabe- mações, pois eram necessárias medidas que evitassem
leceram depois de destruir Micenas, dando origem à novas revoltas. As terras centrais, as mais férteis da planí-
cidade por volta do século IX a. C. cie, foram divididas em lotes correspondentes ao número
Até o século VII a. C., Esparta não diferia muito das de cidadãos espartanos: cerca de 8 mil. Os escravos foram
demais cidades gregas, sendo governada por dois reis distribuídos à razão de seis por lote, em um total de apro-
(diarquia), que exerciam o poder em tempo de guerra, ximadamente 48 mil. Tanto os lotes quanto os escravos
assistidos pelo Conselho dos Anciãos – Gerúsia. O órgão eram propriedade estatal, emprestados aos dórios vitalicia-
mais importante era representado pela Ápela, uma mente. Assim, cada espartano recebia dos escravos o
assembleia que reunia todos os cidadãos dórios, a quem necessário para seu sustento, podendo dedicar-se apenas
cabiam as decisões finais sobre todos os assuntos ao preparo militar.
políticos e administrativos. Essa organização era atribuí-
Nas terras periféricas, ficaram as populações que
da a Licurgo, legislador lendário de Esparta.
não haviam oposto resistência aos espartanos, quando
estes ocuparam a Lacônia no século XII a. C. Nessas
2. As transformações regiões, porém, a propriedade era particular, podendo
do século VII a. C. seus donos vendê-la ou transferi-la.
No século VII a. C., Esparta passou por profundas Em consequência dessas transformações, a socie-
transformações econômicas e sociais. O motivo dessa dade espartana organizou-se em três estamentos: espar-
mudança foi a conquista da vizinha planície da Messênia. tíatas, a camada dominante; periecos, os habitantes de
Após o domínio da região, os messênios revoltaram-se, periferia, sem direitos políticos; hilotas, os escravos do
dando início a um prolongado período de guerra. Com a Estado, que trabalhavam nos lotes dos cidadãos.

HISTÓRIA 35
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 36

A estrutura política sofreu com essas alterações. Os Quando completavam 17 anos,


gerontes, velhos com mais de 60 anos, adquiriram uma os rapazes eram submetidos a uma
autoridade ainda maior. Sua política, totalmente con- prova na qual eram obrigados a
servadora, voltava-se para a preservação do status quo. matar um certo número de hilotas.
Os reis perderam grande parte de seus poderes, os Isso evitava a superação dos limites
quais foram transferidos para os éforos, magistrados demográficos considerados ideais,
escolhidos pela Gerúsia. A Ápela também perdeu seu mantendo o equilíbrio do sistema.
antigo poder, limitando-se apenas a aprovar, por aplauso, Dos 17 aos 30, os espartíatas vi-
as proposições do Conselho dos Anciãos. viam em casernas, dedicando-se
exclusivamente às atividades milita-
O problema vital em Esparta era conservar a propor-
res. Com a idade de 30 anos,
ção entre o número de espartíatas e o de hilotas. O au-
podiam casar-se e participar da
mento em qualquer uma das duas camadas desequilibra- Assembleia (Ápela).
va o sistema. Por isso, os gerontes implantaram um
sistema educacional extremamente rígido.
Soldado espartano
vestido para a guerra.
3. A educação espartana
Em primeiro lugar, estimularam o laconismo, pois
assim evitavam o desenvolvimento do espírito crítico. Os 4. Cronologia
recém-nascidos eram selecionados por um critério
estritamente físico, sendo eliminados pelo mínimo de- Século XII a. C.: chegada dos dórios à Lacônia.
feito. Até a idade de 7 anos, eram educados pela mãe. Século IX a. C.: fundação de Esparta pelos dórios.
Aos 12, a responsabilidade era transferida ao Estado;
Século VIII a. C.: início da guerra contra a população da
ambos os sexos aprendiam os valores cívicos, praticavam
Messênia.
exercícios físicos e também se adestravam militarmente.

Status quo: situação vigente em dado momento, num local determinado.


Laconismo: modo breve, conciso, de falar e escrever; termo derivado da Lacônia, região habitada pelos dórios.

A educação espartana

Quando uma criança nascia, o pai não submetia-os a um regulamento e a um nus a maior parte do tempo. Tais eram
tinha direito de criá-la: devia levá-la a um regime comunitário para acostumá-los a seus hábitos. Quando completavam doze
lugar chamado lesche. Lá assentavam-se brincar e trabalhar juntos. Na chefia, a tropa anos, não usavam mais camisa.
os Anciãos da tribo. Eles examinavam o punha aquele cuja inteligência sobressaía Só recebiam um agasalho por ano.
bebê. Se o achavam bem encorpado e e que se batia com mais arrojo. Este era Negligenciavam o asseio, não conheciam
robusto, eles o deixavam. Se era mal- seguido com os olhos, suas ordens eram mais banhos nem fricções, a não ser em
nascido e defeituoso, jogavam-no no que ouvidas e punia sem contestação. Assim raros dias do ano, quando tinham direito a
se chama os Apotetos, um abismo ao pé sendo, a educação era um aprendizado da
essas “boas maneiras”. Dormiam juntos,
do Taigeto. Julgavam que era melhor, para obediência. Os anciãos vigiavam os jogos
agrupados em patrulhas e tropas, sobre
ele mesmo e para a cidade, não deixar das crianças. Não perdiam uma ocasião
catres que eles próprios fabricavam com
viver um ente que, desde o nascimento, para suscitar entre eles brigas e
não estava destinado a ser forte e juncos que crescem às margens do
rivalidades. Tinham assim meios de
saudável (...). Eurotas e que quebravam sem faca, com
escutar em cada um as disposições
as mãos. No inverno, colocavam nos seus
naturais para a audácia e a intrepidez na
A entrega dos filhos a Licurgo catres o que se chama de lycophones.
luta. Ensinavam a ler e escrever apenas o
Os filhos dos espartanos não tinham, Parece que essas plantas têm poder
estritamente necessário. O resto da edu-
por domésticos, escravos ou assalaria- calorífico.
cação visava acostumá-los à obediência,
dos. Licurgo proibira-o. Ninguém tinha torná-los duros à adversidade e fazê-los
permissão para criar e educar o filho a seu vencer no combate. Do mesmo modo, O adolescente
gosto. Quando os meninos completavam quando cresciam, eles recebiam um Nessa idade, encontravam amantes
sete anos, ele próprio os tomava sob sua treinamento mais severo: raspavam a entre jovens de boa família. Então, crescia
direção, arregimentava-os em tropas, cabeça, andavam descalços, brincavam ainda mais o zelo dos anciãos: assistiam

36 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 37

aos seus exercícios, olhavam-nos lutar ou tação é escassa. Obrigam-nos a defender- condensadas numa fórmula breve e
brincar entre si. Não negligenciavam nada, se por si mesmos contra as restrições e concisa. A resposta descabida trazia uma
considerando-se, de certa forma, todos para recorrer à audácia e à destreza (...). punição. O autor era mordido no polegar
todos, pais, mestres e chefes. Não davam As crianças pelo irene. Frequentemente, os anciãos e
oportunidade nem refúgio ao culpado para os magistrados estavam presentes para
As crianças tomam tanto cuidado em
escapar à reprovação ou ao castigo. No ver o irene punir as crianças e mostrar se
não ser apanhadas quando roubam, que
entanto, era também escolhido um o fazia devidamente e como convinha.
uma delas, conforme se conta, depois de
paidonomo entre as pessoas considera- Não impediam que ele as castigasse.
roubar uma raposa que tinha enrolado no
das e, para chefiá-la, cada tropa escolhia o Mas, após a partida das crianças, ele
seu agasalho, se deixou arrancar o ventre
mais sério e o mais combativo dos que se devia explicar se fora demasiado severo
pela fera que lhe cravou os dentes e as
chamam irenes. Chamam-se irenes aque- no castigo ou, ao contrário, se fora indul-
garras. Para não ser descoberta, resistiu
les que saíram há um ano da categoria gente e brando demais.
até a morte. Essa história não é de estra-
dos paides, e millirenes os mais velhos dos nhar se se consideram os efebos atuais. (Plutarco, Vidas Paralelas – A Vida de Licurgo)
paides. Este irene, que tem vinte anos, co- Muitos, no altar de Ortia, deixam-se chi-
manda seus subordinados nos exercícios cotear até morrer. Eu pude vê-los. Após a
militares e, no quartel, encarrega-os das refeição, o irene, ainda na mesa, mandava
tarefas domésticas, nas refeições. Manda uma das crianças cantar, à outra fazia uma
os mais fortes trazerem lenha e, os meno- pergunta cuja resposta exigia reflexão,
res, legumes. Para tanto, eles devem roubar. por exemplo: “Qual é o melhor cidadão?”
Uns penetram nos jardins, outros nos ou “Qual é o mérito da conduta deste ou
alojamentos dos homens, e devem usar daquele?” Assim, eles eram treinados
muita destreza e precaução: quem for para apreciar o valor e interessar-se pela
apanhado, é chicoteado sob pretexto de vida da cidade desde a meninice.
que não passa de um ladrão preguiçoso e Se a criança a que se perguntava
inábil. Eles roubam toda a comida possível quem era um bom cidadão ou quem era
e adquirem prática para ludibriar quem indigno de estima não sabia responder,
dorme ou os guardas preguiçosos. Aque- via-se aí indício de uma alma lerda e pou-
le que for apanhado, está sujeito a chico- co ciosa do valor. Além disso, a resposta
Coluna dórica.
tadas e jejum. Com efeito, sua alimen- devia conter sua razão e sua justificativa,

Exercícios Resolvidos

(MODELO ENEM) – Utilize a leitura do texto  A transcrição anterior refere-se aos cida- c) uma minoria social – os hilotas – detinha o
para responder às questões  e . dãos que habitavam usufruto das terras agrícolas e recebia uma
a) Atenas. b) Creta. c) Esparta. educação destinada a formar bons
“Representando pequeno número em d) Chipre. e) Roma. soldados.
relação às outras classes, eles estavam cons- Resolução d) o grupo menos numeroso da sociedade
tantemente preparados para enfrentar quaisquer Fundada pelos dórios, a cidade de Esparta valori- detinha os privilégios sociopolíticos e
revoltas, daí a total dedicação à arte militar. A zava o militarismo, pois a conquista da planície integrava o exército da cidade-Estado dos
agricultura, o comércio e o artesanato eram da Messênia gerou um grande contingente de 20 aos 60 anos.
considerados indignos para o (...), que desde escravos. Com o propósito de assegurar o seu e) os periecos, descendentes dos primitivos
cedo se dedicava às armas. Aos sete anos domínio, os espartanos dedicavam-se às artes habitantes, controlavam todos os órgãos do
deixava a família, sendo educado pelo Estado bélicas, formando-se soldados por excelência. poder e deveriam procriar filhos para
que procurava fazer dele um bom guerreiro, Resposta: C fortalecer as fileiras dos exércitos.
ensinando-lhe a lutar, a manejar armas e a Resolução
suportar as fadigas e a dor. Sua educação  Quanto ao caráter dessa estrutura, po- Os escravos (hilotas) compunham a maior
intelectual era bastante simples (...). Aos vinte de-se afirmar que parte dos habitantes da cidade. Para controlar a
anos o (...) entrava para o serviço militar, que só a) uma intensa permeabilidade social possi- escravaria, os filhos de espartanos recebiam
deixaria aos sessenta, passando a viver no bilitava até servos e escravos chegarem à uma educação militar e lacônica a fim de se
acampamento, treinando constantemente para condição de cidadãos. tornarem soldados. A subjugação da maioria
as coisas da guerra (...). Apesar de ser obrigatório b) a educação visava ao desenvolvimento era a primordial condição para obter os direitos
o casamento após os trinta anos, sua função era físico e à destreza, indispensáveis ao solda- concedidos pela pólis.
simplesmente a de fornecer mais soldados para do, e estendia-se a todas as categorias Resposta: D
o Estado.” sociais.

HISTÓRIA 37
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 38

Exercícios Propostos

 No Período Arcaico, o mundo grego passou por diversas  Sobre Esparta, é válido afirmar que
transformações. Quais foram essas transformações em Esparta? I. a organização político-social era dividida em espartíatas (os
cidadãos), periecos e hilotas (ambos sem direitos políticos).
RESOLUÇÃO: II. os gerontes, velhos com mais de 60 anos, comandavam a
Em virtude do grande número de escravos provenientes das
conquistas, Esparta criou uma legislação própria atribuída a
política, assessorados por uma Diarquia, pelos éforos e pelo
Licurgo. Por essa razão, a cidade isolou-se e passou a adotar a Exército.
força para manter o status quo, isto é, a supremacia dos III. a Assembleia (Ápela) tinha a mera função de votar as
espartíatas sobre as populações dominadas. questões, sendo-lhe proibido discuti-las.

a) Apenas as afirmativas I e II estão corretas.


b) Apenas as afirmativas II e III estão corretas.
 (MODELO ENEM) – Atualmente é possível perceber no c) Apenas as afirmativas I e III estão corretas.
mundo ocidental a forte presença de um discurso xenófobo e d) Todas as afirmativas estão corretas.
hostil feito por políticos ou chefes de Estado contra imigrantes, e) Todas as afirmativas estão incorretas.
com o suposto objetivo de fortalecer a própria nação. Tal visão,
no entanto, não é novidade, uma vez que era presente também RESOLUÇÃO:
Resposta: D
nos regimes nazifascistas das décadas de 1920 e 1930 e,
guardadas as proporções:
a) na Pérsia, que só permitia a participação política da nobreza
b) em Roma, que restringia a cidadania àqueles nascidos na  (PUC-PR – MODELO ENEM) – “Um deus, parece, se
capital ocupou de vós: prevendo o futuro, implantou duas estirpes
c) em Esparta, cidade-Estado grega que, além de xenófoba, gêmeas de reis, em lugar de uma única (...) Introduziu o
era militarista e lacônica comedimento do sábio poder exercido pela velhice na força
d) em Atenas, cidade-Estado grega que excluía da democracia arrogante que se apoiava sobre o nascimento, tornando a
os estrangeiros competência dos vinte e oito Gerontes igual à dos Reis na
e) na Babilônia, civilização rigidamente regrada pelo Código de votação dos assuntos mais importantes (...) Constatando que o
Hamurábi. governo ainda era cheio de orgulho e desconfiança, impôs-lhe à
guisa de freio a soberania dos Éforos (...).”
RESOLUÇÃO: (Platão, As Leis)
Esparta possuía uma organização fundamentada na dedicação
integral do cidadão aos interesses da própria cidade, refutando
O texto de Platão e o conhecimento da conservadora
influências externas (xenofobia), além de uma forte disciplina
militarista e lacônica, visando evitar o espírito crítico entre a organização política da cidade-Estado ou pólis espartana
população. permitem afirmar corretamente:
Resposta: C I. No lugar de uma monarquia existia uma diarquia, ou seja,
dois reis, certamente para evitar a autocracia.
II. Os componentes do Senado ou Gerúsia eram anciãos, em
número de vinte e oito, com mais de sessenta anos e
competia-lhes fazer as leis.
 (MODELO ENEM) – “A educação prolongava-se até a III. O texto de Platão omite a existência da Assembleia do povo
idade madura, pois ninguém tinha liberdade de viver como ou Ápela, formada por cidadãos de mais de 30 anos, que
quisesse. Vivia-se na cidade, como num acampamento, onde ratificava ou não as decisões da Gerúsia ou Senado.
os pormenores da existência eram regulamentados tanto
quanto o serviço público a que estava obrigado. Pois os Está(ão) correta(s):
cidadãos consideravam-se, durante toda a vida, pertencentes à a) I, II e III. b) Apenas II e III. c) Apenas II.
pátria e não a eles mesmos.” d) Apenas I. e) Apenas I e III.
O texto refere-se à cidade-Estado e ao legislador seguintes,
RESOLUÇÃO:
respectivamente: A afirmativa I está incorreta, porque apesar de existirem dois reis,
a) Atenas – Drácon. b) Esparta – Sólon. eles possuíam funções diferentes: um militar (estrátego), encar-
c) Corinto – Licurgo. d) Esparta – Licurgo. regado do comando do exército, e outro religioso, encarregado de
e) Tessália – Platão. ministrar os sacrifícios aos deuses. Não existia o conceito de
absolutismo entre eles.
Resposta: B
RESOLUÇÃO:
O texto descreve a vida e os valores dos espartanos, como o
laconismo e o patriotismo. Acredita-se que Licurgo foi o criador
dessa estrutura.
Resposta: D

38 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 39

Palavras-chave:

Atenas • Comércio • Conflitos

9 sociais • Sólon
• Censitário

1. O “berço” da democracia O partido popular exigiu a participação no poder político.


Os aristocratas acabaram cedendo e encarregaram outro
Durante o período arcaico, Atenas sofreu impor- legislador, Sólon, de realizar uma reforma. Entre suas
tantes transformações econômicas. O comércio externo propostas, destacaram-se:
desenvolveu-se bastante, principalmente em razão das
• Reformas econômicas – estímulo ao desenvolvi-
colônias fundadas pelos gregos nas ilhas do Mar Egeu e mento comercial; incentivo à vinda de artesãos estran-
no litoral da Ásia Menor. geiros, os metecos; adoção de um padrão monetário
Ocorreram, então, profundas mudanças sociais. único; proibição da exportação de cereais.
Alguns dos antigos marginais – thetas – dedicaram-se ao • Reformas sociais – abolição da escravidão por
comércio e ao artesanato, passando a ter uma grande dívidas; diminuição da herança do primogênito.
importância na vida da cidade. Muitos escravos foram
• Reformas políticas – criação de um regime censi-
comprados para trabalhar na agricultura, enquanto os
tário; abolição do monopólio do poder pela aristocracia.
georgoi, não podendo pagar os empréstimos contraídos
A reforma de Sólon não chegou a ser integralmente
com os eupátridas, perderam as terras e a liberdade,
realizada, por causa da resistência dos aristocratas. O
tornando-se escravos por dívidas.
reformador foi expulso de Atenas, agravando a situação
As novas classes sociais que surgiram — comercian- política, até que um eupátrida habilidoso, Pisístrato,
tes e artesãos — começaram a pressionar os aristo- tomou o poder ilegalmente, dando início à fase da tirania.
cratas, dando início a uma grave crise política em
Atenas. Dois partidos antagônicos formaram-se: o aris- 3. Os tiranos
tocrático e o popular.
Pisístrato adotou uma política de equilíbrio entre as
camadas sociais. Durante o seu governo, confiscou as
terras dos aristocratas que não eram cultivadas e distri-
buiu-as aos camponeses. Além disso, estimulou o co-
mércio marítimo, construiu importantes obras públicas,
como fontes, aquedutos e templos, e incentivou as artes.
Com sua morte, em 527 a. C., o poder foi exercido
por seus filhos, que transformaram a tirania em um
governo cruel e marcado por violentas perseguições.
Hiparco acabou sendo assassinado e Hípias foi deposto
e exilado de Atenas.
Os aristocratas colocaram Iságoras no poder, o qual
solicitou auxílio dos espartanos para manter seus
privilégios políticos. Essa atitude gerou uma revolta geral
Atenas, o berço da democracia antiga.
dos atenienses que, liderados por um aristocrata de
nome Clístenes, expulsaram o tirano da cidade e derro-
2. Os legisladores taram o exército inimigo.
O partido popular reivindicava reformas, a começar
por leis escritas, pois até então a legislação era oral e 4. A reforma de Clístenes
sujeita às interpretações mais duvidosas. Aproveitando-se dessa coesão temporária entre
Os eupátridas incumbiram Drácon, um arconte, de aristocratas e populares, Clístenes realizou a reforma
redigir as primeiras leis escritas de Atenas, o que fez que implantou em Atenas a democracia. Nesse novo
com extrema severidade. A crise, no entanto, continuou. regime de governo, todos os cidadãos teriam direitos

Arconte: magistrado, primeiramente com poder de legislar e, depois de Sólon, mero executor das leis.
Censitário: relativo à participação do cidadão na política proporcional à sua situação econômica.

