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Direitos dos animais

Ensaio filosófico

Sara Sofia Rodrigues Sousa

10C1 nº26

Prof: Mónica Marques


Direitos dos animais

Na nossa sociedade é quase impossível uma pessoa viver sem causar algum tipo de
sofrimento ou morte aos animais, o que nos leva a pensar nos direitos que os mesmos
devem ou não ter, visto que, nas últimas décadas o tema do estatuto moral dos animais
passou a ocupar um lugar central na ética, e a evolução da sua perceção pelo Homem ao
longo dos séculos.

Os direitos dos animais consistem num impedimento de que os mesmos sejam vistos como
produtos, meios para os nossos fins, de modo a garantir a sua inclusão na comunidade
moral e os seus interesses básicos. Foi em 1978 que se deu a primeira declaração universal
dos direitos dos animais pela UNESCO e ONU, sendo assim uma grande conquista legal da
proteção animal constituída por 14 artigos. Porém, no contexto histórico desta causa,
imensos filósofos levantaram a pauta e apresentaram os seus argumentos de acordo com o
conhecimento adquirido até então.

1. Objeção biológica:

René Descartes, 1596-1650, apresentou-se contra os direitos dos animais sob o ponto de
vista de serem seres autómatos, desprovidos de sensações e sentimentos, assim como, de
razão e linguagem que lhes possibilite elaborar conceitos e/ou exprimir desejos, ou seja, os
animais não expressam interesse particular por continuar a viver, nem de serem livres, visto
que, só os seres humanos são portadores destas características, apenas eles possuem
direitos, pois apenas para eles a vida, a liberdade e a integridade física e psicológica são um
bem essencial.

Contra objeção:

Em contrapartida à objeção biológica podemos seguir por dois pontos primordiais. Em


primeiro lugar, para se ser consciente não é necessária linguagem. Um exemplo essencial
para esta premissa são os recém-nascidos, que nascem sem a habilidade da fala e ganham
consciência do seu redor antes de começar a praticar a linguagem e pessoas em coma ou
com problemas neurológicos/cognitivos que comprometam sua racionalidade e/ou
capacidade de comunicação que são portadoras de direitos e por nós protegidos pois há
outros fatores fundamentais que fazem com que estes seres humanos sejam reconhecidos
como sujeitos de direitos e respeitados como tal. Se a tese de Descartes fosse considerada
válida pela biologia, nos dias de hoje, estes seres humanos seriam vistos apenas como
objetos e estariam vulneráveis a todo o tipo de situações.

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Para além disso, em termos atuais da biologia não podemos alegar que os animais são seres
autómatos desprovidos da capacidade de sentir dor. O filósofo François-Marie Voltaire,
1694-1778, no século XVIII, já defendia que os animais sentiam e apresentavam ideias e
memórias, não sendo totalmente desprovidos de razão. Com o nosso conhecimento atual
sobre os animais é irrefutável discordar que os animais são dotados de raciocínio e
linguagem, de sentimentos e desejos e, portanto, de interesse em serem livres, pois eles
procuram conscientemente evitar situações dolorosas e procuram situações que foram
fonte de prazer no passado, logo, estaríamos a ser hipócritas ao exigir dos animais requisitos
que não são exigidos aos seres humanos para serem portadores de direitos.

2. Objeção do direito:
Thomas Hobbes, na sua obra O Leviatã, de 1652, fundou uma teoria contratualista do
direito na filosofia que consiste na premissa de que só têm direitos aqueles que também
têm deveres, por meio de um contrato. Neste ponto de vista, direitos são um benefício que
o indivíduo obtém em troca de um compromisso, pelo qual ele está obrigado a oferecer
garantindo, assim, o convívio harmonioso e pacífico e a sobrevivência e prosperidade de
toda a sociedade.

Sendo assim, os animais não são portares de direitos pois não apresentam deveres.

Contra objeção:

Inicialmente podemos identificar a exclusão de indivíduos que esta filosofia apresenta tendo
em conta que tanto crianças como pessoas com certos tipos de enfermidade não podem
assinar contratos e consequentemente contrair obrigações. Para além disso o
contratualismo hobbesiano condiciona a ética à política mesmo no caso em que uma lei
pareça injusta.

