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AULA 2
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1.2 Educação na antiguidade
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No tópico seguinte, trataremos um pouco mais da educação na última
etapa do que consideramos como Sociedade Antiga, ao tratarmos das
sociedades escravagistas das relações entre educação e trabalho nelas.
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filhos dos ricos comerciantes. Porém, por ser uma sociedade patriarcal, há
distinção entre a educação destinada aos homens e às mulheres. Enquanto aos
homens eram destinados a educação para o viver publicamente, às mulheres a
educação tinha por objetivo formar para os afazeres domésticos.
Na Grécia Antiga, duas cidades-estados rivalizavam não somente pelo
poder geopolítico, mas pelo modelo de sociedade adotado. Enquanto Esparta
era militarista, Atenas estava mais voltada para as atividades comerciais,
políticas e culturais. Em comum, o fato de o Estado assumir a educação das
crianças a partir dos sete anos. Se em Esparta a educação militar acontecia a
partir dos 12 anos, em Atenas havia uma divisão um pouco mais complexa.
Enquanto a menina permanece no gineceu, o menino será alfabetizado, fará
educação física e musical. A educação estava dividida em três etapas:
elementar, onde aprenderá leitura e escrita; secundária, destinada aos filhos das
famílias nobres, onde terá educação física, musical e literária, e, após os 16
anos, receberá a educação militar; e superior que, com abolição do serviço
militar, aprendem filosofia e literatura.
Já na sociedade romana, a formação é pragmática e voltada para
aspectos do cotidiano. Da mesma forma que a grega, a educação da menina é
diferente da do menino. No seu surgimento, tinha por objetivo perpetuar os
valores patrícios. Assim, o menino aprendia a ler, escrever, contar, manejar
armas e lutar. Na República, as escolas elementares ensinavam a ler e escrever.
O contato com os gregos leva a uma educação literária. Durante o Império, a
educação torna-se burocratizada e tinha por formar sujeitos para administrar o
Império. É nessa época que o Estado assume o controle da educação.
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a uma minoria da sociedade e, ainda assim, destinada à formação religiosa. Já
o povo era educado por meio das cerimônias religiosas e a arte sacra das igrejas.
Carlos Magno, no final do século VIII, havia conseguido reunificar parte
do Império romano do Ocidente. Como forma de retomar os valores culturais
latinos, construiu escolas objetivando retomar a literatura e as artes liberais.
Essas escolas ficaram conhecidas como escolas palatinas, assim chamadas por
se localizarem junto à corte e ao palácio real. O objetivo era instruir os leigos nas
setes artes liberais: o Trivium, constituído de gramática, retórica e dialética, e o
Quadrivium, geometria, aritmética, astronomia e música.
Ao longo da Idade Média, também, podemos falar de três outras formas
de escolas, mais voltadas para a vida religiosa ou atender os ofícios da Igreja
Católica: as escolas catedrais, monacais e paroquiais. As primeiras tinham por
função principal a formação de corais para as igrejas. As segundas tinham por
objetivo, inicialmente, a formação de monges. Mais tarde, abriram-se para a
educação dos filhos de reis e altos funcionários das cortes. Já as escolas
paroquiais eram dirigidas por sacerdotes dessas paroquias e tinha por objetivo
a formação religiosa, com base na Bíblia.
A partir dos séculos X e XI, a Europa central passará por uma série de
transformações, fruto das Cruzadas iniciadas no mesmo período que, de
expedições militares e religiosas, transformaram-se em expedições comerciais e
cultural. Com isso, provocará o renascimento das cidades e do comércio. Nesse
contexto, as escolas seculares passaram a ter uma maior importância,
principalmente pela atuação da classe social que começa a emergir e vê na
educação uma forma de consolidar seus negócios e seu status social. As filhas
da nobreza aprendiam a ler, escrever, realizar trabalhos manuais e as artes
liberais. Já nos mosteiros, as meninas recebiam uma educação mais
aprofundada.
Por outro lado, os meninos, quase sempre, recebiam a formação nas
corporações de ofício. O menino era encarregado a um mestre de ofício e este
ensinaria a profissão, o alimentaria, hospedaria e educaria. Em troca, o menino
aprendiz ajudava na oficina. Após um determinado tempo e, dependendo da
idade e dos conhecimentos adquiridos, poderia prestar uma prova pública
perante outros mestres de ofício e, se aprovado, estabelecer sua própria oficina.
Outra alternativa de formação era a militar.
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O renascimento comercial e urbano da Idade Média na Europa Central
marca, também, o surgimento das primeiras universidades europeias: Bolonha,
Oxford (XI) e Paris (XII) são as primeiras a aparecerem. A estrutura de ensino
das primeiras universidades tem uma forte influência romana, bem como da
educação praticada nos mosteiros pelas ordens religiosas. O Trivium e
Quadrivium eram a base dos programas e inicialmente atendiam mais aos
interesses de formação mercantil, dada a influência da burguesia mercantil
nascente. Além disso, formavam para a atuação em Direito e Medicina. Além
disso, também havia a formação religiosa em cursos de Teologia.
