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Estruturas Políticas do Estado Moderno

SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA: A IDENTIDADE Motim cartista em


SOCIOPOLÍTICA DO HOMEM Londres. O movimento cartista iniciou-se
em 1830 a partir da luta dos operários por inclusão
Quando pensamos em sociedade, temos em mente o política.
modo como vivemos atualmente. Lembramos de
nossas relações no âmbito familiar, no ambiente de A partir do momento que os problemas sociais são
trabalho, na faculdade e com os amigos. Também considerados passíveis de serem resolvidos — e
pensamos em problemas: violência, desemprego, prevenidos —, tornam-se objetos de investigação
miséria, doenças etc. Se nos falam de sociedades científica. É nesse cenário que nasce a Sociologia.
diferentes, lembramos das diferenças culturais entre Mas, antes dela, é Auguste Comte (1798-1857),
os países e povos. Mas sempre temos por base a filósofo francês que formulou a doutrina do
nossa experiência em sociedade e nosso momento Positivismo, quem primeiro a toma como ciência,
histórico. Apesar de esperarmos mudanças buscando compreender o funcionamento da nova
tecnológicas e sociais, acreditamos que as coisas sociedade para prevenir que as desigualdades sociais
sempre foram ou tendem a ser parecidas com o que não desestruturem a ordem social.
vivemos. Contudo, essa é uma percepção enganosa,
deturpada da realidade. A partir desse período que podemos compreender
a sociedade contemporânea como um produto,
A sociedade em que vivemos é algo relativamente resultado das condições históricas e políticas,
recente do ponto de vista histórico. Quando fabricado pela ascensão da burguesia e o novo
olhamos para o passado, é comum imaginarmos que modo de produção capitalista no final do século
as pessoas viviam de forma parecida com a nossa, XVIII e início do século XIX. São essas condições que
talvez com menos tecnologias. No entanto, vários modificam as relações sociais e concebem
conceitos que usamos atualmente, como um homem, cidadão do mundo, desgarrado dos
patriotismo, leis escritas, liberdades e direitos antigos laços sociais. Basta lembrarmos que as
individuais, ou não existiam, ou não tinham o sociedades antigas e medievais possuíam estruturas
mesmo sentido que damos a eles hoje. A própria assentadas em pertencimentos locais — cidade, vila
noção de indivíduo não fazia parte do ideário das — ou religiosos — o cristão, o islâmico, o judeu —,
sociedades antigas e medievais. ou ainda por profissão — agricultor, padre, nobre.

Atenção Não é à toa que a Sociologia nasce com a perspectiva


Quando tratamos de sociedade contemporânea, de compreender essa nova sociedade e seus
nos referimos a um movimento acelerado de efeitos. Karl Marx (1818-1883), com seu método, o
mudanças nas esferas políticas, econômicas, materialismo histórico e dialético, chamou atenção
culturais e tecnológicas que modificaram a para o modo como a produção da vida material — os
estrutura social e o modo do homem compreender bens materiais que necessitamos para sobreviver,
o mundo. Essas transformações são resultado do como, por exemplo, mesa, cadeira, roupas etc. –
desenvolvimento do capitalismo, especialmente a determina uma nova relação de produção no
partir do século XIX, com o avanço da ciência, o sistema capitalista: um grupo social – a burguesia –
crescimento da indústria, a expansão do comércio e passa a dominar outro grupo social – o proletariado.
da vida urbana, as modificações das práticas
culturais, a as relações com o trabalho etc.

Na mesma proporção, a aceleração do tempo e de


ritmo de vida do homem devolveu em resposta
uma paisagem social trágica: aumento das
desigualdades sociais, empobrecimento da
população, exploração do trabalho e miséria. Ao
mesmo tempo, revoltas populares por melhores
condições de vida, movimentos operários
reivindicando por participação política (sufrágio
universal, por exemplo) expandiram-se por toda a Retrato de Karl Marx,
Europa do século XIX. por John Jabez Edwin Paisley Mayall, 1875.

Essas classes sociais estabelecem


necessariamente as desigualdades entre os
homens através da exploração do trabalho.
O capital e o lucro são produtos dessa relação e, ao É o Estado liberal quem dá a identidade sociopolítica
mesmo tempo, motores da sociedade do que chamamos de sociedade contemporânea.
contemporânea.
Calma! vamos explicar: as ideias liberais fazem parte
Vejamos um trecho do Manifesto Comunista, obra de um conjunto de princípios baseados na defesa da
de Marx de 1848: liberdade, da igualdade jurídica e da propriedade
privada. Basta que percebamos que são esses os
princípios — defendidos pela burguesia — que
A transformação contínua da produção, o abalo formam grande parte das nossas ideias sobre
incessante de todo o sistema social, a insegurança e direitos, deveres, justiça, bens etc. Isso porque
o movimento permanentes distinguem a época também são eles que formam o arcabouço jurídico,
burguesa de todas as demais. As relações rígidas e — a Constituição — do nosso Estado. Se observamos
enferrujadas, com suas representações e concepções bem, todos os países têm constituições que
tradicionais, são dissolvidas, e as mais recentes garantem esses direitos aos seus cidadãos.
tornam-se antiquadas antes que se consolidem.
Tudo o que era sólido desmancha no ar, tudo o que Você deve estar percebendo o curioso caminho que
era sagrado é profanado, e as pessoas são tomamos: o capitalismo e as ideias liberais são as
finalmente forçadas a encarar com serenidade sua bases subjacentes à vida social contemporânea.
posição social e suas relações recíprocas. Essas bases não são claras ou óbvias. Precisamos
fazer um exercício de reflexão para desvelar sua
(MARX, 2008, p. 15-16) percepção.

