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Ensaio Filosófico - Estatuto Moral dos animais

Com este ensaio filosófico, procuro analisar e discutir o processo de extensão do estatuto
moral dos animais não-humanos. Tal análise é justificada a partir do significativo debate
sobre as capacidades cognitivas e o usufruto de autoconsciência de animais não-humanos
envolvendo várias áreas de pesquisa como a Ética, Filosofia da Mente, Psicologia, Filosofia
das Neurociências, Direito, Etologia, entre outras. Ao longo dos anos têm sido considerados
como objetos ou bens que só nós podemos usufruir pela cultura europeia e mundial por
razões culturais e filosóficas, mas nos últimos anos, gradualmente, os animais não humanos
passaram a ter o seu estatuto moral e jurídico debatido pela sociedade. Debate que se amplia
especialmente quando a Etologia começa a desenvolver estudos de observação da conduta de
animais em seus próprios habitats e se apercebe de capacidades cognitivas e padrões de ação
social muito semelhantes aos que, até então, se acreditava serem exclusivamente humanos.
Com isto podemos fazer a pergunta: Os animais são meros meios, para benefícios e interesses
exclusivamente humanos, ou são fins em si mesmos, com preferências e interesses próprios?
A resposta a esta pergunta é dividida por três perspectivas. A perspectiva tradicional, que não
reconhece estatuto moral aos animais não humanos, é apoiada por Aristóteles e Tomás de
Aquino e com uma visão menos radical também apoiada por Kant. A perspectiva utilitarista,
que defende que o que determina o estatuto moral não é a racionalidade, mas a senciência. E
a perspectiva de Tom Regan, que visa precisamente que não há qualquer diferença de estatuto
moral entre uns e outros, defendendo que animais e seres humanos têm direitos invioláveis,
que iria levar ao fim da criação e abate de aves e mamíferos para a nossa alimentação.
A tese que defendo, acerca desta temática, colide com a perspectiva de Tom Regan mas com
algumas alterações. Considero que o critério para a atribuição de estatuto moral a um ser é o
critério de ser sujeito de uma vida: ter uma vida com um grau razoável de unidade
psicológica. Ao contrário de vidas a que se somam memórias uma após a outra sem nenhuma
conexão,um ser que é sujeito da vida é capaz de conectar esses momentos em um todo, ter
lembranças de momentos passados e ter expectativas para o futuro. Ora, isso verifica-se não
só nos seres humanos, como também nos animais segundo estudos que indicam que estes são
capazes do que é chamado memória processual - um tipo de memória de longo prazo que
ajuda na realização de habilidades motoras tais como correr. Apesar de considerar que os
animais também têm direitos, nunca se pode deixar de lado o fato de que os seres humanos
são omnívoros, isto é, comem carne, vegetais, frutos, cereais e outros tantos. Não é possível
negar que isto causa sofrimento nos animais que são mortos para saciar a nossa fome, mas
por exemplo, um animal como o leão mata uma zebra precisamente porque este necessita de
se alimentar e é claro que a zebra com isso sofre.Obviamente, este exemplo é um exagero,
porque o leão é incapaz de aplicar princípios morais. No entanto, isso explica que o abate de
animais para as necessidades alimentares dos humanos, faz com que o planeta permaneça em
equilíbrio. Uma vez que não se trata apenas de uma questão de respeito pelos direitos dos
animais, mas sim do que chamamos de luta pela sobrevivência.
A maior objeção, à tese que defende que o critério para a atribuição de estatuto moral é ser
sujeito de vida, é feita pela ética deontológica de Kant. De acordo com Kant, uma pessoa é
um agente racional, dotado de autonomia e dignidade, pelo que é nossa obrigação respeitar os
seus direitos fundamentais em todas as nossas ações. No entanto, isto implicaria negar o
estatuto moral a recém-nascidos, deficientes mentais e alguns animais não-humanos. Ora, se
sentimos que temos obrigações morais para com eles e se os queremos incluir no conjunto de
seres dignos de consideração moral, chegamos à conclusão que o critério de atribuição de
estatuto moral não pode ser o da racionalidade.
Em jeito de conclusão, concluo este trabalho, constatando que o critério para a atribuição de
estatuto moral a um ser é o critério de ser sujeito de uma vida: ter uma vida com um grau
razoável de unidade psicológica. Deste modo, e de acordo com muitos estudos feitos, os
animais possuem um estatuto moral.

Bibliografia/Webgrafia
Manual de Filosofia 10ºano adotado pela escola, consultado a 23/05/2022
Animals do have memories, and can help us crack Alzheimer’s | Aeon Ideas
O estatuto moral dos animais e o problema da substituibilidade (ul.pt)
Estatuto Moral dos Animais Não Humanos - NotaPositiva
Ensaio sobre os direitos dos animais - A Filosofia no Ensino Secundário (sapo.pt)
Três perspectivas sobre direito dos animais | Filosofia na Escola

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