Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
António Granjo
Filosofia
Será
que os
animais
têm
estatuto
moral e
direitos
? Rodrigo Oliveira Santos. 10ºA. Nº16
2021/2022
Índice
1. Introdução...........................................................................................................03
2. Formulação do Problema
7. Conclusão.........................................................................................................17
8. Bibliografia ......................................................................................................18
1. Introdução
Neste ensaio, cuja realização foi proposta no âmbito da disciplina de Filosofia, pretendo
refletir sobre o estatuto moral dos animais e alargar o meu conhecimento sobre essa questão,
para perceber se é aceitável, ou não, considerar que os animais têm direitos.
Vivemos numa época em que cada vez mais se fala do conceito de desenvolvimento
sustentável, isto é, um desenvolvimento que permite a satisfação das nossas necessidades sem
colocar em causa a possibilidade de as gerações futuras também poderem satisfazer as delas.
O esforço de implementar esta nova forma de vida tem exigido que as pessoas se tornem mais
conscientes do valor da natureza e do respeito que lhe é devido. Ao mesmo tempo,
pertencemos a uma sociedade em que cada vez mais se fala de direitos e se exige o seu
reconhecimento. Basta, por exemplo, pensar em movimentos a favor da igualdade de géneros,
ou a luta contra a violência policial de carácter racista nos EUA.
Percebemos, então, que os conceitos de “direitos”, de “ecologia” e de respeito pelo
outro são cada vez mais falados e promovidos. Por isso, a questão é: se expandirmos ou
combinarmos essas ideias, será que podemos dizer que, assim como nós temos direitos, a
natureza também os tem?
Peter Singer, no seu livro Animal Liberation defende que “discriminar os seres apenas
com base na sua espécie é uma forma de preconceito, imoral e indefensável do mesmo modo
que a discriminação com base na raça é imoral e indefensável.” (2013, p.354). Assim sendo,
por exemplo no caso dos animais, será que eles têm direitos morais como os seres humanos?
Se sim, quais? Qual a importância do seu bem-estar?
O presente trabalho propõe-se a analisar estas questões. São elas que expressam o
problema filosófico que se vai tentar estudar.
Para isso, antes de mais, convém clarificar os termos dessas questões.
Quando neste trabalho se mencionam os “animais”, pretende-se referir os animais não-
humanos. Já em relação ao conceito de “direito”, Pedro Murias, no Dicionário de Filosofia
Moral e Política, diz que “ter um direito é ter um certo estatuto ético que, nos casos
modelares, é vantajoso para a pessoa que o tem ou é por ela desejado, ou que favorece um
estado de coisas vantajoso ou desejado por essa pessoa.” (2020). Isto significa que a entidade
à qual se reconhece os direitos tem estatuto moral, isto é, “ela é moralmente importante para
a sociedade (…) a sua existência e o seu bem-estar têm peso moral positivo, ou seja, se os seus
interesses têm que ser considerados na tomada de decisão”.
Por isso, a grande questão é se os animais têm este estatuto moral e, portanto, se os
seus direitos devem ser reconhecidos.
3. Importância da Reflexão sobre este problema.
Desde o começo da vida, animais humanos convivem com animais não-humanos.
A relação de dependência entre estes sempre foi muito grande. Basta pensar-se em
como, desde as primeiras comunidades agro-pastoris, os animais têm fornecido
alimento e matérias-primas, como as peles e os ossos, essenciais para a sobrevivência
dos humanos.
Esta relação não tem sido equilibrada. E, ao longo dos séculos, muitos foram os
abusos cometidos contra os animais, desde a sua exploração excessiva à violência
física com que muitos foram tratados. Algumas espécies animais entraram inclusive
em extinção e outras correm esse perigo, sendo que as atividades humanas são uma
das principais causas para essa perda.
Isto faz com que seja urgente refletir-se sobre a importância que os animais têm
na vida humana. Afinal, eles partilham com os humanos o planeta Terra e a sua
existência é absolutamente fundamental para a nossa. Mais do que isso, eles têm vida
como nós e muitos deles sofrem como nós. Muitos deles são inclusive os nossos
melhores amigos.