HISTÓRIA 39
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 40

políticos, sendo a participação direta, mediante o


comparecimento à Assembleia.
O “pai da democracia” ateniense preocupou-se
em eliminar a influência das famílias eupátridas,
dividindo o território em demos, pequenas
comunidades autônomas em que os cidadãos eram
relacionados com base na residência. Em seguida,
foram criadas dez tribos, que reuniam elementos de
todas as classes sociais.
O principal órgão era a Eclésia – Assembleia dos
Cidadãos –, que votava as leis preparadas pela Bulé
ou Conselho dos 500. A justiça era distribuída pela
Ruínas da Eclésia, em Atenas.
Heliae, formada por 12 tribunais. A execução das leis
e o comando do exército cabiam aos estrategos, em
número de dez, escolhidos pela Eclésia para um
mandato anual.
5. Cronologia
Com a finalidade de preservar a democracia na Séc. VIII a VII a. C.: governo monárquico em Atenas,
cidade de Atenas, Clístenes instituiu o ostracismo, que substituído por uma oligarquia.
consistia em um exílio forçado dos maus cidadãos. Para 624 a. C.: legislação de Drácon.
isso, o nome do indivíduo era escrito em um pedaço de
argila chamado ostrakon. Quando a maioria votava pela 594 a. C.: legislação de Sólon.
expulsão, o cidadão perdia seus direitos políticos, sem 560 a 510 a. C.: tirania em Atenas, exercida por Pisís-
perda dos bens. Depois de dez anos, a pessoa banida trato, Hiparco e Hípias.
podia voltar à cidade e recuperar todos os seus direitos
de cidadão. Esse costume introduzido por Clístenes 510 a 507 a. C.: reformas de Clístenes.
prevaleceu até o final do século V a.C.

Exercícios Resolvidos

 (UEL – MODELO ENEM) – “Com a nova divisão da sociedade, Sobre esse texto, é correto afirmar que seu autor,
qualquer cidadão poderia participar das decisões do poder. Apenas os a) o dramaturgo Sólon, reproduz um famoso discurso de Péricles, o
escravos e os metecos (estrangeiros) não participavam das decisões grande estadista e fundador da democracia ateniense.
políticas, pois não tinham direito de cidadania.” b) o demagogo Sólon, recorre à eloquência e à retórica para enganar
Ao texto pode-se associar as massas e assim obter seu apoio para alcançar o poder.
a) Drácon e a expansão colonial em direção ao Mediterrâneo. c) o tirano Sólon, lembra como, astutamente, acabou com as lutas de
b) Sólon e a militarização da política espartana. classes em Atenas, submetendo ricos e pobres às mesmas leis.
c) Pisístrato e a helenização da Península Balcânica. d) o filósofo Sólon, evoca de maneira poética a figura do lendário
d) Péricles e a hegemonia cultural grega no Peloponeso. Drácon, estadista e criador da democracia ateniense.
e) Clístenes e a democracia escravista ateniense. e) o legislador Sólon, exprime o orgulho pelas leis, de caráter
Resolução democrático, que fez aprovar em Atenas quando governou a
Clístenes foi o legislador que criou a democracia em Atenas. Esta tinha cidade.
suas bases na escravidão e excluía a maior parte dos habitantes da Resolução
cidade. O conceito atual de democracia procura envolver o maior Com o crescimento do comércio, os mercadores buscavam participar
número possível de pessoas. das decisões políticas de Atenas, fundando o partido popular. O
Resposta: E governo era dominado pelos eupátridas (aristocratas) e resistia à
possibilidade de mudanças. Quando Sólon substituiu Drácon como
legislador, procurou inserir os comerciantes na vida política, adotando
 (FUVEST – MODELO ENEM) o voto censitário.
“Ao povo dei tanto privilégio quanto lhe bastasse, nada tirando ou Resposta: E
acrescentando à sua honra; Quanto aos que tinham poder e eram
famosos por sua riqueza, também tive cuidado para que não
sofressem nenhum dano... e não permiti que nenhum dos dois lados
triunfasse injustamente.”

40 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 41

Exercícios Propostos

 “[...] O território de Atenas, outrora escravo, dizia ele, é  (MODELO ENEM) – “... Nesse período, o governo era
agora livre; os cidadãos que tinham sido adjudicados aos monopolizado pelos eupátridas. O regime – monárquico e
credores, uns foram trazidos dos países estrangeiros para hereditário – era encabeçado pelo basileus, chefe de guerra,
onde os tinham vendido e onde vaguearam durante tanto juiz e sacerdote, cujo poder era limitado por um conselho de
tempo que nem já compreendiam a língua ática; outros, aristocratas, o Areópago.”
restituídos à liberdade no seu próprio país, onde estavam
reduzidos à mais vergonhosa escravidão.” Nesse texto, o regime de governo se refere à
a) organização política de Atenas no período clássico.
O texto refere-se às mudanças que ocorreram em Atenas b) organização política da pólis grega, segundo a descrição de
durante o período arcaico. Pergunta-se: Homero na Ilíada.
a) Qual é a essência dessa mudança contida no texto? c) estrutura política de Esparta, antes das transformações
b) Quem foi o legislador responsável por isso? sociopolíticas ocorridas entre o final do século VII e o início
do VI a.C.
RESOLUÇÃO: d) estrutura política ateniense durante o sistema comunal-
a) A proibição da escravidão por dívidas. gentílico.
b) Sólon.
e) organização política de Atenas, antes das reformas
sociopolíticas de Drácon e Sólon.
 Qual a condição para ter participação política durante a
democracia ateniense? RESOLUÇÃO:
No início do Período Arcaico, Atenas era dominada pelos aristo-
cratas (bem-nascidos ou eupátridas). Drácon e Sólon fizeram
RESOLUÇÃO:
reformas, permitindo maior participação política dos comercian-
Para Clístenes, a democracia era restrita aos cidadãos: homens,
tes do partido popular.
maiores de idade, filhos de pais atenienses e livres.
Resposta: E

 ”O que implica o sistema da pólis é uma


extraordinária preeminência da palavra sobre
todos os outros instrumentos do poder. A
palavra constitui o debate contraditório, a discussão, a  (PUCCAMP – MODELO ENEM) – “É precisamente para
argumentação e a polêmica. Torna-se a regra do jogo assegurar o reino da igualdade, para permitir que os mais
intelectual, assim como do jogo político.” humildes cidadãos assumam uma parte legítima na vida
(VERNANT, J. P. As origens do pensamento grego. política, que o Estado concede uma remuneração àqueles que
Rio de Janeiro: Bertrand, 1992. Adaptado.) se colocam ao seu serviço de participação das Assembleias.”
O texto referente a Atenas, no século V, expressa
Na configuração política da democracia grega, em especial a
a) o interesse do Estado em criar uma sociedade igualitária,
ateniense, a ágora tinha por função
remunerando melhor os funcionários públicos.
a) agregar os cidadãos em torno de reis que governavam em
b) a necessidade de estimular os desinteressados habitantes
prol da cidade.
da pólis a participarem das Assembleias políticas.
b) permitir aos homens livres o acesso às decisões do Estado
c) a fragilidade da democracia ateniense, uma vez que aos
expostas por seus magistrados.
cidadãos não correspondiam direitos políticos, apenas
c) constituir o lugar onde o corpo de cidadãos se reunia para
obrigações.
deliberar sobre as questões da comunidade.
d) a preocupação do regime democrático em garantir o direito
d) reunir os exercícios para decidir em assembleias fechadas
de igualdade política aos cidadãos atenienses mais pobres.
os rumos a serem tomados em caso de guerra.
e) a determinação dos tribunais atenienses em banir a
e) congregar a comunidade para eleger representantes com
escravidão no vasto território grego sob o seu domínio.
direito a pronunciar-se em assembleias.

RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: A pobreza não era um empecilho à participação política do
Na concepção urbanística do antigos gregos, a ágora era a praça ateniense, pois este recebia do governo uma determinada
central das pólis, na qual se reuniam os cidadãos. No caso dos quantia que possibilitava ausentar-se dos seus afazeres sem
regimes democráticos, especialmente o ateniense, era ali que a maiores prejuízos.
Eclésia (assembleia dos cidadãos) se reunia para decidir sobre os Resposta: D
assuntos de interesse público, o que configurava a prática da
democracia direta.
Resposta: C

HISTÓRIA 41
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 42

Compreende-se assim o alcance de uma reivindicação que Segundo Aristóteles, “na cidade com o me-
surge desde o nascimento da cidade na Grécia antiga: a reda- lhor conjunto de normas e naquela dotada de
ção das leis. Ao escrevê-las, não se faz mais que assegurar-lhes homens absolutamente justos, os cidadãos não devem viver
permanência e fixidez. As leis tornam-se bem comum, regra uma vida de trabalho trivial ou de negócios – esses tipos de
geral, suscetível de ser aplicada a todos da mesma maneira. vida são desprezíveis e incompatíveis com as qualidades
morais –, tampouco devem ser agricultores os aspirantes à
(J. P. Vernant. As origens do pensamento grego.
cidadania, pois o lazer é indispensável ao desenvolvimento das
Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992. Adaptado.)
qualidades morais e à prática das atividades políticas”.

Para o autor, a reivindicação atendida na Grécia antiga, ainda (T. Van Acker. Grécia: A vida cotidiana na cidade-Estado.
vigente no mundo contemporâneo, buscava garantir o São Paulo: Atual, 1994.)
seguinte princípio:
a) Isonomia – igualdade de tratamento aos cidadãos. O trecho, retirado da obra Política, de Aristóteles, permite
b) Transparência – acesso às informações governamentais. compreender que a cidadania
c) Tripartição – separação entre os poderes políticos estatais. a) possui uma dimensão histórica que deve ser criticada, pois
d) Equiparação – igualdade de gênero na participação política. é condenável que os políticos de qualquer época fiquem
e) Elegibilidade – permissão para candidatura aos cargos entregues à ociosidade, enquanto o resto dos cidadãos tem
públicos. de trabalhar.
b) era entendida como uma dignidade própria dos grupos
RESOLUÇÃO: sociais superiores, fruto de uma concepção política
A questão se refere a organização política posta em prática pela profundamente hierarquizada da sociedade.
maioria das pólis, de acordo com o modelo ateniense. Seu princípio c) estava vinculada, na Grécia Antiga, a uma percepção política
fundamental era igualdadade direitos políticos para todos os
cidadãos, independentemente de sua condição econômica e social,
democrática, que levava todos os habitantes da pólis a
configurando o funcionamento da democracia. No mundo contem- participarem da vida cívica.
porâneo, essa aspiração ganhou força no final do século XIX (reivin- d) tinha profundas conexões com a justiça, razão pela qual o
dicação do sufrágio universal) e se consolidou na centúria seguinte, tempo livre dos cidadãos deveria ser dedicado às atividades
com a extensão da cidadania às mulheres. vinculadas aos tribunais.
Resposta: A
e) vivida pelos atenienses era, de fato, restrita àqueles que se
dedicavam à política e que tinham tempo para resolver os
problemas da cidade.

RESOLUÇÃO:
A exigência de não se ocupar com “trabalho trivial” ou negócios
indica que, na concepção de Aristóteles, a cidadania era exclusiva
de grupos sociais privilegiados, numa sociedade “profundamente
hierarquizada”.
Entretanto, essa concepção teórica não correspondia à prática
democrática de Atenas, na qual a cidadania era estendida
também aos homens livres pobres nascidos naquela cidade – o
que se aplicaria à alternativa e.
Resposta: E

42 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 43

Palavras-chave:

Período Clássico • Invasão persa

10 • Liga de Delos
• Hegemonia

1. As Guerras Médicas Dez anos depois, sob o reinado de Xerxes, que suce-
deu Dario I, os persas fizeram uma dupla ofensiva. Por
A hegemonia política de Atenas, na Grécia, começou terra, venceram os espartanos na Batalha das Termó-
com seu êxito nas Guerras Pérsicas ou Médicas. No final pilas, onde morreu Leônidas, o célebre rei de Esparta.
do século VI a. C., o Império Persa encontrava-se no Por mar, uma numerosa frota foi destruída na Batalha de
auge de sua expansão. O rei Dario I avançou com as Salamina pelos atenienses, comandados por Temís-
conquistas em direção ao Mar Negro, submetendo as tocles. Sem o apoio da esquadra, o exército persa re-
colônias gregas da Ásia Menor a uma pesada tributação. cuou para Plateia, sendo derrotado por um exército com-
A cidade de Mileto, localizada no litoral da Jônia, posto de espartanos e atenienses, liderado por
organizou uma revolta. Apesar da ajuda enviada por Pausânias.
Atenas, foi completamente destruída. Com isso, a
guerra atingiu todo o mundo grego. 2. O imperialismo ateniense
Em 477 a. C., Atenas liderou a formação de uma liga
marítima que reunia algumas cidades do continente e
das ilhas do Mar Egeu. O local escolhido como sede foi
a ilha de Delos. As cidades deveriam fazer uma contri-
buição anual em navios, soldados ou ouro. Essa liga
recebeu o nome de Confederação de Delos. Entretanto,
Esparta e as cidades do Peloponeso mantiveram-se
isoladas.
A Liga de Delos, que estava promovendo a guerra
contra os persas, acabou libertando todas as colônias
gregas da Ásia Menor. Em 448 a. C., foi assinada a Paz
de Cálias, em que os persas reconheceram a hegemonia
de Atenas no Mar Egeu, expressa no Tratado de Susa.
As alianças das cidades-Estado e as guerras de hegemonia que fragi-
lizaram o mundo grego. Com o final da guerra, Atenas transformou as
contribuições das cidades aliadas em imposto obri-
Em 490 a. C., aproveitando-se do antagonismo
gatório. Os atenienses sofreriam uma profunda crise se
existente entre as cidades-Estado, os persas invadiram a
a liga fosse dissolvida: a indústria naval seria paralisada,
Grécia. A esquadra persa desembarcou a poucos
o comércio entraria em decadência e numerosos rema-
quilômetros de Atenas, na planície de Maratona. Mesmo
dores, mercenários e artesãos ficariam sem emprego.
contando com um pequeno número de soldados, os
Por esta razão, Atenas impôs seu domínio pela força. As
atenienses venceram a Batalha de Maratona, em virtude
cidades que se revoltassem eram atacadas e destruídas.
da estratégia de seu comandante Milcíades.
Era o início da hegemonia ateniense.
Em 444 a. C., os rumos de Atenas começaram a ser
decididos por Péricles, sobrinho de Clístenes. As
realizações de seu governo foram tão extraordinárias
que o século V a. C. se tornou conhecido como Século
de Péricles, o “Século de Ouro” da Grécia.
Péricles utilizou as contribuições das cidades aliadas
para embelezar Atenas com vários templos e monu-
mentos. Desta forma, aumentou o emprego na cidade,
melhorando as condições de vida das classes populares.
Durante seu governo, foi cercado por um grande número
Péricles, líder de Atenas O templo do deus Apolo em Delfos foi de intelectuais e artistas, como o escultor Fídias, o
no “Século de Ouro” da uma oferenda dos atenienses pela vitória
Grécia. em Maratona. historiador Heródoto e o poeta Sófocles.

Delos: ilha do Mar Egeu; sede da liga que reuniu toda a Grécia contra a invasão persa, no período das Guerras Médicas.
Hegemonia: preponderância de um povo ou de uma cidade sobre outros povos ou outras cidades; supremacia.

