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Processo: 0326819
Nº Convencional: JTRP00036187
Relator: FERNANDO SAMÕES
Descritores: CONDOMÍNIO
ADMINISTRADOR
LEGITIMIDADE
Nº do Documento: RP200402100326819
Data do Acordão: 10-02-2004
Votação: UNANIMIDADE
Tribunal Recorrido: 3 J CIV V N GAIA
Texto Integral: S
Privacidade: 1
I. Relatório
SUMÁRIO:
INTRODUÇÃO
1. O condomínio
No condomínio temos uma coisa materialmente indivisa ou com
estrutura unitária (o edifício), que pertence a vários contitulares, tendo
cada um deles direitos privativos ou exclusivos de natureza dominial
— daí a expressão condomínio — sobre fracções determinadas(16), as
partes próprias, e uma comparticipação no direito de propriedade que
incide sobre as restantes partes do edifício, as partes ditas comuns. Esta
é, se assim a podemos chamar, a noção objectiva de condomínio(17) e
aquela que vem expressamente consagrada no artigo 1420, n.º 1, do
Código Civil(18): “Cada condómino é proprietário exclusivo da fracção
que lhe pertence e comproprietário das partes comuns do edifício”.
Como vem sintetizado no artigo 1422.º, n.º 1, “os condóminos, nas
relações entre si, estão sujeitos, de um modo geral, quanto às fracções
que exclusivamente lhes pertencem e quanto às partes comuns, às
limitações impostas aos proprietários e aos comproprietários de coisas
imóveis”.
O artigo 1421.º, n.º 2, alínea e), presume ainda comuns as coisas que
não sejam afectadas ao uso exclusivo de um dos condóminos. Neste
sentido, a ausência de atribuição privativa da coisa no título
constitutivo funciona como presunção da sua titularidade em
comunhão.
1.3.3.2. O administrador
Cabe ainda referir o artigo 336.º, que permite o recurso à força com o
fim de realizar ou assegurar o próprio direito, quando a acção directa
for indispensável, pela impossibilidade de recorrer em tempo útil aos
meios coercivos normais, para evitar a inutilização prática desse
direito, contanto que o agente não exceda o que for necessário para
evitar o prejuízo. A possibilidade de acção directa está, todavia, sujeita
ao seguinte limite: a acção directa não é lícita quando sacrifique
interesses superiores aos que o agente visa realizar ou assegurar.
CONCLUSÃO
Notas:
(10) Como nos diz YVES GRAFMEYER, Sociologia urbana, E.E.A., 1994, pág. 56, “a composição social da vizinhança
e do bairro é fonte de um certo número de efeitos. Embora o espaço residencial não seja propriamente um sistema
de interacção, suscita, por sua vez, ocasiões de interacção ou, pelo menos, situações de coexistência. Quer seja
desejada ou inesperada, quer induza sociabilidades, tensões ou condutas evasivas, a proximidade do outro não é
nunca completamente indiferente. Mesmo quando se desconhecem praticamente os vizinhos, a maneira como
deles se fala traduz categorias de juízo, formas de se situar a si mesmo e de situar os outros (...)”.
(11) Veja-se STEVEN M. WISE, “Recovery of Common Law for emotional distress, loss of society, and loss of
companionship for the wrongful death of a companion animal”, Animal Law, 1998, 46. Em 1994, um juiz norte-
americano (Bueckner v. Hamel, 886 S.W. 2d 432) exortava os tribunais a reconhecerem que grande parte das
pessoas nos Estados Unidos tratam os seus animais de companhia como membros da família e, em alguns casos, os
animais de companhia são mesmo a única família que têm. E em 1997, o Supremo Tribunal de Vermont (Morgan v.
Kroupa, 702 A.2d 630) dizia que o valor de um animal é mais afectivo do que económico; o seu valor deriva da
relação que tem com os seus companheiros humanos.
(12) Cfr. CONGRESSMAN EARL BLUMENAUER, “The role of animals in livable communities”, in Animal Law, 2001, i.
(13) Ibidem.
(14) Segundo a definição da Lei n.º 92/95, de 12 de Setembro de 1995, sobre a protecção dos animais, são animais
de companhia como aqueles detidos ou destinados a ser detidos pelo homem, designadamente no seu lar, para o
seu prazer e como companhia. A definição do Decreto-lei n.º 276/2001, de 17 de Outubro, que estabelece as
normas tendentes a pôr em aplicação a Convenção Europeia para a Protecção dos Animais de Companhia e um
regime especial para a detenção de animais potencialmente perigosos, é similar: “qualquer animal detido ou
destinado a ser detido pelo homem, designadamente, no seu lar, para seu entretenimento e companhia”. Esta
definição manteve-se com o Decreto-Lei n.º 315/2003, de 17 de Setembro.