Por exemplo, no contexto da pandemia de Sar-Cov-2, foram necessários
sucessivos confinamentos para a proteção da todos. Nessas semanas em que não foi
possível estar-se presencialmente com familiares e amigos, os animais foram muitas
vezes companhia e apoio em horas de solidão.
Se eles têm essa capacidade, não será, então, não só pertinente, mas também
justo repensar a forma como eles são tratados?
Cristina Beckert afirma: “quaisquer que sejam as perspetivas defendidas, a
reflexão filosófica sobre a consideração ética devida aos animais será determinante
para questionar a visão antropocêntrica do mundo que domina a civilização ocidental,
ao mesmo que construirá um contributo inestimável para a alteração de hábitos e
costumes humanos que põem em causa a integridade de outras espécies” (2002, p.4).
Este assunto é então pertinente para a Filosofia, porque exige pensar-se na
possível relevância moral dos animais e porque a forma como se encara este assunto
influencia aquilo que se considera certo ou errado no tratamento de seres de outras
espécies, caindo, portanto, na área de estudos da ética e da moral.
4. Os animais têm estatuto moral e direitos? – Duas perspetivas
A aplicação deste princípio para a defesa dos animais gera um ponto de vista deontológico
que se opõe ao utilitarismo. Esta oposição baseia-se no fato de que, dentro de uma visão
utilitarista, o benefício obtido através da utilização de animais entra em jogo, isto é, deve ser
calculado. Regan abomina esta visão, especialmente pelas consequências da sua aplicação aos
próprios seres humanos: alguns poderiam sofrer danos forçosamente em benefício de outros,
pouco importando a extensão deste benefício.
Em termos simples, pode-se afirmar que, para Regan, não é o facto de os animais serem
irracionais que os inferioriza em relação aos humanos. Também há humanos que têm as suas
capacidades diminuídas, ou não tão desenvolvidas, e considera-se impensável questionar os
direitos, por exemplo, dos bebés, dos idosos, dos doentes de Alzheimer, ou daqueles que tem
uma deficiência mental. Da mesma forma, segunda a perspetiva de Regan, é impensável
questionar os direitos dos animais. Permitir abusos nos animais ou negar-lhes os seus direitos,
poderia ter implicações graves para a defesa e o reconhecimento dos direitos humanos. Por
outro lado, para defender a sua perspetiva, Regan, não só faz a analogia com os humanos, mas
também explica que os animais têm valor inerente, como “sujeitos de uma vida”.
4.3 Comparação das duas perspetivas
Através da leitura duas perspetivas, percebe-se que, embora ambos os autores se
preocupem com os animais, fazem-no de forma diferente. Peter Singer assume a defesa do
bem-estar animal, embora estabeleça em que condições é aceitável o seu sacrifício máximo.
Tom Reagan vai mais longe e defende a ideia de que os animais têm direitos que devem ser
respeitados. Comparando as duas perspetivas, “o bem-estar animal assume como legítimo o
tratamento instrumental dos animais e seu tratamento como propriedade, assim defendem
uma regulamentação e um tratamento melhor para os animais. Já os que lutam pelos direitos
dos animais buscam a abolição de sua escravidão, ou seja, seu tratamento como instrumento
do ser humano (Lourenço, 2008, p. 388).”
Aplicando a casos práticos as duas ideias: será a indústria de criação de animais legítima? E
a experimentação animal em investigação médica?
Tanto Peter Singer como Regan preferem condenar todo o tipo de pecuária, mas Singer
esclarece que pode ser feita a exceção com os animais auto-conscientes, desde que se garanta
a continuidade da espécie, ou seja, que não se ponham em causa nem o bem-estar nem a
existência do animal. Regan diz que só se poderia abrir a exceção para os animais que se
provassem que não têm “preferências”, as já referidas memórias, desejos, expectativas, talvez
os peixes.
Quanto à experimentação animal em investigação médica, Singer defende que, em teoria,
ela seria legítima se os benefícios para os humanos compensarem os prejuízos para os animais.
