Você está na página 1de 33

A Constituição da República Popular de Moçambique de 1975, as suas revisões e a

I República (1975-1990)

A proclamação da independência de Moçambique ocorreu às zero horas do dia 25 de


junho de 1975, altura em que passou a vigorar a sua primeira Constituição, com a
designação de “Constituição da República Popular de Moçambique” (CRPM), texto
com 73 artigos e a seguinte sistematização inicial:

TÍTULO I - Princípios Gerais.

TÍTULO II - Direitos e Deveres Fundamentais dos Cidadãos.

TÍTULO III - Órgãos do Estado

-Capítulo I - Assembleia Popular

-Capítulo II - Comissão Permanente da Assembleia Popular

-Capítulo III - Presidente da República

-Capítulo IV - Conselho de Ministros

-Capítulo V - Organização Administrativa e Órgãos locais do Estado

-Capítulo VI - Organização Judiciária

TÍTULO IV - Símbolos da República Popular deMoçambique

TÍTULO V - Disposições Finais e Transitórias

2) O primeiro texto constitucional moçambicano, no cotejo com os textos


constitucionais africanos lusófonos da

sua geração, acusava a influência do constitucionalismo soviético, ainda que tivesse


introduzido importantes

alterações marcando alguma originalidade na modelação do seu recém-criado Estado


Constitucional.

Em relação à definição do novo Estado, assinalavam-se preocupações com a construção


pós-colonial da Nação
Moçambicana: “A República Popular de Moçambique, fruto da resistência secular e da
luta heróica e vitoriosa do

Povo Moçambicano, sob a direção da FRELIMO, contra a dominação colonial


portuguesa e o imperialismo, é um Estado soberano, independente e democrático”

À FRELIMO foi deferido um papel liderante nos destinos do novo Estado na sequência
da posição de único movimento de libertação nacional, dizendo-se que “A República
Popular de Moçambique é um Estado de democracia popular em que todas as camadas
patrióticas se engajam na construção de uma nova sociedade, livre da exploração do
homem pelo homem”, afirmando-se ainda que “Na República Popular de Moçambique
o poder pertence aos operários e camponeses unidos e dirigidos pela FRELIMO, e é
exercido pelos órgãos do poder popular”.

No tocante aos direitos fundamentais, apresentava-se uma lista algo incompleta, com a
principal ausência de certas liberdades fundamentais de natureza política, embora se
deva referir a importante afirmação de alguns direitos fundamentais sociais.

3) Do ponto de vista estrutura do Estado, previa-se os seguintes órgãos:

-a Assembleia Popular, “órgão supremo do Estado” e “o mais alto órgão legislativo…”,


com funções legislativo-parlamentares;

-o Presidente da República, Chefe de Estado, por inerência o Presidente da FRELIMO,


com funções políticorepresentativas;

-o Conselho de Ministros, presidido pelo Presidente da República e composto por


Ministros e Vice-Ministros, com funções executivas;

-os Tribunais, com a função jurisdicional, encimados pelo Tribunal Popular Supremo.

4) Ao longo desta I República, o texto constitucional moçambicano sofreria algumas


revisões constitucionais pontuais que corresponderam às flutuações próprias da
ambiência política de cada momento histórico, revisões constitucionais que foram as
seguintes:

-Deliberação da 8a. reunião do Comité Central da FRELIMO, de 10 de abril de 1976:


alteração ao art. 57 da
CRPM, segundo o qual “…o mais alto órgão do Estado na província é a Assembleia
Provincial”;

-Deliberação da 2ª sessão do Comité Central da FRELIMO, de 28 e 29 de agosto de


1977: desconstitucionalização do número de membros da Assembleia Popular, passando
o seu número a ser fixado pela lei eleitoral;

-Lei nº 11/78, de 15 de agosto: introdução de um extenso preâmbulo a anteceder o texto


constitucional, extraído do discurso de Samora Machel na proclamação da
independência, e o reacerto e aperfeiçoamento das competências dos órgãos do Estado

-Lei nº 1/84, de 27 de abril: alteração na disposição das cores da bandeira nacional (que
passaram de diagonais a horizontais), com uma nova redação do art. 77 da CRPM;

-Lei nº 4/86, de 25 de julho: introdução dos cargos de Presidente da Assembleia Popular


e de Primeiro-Ministro, além de alterações à organização territorial do país.

V. O início da transição democrática, a Constituição da República de Moçambique de


1990, as suas revisões pontuais e o Acordo Geral de Paz de 1992 (1990-2004)

1) A I República Moçambicana foi igualmente marcada pelo conflito que opôs o


Governo/FRELIMO e a RENAMO, o qual só terminaria com a assinatura do Acordo
Geral de Paz , em 4 de outubro de 1992.

Assim descrita recentemente por Jaime Gonçalves, Arcebispo Emérito da Beira: “O


mais grave era a autodestruição das pessoas. Criava-se muito ódio no coração das
pessoas. Os da Frelimo falavam dos Bandidos Armados como inimigos, seres da selva,
dignos de morte. Os da Renamo consideravam os da Frelimo como comunistas, dignos
de desprezo e de morte”.

2) contrariamente ao sucedido no país irmão de Angola, em Moçambique passar-se-ia o


inverso no fim dessa guerra: primeiro fez-se uma nova lei constitucional, e só depois se
aprovou o Acordo de Paz.

Foi assim que em 1990 se adotou a primeira Constituição da República de Moçambique


de uma nova fase (CRM1990), aprovada ainda pela Assembleia Popular em 2 de
novembro de 1990 e com início de vigência a 30 do mesmo mês, seguindo no
fundamental a sistematização estabelecida na CRPM, de 1975, com os seguintes títulos,
num total de 206 artigos:
-TÍTULO I - Princípios fundamentais

-Capítulo I - A República

-Capítulo II - Nacionalidade

-Capítulo III - Participação na vida política do Estado

-Capítulo IV - Organização económica e social

-Capítulo V - Defesa Nacional

-Capítulo VI - Política externa

-TÍTULO II - Direitos, deveres e liberdades fundamentais

-Capítulo I - Princípios gerais

-Capítulo II - Direitos, deveres e liberdades

-Capítulo III - Direitos e deveres económicos e sociais

-Capítulo IV - Garantias dos direitos e liberdades

-TÍTULO III - Órgãos do Estado

-Capítulo I - Princípios gerais

-Capítulo II - Presidente da República

-Capítulo III - Assembleia da República

-Capítulo IV - Conselho de Ministros

-Capítulo V - Conselho Nacional de Defesa e Segurança

-Capítulo VI - Tribunais

-Capítulo VII - Procuradoria-Geral da República

-Capítulo VIII - Conselho Constitucional

-Capítulo IX - Órgãos Locais do Estado

-Capítulo X - Incompatibilidades

-TÍTULO IV - Símbolos, moeda e capital da República


-TÍTULO V - Revisão da Constituição

-TÍTULO VI - Disposições finais e transitórias

3. Ao longo da sua vigência de 14 anos, a CRM1990 foi objeto de algumas revisões


constitucionais:

Lei nº 11/92, de 8 de outubro: alteração da norma sobre a iniciativa da revisão


constitucional, aditando-se o nº 3 do art. 204 da CRM1990, permitindo que a mesma
ocorresse depois das eleições multipartidárias previstas no Acordo Geral de Paz;

Lei nº 12/92, de 9 de outubro: alteração de vários preceitos constitucionais na


sequência da assinatura do Acordo Geral de Paz, designadamente em matéria de direito
de sufrágio para os órgãos do Presidente da República e Assembleia da República;

Lei nº 9/96, de 22 de novembro: reformulação da organização territorial do poder


público, esclarecendo a legitimidade e as funções dos órgãos locais do Estado e dos
órgãos do Poder Local, este passando a ser um novo Título IV na sistemática do texto
constitucional, acomodando a reforma profunda feita na instalação de uma
administração autárquica;

Lei nº 9/98, de 14 de dezembro: alteração dos arts. 107 e 181 da CRM1990 no sentido
de antecipar alterações efetuadas no plano da legislação ordinária.