(15) Cfr. o artigo 285a do Código Civil Austríaco, o §90 do Código Civil Alemão e o artigo 614a do Código Civil
Suíço. Estas disposições são unânimes em determinar que os animais não são coisas, que são protegidos por leis
especiais e que o regime geral do Direito das Coisas só lhes é aplicável na ausência de preceito específico e no que
não contrarie o regime especial previsto.
(16) Veja-se a título de exemplo, PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, com a colaboração de MANUEL HENRIQUE
MESQUITA, Código Civil Anotado, vol. III, anot. ao artigo 1414.º, pág. 398, 9. LUÍS CARVALHO FERNANDES, Teoria
Geral I, pág. 55, fala em condomínio horizontal.
(17) Para LINO SALIS, Il condominio negli edifici, in Trattato di Diritto Civile Italiano, sob a direcção de Filippo
Vassali, vol. V, tomo III, Torino, 1950, pág. 158, o condomínio é um direito e não é correcto chamar condomínio ao
conjunto dos condóminos, ligados entre si pela existência de interesses comuns. Mas, no nosso ordenamento
jurídico, a doutrina, a jurisprudência e a lei utilizam habitualmente a expressão “condomínio” num sentido
subjectivo, para designar o conjunto dos condóminos.
(18) Todas as disposições legais citadas, sem referência em contrário, pertencem ao Código Civil.
(19) Cfr. HERMANN WEITNAUER, Wohnungseigentumsgesetz, 8.ª ed., Franz Vahlen, München, 1995, pág. 295. Nas
palavras de LINA BREGANTE, Il regolamento di condominio, Giuffrè, Milão, 2000, pág. 282, a detenção de animais
numa fracção autónoma é entendida como especificação do direito dominial de cada condómino sobre a sua
fracção autónoma.
(20) Nos termos do artigo 1422.º, n.º 2, alínea c), é especialmente vedado aos condóminos destinar a sua fracção a
uso ofensivo dos bons costumes. Cabem aqui situações, como aquela julgada num tribunal alemão em que um
condómino detinha em casa 11 serpentes e uma grande quantidade de ratos e ratazanas (OLG Frankfurt, AZ 20 W
149/90, citado por BÄRMANN/PICK/MERLE, Wohnungseigentumsgesetz, 7.ª ed., Beck, München, 1997, pág. 428).
Esta decisão é apoiada, unanimemente, pela doutrina. Ver, por todos, KONSTANTIN RIESENBERGER, Alles zum
Wohnungseigentum, 4.ª ed., WRS Verlag, München, 1999, pág. 125.
(21) HENRIQUE MESQUITA, “A propriedade horizontal no Código Civil Português”, in RDES, ano XXIII, n.º 1-4 (1976),
pág. 129, fala a este propósito de compropriedade necessária e permanente.
(22) Temos, assim, uma afectação estrutural, uma afectação envolvente ou de cobertura, uma de comunicação e
uma funcional. Sendo que a enumeração prevista na lei não é taxativa, estes vectores servirão como critérios
orientadores no caso de surgirem dúvidas sobre a natureza comum ou privativa de uma parte. Veja-se o nosso A
Assembleia de Condóminos e o Administrador na Propriedade Horizontal”, Almedina, Coimbra, 2006.
(23) Esta presunção de comunhão do n.º 2, do artigo 1421.º, é uma presunção iuris tantum, logo susceptível de ser
ilidida mediante prova em contrário, a realizar no título constitutivo.
(24) O acórdão da Corte di Cassazione, secção II, 3.11.2000 n.º 14353, in Giustizia Civile, 2001, pág. 1012, I, (2),
decidiu que usar os espaços comuns de um edifício condominial fazendo circular um cão, sem as cautelas exigidas
segundo critérios normais de prudência (como açaime ou trela), pode constituir uma limitação não consentida do
igual direito que os outros condóminos têm sobre os mesmos espaços, se resultar que a falta de adopção das ditas
cautelas impede estes últimos de usarem e gozarem livremente esses espaços comuns.
(25) GUIDO VIDIRI, Il condominio nella dottrina e nella giurisprudenza, Giuffrè, Milano, 1999, pág. 107.
(27) Assim, CHRISTIAN ATIAS, La Copropriété immobilière, Dalloz, Paris, 1995, pág. 29.
(28) HENRIQUE MESQUITA, A propriedade horizontal no Código Civil Português, págs. 94 a 102.
(30) Como nos diz EDUARDO VÁZQUEZ BOTE, “La propiedad horizontal en Derecho puertorriqueño”, RCDI, LXVIII
(Mar-Abril 1992), 609, pág. 379, para a propriedade horizontal existe um conjunto normativo simultaneamente
autónomo e heterónomo.