No entanto, eles acham que os benefícios para a humanidade são exagerados e que de facto
não compensam o sofrimento animal. Já Reagan, para resolver o conflito de interesses entre
os direitos dos humanos e dos animais, aplica o princípio de minimização individual, isto é,
quando danos de diferente magnitude estão em causa, deve-se evitar os piores danos. No
entanto, no caso da experimentação animal, ele considera que esse princípio é anulado pelo
facto de a transferência de riscos não ser voluntariamente aceite pelo recetor.
Assim se contrastam as perspetivas dos dois autores, deixam-no claro que, no fundo e na
prática, a sua atuação não é assim tão diferente.
5. Objeções e Críticas às perspetivas de Singer e Regan
Por polémica que seja, não é a reivindicação de direitos para os animais (e suas
implicações práticas) o que mais suscita o interesse de alguns críticos de Tom Regan, é
a grande dificuldade na atribuição de direitos aos animais, que reside nas condições
usualmente apontadas para a posse destes e que se resumem em três: “1. A
capacidade de reivindicação do direito por parte de quem pretende possui-lo; 2.
reciprocidade entre direitos e deveres para com os outros; 3. acordo intersubjetivo
prévio que dê o “direito de ter direitos” (contrato social). Dada a manifesta
impossibilidade de os animais reivindicarem os seus direitos, conceberem deveres para
com os humanos ou estabelecerem com estes um contrato” (Cristina Beckert, 2021,
p.2), é difícil assumir que se podem reconhecer direitos aos animais.
6. A Declaração Universal dos Direitos dos Animais
Preâmbulo:
Proclama-se o seguinte:
ARTIGO 1:
Todos os animais nascem iguais diante da vida, e têm o mesmo direito à existência.
ARTIGO 2:
a)Cada animal tem direito ao respeito.
b)O homem, enquanto espécie animal, não pode atribuir-se o direito de exterminar os
outros animais, ou explorá-los, violando esse direito. Ele tem o dever de colocar a sua
consciência a serviço dos outros animais.
ARTIGO 3:
a)Nenhum animal será submetido a maustratos e a atos cruéis.
b)Se a morte de um animal é necessária, deve ser instantânea, sem dor ou angústia.
ARTIGO 4:
a)Cada animal que pertence a uma espécie selvagem tem o direito de viver livre no seu
ambiente natural terrestre, aéreo e aquático, e tem o direito de reproduzir-se.
b)A privação da liberdade, ainda que para fins educativos, é contrária a este direito.
ARTIGO 5:
a)Cada animal pertencente a uma espécie, que vive habitualmente no ambiente do
homem, tem o direito de viver e crescer segundo o ritmo e as condições de vida e de liberdade
que são próprias de sua espécie.
b)Toda a modificação imposta pelo homem para fins mercantis é contrária a esse
direito.
ARTIGO 6:
a)Cada animal que o homem escolher para companheiro tem o direito a uma duração de
vida conforme sua longevidade natural
ARTIGO 7:
Cada animal que trabalha tem o direito a uma razoável limitação do tempo e
intensidade do trabalho, e a uma alimentação adequada e ao repouso.
ARTIGO 8:
a)A experimentação animal, que implica em sofrimento físico, é incompatível com os
direitos do animal, quer seja uma experiência médica, científica, comercial ou qualquer outra.
ARTIGO 9:
Nenhum animal deve ser criado para servir de alimentação, deve ser nutrido, alojado,
transportado e abatido,sem que para ele tenha ansiedade ou dor.
ARTIGO 10:
Nenhum animal deve ser usado para divertimento do homem. A exibição dos animais e
os espetáculos que utilizem animais são incompatíveis com a dignidade do animal.
ARTIGO 11:
O ato que leva à morte de um animal sem necessidade é um biocídio, ou seja, um crime
contra a vida.
ARTIGO 12:
a) Cada ato que leve à morte um grande número de animais selvagens é um genocídio,
ou seja, um delito contra a espécie.