Se olharmos a passagem bem de perto, percebemos Por exemplo, ao falarmos “eu tenho direitos
que Marx está nos contando uma história de ruptura trabalhistas”, “Sou livre para votar em quem eu
de uma velha ordem social. E é exatamente essa quiser” ou “com o meu dinheiro compro o que eu
nova ordem social – burguesa – a geradora das quiser” está implícita a ideia de que estes indivíduos
mudanças nos hábitos, costumes, relações foram “fabricados” em sociedades dos nossos dias e
familiares, concepções de vida etc. que, por sua vez, são reguladas pelas noções de
liberdade e direitos. Dificilmente ouviríamos essas
A Sociologia de Marx não é a única interpretação palavras de um homem da Antiguidade ou do
possível da sociedade contemporânea. Ao lado dele, período medieval.
Émile Durkheim (1858-1917) e Max Weber (1864-
1920) formam a base teórica clássica da Sociologia.
Por caminhos e métodos distintos, os três autores
nos apresentam uma ciência ocupada com a relação
indivíduo-sociedade. Se repararmos bem, seus
conceitos — classe social (Marx), fato social
(Durkheim) e ação social (Weber) —, só pelos
nomes, já trazem o peso dos impactos sociais sobre a
vida do homem.

Imagem
das Jornadas de Junho, São Paulo, Brasil, 2013.

Pois, bem. São em sociedades como a nossa que o


indivíduo se tornou um sujeito de direito, regulado
Imagem de Londres, por um Estado. Podemos dizer que a sociedade
Litogravura de Gustave Doré, séc. XIX. contemporânea é uma Sociedade de Indivíduos, que
também é o título da obra de um sociólogo alemão
chamado Norbert Elias. Para o autor, em sociedades
FORMAÇÃO POLÍTICA, JURÍDICA E INSTITUCIONAL contemporâneas, não há como falarmos de uma
DO ESTADO separação entre indivíduo e sociedade, justamente
porque acredita numa relação de interdependência,
processo de influência mútua.
Mais do que os aspectos econômicos, é importante
perceber que esta nova estrutura social que
narramos tem íntima relação com a formação
política, jurídica e institucional do Estado.
Mas, se é assim, como chegamos às ideias liberais?
Como elas se formaram?
Vamos analisar um pouco melhor as idéias
embrionárias que, de certo modo, formaram a base
de nossa identidade sociopolítica atual.

O NASCIMENTO DO INDIVÍDUO E O CONTRATO


SOCIAL: SOCIEDADES INVENTADAS
Thomas Hobbes
(1588 – 1679)
Se buscarmos o “nascimento” da noção de indivíduo,
provavelmente a encontraremos na obra de René
Descartes (1596-1650). O famoso filósofo francês,
em seu livro Discurso do Método (1637) escreveu sua
frase mais conhecida:

“Penso, logo existo”.


John Locke
(DESCARTES, 2001) (1632 – 1704)

Jean-Jacques Rousseau
Retrato de René Descartes, (1712-1778)
por Frans Franchoisz Hals, Cada um desses autores lança hipóteses distintas
cerca de 1649-1700. sobre o estado de natureza. O ponto comum entre
eles é que, no estado de natureza, os indivíduos
A frase apresenta uma grande inovação para época.
seriam completamente livres, viveriam
O “eu” embutido na conjugação verbal nos leva a
independentes, ou seja, agiriam de acordo com
pensar na ideia de sujeito-indivíduo. Em um
suas próprias regras, executariam suas atividades
momento histórico no qual a sua existência era
da forma que quisessem, e, julgariam conforme
definida por sua atividade, seu local de nascimento,
seus interesses próprios. As únicas limitações
sua religião ou outro fator externo, Descartes
existentes seriam aquelas impostas pela natureza
inaugura a ideia de que indivíduos vivem em
(tempestades, terremotos, enchentes etc.).
sociedade, mas existem aquém dela. Ou seja, nos
apresenta a ideia de um “eu” universal, definido
pela razão. Como você já deve imaginar, nem tudo funciona tão
bem quanto parece. Isso porque os seres humanos
possuem características naturais, físicas e
Esta ideia de indivíduo que surge no pensamento de
intelectuais distintas que, consequentemente, os
Descartes, e que independe de fatores sociais para
põem em condição de desigualdade no estado de
sua definição, passa a ser alvo de indagações de
natureza. Por exemplo, alguns possuem mais força
filósofos posteriores. A questão principal é a
ou mais rapidez, outros possuem uma visão mais
seguinte:
aguçada e um raciocínio mais rápido. Como no
estado de natureza não existiriam leis gerais e
Se os indivíduos existem independentemente da muito menos alguém que aplicasse tais leis, a
sociedade, por que escolhem viver nela? tendência é a de que os mais fortes oprimissem os
Para responder essa questão, os filósofos passam a mais fracos. Por outro lado, os astutos poderiam
usar a ideia de um momento hipotético, no qual as oprimir os mais fortes. Para esses teóricos, a
comunidades não existissem e os homens vivessem percepção dos riscos do estado de natureza é o
sozinhos, isolados uns dos outros. A essa ideia momento-chave para nossa reflexão.
damos o nome de estado de natureza.
VAMOS REFLETIR...
O estado de natureza foi mobilizado por vários
filósofos, os mais conhecidos são: Sem um controle, os indivíduos tenderiam a um
confronto eterno, o que reduziria suas liberdades e
seus direitos. Para garantir esses direitos, eles
apresentam a ideia de que os homens escolheriam
abandonar o estado de natureza para constituírem
uma sociedade politicamente organizada, através
de uma espécie de contrato, no qual os indivíduos
delegam parte — ou o todo — de seus poderes no
estado de natureza para um “outro”, tendo em vista
que esse “outro” proteja seus direitos naturais — ou
parte deles. Rousseau entendia que a instituição da propriedade
corrompia o homem e que o poder comum deveria
surgir de uma sociedade política que representasse a
A esta tradição de pensamento chamamos
vontade geral.
de contratualismo, justamente porque as
sociedades políticas ou o estado civil surgem
baseadas em um contrato social. LIGANDO OS PONTOS
Não podemos esquecer, entretanto, que estamos
em uma situação hipotética e o contrato é uma
Os modelos hipotéticos dos contratualistas — cada
abstração. Mas com ela podemos prospectar que os
qual a sua maneira — nos chamam a atenção para
indivíduos aceitam viver em sociedade para sua
um aspecto basilar: eles fazem emergir teorias que
própria proteção, segurança ou potencializar suas
apresentam os indivíduos como detentores de
liberdades. Advém daí a percepção de que algo
direitos naturais (fundamentais) invioláveis. Se
externo e ao mesmo tempo comum aos homens
violados, colocaríamos a vida humana em risco. Se
deveria estabelecer regras que garantisse a vida e a
olharmos bem de perto, percebemos que os
liberdade de todos.
contratualistas nos dão os princípios das doutrinas
liberais que, alinhadas ao desenvolvimento do
Cabe mencionar que esses autores têm modo de produção capitalista — com a emergência
características específicas no desenvolvimento de da classe burguesa —, nos fornecem o quadro
suas ideias sobre o contrato social. político e econômico das sociedades
contemporâneas.