(31) Na definição de GIUSEPPE BRANCA, Commentario del Codice Civile de ANTONIO SCIALOJA e GIUSEPPE BRANCA,
2.ª ed., livro III, pág. 479, o regulamento é a lei interna que organiza e articula a vida do grupo; também para
NICOLETTI/REDIVO, Il regolamento e l’assemblea nel condominio degli edifici, 2.ª ed., Cedam, Pádova, 1990, pág.
5, o regulamento constitui a lei interna que organiza e articula a vida de um grupo social, no âmbito de um edifício
pertencendo a vários sujeitos jurídicos que têm a propriedade das várias fracções, os condóminos.
(32) Nos termos do artigo 3.º, alínea f), do Decreto-Lei n.º 160/2006, de 8 de Agosto, o contrato de arrendamento
deve mencionar a existência de um regulamento de propriedade horizontal, se o houver.
(33) Note-se que a assembleia de condóminos, como órgão deliberativo do condomínio, pode sempre e em
qualquer altura deliberar sobre o regulamento de condomínio, alterando-o ou substituindo-o integralmente por
outro, ainda que tenha sido elaborado pelo administrador.
(34) Como lapidarmente decidiu a Cassação italiana, 4.12.1993, n. 12028 in Arch. Locazioni, 1994, 798, se o
regulamento que proíbe ter cães (ou outros animais) no apartamento em edifícios condominiais não tem natureza
contratual (muito grosso modo, o regolamento contrattuale italiano corresponde ao nosso regulamento contido no
título constitutivo) não pode considerar-se eficaz a proibição nessa matéria aprovada pela maioria dos
condóminos, sendo necessário o consenso de todos.
(35) É inválida a cláusula que estabelece a obrigatoriedade de consentimento escrito dos outros condóminos para a
detenção de animais numa fracção autónoma, porque tal obrigação consubstancia, de facto, uma proibição. Assim
decidiu o Tribunal de Karlsruhe (OLG Karlsruhe WE 1988, 96, citado por HERMANN WEITNAUER,
Wohnungseigentumsgesetz, pág. 306), que considerou inválida a cláusula que estabelece a obrigatoriedade de
consentimento escrito dos outros condóminos para a detenção de animais numa fracção autónoma, porque tal
obrigação consubstancia, de facto, uma proibição, ainda que implícita.
(36) Seguimos quase ipsis verbis LUÍS BRITO CORREIA, Os Administradores das Sociedades Anónimas, Almedina,
Coimbra, 1993, pág. 425.
(37) GIUSEPPE BRANCA, Commentario del Codice Civile, pág. 454, caracteriza a assembleia como o órgão supremo,
natural, estrutural, permanente do condomínio. Destarte, não pode dizer-se que seja a mera soma dos
condóminos: as suas deliberações são obrigatórias também para aqueles que não as aceitaram. Também VOLKER
BIELEFELD, Der Wohnungseigentümer, 5.ª ed., Verlag Deutsche Wohnungswirtschaft GmbH, 1995, pág. 392,
considera a assembleia de condóminos como o “oberste” órgão de administração. Para NICOLETTI/REDIVO, Il
regolamento e l’assemblea nel condominio degli edifici, 2.ª ed., Cedam, Pádova, 1990, pág. 100, a assembleia, na
medida que pode decidir recursos contra os actos do administrador, é o órgão superior da administração.
(38) Cfr. NICOLETTI/REDIVO, Il regolamento e l’assemblea nel condominio degli edifici, pág. 96.
(39) PINTO FURTADO, Deliberações dos sócios, pág. 49, entende como deliberação a declaração juridicamente
imputável a uma pessoa colectiva ou simplesmente a um órgão seu, ou ainda, globalmente, a um grupo não dotado
de personalidade jurídica, formada mediante o concurso dos sujeitos de direito que a compõem e moldada pela
fusão das declarações individuais receptícias por eles emitidas (votos) que, no mínimo, integrem o núcleo mais
numeroso de declarações de sentido idêntico.
