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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE

Faculdade de Gestão de Recursos Florestais e Faunísticos

Licenciatura em Direito 2o ano

Trabalho Individual

Cadeira: Direito Económico

Tema: Constituição Económica

Discente:
Rosa Mariza Sampaio

Docente:
Dr. Célio Varieque

Lichinga, Abril de 2022


UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MOÇAMBIQUE
Faculdade de Gestão de Recursos Florestais e Faunísticos

Licenciatura em Direito 2o ano


Trabalho Individual

Cadeira: Direito Económico


Tema: Constituição Económica

Discentes:
Rosa Mariza Sampaio

Trabalho de pesquisa a ser submetido á


Universidade Católica de Moçambique –
Faculdade de Gestão de Recursos Florestais e
Faunísticos (FAGREFF), referente a cadeira
de Direito Económico, orientado pelo Dr.
Célio Varieque

Lichinga, Abril de 2022


ÍNDICE
I. Introdução ................................................................................................................. 4

1.1 Objectivos ........................................................................................................... 4

1.1.2 Geral ............................................................................................................. 4

1.1.3 Específicos .................................................................................................... 4

II. Marco Teórico .......................................................................................................... 5

2.1 Enquadramento Analítico da Constituição Económica ......................................... 5

2.1.1 Noção de constituição económica .................................................................. 6

3. Propriedade e Constituição Económica .................................................................. 7

4. Evolução da Constituição Económica Moçambicana ............................................. 7

4.1 Constituição da República de 1975 ................................................................... 8

4.1.1 Constituição da República de 1990 .............................................................. 10

4.1.2 Constituição da República de 2004 .............................................................. 11

III. Conclusão ............................................................................................................. 13

IV. Referências bibliográficas ..................................................................................... 14


I. Introdução

Entende-se por Constituição Económica o conjunto de normas e princípios relativos à


economia, ou seja, a ordem constitucional económica. Do ponto de vista formal, a
Constituição Económica é a parte económica da Constituição do Estado, em que estão
contidos os dispositivos essenciais ao ordenamento da actividade económica,
desenvolvida pelos actores económicos (Teixeira, 2011, p.4). No entanto percebe-se que
o texto constitucional condensa os princípios que caracterizam o sistema económico
adoptado, através dos sectores de propriedade que se admitem, incluindo ainda os
aspectos financeiros e fiscais do Estado. É neste contexto que o presente trabalho aborda
aspectos relacionados com a constituição económica, para a elaboração do presente
trabalho foi usada a pesquisa bibliográfica, que consistiu na consulta de manuais, tanto
físicos, assim como eletrónicos.
1.1 Objectivos

1.1.2 Geral

Abordar sobre a constituição económica.

1.1.3 Específicos

Descrever a evolução da constituição económica;


Entender a constituição económica de 1975, 1990 e 2004.

4
II. Marco Teórico

2.1 Enquadramento Analítico da Constituição Económica

Os debates sobre a Lei da Constituição centram-se, geralmente, nas normas de ordem


jurídica, relativas à organização política e administrativa da sociedade e do Estado.
Também se abordam matérias sobre a organização económica, mas com um foco
centrado, principalmente, na questão do poder exercido pelo sistema político, o sistema
de governo e o sistema eleitoral, bem como a centralização vis-à-vis descentralização
territorial a vários níveis. Exemplo disto é a revisão constitucional em curso, por iniciativa
do principal partido político em Moçambique, o Partido Frelimo. Uma revisão
constitucional que decorre, praticamente, sem debate, principalmente, no espaço onde
1
mais se esperava que o mesmo acontecesse, a Assembleia da República.

