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Agrupamento de Escolas Dr.

António Granjo

Filosofia

Será que a liberdade


de expressão na Arte
deve ser limitada?

Rodrigo Oliveira Santos. 11ºA. Nº16

2022/2023

1
Índice

Introdução ____________________________________________________________3

Formulação do Problema e consideração da sua importância: Será que a liberdade de


expressão da arte deve ter limites? ________________________________________4

O que é a arte? – Diversas Perspetivas ______________________________________

Liberdade de Expressão – Conceito e Valor ___________________________________

Liberdade de Expressão na Arte – Diferentes Perspetivas _______________________

Conclusão ______________________________________________________________

Bibliografia _____________________________________________________________

2
Introdução

No contexto da disciplina de Filosofia, foi proposta a elaboração de um trabalho que promovesse a

reflexão e a análise sobre uma questão atual e pertinente.

Sendo um apreciador de arte, achei interessante considerar se a liberdade de expressão na arte deve

ter limites ou não, e se a conclusão for afirmativa, que limites devem ser esses.

Com esse objetivo em mente, começarei por clarificar os conceitos envolvidos nesta reflexão,

nomeadamente a noção de arte e de liberdade de expressão. Analisarei de seguida porque ambas são

essenciais numa sociedade desenvolvida e civilizada, bem como o contexto legal que as regulamenta, em

especial em Portugal.

Assumirei como ponto de partida alguns casos reais que servirão para provocar a discussão e para

avaliar o ponto de vista da sociedade sobre este assunto. De maior relevância será ainda a consideração

das perspetivas de filósofos que têm analisado a questão. Os seus argumentos e objeções serão essenciais

para chegar à minha própria conclusão.

3
Formulação do Problema e Consideração da sua Importância: Será que a liberdade de
expressão da arte deve ter limites?

No dia 25 de março de 2023, o jornal Expresso foi um dos meios de

comunicação social que noticiou a renúncia da diretora de uma escola

pública da Flórida depois de um pai reclamar por alunos com 11 e 12 anos

serem expostos a pornografia numa aula sobre arte renascentista. Pelos

vistos, nessa aula apresentava-se a conhecida escultura “David” de

Michelangelo, o fresco “Criação de Adão” do mesmo artista, e o

“Nascimento de Vénus” de Botticelli. Ora, é inegável que todas essas obras

de arte se caracterizam pelo rigor da anatomia humana, com presença de

nus bastante evidentes, o que provocou a indignação de alguns pais.

Como a própria notícia destacava, “a nudez da estátua de "David" faz parte de um debate secular sobre

se a arte ultrapassar os limites e as regras da censura. Nos anos 1500, folhas de figueira de metal cobriam

os órgãos genitais de estátuas como David, quando a Igreja Católica Romana considerava a nudez

obscena.”

O nascimento de Vénus. 1483. Sandro Boticcelli. Galleria degli Uffizi

A Criação de Adão. 1511. Capela Sistina

4
Itália não demorou a responder à polémica. Como o jornal Expresso

também informou, a diretora do museu onde está a escultura de

Michelangelo, em Florença, referiu que pensar na estátua de David como

pornográfica “significa verdadeiramente não compreender o conteúdo da

Bíblia, não compreender a cultura ocidental”. Dario Nardella, presidente

da câmara de Florença, segundo o Expresso, “escreveu no Twitter que

confundir arte com pornografia é simplesmente ridículo (...). Arte é

civilização, e quem a ensina merece respeito”. Tanto a diretora do museu

como o autarca convidaram a direção da escola americana e toda a

comunidade escolar a visitar Itália, para presenciarem a pureza da

escultura. Ora, quem já visitou Itália sabe que o mais comum é encontrar quadros e estátuas, muitas delas

mesmo nas ruas, de nus. Assim sendo, será que aqueles pais nunca vão visitar com os filhos menores

aquilo que podem considerar como cidades cheias de pornografia? Mais importante ainda, são as

questões subjacentes a estes acontecimentos.