(40) As normas sobre a constituição da assembleia e a validade das suas deliberações não podem ser contrariadas
por nenhum acto negocial. Entendemos que os condóminos não podem alterar a maioria legalmente estabelecida;
o estabelecimento de uma maioria mais exigente comporta uma correlativa restrição dos poderes que a lei
concedeu à assembleia e dificulta a actividade de administração das partes comuns. Neste sentido, o acórdão da
Relação de Évora, de 19 de Abril de 1990, in CJ, II, págs. 289 e ss., considerou nula a cláusula que exigia a
totalidade dos votos representativos do capital investido para a aprovação das deliberações. “Neste ponto, a lei é
imperativa. De resto, até se poderá, com razão, dizer que as cláusulas contratuais, para poderem ser conformes à
lei, terão de poder dar um mínimo de funcionalidade às situações a que se destinam. Ora, exigir a unanimidade
para toda e qualquer deliberação da assembleia de condóminos, era praticamente o mesmo que tornar
ingovernável o condomínio. Tal situação teria necessariamente de ser afastada pelo legislador que, obviamente,
não criou um instituto na lei para permitir que ele não funcionasse de modo minimamente aproveitável, ou,
mesmo, deixando a possibilidade de situações amiúde verificáveis em que tal instituto ficasse paralisado. Bastaria
a vontade de qualquer dos condóminos, desconforme com a dos outros, para que nada na propriedade horizontal e
condominial pudesse funcionar”. Na doutrina, v. ARAGÃO SEIA, Propriedade Horizontal, 2.ª ed., Almedina,
Coimbra, 2002, pág. 177.
Esta questão é altamente controversa entre a doutrina italiana. Em sentido concordante com o estabelecimento de
uma maioria mais elevada, NOBILE, L’amministratore del condominio, 4.ª ed. revista e actualizada por Guido
Belmonte, Casa Ed. Dott. Eugenio Jovene, Nápoles, 1966, pág. 93, GINO TERZAGO, Il Condominio – Trattato
Teorico-Pratico, 4.ª ed., Giuffrè, 2000, pág. 545, e LINA BREGANTE, Il regolamento di condominio, Giuffrè, Milão,
2000, pág. 55. Pelo contrário, LAZZARO/STINCARDINI, L’amministratore del condominio, pág. 52, e
NICOLETTI/REDIVO, Il regolamento e l’assemblea nel condominio degli edifici, pág. 22, não aceitam a possibilidade
de estabelecer uma derrogação à maioria estabelecida ex lege, exigindo uma mais elevada, pois estas disposições
visam tutelar interesses fundamentais do condomínio ou de terceiros.
Na doutrina alemã, entende-se que o kopfstimmrecht é disponível. Por todos, v. VOLKER BIELEFELD, Der
Wohnungseigentümer, pág. 413.
(41) Cremos que o transmitente de uma fracção autónoma é obrigado a comunicar ao adquirente as deliberações
anteriormente aprovadas. Nos termos do artigo 9.º, do DL 268/94, o administrador, ou quem a título provisório
desempenhe as funções deste, apenas tem o dever de facultar cópia do regulamento aos terceiros titulares de
direitos relativos às fracções. Assim, o administrador pode, legitimamente, recusar-se a apresentar o livro de actas
a um terceiro que se apresente como eventual adquirente de uma fracção autónoma. Por outro lado, a culpa in
contrahendo prevê deveres de esclarecimento a cargo das partes em negociação (cfr. MENEZES CORDEIRO, Da Boa
Fé no Direito Civil, Almedina, Coimbra, 1997, pág. 549); a conclusão de um contrato na base de falsas indicações
ou na base de falta de informação implica o dever de indemnizar, por culpa na formação dos contratos. Na
prática, os futuros adquirentes não procuram o administrador para verificarem as actas, porque acreditam na
palavra do condómino-alienante ou entendem o seu silêncio como sinal da ausência de problemas. A dificuldade
agrava-se quando o condómino-alienante é o próprio administrador do condomínio. Esta opinião não é, contudo,
consensual; v. HENRIQUE MESQUITA, A propriedade horizontal, págs. 134 e 135.
(42) No sentido de que a vontade comunitária só pode formar-se na reunião formal da assembleia de condóminos,
v. ANTÓNIO VENTURA-TRAVESET, Derecho de Propiedad Horizontal, Bosch, Barcelona, 2000, pág. 490.
(43) O legislador refere-se ainda ao acordo de todos os condóminos no artigo 1419.º, n.º 1, para a modificação do
título constitutivo. Parece, quanto a este acordo, que ele pode ser obtido fora da assembleia de condóminos.
(44) Neste sentido, NICOLETTI/REDIVO, Il regolamento e l’assemblea nel condominio degli edifici, pág. 97 e
BÄRMANN/PICK/MERLE, Wohnungseigentumsgesetz, pág. 428.
(45) LUDWIG RÖLL, Handbuch für Wohnungseigentümer und Werwalter, 7.ª ed., Verlag Dr. Otto Schmidt, Köln,
1996, pág. 57, e MARCEL SAUREN, Wohnungseigentumsgesetz, Beck, München, 1995, pág. 145. A proibição de os
animais andarem à solta dentro das partes comuns do edifício não só evita a poluição destes locais e outros
estorvos, como permite identificar, com facilidade, a permanência aí de animais estranhos ao edifício.