Dois outros partidos da oposição, com assento parlamentar, Renamo e MDM (Movimento
Democrático de Moçambique), reagiram com alegada surpresa à iniciativa de revisão
constitucional, apresentada pela Frelimo. Surpresa, para justificar, no caso da Renamo,
sua recusa em participar na Comissão Ad-Hoc criada para rever a Constituição, num claro
sinal de incapacidade de liderança na apresentação de um modelo constitucional,
significativamente diferente daquele que foi instituído em 1990 e reafirmado em 2004.
Recorde-se que a bancada parlamentar da Renamo, no final da década de 1990, após ter
tomado a iniciativa e convencido a bancada maioritária da Frelimo para alterarem
substancialmente o sistema de governo, substituindo o presidencialismo por um semi-
presidencialismo de claro pendor parlamentar, à última hora e, inesperadamente, mudou
de posição e sabotou aquela que poderia ter sido a mudança política mais relevante depois
da guerra civil e o início de uma verdadeira “nova República”.

Aquele esforço democratizador fracassado volta agora a ser resgatado e a tomar alento
público, por enquanto a nível unicamente da sociedade civil, enquanto no seio
parlamentar os actores políticos mostram sérias dificuldades em determinar se será a
manutenção ou a mudança do status quo que melhor poderá assegurar os benefícios
pessoais que o envolvimento na política lhes tem proporcionado. Isto é evidente na
postura da terceira bancada parlamentar, o MDM; sem convicção, aceitou participar na
revisão constitucional, prometendo meditar afincadamente na sua proposta

1
Francisco, António, 2017, p. 78
5
constitucional, mas, a contar pela sua breve trajectória política, não surpreenderá se
apenas aparecer com uma vaga ideia de projecto. 2
De imediato, nada indica que os partidos políticos com assento parlamentar, todos juntos,
sejam capazes de produzir uma nova vaga de ideias demonstrativas de uma capacidade
proactiva em vez de reactiva, face aos enormes desafios com que Moçambique se
confronta actualmente. Se este contexto político, ao qual se voltará mais adiante, é em si
insólito, mais insólito se afigura que os académicos e intelectuais desperdicem a
oportunidade proporcionada pela principal força partidária, a Frelimo, para colocarem em
debate público, questões substantivas sobre os fundamentos da ordem jurídica da
economia moçambicana. Principalmente, aqueles fundamentos de primordial importância
que, apesar das mudanças político-ideológicas na orientação das políticas públicas,
permanecem inalterados, como o último reduto de um bem público com o qual ninguém
se identifica. 3

Neste contexto, afigura-se de maior interesse que se complemente o processo de revisão


constitucional em curso, com reflexões e contributos referentes ao ordenamento
institucional económico, numa perspectiva mais económica do que meramente jurídica.
Um interesse tanto académico e intelectual, como económico e empresarial, no qual a
gestão dos recursos fundiários, agrícolas e de outros recursos naturais merecem um
destaque central. Para tal, o conceito de Constituição económica assume um importante
papel operacional e analítico. De seguida, esboça-se o conceito de Constituição
económica, e será articulado com o conceito de propriedade e função do Estado.

2.1.1 Noção de constituição económica

É no conjunto dos dispositivos sobre a organização económica que se encontram


escalpelizados os direitos, deveres, liberdades, positivas e negativas, bem como as
responsabilidades dos vários actores, envolvidos no exercício da actividade económica,
tais como: indivíduos, pessoas colectivas, nacionais e estrangeiros, incluindo o Estado
(Gouveia 1999; Teixeira 2011; Waty 2011, pp.87 – 93).

Direito Económico, obra recente de Waty (2011) merece ser destacada, principalmente
pelo esforço na explicitação do tema da Constituição Económica de Moçambique. Waty

2
Francisco, António, 2017, p. 79
3
Francisco, António, 2017, p. 79

6
(2011, pp.105–129) considerou que do processo de constitucionalização económica
iniciado com a Independência em 1975, derivaram quatro etapas: a) A Pré-Constituição
Económica (Constituição Económica do Governo de Transição entre 20 de Setembro de
1974 e 25 de Junho de 1975); b) A Constituição Económica da Independência –
“Constituição do Tofo”, 1975; c) A Constituição Económica Intercalar ou do Plano do
PRES (Plano (s) de Reabilitação Económica e Social); d) A Constituição Económica de
1990, revista em 2004.