HISTÓRIA 43
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:26 Página 44

3. A Guerra do Peloponeso Em 371 a. C., Esparta foi derrotada pelo exército


tebano na Batalha de Leuctras. Essa vitória deveu-se à
O imperialismo ateniense desagradava a muitas organização das falanges, dos generais Pelópidas e
cidades da Grécia, que se sentiam ameaçadas. Esparta Epaminondas, e a uma rebelião de escravos em Esparta,
passou, então, a apoiar os antigos aliados de Atenas, que obrigando grande parte dos soldados a suspender sua
se rebelavam contra sua hegemonia. Essas cidades e as campanha na defesa da cidade.
do Peloponeso foram reunidas na formação de uma pode- Assim, teve início o predomínio de Tebas sobre a
rosa liga terrestre, conhecida como Liga do Peloponeso. Grécia, mas não por muito tempo. Atenienses e esparta-
Em 431 a. C., teve início a Guerra do Peloponeso, nos, unidos, venceram os tebanos na Batalha de
que deixou a Grécia completamente exaurida pelas des- Mantineia, pondo fim às hegemonias dos Estados gregos.
truições. No começo do conflito, enquanto Atenas con-
duzia sua frota contra a região do Peloponeso, Esparta 5. O domínio macedônico
atacou a Ática, causando grande pânico na população, O período das hegemonias levou ao enfraqueci-
que foi surpreendida pela peste. Péricles morreu mento geral das cidades-Estado gregas. Os macedônios,
vitimado pela doença em 429 a. C. povo de origem ariana que habitava a região ao norte da
Apesar de algumas vitórias atenienses, o exército Grécia, liderados por seu rei Felipe II, conquistaram toda
espartano era mais bem preparado. Em 404 a. C., final- a Grécia na Batalha de Queroneia, em 338 a. C.
mente, na Batalha de Egos-Pótamos, os espartanos vence- Alexandre Magno, filho de Felipe, sucedeu-o ao
ram a esquadra ateniense. Consequentemente, Esparta trono, consolidando a conquista da Grécia e expandindo
substituiu Atenas como potência hegemônica na Grécia. o Império para o Oriente. Em 333 a. C., na Batalha de
Issos, Alexandre destruiu um imenso exército persa
4. A hegemonia de Tebas comandado pelo próprio rei Dario III; no ano seguinte,
A cidade de Esparta adotou a mesma conduta impe- marchou para a Fenícia, conquistando a importante
rialista de Atenas. Aproveitando-se das crises existentes cidade de Tiro, e deslocou-se, em seguida, para o Egito,
nas duas principais cidades-Estado da Grécia, Tebas onde os sacerdotes do templo de Amon-Rá o receberam
resolveu impor sua hegemonia sobre as cidades gregas. como o filho do deus; em 331 a. C., Alexandre invadiu o
centro do Império Persa, sendo coroado rei dos
persas.
O Império Macedônico conquistou ainda a
Palestina e a Índia, fundando um dos mais
vastos impérios da humanidade.
Em 323 a. C., antes que pudesse organizar
suas conquistas, Alexandre Magno morreu na
Babilônia, aos 33 anos de idade, em razão de
uma febre violenta.

Alexandre Magno, o fundador do Império Macedônico

Falanges: unidade de infantaria grega formada por 16 384 homens; corpo de tropas.

6. Cronologia
492 a.C. – O rei persa Dario I exige a submissão dos gregos.
490 a.C. – Batalha de Maratona (Primeira Guerra Médica).
480 a.C. – Batalha de Salamina (Segunda Guerra Médica).
476 a.C. – Confederação de Delos e início da Terceira Guerra Médica.
448 a.C. – Tratado de Susa, pondo fim às Guerras Médicas.
431 a.C. – Início da Guerra do Peloponeso.
404 a.C. – Vitória de Esparta na Guerra do Peloponeso.
371 a.C. – Vitória de Tebas na Batalha de Leuctras.
362 a.C. – Derrota tebana na Batalha de Mantineia.

44 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 45

Exercícios Resolvidos

 (FUVEST – MODELO ENEM) – “Demo- chada sobre si mesma, desprezando os enfraquecimento sucessivo de cidades como
cracia e imperialismo foram duas faces da contatos com outras cidades-Estado. Atenas, Esparta e Tebas contribuiu para
mesma moeda na Atenas do século V a. C.” e) correta, se aplicada exclusivamente ao a) o domínio dos persas, liderados por Dario, a
Tal afirmativa é período das Guerras Médicas contra partir da vitória destes nas Guerras
a) correta, já que a prosperidade proporcio- Esparta e sua liga aristocrática. Médicas.
nada pelos recursos provenientes das Resolução b) a destruição das cidades-Estado gregas e o
regiões submetidas liberava, aos cidadãos A liderança sobre a Liga de Delos e a vitória consequente nascimento de um império na
atenienses, o tempo necessário a uma sobre os persas nas Guerras Médicas deram aos região, controlado pelos romanos.
maior participação na vida política. atenienses os recursos necessários para c) o domínio do território grego pelos mace-
b) falsa, pois aquelas práticas políticas eram imporem a sua hegemonia (imperialismo) sobre dônios, primeiro com Filipe II e depois com
consideradas contraditórias, tanto que fora as demais cidades gregas e um volume de ri- seu filho, Alexandre.
em nome da democracia que Atenas quezas e de escravos que proporcionou o pleno d) a diáspora grega em direção ao norte da
enfrentara o poderoso Império Persa nas desenvolvimento da democracia. Além disso, os Europa e à península itálica, onde foram
Guerras Peloponésicas. atenienses remuneravam os mais pobres a fim responsáveis pela fundação de Roma.
c) correta, pois foi o desejo de manter a de eles participarem da vida política da cidade. Resolução
Grécia unificada e de estender a Resposta: A As guerras entre as cidades-Estado gregas
levaram ao enfraquecimento da Grécia, facili-
democracia a todas suas cidades que levou
os atenienses a se oporem ao imperialismo  (MODELO ENEM) – Entre os séculos V e tando a sua conquista pelos macedônios, que,
apesar de numericamente inferiores, soube-
espartano. IV a. C., as cidades-Estado da Grécia entraram
ram tirar proveito dessas rivalidades internas.
d) falsa, já que o orgulho por seu sistema polí- num processo de guerras fratricidas que
Resposta: C
tico sempre fez com que Atenas ficasse fe- levariam ao suicídio das cidades-Estado. O

Exercícios Propostos

“Tal aventura foi duplamente vergonhosa porque, dezes-  ”Se, pois, para as coisas que fazemos existe
seis anos atrás, uma embaixada ateniense tinha ido a Susa com um fim que desejamos por ele mesmo e tudo
instruções para celebrar uma paz permanente com a Pérsia. O o mais é desejado no interesse desse fim; evidentemente tal fim
embaixador principal era Cálias, o homem mais rico de Atenas. será o bem, ou antes, o sumo bem. Mas não terá o
No devido tempo, redigiu-se um tratado. Atenas reconheceu a conhecimento, porventura, grande influência sobre essa vida? Se
soberania do Grande Rei sobre as cidades gregas da Ásia Me- assim é, esforcemo-nos por determinar, ainda que em linhas
nor. Por sua vez, o Grande Rei concordou em manter a frota gerais apenas, o que seja ele e de qual das ciências ou faculdades
persa fora do Mar Egeu etc. O tratado era muito comprido. De constitui o objeto. Ninguém duvidará de que o seu estudo
fato, muitas vezes pensei que foi durante a composição do pertença à arte mais prestigiosa e que mais verdadeiramente se
texto persa que afetei para sempre a minha visão.” pode chamar a arte mestra. Ora, a política mostra ser dessa
(Citado por Gore Vidal, Criação) natureza, pois é ela que determina quais as ciências que devem
 Com base no texto, responda: ser estudadas num Estado, quais são as que cada cidadão deve
aprender, e até que ponto; e vemos que até as faculdades tidas
a) A que tratado se refere o texto e em que contexto está
em maior apreço, como a estratégia, a economia e a retórica,
inserido?
estão sujeitas a ela. Ora, como a política utiliza as demais ciências
e, por outro lado, legisla sobre o que devemos e o que não
RESOLUÇÃO:
Tratado de Susa, firmado entre gregos e persas, marcando o final devemos fazer, a finalidade dessa ciência deve abranger as das
das Guerras Médicas. outras, de modo que essa finalidade será o bem humano.”
(ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. In: Pensadores.
São Paulo: Nova Gunman 1991. Adaptado.)

b) Quais as consequências desse tratado para persas e Para Aristóteles, a relação entre o sumo bem e a organização
gregos? da pólis pressupõe que
a) o bem dos indivíduos consiste em cada um perseguir seus
RESOLUÇÃO: interesses.
Os persas reconheceram a hegemonia grega sobre o Mar Egeu, b) o sumo bem é dado pela fé de que os deuses são os
prometendo não invadir mais a Grécia e suas colônias na Ásia portadores da verdade.
Menor, o que marcou a ascensão política de Atenas e a
c) a política é a ciência que precede todas as demais na
decadência do então poderoso Império Persa.
organização da cidade.
d) a educação visa formar a consciência de cada pessoa para
agir corretamente.
e) a democracia protege as atividades políticas necessárias
para o bem comum.

HISTÓRIA 45
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 46

RESOLUÇÃO:
Aristóteles relaciona estreitamente política e moral. O fim da
 O texto refere-se à falta de união entre os gregos. Este
política é produzir a felicidade humana, através da investigação
fato é geralmente explicado
das formas de governo. O texto do exercício subordina as demais a) pela presença do mar, que atraiu os gregos para a formação
ciências à política. de impérios coloniais isolados.
Resposta: C b) pelo arraigado sentimento de soberania das cidades-Estado
gregas.
c) pela existência de escravos e o consequente desprezo dos
cidadãos pelo trabalho.
 (MODELO ENEM) – “Péricles, querendo que o povo que
d) pela falta de unidade religiosa e pelo culto extremado de
não se ocupava do exército tivesse também ele parte do
divindades locais.
dinheiro público, não por meio do ócio e da preguiça, mas pelo
e) pela existência de inúmeros dialetos, o que dificultava a
trabalho, propôs ao povo o empreendimento de grandes cons-
comunicação entre os povos helênicos.
truções e projetou trabalhos envolvendo várias artes e longos
períodos, para que os que permanecessem em Atenas tives- RESOLUÇÃO:
sem, não menos do que os marinheiros, sentinelas e soldados, Os gregos não possuíam uma união política, um poder centrali-
zado, embora fossem unidos culturalmente.
um pretexto para obter seu quinhão da riqueza pública.”
Resposta: B
(Plutarco, Vida de Péricles)

Com relação ao texto, assinale a alternativa correta.


a) Na época de Péricles, a escravidão foi suprimida em Atenas.
b) O texto trata de Atenas no século V a. C., conhecido como o
“Século de Ouro”, quando a cidade foi totalmente remode-
lada com a construção de grandes obras públicas. (MODELO ENEM) – “Então Alexandre aproximou-se ainda
c) Péricles destruiu o partido aristocrático e, apoiando-se de- mais dos costumes bárbaros que ele também se esforçou em
magogicamente no povo, destruiu a democracia ateniense. modificar mediante a introdução de hábitos gregos, com a ideia
d) O texto revela que em Atenas também se praticava a de que essa mistura e essa comunicação recíproca de
“política do pão e circo”. costumes dos dois povos... contribuiria mais do que a força
e) Durante o século de Péricles, a Assembleia dos Cidadãos para solidificar seu poder...”
(Plutarco, Vidas Paralelas)
não se reuniu uma vez sequer.

RESOLUÇÃO: A respeito do texto, é correto afirmar que:


O texto refere-se ao apogeu de Atenas, em razão do seu domínio a) A política de conquista de Alexandre Magno procurou mis-
sobre as demais cidades gregas. turar a cultura grega com a cultura dos povos orientais.
Resposta: B
b) Os bárbaros eram todos aqueles povos que não pertenciam
à civilização romana.
c) A política de conquista era baseada na subjugação cultural
dos povos bárbaros.
d) Alexandre adotou uma política de tolerância, concedendo
(MODELO ENEM) – Com base no texto, responda às questões
liberdade para os povos conquistados manterem seus cos-
e . tumes.
“Entregues a si mesmos, os gregos bem depressa RESOLUÇÃO:
esqueceram que seu êxito na Segunda Guerra Médica era fruto A política de Alexandre, o Grande, consistia em fundir a cultura
exclusivo de sua união. Os espartanos, que por comum acordo grega com a dos povos orientais, a fim de que desaparecessem os
haviam recebido o supremo comando na Grécia Balcânica, rótulos de conquistadores e conquistados. A essa rica cultura
chamamos de helenismo.
mostraram-se pouco desejosos ou incapazes de explorar, no Resposta: A
interesse comum, as vitórias conquistadas sob sua chefia.”

 A guerra mencionada refere-se


a) à luta fratricida entre Atenas e Esparta, na Guerra do Pelo-
poneso.
b) à luta entre gregos e troianos, descrita por Homero.
c) à luta entre macedônios e gregos, prevista por
Demóstenes.
d) à luta entre Alexandre da Macedônia e Dario III da Pérsia.
e) à luta dos gregos contra o imperialismo persa.

RESOLUÇÃO:
O texto faz menção às Guerras Médicas.
Resposta: E

46 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 47

Palavras-chave:
• Lendas • Rômulo e
Roma: Monarquia
11 Remo • Invasões
etruscas

A história de Roma passou por três períodos distintos


de governo:
• Monarquia ou Realeza, de 753 a 509 a. C.
• República, de 509 a 27 a. C.
• Império, de 27 a. C. a 476 d. C.
2. As origens lendárias
As origens da história de Roma envolvem diversas
lendas, narradas por historiadores e poetas. Entre elas, a
mais aceita foi escrita por Virgílio, poeta romano. Em sua
obra, Eneida, relata que os romanos descendiam dos
troianos. Após a destruição de Troia pelos gregos, o
príncipe Eneias navegou pelo Mediterrâneo com seu pai
e alguns companheiros. Depois de algum tempo,
chegou à planície do Lácio, onde se casou com a filha de
um rei latino. Posteriormente, diz a lenda, seu filho
Ascânio fundou a cidade de Alba Longa.
Alguns séculos mais tarde, a cidade de Alba Longa
foi governada por um rei chamado Númitor. Após uma
revolta liderada por seu irmão Amúlio, o rei foi destro-
Os colonizadores da Península Itálica. nado. A princesa Reia Sílvia, transformada em sacerdo-
tisa, gerou dois filhos gêmeos, que foram jogados nas
1. A Itália primitiva águas do Rio Tibre a mando do novo rei. As crianças
foram salvas por uma loba, até serem encontradas por
Apesar de sua posição geográfica privilegiada, no cen- uma família de pastores que as criou e deu-lhes o nome
tro do Mediterrâneo, a Península Itálica manteve-se du- de Rômulo e Remo. Ao se tornarem adultos, voltaram a
rante muito tempo isolada do contato com outros povos. Alba Longa e recolocaram o verdadeiro rei Númitor no
A região apresenta várias planícies férteis, como o poder. A partir daí, resolveram fundar uma nova cidade,
Lácio e a Campânia, junto ao Mar Tirreno, e a Apúlia, no localizada nas proximidades do local em que foram en-
Mar Adriático. A grande fertilidade do solo despertou as contrados. Após uma discussão entre ambos, Rômulo
comunidades para a agricultura e o pastoreio, além da matou Remo e se tornou o primeiro rei de Roma, funda-
exploração de alguns recursos minerais, como cobre, da em 21 de abril de 753 a. C.
estanho, chumbo e ferro. A existência de poucos portos
naturais retardou a navegação e o desenvolvimento do
comércio exterior.
No século VIII a. C., a península era ocupada por di-
versos povos: italiotas, ao centro, dividindo-se em vários
grupos ou tribos; gregos, estabelecidos em colônias ao
sul, na região conhecida como Magna Grécia; etruscos,
localizados ao norte, entre os Rios Tibre e Arno.
Foi, porém, com a fundação de Roma que a Penínsu-
la Itálica conseguiu projeção entre os povos da Antigui-
dade. Situada às margens do Rio Tibre, a pequena cidade
em pouco tempo dominou o mundo antigo, passando a
ser conhecida apenas como urbis – a cidade, centro de
todas as decisões. Rômulo e Remo: a origem lendária de Roma.

Lácio: planície romana cortada pelo Rio Tibre, ocupada pelos latinos; região onde se falava o latim, idioma que deu origem à língua portuguesa.
Troia: cidade no extremo noroeste da Ásia Menor, que foi destruída pela expansão micênica por volta de 1400 a. C., numa guerra narrada por
Homero na epopeia Ilíada; em finais do século passado, o sítio arqueológico foi localizado pelo alemão Schliemann.