(46) PINTO MONTEIRO, Cláusula Penal e Indemnização, Almedina, Coimbra, 1990, págs. 139 e ss., trata destas
sanções ao lado das sanções de índole disciplinar – pena associativa (“Vereinssstrafe”). São penas impostas pelos
órgãos de uma associação, “graças a um poder – sancionatório – inerente ao grupo, para fazer cumprir os deveres
associativos pelos respectivos membros”. A pena associativa destina-se “a exortar os sócios a assumirem um
comportamento conforme ao que a associação lhes exige, de acordo com os estatutos e segundo os padrões ético-
sociais específicos do grupo. Por isso é que a sua imposição passa por um juízo valorativo (Bewertung) ulterior,
através de um procedimento algo semelhante ao de um processo judicial (...)”. A pena associativa “tem
finalidades intimidativas (Abschreckung) e de expiação (Sühne) (...) de acordo com a sua função essencial:
assegurar a disciplina dos membros da associação e o respeito pelos deveres associativos”. Quanto à legitimidade
das penas associativas e das penas pecuniárias do condomínio, ela é naturalmente diferente. Continuando a seguir
os ensinamentos do Autor, a legitimidade das sanções associativas decorre do princípio da autonomia associativa.
Mas há analogia evidente na finalidade a cumprir. As penas associativas visam “assegurar o respeito pelas suas
regras internas de funcionamento e a disciplina do respectivo grupo ou colectividade”. As penas da assembleia de
condóminos são “sanções estabelecidas por um grupo – a assembleia de condóminos –, a fim de fazer respeitar as
suas deliberações, as disposições legais pertinentes ou as decisões do administrador”. Entendemos nós que, ao
contrário das associações, em que a legitimidade das penas é interna, decorrente da autonomia associativa dos
seus membros, no condomínio existe uma legitimidade de origem externa, decorrente de um elemento objectivo:
a convivência, a sociabilidade resultante da unidade estrutural do edifício.
(47) Neste sentido decidiu o acórdão da Relação de Coimbra, de 5 de Junho de 2001, in www.dgsi.pt/jtrc.nsf.
(48) Considerar que o administrador tem poderes negociais e processuais próprios não significa que exista um
campo de actividade reservado ao administrador do condomínio. Onde o administrador se move, também se move
a assembleia dos condóminos: na administração das partes comuns do edifício. Assim, não existirá um vício de
incompetência nas deliberações da assembleia por esta decidir no campo de actividade eventualmente reservado
ao administrador. A assembleia tem competências concorrentes com as do administrador, pelo que não são
impugnáveis as deliberações da assembleia de condóminos por invasão da esfera do administrador.
(49) Cfr. ROBERTO AMAGLIANI, L’amministratore e la rappresentanza degli interessi condominiali, pág. 158.
(50) V. WERNER NIEDENFÜHR/ HANS-JÜRGEN SCHULZE, WEG, Handbuch und Kommentar zum
Wohnungseigentumsgesetz, C. F. Müller Verlag, Heidelberg, 1997, pág. 131.
(51) No caso de o condómino senhorio não assegurar que o arrendatário se comprometa a não deter animais na
fracção autónoma, poderá incorrer em responsabilidade perante os outros condóminos.
(52) LUDWIG RÖLL, Handbuch für Wohnungseigentümer und Werwalter, 7.ª ed., Verlag Dr. Otto Schmidt, Köln,
1996, pág. 258, chama às deliberações aprovadas por unanimidade pseudo-acordos [Pseudovereinbarungen].
Também para GIUSEPPE BRANCA, Commentario del Codice Civile, pág. 418, uma deliberação votada por
unanimidade na assembleia pode só aparentemente ser uma deliberação e, inversamente, esconder um acordo;
não se trata de um comando do condomínio, mas de um acto dos condóminos individuais enquanto proprietários
das fracções (é evidente que o administrador não é obrigado, salvo deliberação expressa, a dar execução a esse
acordo). Quando a assembleia decide sobre coisas comuns, é o condomínio a pronunciar-se; quando dispõe
exclusivamente sobre as fracções, sem tocar, directa ou indirectamente, partes ou serviços comuns, é um acordo
no qual qualquer condómino dispõe do direito que tem como proprietário da sua fracção.
(54) Cfr. GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Almedina, Coimbra, 1998, pág. 408.
(55) GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição, págs. 1095 e 1097.
