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HISTÓRIA ANTIGA ORIENTAL

AS ORIGENS DA CIVILIZAÇÃO E DO ESTADO

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Olá!
Ao final desta aula, o aluno será capaz de:

1. Identificar os conceitos relacionados à História Antiga Oriental; 2. reconhecer as dificuldades em estudar este

período; 3. relacionar a organização das sociedades humanas e o estudo histórico sobre elas.

Bons estudos!

1. Conceito
Nesta primeira aula, estaremos discutindo a construção da disciplina. Devemos nos perguntar o porquê de

estudar História antiga e como estudá-la, o que é oriente, quando começa a história, enfim, é o momento de

perguntas, de construir as bases para podermos trabalhar o nosso curso. Para começar, é absolutamente

fundamental definir alguns conceitos. Mas, o que é um conceito?


• Conceito é a exposição teórica de uma ideia presente na sociedade. Exemplo: se peço para você
conceituar cultura, não desejo saber sobre a influência da cultura na sua vida ou como ela é importante ao
homem.

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Figura 1 - Pensando sobre Conceito

A pergunta anterior versa de maneira direta sobre a definição de conceito, de forma que nos permite

compreender o que é cultura. Veja um exemplo da história antiga. Antes, pare e pense um pouco! Temos

escravidão na História Antiga?

A resposta é sim. Mas, só se entender escravidão como um conceito, quer dizer, um sistema de trabalho que

impõe ao submetido um regime compulsório. Poderia usar, por exemplo, o termo em grego doloi, mas, como

muito bem salienta Finley, um dos maiores historiadores antigos em seu livro O Uso e o Abuso da História

Antiga, quando eu explicasse que doloi era um grupo social que vivia sob um regime de trabalho compulsório em

que seus senhores poderiam, por exemplo, ter direito sobre sua vida ou morte. O que viria na cabeça do aluno?

Escravo. Então, perde o sentido conceituar de maneira diferente.

Um aspecto nesse ponto é fundamental: os conceitos são inscritos no tempo. Podemos utilizá-los como

referência, mas seu entendimento passará necessariamente por sua explicação no meio social.

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Figura 2 - Trabalho escravo

2. O conceito de Oriente
Seguindo a busca dos conceitos, devemos entender o que é Oriente. Poderíamos entendê-lo somente como uma

divisão geográfica? Em termos geográficos, a divisão entre Ocidente e Oriente é proveniente do mapa de fusos

horários.

Figura 3 - Mapa de fusos

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Como podemos observar na Mapa de Fusos, a divisão de Ocidente e Oriente estaria em Oº. O Meridiano em

questão passa pela Inglaterra e divide, par exemplo, áreas como a França e Espanha em Oriente e Ocidente. A

Itália, por exemplo, é Oriente. Não soa estranho? E parque o marco que está sendo utilizado não tem

características históricas ou sociais, é um elemento geográfico contemporâneo e esvazia a noção de Oriente e

Ocidente.

Poderíamos utilizar uma separação cultural. Nesta, Oriente é tudo aquilo que é representada pelo capitalismo, a

religião cristã e a língua latina. Oriente seriam especialmente muçulmanos, hindus e culturas do extremo oriente.

Não é uma divisão estranha aos nossos olhos, talvez seja até bastante comum, mas historicamente não podemos

pensá-la como circunscrita ao nosso tempo.

Vamos um pouco para trás: o mundo após a II Guerra Mundial viveu uma separação político ideológica, dividida

em países capitalistas e socialistas. Naquele momento, muito se usava o termo "Cortina de Ferro" para marcar o

limite das forças capitalistas e socialistas na Europa, representado especialmente pela divisão da Alemanha e o

muro construído em Berlim. Se naquele momento perguntássemos a qualquer pessoa minimamente esclarecida

onde está o Ocidente e o Oriente, a explicação seria dada sob a perspectiva do momento.

Fique ligado
Da mesma forma, devemos entender a divisão na antiguidade entre Ocidente e Oriente e o que
caracteriza cada um deles. De um lado, temos sociedades consideradas berço da humanidade:
Egito e Mesopotâmia em especial. Do outro, a ideia do que é ser ocidental, certo orgulho de
culturas como a grega e a romana, como se todos nós representássemos esses grupos.