HISTÓRIA 47
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 48

Em termos históricos, porém, a interpretação mais Até o advento dos reis etruscos, em 640 a. C., Roma
coerente sobre a fundação de Roma é que se tratava de era governada por soberanos que dependiam do Senado
uma pequena fortificação construída pelos italiotas, às — Conselho dos Anciãos —, órgão formado exclusiva-
margens do Rio Tibre. A finalidade era defender a região mente por patrícios. As decisões eram aprovadas pela
do Lácio das constantes incursões dos povos etruscos, Assembleia Curiata, que reunia todos os cidadãos das
que habitavam o norte. famílias aristocráticas, cuja finalidade era votar as leis e
aprovar a guerra.
Após a fundação de Roma, os latinos integraram-se
aos sabinos, que habitavam as montanhas próximas do 4. A crise da Monarquia
Lácio. A lenda do Rapto das Sabinas conta a integração
desses dois povos. O último rei de Roma, Tarquínio, o Soberbo, de
origem etrusca, aproximou-se da plebe com a finalidade
3. A organização de anular a força do Senado. Por esta razão, os patrícios
depuseram-no e implantaram a República, órgão essen-
econômica, social e política cialmente aristocrático, em 509 a. C.
Durante a fase da Monarquia, a economia de Roma As lendas, porém, atribuem a deposição do rei
era baseada na agricultura e no pastoreio. A sociedade Tarquínio, o Soberbo, a uma crise que envolveu Casta
era formada pelos patrícios, originários das antigas Lucrécia, uma jovem de família aristocrática, seduzida
famílias, que se constituíam nos grandes proprietários pelo filho do rei. Assim, a justificativa que assinalou o fim
de terra e rebanhos; clientes, homens livres, de famílias da Monarquia envolveu uma profunda questão moral,
pobres, que viviam sob a proteção dos patrícios; que orientou a conduta dos cidadãos romanos durante
plebeus, representados pelos estrangeiros, pequenos grande parte de sua história.
proprietários, artesãos e comerciantes.
Em toda a fase monárquica, as lendas falam da exis-
5. Cronologia
tência de sete reis: dois latinos, dois sabinos e os três Século VIII a. C.: ocupação do sul da Itália pelos gregos
últimos etruscos. Nessa última fase, a cidade de Roma e do norte pelos etruscos.
teve um grande desenvolvimento urbano, em decor- 753 a. C.: fundação de Roma, segundo a tradição.
rência do notável conhecimento de técnicas arquitetôni- 640 a. C.: domínio de Roma pelos etruscos.
cas dos etruscos, que exerceram uma profunda influên- 509 a. C.: expulsão de Tarquínio, o Soberbo, e fundação
cia na civilização romana. da República.

Exercícios Resolvidos

 (FATEC – MODELO ENEM) – “Não é sem de suas fronteiras.  (MODELO ENEM) – “Os jovens eram
razão que os deuses e os homens escolheram b) as razões pelas quais Roma teria sido favo- educados para serem fortes para a guerra. No
este lugar para a fundação da cidade: a extre- recida desde sua fundação, exemplificando Campo de Marte, perto de Roma, aprendiam a
ma salubridade dos seus outeiros; a vantagem com a impossibilidade de ataques inimigos. manejar a espada, a lançar o disco e as lanças,
de um rio capaz de trazer as colheitas do seu c) a relação harmoniosa entre o espaço físico a correr, saltar, nadar e cavalgar. Aprendiam a
interior, bem como de receber os aprovisiona- de Roma e os objetivos desta cidade, que obedecer para depois saberem mandar.”
mentos marítimos, as comodidades da vizi- se pretende expansionista, independente e
nhança do mar, sem os perigos a que as frotas segura. (Bruna R. Cantele,
estrangeiras exporiam a uma excessiva proxi- d) as diferenças entre a região do Lácio e da História Dinâmica Antiga e Medieval)
midade; uma posição central relativamente às Toscana, na Itália, apontando na primeira as
diferentes regiões da Itália, posição que condições ideais para a fundação de uma ci- Com base no texto, qual era a função da edu-
parece ter sido prevista unicamente para dade totalmente isolada das fronteiras cação romana?
favorecer a expansão da cidade. Acha-se no inimigas. a) Preparar administradores parar exercerem
seu 365 ano, e durante esse tempo o círculo e) a necessidade de Roma aproximar-se do o consulado.
dos povos estrangeiros que a rodeia nunca círculo dos povos estrangeiros, para poder b) Treinar competidores para os Jogos Olím-
deixou (...) de estar em guerra convosco; e, garantir seus aprovisionamentos e garantir picos.
todavia, não puderam vencer-nos.” a paz, em uma região de relevo muito recor- c) Formar intelectuais e filósofos.
(Tito Lívio, Adaptado.) tado e sujeita, portanto, a ataques-relâmpago. d) Adestrar guerreiros para o combate.
O autor do fragmento acima destaca Resolução Resolução
a) a privilegiada posição geográfica da cidade Tito Lívio viveu a passagem da República para Historicamente, Roma nasceu de um acam-
de Roma, situada na região do Lácio e às o Império, trabalhou para Augusto e, em sua pamento militar, para se defender das invasões
margens do Tibre, mas que, devido à proxi- obra. Desde a fundação da cidade, descreveu etruscas, resultando, então, na grande ênfase
midade com outros povos, viveu, incessan- as razões que levaram à fundação de Roma. na preparação militar de seus jovens.
temente, a falta de alimentos pelo bloqueio Resposta: C Resposta: D

48 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 49

Exercícios Propostos

 Comente a origem lendária de Roma, contrapondo com a  (MODELO ENEM) – A lenda a respeito da violação da “cas-
origem histórica. ta Lucrécia” significa:
a) Os crimes sexuais eram
RESOLUÇÃO: sempre punidos pela lei.
Roma, segundo o poeta Virgílio, foi fundada por Rômulo e Remo,
b) Muitas mudanças de siste-
tendo sido Rômulo o primeiro rei lendário da cidade. Historica-
mente, podemos dizer que Roma se originou de uma fortificação ma eram justificadas mo-
construída pelos habitantes do Lácio, para se defenderem das ralmente.
incursões etruscas. c) A promiscuidade era tole-
rada pelos romanos.
d) Homens e mulheres pos-
suíam direitos iguais.
e) Não existia preocupação
com a moralidade em
 Qual a relação existente entre Tarquínio, o Soberbo, e a Roma.
queda da Monarquia romana?
RESOLUÇÃO:
A lenda da Casta Lucrécia foi narrada por Tito Lívio (59 a.C.-17)
RESOLUÇÃO: para justificar a derrubada da Monarquia e a implantação da
A deposição de Tarquínio, o Soberbo, pelos patrícios assinalou o República romana.
fim da dominação etrusca em Roma e a implantação de uma Resposta: B
República oligárquica.

(MODELO ENEM) – “Mas por que Roma acabou por se


destacar com relação às demais aldeias do Lácio? Quanto à esta
questão os especialistas apontam para dois fatores
fundamentais. Um deles é a localização geográfica muito
estratégica da cidade, tornando-a cobiçada pelos povos vizinhos.
 Descreva a organização política de Roma durante a (...) O segundo ponto – relacionado ao primeiro – é que
Monarquia. justamente esta posição geográfica permitiu o contato cultural e
a recepção de influências de todos os lados.”
RESOLUÇÃO:
(FLORENZANO. Maria Beatriz B. O mundo antigo: economia e
O rei dependia do Conselho dos Anciãos (Senado). A Assembleia
Curiata votava as leis e aprovava a guerra. sociedade. 3.a ed. São Paulo: Brasiliense 1983, p. 59.)

Quanto à origem de Roma, assinale a alternativa correta:


a) O local de origem de Roma era infértil podendo-se
considerar sorte o desenvolvimento desta civilização.
b) Desde seus primórdios, Roma já possuía contatos com
diversas civilizações, como gregos e etruscos, porém estes
 Sobre a sociedade romana, coloque verdadeiro ou falso. não tiveram grande influência em sua cultura.
c) O sucesso da civilização romana deve ser relacionado
I. a princípio, os romanos dividiam-se em grandes unidades
apenas à região onde surgiu, e não ao seu potencial bélico.
familiares, que se identificavam com um pater.
d) A influência grega na sociedade romana, desde seus
II. as famílias possuíam grupos agregados, os clientes, a quem
primórdios, foi muito relevante, o que se comprova pelo o
cediam terras mediante o pagamento de uma renda anual.
fato da mitologia desses dois povos ser tão semelhante.
III. os plebeus eram em geral indivíduos vencidos em guerra ou
e) Os etruscos foram os responsáveis pelo sucesso de Roma,
estrangeiros, constituindo-se na minoria da população.
pois agregaram a cultura grega e, mais tarde, deram início a
RESOLUÇÃO: república.
A afirmativa III é falsa porque os plebeus eram a maioria da po-
pulação, composta de pequenos proprietários, estrangeiros, arte- RESOLUÇÃO:
sãos e comerciantes, todos esses despossuídos de direitos civis. O texto faz alusão ao contato que os romanos possuíam com
várias sociedades que ocupavam a região sul da Península Itálica
e o Mediterrâneo, no momento do seu surgimento. Entre essas
civilizações, os gregos já habitavam essa áreas desde sua
expansão comercial, quando formaram a chamada "Magna
Grécia". Assim, boa parte da cultura romana e, principalmente,
sua religião, sofreram forte influência dos costumes gregos.
Resposta: D

HISTÓRIA 49
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 50

Palavras-chave:
• Patrícios • Senado
Roma: República
12 • Magistraturas
• Lei das XII

1. A organização política Centuriata, um agrupamento militar de patrícios e


plebeus. Nesses comícios, reuniam-se em centúrias, da
A organização da República Romana foi feita pelos mesma forma que faziam para ir à guerra. A finalidade
patrícios, representados pelo Conselho dos Anciãos, era votar e decidir, por maioria, a eleição dos magis-
que, dessa forma, recuperava o antigo poder que havia trados, assim como aprovar as leis e declarar a guerra ou
perdido com a dominação etrusca. A partir daí, o novo aceitar a paz. Apesar da participação dos plebeus, os
governo conduziu a política no sentido de evitar a par- patrícios controlavam as decisões. A antiga Assembleia
ticipação da plebe e qualquer tentativa de concentração Curiata passou a ter apenas funções religiosas.
de poder em uma única pessoa. As instituições básicas
da República eram o Senado, as Magistraturas e a
Assembleia Centuriata. 2. As lutas sociais
O Senado era o principal órgão, formado pelos patrí- O monopólio do poder pelos patrícios acarretou diver-
cios mais ilustres, que exerciam cargos vitalícios. Entre sos problemas para a plebe: guerras constantes, impos-
suas atribuições mais importantes, destacamos: conduzir tos elevados, endividamento e escravidão por dívidas.
a política externa; administrar as províncias; cuidar das prá- Para os patrícios, a guerra traria espólios de terras e es-
ticas religiosas; supervisionar o tesouro público (Aerarium).
cravos. A plebe, revoltada, começou a fazer reivindicações.
Os magistrados exerciam o Poder Executivo, sendo Os plebeus iniciaram as greves e abandonaram a
eleitos pela Assembleia Centuriata. Como não recebiam cidade, refugiando-se no Monte Sagrado, nas proximida-
qualquer tipo de remuneração, os cargos eram mono- des de Roma. Com isso, forçaram os patrícios às con-
polizados pelos patrícios. Em geral, o mandato era limita- cessões, conquistando vários direitos:
do pelo período de apenas um ano e havia dois ou mais
• Tribunos da Plebe – representava a plebe perante
representantes para cada função. Os principais magis-
o Senado.
trados eram:
• Lei das Doze Tábuas – as primeiras leis escritas
• Cônsul – era a principal magistratura, sendo de Roma.
eleitos dois cônsules dotados de poderes iguais: um
• Lei Canuleia – autorizava o casamento entre
permanecia dentro de Roma, exercendo o poder civil classes.
(potestas); o outro, fora de Roma, detinha o poder militar
• Direito de participar de magistraturas inferiores e
(imperium). Assim, anulavam-se mutuamente, não
superiores.
havendo perigo de um deles assumir o poder absoluto.
Os cônsules comandavam o Exército, convocavam o • Lei Poetelia Papiria – Abolição da escravidão por
Senado e presidiam os cultos públicos. Em caso de crise dívidas.
interna ou externa, excepcionalmente grave, eram subs- • Lei Hortência – Direito de rejeitar decisões do
tituídos por um ditador, que assumia poderes absolutos Senado que afetassem os interesses dos plebeus. Esse
e limitados por um período de apenas seis meses. direito ficou conhecido como plebiscito.
• Pretor – na hierarquia política, estava apenas abaixo
dos cônsules, tendo como função administrar a Justiça.
• Questor – cuidava das finanças públicas, cujo
tesouro era depositado no Templo de Saturno.
• Censor – era o único magistrado eleito por cinco
anos, responsável pelo recenseamento da população, pela
moral dos cidadãos e pela indicação dos futuros senadores.
• Edil – era responsável pela administração da
cidade, sendo encarregado da supervisão dos mercados,
abastecimento de gêneros alimentícios e policiamento.
O Poder Legislativo era exercido pelas assem-
bleias populares, nas quais se destaca a Assembleia Os povos conquistados nas guerras foram reduzidos a escravos.

Centúria: uma das divisões políticas dos romanos, formada por 100 cidadãos.
Espólios: bens conquistados como saque de guerra; bens que alguém, morrendo, deixou.

50 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 51

As vitórias da plebe deram-lhe praticamente a


igualdade política perante os patrícios, mas isso
3. Cronologia
ocorreu nos meados do século III a. C. Nesse mo- 509 a.C. – Deposição de Tarquínio, o Soberbo, e
mento, os romanos já haviam conquistado toda a instauração da República Romana.
Itália e estavam iniciando as Guerras Púnicas 494 a.C. – Criação do cargo de Tribuno da Plebe.
contra Cartago. Essas conquistas estavam
450 a.C. – Lei das Doze Tábuas.
mudando de tal maneira a economia, a sociedade e
445 a.C. – Lei Canuleia.
a vida política de Roma, que o sentido da vitória da
plebe se tornou praticamente nulo. 366 a.C. – Lei Poetelia Papiria.
287 a.C. – Lei Hortência.

Exercícios Resolvidos

 (UEL – MODELO ENEM)  (PUCCAMP – MODELO ENEM) – Leia o texto sobre as insti-
I. “...os comícios eram assembleias populares encarregadas de tuições políticas da antiga República romana.
votar as leis e eleger os magistrados. Havia dois tipos de comí- “Mesmo para um cidadão romano, seria impossível dizer, com
cios: os centuriais e os tribais.” certeza, se o sistema, em seu conjunto, era aristocrático, democrático
II. “...os magistrados eram eleitos pelos comícios por um período ou monárquico. Com efeito, a quem fixar atenção no poder dos
de um ano e cada magistratura era exercida concomitantemente cônsules, a Constituição romana parecerá totalmente monárquica; a
pelos cônsules, pretores, questores e edis.” quem a fixar no Senado, parecerá aristocrática, e a quem fixar no
III. “...o senado, encarregado da elaboração das leis, era o poder de poder do povo, parecerá, claramente, democrática.”
fato (...) e se encarregava das finanças, religião e administração do
(Políbio, historiador grego do século II a. C. ln: Pedro Paulo Abreu
território e política exterior.”
Funari. Roma: Vida pública e vida privada. São Paulo: Atual, 1993. p.
21.)
Em relação à Roma antiga, os itens I, II e III referem-se
Com base no texto e no conhecimento histórico, pode-se afirmar que
a) à organização administrativa do Baixo Império.
a) as instituições romanas não sofreram influências dos gregos, uma
b) às principais instituições políticas da República.
vez que os romanos mantiveram uma política isolacionista durante
c) às características políticas do Período Monárquico.
todo o período republicano.
d) às razões da concentração do poder no Principado.
b) os romanos não inovaram na formação das instituições políticas, já
e) à fase de instauração da “pax romana” durante o Alto Império.
que imitaram o sistema político das civilizações gregas e das
Resolução
civilizações orientais.
Os três itens descrevem características da política no início da
c) a instituição do equilíbrio de poderes, presente na constituição da
República. O primeiro trata do lado “democrático” do regime; o
antiga República romana, influenciou, posteriormente, as institui-
segundo, das magistraturas, o poder executivo, antes exercido pelo rei
ções ocidentais, trazendo enorme contribuição à ciência do Direito.
e agora fragmentado em várias funções, e, finalmente, o poder
d) o equilíbrio de poderes, instituído após a queda da monarquia,
legislativo (mais importante), controlado pelos chefes das famílias
evitou totalmente conflitos entre as classes sociais durante toda a
patrícias.
República, já que permitiu a participação do povo na vida política.
Resposta: B
e) os plebeus não tinham direito de participação nas instituições
políticas romanas da República, já que eles eram estrangeiros e
não possuíam, portanto, a cidadania romana.
Resolução
O regime republicano foi estruturado em oposição à Monarquia
absolutista. Se, no sistema anterior, o poder era concentrado nas
mãos de uma só pessoa, agora estava dividido, buscando atender ao
interesse geral dos cidadãos. Cabe, contudo, lembrar que a República
era essencialmente aristocrática, como se observa nos motivos que
geraram as Revoltas da Plebe.
Resposta: C

HISTÓRIA 51
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 52

Exercícios Propostos

 Comente o caráter oligárquico da República romana. RESOLUÇÃO:


A similitude entre as reformas de Sólon e a Lei das Doze Tábuas
tem caráter genérico, pois somente a segunda estabelece
RESOLUÇÃO:
claramente a igualdade dos cidadãos perante a lei. Já as reformas
Apesar de a palavra “república” (do latim res publica) significar
de Sólon têm caráter mais pontual, pois diminui as desigualdades
“coisa pública”, na realidade os patrícios detinham o controle do
de direitos sem chegar a eliminá-las (haja vista o estabelecimento
poder político no Senado, por meio das magistraturas, e na
de uma estrutura política censitária).
Assembleia Centuriata.
Resposta: E

 (FMTM) – As principais instituições políticas da República


Romana eram:
a) Senado, magistraturas (cônsul, ditador, pretores, censores,
edis, questores) e assembleia (centuriata e tribunícia).
b) Senado, conselho do imperador, prefeito da cidade, prefeito
Textos para responder ao teste . da pretória, ordem equestre e inferior.
c) Senado, magistraturas (cônsul, ditador, pretores, censores,
Texto I edis, questores), prefeito da pretória, prefeito da cidade,
ordem equestre e inferior.
Sólon é o primeiro nome grego que nos vem à mente d) Rei, conselho dos anciãos, Assembleia Curiata, auspicium.
quando terra e dívida são mencionadas juntas. Logo depois de e) Senado, magistraturas (cônsul, ditador, pretores, censores,
600 a.C., ele foi designado “legislador” em Atenas, com edis, questores), collegia, tetrarquia, patronato.
poderes sem precedentes, porque a exigência de RESOLUÇÃO:
redistribuição de terras e o cancelamento das dívidas não Bases da política da fase republicana.
podiam continuar bloqueados pela oligarquia dos proprietários Resposta: A
de terra por meio da força ou de pequenas concessões.
(FINLEY, M. Economia e sociedade na Grécia antiga.
São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013. Adaptado.)