A questão a responder seria a seguinte:

Para quem ou para o que os homens deveriam


delegar seus poderes para garantir seus direitos
naturais?

Para o Estado.

Hobbes partia da noção de que homens tendem ao


conflito por sua própria natureza e necessitariam de VERIFICANDO O APRENDIZADO
um poder comum que os controlassem, ainda que
para isso fosse um poder absoluto.

Locke propunha que deveria existir uma proteção à


propriedade privada que, em sua concepção,
incluiria a vida e a liberdade, além da propriedade
material em si, e para isso propõe as formas de
organização do governo civil nessa sociedade,
reduzindo a possibilidade de opressão aos
indivíduos.
1. Neste módulo, aprendemos que a nossa 2. A forma como os indivíduos se encontram em
sociedade é constituída a partir de uma ideia sociedade supõe uma aceitação de regras e
recente de indivíduo. Tratamos do Estado como sanções, o que ocorre antes mesmo do nosso
uma forma de proteger o indivíduo, suas liberdades nascimento. Qual é o nome que damos à ideia pela
e direitos. Todavia, como essas liberdades e direitos qual os indivíduos aceitam viver em sociedade?
foram descobertas? Assinale a alternativa que
explica corretamente como os direitos e liberdades
individuais foram conceitualizados.

Contrato de trabalho: forma pela qual ingressamos


verdadeiramente na sociedade.

O Estado de Direito criou todas as liberdades e


direitos individuais. Antes do Estado de Direito, os
homens não eram livres e não tinham direitos.
Contrato social: ideia pela qual estamos em
sociedade por aceitar que o Estado proteja nossas
liberdades e direitos, em troca de delegarmos
poderes a ele.
O rei absolutista, representante de Deus na Terra,
deu aos indivíduos os direitos e liberdades em troca
da servidão.
Pacto de não agressão: decisão tomada entre os
indivíduos de cessar a guerra de todos contra todos,
viver em paz e construir uma sociedade.
Os direitos e liberdades individuais são
conceitualizados a partir da abstração hipotética
denominada de Estado de Natureza.
União social: instituição criada para fomentar a
sociedade, baseando-se nas características
profissionais dos membros da sociedade e suas
A Reforma Protestante criou os direitos individuais escolhas religiosas.
baseadas em uma nova interpretação da bíblia.

Batismo social: transformação de selvagens em


Os direitos e liberdades individuais não existem na cidadãos por meio da aceitação das leis de
sociedade contemporânea. Somente existem em determinada sociedade.
governos absolutistas.
Comentário
Comentário
Parabéns! A alternativa "B" está correta.
Parabéns! A alternativa "C" está correta.

O contrato social é a ideia pela qual a sociedade é


O Estado de Natureza, abstração na qual os homens fundada a partir da aceitação dos indivíduos em
viveriam sozinhos antes das sociedades, serviu de delegar seus poderes ao Estado, tendo em vista sua
base para vários filósofos conceitualizarem os própria proteção. Para muitos filósofos, esse é o
direitos e liberdades naturais dos homens. Ou seja, momento de criação da sociedade, assim como a
quais direitos e liberdades os homens teriam (ou justificativa pela qual devemos obedecer às suas
deveriam ter) antes mesmo da vida em sociedade. regras, dado que escolhemos estar nela.

COMO CHEGAMOS, AFINAL, AO ESTADO?

Você já deve ter ouvido muitas definições de Estado.


Dentre elas, a de que o Estado é o guardião da
sociedade e do conjunto de indivíduos que habitam independente das circunstâncias sociais, a definição
um território, possuidores de direitos que devem ser do autor reporta à manutenção de uma estrutura
protegidos constantemente das ameaças. Ou ainda política determinada espacial e historicamente que
que essa função de proteger caberia a um poder se constituiu na Europa, entre os séculos XIII e XIX.
comum, que fosse independente ou relativamente
neutro, tanto em relação aos governados quanto aos
A ascensão do que chamamos de Estado é produto
governantes.
de um contexto de guerras e revoluções que, por sua
vez, modelaram o desenvolvimento econômico,
Como vimos no módulo anterior, a noção de Estado político, social e tecnológico de sociedades do
tem a ver com algumas destas características. chamado Antigo Regime.
Entretanto, precisamos dar especial atenção a alguns
aspectos centrais para sua definição mais rigorosas. A substituição paulatina das diversas unidades
políticas, os feudos — sob domínio da nobreza (os
Nos termos do sociólogo alemão Max Weber: senhores feudais) —, por uma estrutura de poder
centralizada em torno das cidades — especialmente
motivada pela expansão comercial da burguesia —,
Devemos conceber o Estado contemporâneo como forma o cenário propício para a configuração do
uma comunidade humana que, dentro dos limites de aparelho estatal e de uma nova ordem social. Neste
determinado território — a noção de território processo, percebemos a expansão do poder político,
corresponde a um dos elementos essenciais do integrado a um único domínio territorial, mais amplo
Estado — reivindica o monopólio do uso legítimo da que as unidades feudais. E, consequentemente,
violência física. concentrando em torno de si, as relações políticas e
comerciais.
(WEBER, 1997, p. 56).
O aprofundamento deste processo de centralização
política e formação de unidades territoriais assume
novos contornos a partir da aparição, nos séculos XV
e XVI, dos chamados Estados Nacionais, os primeiros
surgidos em territórios que conhecemos atualmente
como Itália, Espanha, Inglaterra e Portugal.