Não obstante a hesitação do autor em avançar com a periodização, atrás referida, ela tem
o mérito de procurar identificar e espelhar as reais dinâmicas do processo de criação da
nova Constituição Económica moçambicana, na sequência da queda do Governo
Português em 25 de Abril de 1974 e a ruptura radical com a Constituição Económica do
chamado Estado Novo Português. Um mérito que o próprio autor acaba por desvalorizar
ao ficar amarrado ao próprio modelo de Constituição Económica presentemente em vigor,
desperdiçando a oportunidade para apontar caminhos para as contradições que o
legislador e o partido político dominante têm perpetuado.

3. Propriedade e Constituição Económica

O conjunto de normas e princípios relativos à economia, configurado no que aqui se


designa por Constituição Económica, estabelece os princípios definidores do uso da
propriedade, principalmente, os princípios explícitos relacionados com a sua função na
alocação dos bens e dos recursos, para fins de subsistência, produção e património. De
igual modo, nem que seja de forma implícita ou indirecta, os princípios constitucionais
acabam por estabelecer e determinar as relações de propriedade concernentes ao poder e
prestígio dos actores da sociedade. 4

4. Evolução da Constituição Económica Moçambicana

Se o escritor moçambicano Mia Couto estiver certo, ao afirmar, algures, que em vez de
escangalhar o Aparelho de Estado Colonial, como se proclamava repetidamente nos
primeiros anos de independência, o que se fez foi, basicamente, escangalhar o estado do
Aparelho, isto por si só justificaria abordar a evolução da Constituição económica tendo
em conta o período anterior a 1975.

4
Francisco, António, 2017, p. 92

7
Por razões de espaço, a presente reflexão circunscreve-se à evolução da Constituição
económica moçambicana, apenas no período do Estado Soberano, ou seja, desde a
Independência de Moçambique em 1975. Esta opção pode incorrer no erro muito comum
de se assumir que o Estado Soberano herdou do passado, unicamente, obstáculos,
dificuldades e problemas tais que o partido no poder desmantelou por completo a máquina
administrativa e burocrática de governação, tendo criado um novo Estado do nada.
Todavia, é sabido que o Estado Soberano começou por reconhecer a configuração
fronteiriça, o Estado unitário, a máquina administrativa, a língua oficial de comunicação,
o sistema legal e de funcionalismo público, para só citar algumas das características,
definidas e desenvolvidas pelo Estado colonial entre 1891 e 1974. De igual modo, Waty
(2011, p.112) tem razão em destacar, na sua periodização da Constituição da República
de Moçambique, o período de pré-Constituição Económica do Governo de Transição
entre 20 de Setembro de 1974 e 25 de Junho de 1975. Período no qual foram introduzidos
alguns princípios, normas e instituições novas, incluindo “disposições limitativas ou
restritivas do direito de propriedade” e “disposições tendentes a estabelecer uma reforma
agrária.

O desprezo pela evolução histórica e características dos regimes de propriedade,


configurados ao longo dos 83 anos de Estado colonial, poderá ter contribuído,
sobremaneira, para o fracasso das opções políticas revolucionárias e radicais, no período
posterior à independência. Num outro contexto, com mais espaço, tempo e oportunidade
para aprofundar esta análise, o mais correcto seria retroceder ao período anterior à
Independência, com destaque para os acontecimentos relevantes no período decorrente
do nascimento do Estado moderno em 1891; período que estabeleceu os pilares da
Administração Pública e do Estado moderno em edificação desde 1975 (Francisco 2010,
pp.57 –58).