Em associação a este novo texto constitucional, foram aprovados outros


importantes diplomas legais, materialmente constitucionais e complementares da
nova ideia de Direito estabelecida:

-Lei da Greve - Lei nº 1/91, de 9 de janeiro;

-Lei dos Partidos Políticos - Lei nº 7/91, de 23 de janeiro;

-Lei das Associações - Lei nº 8/91, de 18 de julho;

-Lei da Liberdade de Reunião e de Manifestação - Lei nº 9/91, 18 de julho;

-Lei de Imprensa - Lei nº 18/91, de 10 de agosto;

-Lei da Liberdade Sindical - Lei nº 23/91, de 31 de dezembro.

5) Ainda que o processo de pacificação de Moçambique tivesse a originalidade de ter


sido antecipado por um novo texto constitucional, que foi a Constituição de 1990, a paz
só seria alcançada com a assinatura, em Roma, em 4 de Outubro de 1992, do Acordo
Geral de Paz.

Posteriormente, este texto seria vazado em ato legislativo - a Lei nº 13/92, de 14 de


Outubro - e apresentava a seguinte estrutura, composto de sete Protocolos:

-Protocolo I - Dos Princípios Fundamentais;

-Protocolo II - Dos Critérios e Modalidades para a Formação e Reconhecimento dos


Partidos Políticos;

-Protocolo III - Dos Princípios da Lei Eleitoral;

-Protocolo IV - Das Questões Militares;

-Protocolo V - Das Garantias;

-Protocolo VI - Do Cessar-Fogo;

-Protocolo VII - Da Conferência dos Doadores.

A atual Constituição da República de Moçambique de 2004

A formação do novo texto constitucional depois de eleições gerais

O texto constitucional moçambicano é o segundo mais jovem dos textos constitucionais


de língua portuguesa e surgiu no contexto da abertura propiciada pelo fim do conflito
interno e da assinatura do Acordo Geral de Paz, sucedendo a um texto constitucional -a
CRM de 1990- que tinha sido aprovado pela Assembleia Popular, numa altura em que
não ainda havia pluripartidarismo no país.

Foi assim que por alguns anos, sobretudo depois do fim da guerra em 1992, vigorou
aquele primeiro texto constitucional, até que se chegou à conclusão da conveniência de
se fazer outro texto constitucional que pudesse ser aprovado por uma Assembleia da
República resultante de eleições multipartidárias.

O procedimento constituinte ocorreu na segunda legislatura, que se iniciou em 2000 e


terminou em 2005.

Tal foi a sua tarefa fundamental, trabalhos que tiveram lugar no âmbito de uma
Comissão Constitucional, e com um amplo debate popular.
Na sequência dessa discussão, o texto da nova Constituição da República de
Moçambique foi o culminar de um processo constitucional, com vários momentos:

 a aprovação pela Assembleia da República, em 16 de novembro de 2004, por


unanimidade e aclamação dos Deputados presentes (231 em 250);

 a promulgação pelo Presidente da República, em 16 de novembro de 2004;

 a publicação no Boletim da República, em 22 de dezembro de 2004, e o início


da vigência, em 20 de janeiro de 2005.

Estrutura do articulado constitucional, influências recebidas e revisão pontual de


2007

1) O texto constitucional moçambicano é um dos mais extensos no conjunto das


Constituições de Língua Portuguesa, contando com 306 artigos, que se distribuem pelos
seguintes 17 títulos, antecedidos por um preâmbulo, e em muitos casos aqueles se
subdividindo em capítulos:

-TÍTULO I - Princípios fundamentais

-Capítulo I - República

-Capítulo II -Política externa e Direito Internacional

-TÍTULO II - Nacionalidade

-Capítulo I - Nacionalidade originária

-Capítulo II - Nacionalidade adquirida

-Capítulo III - Perda e reaquisição da nacionalidade

-Capítulo IV - Prevalência da nacionalidade e registo

-TÍTULO III - Direitos, deveres e liberdades fundamentais

-Capítulo I - Princípios gerais

-Capítulo II - Direitos, deveres e liberdades

-Capítulo III - Direitos, liberdades e garantias individuais

-Capítulo IV - Direitos, liberdades e garantias de participação política


-Capítulo V - Direitos e deveres económicos, sociais e culturais

-TÍTULO IV - Organização económica, social, financeira e fiscal

-Capítulo I - Princípios gerais

-Capítulo II - Organização económica

-Capítulo III - Organização social

-Capítulo IV - Sistema financeiro e fiscal

-TÍTULO V - Organização do poder político

-Capítulo Único - Princípios gerais

-TÍTULO VI - Presidente da República

-Capítulo I - Estatuto e eleição

-Capítulo II - Competências

-Capítulo III - Conselho de Estado

-TÍTULO VII - Assembleia da República

-Capítulo I - Estatuto e eleição

-Capítulo II - Competência

-Capítulo III - Organização e funcionamento

-TÍTULO VIII - Governo

-Capítulo I - Definição e composição

-Capítulo II - Competência e responsabilidade

-TÍTULO IX - Tribunais

-Capítulo I - Princípios gerais

-Capítulo II - Estatuto dos juízes

-Capítulo III - Organização dos tribunais

-TÍTULO X - Ministério Público


-TÍTULO XI - Conselho Constitucional

-TÍTULO XII - Administração Pública, Polícia, Provedor de Justiça e Órgãos Locais


do Estado

-Capítulo I - Administração Pública

-Capítulo II - Polícia

-Capítulo III - Provedor de Justiça

-Capítulo IV - Órgãos locais do Estado

-TÍTULO XIII - Defesa Nacional e Conselho Nacional de Defesa e Segurança

-Capítulo I - Defesa Nacional

-Capítulo II - Conselho Nacional de Defesa e Segurança

-TÍTULO XIV - Poder Local

-TÍTULO XV - Garantias da Constituição

-Capítulo I - Dos estados de sítio e de emergência

-Capítulo II - Revisão da Constituição

-TÍTULO XVI - Símbolos, Moeda e Capital da República

-TÍTULO XVII - Disposições Finais e Transitórias

As opções sistemáticas do texto constitucional moçambicano não deixam de se


inscrever nas tendências mais recentes de se dar primazia aos aspetos materiais sobre
os aspetos organizatórios na ordenação dos assuntos, bem como à inserção de
importantes incisos a respeito de questões económicas e sociais que hoje nenhum texto
constitucional pode lucidamente ignorar.

No que tange à técnica legislativa, nota-se a conveniente opção pela colocação de


epígrafes em todos os artigos, permitindo um conhecimento mais imediato do conteúdo
do articulado constitucional, para além da organização dos preceitos nos termos da
tradição jurídica de língua portuguesa pela sua divisão em números e alíneas, e não se
seguindo outros esquemas estrangeiros, que foram assim -e, a nosso ver, bem-
rejeitados.
O texto da CRM é ainda antecedido de um extenso preâmbulo, que pode decompor-se
de vários conteúdos e que, por isso mesmo, se afigura de grande importância para uma
primeira contextualização do novo Direito Constitucional Moçambicano.