Como você deve estar percebendo, nossa trajetória


analítica em torno da aparição do Estado nos
conduz necessariamente às origens da chamada
Max Weber, 1918. Idade Moderna, período que vai do século XV ao
século XVIII. Isso não é mera coincidência. Mas
Com uma definição aparentemente simples, Weber também não podemos simplificar a tal ponto de
nos convida a aprofundar os significados das concluir que o Estado recebe a nomeação de
expressões “território” e “monopólio do uso Moderno porque já nasce completo nos princípios
legítimo da violência física”, palavras que saltam na de nossa Idade Moderna.
sua escrita e que terão seus significados
aprofundados neste módulo.
Atenção
Estamos tratando de processos históricos e políticos
e, portanto, são mudanças gradativas que delineiam
o que hoje consideramos como as estruturas
políticas do “Moderno”.

É importante destacarmos que o adjetivo


“moderno”, como sugere o próprio nome, integra
um conjunto de inovações nas instituições
administrativas, no sistema de defesa nacional, na
Motim da Polícia
gestação de códigos legais, na adoção de critérios
Militar durante um protesto contra o estupro
fiscais e no exercício do poder.
coletivo de uma garota de 16 anos em uma favela no
Rio de Janeiro, na Avenida Paulista em São Paulo,
Brasil, 2016. Vamos com calma!
Em primeiro lugar, devemos ter em mente que o
Sem muitos rodeios, percebemos com Weber que a conceito de Estado moderno, em si, já nos indica
configuração desta instituição política nem sempre uma separação entre o governante e o Estado, uma
assumiu uma única forma ao longo da história. Longe novidade quando comparada às formas anteriores
de nos conduzir a um conceito universal, de organização política. E isso também acontece
porque o próprio sentido ou significado da palavra externas, são criados os exércitos permanentes, que
Estado se transformou ao longo da história. Segundo são remunerados e devem lealdade ao soberano
o historiador inglês Quentin Skinner (1996), do ponto único. Vale mencionar que os exércitos, antes do
de vista conceitual, este processo tem início no absolutismo, não eram permanentes. Na verdade, os
século XIII e é concluído no século XVI quando os nobres possuíam pequenos contingentes armados
elementos conceituais do Estado moderno existem que se uniam sob o comando de um rei, todavia,
no ideário histórico. O principal passo nesse sentido esses exércitos não eram estáveis e possuíam vários
é a transformação do significado da palavra estado, senhores.
que antes tinha relação com a “conservação do
estado” de governante, para a ideia de uma ordem
Atenção
legal e constitucional, quando o papel do governante
No contexto medieval, os reis possuíam um poder
é conservar “o” Estado.
reduzido e dependiam da relação direta com outros
nobres. Com a unificação territorial, autonomia
Olhemos mais atentamente esta mudança de financeira e exército permanente, os reis do período
significado do termo “estado”. absolutista concentram em si grande poder. Além
disto, esse rei e sua corte detinham a capacidade de
criar leis e julgar os crimes, dando ao soberano o
Quando, por exemplo, Nicolau Maquiavel (1469-
monopólio da punição. Os nobres, que antes
1527) fala sobre um príncipe que deseja manter seu
detinham bastante poder em suas localidades,
estado, ele se refere à posição social do príncipe e
passam a aceitar os reis absolutos em troca de
seus poderes. Ou seja, manter o estado, nessa frase,
cargos no governo central.
significa manter a posição de poder como
governante. Quando pensamos no conceito
moderno de Estado, a situação é bem diferente. A modernização (racionalização) destas estruturas
Conservar o Estado significa proteger o reino de políticas teve íntima relação com a expansão dos
ameaças, manter a unidade territorial, dentre outras Estados Absolutos. Diferentemente do início da
funções, e, com isso, manter o governo sobre o conversa neste módulo, a formação do Estado
Estado. Antes o estado aparece como uma moderno não se deu por um gesto benevolente dos
circunstância inerente ao governante e, depois, no seus fundadores para a proteção aos indivíduos com
conceito moderno, como algo externo ao leis que lhe assegurassem direitos e por preocupação
governante, que deve ser protegido e que com o bem-estar da população em geral. Ela esteve
temporariamente está sob seu controle. intimamente ligada às disputas territoriais no
continente europeu, e, mais que isso, à busca
incessante pelo monopólio da violência, como nos
lembra a definição weberiana.

E a ideia de legitimação? O que Weber quer nos


dizer com a ideia do “monopólio do uso legítimo da
força física”?
Devemos ter em mente que a concentração de
poderes no Estado absolutista gerava insatisfação,
especialmente naqueles que não participavam do
governo. Poderíamos enumerar uma série de
excluídos. Mas a título de nossa análise, vale
destacar uma classe em plena ascensão: a burguesia.

Com o acúmulo de riquezas advindas das trocas


Nicolau comerciais, os burgueses possuíam um grande poder
Maquiavel, Roma, séc. XVI. econômico, mas eram sub-representados
politicamente.
A esta noção moderna juntam-se transformações
históricas, muitas das quais advindas da Os reis, para manterem-se no controle dos
conformação absolutista do Estado, uma das territórios, afastar as ameaças externas e formar
primeiras aparições do Estado moderno. A seus exércitos, eram tensionados a fazer
autonomia política e o monopólio financeiro do concessões à burguesia — que, em troca, lhes dava
Estado substituíram as diferentes moedas e tributos dinheiro, em forma de empréstimo ou de
que existiam durante o período feudal, no qual os pagamento de impostos – para custear os gastos da
senhores locais instituíam formas diversas de coroa. Algumas destas concessões, por exemplo,
taxação e cobranças. Com as unificações territoriais, vinham em forma de leis para o estímulo do
onde antes existiam pequenos principados, passou a comércio e das atividades manufatureiras e,
existir um reino unificado sob o controle de um só consequentemente, da flexibilização de sua atuação
rei. Para a proteção desse reino contra ameaças sobre economia.
REVOLUÇÃO FRANCESA, ESTADO MODERNO E
MODO DE PRODUÇÃO CAPITALISTA

Ora, a negociação de interesses através das leis


funcionava como um meio de impor limites sobre o
poder monárquico ao mesmo tempo que o
A queda da
autorizava a exercer o controle do Estado.
Bastilha, em 14 de julho de 1789, símbolo das
reivindicações populares na Revolução Francesa,
Relembrando marca do fim da Era Moderna.
Neste ponto, precisamos voltar ao que aprendemos
no Modulo I: as ideias liberais que vimos com os Você já deve ter ouvido falar que a Revolução
contratualistas (direitos naturais) passam a ganhar Francesa (1789 – 1799) marcou o declínio das
importância quando falamos das leis. É nesse grandes monarquias absolutistas na Europa. O
momento que elas passam a ser reivindicadas pela movimento de proporções continentais destituiu os
burguesia. privilégios da nobreza e do clero na França.

