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Ensaio filosófico
10C1 nº26
Na nossa sociedade é quase impossível uma pessoa viver sem causar algum tipo de
sofrimento ou morte aos animais, o que nos leva a pensar nos direitos que os mesmos
devem ou não ter, visto que, nas últimas décadas o tema do estatuto moral dos animais
passou a ocupar um lugar central na ética, e a evolução da sua perceção pelo Homem ao
longo dos séculos.
Os direitos dos animais consistem num impedimento de que os mesmos sejam vistos como
produtos, meios para os nossos fins, de modo a garantir a sua inclusão na comunidade
moral e os seus interesses básicos. Foi em 1978 que se deu a primeira declaração universal
dos direitos dos animais pela UNESCO e ONU, sendo assim uma grande conquista legal da
proteção animal constituída por 14 artigos. Porém, no contexto histórico desta causa,
imensos filósofos levantaram a pauta e apresentaram os seus argumentos de acordo com o
conhecimento adquirido até então.
1. Objeção biológica:
René Descartes, 1596-1650, apresentou-se contra os direitos dos animais sob o ponto de
vista de serem seres autómatos, desprovidos de sensações e sentimentos, assim como, de
razão e linguagem que lhes possibilite elaborar conceitos e/ou exprimir desejos, ou seja, os
animais não expressam interesse particular por continuar a viver, nem de serem livres, visto
que, só os seres humanos são portadores destas características, apenas eles possuem
direitos, pois apenas para eles a vida, a liberdade e a integridade física e psicológica são um
bem essencial.
Contra objeção:
2. Objeção do direito:
Thomas Hobbes, na sua obra O Leviatã, de 1652, fundou uma teoria contratualista do
direito na filosofia que consiste na premissa de que só têm direitos aqueles que também
têm deveres, por meio de um contrato. Neste ponto de vista, direitos são um benefício que
o indivíduo obtém em troca de um compromisso, pelo qual ele está obrigado a oferecer
garantindo, assim, o convívio harmonioso e pacífico e a sobrevivência e prosperidade de
toda a sociedade.
Sendo assim, os animais não são portares de direitos pois não apresentam deveres.
Contra objeção:
Inicialmente podemos identificar a exclusão de indivíduos que esta filosofia apresenta tendo
em conta que tanto crianças como pessoas com certos tipos de enfermidade não podem
assinar contratos e consequentemente contrair obrigações. Para além disso o
contratualismo hobbesiano condiciona a ética à política mesmo no caso em que uma lei
pareça injusta.
Outros contratualistas como John Locke, no Segundo Tratado sobre o Governo, de 1690,
afirmavam que o estado de natureza era melhor que o Estado absolutista defendido por
Hobbes. Jean-Jacques Rousseau, no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens, de 1755, deixava claro que a capacidade de firmar contratos
não encerra a questão dos direitos morais, incorporando, inclusive, os animais às suas
considerações.
3. Senciência animal
Como abordado anteriormente a fala ou a capacidade de firmar contratos não podem ser
usados como parâmetro para avaliar eticamente ações que comprometam a vida de outros
seres, sejam eles quais forem. O dano que causamos ao tirar a vida ou comprometer a
integridade de outro ser não é consequência da sua capacidade intelectual. Devemos
proteger aqueles seres que, por sua vulnerabilidade, apresentam em si a capacidade de
sofrer. Em outras palavras, têm direitos fundamentais aqueles indivíduos que são seres
sencientes (seres que têm uma consciência individual, ainda que em diferentes graus de
complexidade).
Por outro lado, nos animais a resposta ao perigo não é meramente instintiva. A capacidade
de interpretar é fundamental, ou seja, os animais são sencientes justamente porque a sua
capacidade de locomover-se faz com que precisem de mecanismos para procurar e obter
meios de sobrevivência. Podemos então afirmar que todo o ser senciente tem interesse na
vida, na liberdade e na integridade física e psicológica, mesmo que não consiga elaborar
esses conceitos racionalmente.
Conclusão:
Na minha opinião, tendo em conta tudo aquilo que foi dito, foi necessário o
reconhecimento por direitos dos animais e existe ainda um longo caminho a percorrer na
proteção animal, sendo por isso a razão pela qual devemos caminhar para alternativas mais
sustentáveis e amigas dos animais, visto que devemos garantir os seus interesses e bem-
estar. Não só garanti-los, como deixar de fazer uma série de coisas, nomeadamente, usá-los
como objetos e propriedade, deixar de explorá-los, deixar de criá-los artificialmente, deixar
de caçá-los e deixar de usarmos os subprodutos da sua exploração, pois isso coloca a vida