4.1 Constituição da República de 1975

A Constituição da República Popular de Moçambique (CRPM75) entrou em vigor


aquando da proclamação da independência nacional, a 25 de Junho de 1975, tendo sido
finalizada e definida pelo Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique
5
(FRELIMO), em sessão realizada na praia do Tofo, Província de Inhambane. A partir

5
Waty (2011, pp.103, 114 –118)

8
de 1978 a responsabilidade pela revisão constitucional passou para a Assembleia Popular,
com poderes constituintes, mas, na prática, a liderança do Partido Frelimo manteve um
forte controlo das mudanças constitucionais realizadas nos anos seguintes.
A CRPM75 consagrou postulados constitucionais de âmbito da soberania do Estado e do
domínio económico, assente na ideologia e projecto constitucional da então FRELIMO,
dos quais merecem particular destaque as seguintes características jurídico-económicas:

Tendo como um dos objectivos fundamentais “a eliminação das estruturas de


opressão e exploração coloniais... e a luta contínua contra o colonialismo e o
imperialismo”, foi estabelecida na República Popular de Moçambique (RPM) um
Estado de democracia popular e uma economia marcadamente socializante, onde
o partido no poder declarou propor-se eliminar a acumulação produtiva privada e
proceder à redistribuição da riqueza. O Relatório do Comité Central ao III
Congresso da Frelimo de 1977 afirmava, a este propósito: “Os objectivos finais
fixados na Constituição da República Popular de Moçambique são, na sua
essência, a edificação das bases política, ideológica, científica e material da
sociedade socialista” (FRELIMO 1975; Frelimo 1977, pp.57–58; Sal & Caldeira
n.d.; Waty 2011, p.115).
O legislador, na altura, o Comité Central da Frelimo, declarou o Estado
Moçambicano legalmente único e exclusivo proprietário da terra em
Moçambique, abrangendo todo o território constituído pelo Estado colonial e
reconhecido internacionalmente, desde a última década do Século XIX,
correspondente a 799.380 Km2; ou seja, cerca de 80 milhões de hectares, dos
quais se estima que 36 milhões de hectares (45%) compreendam a terra
potencialmente arável (DSPIE 1973, pp.1–4). Em outras palavras, após a
Independência Nacional o património fundiário tornou-se propriedade estatal,
sendo a sua alocação e gestão da directa responsabilidade do Estado.
Segundo Sal & Caldeira (N.d., p.1), a CRPM75 sofreu seis alterações pontuais,
designadamente: em 1976, em 1977, 1978, 1982, 1984 e em 1986. Todas estas alterações
visaram, essencialmente, a organização política do Estado, não tendo havido alterações
dignas de referência à Constituição económica.
Em conformidade com a CRPM75 e visando defender a ordem económica do Estado, a
então Assembleia Popular aprovou a Lei n.º 5/82, de 9 de Junho, mais conhecida como
“Lei de Defesa da Economia”, que definia infracções anti-económicas, impondo as

9
respectivas sanções administrativas e penais. A Lei de Defesa da Economia foi
posteriormente reformulada pela Lei n.º 9/87, de 19 de Setembro, que, além de ampliar o
âmbito das infracções, agravou algumas das penas anteriormente previstas (Conselho
Constitucional 2007).

4.1.1 Constituição da República de 1990

A Constituição da República de Moçambique de 1990 (CRM90) introduziu alterações


suficientemente profundas, praticamente, em todos os campos da vida do País, para
merecer a designação de 2ª República de Moçambique independente (Assembleia Popular
1990).12
Parte das mudanças visou formalizar transformações de ordem económica, iniciadas a
partir 1984, ano em que o Estado Moçambicano aderiu, formalmente, às Instituições de
Bretton Woods, solicitando a ajuda financeira e técnica internacional (Francisco 2010;
Francisco 2012; Francisco 2012; Waty 2011, pp.119 –121). Resumidamente, destacam-
se os seguintes aspectos mais marcantes na CRM90:

Para além de se abrir ao modelo de Estado de Direito, a CRM90 descriminalizou


o mercado privado, substituiu o sistema de economia centralmente planificada e
socialista: “A ordem económica da República de Moçambique assenta na
valorização do trabalho, nas forças do mercado, na iniciativa dos agentes
económicos, na participação de todos os tipos de propriedade e na acção do Estado
como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento económico e
social, visando a satisfação das necessidades básicas da população e a promoção
do bem-estar social” (Artigo 41, No 1).
No seu Capítulo III, “Direitos e deveres económicos e sociais”, o Artigo 86 da
CRM90 declarou: “O Estado reconhece e garante o direito de propriedade”. Se
bem que referido num sentido genérico e abrangente, tratou-se de um importante
passo relativamente à Constituição de 1975 que, apenas, reconhecia e garantia a
propriedade pessoal. A questão do carácter genérico e indefinido do termo “direito
de propriedade” é importante sublinhar, por duas razões: por um lado, na década
de 1990 a própria liderança política já se mostrava preocupada em procurar
reconhecimento e protecção para os bens corpóreos que tinha adquirido,
principalmente, os bens imóveis adquiridos na sequência da expropriação e
confisco decorrentes das nacionalizações de 1975 e 1976. A nível habitacional
urbano, tanto os antigos proprietários moçambicanos expropriados como os novos
10
inquilinos reivindicavam o reconhecimento da sua ocupação e a manutenção que
vinham realizando, pelo facto da entidade estatal responsável, Administração do
Parque Imobiliário (APIE), ser incapaz de o fazer.
O Artigo 47 estabelecia competir ao Estado determinar as condições de uso e
aproveitamento da terra, permitido “… às pessoas singulares ou colectivas tendo
em conta o seu fim social”. Um terceiro parágrafo, ainda no Artigo 47,
determinava competir à lei estabelecer os termos em que se operava a criação de
direitos sobre a terra em benefício dos utilizadores e produtores directos, “não se
permitindo que tais direitos sirvam para favorecer situações de domínio
económico ou privilégio em detrimento da maioria dos cidadãos”.
Talvez a mudança mais significativa na CRM90 seja o reconhecimento legal da
legitimidade das práticas costumeiras comunitárias, no que o texto constitucional
designa por “papel fundamental do sector familiar” (Artigo 42); uma importante
diferença do tipo de encorajamento da CRPM75 para que os camponeses e
trabalhadores individuais se organizassem em formas colectivas de produção. O
reconhecimento do direito de uso e aproveitamento representou um passo
fundamental, em direcção ao reconhecimento legal da legitimidade da ocupação
espontânea dos camponeses, na perspectiva Lockeana sobre o direito de
propriedade, por via da conjugação da ocupação original, misturada com o
trabalho investido pelas pessoas na terra (Pires 2011; Jasay 2006).
O Estado substituiu a aspiração pelo controlo directo dos principais meios de
produção, por um intervencionismo reconhecedor da coexistência entre diferentes
regimes de propriedade, nomeadamente, coexistência entre o privado e o
consuetudinário, mas complementado por vários instrumentos legais e
administrativos dirigistas, centralizadores e controladores. A “acção do Estado
como regulador e promotor do crescimento e desenvolvimento económico e
social…” (Artigo 41) concretiza-se sobretudo através da propriedade estatal e
mista, com destaque para o facto de que o Estado mantém o monopólio estatal
sobre a terra e outros recursos naturais Francisco 2012f; (Sal & Caldeira, n.d).
4.1.2 Constituição da República de 2004

A Constituição da República de 2004 (CRM2004), diferentemente da CRM90 em relação


CRPM75, não apresenta uma ruptura com o regime constitucional que substituiu. Surgiu
com disposições que supostamente procuraram reforçar e solidificar o regime de Estado