Chegamos à questão da legitimação, no sentido de O país vivia uma crise alimentar, além de um alto
Weber. No contexto do Estado absolutista, endividamento. A insatisfação de setores populares
especialmente do século XVIII, presenciamos o e da ascendente burguesia com o governo de Luís
tensionamento perene para limitar os poderes do XVI fomentou o movimento revolucionário que
monarca e livrar-se dos seus arbítrios através do culminou na sua decapitação e de sua esposa, Maria
aporte das leis (e da criação de parlamentos, por Antonieta, em 1792. As instabilidades políticas
exemplo). A legitimidade tem a ver com o duraram aproximadamente uma década até a
consentimento: o poder exercido por alguém é ascensão de Napoleão Bonaparte ao poder, em
legítimo quando é aceito por aqueles que se 1799.
submetem a ele. Nesse sentido, a máxima weberiana
do “monopólio do uso legítimo da força física”, quer
dizer, antes de tudo, que a forma moderna de
Estado se emoldura de tal modo que o uso das
forças militares (exército, por exemplo) seja
consentido, legitimado e inscrito nas normas legais
como recurso para proteção de todos.

VAMOS REFLETIR...

Estamos diante de um jogo de negociações e A


confrontos para provocar o Estado moderno a
Execução de Luís XVI de França, a partir
satisfazer as exigências de legitimidade dos
de uma gravura alemã, 1793.
cidadãos e, no contexto que analisamos,
especialmente da burguesia. A Revolução Francesa estava imbuída de ideais do
movimento filosófico conhecido como Iluminismo.
Mas nem sempre esse jogo tomou um rumo Para os iluministas, a razão passa ocupar lugar de
harmonioso. Podemos, por exemplo, entender os destaque, assim como o homem, reduzindo a
movimentos revolucionários como uma situação importância das religiões. Este homem era visto
limite de busca por legitimidade da classe burguesa. como um indivíduo portador de direitos universais,
O caso mais emblemático desta ideia é a Revolução como nas doutrinas dos direitos naturais. Unem-se
Francesa. às ideias iluministas, as expectativas da classe
burguesa, motivada pelos interesses econômicos e
políticos sobre o Estado.

O final do longo processo revolucionário é,


justamente, a queda do absolutismo na França e,
consequentemente, a ascensão da classe burguesa
ao poder.

Os privilégios da nobreza são suprimidos, a influência


do clero é reduzida e inaugura-se a
Primeira República francesa, cujas bases políticas e
legais assentam-se na constituição, simbolizadas
pelo lema da liberdade, igualdade e fraternidade. As
leis criadas por representantes eleitos emanariam da
vontade do povo.

Você já ouviu falar na Declaração dos Direitos do


Homem e do Cidadão?
A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão é
um documento originário da Revolução Francesa. Sobre a Revolução Francesa, sabemos que as
Seus dezessetes artigos são os primeiros na história a interpretações histórico-filosóficas e sociológicas
sintetizar os ideais liberais (baseados nas doutrinas sobre suas influências e consequências são
jusnaturalistas) e iluministas como direitos universais inúmeras. Para termos uma breve ideia, Karl Marx
do homem. entende a Revolução Francesa como uma revolução
burguesa, a inauguração do modo de produção
Imagem da Declaração dos Direitos do Homem e do capitalista na França. O novo Estado é elemento
Cidadão: essencial para a exploração do proletariado. Esta
forma de analisar o novo regime exclui a autonomia
do político, analisando o Estado como uma
conformação da luta de classes (burguesia x
proletariado). Por outro lado, a perspectiva de Max
Weber dá ênfase a essa inovação institucional. A
secularização do estado, ou seja, separação entre
política e religião, criação de instituições
representativas, além da importância da constituição
como lei máxima da sociedade.

O produto das nossas discussões nos convida a


pensar que as características e a nova forma de
organização do Estado, alcançadas com a chegada da
burguesia ao poder, erige o que chamamos
Representação da
de Estado liberal.
Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de
1789.
Já conhecemos a lógica do Estado liberal, agora
Como já discutimos, do ponto de vista econômico, responda:
ergue-se um novo modo de produção que
chamamos de capitalista.
O Estado liberal tem seu fundamento em qual ideia?
Resumindo O Estado liberal tem seu fundamento na ideia de que
Quando tratamos de Estado moderno não temos as liberdades individuais e a propriedade privada
uma precisão temporal de sua aparição. Por outro devem ser garantidas. John Locke (1632-1704) é um
lado, vimos que a conformação dos primeiros dos primeiros autores a nos apresentá-la.
Estados-nações e, posteriormente, Estados absolutos Tal modelo constituirá a forma predominante de
trazem processos históricos, mudanças político- organização do poder na sociedade
institucionais, concepções de governo e, contemporânea. E, claro, as derivações do modelo
principalmente, um novo modo de conceber a liberal invadirão as doutrinas políticas e econômicas
autoridade política e o comando do Estado. Por isso em diferentes escolas nos séculos XIX e XX. Para
mesmo, tratamos aqui como um processo de termos uma ideia, autores como Adam Smith, David
modernização, de racionalização, que atinge seu Ricardo, Milton Friedman, Friedrich Hayek são
ápice no século XVIII, especialmente com a queda da apenas alguns dos representantes.
monarquia absolutista. E, sem dúvida, a Revolução
Francesa é um símbolo deste cenário.
Com essas pistas, podemos inferir que o
desenvolvimento do sistema capitalista no mundo
Veja um quadro síntese do que consideramos Estado contemporâneo gerará sociedades cada vez mais
moderno: complexas que, por sua vez, exigirão mecanismos e
formas de regulação do poder político igualmente 2. Como vimos, o significado da palavra “estado”
complexas. sofreu mudanças no período do século XIII ao
século XVI. Essa mudança de significado foi
essencial para o conceito de Estado moderno. Leia
ENTRE O ESTADO E O CAPITAL
as opções e assinale qual identifica a transformação
ocorrida no significado de Estado.
Assista ao vídeo sobre o Brasil e a história dos seus
regimes, com a professora Marina Garcia.