O olhar que desejamos é um olhar que fuja dessa dicotomia, desse dualismo. Entende-se Oriente como um

espaço de poder caracterizado pela organização de importantes civilizações e como suas práticas constroem e

influenciam o mundo conhecido. Precisamos construir um olhar crítico, que não veja as pirâmides com uma

mostra de como esses povos eram avançados, mas uma sociedade à qual possamos entender, discutir, que nos

permita refletir melhor sobre nossa própria sociedade.

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Figura 4 - Divisão dos espaços

O mapa acima apresenta a divisão de alguns dos espaços que trabalharemos neste curso que são:

Ponto Rosa

O chamado Oriente Próximo, áreas diretamente relacionadas ao Mediterrâneo e que tiveram ao longo de sua

história uma grande influência por conta das rotas comerciais desse importante mar.

Ponto Roxo

As áreas em roxo fazem referência ao Oriente Médio, uma área que teve um desenvolvimento em paralelo aos

espaços indo-europeus. São assim caracterizadas as áreas do limite do Egito com a Ásia, parte da Anatólia (atual

Turquia oriental), península arábica e as áreas da Mesopotâmia mais à direita. As áreas em roxo são

normalmente caracterizadas como o "Crescente Fértil”, região à qual muitos autores determinam como local de

início da história.

Ponto vermelho

As regiões em vermelho e verde são áreas do extremo Oriente que infelizmente não estudaremos neste curso por

uma questão de tempo.

3. História antiga: como estudar?


Primeiro é necessário pensar nesta periodização: o que é história antiga? O que é algo antigo? De onde surge

uma ideia como essa? Como já conversamos, as coisas não são criadas ao acaso, em especial, uma divisão de

tempo como a que utilizamos não é um acidente. Vamos lembrar que A linha tradicional do tempo mostra que,

do surgimento da escrita (a maioria por cerca de 3.000 a. C.) ao fim do Império Romano do Ocidente - Séc. V d.C.:

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a. A Idade Média seria do século V ao XV;

b. A Idade Moderna, do XVI ao XVIII;

c. A Idade Contemporânea, do XIX ao XXI).

Por essa conta, em que idade nós estamos? Contemporânea, certo? Sim e não.

e formos ao limite do conceito, todo homem é contemporâneo ao seu tempo, vive sua própria época. Mas, se

adotarmos os modelos existentes, pode acontecer um congresso daqui a 20 anos que determine que tenhamos

vivido uma idade de nome diverso. Isso vai alterar quem nós somos.

Cada homem é filho de seu próprio tempo e os marcos são escolhidos como não naturais ou inquestionáveis.

Partindo desse pensamento, observamos ainda brevemente o nome dado às Idades: Antiga, Média, Moderna e

Contemporânea.

A que esses nomes nos remetem? Algo que passou, um período intermediário, o homem melhorando, se

tornando moderno para chegar nos dias de hoje. Essa proposta surge no século XVII, época em que a Europa

vivia um importante movimento intelectual chamado Iluminismo. Nele, havia a preocupação em marcar que o

homem vivia um momento especial, a era da razão e da capacidade do homem.

Na busca de uma afirmação nesse sentido, procura-se negar o período imediatamente anterior: assim, a Idade

Média será caracterizada pelas trevas para a razão chegar e lhe oferecer a iluminação.

A antiguidade, então, é o período em que o homem sai de sua condição animalesca e inferior para construir uma

grande sociedade. O homem tem um tombo, uma falha, para atingir seu auge no período moderno. Devemos

acreditar nisso? Definitivamente, não! Então, por que continuamos usando esses marcos? A resposta está em

entendê-los como didáticos, uma forma de dividir e entender o mundo, mas sem acreditar que os períodos tem

uma sucessão marcada.

É impossível determinar quando começa ou termina um período. Vivemos em quadros constantes de transições,

nos quais as sociedades têm continuidades e rupturas ao longo de sua existência.

A História Antiga é toda a história antes do fim do Império Romano. Caros, estamos falando de milhares de anos,

milhares de sociedades, práticas que precisam fugir das tradições eurocentristas, mas que marcaram as as

sociedades Ocidentais.