De facto, a arte renascentista está repleta de nus. Será que estudar isso pode ser considerado estudar

pornografia? Ou será que esses nus por serem apresentados em obras de arte são aceitáveis e dignos de

ser observados? Alguns filmes pornográficos também são considerados, por alguns setores, como obras

de arte. Será que isso significa que também devem ser estudados nas escolas? Será que o facto de um

objeto, de um quadro, de uma imagem, de um filme ser arte significa que pode retratar qual coisa, sem

qualquer limite? Será que há ou deve haver limites na liberdade de expressão da arte?

Nigel Warburton na sua obra “Liberdade de Expressão” relata outro caso que provoca a reflexão. “Em

1990, a exposição The Perfect Moment do fotógrafo Robert Mapplethorpe foi apresentada no Centro de

Arte Contemporânea em Cincinnati. A exposição incluía (...) Rosie (1976), uma fotografia de uma menina

de quatro anos sentado num banco de jardim, vestindo uma saia que deixava ver os seus genitais. O

diretor do museu, Dennis Barrie, foi acusado de obscenidade e uso impróprio de um menor numa

fotografia. (...) Dennis Barrie foi julgado e absolvido com base em que o trabalho mostrava grande

sensibilidade artística com o erótico.”

5
E neste caso, será que o facto de a fotografia aparentemente ter “grande sensibilidade artística”

significa que pode apresentar todo e qualquer tipo de imagem, incluído os genitais de uma menina? Ou

será que a acusação de que o artista foi alvo foi pura censura injustificada?

Veja-se outro exemplo. A sátira, a caricatura e o humor podem ser consideradas formas de arte, podem

elas ser apresentadas em diferentes suportes, podemos ter os típicos cartoons presentes nos jornais e

revistas e agora difundidos pelas redes sociais, os sketches de programas televisivos ou o humor corrosivo

de alguns programas de rádio. Essa capacidade de dissecar a realidade com a faca da sátira e a lente do

humor e de transformar o resultado num texto ou numa encenação que provoca a reflexão pode ser

considerada arte. Basta pensar-se que nas aulas de Língua Portuguesa aprendemos que já na cultura

clássica havia o dito Ridendo castigat mores. As obras satíricas de Gil Vicente, o equivalente aos programas

de televisão satíricos dos dias de hoje, são consideradas ainda hoje uma obra de arte de literatura a ponto

de serem estudadas no programa oficial de Língua Portuguesa. Mário Soares inclusive escreveu: “a sátira é

um dos meios de reforço e aperfeiçoamento das instituições e dos homens. (...) O riso é uma forma de

inteligência e o talento para o provocar é um grande dom só concedido a alguns seres”. No entanto, o

facto de tais cartoons, programas televisivos ou radiofónicos poderem ser expressões artísticas será que

lhes dá o direito de dizerem tudo ou representarem tudo o que desejarem?

Pense-se no caso do jornal francês satírico Charlie Hebdo. Por diversas vezes, a publicação de cartoons

sobre personalidades e valores muçulmanos originou fortes retaliações, desde processos em tribunal,

ataques bombistas, e mais recentemente, em 2015, até um massacre que vitimou várias pessoas,

incluindo cartoonistas do jornal. Independentemente da avaliação moral e ética que se possa fazer dessas

retaliações, será que se pode considerar que o jornal passou dos limites ao gozar com aquilo que para

muitos é sagrado? Ou será que a liberdade de expressão nessa forma de arte não deve ser delimitada?

Em Portugal, há programas satíricos muito conhecidos como “Isto é gozar com quem trabalha” da SIC

com o humorista Ricardo Araújo Pereira, ou a rubrica “Extremamente Desagradável” de Joana Marques,

na Rádio Renascença. Se o primeiro tem acima de tudo um teor político, o segundo aborda muitas vezes

temas e personalidades do dia-a-dia. No dia 19 de abril, Joana Marques ganhou o Prémio Activa - Mulher

Inspiradora nas Artes, e a esse propósito, Mafalda Anjos, diretora da revista Visão disse: “O papel do

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humor numa democracia é fundamental”, ao que acrescentou “Uma coisa é fazer um humor fofinho,

outra coisa é isto que a Joana faz (...), um humor implacável com as fraquezas, as tolices e as

superficialidades da sociedade em que vivemos. Ela é implacável, mas é implacável com imensa

inteligência, com imensa audácia, com imensa verdade e isso é fundamental”. No entanto, muitas têm

sido as pessoas que se consideraram ofendidas por esse humor inteligente, audaz, mas corrosivo,

originando por vezes polémicas mantidas depois pela troca de galhardetes nas redes sociais. Mais uma

vez, excluindo a análise moral à forma como se reage à crítica e à sátira, será que, quando os sentimentos

dos envolvidos são atingidos ou quando estes são prejudicados, se pode dizer que a arte foi longe demais?

