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ISERJ – INSTITUTO SUPERIOR DE EDUCAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO I – NOTURNO

CAMILA DANIELA DO ROSÁRIO

RESUMO

INTRODUÇÃO

1. Somos feitos de tempo

Somos seres históricos, com o tempo mudamos como indivíduos e coletivamente dentro
de uma cultura. Nosso presente é definido tanto pelo nosso passado quanto pelos nossos
planos para o futuro, e o resgate ao passado o torna sempre vivo enquanto enraíza o presente.
Esse devir coloca nossa “condição humana” sempre em movimento e se relacionada com o
contexto das relações histórico- sociais que estamos inseridos.

Assim, a história da educação tem como estudo as formas como a cultura é transmitida e
as instituições escolares e teorias envolvidas. Por isso uma compreensão crítica de
continuidade e rupturas históricas torna o educador mais consciente. Agora, os modos de
compreender a história nem sempre foram os mesmo.

2. A história da história

A história relata o passado transformado pelo indivíduo no tempo, selecionando fatos


relevantes e interpretando-os. Esses métodos de interpretação dos fatos históricos variaram
conforme o tempo e a cultura.

As antigas concepções de história

Os povos tribais relacionam o passado e as origens ao sagrado (mitos e deuses) recontados


gestualmente em rituais. Em sociedades mais complexas o pensamento mítico passou a ser
transmitido através da oralidade.

Na Grécia antiga (segundo milênio a.C.), Homero relatou na Ilíada a Guerra de Troia e na
Odisseia o retorno de Ulisses a Ítaca. As influências míticas de deuses sobre os heróis são
referidas, por isso os relatos não são considerados propriamente históricos como conhecemos
hoje. Com o surgimento da Filosofia, também na Grécia no século VI a.C., a interpretações
racional reflexiva sobre os fatos se sobrepõe à religiosa. Ainda assim, até a Idade Média
permanece uma visão filosófica estática do mundo, ao lado da mudança existe uma essência,
um estado de permanência, como no caso de Platão e Aristóteles (IV a.C.).
Heródoto aplicou o termo grego historiê, que significava “investigação”, em seus textos
para relevar a importância do passado e dos motivos que alteram o mesmo. Abordou também
temas como a mudança e o tempo, sendo considerado o “pai da História”.

Seguiu-se a partir da daí o modelo da história “mestra da vida” com figuras modelos para
a conduta política, moral ou religiosa, que permite a mudança. Mas até a Idade Média
prevaleceu a busca de uma universalidade estática e da distanciação da história em relação à
ciência já que os fatos muitas vezes se aproximavam da imaginação. Outra tendência de
compreensão da história, que serviu de base a Políbio (séc. II a.C.) explicar a política, é a cíclica
onde os fatos históricos progridem retornando às origens.

História moderna e contemporânea

Nas mudanças da modernidade no século XVII como a revolução burguesa e a


Revolução Industrial desenvolvendo a ciência e a técnica, o estudo da história consolida-se no
período do Iluminismo no século XVII. A teoria cíclica é substituída pela linear com causa e
efeito gerando a noção de progresso, presente na teoria positivista de Comte (1798-1857) que,
inaugurando a sociologia, tratava cientificamente dos fatos sociais os quais deveriam se dar do
embrionário ao “estado positivo” no sentido de aperfeiçoamento. No contexto do
determinismo, as ciências humanas se aproximam das ciências da natureza. Esse pensamento
influencia historiadores do final do século XIX e do início do século XX no sentido do rigor
científico, com a verificação de fontes e precisão cronológica.

Hegel (1770-1831) inova a partir do pensamento da história como um processo


contraditório dialético, ocorrendo em três etapas: tese (afirmação), antítese (negação) e
síntese (superação da contradição entre tese e antítese). A partir dai resulta uma nova tese,
que também vai ser analisada dialeticamente e assim por diante. Apropriando-se dessa
concepção dialética Marx (1818-1883) a contrapõe com o materialismo histórico, onde para
além da Ideia influi sobre a história fatores materiais, econômicos, técnicos e a luta de classes.
Assim, o motor da história não está nos heróis e na imaginação, mas na forma de produzir
bens materiais necessários, apontando o conflito de interesse dos proprietários (capitalistas) e
não proprietários (proletários) dos meios de produção, como na Antiguidade as relações entre
senhor e escravo, e na Idade Média entre senhor feudal e servo. Para Marx a educação está a
serviço da classe dominante o que explica a teoria da exclusão do proletariado à cultura a fim
de silencia-lo.