Texto II

A “Lei das Doze Tábuas” se tornou um dos textos funda-


mentais do direito romano, uma das principais heranças
romanas que chegaram até nos. A publicação dessas leis, por
 (MODELO ENEM) – No início da República romana, ape-
nas os patrícios possuíam direitos políticos. Os plebeus, por
volta de 450 a.C., foi importante pois o conhecimento das
meio de acirradas lutas, foram gradativamente conquistando
“regras do jogo” da vida em sociedade é um instrumento
igualdade de direitos. Uma de suas primeiras conquistas foi a
favorável ao homem comum e potencialmente limitador da
criação dos Tribunos da Plebe, que lhes asseguravam
hegemonia e arbítrio dos poderosos.
a) o acesso às terras conquistadas nas guerras, uma vez que
(FUNARI, P. P. Grécia e Roma.
o tamanho das posses foi delimitado, sobrando um pouco
São Paulo: Contexto, 2011. Adaptado.)
para a plebe.
b) o cumprimento em todo o território romano das leis
aprovadas na Assembleia da Plebe.
 O ponto de convergência entre as realidades
c) a participação na Assembleia Centuriata, podendo vetar as
Sociopolíticas indicadas nos textos consiste na
leis que fossem contrárias aos interesses da plebe.
ideia de que a democracia
d) o casamento com pessoas da classe patrícia.
a) discussão de preceitos formais estabeleceu a democracia.
e) a extinção da escravidão por dívida.
b) invenção de códigos jurídicos desarticulou as aristocracias
c) formulação de regulamentos oficiais instituiu as RESOLUÇÃO:
sociedades. Os tribunos passaram a representar os interesses da plebe.
d) definição de princípios morais encerrou os conflitos de Resposta: C
interesses.
e) criação de normas coletivas diminuiu as desigualdades de
tratamento.

52 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 53

 A luta entre patrícios e plebeus, desencadeada no perío- (FGV) – “A partir de então, passou-se a eleger cônsules em
do de 494 a 287 a. C., envolveu os seguintes aspectos: número de dois, ao invés de um único rei, com o propósito de
a) Os plebeus reclamavam da existência de leis orais, da proi- que, se um deles tivesse a intenção de agir mal, o outro,
bição de casamento entre classes e da escravidão por investido de igual autoridade, o coibisse.”
dívidas. (Flávio Eutrópio, Sumário da história romana, in Historiadores
b) Os plebeus empreenderam o êxodo rural, revoltando-se latinos, NOVAK, G., M e outros (orgs.), trad.,
contra os baixos salários. São Paulo, Martins Fontes, 1999, p. 259.)
c) O direito ao Tribuno da Plebe e à Lei das XII Tábuas foi a
última vitória da plebe.
d) A Lei Licínia e a Lei Canuleia permitiam o casamento entre O trecho acima refere-se ao período da história de Roma
classes e proibiam a escravidão, respectivamente. conhecido como:
e) A maior vitória da plebe foi o direito ao Comício Plebis, que a) Diarquia, instituída logo após a época imperial.
lhe assegurava o plebiscito, isto é, participar do Senado b) Democracia, organizada após a revolta dos plebeus e dos
Romano. escravos.
c) Consulado, criado para diminuir o poder dos tiranos.
RESOLUÇÃO: d) República, estabelecida pela aristocracia patrícia.
As revoltas tinham como origem o domínio dos patrícios e a e) Pax Romana, imposta pelos senadores como forma de
marginalização social e política dos plebeus.
limitar o poder dos patrícios.
Resposta: A

RESOLUÇÃO:
A República Romana, que sucedeu à Monarquia ou Realeza em
509 a.C., foi estabelecida pelo patriciado (aristocracia).
Preocupados em impedir a concentração de poderes em uma só
pessoa, os patrícios estabeleceram como magistratura máxima o
Consulado, atribuído a dois cônsules eleitos anualmente e não
reelegíveis. A igualdade de atribuições entre os dois ocupantes do
Consulado, conforme esclarece o texto, destinava-se a criar um
equilíbrio de poder entre ambos.
Resposta: D

”Durante a realeza, e nos primeiros anos repu-


blicanos, as leis eram transmitidas oralmente
de uma geração para outra. A ausência de uma legislação
escrita permitia aos patrícios manipular a justiça conforme seus
interesses. Em 451 a.C., porém, os plebeus conseguiram
eleger uma comissão de dez pessoas – os decênviros – para
escrever as leis. Dois deles viajaram a Atenas, na Grécia, para
estudar a legislação de Sólon.”
(F. Coulanges. A cidade antiga.
São Paulo. Martins Fontes, 2000.)

A superação da tradição jurídica oral no mundo antigo, descrita


no texto, esteve relacionada à
a) adoção do sufrágio universal masculino.
b) extensão da cidadania aos homens livres.
c) afirmação de instituições democráticas.
d) implantação de direitos sociais.
e) tripartição dos poderes políticos.

RESOLUÇÃO:
Gabarito oficial, pois a Lei das XII Tábuas, promulgada pelo Sena-
do em 450 a.C., não tratava da cidadania; na verdade, os plebeus
já eram cidadãos antes desse evento, uma vez que participavam
das Assembleias Tributa, Curiata e Centuriata, além de elegerem
os tribunos da plebe. A cidadania foi extendida a todos os ho-
mens livres, dentro dos domínios romanos, pelo Edito de Cara-
cala, em 212 d.C.
Resposta: B

HISTÓRIA 53
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 54

Palavras-chave:
• Cartagineses
A expansão republicana
13 • Mare Nostrum
• Expansionismo

1. As primeiras conquistas a atingir a costa ocidental da África, a Bretanha e a


Noruega. Os cartagineses ofereciam tecidos, perfumes,
O primeiro momento a ser considerado quando pedras preciosas, trigo, marfim e ouro, além de pos-
tratamos da expansão romana é a conquista da própria suírem uma poderosa frota naval e um exército de terra.
Península Itálica. Foi um processo lento que precisou de
mais de 230 anos para se efetivar, mas que resultou na
anexação de todos os povos vizinhos (inclusive os
aliados, como os latinos). Roma logrou derrotar os sabi-
nos e anexar seus territórios; também conquistou a Etrú-
ria, a Gália, a Planície da Campânia e Tarento, conquistas
que lhe deram o controle sobre toda a Península.
O principal instrumento para a conquista foi um
exército muito bem preparado para dominar os demais
povos.
Os romanos foram grandes engenheiros. Por volta
de 200 a. C., centenas de quilômetros de estradas,
algumas com até 12 metros de largura, cortavam seus
domínios. Elas eram construídas pelos legionários do
exército durante suas campanhas. Primeiro, eles coloca-
vam fogo no local escolhido, a fim de destruir a vegeta-
ção e evitar emboscadas inimigas; em seguida, ajus-
tavam os blocos de pedra sobre uma camada de areia,
para depois cobri-los com mistura de cascalho e
cimento. As estradas eram levemente encurvadas de
modo que drenavam a água das chuvas. Elas permitiam Guerras Púnicas
o trânsito dos viajantes a cavalo, de carroças puxadas
por bois e mulas e das tropas de soldados, que viajavam
a pé, em marcha. Na Primeira Guerra Púnica (264-241 a.C.), os ro-
manos investiram contra Cartago na disputa pelo con-
As campanhas militares eram longas e, durante o trole sobre a Sicília. A vitória romana forçou os cartagi-
avanço das tropas, era preciso montar e desmontar neses a pagar-lhes uma pesada indenização de guerra e
acampamentos com rapidez e eficiência. Para isso, cada a entregar-lhes a Sicília, a Córsega e a Sardenha.
soldado era sempre encarregado de executar as
A Segunda Guerra Púnica, entre Roma e Cartago
mesmas tarefas, como nivelar o terreno e demarcá-lo,
(218-202 a.C.), deu aos romanos o controle sobre o norte
cavar o fosso, erguer a paliçada e as torres de obser-
da África e o sul da Espanha, exceto o Reino da Numídia
vação e abrir ruas no interior do acampamento, dividindo- e Cartago.
o em quarteirões. Roma preocupou-se com a construção
Entre 150 e 146 a.C., Roma e Cartago enfrentaram-se
de estradas para, justamente, facilitar o deslocamento
na Terceira Guerra Púnica, e Cartago sucumbiu diante
de suas tropas e a mobilização de recursos necessários
de Roma.
às conquistas.
Ao mesmo tempo em que Roma e Cartago se de-
Quando Roma partiu para a expansão além da Penín-
frontavam, os romanos desenvolviam guerras também
sula Itálica, internamente havia uma relativa estabilidade
no Mediterrâneo Oriental. Durante a Segunda Guerra
política, pois as questões sociais entre patrícios e
Púnica, como Filipe V da Macedônia havia dado apoio
plebeus tinham sido resolvidas, temporariamente, pelas
aos cartagineses, Roma invadiu o seu território, tornan-
conquistas plebeias — algumas ocorreram paralelamen-
do as cidades-Estado gregas independentes da
te à unificação da Península Itálica.
Macedônia. O domínio sobre a Macedônia e a Grécia
Com a conquista de Tarento, o grande alvo de Roma concluiu-se em 146 a.C. Também no século II a.C.,
passou a ser a cidade de Cartago, pois essa antiga colônia Roma anexou a Síria, a Ásia Menor, a Gália, o Ponto,
fenícia dominava o comércio no Mediterrâneo, chegando Israel, a Bitínia e o Egito.

54 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 55

passando a se incorporar aos


clientes. Nessa fase, os escravos
provenientes das conquistas
militares chegavam a Roma em
grandes proporções, tornando-se
cada vez mais baratos e sendo
considerados seres inferiores,
apenas “instrumentos falantes”
(instrumenta vocalia).
O contato com o Oriente e com a
Macedônia colocou os romanos em
encontro direto com sua cultura, a
helenística, que passou a ser
assimilada por Roma. O Exército,
principal agente das conquistas,
Galera Romana
também se alterou: os soldados
foram profissionalizados e passaram
Modelo de galera (embarcação de guerra movida a remos) construída pelos romanos para derrotar a receber salários. O Exército cada
os navios cartagineses na Primeira Guerra Púnica. Suas inovações eram o esporão na proa e os vez mais interferia na vida política
passadiços que facilitavam a abordagem dos barcos inimigos.
romana. A estrutura republicana já
não dava mais conta do império universal e passava a dar
2. As consequências sinais de desintegração.

das conquistas
O comércio interligava Roma e suas províncias em
toda a orla do Mediterrâneo, permitindo o desenvol-
vimento das atividades agrícolas. 3. Cronologia
Na própria Itália, contudo, a agricultura praticamente
395 a. C.: conquista da cidade etrusca de Veios.
desapareceu. Os campos ficaram incultos ou subocu-
pados, por causa da evasão dos camponeses plebeus, 335 a. C.: submissão dos latinos.
convocados para a guerra. 272 a. C.: conquista de Tarento, no sul da Itália.
Como consequência do desenvolvimento mercantil, 265 a. C.: anexação da Etrúria.
surgiu uma classe de comerciantes, banqueiros, 264-241 a. C.: Primeira Guerra Púnica.
arrendatários, cobradores de impostos (publicanos),
218-202 a. C.: Segunda Guerra Púnica.
denominados homens novos ou cavaleiros. Os patrícios,
dependentes da exploração fundiária, empobreceram-se, 200 a. C.: ocupação da Macedônia.
passando a depender dos cargos públicos para manter 150-146 a. C.: Terceira Guerra Púnica.
seu nível social. A plebe, marginalizada pelo aumento do 146 a. C.: submissão da Grécia.
número de escravos, passou a ser sustentada pelos 133 a. C.: domínio romano sobre a Espanha.
homens novos ou pelo Estado, que distribuía trigo e
120 a. C.: anexação do sul da Gália.
proporcionava espetáculos circenses gratuitamente: a
política de pão e circo, que tinha como meta principal a Século I a. C.: conquista da Ásia Menor, Síria, restante
alienação política da plebe romana. da Gália e Egito.
Frequentemente, os plebeus serviam como agre-
gados aos mais ricos em troca de esmolas e alimentos,

Fundiário: rural, que explora atividade econômica em fazendas; agrário.


Agregado: aquele que presta serviço mediante pagamento ou habitação; submisso.

HISTÓRIA 55
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 56

Exercícios Resolvidos

 As Guerras Púnicas entre Roma e Cartago, 264 a 146 a. C., As Guerras Púnicas, conflitos entre Roma e Cartago, no século II a. C.,
tiveram entre as principais causas foram motivadas
a) a disputa pelo domínio do Mediterrâneo. a) pela disputa do controle do comércio no Mar Negro e posse das
b) a crise do governo de Caio Otávio. colônias gregas.
c) o fim da Monarquia. b) pelo controle das regiões da Trácia e Macedônia e o monopólio do
d) a invasão de Roma pelos cartagineses. comércio no Mediterrâneo.
e) a necessidade de controle do leste da Europa. c) pelo domínio da Sicília e pelo controle do comércio no Mar
Resposta: A Mediterrâneo.
d) pela divisão do Império Romano entre os generais romanos e a
 (MACKENZIE – MODELO ENEM – MODIFICADA) – Os romanos submissão de Siracusa a Cartago.
davam aos fenícios o nome de "puni". Cartago, antiga colônia fenícia, e) pelo conflito entre o mundo romano em expansão e o mundo
teve que enfrentar Roma numa série de guerras que duraram, com bárbaro persa.
longos intervalos de trégua, mais de um século (264-146 a. C.). A co- Resolução
lônia fenícia de Cartago, localizada onde hoje se encontra a cidade de O texto se refere às Guerras Púnicas, motivadas pelo controle do
Túnis, ao norte da África, havia se desenvolvido consideravelmente, a Mediterrâneo ocidental e iniciadas pelo ataque romano à Ilha da Sicília.
ponto de se constituir em poderosa rival dos interesses romanos no Resposta: C
Mediterrâneo. Por mais de um século, os romanos lutaram para des-
truir Cartago, acabando por arrasá-la (146 a. C.).

Exercícios Propostos

 Que condições propiciaram a expansão romana a partir do


RESOLUÇÃO:
O expansionismo permitiu o saque das riquezas, a expropriação
séc. IV a. C.? de terras e a escravização dos povos conquistados.
Resposta: D
RESOLUÇÃO:
Paz interna; estradas; ótimos exércitos.

 ”Pois quem seria tão inútil ou indolente a


ponto de não desejar saber como e sob que
 Comente as três Guerras Púnicas, ressaltando as conquis- espécie de constituição os romanos conseguiram em menos
tas romanas.
de cinquenta e três anos submeter quase todo o mundo
RESOLUÇÃO: habitado ao seu governo exclusivo – fato nunca antes ocorrido?
1.a: Roma conquista a Sicília, a Córsega e a Sardenha. Ou, em outras palavras, quem seria tão apaixonadamente
2.a: Roma conquista o Norte da África e a Espanha. devotado a outros espetáculos ou estudos a ponto de
3.a: Roma domina Cartago.
considerar qualquer outro objetivo mais importante que a
aquisição desse conhecimento”
(POLÍBIO. História. Brasília: Edilora UnB, 1985.)

A experiência a que se refere o historiador Políbio, nesse texto


escrito no século II a.C., é a
 A expansão de Roma, durante a República, com o con-
a) ampliação do contingente de camponeses livres.
sequente domínio da Bacia do Mediterrâneo, provocou sensí-
b) consolidação do poder das falanges hoplitas.
veis transformações sociais e econômicas, entre as quais se
c) concretização do desígnio imperialista.
destacam
d) adoção do monoteísmo cristão.
a) um marcado processo de industrialização, o êxodo urbano e
e) libertação do domínio etrusco.
o endividamento do Estado.
b) o fortalecimento da classe plebeia, a expansão da pequena RESOLUÇÃO:
propriedade e a propagação do cristianismo. Desde seus primórdios, Roma revelou possuir uma acentuada
c) o crescimento da economia agropastoril, a intensificação tendência expansionista, que se tornaria, com o passar dos
das exportações e o aumento do trabalho livre. séculos, um imperialismo incontestável, responsável pela
transformação do Mediterrâneo no Mare Nostrum, e também pela
d) o enriquecimento do Estado Romano, o aparecimento de
constituição do maior império da Antiguidade.
uma poderosa classe de comerciantes e o aumento do Resposta: C
número de escravos.
e) a diminuição da produção nos latifúndios, o acentuado
processo inflacionário e a escassez da mão de obra escrava.