Se sim, que limites devem ser colocados à liberdade de expressão da arte? Será que limitar a liberdade de

expressão na arte não limita também o seu valor e importância enquanto expressão de pensamento, fonte

de provocação de reflexão e veículo de promoção da mudança?

Na Constituição Portuguesa é consagrado, como se verá a seguir, o direito à liberdade de expressão.

Mas ainda antes do registo desse direito, há o direito à integridade moral, o direito “ao bom nome e

reputação, à imagem, à palavra”, O artigo 26º diz mesmo que “a lei estabelecerá garantias efetivas contra

a obtenção e utilização abusivas, ou contrárias à dignidade humana, de informações relativas às pessoas e

famílias. A lei garantirá a dignidade pessoal”.

Como conciliar esses direitos com o direito à liberdade de expressão, em especial na arte, numa

sociedade em que a produção artística se massificou e alargou?

Este é o problema em que se tentará pensar, para tentar analisar estas questões, é necessário em

primeiro lugar entender o que pode ser considerado arte e o que é a liberdade de expressão.

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O que é a arte? – Diversas Perspetivas

A conhecida Enciclopédia Britânica define arte como “object or experience consciously created through

an expression of skill or imagination”, isto é, tentado traduzir corretamente, um objeto ou uma

experiência criada conscientemente através de uma expressão de habilidade e imaginação.

Por sua vez, o dicionário de Língua Portuguesa da Porto Editora sugere, entre outras, as seguintes

definições para Arte: “expressão de um ideal estético através de uma atividade criativa, conjunto das

atividades humanas que visam essa expressão; criação de obras artísticas”.

No entanto, esclarecer o conceito de arte é muito mais complexo do que ir ver a definição numa

enciclopédia ou num dicionário. De facto, a maioria das pessoas já ouviu falar ou usa a expressão “arte”,

contudo é mais fácil dizer o termo do que clarificá-lo ou estabelecer quando ele pode ser aplicado, isto é,

quando algo é verdadeiramente uma obra de arte. As definições apresentadas relacionam arte com

habilidade, imaginação, criatividade. E realmente a arte mobiliza essas capacidades, mas pode ser muito

mais do que isso.

Ao longo dos tempos, foram vários os pensadores e filósofos que tentaram responder à pergunta “O

que é arte?”. No contexto das aulas de Filosofia do 11º ano foram estudadas várias das suas perspetivas,

que se a seguir se relembram e resumem.

Para Platão e Aristóteles, a característica essencial da arte era a mimese, palavra que significa imitação.

Para o primeiro, o artista imita as coisas do mundo sensível, as quais por sua vez, imitam as ideias ou

formas perfeitas e imutáveis do mundo inteligível. Já para o segundo a arte imita no sentido de

representar o mais fielmente possível a realidade. Deste modo, estes filósofos clássicos estão associados à

teoria da arte como representação, defendendo que arte é aquilo que representa alguma coisa.

Lev Tolstoi e Robin George Colingwood defendem a teoria da arte como expressão. Para Tolstoi, uma

obra de arte é aquilo que é produzido com a intenção de exprimir os sentimentos pessoais do artista, de

forma a provocar nos outros o mesmo tipo de sentimento. Assim, para o autor de grandes obras literários

como “Guerra e Paz” e “Anna Karenina”, a arte é uma expressão clara, consciente e intencional de

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sentimentos que devem procurar uma espécie de comunhão entre o artista e o espectador/observador da

arte. Collingwood também encara a arte como um meio de comunicação, mas defende que algo só é arte

se foi produzido por alguém com a intenção de exprimir as suas emoções individuais a fim de as

identificar, refinar, reconhecer e clarificar.