VERIFICANDO O APRENDIZADO

O conceito de Estado deixou de significar a


circunstância ou posição social para ser entendido
como uma entidade que existe para além dos
indivíduos.

1. Analisamos vários fatores que levaram à


consolidação do conceito atual de Estado moderno.
Tendo em vista a saída do período feudal, qual dos Estado passou a significar a situação social na qual o
fatores apresenta corretamente um elemento da indivíduo se encontra.
transição para o Estado moderno.

O significado de Estado passou a ser relacionado à


espiritualidade dos indivíduos.

Diversidade de moedas e tributos que eram


livremente criados por nobres, sem o aval do rei.
A situação humana em cada momento histórico
passou a ser descrita por estados.

Leis criadas pelo povo, em praças públicas, e


cumpridas pelo rei.
As definições de Estado passaram a ser associadas à
figura da nobreza.

Proibição das crenças religiosas como forma de Responder


aplacar conflitos.
Comentário

MÓDULO 3
Concentração de poderes na figura do rei, com
autonomia financeira e exército permanente.

Reconhecer os poderes do Estado (Executivo,


Legislativo e Judiciário) por meio da análise do seu
Exércitos temporários e compostos por mercenários. surgimento, suas capacidades específicas e
mecanismos de independência

Responder
GOVERNOS AUTORITÁRIOS: ENTRE A HISTÓRIA E
Comentário
AS CIÊNCIAS SOCIAIS

Assista ao vídeo sobre o Brasil e a história dos seus


regimes, com a professora Marina Garcia.
Atualmente, como conter governos autoritários e
como corrigir os problemas de abusos de poder?
1689
Resposta Foi promulgada a Declaração de Direitos (Bill of
Aprendemos, a partir dos acontecimentos da Rights). Neste documento, o parlamento aumenta
Revolução Francesa, que a monarquia absolutista seus poderes em matérias como impostos, leis e
monopolizava o poder político e, com isso, exército. Além disso, a segurança religiosa é
centralizava em si o controle do Estado. A reforçada. Também é possível enxergar uma
instauração da república foi uma aposta da primeira separação de poderes, na qual o monarca
burguesia para construir um Estado liberal, sob não pode alterar ou suspender leis sem o
novas leis e normas para a garantia da liberdade e consentimento do parlamento.
dos direitos. Assim, poderíamos dizer que a
aprovação de leis — como a Declaração dos Direitos
do Homem e do Cidadão — é um recurso que inibe MONTESQUIEU E A SEPARAÇÃO DOS PODERES
as infrações de direitos, promovem as liberdades e,
consequentemente, repelem abusos de autoridade. A Declaração de Direitos de 1689, assim como outras
legislações inglesas, serviram de base para
Observando a realidade, percebemos que a Montesquieu (1689 – 1755) formular sua teoria da
resposta não é suficiente. E, por isso mesmo, você separação de poderes. A esse conjunto de
já conclui que não bastam as ideias, os princípios ou legislações, Montesquieu se refere como
as leis para que haja as mudanças efetivas. “Constituição Inglesa”. Para o autor, o objetivo do
O caso da França é um exemplo disto. Após um Estado moderno deveria ser garantir a liberdade de
período de instabilidade política, a França passou a seus cidadãos. Esta liberdade seria diferente da
ser governada por Napoleão Bonaparte. Em um encontrada no Estado de Natureza, Montesquieu
primeiro e breve momento, Napoleão assume o entende a liberdade como a possibilidade de fazer
governo que ficou conhecido como Consulado (1799- tudo que é permitido pela lei (MONTESQUIEU, 2012,
1804). Neste regime, Napoleão era o primeiro cônsul p. 189).
e governaria com outros dois cônsules.

Na prática, Napoleão concentrou poderes até ser


coroado Imperador, em 1804. A França saíra de um
absolutismo monárquico, porém encontrava-se em
um governo também autoritário e que concentrava
poderes. Assim, a Revolução Francesa lançou bases
para o conceito de Estado de Direito, mas não o
realizou. Como descreve Modesto Florenzano:

[...] na França acabou por, no final das contas, vingar


Montesquieu
um tipo de Estado republicano, centralizado e
baseado em um soberano único, como no Antigo Para que essa liberdade seja preservada, é
Regime, mas diferentemente do Antigo Regime, em necessário que os poderes do Estado sejam
um soberano único coletivo, vale dizer, os separados, ou seja, não sejam exercidos por uma só
representantes da nação. pessoa ou conjunto de pessoas. Além disso, é
preciso que esses poderes sejam independentes,
(FLORENZANO, 2007, p. 35) criando mecanismos que dificultem a tentativa de
concentração de poderes.
Para entendermos o surgimento do Estado de Direto
na história, devemos olhar para os acontecimentos Montesquieu propõe a separação de poderes, os
que ocorreram na Inglaterra cem anos antes da quais devem ser independentes uns dos outros, na
Revolução Francesa. sua atuação e composição. Eles são conhecidos
atualmente como:
1688 – 1689
A chamada Revolução Gloriosa consolidou o fim do
absolutismo monárquico inglês, instaurando um
regime que conhecemos como monarquia
parlamentarista. Nesta forma de Estado, o monarca
continua existindo, contudo, seus poderes são
reduzidos.
Executivo Relembrando
Durante os períodos absolutistas, já existiam
Ao Executivo caberia cuidar das relações do Estado
instituições como o parlamento. A questão é que o
com os outros Estados, algo que entenderíamos
poder do parlamento era limitado e, além disso,
atualmente como política externa.
frequentemente dissolvido por ordem dos monarcas,
justamente porque não existiam leis que estivessem
acima de todos, como o caso das constituições, ou
seja, leis que até mesmo os reis estivessem
obrigados a obedecer.