(56) Para ANTONIO VISCO, “I cani...in regime condominiale”, in Nuovo dir., 1972, pág. 168, é absurda a proibição
indiscriminada de ter um cão, ainda quando esta respeite apenas a diversas espécies destes animais. O cão além
de ser um amigo que faz companhia e brinca com as crianças, é útil para a guarda. No mesmo sentido, GINO
TERZAGO, “Detenzione di animali negli appartamenti di edifici in condominio”, Nuovo dir., 1969, págs. 415 ss. e
LINO SALIS, “Il cani e il...condominio”, Riv. Giur. Edil., 1971, I, pág. 451. GIVORD/GIVERDON, La Copropriété, 4.ª
edição, Dalloz, Paris, 1992, pág. 278, dão-nos notícia de a Cour de Cassation interpretou uma cláusula proibindo
ter um cão como limitada aos “cães barulhentos”. E DARCY ARRUDA MIRANDA, JR., Dicionário Jurisprudencial do
Condomínio, Editora Revista dos Tribunais, São Paulo, 1980, pág. 10, considera que improcede a acção cominatória
proposta pelo condomínio contra o proprietário de apartamento visando compeli-lo à retirada de animal doméstico
se, não obstante constar de proibição expressa, não se prova qualquer prejuízo para o sossego, a salubridade ou a
segurança dos moradores. A jurisprudência e a doutrina alemãs vão no mesmo sentido; cfr., por todos, HERMANN
WEITNAUER, Wohnungseigentumsgesetz, pág. 379.
(57) Nas palavras de ANTONIO VISCO, “I cani...in regime condominiale”, pág. 170, a cláusula “é proibido deter
animais domésticos no apartamento” deve ser entendida não num sentido absoluto, mas antes relativo, devendo
ser relacionada com as consequências, ou seja, com o distúrbio provocado pelo animal. Se o cão ou o gato, ou
qualquer animal, não é causa de distúrbio para quem vive fora do apartamento, o autor considera que a proibição
não tem valor porque constitui uma intolerável limitação à liberdade individual.
(58) Cfr. LUDWIG RÖLL, Handbuch für Wohnungseigentümer und Werwalter, pág. 56, e MARCEL SAUREN,
Wohnungseigentumsgesetz, pág. 144.
(60) Esta asserção tem vindo a ganhar força também na jurisprudência. Em Itália, a Pret. de Campobasso
(Campopiano c. Mónaco), em 12.5.90, in ALC, 1991, 176, considerou que a simples detenção de um animal não faz
o condómino incorrer na violação da proibição de deter animais, sendo necessário que se verifique, efectivamente,
um prejuízo à colectividade dos condóminos. Na Alemanha, a BayObLG MDR (citada por MARCEL SAUREN,
Wohnungseigentumsgesetz, pág. 144) já decidia neste sentido em 1972.
(61) ROBERTO AMAGLIANI, L’amministratore e la rappresentanza degli interessi condominiali, págs. 61 e ss..
CHRISTIAN LARROUMET, Les Biens, pág. 421, fala do interesse do imóvel distinto do interesse de cada um dos
condóminos. Refere-se a interesse geral dos condóminos, LUCIO GIARLETA, “L’amministratore diventa datore di
lavoro quando assume dei prestatori di lavoro per fare eseguire determinate opere per conto del condominio?”, in
MT, 1974, pág. 600. Segundo MARINA/GIACOBBE, “Condominio negli edifici”, Enciclopedia Del Diritto, VIII, pág.
821, a posição de cada um converge na posição dos outros, em relação à unidade do interesse geral.
(62) Cfr. LAZZARO/STINCARDINI, L’amministratore del condominio, Giuffrè Editore, 1992, pág. 2.
(63) Assim M. ZACCAGNINI, “Il potere di convocazione dell’assemblea da parte dell’amministratore e da parte dei
condomini”, Nuovo dir., 1970, pág. 809.
(64) Também quem entenda que, com base no artigo 1422.º, n.º 2, alínea d, (é especialmente vedado aos
condóminos praticar quaisquer actos ou actividades que tenham sido proibidos no título constitutivo ou,
posteriormente, por deliberação da assembleia de condóminos aprovada sem oposição), a assembleia pode proibir
a detenção de animais numa fracção autónoma – o que nos parece, cada vez mais, duvidoso, pois a detenção de
um animal não se enquadra na expressão “praticar actos ou actividades” tal como vem enunciada nesta disposição
normativa – está sujeito, nessa decisão, à necessidade fundamentadora do concreto interesse colectivo do
condomínio.
(65) Com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei n.º 315/2003, de 17 de Dezembro.