No final do século XIX, surgiram teorias contraditórias a positivista em relação ao


progresso e as hipóteses dos fatos históricos e como são “construídas”. Um exemplo é o caso
da “paz romana” que foi imposta pela força, onde o progresso está atrelado à violência, à
barbárie. A partir de 1929 começou o movimento Escola dos Anais onde historiadores de
diferentes correntes coexistiram buscando relacionar a história a outras ciências sociais
(psicologia, antropologia) e rever metodologias historiográficas, como a marxista, fazendo
ligações desde a economia até aspectos cotidianos dos indivíduos. Nas décadas de 1980 e
1990 alguns autores começam a defender a história como um gênero literário, uma forma de
linguagem. Atualmente continuam perguntas em relação à metodologia e aos aspectos
filosóficos do estudo do historiador (o que, como e porque) e essa diversidade metodológica
deve ser vista como um esforço para um maior rigor científico. É preciso também uma postura
crítica em relação à orientação epistemológica do pesquisador.

3. História da Educação

A história da educação está interligada aos fatos políticos e sociais, fazendo parte da
lógica do poder. É um campo de estudo recente (século XIX) com as mesmas dificuldades
metodológicas do estudo de história geral, onde existe mais conhecimento sobre as doutrinas
pedagógicas do que sobre as práticas, principalmente no Brasil. É recente também os cursos
na área de educação e só em 1930 a matéria história da educação começa a fazer parte da
grade curricular. Com o curso superior, monografias e teses passam a ser elaboradas
cientificamente. A partir de 1950, na USP, começa um levantamento através de documentos
analisando o sistema publico de ensino de forma empírica e dando a historia da educação uma
identidade brasileira. Durante o período da ditadura militar, escolas experimentais e centros
de pesquisas foram fechados, causando danos a educação brasileira. Durante as décadas de
1980 e 1990, centros regionais e congressos nacionais incrementam a produção cientifica,
publicada pelo mercado editorial.

Conclusão

Podemos dizer então, que a história da educação tem a função de docência, disciplina
de um curso para entender os caminhos já percorridos pela educação e como devem se
desenrolar as mudanças necessárias. Outra função é a da pesquisa científica que se dá através
da interpretação crítica de fontes. Essas funções devem convergir para uma consciência
política a fim de uma melhoria da gestão que define a qualidade e abrangência da educação
publica. Segundo Saviani (I Congresso Brasileiro de História da Educação no Rio de Janeiro em
2000) “com a percepção da dimensão histórica dos problemas enfrentados, não apenas
manter e deixar disponível o registro de informações, mas alertar os responsáveis pelos rumos
da educação no país trazendo à baila, nos momentos oportunos, as informações que, por
oficio eles detêm”.

Leituras complementares

O trabalho do historiador – Verbete “Anais (Escola dos)” redigido por André Burqueière in
Dicionpario das Ciências Históricas, 1993.

Os Anais propõem uma problematização e renovação dos métodos de estudo,


possibilitando um despertar e uma libertação da forma erudita de organização cronológica.
Existe uma relação dinâmica entre passado e presente, onde as perguntas que se fazem tem
uma importância qualitativa na elaboração científica, que converge a tradição erudita e a
investigação de fontes inexploradas antes e suas interrogações.
Pra que a história da educação? – António Nóvoa, Apresentação da coleção dos livros de
Maria Stephanou e Maria Helena Camera Bastos, Histórias e memórias da educação no
Brasil, 2005.

1 – Para cultivar um saudável ceticismo: consciência crítica em relação ao encantamento com a


novidade.

2 – Para compreender a lógica das identidades múltiplas: circulação de ideias e conceitos (de
identidades locais, étnicas, culturais ou religiosas) sem orientação, a história vem ajudar
elucidar esse processo e dar sentido.

3 – Para pensar os indivíduos como produtores de histórias: o passado é fabricado todos os


dias por nós

4 – Para explicar que não há mudança sem história: lidamos com a experiência e a produção
de memória e devemos elucidar às falsas mudanças que repetem erros passados com ações
vestidas de progresso.