56 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 57

(PUCCAMP-MODELO ENEM) – “Um filme do meu tempo d) à absoluta desqualificação dos escravos para trabalhos mais
de jovem: Spartacus, com Kirk Douglas. Roma já não era, sofisticados e à violência em seu tratamento, indepen-
àquela época, um centro imperial de globalização? Escravos do dentemente das questões étnicas.
mundo, uni-vos! — conclamaria algum Marx daqueles tempos, e) ao aspecto étnico presente em todas as formas de escra-
convocação que viria a ecoar também em nosso Palmares, vidão, pois o escravo era, na Antiguidade greco-romana,
tantos séculos depois. Não deixo de me lembrar que, em como no mundo modemo, considerado uma raça inferior.
nossos dias, multidões de expatriados em marcha, buscando RESOLUÇÃO:
sobreviver, continuam a refazer o itinerário dos vencidos.” Na Antiguidade Clássica, a escravidão se estendia às mais diver-
sas atividades produtivas, o que resultava em um melhor
(Cândido de Castro, Visões do multimundo.)
tratamento para os escravos mais especializados. Já a escravidão
moderna, que persistiu até o século XIX, destinava a mão de obra
A história de Spartacus representa, na Roma Antiga, a luta dos escrava à execução de trabalhos, sobretudo, braçais.
a) escravos contra o sistema de opressão estabelecido princi- Resposta: B
palmente a partir da expansão romana.
b) camponeses, que defendiam a aprovação de uma reforma
agrária nas terras conquistadas pelos romanos.
c) patrícios, que reivindicavam a manutenção dos privilégios
políticos que tinham no Senado Romano.
d) cartagineses, que não aceitavam o saque e a pilhagem das
sua terras pelo exército romano.
e) plebeus, que exigiam do Estado cargos públicos e salários
justos em troca de fidelidade política.
“Com efeito, até a destruição de Cartago, o
RESOLUÇÃO: povo e o Senado romano governavam a
A expansão republicana pelo Mediterrâneo acarretou a sujeição República em harmonia e sem paixão, e não havia entre os
de diversos povos. A revolta comandada pelo grego Spartacus,
cidadãos luta por glória ou dominação; o medo do inimigo
por volta do ano 70 a. C., contra a escravidão, acabou sendo mas-
sacrada pelo exército romano comandado pelo triúnviro Crasso. mantinha a cidade no cumprimento do dever. Mas, assim que
Este personagem foi transformado num símbolo de luta contra a o medo desapareceu dos espíritos, introduziram-se os males
opressão. pelos quais a prosperidade tem predileção, isto é, a
Resposta: A libertinagem e o orgulho.”
(SALÚSTIO. A conjuração de Catilina/A guerra de Jugurta.
Petrópolis: Vozes, 1990. Adaptado.)

O acontecimento histórico mencionado no texto de Salústio,


datado de I a.C., manteve correspondência com o processo de
a) demarcação de terras públicas.
b) imposição da escravidão por dívidas.
c) restrição da cidadania por parentesco.
d) restauração de instituições ancestrais.
e) expansão das fronteiras extrapeninsulares.

RESOLUÇÃO:
O fenômeno da escravidão, ou seja, da A expansão romana no Mediterrâneo, sobretudo após a vitória
imposição do trabalho compulsório a um contra Cartago nas Guerras Púnicas (264-146 a.C.), alterou
indivíduo ou a uma coletividade, por parte de outro indivíduo ou profundamente a estrutura econômica e social de Roma,
agravando os conflitos internos e gerando a crise da República,
coletividade, é algo muito antigo e, nesses termos, com o consequente advento do Império.
acompanhou a história da Antiguidade até o séc. XIX. Todavia, Resposta: E
percebe-se que tanto o status quanto o tratamento dos
escravos variou muito da Antiguidade grego-romana até o
século XIX em questões ligadas à divisão do trabalho.

As variações mencionadas dizem respeito


a) ao caráter étnico da escravidão antiga, pois certas etnias
eram escravizadas em virtude de preconceitos sociais.
b) à especialização do trabalho escravo na Antiguidade, pois
certos ofícios de prestígio eram frequentemente realizados
por escravos.
c) ao uso dos escravos para a atividade agroexportadora, tanto
na Antiguidade quanto no mundo moderno, pois o caráter
étnico determinou a diversidade de tratamento.

HISTÓRIA 57
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 58

Palavras-chave:
• Irmãos Graco
A crise da República
14 • Guerras Civis
• Triunvirato

1. As guerras civis A partir daí, procurando


restabelecer os privilégios
Com as conquistas militares, as instituições políticas da aristocracia e do Sena-
da República Romana começaram a se desintegrar, pois do, reduzidos na época de
não mais se adequavam às novas condições de um Mário, moveu uma violen-
império universal. ta repressão contra os
A crise da República evidenciou-se durante as cavaleiros e as camadas
guerras civis, que acabaram implantando o Império. populares.
Diversas forças se defrontaram durante essas guerras: Após a morte de Sila,
os patrícios, que procuravam manter a República e os em 79 a. C., eram eviden-
seus privilégios; os cavaleiros, que almejavam o controle tes os sintomas de crise
do poder; os clientes, que serviam de instrumento na da República. Esse perío-
luta política; o Exército, que se tornou profissional, a do de ditaduras militares
partir da reforma realizada em 105 a. C., constituindo-se, mostrou que a plebe e o
igualmente, em um instrumento político nas mãos dos Exército se transforma- Sila, que promoveu reformas para
generais. ram em forças poderosas, beneficiar a elite romana.
verdadeiros instrumentos
Os primeiros sinais da crise apareceram com a
nas mãos de indivíduos ambiciosos pelo poder político.
tentativa dos irmãos Tibério e Caio Graco, que
pretendiam realizar reformas a fim de libertar a plebe de
seu estado de submissão.
2. Os triunviratos
Em 133 a. C., ao ser eleito tribuno da plebe, Tibério Em 60 a. C., Júlio César, Pompeu e Crasso,
Graco propôs realizar uma reforma agrária, que tinha por vitoriosos em diversas campanhas militares, formaram o
finalidade redistribuir entre os pobres as terras do Primeiro Triunvirato. Com o apoio do Exército, assumiram
Estado – ager publicus –, as quais haviam sido tomadas o poder em Roma, reduzindo a autoridade do Senado.
ilegalmente pelos patrícios. Seu plano sofreu forte
oposição, e o tribuno foi assassinado.
Dez anos mais tarde, ao ser reeleito tribuno da plebe,
Caio Graco tentou introduzir reformas populares ainda
mais profundas. Além de dar início à reforma agrária,
contando com o apoio dos cavaleiros, instituiu a Lei
Frumentária, que barateava o preço do trigo, facilitando o
seu consumo pela plebe romana. A forte oposição dos
patrícios desencadeou uma violenta crise. O Senado
decretou estado de sítio e Caio Graco, ferozmente
perseguido, ordenou a um escravo que o matasse.
Aos poucos, o Exército distanciou-se dos ideais
republicanos. As legiões em que se dividia converteram-
se em organizações permanentes, nas quais os
Pompeu, que, junto a Crasso e Júlio César, um dos membros
soldados deviam lealdade apenas aos seus chefes. Júlio César, formou o Primeiro do Primeiro Triunvirato.
A conquista do Reino da Numídia, no norte da África, Triunvirato.
deu ao general Caio Mário um enorme prestígio. A sua
popularidade, em Roma, tornou-se tão grande que Em 53 a. C., Crasso morreu na Síria. Alguns anos
acabou sendo eleito cônsul seis vezes consecuti- depois, enquanto César combatia na Gália, o Senado no-
vamente, o que era ilegal. meou Pompeu único cônsul e defensor da República. Ao
Com a morte de Mário, em 86 a. C., e o sucesso nas ser destituído do comando do Exército, César invadiu a
conquistas militares, o general Sila assumiu o poder em Itália e ocupou Roma com suas legiões, combatendo
Roma, proclamando-se ditador com poderes ilimitados. Pompeu, que fugiu para a Grécia; em seguida, ao tentar
refugiar-se no Egito, foi assassinado.

58 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 59

Após aliar-se à rainha Cleópatra, César voltou para


Roma com o intuito de legalizar o seu poder, instaurando
a ditadura. Apesar dos poderes concedidos pelo Senado, 3. Cronologia
César queria a hereditariedade, obtida somente com o 133 a. C.: Tibério Graco é eleito tribuno da plebe e inicia
título de “rei”. Por isso, em 15 de março de 44 a. C., foi
a reforma agrária.
assassinado por um grupo de senadores, liderado por
Brutus e Cássio. 123 a 122 a. C.: tribunato de Caio Graco.
O general Marco Antônio uniu-se a Caio Otávio,
107 a 100 a. C.: consulados de Mário.
sobrinho de César, e, juntamente com Lépido,
formaram o Segundo Triunvirato. Após uma violenta 82 a 79 a. C.: ditadura de Sila.
perseguição, os senadores que conspiraram contra
73 a 71 a. C.: revolta escrava de Espártaco, na Itália.
César fugiram para o exterior, sendo mortos na Grécia.
Em 40 a. C., os triúnviros dividiram as províncias 60 a. C.: formação do Primeiro Triunvirato: César,
romanas entre si: Otávio ficou com o Ocidente; Marco Pompeu e Crasso.
Antônio, com o Oriente; Lépido, com a África.
Em razão da enorme rivalidade entre os triúnviros, 58 a 51 a. C.: conquista da Gália por César.
seguiu-se um período de luta. Caio Otávio afastou 53 a. C.: Crasso é assassinado em Carras, na Pérsia.
Lépido, venceu Marco Antônio e Cleópatra, que se
suicidaram, e se apoderou do Egito após a Batalha de 48 a 44 a. C.: ditadura de César.
Ácio, em 30 a. C. Os tesouros pilhados propiciaram-lhe 44 a. C.: assassinato de César (15 de março).
um exército poderoso e os celeiros abarrotados de
trigo serviram para alimentar a plebe romana em seu 43 a 33 a. C.: triunvirato de Antônio, Lépido e Otávio.
nome.
31 a. C.: Batalha de Ácio, no Egito.
Ao regressar a Roma, Caio Otávio foi recebido como
salvador da República; na verdade, seria o fundador do 30 a. C.: mortes de Antônio e Cleópatra.
Império.

Hereditariedade: o que se transmite por herança, de pais a filhos ou de ascendentes a descendentes.

ASTERIX

As histórias da famosa série de gibis dos franceses Groscinny e Uderzo estão inseridas na fase do primeiro
triunvirato e da ditadura de César.

Asterix e Obelix em “Os 12 trabalhos de Asterix”.

HISTÓRIA 59
C1_1A_His_JR_2022.qxp 28/10/2021 13:42 Página 60

Exercícios Resolvidos

 (MODELO ENEM) – “Ao receber a mensagem dos senadores de à hereditariedade. Nos dois casos, os fatos estão inseridos no con-
que o Senado fora destruído, César resolveu lutar e dirigiu-se a Roma, texto das guerras civis que marcaram a crise da República romana.
causando a fuga de Pompeu. César assume imediatamente o poder Resposta: C
romano, mas só iria derrotar Pompeu definitivamente em 49 a. C.”
 (UnB-MODELO ENEM) – “Com a introdução do trabalho escravo
Considere a figura a seguir: em larga escala, o número de plebeus desocupados aumentou. A esta
legião de desocupados somou-se o grande número de pequenos agricul-
tores arruinados que se dirigiram para as cidades, especialmente Roma.”
(Maurice Crouzet, História Geral das Civilizações)

Com o auxílio das informações do texto acima, julgue os itens


seguintes, relativos à antiguidade romana.
I. A massa dos trabalhadores escravos foi obtida por meio das
conquistas militares, que se iniciaram à época da República.
II. A substituição do trabalho plebeu pelo trabalho escravo
possibilitou aos plebeus tornarem-se pequenos produtores agrícolas,
que abasteciam as feiras urbanas.
III. As diversões foram um dos expedientes adotados pelos gover-
nantes para apaziguar as populações desocupadas: era o “pão e circo”.
Até tu, Brutus? IV. O Estado assumiu o ônus de abrigar a grande maioria dos
desocupados, enquanto a minoria abastada controlava as instituições
Com base no texto e na imagem, é possível afirmar que eles fazem políticas e dirigia o exército.
parte de qual período da história romana? Resolução
a) Monarquia. b) Crise do Império. A afirmativa II está incorreta, porque as conquistas geraram um
c) Crise da República. d) Alto Império. grande afluxo de escravos, cujo valor de compra tornou a mão de
Resolução obra plebeia muito dispendiosa. Além disso, as terras públicas,
O texto refere-se ao I Triunvirato e à luta pelo poder entre César e trabalhadas por escravos, baratearam o preço dos alimentos, levando
Pompeu; já a imagem tem relação com o assassinato de César por um as pequenas propriedades à falência.
grupo de senadores, que não queriam que este conquistasse o direito Resposta: V F V V

Exercícios Propostos

 Explique a seguinte frase: “Roma atingiu fronteiras nunca Com base no texto, responda:
antes imaginadas e que acabaram por comprometer sua a) A que período da história romana se refere?
estrutura política.”
RESOLUÇÃO:
Ao final da República, no período das guerras civis; a luta entre
RESOLUÇÃO:
Mário e Sila deu-se entre 88 e 83 a. C.
Ao final da primeira grande expansão, Roma tornou-se um vasto
império, a cujas necessidades políticas o Senado não conseguia
atender.

b) Que cargos ocupavam os personagens?

RESOLUÇÃO:
 “Em Roma, o filho de Mário, Mário, o jovem, continuava Eram generais romanos vitoriosos em campanhas no norte da
a obra de seu progenitor. Tinha apenas 25 anos, mas nada África e no Mar Negro; Mário, eleito cônsul por seis vezes conse-
ficava a dever a seu pai no que respeita à coragem e à cutivas, foi deposto por Sila, que governou como ditador.
persistência. No entanto, era desprovido de experiência militar
e não dispunha, como outrora, seu pai, de tropas
disciplinadas. Resistiu o mais que pôde, com outros chefes do
partido popular, mas não tinha qualquer probabilidade de
vencer as legiões de Sila.”
(Carl Grimberg, História Universal)

60 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 61

 A questão agrária tem gerado, até hoje, muita polêmica e  (UNESP-MODELO ENEM) – “O vínculo entre os legio-
marcado profundamente a luta de classes. Esta questão, toda- nários e o comandante começou progressivamente a assimilar-
via, não se coloca apenas neste momento histórico atual. Na se ao existente entre patrão e cliente na vida civil: a partir da
história de Roma, já se fazia presente, como nas reformas pro- época de Mário e Sila, os soldados procuravam os seus
postas pelos irmãos Tibério e Caio Graco, os quais defendiam generais para a reabilitação econômica e os generais usavam
(0) a abolição da escravidão. os soldados para incursões políticas.”
(1) a entrega do excedente de terra ao Estado para ser arren- (Perry Anderson,
dado aos cidadãos pobres, mediante pagamento nominal. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo)
(2) a participação política dos segmentos populares nas
decisões agrárias da República. O texto oferece subsídios para a compreensão
(3) a retomada das terras públicas, ilegalmente nas mãos dos a) da crise da República romana.
nobres, para distribuí-las aos cidadãos pobres. b) da implantação da monarquia etrusca.
(4) o estabelecimento de um limite máximo para as proprieda- c) do declínio do Império Romano.
des territoriais rurais. d) da ascensão do Império Bizantino.
(5) a compra de alimento por baixo preço pelos segmentos e) do fortalecimento do Senado.
populares (pobres).
RESOLUÇÃO:
RESOLUÇÃO: O texto descreve a relação de clientelismo entre o legionário e o
Itens falsos 0 e 1. seu comandante, responsável pela projeção política dos generais,
o que conduziu à centralização do poder e ao esvaziamento do
domínio do Senado.
Resposta: A

(MACKENZIE) – “[...] as suas próprias vitórias a tornaram


anacrônica. A oligarquia de uma única cidade não podia segurar
todo o Mediterrâneo numa organização unitária – tinha sido
ultrapassada pela própria escalada dos seus êxitos. O último
século da conquista republicana, que levou as legiões ao
Eufrates e ao Canal da Mancha, foi marcado por uma crescente
tensão social [...], resultado direto dos triunfos regularmente
obtidos no estrangeiro. A agitação camponesa pelo direito à
terra fora sufocada com a supressão dos Gracos, mas
 Os irmãos Graco
reapareceria agora sob novas e ameaçadoras formas, dentro
a) defenderam os camponeses sem-terra contra a aristocracia.
do próprio exército.”
b) foram os conquistadores de Cartago.
(Perry Anderson. Passagens da Antiguidade ao Feudalismo.)
c) eram os principais líderes do partido aristocrático.
d) elaboraram a primeira lei escrita de Roma.
O trecho acima refere-se a um importante momento da
e) foram os autores da Lei Licínia Sextia.
História Antiga. Esse momento foi marcado:
RESOLUÇÃO:
a) pelo fim da hegemonia econômica de Atenas no
A proposta dos irmãos Graco era retomar as terras do Estado, Mediterrâneo, em consequência da derrota na guerra do
apropriadas indevidamente pelos patrícios, e doá-las aos popu- Peloponeso, no século V a.C.
lares pobres. b) pela decadência das cidades gregas, invadidas e
Resposta: A dominadas, a partir do século IV a.C., pelos exércitos de
Felipe da Macedônia.
c) pelo estabelecimento, nas terras férteis do Lácio, de
comunidades latinas, que, no século X a.C., se organizaram
segundo uma forma republicana de governo.
d) pela crise política e social em Roma, que levaria, no século
I a.C., ao estabelecimento do Império por Otávio.
e) pelas tensões sociais geradas em toda a Península Itálica
por ininterruptas invasões de povos bárbaros, nos séculos
IV e V.