Outra perspetiva é da de Clive Bell, que defende a teoria da arte como forma, segundo Bell, todas as

obras de arte produzem uma emoção específica no espectador, a emoção estética. Isso acontece porque

as verdadeiras obras de arte têm características específicas na sua estrutura que são interessantes por si

mesmas, a forma significante. Portanto, arte é a criação de objetos com formas significantes capazes de

produzir emoção estética em que as aprecia, não sendo para isso necessário saber quem os criou, com

que emoção ou com que objetivo.

Ora, todas essas distintas perspetivas têm em comum a busca das condições suficientes e necessárias

para algo ser considerado uma obra de arte, ou seja, tentam dar uma definição explícita de arte,

procurando as tais condições necessárias e suficientes para algo ser uma obra de arte nas características

intrínsecas do mesmo, são teorias essencialistas. No entanto, outros pensadores procuraram as referidas

condições necessárias e suficientes para algo ser arte nas propriedades extrínsecas das obras de arte, nas

suas propriedades relacionais. Essas teorias são chamadas teorias não essencialistas.

Entre essas, nas aulas, considerou-se a teoria institucional da arte de George Dickie e a teoria histórica

de Jerrold Levinson. Segundo a teoria institucional de Dickie, algo é uma obra de arte se for um artefacto,

ao qual, pelas suas características, foi atribuído o estatuto de candidato à apreciação. Essa atribuição deve

ser feita por uma ou várias pessoas daquilo que ele chamou “mundo da arte”. De acordo com a teoria

histórica da arte de Levinson, um objeto pode ser considerado obra de arte, se o artista que o criou tem

sobre ele direitos de propriedade e se o criou com a “intenção séria de que este seja visto como uma obra

de arte, isto é, visto de qualquer modo como as obras de arte preexistentes são ou foram corretamente

vistas.”

Ora, todas estas teorias da arte tentam encontrar uma definição explicita de arte e para todas elas há

várias objeções e até contraexemplos, o que prova como é difícil realmente definir arte.

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No entanto, da análise das várias perspetivas se vê que a arte pode ter uma função comunicativa, um

valor expressivo, várias características formais peculiares, mas acima de tudo, se depreende, quer isso seja

determinante, quer não, para a definição de arte, que a arte tem uma forte componente social.

Geralmente a arte é feita, não só pelo desejo, necessidade e vontade do artista e para seu próprio

benefício, mas para ser admirada e apreciada.

Na realidade, a arte é multidimensional.

Ela apresenta uma dimensão psicológica, pois como produção humana, autêntica e original, pode ser o

reflexo do artista. Por exemplo, Jackson Pollock, pintor expressionista, afirmou: “Eu quis expressar os

meus sentimentos e não os ilustrar. A técnica é simplesmente um veículo, um meio para fazer uma

afirmação” (p.5)1.

1
In Dicionário del Arte Actual, Barcelona
10
Nessa perspetiva, a arte pode ser também um meio de libertar tensões acumuladas e conflitos ocultos,

tal como destacam as teorias da arte como forma de expressão. Também o pintor G. Roualt definiu a

pintura como: “Um meio de esquecer a vida, como um grito na noite ou um soluço contido, um sorriso

sufocado”.

A arte

apresenta também uma dimensão sociológica, pois como espelho da sociedade, ela pode traduzir de

certo modo a identidade cultural de um povo e de uma cultural. Por isso, fala-se de arte grega, ou arte

romana, ou arte africana. De facto, o vínculo entre arte e sociedade está sempre presente. A sociedade e a

cultura condicionam a criação artística (os aspetos formais, os meios técnicos, os cânones estéticos, as

conceções e finalidades atribuídas à arte), contribui para a formação da personalidade do artista e

constitui a matéria ou base da perceção á qual o artista reage, exprime e transfigura a arte. No entanto, há

épocas, escolas, artistas em que a arte expressa e revela uma acentuada preocupação político-social.