Como sabemos, não basta existir leis para que elas


Legislativo sejam obedecidas. Tendo em vista a separação de
poderes, Montesquieu salientou a necessidade de
O Legislativo estaria encarregado de criar leis mecanismos que garantissem a independência dos
permanentes. poderes. Um exemplo que o autor traz é a
capacidade do Executivo vetar leis que sejam
produzidas pelo Legislativo. Todavia, a consolidação
institucional, bem como a teorização, desse e de
outros mecanismos que garantissem o equilíbrio
entre os poderes, ocorre em um contexto fora da
Europa.
Judiciário
O Judiciário julgaria as infrações cometidas, de
FEDERALISTAS
acordo com as leis internas.

Vamos analisar os acontecimentos relativos à


O autor francês identifica a origem desses poderes
constituição dos Estados Unidos da América.
no Estado de Natureza; eles são delegados pelos
indivíduos ao Estado por meio do contrato social.
Os Estados Unidos da América tornaram-se
independentes do domínio inglês em 1776. Os
A seguir, temos uma figura que ilustra esse
conflitos não terminaram nesse ano e o país ainda
movimento de delegação, concentração e separação
passou por guerras internas até sua estabilização
dos poderes.
política. Alguns entraves existiam para a
consolidação estadunidense após sua
Estado de Natureza independência. Trata-se de um país de dimensões
continentais, composto por estados autônomos e
 Origem dos poderes: Executivo, Legislativo que demandavam um governo que fosse eleito e
e Judiciário. composto pelo povo.
 Concetração dos poderes em cada
indivíduo. Em uma série de artigos conhecidos como O
 Insegurança por não existir leis gerais, Federalista (em inglês, The federalist papers), três
juízes neutros e um poder comum. autores fizeram a defesa da Constituição dos
Estados Unidos da América, de 1787.
Absolutismo monárquico
Veja quais foram eles:
 Concentração dos poderes na figura do
monarca.
 Unificação estatal (Estado moderno).
 Desrespeito às liberdades e direitos
individuais.

Estado de Direito

 Separação e independência dos poderes no


Estado.
 Leis gerais e permanentes.
 Judiciário como poder neutro.
 Representantes eleitos (legislativo).
Alexander Hamilton O ponto central dos federalistas era criar um sistema
(1755 – 1804) que equilibrasse os poderes, além de garantir a
autonomia dos estados federados.

O Legislativo era visto como o mais poderoso. Para


conter este poder, os autores criaram mecanismos
que fortaleciam os demais poderes.
James Madison
(1751 – 1836)

No caso do Executivo, o poder está na capacidade de


vetar leis criadas pelo legislativo.

John Jay
(1745 – 1829)
Esses autores partiam de uma percepção de que os
homens são naturalmente ambiciosos.

Como é impossível anular essa característica da


natureza humana, os autores pensaram em formas Do Judiciário, seria a guarda e interpretação última
de contrapor as ambições, anulando-as da Constituição. Atribuímos o nome de freios e
mutuamente. contrapesos a esse sistema. Basicamente, os
Os federalistas basearam-se na tríade Executivo- poderes possuem suas capacidades típicas e
Legislativo-Judiciário de Montesquieu. No entanto, a algumas atípicas que permitem a garantia de sua
composição desses poderes seria feita pelo povo, independência.
sem a presença de nobres ou monarcas. Embora a
questão da monarquia não fosse um problema para
os EUA, havia a questão dos estados. Os Estados Para entender como esse sistema funciona no
Unidos são uma república federativa resultado da Brasil, vejamos um pouco da Ciência Política em
união de estados (as ex-colônias inglesas). Esses nosso país.
estados possuíam grande autonomia, leis e
constituições próprias. Havia entre eles o receio de GOVERNOS AUTORITÁRIOS: ENTRE A HISTÓRIA E
que a criação de um governo central (federal)
AS CIÊNCIAS SOCIAIS
pudesse subjugá-los da mesma forma que a
Inglaterra fazia no período colonial. Assim como em
Montesquieu, os federalistas entendiam que o maior Assista ao vídeo sobre o Brasil e a história dos seus
risco à liberdade era a concentração de poderes. regimes, com a professora Marina Garcia.

A estrutura proposta pelos federalistas é bem No caso brasileiro, para esses freios e
parecida com o que possuímos hoje no Brasil. Além contrapesos, possuímos uma separação de
da separação dos poderes, temos as esferas de poderes e temos mecanismos institucionais para
atuação: federal, estadual e municipal. O método de garantir a independência entre Executivo,
composição desses poderes varia conforme a esfera Legislativo e Judiciário. Entenda melhor abaixo:
de atuação e sua natureza.

Saiba mais
Nos EUA, alguns cargos do Judiciário são compostos
via eleição, enquanto aqui no Brasil isto só ocorre
por meio de concurso, e, em uma minoria dos casos,
por indicação do Poder Executivo.
organograma a seguir resume o arranjo institucional
dos poderes compostos pelo voto:

Praça dos três


poderes na cidade de Brasília, Brasil, 2021.

Executivo
Um deles é o veto do Executivo, como vimos em
Montesquieu e nos Federalistas, e que existem em
nosso ordenamento jurídico. Este arranjo institucional foi criado tendo em vista
a defesa de nosso Estado Democrático de Direito,
Em cada uma das esferas, o Executivo recebe as leis pois nossos representantes são eleitos por meio do
aprovadas pelo Legislativo. O Executivo pode aprová- voto, com exceção do Poder Judiciário. Além disso, o
las (sanção) ou reprová-las (veto), no todo ou em voto é um direito de todos os brasileiros, maiores de
parte. Essas leis, quando reprovadas, retornam ao 16 anos, sem qualquer restrição de renda, gênero,
Legislativo. Além disso, cabe ao Executivo a inciativa classe, raça ou religião.
nas legislações relativas ao orçamento.

Legislativo
O Legislativo pode promulgar leis vetadas pelo
Executivo. É necessária uma votação expressiva
(maioria absoluta) do corpo legislativo para derrubar
o veto, e promulgar a lei por meio de um decreto
legislativo. Cabe também ao Legislativo fiscalizar as
contas do Executivo e abrir processos
de impeachment em caso de crimes de
responsabilidade.