Durante muito tempo, a resposta seria sim. Hoje, apesar de entender a importância da escrita cuneiforme,

trabalhamos de maneira mais complexa. A tradição nos faz responder à questão, mostrando-nos que foi durante

a organização dos sumérios na mesopotâmia, com o estabelecimento da escrita cuneiforme. Então, tudo o que

não é escrito não é história.

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Figura 5 - Vamos pensar!

4. Mas, e agora? Quando começa a história?


Toda e qualquer sociedade possui patrimônios, organizações, culturas que nos permite quebrar a ideia de um

evolucionismo para pensar que as sociedades são complexas. As formas de escrita são sempre muitíssimo

inferiores em quantidade aos relatos e tradições orais. Assim, não pretendemos utilizar as noções de pré-história

e história, mas sim como as sociedades humanas se transformaram desde o aparecimento dos homo sapiens no

continente africano há 100.000 anos. Para facilitar a observação do quão as práticas são complexas, separamos

um quadro que mostra a evolução das sociedades humanas.

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Figura 6 - A evolução da Sociedades

Depois de ver o quadro, percebe-se que existe a falta de mais informações sobre a América e a África, o que não

significa imobilismo, mas sim falta de investimento em arqueologia, que atualmente vem crescendo e

modificando essas visões (vide a descoberta de Luzia em Minas Gerais e o estudo da expansão de bantos e os

contatos com organizações diversas no espaço africano). Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos

entender o que isso significou para as sociedades humanas.

Quando falamos em revolução do neolítico, precisamos entender o que isso significou para as sociedades

humanas. O termo neolítico se refere ao uso de novos materiais pelas sociedades humanas. Na suas organizações

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tradicionais, o homem se organizava em pequenos grupos, de característica nômade, e eram caçadores e

coletores.

Há cerca de 10.000 anos, vários grupos ao redor do mundo iniciaram o cultivo, primeiro de algumas gramíneas e

a domesticação de animais. Esse esforço inicial de agricultura e pecuária permitiu o assentamento do homem

por períodos maiores. Mais do que isso, o desenvolvimento da agricultura permitiu o aumento da natalidade e a

organização de grupos maiores.

Figura 7 - O mundo

Segundo Gwendolyn Leick, Mesopotâmia, o nascimento das cidades, o grande marco de transformação da

sociedade humana, é a passagem de estruturas nômades e seminômades para sociedades de característica

sedentárias. Com maior número de pessoas, as sociedades buscaram melhorias, em especial do controle da água,

condição fundamental para organização humana. Notamos pela tabela de desenvolvimento que os espaços

tenderam a crescer para as áreas que se manifestaram mais férteis, como Delta do Nilo, Mesopotâmia, Rio

Amarelo, dentre outras.

Como podemos observar, a organização de cidades se hierarquiza a sociedade, sofistica suas relações, estrutura

novas regras, sofistica explicações religiosas, justifica organizações políticas, herarquizam o trabalho e o poder.

Fique ligado
Atenção! Cuidado para não transformar a criação das cidades em um sistema de exaltação do

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Atenção! Cuidado para não transformar a criação das cidades em um sistema de exaltação do
homem. Esse modelo de organização também traz outros problemas às sociedades humanas,
como o desenvolvimento de doenças, epidemias. Do contato constante com os animais, os
humanos acabam trazendo uma série de doenças. Uma cidade tende-se a estar mais exposta
aos dejetos, à sujeira do que o campo. Não é uma ideia evolucionista, mas de constante
transformação.

O que vamos aprender na próxima aula:

• As dificuldades materiais do estudo de História Antiga;

• a busca da Mesopotâmia: um trajeto arqueológico;

• os sumérios e a periodização da Mesopotâmia antiga.

CONCLUSÃO
Nesta unidade, você teve a oportunidade de:

Nesta aula, você:


• Compreender que Oriente e Ocidente não é uma divisão puramente geográfica e que a história
transforma sua visão;
• Aprender que a divisão do tempo histórico é uma "invenção" e não um elemento natural, assim, a
transição é um elemento constante em nossas práticas sociais;
• Analisar a formação da sociedade como um fator importante para o entendimento da história antiga

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