(66) Bem andou a Relação de Lisboa ao decidir o acórdão de 26.06.2001 (in www.dgsi.pt.jtrl.nsf) que prevendo a
lei a existência de animais de companhia no lar, tem de se entender que o uso habitacional do arrendado não fica
desvirtuado quanto ao seu fim quando eles lá permanecem: “O gato, sendo um animal detido ou destinado a ser
detido pelo homem, designadamente no seu lar, considera-se animal de companhia. Inexistindo na Lei qualquer
limite quanto ao número de gatos que podem ser alojados em cada fogo e não se provando que estes, embora em
número que excede três dezenas, produzam cheiros ou ruídos que importem um prejuízo substancial para o uso do
imóvel ou incómodo para os vizinhos, não se encontra caracterizado o fundamento do despejo – práticas ilícitas –
previsto na al. c) do n.º 1 do art. 64.º do RAU”. A situação não é, aliás, inédita. O Tribunal de Köln (OLG Köln, de
26.09.95, citado por HERMANN KAHLEN, Praxiskommentar zum Wohnungseigentumsgesetz, pág. 119) já havia
desenvolvido, em 1995, um raciocínio idêntico a propósito de um condómino que detinha mais de 100 pequenos
animais, mas de cuja fracção não emanavam quaisquer cheiros ou barulhos e, portanto, não resultava qualquer
dano para os condóminos vizinhos.
(67) Com as alterações introduzidas pelos Decretos-Leis n.º 76/2002, de 26 de Março, 259/2002, de 23 de
Novembro, e 293/2003, de 19 de Novembro.
(68) Cfr. CARLOS ALBERTO DA MOTA PINTO, Direitos Reais, Lições publicadas por Álvaro Moreira e Carlos Fraga,
pol., Coimbra, 1972, pág. 244.
(69) PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, com a colaboração de MANUEL HENRIQUE MESQUITA, Código Civil Anotado,
anot. ao artigo 1305.º, vol. III, pág. 95, 4.
(71) Nas palavras de PIRES DE LIMA/ANTUNES VARELA, com a colaboração de MANUEL HENRIQUE MESQUITA, Código
Civil Anotado, vol. III, anot. ao artigo 1346.º, pág. 178, 5, exigindo-se prejuízo substancial, põem-se de lado as
emissões que produzam um dano não essencial.
(72) São três os artigos da CRP a ter aqui em conta: o artigo 25.º, n.º 1, que estabelece a inviolabilidade da
integridade física e moral das pessoas; o artigo 64.º, nos termos do qual todos têm direito à protecção da saúde; e
o artigo 66.º, n.º 1, que dispõe o direito de todos a um ambiente de vida humano sadio e ecologicamente
equilibrado. Os dois últimos são direitos sociais, mas de natureza análoga à dos direitos, liberdades e garantias,
pelo que se aplica o seu regime (artigo 17.º da CRP). O artigo 2.º, da Lei de Bases do Ambiente, concretiza que
todos os cidadãos têm direito a um ambiente humano e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender,
incumbindo ao Estado, por meio de organismos próprios e por apelo a iniciativas populares e comunitárias,
promover a melhoria da qualidade de vida, quer individual, quer colectiva.
(73) Segundo MOTA PINTO, Teoria Geral do Direito Civil, Coimbra Editora, 1990, pág. 206, os direitos de
personalidade constituem “um círculo de direitos necessários, um conteúdo mínimo e imprescindível da esfera
jurídica de cada pessoa”.
(74) O Direito Geral de Personalidade, Coimbra Editora, Coimbra, 1995, pág. 93.
(75) Cfr. RABINDRANATH CAPELO DE SOUSA, O Direito Geral de Personalidade, pág. 116.
(76) Cfr. o acórdão da Relação de Lisboa, de 19 de Fevereiro de 1987, in CJ, I, pág. 141: “os ensaios de uma
orquestra, quando perturbadores do direito à tranquilidade dos vizinhos violam o direito à saúde e à integridade
física e moral das pessoas, como um direito eminentemente pessoal. Nestes casos o julgador, ao aplicar a lei, não
deve atender a um tipo humano médio, ao conceito de cidadão normal e comum, mas à especial sensibilidade do
lesado, tal como é na realidade”. Esta doutrina foi seguida pelo acórdão da Relação do Porto, de 6 de Fevereiro de
1990, in CJ, I, pág. 92.
(77) RABINDRANATH CAPELO DE SOUSA, O Direito Geral de Personalidade, pág. 232, nota 491, citaHubmann,
considerando que “cada um tem de suportar os pequenos aborrecimentos causados ocasionalmente pelos seus
vizinhos, mas já não tem de suportar uma chicana sistemática”. A vida em comum seria impossível sem cada um
sofrer certas incomodidades, nas palavras de FRANÇOIS CHABAS, Biens, Droit de propriété et ses démembrements,
Leçons de Droit Civil por HENRI e LÉON MAZEAUD e FRANÇOIS CHABAS, tomo II, 10.º volume, 8.ª ed.,
Montchrestien, Paris, 1994, pág. 98.