RESOLUÇÃO:
O texto faz referência à crise da República Romana – resultante,
entre outros aspectos, da expansão militar que consolidou o
escravismo, marginalizou a plebe e introduziu o Exército como
uma força nova no jogo político.
Resposta: D

HISTÓRIA 61
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 62

Palavras-chave:
• Concentração de
Alto Império Romano
15 poderes • Reformas
• Pax Romana

1. A formação do império Em 9 d.C., uma expedição enviada contra a


Germânia (atual Alemanha) foi destruída pelos bárbaros;
O Império Romano foi estabelecido, de fato, quando essa derrota causou tamanha impressão que Augusto
Caio Otávio retornou do Egito com seu numeroso interrompeu a expansão romana, a qual somente seria
exército. O Senado concedeu-lhe vários títulos que retomada algumas décadas depois. Esse breve período
legalizaram seu poder absoluto, destacando-se: Pontífice de paz externa recebeu o nome de Pax Augusta.
Máximo, em que se tornou o chefe da religião romana;
Os piratas que prejudicavam o comércio marítimo e
Princeps Senatus, recebendo o direito de governar o
os salteadores de estradas foram eliminados; esse fato,
Senado; Imperator, reservado aos generais vencedores;
somado ao fim das guerras civis, permitiu o restabele-
finalmente, Augusto, título até então destinado aos
cimento das leis e da ordem em todas as províncias do
deuses e que permitia a Otávio escolher seu sucessor.
Império, assegurando o livre trânsito de pessoas e mer-
Embora Otávio Augusto conservasse durante seu cadorias. Gerou-se assim uma situação de paz e segu-
reinado as aparências republicanas, seu poder apoiava-se rança internas (Pax Romana) que perduraria até o
efetivamente no imperium, em que exercia o comando século III d.C.
do Exército; no poder proconsular, direito de indicar os
Não tendo herdeiros diretos, Augusto indicou como
governadores das províncias; no poder tribunício, poder
sucessor seu filho adotivo, Tibério. Não obstante, as
de caráter popular delegado pela plebe.
indicações seguintes seriam em geral feitas pelos
Nessa fase conhecida como Principado, Otávio Au- militares, notadamente os da guarda pretoriana.
gusto disfarçou sua autoridade de imperador, mantendo
as aparências republicanas. Os Césares (14-96)
Augusto reorganizou as províncias, dividindo-as em
Dá-se o nome de Doze Césares ao conjunto forma-
imperiais (militares) e senatoriais (civis). Indicava os gover-
do por Júlio César, Otávio Augusto e os dez imperadores
nadores, que eram controlados por meio de inspeções
subsequentes, embora apenas os seis primeiros (de
diretas e relatórios anuais feitos pelos sucessores deles.
Júlio César a Nero) tivessem laços de parentesco. Os
Criou o sistema estatal de cobrança de impostos,
demais adotaram o sobrenome César para simular uma
acabando com a concessão da arrecadação a particulares.
consanguinidade que, na verdade, não existia. Com o
No plano social, acabou com a tradicional superio- passar do tempo, César (grafia latina: Caesar) tornou-se
ridade do patriciado e criou um sistema censitário basea- um título equivalente a imperador, dele derivando as
do na renda anual de cada um. Os mais ricos, acima de formas russa czar e alemã kaiser. Deve-se ainda lembrar
1 milhão de sestércios, pertenciam à Ordem Senatorial, que o governo de Júlio César faz parte da República
que tinha os privilégios políticos e se distinguia pelo uso Romana e que tanto ele quanto Augusto usaram o título
da cor púrpura. A renda acima de 400 mil sestércios de imperator em sua acepção puramente militar –
indicava o homem da Ordem Equestre, com menos diferentemente dos demais, que foram imperadores
direitos e a cor distinta azul. Abaixo desse índice mone- também no sentido político.
tário, ninguém tinha direitos políticos.
Os sucessores de Augusto herdaram todos os seus
Augusto procurou conter a influência da cultura cargos e atribuições, o que lhes permitiu governar de
oriental e da grega (helenística), que dominava Roma e forma inteiramente despótica, com autoridade ilimitada
estimulava a busca do prazer (hedonismo), e empenhou-se e valendo-se de seu poder para perseguirem opositores
em diminuir a importância do culto aos deuses místicos e desafetos, sem se preocuparem com a legalidade de
orientais. Em seu governo, tentou reavivar os valores seus atos.
morais do passado agrário de Roma, sem muito êxito.
Para defender suas ideias, trouxe para a Corte literatos
como Tito Lívio, Virgílio, Ovídio, Horácio e outros.

Augusto: filho dos deuses; escolhido dos deuses. Púrpura: a cor vermelha arroxeada.
Sestércio: antiga pequena moeda romana de prata. Guarda pretoriana: tropa de elite; guarda dos imperadores.

62 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 63

O Império Romano sob o governo de Augusto. Trajano, em cujo reinado (98-117) o Império
Romano atingiu sua máxima extensão.

Os Antoninos (96-192) Edito de Caracala


Com os Antoninos, o Império atingiu seu apogeu eco- Em 212, o Imperador Caracala destacou-se por ter
nômico e militar. No governo de Trajano (98-117), os assinado um edito (decreto real ou imperial) que
domínios de Roma alcançaram sua superfície máxima, estendeu a cidadania a todos os homens livres do
estendendo-se da Britânia (atual Inglaterra) e da Império, igualando-os perante o Direito Romano.
Mauritânia, no Ocidente, até a Armênia e a Mesopotâmia,
no Oriente. Na Europa, os limites do Império, tradicio-
nalmente definidos pelos Rios Reno e Danúbio, foram 2. Cronologia
expandidos por Trajano, que conquistou a Dácia (atual
Romênia). O imperador seguinte, Adriano (117-138), orde- 27 a. C. a 14 d. C.: Principado de Otávio Augusto.
nou, em 135, a Diáspora dos hebreus – povo que, assim 14 a 68: Dinastia Júlio-Claudiana: Tibério, 14 a 37; Caio
como os bascos, jamais aceitou inteiramente a romani- Calígula, 37 a 41; Cláudio, 41 a 54; Nero, 54 a 68.
zação que lhes foi imposta. 64: perseguição de Nero aos cristãos.
Depois de Trajano, o Império Romano não realizou 69 a 96: Dinastia dos Flávios: Vespasiano, 69 a 79;
novas conquistas, limitando-se a travar lutas localizadas
Tito, 79 a 81; Domiciano, 81 a 96.
para consolidar suas fronteiras na Europa (contra os
germanos) e no Oriente (contra os persas, que se liber- 96 a 192: Dinastia dos Antoninos: Nerva, 96 a 98; Tra-
taram dos partas no século III). Isso não significa, porém, jano, 98 a 117; Adriano, 117 a 138; Antonino Pio, 138
que o exército romano tenha perdido sua capacidade de a 161; Marco Aurélio, 161 a 180; Cômodo, 180 a 192.
combater; longe disso, continuava a ser uma força militar
193 a 235: Dinastia dos Severos: Septímio Severo,
considerável.
193 a 211; Caracala e Geta, 211 a 212; Caracala, 212
Com a interrupção das conquistas, o fluxo de escravos
diminuiu; não obstante, ainda era suficiente para suprir as a 217; Heliogábalo, 218 a 222; Alexandre Severo, 222
necessidades econômicas da porção ocidental do Império, a 235.
onde o modo de produção escravista se enraizara mais 212: concessão de cidadania a todo o Império.
profundamente do que na porção oriental.

Mauritânia: A província romana da Mauritânia correspondia ao Norte do atual Marrocos e não à moderna República da Mauritânia, que está situada
mais ao sul.

HISTÓRIA 63
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 64

NASCIMENTO DE CRISTO
Jesus teria nascido e vivido no início do Império Romano.

Quanto Júlio César assumiu como ditador, durante a crise da República, ele se tornou também a
primeira pessoa a governar Roma com poderes excepcionais. Mais tarde, quando Caio Otávio (seu
sobrinho-neto) assumiu como Imperador, o povo romano entendeu o governo deste como uma
continuidade do mandato de Júlio César, acostumando-se a chamá-lo apenas de César. Assim, sendo os imperadores subsequentes todos da
mesma família, o termo “César” tornou-se sinônimo de Imperador. O nome foi utilizado ainda por russos (Czar) e alemães (Kaiser) em seus
futuros impérios. Em Roma, a frase de Cristo, “Dai a César o que é de César”(Mateus 22:21), refere-se ao tributo pago pelos povos submetidos
ao domínio do Império Romano. As moedas ao lado são do imperador Tibério, governante nesse período.

Exercícios Resolvidos

 Entre as reformas introduzidas em Roma, por Augusto, podemos  O Principado, transição entre a República e o Império na história
citar: de Roma, caracterizou-se, entre outros aspectos, pelo fato de Otávio
a) o estabelecimento do divórcio. a) concentrar em suas mãos a autoridade do Senado, dos
b) a drástica redução dos efetivos militares. magistrados e das leis.
c) a restauração do antigo sistema de cobrar impostos provinciais. b) obter o apoio dos patrícios por meio da revogação das leis agrárias
d) a criação de um sistema centralizado de tribunais. dos irmãos Graco.
e) a redução da autonomia das províncias. c) devolver ao Senado os privilégios e poderes perdidos na época de
Resolução Cornélio Sila.
As províncias seriam controladas pelo imperador ou pelo Senado, e d) eliminar a influência etrusca em Roma, em razão da aliança com os
os governadores deveriam prestar contas quando assumissem ou demais povos do Lácio.
deixassem a província. e) outorgar vantagens sociais à plebe, aprovando a Lei Licínia, que
Resposta: E estabeleceu limites à concessão de terras aos patrícios.
Resolução
Ao concentrar os poderes, Otávio lançou as bases do domínio
imperial, estruturando uma nova forma de poder.
Resposta: A

Exercícios Propostos

 Com a implantação do Império Romano, quais foram as  Explique o que foi a Pax Romana.
reformas de Augusto, no que se refere à política e à socie-
dade? RESOLUÇÃO:
Período de estabilidade interna em Roma que durou do início do
Império até o século III d.C.
RESOLUÇÃO:
Políticas – centralização do poder em suas mãos, disfarçando sua
autoridade de imperador e mantendo as aparências republicanas.
Sociais – criação de um sistema censitário como critério de divi-
são da sociedade.

64 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 28/10/2021 14:29 Página 65

 “Neste depoimento, o imperador Augusto (30 a. C.-14 d.  (MODELO ENEM) – “Augusto conquistou os soldados
C.) descreve as realizações que assinalam o apogeu da com presentes, o povo com pão barato, e todos os homens
expansão do Império no Mediterrâneo: com os frutos da paz. Assim tornou-se progressivamente mais
poderoso, congregando em si as funções do Senado, dos
Estendi os limites de todas as províncias do povo romano magistrados e das leis.”
fronteiriças de nações que escapavam à obediência ao Império. (Anais Tácito 1.2, Moses Hadas, Ed.,The Complete Works of Tacitus,
Restabeleci a ordem nas províncias das Gálias, das Espanhas, New York: Random House, 1942, p. 3.)
na Germânia. Juntei o Egito ao Império, recuperei a Sicília, a A respeito do Principado de Augusto, é possível afirmar que:
Sardenha e as províncias além do Adriático.’ “ a) Como republicano convicto, lutou contra a implantação do
(Texto adaptado de Gustavo Freitas, “900 textos e documentos de Império.
História”, Lisboa: Plátano, s.d., v. 1, p. 96-7.) b) Seu governo é considerado o último da República e o pri-
meiro do Império.
A respeito da Pax de Augusto, é correto afirmar que c) Impediu Júlio César de promover um golpe para tornar-se
a) por ser um grande pacifista, destituiu todos os militares de ditador perpétuo.
suas funções públicas. d) Assumiu o controle do Senado para impedir que este fosse
b) esvaziou o poder do Senado e se impôs como chefe da dominado pelo triunvirato.
Monarquia.
c) ainda durante a República, comandou o fim das guerras de RESOLUÇÃO:
César Otávio (ou Augusto) manteve a aparência republicana de
expansão.
governo quando não extinguiu o Senado, mas esvaziou-lhe por
d) estimulou a cultura da paz através da retomada das tradi- completo suas funções. Foi o primeiro imperador de Roma, ao
ções romanas. concentrar todos os poderes republicanos em suas mãos.
e) pôs fim às guerras de expansão e pacificou as fronteiras, no Resposta: B
início do Império.

RESOLUÇÃO:
No início do Império, Augusto interrompeu a expansão romana, a
qual somente seria retomada algumas décadas depois. Esse breve
período de paz externa recebeu o nome de Pax Augusta.
Resposta: E

 (UNESP) – Jesus Cristo pregava no idioma aramaico; o


Novo Testamento foi escrito em grego e a liturgia da Igreja no
Ocidente foi, desde o final da Antiguidade, rezada em latim, o
que comprova
 (MODELO ENEM) – A cidadania romana representava o a) o afastamento dos princípios da nova religião com relação à
gozo de direitos econômicos, sociais e políticos que somente filosofia clássica.
aos cidadãos de Roma era dado usufruir. A extensão de tais b) a intenção dos prelados de restringir o cristianismo às
direitos a todos os homens livres do Império, estabelecida pelo fronteiras do Império romano.
Edito de Caracala, representou c) o quadro de diversidade cultural existente no período de
a) a liberdade de culto para os cristãos. surgimento do novo credo.
b) a helenização do mundo romano. d) o projeto eclesiástico de expandir a religião em meio aos
c) a abolição da escravidão. bárbaros germânicos.
d) a universalização do Império. e) a permanência do vínculo do cristianismo romano com os
e) o domínio total do mundo conhecido. homens pobres.

RESOLUÇÃO: RESOLUÇÃO:
Decreto do imperador do mesmo nome em 212 d. C. e que fazia Alternativa escolhida por exclusão, pois a diversidade cultural
parte da Dinastia dos Severos. existente no Império Romano tinha um caráter meramente local,
Resposta: D não conseguindo obscurecer a importância oficial do latim (língua
dos romanos) nem o predomínio da cultura grega nas áreas de
civilização helenística.
Resposta: C

HISTÓRIA 65
C1_1A_His_JR_2022.qxp 28/10/2021 13:42 Página 66

(FATEC) (UNESP) – “Apesar de não ter sido tão complexo quanto


os governos modernos, o Império [Romano] também precisava
pagar custos muito altos. Além de seus funcionários, da
manutenção das estradas e da realização de obras, precisava
manter um grande exército distribuído por toda a sua extensão.
A cobrança de impostos é que permitia ao governo continuar
funcionando e pagando seus gastos.”
(Carlos Augusto Ribeiro Machado. Roma e seu império, 2004.)

Sobre o recolhimento de impostos e os gastos públicos no


Império Romano, é correto afirmar que
a) os patrícios e os proprietários de terras não pagavam
tributos, uma vez que estes eram de responsabilidade
exclusiva de arrendatários e escravos.
(FORMAN, Joan. Os romanos. b) o desenvolvimento da engenharia civil foi essencial para
São Paulo: Melhoramentos, 1990, p. 25.) integrar o Império e facilitar o deslocamento dos exércitos.
c) as obras financiadas com recursos públicos foram apenas
“Para os antigos romanos, o banho era um assunto sério e as de função religiosa, como altares ou templos.
a higiene da população, uma questão pública. Onde estiveram, d) a desvalorização da moeda foi uma das formas utilizadas
os romanos construíram termas e, assim como aprenderam pelos governantes para aliviar o peso dos impostos sobre a
dos gregos, ensinaram aos habitantes locais o hábito cotidiano população despossuída.
do banho. Para os romanos, ir às termas era bem mais do que e) os tributos eram cobrados por coletores enviados
se banhar ou praticar esportes aquáticos. Para o cidadão diretamente de Roma, não havendo qualquer intermediação
comum, as termas eram um ambiente em que se ou intervenção de autoridades locais.
apresentavam oradores e poetas, onde se sabiam as últimas
notícias, portanto eram tão importantes quanto o anfiteatro e o RESOLUÇÃO:
A par do controle sob o Mediterrâneo (Mare Nostrum), Roma
fórum. As termas eram estabelecimentos públicos, já que a desenvolveu um extenso sistema de estradas (em grande parte
maioria das casas não dispuha de instalações sanitárias pavimentadas) que interligando as diversas províncias do
apropriadas.” Império. Esse grande complexo viário exigiu o desenvolvimento
(arq.ufsc.br/arq5661/trabalhos_2003-1/piscinas/historico.htm. da engenharia civil (construção de pontes, aquedutos e sistema
de escoamento das águas pluviais), tornando-se fundamental
Acesso em: 08.03.2013. Adaptado.)
para facilitar o trânsito de pessoas, mercadorias, agentes do
Estado e também de tropas, destinadas a impor e manter a Pax
Considerando as informações do texto, é correto afirmar que Romana. Paralelamente, a evolução da engenharia civil contribui
as termas romanas para a roma nização dos povos conquistados, graças à
a) eram espaços de sociabilidade que reuniam tanto atividades construção de importantes edifícios públicos, como fóruns,
físicas como culturais. circos, teatros e termas.
Resposta: B
b) eram espaços privados nos quais não havia interferência
dos poderes públicos.
c) concentravam-se nas casas dos imperadores, sendo
inacessíveis aos cidadãos.
d) tinham pouca relevância nas cidades quando comparadas
ao fórum e ao anfiteatro.
e) tinham sido impostas pelos gregos quando conquistaram as
terras do Império Romano.