ARTIGO 13:
a)O animal morto deve ser tratado com respeito.
b)As cenas de violência de que os animais são vítimas, devem ser proibidas no cinema e
na televisão, a menos que tenham como fim mostrar um atentado aos direitos dos animais.
ARTIGO 14:
a)As associações de proteção e de salvaguarda dos animais devem ser representadas a
nível de governo.
b)Os direitos dos animais devem ser defendidos por leis, como os direitos dos homens.
Salvaguarde-se que, também, em Portugal, entre 2009 e 2015 foram criadas leis para a
responsabilização e criminalização dos maus-tratos animais, sendo estas situações atualmente
puníveis por lei com pena de prisão entre 1 a 8 anos.
7. Conclusão
Finalmente trabalho concluído! Posso agora afirmar que o meu conhecimento sobre os
“Direitos dos Animais” mudou e melhorou.
Cresci a acreditar, sem questionar ou pensar, que os animais têm direitos. Devo isso á
educação que recebi, e que valorizo, em casa e na escola. De facto, sempre me ensinaram a
respeitar os animais e a não os maltratar.
Aprendi isso de forma trágica e dolorosa, mas não para mim. Quando eu tinha quatro
anos, o meu querido hamster respondeu inesperadamente mal as minhas “festinhas” e
brincadeiras por morder o meu dedo mendinho. Imediatamente a minha reação foi apertá-lo
para ele me soltar o dedo. Sem noção da força nem das consequências, acabei por matar o
meu amigo com dentes de aço, o que me causou muita tristeza, a ponto de nunca ter
esquecido o sucedido. Isso foi usado para me ensinar a necessidade de respeitar o espaço e o
bem-estar dos animais. Ainda hoje ao ouvir falar dos direitos dos animais penso logo no meu
hamster. Mas nunca tinha pensado que direitos são esses e que base há para os fundamentar.
Por isso, este trabalho ajudou-me a refletir melhor sobre esta questão e a ter uma opinião
mais esclarecida sobre o assunto.
Concordo, tal como Peter Singer, defendeu que os humanos têm deveres para com os
animais e que esses deveres não são apenas passivos. Não basta não fazer o mal aos animais.
Deve-se fazer o bem e denunciar e punir o mal. No entanto, também concordo com Tom
Regam que afirma que os animais possuem diretos que devem ser reconhecidos e respeitados,
principalmente porque acho muito lógico o argumento por analogia com os humanos.
Assim, é importante que toda a sociedade seja mais informada e formada sobre os
cuidados que os animais merecem e a Filosofia ao nos ajudar a pensar sobre este assunto
desempenha um papel fundamental na promoção da igualdade e do respeito.
Bibliografia
Baratela, Daiane. Peter Singer e Jeremy Bentham: Construindo O Direito dos Animais. Tese de
Mestrado em Direito Constitucional. http://revistasapereaude.org/index.php/edicoes/anos-
anteriores/ano-3-vol-1-12/ano-3-volume-2-setembro-2014/send/73-09-2014-ano-3-volume-
2/140-peter-singer-e-jeremy-bentham-construindo-o-direito-dos-animais
Beckert, Cristina. (2021). “Direitos dos animais”. Dicionário de Filosofia Moral e Política.
Instituto de Filosofia da Linguagem da Universidade Nova de Lisboa.
https://www.dicionariofmp-ifilnova.pt/wp-content/uploads/2019/07/Direitos-dos-Animais.pdf
Moraes, Marianna. “Senciência como Fundamento dos Direitos dos Animais”. Repositório
Universidade Portucalense.
Silva, Jorge Marques (2017). Aula sobre ética animal. Faculdade de Ciências da Universidade de
Lisboa. https://fenix.ciencias.ulisboa.pt/
Singer, Peter. Libertação animal. São Paulo: Editora WMF Martins Fontes, 2013.
Singer, Peter. (2013) Ética prática. Tradução Jeferson Luiz Camargo. 3ª Ed.
https://expresso.pt/dossies/dossiest_actualidade/dos_cantinho_smith/declaracao-universal-
dos-direitos-do-animal=f332244