Já o servo por conta de sua condição social é analfabeto pois o que
interessava aos senhores feudais, sejam nobres ou o clero, é que apenas
trabalhasse. Desta forma, qualquer formação escolar era entendida como sendo
desnecessária.
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a divisão entre trabalho manual e intelectual seja reafirmada e o segundo
valorizado em detrimento do primeiro.
A produção artesanal começa a ser substituída pelas primeiras
manufaturas, que deram origem às primeiras fábricas. O artesão começa a ser
expropriado de seu saber e, aos poucos, assim como os camponeses que vão
sendo expulsos aos poucos do campo, constituirão a mão-de-obra assalariada
que se aglomerará nos bairros operários ao redor das fábricas que vão surgindo
nos séculos XVIII e XIX. Sobre esse processo de expropriação é interessante
nos determos um pouco, pois algumas dessas transformações terão relação com
a educação que vai surgindo com a nova sociedade e seus propósitos.
No trabalho artesanal, o mestre de ofício, além de deter todo o
conhecimento necessário para o exercício de sua profissão, era dono de seu
tempo e do local de trabalho; das ferramentas utilizadas no exercício de sua
profissão, bem como dos resultados de seu trabalho. Além disso, era ele quem
qualificava os futuros profissionais de um determinado ofício. Porém, com o
surgimento do trabalho assalariado, o operário não domina mais todo o processo
produtivo, não é dono de seu tempo, nem das ferramentas que utiliza para
trabalhar, muito menos do resultado de seu trabalho. É dono apenas de sua força
de trabalho, que a vende a um terceiro em troca de um pagamento que é bem
inferior ao que produz.
Para essa nova organização econômica, social e política que surge, é
necessária a formação de novos sujeitos. Nos primeiros séculos da era moderna
e surgimento da era contemporânea, acontecerá a passagem de uma escola
tradicional ainda inspirada, de certa forma, nos valores escolásticos, para uma
escola ainda tradicional, mas que já anuncia alguns ares de modernidade. Assim
é que vemos o nascimento dos primeiros colégios leigos e que tinham por
objetivo educar os filhos da pequena nobreza e da burguesia nascente. A
disciplina rigorosa e os castigos físicos ainda estarão presentes, ainda que
surjam propostas em sentido contrário. É o caso, por exemplo, do educador
suíço Johann Heinrich Pestalozzi (XVIII), que defendia o amor e os afetos como
ingredientes fundamentais no processo ensino-aprendizagem. O currículo é
composto pelo Trivium e Quadrivium. O Latim é a língua ainda oficial nas escolas
e há um certo desprezo pelas línguas maternas. Algo que aos poucos irá mudar,
a partir do momento em que surgem as primeiras críticas à escola tradicional.
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Vale lembrar que, com a Reforma Protestante iniciada com Martin Lutero,
a valorização das línguas nacionais havia sido iniciada. Porém, ainda levará mais
alguns anos até a consolidação dessa nova mentalidade. Aliás, até mesma na
educação Lutero revolucionava. Ele já propunha uma escola para todas, mas
ainda dualista: uma escola para os filhos dos trabalhadores, com uma educação
básica e, uma outra para os filhos dos nobres e burgueses, com o ensino de
caráter propedêutico e universitário. A educação, no entanto, deveria ser
universal e pública. Ao mesmo tempo, condenava os castigos físicos e o
verbalismo.
Por outro lado, a Ratio Studiorum será o contraponto ao protestantismo
na educação. Dividindo o estudo em Studia Inferiora – gramática, humanidades
e retórica (3 anos) e Studia Superiora – Teologia e ciências sagradas (4 anos) –
a Ratio Studiorum ainda propunha um ensino tradicional e próximo do que fora
a escolástica. Tanto que o Latim era a língua oficial e as obras greco-latinas eram
obrigatórias.
Por outro lado, novas ideias vinham propor a atualização da educação. É
o caso, por exemplo, do empirismo lockeano que, fazendo o contraponto ao
idealismo cartesiano, bem como à filosofia escolástica, passa a influenciar a
educação. Um exemplo dessas novas ideias na educação é a Didática Magna
de João Amós Comenius (XVII). Nela propõe-se uma síntese duas ideias
epistemológicas predominantes no nascimento da era moderna: o idealismo
cartesiano e o empirismo lockeano: se há um método para conhecer, há um
método para ensinar e, a experiência é o caminho para ensinar-aprender.
Da mesma forma, na nova educação, há o incentivo para a instrução das
mulheres. No entanto, para além do básico, somente para aquelas que
demonstrarem excepcionalidade.
Nesse período, outros pensadores refletem sobre a educação do cidadão
e de como essa deveria ser. É o caso, por exemplo, de Jean-Jacques Rousseau
que, partindo da ideia de uma bondade original do ser humano, propõe uma
educação que preserve essa bondade original. Da mesma forma, Immanuel Kant
defende a educação como forma de se alcançar a maioridade por meio do
esclarecimento.