Através da arte, o artista pode expressar e comunicar os conflitos, as contradições, as carências ou as

conquistas do seu tempo, transformando assim a obra de arte num veículo de crítica e de denúncia ou de

exaltação ou propaganda ideológica. Um dos exemplos mais conhecidos disso é precisamente o quadro

Guernica de Pablo Picasso, onde são retratados os horrores da Guerra Civil espanhola. O mesmo Picasso

11
citado no livro “técnicas dos Grandes artistas”2 refletiu: “O que pensam que é um artista? Um imbecil feito

só de olhos, se é pintor; ou só de ouvidos, se é músico; ou de coração em forma de lira, se é poeta; ou

mesmo feito só de músculos, se se trata de um pugilista? Muito pelo contrário, ele é ao mesmo tempo um

ser político, sempre aberto a acontecimentos tristes, alegres, violentos, aos quais reage de todas as

maneiras”.

Além

disso, recorde-se como a arte foi um veículo de denúncia de hábitos que era necessário corrigir com o

intuito de se aperfeiçoar a sociedade, desde o tempo do já mencionado Gil Vicente, passando por

Camões, Eça de Queirós ou todos aqueles artistas de denunciaram o Estado Novo e lutaram pela

democracia em Portugal. Antero de Quental, no seu poema “A um poeta”, que também se estudou nas

aulas de Língua Portuguesa, fazia o apelo “Surge et ambula” (Levanta-te e anda), defendo o papel do

poeta como “soldado do futuro” que deveria fazer do “sonho puro” “espada de combate” para a

construção de um “mundo novo” longe da “sombra dos altares” e das “larvas tumulares”.

Por outro lado, a arte possui uma dimensão ontológica, na medida em que ela pode ajudar a dar

sentido à realidade, esclarecendo e enriquecendo a nossa experiência e contribuído para a revelação da

essência das coisas.

2
Técnicas dos Grandes Artistas, O Processo Criativo, Ed. Difusão Cultural

12
A esse propósito, o filósofo André Comte-Sponville, no seu “Apresentações da Filosofia”, escreveu: “A

arte é um facto do Homem. (...) A beleza faz parte das finalidades possíveis da arte; mas não basta para

defini-la. (...) Se só o Homem é artista, não é sobretudo por ser artesão (um macaco pode fabricar um

utensílio), nem esteta (quem sabe se a fêmea do pavão não sentirá também uma espécie de prazer

estético perante a cauda do macho?), nem sequer pela união destas duas faculdades, mesmo que seja o

caso em que isso acontece. Uma obra de arte não é somente o belo produto de uma atividade: nem todos

os belos produtos são arte. (...) Na arte, a Humanidade contempla-se sendo contemplativa, interroga-se

sendo interrogativa, reconhece-se sendo conhecedora. Esta reflexividade, encarnada, sensível, é a própria

arte. (...) O mundo é o verdadeiro espelho onde o Homem se procura. A arte é apenas um reflexo onde o

Homem se encontra” (pp.91-92).

Como se verifica, segundo este autor, os artistas dão forma sensível e visível a uma interrogatividade e

reflexividade que são a essência da própria humanidade e que se manifestam nas diferentes formas de

configuração da experiência humana, incluindo na arte. De acordo com o mesmo autor, “temos

necessidade dos artistas: não para embelezarem a verdade, o que seria apenas artifício ou decoração, mas

para manifestarem ou revelarem a sua beleza intrínseca, para nos ensinarem a vê-la, a usufruí-la e ao

usufruir dessa fruição – a amá-la.” (p.97)

Assim, a arte assume a forma de criação imaginativa que pode ser trazida para a nossa experiência

quotidiana como modo de a ordenar ou de a esclarecer.

Para Lewis Mumford, a arte é uma atividade criadora que “surge da necessidade que o Homem sente

de criar para si próprio, para além de qualquer exigência da mera sobrevivência animal, um mundo válido

e pleno de significado. “A arte (...) é apenas uma das maneiras pelas quais o Homem reordena, reflete

sobre e representa a sua experiência para si próprio, numa tentativa de parar a vida no seu fluxo e

movimentos perpétuos, de forma a que a experiência humana se possa destacar, no objeto estético, na

sua perfeição e realização finais.” (pp.20, 123)

Mas a Arte também é uma linguagem, enquanto é um objeto de prazer sensorial e afetivo,

apresentando ainda uma dimensão económica, já que, é um produto da atividade humana a que se tem

atribuído, não só valor estético, mas também valor comercial.