CAPÍTULO 1

Comunidades tribais: a educação difusa

Antes da escrita a história dos mitos e ritos era transmitida oralmente, portanto numa
visão simplificadora, a vida tribal é classificada como “pré-histórica”, período longo que
predominava a sobrevivência humana. Devemos lembrar que não há generalização desse
período em relação às mudanças e em alguns lugares da Austrália, da África e do Brasil esse
modo de vida ainda existe. No Paleolítico e no Neolítico os hábitos vão do nomadismo para o
desenvolvimento da agricultura e pastoreio que assentam o homem a um mesmo lugar. É
caracterizado pelo coletivismo do trabalho, produtos e propriedade e a uma sociedade
homogênea. Com a metalurgia, a energia animal e dos ventos, a invenção da roda e dos barcos
a vela as relações de trabalho se tornam mais complexas, especializadas.

1. A cultura tribal

Dentro das diferentes características de cada sociedade “primitiva”, atentando para não
avalia-las numa perspectiva segundo nossa cultura, veremos como não existia a escola como
conhecemos hoje, assim como outras instituições (Estado, classes, escrita, comércio, história).
O que não torna esses povos inferiores, apenas diferentes, por essa razão Levi-Strauss prefere
colocar o termo “primitivo” entre aspas.

Os deuses permeiam a realidade dessas sociedades desde a agricultura até os desenhos,


que ao serem feitos nas escuras cavernas incorporam a ação dos deuses “matando” suas
presas. Estes desenhos podem ser encontrados no Brasil datados de 12 mil anos antes dos
colonizadores no Piauí e no Pará.

As tradições míticas são transmitidas oralmente, a crença e repetição desses mitos trazem
coesão coletiva e estabilidade às comunidades, portanto as mudanças são muito lentas. As
atividades são coletivas, mesmo com separação de funções, que no caso das mulheres não se
restringem à domestica. O prestigio se concentra em figuras como o chefe guerreiro e o xamã,
mas que não abusam de privilégios, “o chefe é porta-voz do desejo da comunidade como um
todo”, servindo como mediador de conflitos com base nas tradições ancestrais. As oposições
estão entre as tribos, ocorrendo guerras que caracterizam essas sociedades.

2. A educação difusa

As crianças, nessas comunidades, aprendem imitando os adultos, “para a vida e por meio
da vida”, sem uma figura de educador distinta. Existe um respeito ao erro da criança e ao seu
ritmo de aprendizagem, aperfeiçoando assim habilidades práticas e conhecimentos ancestrais.
Possuem uma formação integral, universal e democrática, pois todos tem acesso aos saberes e
fazeres. Outra característica é a atemporalidade do conhecimento de história que está ligado
aos mitos primordiais, onde o tempo está presente nos ritos de passagem (do nascimento à
morte, passando pela iniciação da vida adulta).

3. Para além da vida tribal

Conforme as atividades vão se tornando mais complexas existe a necessidade de


administrar essas atividades. A partir de transformações técnicas que produzem excedentes,
os privilégios de classes hierarquizam a sociedade, criando relações de servidão e escravidão.
O Estado se fortifica como instituição que passa a administras as terras. Restringe-se a mulher
a vida domestica, à fidelidade e à procriação para assegurar herdeiros de sangue. Assim o
saber também se restringe a classe dominante. A escola é inaugurada para assegurar o
privilégio do conhecimento, excluindo a maior parte da população.

Leituras Complementares

Tortura e memória – Pierre Clastres, A sociedade contra o Estado, 1978.

Muitos rituais de iniciação da vida adulta, nas sociedades tradicionais, são realizados
através da tortura física. É uma “pedagogia da afirmação”, da resistência física. A memoria
corporal da dor e da cicatriz no corpo representa pertencimento e que ninguém é mais
importante do que ninguém, já que todos devem passar pelo mesmo ritual.

Américo Vespúcio tinha razão? – Paula Caleffi, “Educação autóctone nos seculos XVI ao XVII
ou Américo Vespúcio tinha razão?” in Historias e memórias da educação no Brasil, 2004.

Os relatos de suas viagens foram escritos discriminando os hábitos dos habitantes


nativos. Como as sociedades indígenas se organizavam a partir de laços de parentescos não
possuíam a figura de um Rei, os mitos e a natureza tinham muita importância e se
relacionavam, mas por não possuírem imagens ou ícones, Vespúcio os considera sem fé. Ele
estranha também a ausência de normas escritas e os considera sem lei. Mas essas culturas
indígenas continuam resistindo, mudando sob a logica de suas tradições.

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