Não fazendo formalmente parte do articulado do texto constitucional, sendo por isso
desprovido de força dispositiva, o preâmbulo da CRM, a despeito disso, tem um
inegável interesse:

 -Histórico porque apresenta uma versão oficial acerca dos acontecimentos que
estiveram na génese e evolução do Estado de Moçambique (1º e 2º parágrafos);

 -Narrativo porque descreve não só os acontecimentos que conduziram à


aprovação do novo texto constitucional como o contextualiza na transição
constitucional que culmina (3º parágrafo);

 Hermenêutico porque representa uma intervenção textual do legislador


constituinte, com potencialidades explicativas que, em certos casos, vão sempre
para além do mero articulado, como se tem reconhecido na técnica dos textos
arrazoados (4º parágrafo).

No tocante às influências recebidas, ressalta a importância da Constituição da


República Portuguesa de 1976, não apenas nas opções substanciais, como
paralelamente através dos juristas que desempenharam um papel crucial na sua
redação, o que se facilmente se compreende por causa das ligações histórico-culturais
de Moçambique a Portugal.

Mas é também justo assinalar a influência recebida de outros textos constitucionais de


língua portuguesa, como sucedeu com a Constituição Brasileira de 1988 -em matéria de
direitos fundamentais e sistema de governo- e com a Constituição de Timor-Leste de
2002 e a Lei Constitucional da República de Angola de 1992 -no tocante às regras sobre
o pluralismo jurídico e na relação do Direito Nacional com o Direito Internacional
Público-.

É verdade que hoje -em que também se assiste a uma Globalização Constitucional, que
porventura terá sido uma das primeiras- não se afigura fácil descortinar instituições
verdadeiramente marcantes dos sistemas jurídicoconstitucionais: todos os sistemas se
interinfluenciam e os textos mais jovens recebem múltiplas e paralelas influências, algo
que pode ser triangularmente referenciado nos sistemas político-constitucionais de
língua portuguesa.

O texto constitucional moçambicano, aprovado em 2004, já teve uma pontual revisão


constitucional, levada a efeito pela Lei nº 26/2007, de 16 de novembro.

O sentido fundamental desta alteração foi o de permitir, com base em consenso


partidário e social, o adiamento das primeiras eleições das assembleias provinciais.

A Constituição da República de Moçambique de 2004 (2004-….): II ou III


República

A atual Constituição da República de Moçambique foi elaborada no âmbito de um


procedimento constitucional democrático, de cariz parlamentar e presidencial, já em
ambiente de parlamento pluripartidário.

Embora não se pudesse duvidar da introdução do modelo de Estado de Direito


Democrático que a CRM1990 operou, o certo é que deste modo a legitimidade do texto
constitucional surgiria reforçada por dimanar de um parlamento sufragado por
eleições pluripartidárias.

Tem sido discutido se o aparecimento de uma nova Constituição -como sucede a partir
de novembro de 2004 com a CRM- não implica automaticamente a mudança de regime
constitucional a ponto de se impor uma III

República de Moçambique, à semelhança do que sucedeu com a periodificação da


história político-constitucional portuguesa.

Assim acontece com o surgimento de novos textos constitucionais, seja por revolução,
seja por transição, pois que os mesmos, contrastando com o passado constitucional,
estabelecem um novo projeto de Direito, alterando substancialmente a identidade
constitucional.

É esse o resultado na esmagadora maioria das experiências de mudança de Constituição


por esse mundo fora, sendo até os textos constitucionais os símbolos das alterações
ocorridas na forma política, no sistema social e no regime económico dos Estados.

A doutrina moçambicana pouco se tem dedicado ao assunto, pelo que estão em aberto
as opções quer pela manutenção da II República -inaugurada em 1990 com a nova
CRM- quer pela referência à III República correspondente ao novo texto constitucional
de 2004.

Naturalmente que o tema não é apenas jurídico-constitucional, dado que também


oferece uma intensa coloração político-simbólica, em associação à forma da linguagem,
que no Direito Constitucional tem muitas vezes uma metafunção que não se pode
negligenciar.

Da nossa parte, não se crê que, em Moçambique, o aparecimento da CRM, em 2004,


tenha determinado a mudança para uma III República, com isto evidentemente não se
pretendendo apoucar sequer a importância deste novel texto constitucional.

A verdade é que a Constituição de 2004 segue as linhas originalmente traçadas pela


CRM de 1990, essas realmente inovadoras e transformadoras do regime constitucional
anteriormente vivido e que foi até então a I República Moçambicana.

Pode haver decerto um impulso político legítimo trazido por um novo documento
constitucional, que representa o culminar de todo um período, alentando os
moçambicanos para os desafios futuros, explicando-se que politicamente se possa falar
em III República.

Porém, a substância jurídica dessa ordem constitucional é o aprofundamento da ordem


constitucional inaugurada em 1990, podendo, quando muito, dizer-se que se trata de
uma consolidação de tal sistema políticoconstitucional, assim se atingindo a sua
plenitude na definição de elementos ali imperfeitamente expressos, sem que qualquer
dos seus traços essenciais tivesse sido modificado.

5) Significa isso que a nova Constituição de 2004 manteve a identidade constitucional


inaugurada em 1990, a qual não foi tolhida e dela se apresentando como um
aprofundamento jurídico-constitucional.

Porquê? Por várias razões.

É uma conclusão que se retira logo do facto de a nova Constituição ter sido limitada
pela CRM através de um severo regime de hiper-rigidez constitucional, através da
aposição de um forte conjunto de limites ao correspondente poder constitucional,
precisamente designado de revisão constitucional.
Mas essa é uma conclusão que se pode também testar pela leitura do próprio
articulado da CRM, que mantém todas as características que já existiam no texto da
CRM de 1990.

A multiplicação de preceitos constitucionais da nova CRM em relação à CRM de 1990


releva mais do foro do aperfeiçoamento regulativo de certos institutos e da adição de
mais direitos e liberdades do que propriamente de uma intenção de romper com o
regime constitucional pré-existente.

6) Uma questão que se pode colocar tem que ver com a natureza do poder jurídico-
público que, no plano parlamentar, segregou a nova CRM de 2004.

É que, na Teoria do Direito Constitucional, só tem sentido falar-se de Constituição


quando a mesma resulta de um poder constituinte, poder prototípico do Estado,
qualquer que ele seja.

Se a nova Constituição de Moçambique de 2004 não inovou em relação à Constituição


de 1990, não tendo surgido um poder constituinte com a virtualidade de estabelecer uma
diversa identidade constitucional, então só haveria que contestar-se a designação de
“Constituição” que foi dada ao articulado aprovado pela Assembleia da República em
16 de novembro de 2004.

Note-se que este problema não se coloca apenas em Moçambique e que, no espaço
africano de língua portuguesa, já em Angola sucedeu algo de semelhante, com a
aprovação de uma nova Constituição em 2010, a qual não inovou substancialmente em
relação à Lei Constitucional de 1992, essa, sim, um dos elementos fundadores da II
República Angolana.
A REVISÃO CONSTITUCIONAL DE 2018 EM MOÇAMBIQUE

PRINCIPAIS INOVAÇÕES E ALTERAÇÕES INTRODUZIDAS PELA REVISÃO


CONSTITUCIONAL DE 2018

PRINCIPAIS SUPRESSÕES

Foram suprimidos:

 O capítulo pertinente aos órgãos locais do Estado;


 O capítulo atinente aos Governos Provinciais, deixando de existirem os
Governos Provinciais e Distritais;
 O capítulo respeitante ao poder local.
Em decorrência da Revisão Constitucional, foram introduzidas na ordem constitucional
as seguintes alterações:

AO NÍVEL DA DESCENTRALIZAÇÃO

São instituídos três níveis de entidades descentralizadas:


 Órgãos de Governação Descentralizada Provincial, que compreende o
Governador de Província, o Conselho Provincial e a Assembleia Provincial.
 Órgãos de Governação Descentralizada Distrital que compreendem o
Administrador de Distrito, o Conselho Distrital e a Assembleia Distrital.
 Autarquias locais que compreendem o Presidente da Autarquia, o Conselho
Autárquico e a Assembleia Autárquica.
Os órgãos de governação descentralizada provincial, distrital e órgãos autárquicos
gozam de autonomia administrativa, patrimonial e financeira.