11
de Direito e democrático trazido em 1990, através de melhores especificações de
disposições já existentes, criação de novas figuras, princípios e direitos e elevação de
alguns institutos e princípios existentes na legislação ordinária à categoria constitucional
(Assembleia da República 2004).
Relativamente à Constituição Económica, em particular, a CRM2004 não só perdeu a
oportunidade de introduzir alterações de fundo com vista a instaurar uma ordem
económica mais consistente com as políticas que visem desenvolver uma economia de
mercado, mas também, no caso específico da política de terra, retrocedeu em relação à
CRM90.
Em resumo, quatro pontos relativos à propriedade, na CRM2004, merecem ser
destacados, no âmbito desta reflexão. Primeiro, a principal inovação positiva digna de
referência, no bloco sobre a Constituição Económica da CRM2004, foi formal, ao
apresentar uma nova ordem dos artigos e melhor sistematização dos conteúdos relativos
à organização económica. A Constituição Económica concentra-se num grande bloco,
“Título IV - Organização económica, social, financeira e fiscal”. No capítulo VI, possui,
também, um novo tema dedicado ao sistema financeiro e fiscal em Moçambique, o qual
não tinha tratamento constitucional na CRM90.

12
III. Conclusão

Após a realização do presente trabalho, concluiu-se que A Constituição da República


actualmente em vigor limitou-se a reafirmar a opção da CRM90 em abandonar a linha
explicitamente radical da Constituição de 1975, a favor da estatização dos meios de
produção, mas manteve o intervencionismo do Estado na economia, insistindo no
monopólio estatal sobre a terra. Enquanto assim permanecer, a Constituição Económica
de Moçambique continuará a proporcionar condições para um ambiente de negócios
restritivo, excludente da maioria da população e contra o desenvolvimento de uma
economia de mercado formal, na base de princípios, ética e valores de concorrência
saudável e progressiva.

Concluiu-se ainda que uma nova Constituição económica precisará de definir o papel do
Estado na regulação das forças de mercado, mas para tal, a ordem económica terá de
assegurar os direitos de liberdade económica em geral, na valorização do trabalho, da
defesa do consumidor e do ambiente. Uma nova Constituição da República com uma
nova Constituição Económica precisa de ter um endereço certo, incluindo o direito à livre
iniciativa económica, a propriedade intelectual, o direito do trabalho e os direitos do
consumidor.

13
IV. Referências bibliográficas

Assembleia da República. (2004). Constituição, assinada. em 16 de Novembro de 2004.


BR no 051, I Série, de 22 de Dezembro de 2004, pág. 543 a 573., Disponível em:
www.atneia.com

DSPIE, (1973). IV Plano de Fomento: Parte III, Relatórios Sectoriais, Vol. 1, Fomento
Agrário, Tomo 1, Desenvolvimento Agrário, Lourenço Marques: Direcção dos Serviços
de Planeamento e Integração Económica (DSPIE).

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Falido mas não Falhado". Protecção Social: Abordagens, Desafios e Expectativas para
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Francisco, António, Por uma Nova Constituição Económica em Moçambique, 2017.

FRELIMO, (1975). Constituição de 25 de Junho de 1975. BR no 001, I Série, de 25 de


Junho de 1975, pág. 1 a 6., Disponível em: www.atneia.com

Frelimo, (1977). Relatório do Comité Central ao 3o Congresso, Maputo: Departamento


do Trabalho Ideológico.
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JASAY, A. de. (2006). Property or “Property Rights”? Library of Economics and


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PIRES, S. de P., (2011). Do Conceito de Liberdade em Friedrich A. Hayek - Um


contributo para o estudo do liberalismo clássico em Portugal. [Dissertação para a
obtenção do grau de Mestre em Ciência Política]. Universidade Técnica de Lisboa,
Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas. Lisboa. Disponível em:
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friedrich-a-hayek-por-samuel-de-paiva-pires.

SAL & CALDEIRA, (s/d.). Evolução Constitucional na República de Moçambique. Sal


& Caldeira Advogados, Lda. Disponível em: www.salcaldeira.com/Artigos.html.

14
TEIXEIRA, C., (2011). "A Nova Constituição Económica de Angola e as
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Direito da Universidade de Lisboa].

WATY, T.A., (2011). Direito Económico. W&W Editora, Limitada. Maputo.

15

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