RESOLUÇÃO:
A alternativa parafraseia o texto sobre a importância que os
banhos públicos tinham para os cidadãos romanos.
Resposta: A

66 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 67

Palavras-chave:
• Crise • Colonato
Baixo Império Romano
16 • Invasões Bárbaras
• Cristianismo

1. A ruralização da economia após o martírio de Cristo, ocorrido no reinado de Tibério.


A difusão era feita pelos apóstolos, que percorriam as
No século III, teve início a crise do Império Romano, regiões da época, pregando a mensagem do Messias.
abalado por profundos problemas econômicos, políticos,
São Pedro foi para Roma, onde pregou os ensinamen-
militares e religiosos.
tos para os pobres e escravos, tendo sido martirizado
A crise econômica tinha suas origens na redução das juntamente com São Paulo, na época de Nero. O im-
guerras de conquista e, como consequência, na drástica perador foi responsável pela primeira perseguição aos
diminuição do número de escravos. O deficit orçamen- cristãos, acusados de não cultuar os deuses pagãos,
tário, resultante do aumento das despesas, levou o nem o imperador – também considerado uma divindade.
poder político a aumentar excessivamente os impostos. Além disso, atribuía-se aos cristãos a responsabilidade
Os preços foram elevados, os mercados se retraíram e a por todas as calamidades que ocorriam: enchentes, tem-
produção declinou. pestades, pestes e incêndios.
Ocorreu, então, o êxodo urbano. A população As perseguições continuaram até o início do século
começou a se concentrar nos campos, em propriedades IV, sendo a última desencadeada, entre 303 e 304, pelo
autossuficientes, denominadas villas, precursoras dos imperador Diocleciano (284-304). Contudo, tiveram um
feudos medievais. Essas construções caracterizavam-se efeito contrário ao esperado, pois acabaram convertendo
pela economia agrária de consumo, sendo o trabalho os espectadores pagãos, impressionados com a firmeza
exercido em termos de meação. e resignação dos cristãos diante dos sofrimentos.
Os antigos clientes romanos e os colonos, Em 313, Constantino baixou o Edito de Milão, proi-
representados pelos germânicos que fugiam das guerras bindo as perseguições e dando aos cristãos liberdade de
e avançavam pelas fronteiras do Império, cultivavam a culto. A partir de então, a difusão do cristianismo ganhou
terra como meeiros. Os pequenos proprietários um impulso ainda maior. Em 380, o imperador Teodósio
endividados (precários) tinham o mesmo estatuto, sendo proibiu o culto pagão e oficializou o cristianismo como
porém livres, ao passo que os clientes e os colonos se religião do Império Romano, com a Lei da Tessalônica.
viam presos à área em que trabalhavam.
Nessa época, o clero cristão já estava estruturado. Os
presbíteros obedeciam aos bispos; os bispos das cidades
2. A expansão do cristianismo menores, aos bispos das capitais (metropolitanas); estes,
Nessa mesma época, agravou-se a crise religiosa. O aos bispos das grandes cidades (Constantinopla, Antióquia
cristianismo começou a se difundir pelo Império, logo e Alexandria), os chamados patriarcas. Estes, enfim, obe-

Jesus de Nazaré – obra de M. Grunewald Catacumba de São Pedro e São Marcelino. A Basílica de Constantino em Roma.
(1455-1528).
Êxodo urbano: emigração; saída da cidade para o campo.
Meação: divisão em duas partes iguais; repartição do resultado da plantação com o dono da terra.
Presbítero: sacerdote; padre.

HISTÓRIA 67
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 68

deciam ao papa (bispo de Roma), cuja autoriade sobre os a se infiltrar militarmente no início do século V.
cristãos foi oficializada pelo imperador Valentino III, em 455. Primeiramente, vieram os visigodos; liderados por Alari-
Portanto, ao mesmo tempo que enfraquecia o poder co, saquearam Roma e fixaram-se na Península Ibérica e
imperial, o cristianismo tornava-se a própria base legal no no sul da Gália, constituindo o primeiro reino germânico
fim do Império Romano. dentro das fronteiras do Império. Os vândalos seguiram-lhes
Entretanto, a situação se agravava. A crise estava os passos, saindo do Danúbio, cruzando a Gália e a
intimamente relacionada com os problemas militares. O Espanha e estabelecendo-se na África do Norte. Os fran-
Exército conturbava a ordem na época da sucessão im- cos ocuparam o norte da Gália. Os anglos e saxões inva-
perial. Nessa última fase, o imperador Diocleciano tentou diram a Bretanha (Inglaterra), ocupando as terras baixas.
contornar o problema dividindo o Império em quatro partes Em 476, o Império do Ocidente reduzia-se ao
(tetrarquia). Depois de sua morte, as disputas sucessórias território da Itália. O imperador Júlio Nepos foi deposto
renasceram, pois Constantino reunificou o Império. por Orestes, chefe do Exército, que colocou seu filho de
Outras divisões se verificaram, até a última, deter- 6 anos no trono com o nome de Rômulo Augústulo.
minada por Teodósio, em 395, que criou o Império Ro- Odoacro, rei dos hérulos, chefe bárbaro aliado a Júlio
mano do Ocidente, com sede em Roma, e o Império Nepos, deu um contragolpe: afastou Orestes e Rômulo Au-
Romano do Oriente, com sede em Constantinopla. gústulo, assumindo o título de “rei da Itália”. As insígnias
imperiais foram enviadas a Constantinopla, o que signi-
ficava, ao menos teoricamente, a reunificação do Império.

A divisão do Império Romano, realizada pelo imperador Teodósio, em


395, e a demarcação dos limites, destacando os impérios existentes
nas fronteiras em 450.

Ruínas do Fórum Romano.

Mais tarde, o imperador do Oriente, Zenon, pre-


tendendo livrar-se dos ostrogodos, que lhe causavam
Moeda de Constantino. problemas, concedeu-lhes a Itália. Chefiados por Teo-
dorico, esses bárbaros formaram o último reino ger-
Depois dessa divisão, nunca mais o Império se reu- mânico do Ocidente: o Reino Ostrogótico da Itália.
nificou em sua integridade, pois os bárbaros germâ-
nicos ocuparam a parte ocidental, enquanto o Império
Oriental sobreviveu até a conquista turca de Constan-
4. O grande legado
tinopla, em 1453. A estrutura do Direito Romano influenciou toda a
sociedade ocidental. Seu código de justiça é até hoje a
3. As invasões dos base de todos os códigos de justiça do Ocidente e, por
isso, disciplina obrigatória na formação dos juristas atuais.
bárbaros germânicos As demais ciências não atingiram grande destaque
O golpe final no Império Romano do Ocidente foi na civilização, já que muitas delas, como a Medicina,
desfechado pelos bárbaros germânicos, que começaram permaneceram por muito tempo no campo do folclore.

Bárbaro: designação dada pelos romanos a todos os povos que habitavam além das fronteiras (limites) do Império.

68 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 18/10/2021 22:27 Página 69

A visão que os romanos tinham da sociedade constitui a nossa mola mestra no mundo atual. Afinal, é deles que
herdamos a ideia de família como a célula-mater de toda a organização social.

5. Cronologia
257 a 259: perseguições aos cristãos por Valeriano.
293: estabelecimento da tetrarquia por Diocleciano.
303: início da última perseguição aos cristãos, liderada por Diocleciano.
313 a 337: governo de Constantino Augusto.
313: legalização do cristianismo (Edito de Milão) por Constantino.
324 a 330: construção da cidade de Constantinopla.
325: Concílio de Niceia, estabelecendo, como dogma, que Cristo era Filho de Deus e igual ao Pai.
379 a 395: governo de Teodósio I Augusto, que recebe batismo, tornando-se cristão; oficialização do cristianismo
como religião do Império.
406 a 455: invasão do Império Romano pelos bárbaros e o reinado deles na Europa Ocidental.
410: captura de Roma por Alarico.
476: deposição de Rômulo Augústulo por Odoacro.

Célula-mater: célula-mãe; ponto de partida; embrião.

Exercícios Resolvidos

 (FAAP-MODELO ENEM) – A religião romana era essencialmente Assinale a alternativa que não corresponde ao cristianismo:
politeísta, e o culto ao imperador era de grande significado pelo fator a) São Paulo (Paulo de Tarso) teve papel preponderante na estru-
da unidade que representava. Durante um período determinado, teve turação do pensamento cristão.
início o questionamento dessa ideia. Esse grupo que não reconhecia a b) Através do Edito de Milão, o cristianismo tornou-se a religião oficial
divindade do imperador era dos do Estado romano no século III, durante o governo de Juliano.
a) bárbaros invasores. c) A ascensão do cristianismo em Roma foi lenta. No início, os
b) primeiros cristãos. cristãos foram perseguidos. Somente no século IV, com o
c) bons espíritos familiares. imperador Constantino, a Igreja cristã foi permitida.
d) escravos e estrangeiros. d) Os cristãos foram perseguidos porque a sua fé resultava em
e) judeus vindos da Palestina. desobediência política.
Resolução e) As massas miseráveis convertiam-se ao cristianismo, pois
Os primeiros cristãos eram considerados subversivos e estimulavam esperavam que Cristo, ao retornar ao mundo, as livrasse da
a desobediência civil ao defender que Jesus Cristo era o único Deus. opressão.
Resposta: B Resolução
O Edito de Milão legalizou o cristianismo, encerrando, assim, as
perseguições aos cristãos. A oficialização dessa religião só ocorreu
 (PUC-PR – MODELO ENEM) – “Os cristãos insistiam em que só com o imperador Teodósio e seu Edito de Tessalônica, em 380 d. C.
eles possuíam a verdade e que todas as outras religiões, inclusive as Resposta: B
do Estado, que eram praticadas pelos romanos eram falsas.
Recusavam-se, por exemplo, a cumprir os rituais ligados à figura do
imperador – tais como a queima do incenso diante da estátua.
Afirmavam que tais gestos significavam adorar o imperador como um
deus. (...)”
(Moses Hadas. Roma Imperial. José Olympio, 1969. p. 136.)

HISTÓRIA 69
C1_1A_His_JR_2022.qxp 10/11/2021 10:19 Página 70

Exercícios Propostos

 O que foi o Edito de Milão?  (FAMERP) – A queda do Império Romano do Ocidente foi
provocada, entre outros fatores,
RESOLUÇÃO: a) pela fragilização do poder central, que gradualmente perdeu
Foi o Edito realizado pelo imperador Constantino, que legalizou o o controle das províncias que compunham o Império.
cristianismo no Império, proibindo as perseguições.
b) pelo declínio econômico das colônias asiáticas, que
deixaram de fornecer matérias-primas à capital do Império.
c) pela hegemonia econômico-financeira da Igreja, que passou
a combater militarmente os imperadores pagãos.
d) pelo desenvolvimento militar dos impérios macedônio e
persa, que se tornaram rivais de Roma e a derrotaram.
e) pelas invasões dos bárbaros, que saquearam o Império
Romano e, assim, facilitaram sua conquista pelos hunos.

RESOLUÇÃO:
A partir da anarquia militar que sacudiu o Império entre 235 e 284,
o poderio de Roma entrou em irremediável decadência, inclusive
no plano militar. Entre outros aspectos da crise que debilitou o
chamado “Baixo Império Romano”, destacou-se a carência de
escravos, que reduziu a atividade produtiva e a arrecadação
tributária – fatores que se refletiram na progressiva perda de
poder dos imperadores. Paralelamente, verificou-se uma
penetração cada vez maior de bárbaros germânicos, culminando
com as grandes invasões de 406 e, no limite, com a queda do
Império Romano do Ocidente, em 476.
Resposta: A

 Várias razões explicam as perseguições sofridas pelos


cristãos no Império Romano, entre elas
a) a oposição à religião do Estado Romano e a negação da
origem divina do imperador pelos cristãos.
b) a publicação do Edito de Milão, que impediu a legalização do
cristianismo e alimentou a repressão.
c) a formação de heresias, como a do arianismo, de autoria do
bispo Ário, que negava a natureza divina de Cristo.
d) a organização dos Concílios Ecumênicos, que visavam
promover a definição da doutrina cristã.
e) o fortalecimento do paganismo, conduzido pelo imperador
Teodósio, que mandou martirizar milhares de cristãos.

RESOLUÇÃO:
Para os cristãos, Jesus Cristo era o único Deus e com isso
estimulavam a desobediência civil.
Resposta: A

70 HISTÓRIA
C1_1A_His_JR_2022.qxp 10/11/2021 10:19 Página 71

 Segundo estudiosos da História do Mundo Antigo, as prin-  (UnB – MODELO ENEM – modificada) – Leia o texto
cipais causas da dissolução do Império Romano (27 a. C. a 476 abaixo, extraído de uma carta de Plínio, o Moço, ao imperador
d. C.) foram Trajano, datada de 112 d. C.
a) as sucessivas guerras defensivas contra os espartanos,
interessados em apoderar-se das riquezas minerais de “(...) Nesse ínterim, segui os seguintes procedimentos
Roma, e os efeitos nefastos dos grandes surtos epidêmicos, com relação aos que se me apresentaram como cristãos.
responsáveis pela morte de quarta parte da população. Perguntei-lhes, pessoalmente, se eram cristãos. Aos que
b) as sucessivas guerras imperiais, para as quais eram confessavam, perguntei-lhes duas, três vezes. Os que não
canalizados todos os recursos existentes, embora o Império voltaram atrás foram executados. Qualquer que fosse o
tivesse plenas condições de satisfazer às necessidades sentido da sua fé, sabia que sua pertinácia (perseverança) e
materiais de sua população. obstinação tinham de ser punidas. Outros, possuidores da
c) a estagnação das formas primitivas de produção, baseadas cidadania romana, mantiveram-se na loucura e foram enviados
principalmente no trabalho assalariado, e a consequente para julgamento em Roma (...). Os que negavam serem, ou
incapacidade para satisfazer às necessidades materiais de terem sido cristãos, se evocassem os deuses, segundo a
uma população numerosa. fórmula que lhes ditava, e se sacrificassem, com incenso e
d) a estagnação das formas primitivas de produção, baseadas vinho, diante da sua imagem, que trazia comigo para tanto,
principalmente no trabalho escravo, e a consequente juntamente com estátuas de outras divindades; se, além disso,
incapacidade para satisfazer às necessidades materiais de blasfemassem Cristo – atitudes que, diz-se, não são possíveis
uma população numerosa. de obter de verdadeiros cristãos –, considerei apropriado
e) a estagnação das formas primitivas de produção, baseadas liberar... A questão pareceu-me digna da sua atenção, em parti-
no trabalho semiassalariado, e as consequentes cular devido ao número de envolvidos. Há muita gente, de toda
interrupções das jornadas de trabalho, motivadas pelas idade, condição social, de ambos os sexos, que estão ou
constantes greves dos jornaleiros. estarão em perigo. Não apenas nas cidades, como nos vilarejos
e no campo, expande-se o contágio dessa superstição. Parece-
RESOLUÇÃO: me, entretanto, que se possa delimitá-la e corrigi-la.”
A retração das guerras levou à diminuição do número de escravos (Carta de Plínio, o Moço, ao imperador
e ao encarecimento do custo de vida.
Trajano, de 112 d. C., Cartas (10.96).)
Resposta: D

Com o auxílio das informações contidas no texto, julgue os


seguintes itens.
a) Na época de Trajano, o chamado culto ao imperador já havia
desaparecido por completo do mundo romano.
b) O cristianismo, que se expandia pelo mundo romano no
século II, era uma religião seletiva, admitindo, como
convertidos, somente cidadãos.
c) Plínio mostra como o sacrifício, o culto a imagens e os
rituais com incenso e vinho foram empréstimos culturais
feitos pelo paganismo ao cristianismo.
d) Por ser uma religião oriunda das regiões ocidentais do
Império, o cristianismo era velho conhecido de Trajano, que
nascera na chamada Roma Hispânica.
e) Os cristãos foram perseguidos porque negavam a divindade
do imperador e essa fé resultava em desobediência política.

RESOLUÇÃO:
Trajano, imperador de origem hispânica e que governou Roma de
98 a 117d. C., levou o Império ao máximo de sua extensão
territorial. Recebeu do Senado o título de optimus princeps pela
excelente administração que realizara. No período de seu
governo, ocorreu grande perseguição aos cristãos, considerados
por muitos romanos – incluindo Plínio, o moço – perversores dos
tradicionais costumes romanos.
Resposta: E

HISTÓRIA 71
C1_1A_His_JR_2022.qxp 10/11/2021 10:19 Página 72

 (UFSCar) – Na época do imperador Constantino (274-337),  (MACKENZIE) – A crise do Império Romano ganhou
havia cerca de 800 mil habitantes em Roma. Em meados do visibilidade a partir do século III. Assinale a alternativa correta a
século V, a população da cidade foi reduzida a 300 mil pessoas. respeito dos aspectos característicos dessa crise.
a) O excedente de mão-de-obra escrava, que pesava sobre os
O principal fator desta redução na população romana foi custos de produção, não era acompanhado pelo aumento da
a) a Guerra do Peloponeso. produtividade.
b) a revolta de escravos, como a de Spartacus. b) O elevado custo de manutenção da máquina burocrática e
c) a invasão dos povos bárbaros. do exército, que asfixiava as finanças do Império.
d) as Guerras Persas. c) O enfraquecimento do Cristianismo, diante da incompati-
e) as Guerras Púnicas. bilidade entre as suas ideias e as necessidades do povo
romano.
RESOLUÇÃO: d) O choque entre patrícios e plebeus, estes últimos exigindo
Alternativa escolhida por exclusão, pois as invasões bárbaras cidadania e representação política.
foram um fator conjuntural, o qual apenas acentuou o aspecto
estrutural do êxodo urbano e da ruralização, sofridos pelo
e) A ocorrência das Guerras Púnicas, que fragilizaram as
Império Romano a partir da crise da mão de obra escrava. Note- fronteiras e permitiram invasões bárbaras e exauriram os
se que o primeiro saque de Roma, realizado pelos visigodos, cofres públicos.
ocorreu em 410.
Resposta: C RESOLUÇÃO:
Alternativa escolhida por eliminação, pois reduz a crise do
Império Romano a uma questão meramente burocrático-militar,
quando seus fatores determinantes são na verdade muito mais
amplos e profundos – entre eles, a anarquia de 235-84, a cessação
das guerras de conquista e sobretudo a diminuição da mão de
obra escrava.
Resposta: B

72 HISTÓRIA

Você também pode gostar