De referir que a autonomia dos órgãos descentralizados de governação provincial e


distrital, não se confundem com a autonomia territorial das províncias e dos distritos,
pois o modelo de descentralização adoptado é o da descentralização administrativa e
não político, pelo que a autonomia é conferida aos órgãos e não aos territórios e essa
autonomia é administrativa, patrimonial e financeira exercida dentro dos limites fixados
na Constituição e na lei, pois o poder legislativo e judicial continuarão centralizados,
assim como as áreas de soberania continuarão a ser da responsabilidade exclusiva do
Estado e configuram um limite à própria descentralização.

AO NÍVEL DA DESCENTRALIZAÇÃO

Ao nível da Província é criado órgão de Secretário de Estado para a Província, o qual


tem a função de assegurar a realização das funções exclusivas e de soberania do Estado
que não são objecto do processo de descentralização, sendo nomeado pelo Presidente da
República.

Ao nível do Distrito é criada a figura do Representante do Estado no Distrito.

Mantém-se a representação do Estado junto das entidades descentralizadas.

NO DOMÍNIO DO SISTEMA ELEITORAL

O Governador de Província e o Administrador de Distrito passam a ser eleitos.

É introduzido um novo modelo de eleição por via de Cabeça de Lista para a eleição do
Governador Provincial, Administrador de Distrito e Presidente da Autarquia Local.

Até 2024, o Administrador de Distrito é transitoriamente nomeado pelo Ministro que


superintende a área da administração estatal consultado o Governador da Província.

Em caso de impedimento definitivo do titular do órgão executivo não haverá eleições


intercalares, pois a sucessão irá obedecer a sequência da lista, sucedendo o membro da
Assembleia que figura como segundo na ordem da lista mais votada.

Altera-se o regime de apuramento do vencedor, passando do sistema de maioria


absoluta para uma maioria simples.

QUANTO AO FUNCIONAMENTO DOS ÓRGÃOS

Caso a assembleia não aprove os principais instrumentos de governação o Plano e o


Orçamento, diferentemente do modelo anterior em que havia apenas a queda da
assembleia e a convocação de eleições para a eleição apenas dos membros da
Assembleia no modelo actual, não havendo aprovação do Plano e do Orçamento
verifica-se a queda de todos os órgãos autárquicos e a convocação de novas eleições e
os novos órgãos eleitos não dão continuidade do mandato anterior, iniciam um novo
ciclo, uma nova legislatura.

A solução pela queda de todos os órgãos, é para evitar que haja dois cabeças de listas,
um eleito na primeira eleição e outro na segunda eleição, pois o cabeça de lista da lista
mais votada é o titular do órgão executivo.

NO DOMÍNIO DOS PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES

É introduzido o Princípio da Subsidiariedade.

Em termos gerais, o significado do princípio da subsidiariedade reside na concessão de


um determinado grau de autonomia a uma autoridade subordinada a uma instância
hierarquicamente superior, nomeadamente de uma autoridade local ao poder central, o
que implica uma repartição de competências entre diversos níveis de poder1.

QUANTO ÀS ASSEMBLEIAS PROVINCIAIS

As Assembleias provinciais passam a estar sujeitas à tutela administrativa do Estado e


quadro do exercício do poder podem ser dissolvidas pelo Governo nos termos do
disposto no artigo 272 da Constituição da República.

QUANTO AO SISTEMA DE GOVERNO NOS ÓRGÃOS


DESCENTRALIZADOS

O sistema de Governo no modelo anterior era presidencial.


No actual modelo, o sistema do Governo tem poder para o parlamentar pois os
governadores, administradores e presidentes das autarquias não são eleitos
individualmente, eles concorrem figurando como cabeça de lista dos candidatos a
membros da Assembleia.
1 www.europarl.europa.eu, o principio da subsidiariedade.
Mas o elemento fundamental do sistema do Governo reside no poder que a
Assembleia passou a ter para a demissão do Governador de província, Administrador do
Distrito e do presidente do conselho Autárquico.

QUANTO AOS PODERES DA ASSEMBLEIA PROVINCIAL E DISTRITAL

As Assembleias provinciais e distritais, passam a dispor de um poder regulamentar


próprio.

PODER REGULAMENTAR

artigo 271 da CRM dispõe que “os órgãos de governação descentralizada e das
autarquias locais dispõem de um poder regulamentar próprio, em conformidade com a
Constituição da República, as leis e os regulamentos emanados das autoridades com
poder tutelar”.
“O poder local implica (exige) (…) a dotação de poder regulamentar próprio. Poder
cujo âmbito se circunscreve à esfera de acção das Autarquias Locais respectivas…” 2.
Este poder regulamentar é uma expressão da autonomia local (autonomia normativa). O
núcleo da autonomia local consiste no direito e na capacidade efectiva de as Autarquias
Locais regularem e gerirem, nos termos da lei, sob a sua responsabilidade e nos
interesses das populações, os assuntos que lhe estão confiados (Carta Europeia da
Autonomia Local, art. 3°).

Da autonomia local resulta, assim, para os órgãos de governação descentralizada e as


autarquias locais, uma série de direitos/poderes, nomeadamente o poder regulamentar.
De acordo com António Cândido de Oliveira, apenas se dá importância a este poder,
imaginando-se a sua essência. Sem ele, refere, a liberdade de acção das autarquias
estaria fortemente limitada, pois estas estariam impedidas de disciplinar determinadas
matérias administrativas adaptando-as à sua realidade. Há quem veja a autonomia
normativa como cerne da autonomia local.

O poder regulamentar consiste no poder de aprovar regulamentos


administrativos, os quais são normas jurídicas aprovadas pelas autarquias no exercício

2 OLIVEIRA, António Cândido de (1993), ob, cit., p. 235 e ss.


dos seus poderes administrativos3. Daqui resulta que, do ponto de vista material, os
regulamentos são normas jurídicas que enceram as características da generalidade e
abstracção típicas dos actos normativos, tal como as leis. Do ponto de vista orgânico, os
regulamentos são aprovados por entidades administrativas. Do ponto de vista funcional
os regulamentos são emanados no exercício da função administrativa. Do ponto de vista
formal, podem apresentar-se de varias formas, nomeadamente e no que toca às
Autarquias Locais, a forma de posturas das Autarquias Locais.

Existem vários critérios para se classificarem os regulamentos, no entanto, vamos


referir-nos apenas ao critério da eficácia jurídica e ao critério da dependência face à lei,
de acordo com o critério da eficácia jurídica, os regulamentos podem ser internos ou
externos.