Judiciário Simula
ção de um voto na urna eletrônica usada nas
O Judiciário obtém autonomia orçamentária — ou eleições do Brasil, 2020.
seja, os gastos do Judiciário são decididos por seus
órgãos — a inamovibilidade dos juízes e a guarda da Os problemas tratados pelos filósofos e teóricos que
Constituição no caso do Supremo Tribunal Federal vimos neste e nos outros módulos são distintos de
são mecanismos para garantir sua independência. nossa atualidade. Temos uma democracia
consolidada na qual os direitos e liberdades são
garantidos por uma Constituição e leis que limitam a
Sobre as esferas de atuação, temos a União (federal),
atuação dos detentores do poder. Ainda assim,
os estados e o Distrito Federal, e os municípios. Veja:
quando olhamos para história, constatamos que esta
Na esfera federal situação é bem recente.

O chefe do Poder Executivo é o presidente e o


Será que podemos considerar que sempre seremos
Legislativo é composto por duas casas: Câmara dos
Deputados e Senado Federal. O Congresso Nacional democráticos?
é a união dessas casas e seus parlamentares. VAMOS REFLETIR...

Na esfera estadual No Brasil, a democracia tem pouco mais de trinta


O Executivo tem como chefe o governador, o Poder anos. Temos um longo passado autoritário no qual
Legislativo consiste na assembleia dos deputados. os poderes eram concentrados no Executivo.

A concentração de poderes, tão temida pelos


Na esfera municipal filósofos que analisamos, parece ser um risco para a
democracia.
Temos os prefeitos como chefes do Executivo e a
câmara de vereadores pelo Legislativo.
Todavia, na atualidade, isso não ocorreria na figura
de um monarca, por exemplo. Tendo por base a
separação dos poderes e suas atribuições, a
concentração de poder pode ocorrer quando um Eleger um representante, atribuindo a ele todas as
partido político, por exemplo, domina o Poder funções do Estado.
Executivo e o Legislativo. Mas consideramos, de fato,
um risco democrático quando esse partido persegue
seus opositores, cria leis que impeçam a oposição e
limite ou suprima as liberdades de expressão e de
imprensa. Restaurar as monarquias derrubadas e conceder a
elas o controle dos Parlamentos.
Frente a estes tipos de abusos, um mecanismo de
defesa é a atuação do Poder Judiciário. Sendo um
poder que não tem sua composição feita por meio
do voto, o seu controle por algum partido fica mais Promulgar uma constituição que se baseie na bíblia,
difícil, embora possa ocorrer. O Judiciário deve ser separando os poderes mundanos dos espirituais.
politicamente neutro, como propôs Montesquieu.
Compete a esse poder defender o Estado
Democrático de Direito frente a possíveis abusos que
venham dos poderes Executivo e Legislativo.
Definir cada função, Executivo, Legislativo e
Judiciário, por meio de uma Constituição e criar
Resumindo mecanismos de independência.
Neste módulo, vimos como se deu a
institucionalização dos poderes Executivo, Legislativo
Comentário
e Judiciário. Discutimos a proposição clássica
de Montesquieu e analisamos o que os Parabéns! A alternativa "E" está correta.
federalistas propunham para o país recém-criado
Estados Unidos da América. A partir dos mecanismos
de separação e equilíbrio dos poderes, identificamos
a sua presença na estrutura política brasileira dos
dias atuais. Assim, reconhecemos os mecanismos
que nossas instituições têm com o objetivo defender A identificação dos poderes, deixando claros seus
o Estado Democrático de Direito contra a limites de atuação e a composição, é a forma pela
concentração de poderes de um ator ou grupo qual a separação de poderes é preservada. Deste
político. modo, um poder não interfere na atuação de outro
poder, a não ser em situações constitucionalmente
previstas, assim como um mesmo indivíduo ou corpo
VERIFICANDO O APRENDIZADO de indivíduos não exerce mais de um poder.

1. Na consolidação dos Estados modernos, vimos 2. A separação de poderes, assim como o equilíbrio
que o poder estava concentrado na figura de entre eles, são características da arquitetura
monarcas. Após movimentos revolucionários, as institucional brasileira. O sistema de freios e
monarquias absolutistas foram derrubadas, dando contrapesos é presente em todas as esferas
origem a Estados com poderes separados. Analise (federal, estadual e municipal) de nosso sistema
as proposições e marque a que apresenta um político. Assinale a alternativa que explicita um
mecanismo para a separação de poderes. mecanismo de independência de um poder.

Definir cada função, Executivo, Legislativo e Veto emitido pelo Judiciário contra medidas do
Judiciário, e compor os poderes com pessoas da Legislativo.
mesma classe social.
Convocação do Exército por meio de decisão judicial.

Nota de repúdio emitida pelo presidente da Câmara


dos Deputados.

Veto presidencial em lei aprovada pelo Congresso


Nacional.

Decreto legislativo exonerando membros do


Supremo Tribunal Federal.

Comentário

Parabéns! A alternativa "D" está correta.

O veto do Executivo às leis aprovadas no Legislativo


é uma forma de garantir a independência do
Executivo. Desde modo, o Executivo não é obrigado
a cumprir uma lei que não concorde ou que o
prejudique na aplicação de outras leis.

CONCLUSÃO

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste tema, abordamos questões fundamentais para


a compreensão de nosso mundo. Entendemos as
características particulares de nossa sociedade e seu
surgimento histórico, as bases do Estado no qual
vivemos, os poderes e seus controles, na teoria e na
nossa realidade nacional. Deste modo, possuímos
agora uma visão mais apurada e embasada acerca
dos nossos problemas atuais e das possíveis formas
de solução deles.

Nosso objetivo foi apresentar a você como os


poderes políticos funcionam, suas atuações e
restrições, nas sociedades contemporâneas. Esse
exercício possibilita que nós direcionemos nossas
demandas, além de entender o que é permitido e o
que não é. Enfim, conhecer melhor o mundo e país
no qual vivemos, as influências e as origens
históricas é, em si, um mecanismo de cidadania.

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