Outras ideias que são defendidas nesse período são: a educação como
responsabilidade do Estado, a obrigatoriedade e gratuidade do ensino básico. O
contexto é o do nascimento das indústrias e essas precisam de mão de obra
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disciplinada e qualificada. Cabe, portanto, à escola educar e disciplinar essa
mão-de-obra. Um dos pensadores do século XX que realizam um excelente
estudo de como as escolas cumpriram esse papel foi Michel Foucault na obra
Vigiar e Punir. Nela, Foucault analisa de que maneira a escola contribuiu para o
processo de docilização dos corpos com vistas a educá-lo para as necessidades
do novo sistema produtivo que se consolidava.
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Já o coletivismo cultural é uma concepção filosófica, política e econômica
que foi defendida por diferentes sociedades e em diferentes épocas. Nessa
perspectiva, a ideia de coletivismo é intencionalmente proposta. Enquanto no
coletivismo natural o mesmo acontece de forma espontânea, o cultural é
sistematicamente pensado. Como fundamento disso, há uma ideologia1 que lhe
dá suporte. No entanto, ainda que possamos identificar a ideia de igualitarismo
nos sistemas coletivistas, ao longo da história tivemos algumas propostas até
certo ponto coletivistas também se fundamentavam em ideologias políticas
autoritárias e fascistas. É o caso, por exemplo, do nazifascismo e do stalinismo.
Desta forma, podemos falar de um coletivismo que se orienta numa perspectiva
vertical e, nesse caso, propõem ou são propostos por sociedades extremamente
autoritárias, e de uma perspectiva horizontal, onde a ideia de equidade e
autogestão são as bases ideológicas sobre as se assentam.
Ao longo da história humana, podemos identificar algumas experiências
coletivistas, tanto espontâneas como pensadas intencionalmente. Na
Antiguidade, por exemplo, pelos estudos arqueológicos, podemos falar de
sociedades coletivistas entre os primeiros seres humanos. Porém, nessas
mesmas sociedades, por exemplo, já estava presente a divisão sexual do
trabalho, ainda que todos os indivíduos trabalhassem para que todos pudessem
se beneficiar. Mais recentemente, identificamos propostas já com
intencionalidade filosófica e política, tais como o Anarquismo, o Socialismo, o
Comunismo e a Democracia. Ainda que possamos identificar alguns problemas
nessa proposta de sociedade, como nos referimos anteriormente, por exemplo,
nas propostas dos regimes totalitários e regimes nacionalistas. Da mesma forma,
um outro problema que podemos problematizar é a relação indivíduo-sociedade,
onde está supervalorizada e superdimensionada em detrimento daquele. Na
ótica liberal, por exemplo, o coletivismo sufoca a individualidade. Outra linha de
reflexão é a realizada pela ótica socialista, para quem o capitalismo é um
coletivismo disfarçado de sistema de indivíduos livres. Da mesma forma, tanto
os ideólogos do capitalismo como do socialismo criticam que as sociedades
coletivistas são nacionalistas, autoritárias e totalitárias.
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Por ideologia não tomamos, necessariamente, algo bom ou ruim, mas, como um conjunto de
ideias que orientam/justificam/legitimam as ações de pessoas e/ou grupos numa determinada
sociedade e/ou momento histórico.
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Mas como a educação é pensada nessas sociedades e de que maneira
essa vincula-se com o mundo do trabalho?
Na antiguidade, da mesma forma que as atividades econômicas
organizavam-se a partir da ideia colaborativa, a aprendizagem dava-se por
imitação, acontecia de forma não intencional/formal e as aprendizagens eram
sempre práticas.
Nas experiências comunistas, por exemplo, pelo fato de ser uma proposta
de sociedade coletivista, propunha-se que as possibilidades fossem iguais para
todos os indivíduos dessa mesma sociedade, tendo a Ciência como orientadora
e buscando a superação das dificuldades na relação prática-teoria-prática. Da
mesma forma, quanto à educação, a proposta era a politécnica – com uma clara
vinculação com o trabalho produtivo.
Da mesma forma, os intelectuais e defensores do anarquismo também
propõem uma educação tanto para a formação por meio de valores humanistas,
como, também, vinculada ao mundo do trabalho. Inspirados pelas ideias
libertárias de Francisco Ferrer y Guardia, os anarquistas fundaram várias
Escolas Modernas em São Paulo, Rio de Janeiro, Bahia, Pará, Rio Grande do
Sul e Ceará já no início do século XX. Porém, cerca de 20 anos depois, já sob o
governo de Arthur Bernardes, as Escolas Modernas foram cassadas.
NA PRÁTICA
FINALIZANDO
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o trabalho e a educação ao longo da história, percorrendo os principais períodos
da história da humanidade, destacando alguns pontos que consideramos
relevantes para o nosso estudo. Dessa forma, começamos pela antiguidade,
passando pelas sociedades escravagistas, as sociedades de servilismo, as
sociedades assalariadas e as sociedades coletivistas. Não tínhamos por objetivo
tratar de forma exaustiva, mas indicar alguns tópicos de reflexões que merecem
ser aprofundados como forma de compreender as relações entre educação e
trabalho ao longo da história e das sociedades.
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REFERÊNCIAS
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