Os regulamentos internos são unilaterais, isto é, só obrigam a Administração Pública,


faltando-lhes a bilateralidade ou alteridade. Fundamenta-se no poder hierárquico, não
tendo que ser indicada a lei habilitante. Não estão sujeitos a requisitos específicos de
publicidade, sendo eficazes logo que conhecidos pelos seus destinatários. Não são
impugnáveis contenciosamente, nem estão sujeitos ao princípio da inderrogabilidade
singular dos regulamentos4.
No que se refere aos regulamentos externos, estes são bilaterais, isto é, vinculam a
Administração Pública e os particulares ou entes públicos, gozando da característica de
bilateralidade ou alteridade. Precisam sempre de uma norma legal habilitadora, devendo
indicar a lei ao abrigo da qual são emanados. A sua eficácia depende de publicitados e
podem ser impugnados contenciosamente, estando sujeitos ao princípio da
inderrogabilidade singular dos regulamentos. Um acto administrativo que viole um
regulamento externo é inválido-ilegal. O poder regulamentar externo não é um poder
originário, mas um poder derivado, conferido pela Constituição ou pela Lei, isto é, é um
poder que se baseia nas normas legais ou constitucionais, que em cada caso, atribuem
competência regulamentar à entidades administrativas. A Constituição e a lei, confere
os órgãos de governação descentralizada e as autarquias locais uma competência
genérica, isto é, tem competência regulamentar externa em todas as matérias que, por
lei, lhe estejam confiadas5.
3 O regulamento é, na classificação de Marcelo Caetano, a “norma jurídica de caracter geral e execução permanente
dimanada de uma autoridade administrativa sobre matéria própria da sua competência” – Manual de Direito
Administrativo, Tomo I, 10ª edição (1973), Lisboa, Coimbra Editora, p. 95
4 De acordo com este princípio da Administração não pode derrogar (afastar) a aplicação, em casos singulares, dos
regulamentos em vigor
5 DIAS, José Eduardo Figueiredo Dias, Oliveira, Fernanda Paula (2005), ob. cit., p.112.
Apesar das diferenças, os regulamentos internos são normas jurídicas, pois produzem
efeitos jurídicos – efeitos disciplinares – podendo a sua violação originar um processo
disciplinar e, consequentemente, uma sanção disciplinar. Relativamente aos
regulamentos que têm como destinatários os funcionários há que distinguir os que são
relativos aos seus direitos e deveres como funcionários, no âmbito da relação
hierárquica, os quais são tratados como regulamentos internos e os que são relativos ao
seu estatuto, aos seus direitos e deveres como trabalhador por conta de outrem, os quais
são tratados como regulamentos externos. A competência regulamentar interna, esta
fundamenta-se no poder de auto-regulação das autarquias, não sendo necessária uma lei
prévia que lhes confira este poder 6.
Além dos regulamentos independentes (autónomos) relativos às suas atribuições, os
órgãos de governação descentralizada a as Autarquias Locais podem fazer regulamentos
independentes baseados numa lei ordinária (fixa a competência subjectiva e objectiva).
– os regulamentos independentes autónomos - posturas têm que respeitar a
Constituição da República as leis e os regulamentos emanados de entidades com poder
de tutela, têm que indicar a lei ao abrigo do qual são feitos7.
Serão os regulamentos internos verdadeiros regulamentos aprovados ao abrigo
do poder regulamentar que resulta da autonomia local? Diríamos, depende! Por
exemplo, um regulamento de organização dos serviços municipais ou do modo de
actuação dos funcionários, não tem, necessariamente, aquela natureza, isto porque
qualquer entidade pública tem o poder de organizar o seu funcionamento e actuação,
isto é, não é exclusivo das autarquias a aprovação deste tipo de regulamentos. No
entanto, estes regulamentos internos são, sempre, como referido, normas jurídicas, pois
produzem efeitos jurídicos – efeitos disciplinares – a sua violação pode originar um
processo disciplinar e, consequentemente, uma sanção disciplinar.

Por se tratar do exercício de uma função administrativa, os regulamentos estão


subordinados ao princípio da legalidade. Os regulamentos devem indicar expressamente
as leis que visam regulamentar ou que definem a competência subjectiva e objectiva
para a sua emissão. Por um lado, nos regulamentos de execução, deve indicar-se,
expressamente, qual a lei que remete para a sua regulamentação pelas Autarquias
Locais e, por outro lado, nos regulamentos independentes deve indicar-se a lei que

6 Ibidem.
7 CAUPERS, João (2005), ob. Cit., p. 221 e ss.
confere esse poder regulamentar às autarquias, bem como a lei que especifica que as
autarquias têm competência na matéria do regulamento em causa, isto é, a competência
subjectiva e objectiva para a sua emissão8.
As Autarquias Locais constituem o poder mais próximo dos cidadãos, que com
atribuições diversas, prosseguem os fins públicos tendo em conta as especificidades
locais. É, por isso, importante que as mesmas tenham ao seu dispor uma série de
mecanismos que garantam, por um lado, a autonomia constitucionalmente consagrada e,
por outro, que possibilitem às autarquias satisfazer os seus fins9.

Os regulamentos autónomos revelam que as autarquias podem regulamentar todas as


matérias que estejam no âmbito das suas atribuições e essa regulamentação vai garantir
um maior respeito pelo princípio de igualdade e os regulamentos de execução permitem
que os actos legislativos sejam adaptados às realidades locais pelas entidades que
melhor as conhecem10.

O poder regulamentar permite que, através de regulamentos, os órgãos de governação


descentralizada possam, através de medidas adequadas, ordenar a vida local, com vista
a obter uma mais correcta satisfação das necessidades colectivas da

ASPECTOS CENTRAIS SOBRE A DESCENTRALIZAÇÃO

ESTADO UNITÁRIO
Nos termos do disposto no artigo 8 da CRM, a República de Moçambique é um Estado
unitário, orienta-se pelos princípios da descentralização e subsidiariedade e respeita na
sua organização e funcionamento a autonomia dos órgãos de governação provincial,
distrital e das autarquias locais.

ATRIBUIÇÕES DOS ÓRGÃOS CENTRAIS


Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 139 da CRM “Os órgãos centrais têm, de
forma geral, as atribuições relativas ao exercício da soberania, a normação das matérias
do âmbito da lei e a definição de políticas nacionais”. O nº 2 do mesmo artigo
estabelece que “Constituem atribuições dos órgãos centrais, nomeadamente: […]a) as
funções de soberania; […]b) a normação de matérias de âmbito da lei; […]c) a
definição de políticas nacionais; […]d) a realização da política unitária do Estado;
8 Idem.
9 Idem.
10 Idem.
[…]e) a representação do Estado ao nível provincial, distrital e autárquico; […]f) a
definição e organização do território; […] g) a defesa nacional; […]h) a segurança e
ordem públicas; […] i) a fiscalização das fronteiras; […] j) a emissão de moeda; […] k)
as relações diplomáticas; […]l) os recursos minerais e energia; […]m) os recursos
naturais situados no solo e no subsolo, nas águas interiores, no mar territorial, zona
contígua ao mar territorial, na plataforma continental e na zona económica exclusiva;
[…]n) a criação e alteração dos impostos”.

OBJECTIVOS DA DESCENTRALIZAÇÃO
Nos termos do estatuído no artigo 267 da CRM A Descentralização tem como
objectivos organizar a participação dos cidadãos na solução dos problemas próprios da
sua comunidade e promover o desenvolvimento local, o aprofundamento e a
consolidação da democracia, no quadro da unidade do Estado Moçambicano e apoia-se
na iniciativa e na capacidade das populações e actua em estreita colaboração com as
organizações de participação dos cidadãos.

REPRESENTAÇÃO DO ESTADO NAS ENTIDADES DESCENTRALIZADAS


Nos termos do disposto no artigo 268 da CRM a descentralização compreende os órgãos
de governação descentralizada provincial e distrital e as autarquias locais. O Estado
mantém nas entidades descentralizadas as suas representações para o exercício de
funções exclusivas e de soberania, nos termos definidos por lei.