(78) “Os direitos, cujos limites não estão fixados de uma vez por todas, mas que em certa medida são “abertos”,
“móveis”, e, mais precisamente esses princípios podem, justamente por esse motivo, entrar facilmente em colisão
entre si, porque a sua amplitude não está de antemão fixada. Em caso de conflito, se se quiser que a paz jurídica
se restabeleça, um ou outro direito (ou um dos bens jurídicos em causa) tem que ceder até um certo ponto
perante o outro ou cada um entre si”. Assim, KARL LARENZ, Metodologia da Ciência do Direito, 2.ª ed., tradução
de José Lamego, FCG, Lisboa, 1989, pág. 491.
(79) “Quando se trata de bens constitucionais, o princípio da concordância prática impõe a coordenação e
combinação dos bens jurídicos em conflito de forma a evitar o sacrifício (total) de uns em relação aos outros. (...)
Subjacente a este princípio está a ideia do igual valor dos bens constitucionais (e não uma diferença de hierarquia)
que impede, como solução, o sacrifício de uns em relação aos outros, e impõe o estabelecimento de limites e
condicionamentos recíprocos de forma a conseguir uma harmonização ou concordância prática entre estes bens”.
Assim, GOMES CANOTILHO, Direito Constitucional e Teoria da Constituição,1998, pág. 1098.
(80) Na doutrina anglo-saxónica, MARGARET JANE RADIN, in Reinterpreting Property, 1993, pág. 35 e ss., chama-
lhe propriedade constitutiva, para evitar o equívoco resultante da expressão personal property.
(81) O valor preponderante, e muitas vezes exclusivo, de um animal de companhia para o seu dono não é
económico. Como considera STEVEN M. WISE, “Recovery of Common Law damages”, i, nota 2, se o valor
económico de um animal não é mais que incidental para o seu dono então ele não pode ser definido como um
animal de companhia.
(82) Cfr. STEVEN M. WISE, “Recovery of Common Law damages”, pág. 67.
(84) Para a violação dos direitos de personalidade valem os princípios gerais da responsabilidade civil. O acórdão
do STJ, de 13 de Março de 1986, BMJ, n.º 374, 1988, págs. 443 e ss., confirmou o pagamento de uma indemnização
de Esc. 100.000$00, para ressarcimento dos prejuízos resultantes do barulho produzido em casa dos vizinhos,
provenientes do bater de portas, do arrastamento de móveis, e dos aparelhos de rádio e televisão em
funcionamento. A Autora teve de recorrer a tratamentos médicos, tendo sido forçada a pedir a pessoas amigas que
lhe facultassem pernoitar em suas casas por não poder suportar os ruídos que a maltratavam na sua habitação.
Segundo o acórdão, “nem interessa distinguir se a ofensa é cometida deliberadamente ou não, pois em qualquer
hipótese sempre existe a ofensa, e, no caso em análise pelo menos houve negligência dos recorrentes por isso que
não empregaram as cautelas devidas e não alteraram seus comportamentos mesmo depois da prevenção que lhes
foi dirigida quanto ao estado da demandante e aos cuidados que requeria”.
(85) Decidiu o Tribunale di Napoli, 25.10.1990, in Giustizia Civile, 1991, I, 446, que o juiz pode ordenar como
procedimento de urgência o afastamento de cães dos apartamentos dos condóminos se causam distúrbios e
incómodos, entregando a execução aos órgãos públicos com a obrigação de fechá-los em canil (público ou privado)
ou de os ter sob custódia de privados, à escolha do proprietário, com obrigação de não o deixar livre no exterior.
(86) Sobre a execução destas acções, v. RABINDRANATH CAPELO DE SOUSA, O Direito Geral de Personalidade, págs.
481 e 482.
(87) V. ainda as normas aplicáveis à detenção de animais perigosos e potencialmente perigosos, enquanto animais
de companhia, estabelecidas pelo Decreto-Lei n.º 312/2003, de 17 de Dezembro.
Existe legislação que regulamenta as exigências quanto aos cuidados a ter com os animais nos
apartamentos. Porém, não existe legislação que proíba as pessoas de os ter . A mais recente, portaria
nº1427/2001 de 16 de Dezembro,define no seu art.º 1º alínea 2 -“ Sempre que sejam respeitadas as
condições de salubridade e tranquilidade da vizinhança, podem ser alojados por apartamento até três
cães ou 4 gatos adultos” -, ou seja até 4 animais.
O código civil considera os animais pertença (um bem ) das pessoa, tornando-as por eles
responsáveis em todas as situações, logo, as pessoas não podem ser espoliadas dos seus pertences e
ou bens por qualquer regulamento de condomínio sem fundamento plausível.
Qualquer regulamento feito à posterior ,não pode ser aplicado a quem já tem direitos adquiridos. O
regulamento de condomínio só tem aplicação a partir da sua aprovação e desde que este seja
aprovado por maioria, conforme lei do condómino. Mesmo assim, é discutível a sua validade
porquanto não existe nenhuma lei que proíba a posse de animais, bem pelo contrário.