Outros contratualistas como John Locke, no Segundo Tratado sobre o Governo, de 1690,
afirmavam que o estado de natureza era melhor que o Estado absolutista defendido por
Hobbes. Jean-Jacques Rousseau, no Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da
Desigualdade entre os Homens, de 1755, deixava claro que a capacidade de firmar contratos
não encerra a questão dos direitos morais, incorporando, inclusive, os animais às suas
considerações.

Na maioria das sociedades, avançou-se para um contratualismo rousseauniano, que


reconhece direitos morais a todos os seres humanos que sejam portadores da nacionalidade
de um determinado país. Todos os indivíduos citados incapazes de assinar o contrato
contam com garantias para preservar seus interesses básicos à vida, liberdade e integridade
física assegurados na constituição de seus países. Eles não são portadores de direitos
apenas porque temos deveres indiretos para com eles, como sugerem os contratualistas
conservadores de Hobbes, mas sim por serem indivíduos da espécie humana.

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A Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, subscrita pela grande
maioria dos Estados, não faz distinção de nenhum tipo entre seres humanos, e afirma
textualmente que os Direitos Humanos são universais, imprescritíveis e intransferíveis. Os
animais não têm esse reconhecimento legal de seus direitos morais devido à tradição e ao
especismo (ponto de vista de que uma espécie, no caso a humana, tem todo o direito de
explorar, escravizar e matar as demais espécies de animais por considerá-las inferiores) e
não em função de algum atributo básico que lhes falta para serem considerados membros
da comunidade moral.

3. Senciência animal

Como abordado anteriormente a fala ou a capacidade de firmar contratos não podem ser
usados como parâmetro para avaliar eticamente ações que comprometam a vida de outros
seres, sejam eles quais forem. O dano que causamos ao tirar a vida ou comprometer a
integridade de outro ser não é consequência da sua capacidade intelectual. Devemos
proteger aqueles seres que, por sua vulnerabilidade, apresentam em si a capacidade de
sofrer. Em outras palavras, têm direitos fundamentais aqueles indivíduos que são seres
sencientes (seres que têm uma consciência individual, ainda que em diferentes graus de
complexidade).

A senciência é um fator importante, visto que é o mecanismo de defesa típico do mundo


animal servindo como um alerta para situações potencialmente nocivas à vida do indivíduo.
Ao desencadear-se o mecanismo da dor, o indivíduo protege-se e afasta-se dessa fonte para
preservar a sua vida. Este ato é muitas vezes instintivo ao ser humano que reage antes do
seu cérebro interpretar o estímulo racionalmente. Se nos fosse necessário compreender o
que é o fogo antes de nos protegermos dele, estaríamos a arriscar a nossa vida.

Por outro lado, nos animais a resposta ao perigo não é meramente instintiva. A capacidade
de interpretar é fundamental, ou seja, os animais são sencientes justamente porque a sua
capacidade de locomover-se faz com que precisem de mecanismos para procurar e obter
meios de sobrevivência. Podemos então afirmar que todo o ser senciente tem interesse na
vida, na liberdade e na integridade física e psicológica, mesmo que não consiga elaborar
esses conceitos racionalmente.

Conclusão:

Na minha opinião, tendo em conta tudo aquilo que foi dito, foi necessário o
reconhecimento por direitos dos animais e existe ainda um longo caminho a percorrer na
proteção animal, sendo por isso a razão pela qual devemos caminhar para alternativas mais
sustentáveis e amigas dos animais, visto que devemos garantir os seus interesses e bem-
estar. Não só garanti-los, como deixar de fazer uma série de coisas, nomeadamente, usá-los
como objetos e propriedade, deixar de explorá-los, deixar de criá-los artificialmente, deixar
de caçá-los e deixar de usarmos os subprodutos da sua exploração, pois isso coloca a vida

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em causa e é uma violação dos seus direitos para com uma vida livre. Em simultâneo
devemos defender a mudança, despertar consciências, promover o respeito aos animais
enquanto indivíduos, preservar o meio ambiente em que eles vivem e reparar, na medida
do possível, os danos que lhes causamos em função da exploração deles e da natureza.

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