AUTONOMIA DOS ÓRGÃOS DE GOVERNAÇÃO DESCENTRALIZADA E


DAS AUTARQUIAS LOCAIS
O artigo 269 da CRM dispõe que “Os órgãos de gover-nação descentralizada e das
autarquias locais gozam de autonomia administrativa, financeira e patrimonial, nos
termos da lei”.
A autonomia é concedida aos órgãos e não aos territórios (províncias e distritos), isto é,
não são as províncias e os distritos que são autónomos, mas sim os órgãos de
governação descentralizada provinciais e distritais é que são autónomos e autonomia é
administrativa, patrimonial e financeira; a autonomia não é política, pelo que os órgãos
de governação descentralizada provinciais e distritais não estão investidos de um poder
legislativo, mas sim regulamentar.
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DA DESCENTRALIZA ÇÃO

Da conjugação do disposto no artigo 8 e do n o 1 do artigo 270 amos da CRM, a


descentralização guia se pelos princípios da unicidade do Estado, prevalência do
interesse nacional, subsidiariedade, gradualismo e autonomia local.

LIMITES DA DESCENTRALIZAÇÃO
Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 270 da CRM “A Descentralização respeita o
Estado Unitário, a unidade nacional, a soberania, a indivisibilidade e inalienabilidade do
Estado e guia-se pelos princípios da prevalência do interesse nacional, subsidiariedade e
gradualismo”. O nº 2 do mesmo artigo estabelece que “Constituem atribuições dos
órgãos centrais, nomeadamente: […] a)as funções de soberania; […] b) a normação de
matérias de âmbito da lei; […] c) a definição de políticas nacionais; […] d) a realização
da política unitária do Estado; […] e) a representação do Estado ao nível provincial,
distrital e autárquico; […] f) a definição e organização do território; […] g) a defesa
nacional; […] h) a segurança e ordem públicas; […] i) a fiscalização das fronteiras;
[…] j) a emissão de moeda; […] k) as relações diplomáticas; […] l) os recursos
minerais e energia; […] m) os recursos naturais situados no solo e no subsolo, nas
águas interiores, no mar territorial, zona contígua ao mar territorial, na plataforma
continental e na zona económica exclusiva; […] n) a criação e alteração dos impostos”.

TUTELA ADMINISTRATIVA
De acordo como plasmado no artigo 272 da CRM, os
órgãos de governação descentralizada provincial, distrital e das autarquias locais, estão
sujeitos à tutela administrativa do Estado. A tutela do Estado sobre as Assembleias
Provinciais, distritais e autárquicas bem como dos respectivos órgãos executivos
consiste na verificação da legalidade dos actos administrativos e de natureza financeira.
Excepcionalmente, e nos casos expressamente previstos na lei, a tutela pode ainda
incidir sobre o mérito das decisões emanadas pelos órgãos tutelados.

As Assembleias Provinciais, distritais e autárquicas podem, ser dissolvidas pelo


Governo, em consequência de acções ou omissões graves previstos na lei. O decreto de
dissolução emanado pelo Governo é sujeito à apreciação e deliberação do Conselho
Constitucional, nos termos da lei.
DA DEMISSÃO DO GOVERNADOR ELEITO PELO PRESIDENTE DA
REPÚBLICA

De acordo com o disposto na alínea j) do artigo 158 da CRM “Compete ao Chefe do


Estado no exercício da sua função: […] demitir o Governador de Província (…) nos
termos da Constituição”.

Os termos do disposto no artigo 273 da CRM “1. O Presidente da República pode,


ouvido o Conselho de Estado, demitir o Governador de Província e o Administrador de
Distrito nos seguintes casos: […] a) violação da Constituição; […] b) prática de actos
atentatórios à unidade nacional; […] c) comprovada e reiterada violação das regras
orçamentais e de gestão financeira; […] d) condenação por crimes puníveis com pena
de prisão maior. […] 2. O Despacho de demissão exarado pelo Presidente da República
é sujeito apreciação pelo Conselho Constitucional, nos termos da lei”.

O poder de demissão não se confunde com o poder de exoneração, pois a


demissão enquadra-se no âmbito do exercício do poder sancionatório, enquanto que a
exoneração se enquadra no âmbito do exercício do poder discricionário.
A legitimidade do Presidente da República decorre do facto de que nos termos do
disposto no nº 1 do artigo 145 da CRM “1. O Presidente da República é o Chefe do
Estado, simboliza a unidade nacional, representa a Nação no plano interno e
internacional e zela pelo funcionamento correcto dos órgãos do Estado. […] 2. O Chefe
do Estado é o garante da Constituição”.

Aliais não é inovadora a previsão do Presidente da República poder demitir órgãos


eleitos nos termos pois nos termos do disposto na e) no artigo 158 (antiga alínea e) do
artigo 159), conjugado com o disposto no artigo 187 (antigo artigo 188) da CRM, o
Presidente da República tem competências para dissolver a Assembleia da República,
caso rejeite, após o debate, o Programa do Governo.

ATRIBUIÇÕES DA GOVERNAÇÃO DESCENTRALIZADA


Nos termos do disposto no nº 1 do artigo 276 “a governação descentralizada exerce
funções em áreas, ou em medida, não atribuídas às autarquias locais, e que não sejam da
competência exclusiva dos órgãos centrais, nomeadamente: […] a) agricultura, pescas,
pecuária, silvicultura, segurança alimentar e nutricional; […] b) gestão de terra, na
medida a determinar por lei; […] c) transportes públicos, na área não atribuída às
autarquias; […] d) gestão e protecção do meio ambiente; […]e) florestas, fauna bravia e
áreas de conservação; […] f) habitação, cultura e desporto; […] g) saúde no âmbito de
cuidados primários; […] h) educação, no âmbito do ensino primário do ensino geral e
de formação técnico profissional básica; […] i) turismo, folclore, artesanato e feiras
locais; […] j) hotelaria, não podendo ultrapassar o nível de três estrelas; […] k)
promoção do investimento local; […] l) água e saneamento; […] m) indústria e
comércio; […] n) estradas e pontes, que correspondam ao interesse local provincial e
distrital; […] o) prevenção e combate às calamidades naturais; […] p) promoção do
desenvolvimento local; […] q) planeamento e ordenamento territorial; […] r)
desenvolvimento rural e comunitário; […]s) outras a serem determinadas, por lei”. O nº
2 do mesmo artigo estatui que “a realização das atribuições da governação
descentralizada deve respeitar a política governamental traçada a nível central, no
âmbito da política unitária do Estado”. O nº 3 do mesmo artigo preceitua que “a lei
estabelece, expressamente, a divisão de competências entre a governação
descentralizada e os órgãos centrais do Estado ou seus representantes”. O nº 4 do
mesmo artigo deixa para a lei definição da composição, organização, funcionamento e
demais competências.

ÓRGÃOS DA PROVÍNCIA
Nos termos do disposto no artigo 277 da CRM São órgãos da Província a Assembleia
Provincial, o Governador de Província e o Conselho Executivo Provincial. O
Representante do Estado é um órgão de representação do Estado na Província nas áreas
exclusivas e de soberania do Estado.

ASSEMBLEIAS PROVINCIAIS
Nos termos estabelecidos no nº 1 do artigo 278 da CRM “as assembleias provinciais são
órgãos de representação democrática, eleitas por sufrágio universal, directo, igual,
secreto, pessoal e periódico e de harmonia com o princípio de representação
proporcional, cujo mandato tem a duração de cinco anos ”. O nº 2 do mesmo artigo
preceitua que “Concorrem às eleições das assembleias provinciais os partidos políticos,
coligações de partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores”. O nº 3 do mesmo artigo
estipula que “às assembleias provinciais compete, nomeadamente: […] a) pronunciar-se
e deliberar, no quadro das atribuições da governação provincial, sobre os assuntos e as
questões de interesse para o desenvolvimento económico, social e cultural da Província,
à satisfação das necessidades colectivas e à defesa dos interesses das respectivas
populações; […] b)prosseguir a satisfação das necessidades colectivas e à defesa dos
interesses das respectivas populações bem como acompanhar e fiscalizar a actividade
dos demais órgãos e serviços provinciais; […] c)fiscalizar e controlar a observância dos
princípios e normas estabelecidas na Constituição e nas leis, bem como das decisões do
Conselho de Ministros referentes a respectiva província; […] d)aprovar o programa e o
orçamento anuais do Conselho Executivo Provincial, fiscalizar e controlar o seu
cumprimento, nos termos da lei; […] e)demitir o Governador de Província, nos termos
da lei; […] f)fiscalizar as actividades da governação descentralizada; […] g)exercer o
poder regulamentar próprio, nos termos da lei”. O nº 4 do mesmo artigo deixa para a lei
a definição da composição, organização, funcionamento e as demais competências.

GOVERNADOR DE PROVÍNCIA

O artigo 279 da CRM dispõe que o Governador de Província dirige o Conselho


Executivo Provincial e pode ser demitido pela Assembleia Provincial, nos termos da lei.
É eleito Governador de Província o Cabeça de Lista do partido político, coligação de
partidos políticos ou grupo de cidadãos eleitores que obtiver maioria de votos nas
eleições para a assembleia provincial. A composição, organização, funcionamento e as
demais competências do Governador de Província, são fixadas por lei.

O Governador resulta do processo de descentralização administrativa territorial, é eleito


por sufrágio universal, não faz

parte dos órgãos locais do Estado, faz parte da administração autónoma, não se
subordina a nenhum órgão do EstadoAdministração. A relação entre o Governador e o
Estado realizase no quadro da tutela administrativa.

Não sendo o Governador órgão da administração directa do Estado mas sim da


Administração autónoma, não representa o Estado.

O Estado ao nível provincial tem a sua representação conforme dispõe o n o 2 do artigo


277 da CRM.
A relação entre o Governador de Província e o secretário do Estado na província não é
de subordinação hierárquica do ponto de vista orgânico e funcional.

A relação entre ambos realiza-se no quadro da tutela administrativa, sem embargo de


necessidade de coordenação de actividades entre ambos.
CONSELHO EXECUTIVO PROVINCIAL
Nos termos do disposto no artigo 280 da CRM o Conselho Executivo Provincial é o
órgão executivo da governação provincial e, é responsável pela execução do programa
de governação aprovado pela respectiva assembleia. A composição, organização,
funcionamento e as demais competências do Conselho Executivo Provincial, são
fixadas por lei.

ÓRGÃOS DO DISTRITO

De acordo com o estabelecido no nº 1 do artigo 281 são órgãos do Distrito a Assembleia


Distrital, o Administrador de Distrito e o Conselho Executivo Distrital. O nº 2 do
mesmo artigo estabelece que “o Representante do Estado é um órgão de representação
do Estado no Distrito nas áreas exclusivas e de soberania do Estado”. O nº 3 do mesmo
artigo deixa para a lei a fixação da composição, organização, funcionamento e as
demais competências.

ASSEMBLEIA DISTRITAL
O nº 1 do artigo 282 da CRM estabelece que “as assem-bleias distritais são
órgãos de representação democrática, eleitas por sufrágio universal, directo, igual,
secreto, pessoal e periódico e de harmonia com o princípio de representação
proporcional, cujo mandato tem a duração de cinco anos”. O nº 2 deste artigo estabelece
que “concorrem às eleições das assembleias distritais os partidos políticos, coligações
de partidos políticos e grupos de cidadãos eleitores”. De acordo com o plasmado no nº 3
deste artigo “às assembleias distritais compete aprovar o programa do Conselho
Executivo Distrital, fiscalizar e controlar o seu cumprimento”. O nº 4 deixa para a lei a
fixação da composição, organização, funcionamento e demais competências.

ADMINISTRADOR DE DISTRITO

De acordo com o disposto no artigo 283 da CRM o Administrador de Distrito dirige o


Conselho Executivo Distrital e pode ser demitido pela Assembleia Distrital, nos termos
da lei. É eleito Administrador de Distrito o Cabeça de Lista do partido político,
coligação de partidos políticos ou grupo de cidadãos eleitores que obtiver maioria de
votos nas eleições para a assembleia distrital. A composição, a organização, o
funcionamento e as demais competências do Administrador de Distrito, são fixadas por
lei.

O Administrador de Distrito, resulta do processo de des-centralização territorial e é


eleito por sufrágio universal, pelo que não faz parte da administração local do Estado,
não é um órgão local do Estado é um órgão de administração autónoma. Sendo
autónomo o Administrador não presta contas ao Governador e nem ao Secretário de
Estado na província. Não há uma relação de subordinação entre o Administrador e o
Governador. A relação entre o Administrador e o Estado realiza-se no quadro da tutela
administrativa.
Portanto o administrador de Distrito fazendo parte da administração autónoma não faz
parte dos órgãos locais do Estado e não é o representante do Estado no distrito. O
Estado é representado através de um representante do Estado que é nomeado nos termos
do disposto no no2 do artigo 281 da CRM.

CONSELHO EXECUTIVO DISTRITAL

O artigo 284 da CRM estabelece que o Conselho Executivo Distrital é o órgão


executivo de governação distrital e, é responsável pela execução do programa de
governação aprovado pela respectiva assembleia, cuja composição, a organização, o
funcionamento e as demais competências do Conselho Executivo Distrital, são fixadas
por lei.

SECRETÁRIO DE ESTADO NA PROVÍNCIA

Nos termos do disposto no artigo 141 da CRM ao nível da Província, o Governo Central
é representado pelo Secretário de Estado na província, nomeado e empossado pelo
Presidente da República. O Secretário de Estado na Província assegura a realização das
funções exclusivas e de soberania do Estado, nos termos da lei, superintende e supervisa
os serviços de representação do Estado na Província e nos distritos. A organização,
composição, funcionamento e competência dos serviços de representação do Estado na
Província e no distrito são definidos por lei.

Nos termos do disposto na alínea e) do nº 2 do artigo 159 da CRM Compete, ainda ao


Presidente da República, nomear, exonerar e demitir o Secretário de Estado na
Província.
O Secretário do Estado na Província resulta do processo de desconcentração, faz parte
da administração directa do Estado, é um órgão de Administração local do Estado.

OS ÓRGÃOS LOCAIS DO ESTADO FORAM ABOLIDOS

A revisão constitucional aboliu formalmente a expressão e o capítulo dos órgãos locais


do Estado. Trata-se uma abolição meramente formal, pois materialmente sendo
Moçambique um Estado Unitário ainda em consolidação, o Estado tem a necessidade de
ter órgãos a nível local, por isso é que o nº 2 do artigo 268 da CRM prevê que o Estado
mantém as suas representações junto das entidades descentralizadas.

As atribuições e competências que eram exercidas pelos órgãos locais do Estado foram
repartidas, sendo que uma parte passam a ser exercidas pelo Secretário de Estado ao
nível provincial e pelos representantes do Estado ao nível distrital, que são as funções
de soberania e exclusiva dos Estado que não podem ser objecto de descentralização e as
outras foram conferidas aos órgãos de governação descentralizada provincial e distrital.

Mas na essência, o que eram funções dos órgãos locais do Estado, que é de garantir a
unidade administrativa do estado, exercer as funções de soberania e exclusivas do
Estado, passa a ser exercido pelo secretário do Estado na província e pelos
representantes do estado no Distrito.
BIBLIOGRAFÍA

AFRICA: A Biography of the Continent, London, 1998, pp. 331. [ Links ]

Araújo, Raul,O Presidente da República no Sistema Político de Angola, Luanda, 2009,


pp. 199. [ Links ]

AAVV,História de Moçambique(coord. Carlos Serra), vols. I e II, Maputo, 2000, pp.


15. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Direito Constitucional de Moçambique, Lisboa-Maputo, 2015,


pp. 104. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Manual de Direito Constitucional, I, 5a. ed., Coimbra, 2013, pp.
434. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Direito Constitucional de Moçambique, pp. 113. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,A próxima revisão da Constituição de Moçambique de 1990,


inRevista Jurídica da

Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, IV, dezembro de 2000, pp.


27 [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Reflexões sobre a próxima revisão da Constituição


Moçambicana de 1990, Maputo, 1999, pp. 5. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,As Constituições dos Estados de Língua Portuguesa, 4ª ed.,


Coimbra, 2014, pp. 53.

[ Links ]

Batista Machado, J.Introdução ao Direito e ao Discurso Legitimador, Coimbra, 1983,


pp. 107 e 108. [ Links ]
Bacelar Gouveia, Jorge,Os direitos fundamentais atípicos, Lisboa, 1993, pp. 313. [
Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Direito Constitucional de Moçambique, pp. 119. [ Links ]

Bacelar Gouveia, Jorge,Direito Constitucional de Angola, Lisboa-Luanda, 2014, pp.


122. [ Links ]

Barroso, Luís,Salazar, Caetano e o “Reduto Branco” - a Manobra Político-


Diplomática de Portugal na África Austral (1951-1974), Lisboa, 2012, pp. 39. [ Links ]

Alfredo Benjamim,Noções elementares de Direito, Maputo, 2014, pp. 52. [ Links ]

Brunschwig, Henri,A partilha da África, Lisboa, 1972, pp. 39. [ Links ]

Caetano, Marcello,Portugal e a internacionalização dos problemas africanos, 4ª ed.,


Lisboa, 1971, pp. 79.

[ Links ]

Capela, José,A República Militar da Maganja da Costa (1862-1898), Porto, 1992, pp.
13. [ Links ]

Carrilho, José Norberto,Moçambique - o nascer da segunda República, in Carrilho, José


Norberto e Nhamissitane, Emídio Ricardo,Alguns aspectos da Constituição, Maputo,
1991, pp. 11 [ Links ]

Carvalho, Alberto Martins De,Moçambique, inDicionário da História de Portugal, IV,


Porto, 1992, pp. 318. [ Links ]

Cunha, Fernando,Democracia e Divisão do Poder - uma leitura da Constituição


Moçambicana, Maputo, s. d., pp.

58 [ Links ]

Cunha, Ribeiro José,A Organização Judiciária em Moçambique: continuidades e


rupturas, Maputo, 2013, pp. 30.

[ Links ]

Cunha, Joaquim da Silva,O sistema português de política indígena no Direito Positivo


,Lisboa, 1953, pp. 5.
[ Links ]

Cistac, Gilles,História da Evolução Constitucional da Pátria Amada, Maputo, 2009, pp.


9 [ Links ]

Della Rocca, Roberto Morozzo,Moçambique: da Guerra à Paz - História de uma


mediação insólita, Maputo, 1998, pp. 9. [ Links ]

Enders, Armelle,História da África Lusófona, Mem Martins, 1997, pp. 27 [ Links ]

Enders, Armelle,História da África Lusófona, pp. 79. [ Links ]

Fage, J. D. e Tordoff, William,História da África, Lisboa, 2010, pp. 227. [ Links ]

Feijó, Carlos,A Coexistência Normativa entre o Estado e as Autoridades Tradicionais


na Ordem Jurídica Plural Angolana ,Coimbra, 2012, pp. 270. [ Links ]

Guedes, Armando M. Marques,A Unidade Política Nacional e a Autonomia das


Províncias Ultramarinas, in

AAVV,Estudos de Direito Público em honra do Professor Marcello Caetano, Lisboa,


1973, pp. 141. [ Links ]

Gonçalves, Jaime Pedro,A Paz dos Moçambicanos, Beira, 2014, pp. 31. [ Links ]

Gouveia, Jorge Bacelar,Direito Constitucional de Moçambique, pp. 189. [ Links ]

Graça, Pedro Borges,A construção da Nação em África, Coimbra, 2005, pp. 203. [
Links ]

Hugon, Philippe,Geopolítica de África, 3ª ed., Lisboa, 2014, pp. 19 [ Links ]

Jesus, José Manuel Duarte de,Eduardo Mondlane - um homem a abater, Coimbra, 2010,
pp. 71. [ Links ]

Machel, Samora,Mensagem ao Povo de Moçambique (por ocasião da tomada de posse


do Governo de Transição em 20 de Setembro de 1974), Porto, 1974, pp. 5. [ Links ]

Isabel de Magalhães,Direito Internacional Privado, II, Lisboa, 1958-1959, pp. 51. [


Links ]

Marques, José Dias,Introdução ao Estudo do Direito, 4a. ed., Lisboa, 1972, pp. 163. [
Links ]
M’bokolo, Elikia, África Negra - História e Civilizações, II, 2ª ed., Lisboa, 2011, pp.
207. [ Links ]

René Pélissier,Moçambique, inDicionário da História de Portugal, VIII, Porto, 1999,


pp. 495. [ Links ]

Proença, João José Gonçalves de,Relevância do Direito Matrimonial Canónico no


Ordenamento Estadual, Coimbra, 1955, pp. 205. [ Links ]

Rodrigues, Filomeno Santos,A próxima Revisão da Constituição: ampliação das


liberdades como factor de desenvolvimento, Nampula, 2013, pp. 23. [ Links ]

Rocha, Aurélio,Moçambique - História e Cultura, Maputo, 2006, pp. 6. [ Links ]

Rocha, Aurélio,Moçambique - História e Cultura, pp. 44 [ Links ]

Serra, Carlos Manuel,Estado, Pluralismo Jurídico e Recursos Naturais, Lisboa, 2013,


pp. 51. [ Links ]

Simango, Américo,Introdução à Constituição Moçambicana, Lisboa, 1999, pp. 25 [


Links ]

Vaïsse, Maurice,As Relações Internacionais desde 1945, Lisboa, 2012, pp. 194. [
Links ]

História de Moçambique (coord. Carlos Serra) , vols. I e II, Maputo, 2000, pp. 15 e ss.; Rocha,
Aurélio, Moçambique- História e Cultura, Maputo, 2006, pp. 6 e ss.

Gilles, História da Evolução Constitucional da Pátria Amada, Maputo, 2009, pp. 9 e ss.;
Bacelar Gouveia, Jorge, Direito Constitucional de Moçambique, Lisboa-Maputo, 2015, pp. 104
e ss.

3Carvalho, Alberto Martins de (Moçambique, pp. 318 e 319) refere, a este propósito,
contactos prévios havidos na zona de Sofala por Pêro da Covilhã em 1490, a pedido do
rei D. João II.

4Cfr. Carvalho, Alberto Martins de, Moçambique, p. 321.

Porto, 1992, pp. 13 e ss., e O escravismo colonial em Moçambique, Porto, 1993, pp. 9 e
ss.; Reader. Africa, AFRICA - A Biography of the Continent, London, 1998, pp. 331 e ss.;
Enders, Armelle, História da África Lusófona, pp. 79 e ss.; Araújo, Raul, O Presidente da
República no Sistema Político de Angola, Luanda, 2009, pp. 199 e ss.,

Fage, J. D. e Tordoff, William, História da África, Lisboa, 2010, pp. 227 e ss.;
M’bokolo, Elikia, África Negra - História e

Você também pode gostar