13
Assim, ao analisar a questão da liberdade de expressão na arte deve se considerar todos estes aspetos

relevantes do que é a arte, ainda que seja muito difícil encontrar uma definição absoluta para ela, também

porque ela está em constante mudança, e inovação.

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Liberdade de Expressão – Conceito e Valor

Na construção de uma sociedade justa, democrática e aberta, é essencial haver acesso a uma

boa educação para todos, interajuda, e espaço para, de própria iniciativa, desenvolvermos a

nossa consciência, a nossa cidadania e tomarmos de forma esclarecida autónoma, as nossas

próprias decisões. Para tudo isso ser possível, é imperativo que haja uma livre e generosa

partilha de informações e ideias e uma comunicação franca e aberta.

Por isso, “a liberdade de opinião e expressão – incluindo a liberdade de “receber e difundir,

sem consideração de fronteiras, informações e ideias por qualquer meio de expressão” (arto 19º

da Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948) – é um dos direitos civis e políticos

básicos, que se encontra formulado em todos os respetivos instrumentos de direitos humanos.

Tem as suas raízes na luta pelas liberdades pessoais nos séculos XVIII e XIX, quando foi incluído

nas Constituições dos EUA e Europeias. O filósofo britânico John Stuart Mill chamou à liberdade

de imprensa “uma das seguranças contra a corrupção e governos tiranos” (Mill, John Stuart.

1859. “On Liberty”). É também um direito constitutivo de um sistema democrático no qual todas

as pessoas, não só os cidadãos de um Estado, têm o direito humano de dizer o que pensam e de

criticar o governo. Em janeiro de 1941, o Presidente Roosevelt anunciou a liberdade de

expressão como uma das quatro liberdades na qual basear uma futura ordem mundial pós-

Segunda Guerra Mundial. O acesso e a liberdade de circulação de informação através das

fronteiras é um elemento crucial de uma sociedade aberta e pluralista.”3

No caso específico da União Europeia, a liberdade de expressão está consagrada no artigo 11

da Carta dos Direitos Fundamentais da UE e no 10º artigo da Convenção Europeia dos Direitos

do Homem, ambos determinando que “Qualquer pessoa tem direito à liberdade de expressão.

Este direito compreende a liberdade de opinião e a liberdade de receber e de transmitir

informações ou ideias, sem que possa haver ingerência de quaisquer poderes públicos e sem

consideração de fronteiras.”

3
Liberdade de expressão e Liberdade dos Meios de Informação. https://igc.fd.uc.pt/manual/pdfs/M.pdf
15
“Assim, a liberdade de expressão é um direito duplo, no sentido de liberdade de difundir, i.e.,

de expressar opiniões e ideias de todos os tipos, e a liberdade de procurar e de receber

informação e ideias, em qualquer forma – oralmente, escritas à mão ou impressas, sob a forma

de arte, ou através de outro meio de comunicação, incluindo as novas tecnologias. As fronteiras

não podem ser usadas para interferir com o direito4.”

No entanto, convém salvaguardar que o 10º artigo da CEDH acrescenta no seu segundo

ponto: “O exercício desta liberdades, porquanto implica deveres e responsabilidades, pode ser

submetido a certas formalidades, condições, restrições ou sanções, previstas pela lei, que

constituam providências necessárias, numa sociedade democrática, para a segurança nacional, a

integridade territorial ou a segurança pública, a defesa da ordem e a prevenção do crime, a

protecção da saúde ou da moral, a protecção da honra ou dos direitos de outrem, para impedir

a divulgação de informações confidenciais, ou para garantir a autoridade e a imparcialidade do

poder judicial.”5

Em Portugal, depois de séculos de absolutismo régio e de algumas décadas de regime

ditatorial na forma de Estado Novo em que a liberdade de expressão não era respeitada pelo

poder e pelos mais poderosos, agora a Constituição Portuguesa consagra esse direito. O

lexionário do Diário da República Eletrónico define essa liberdade como “um direito

fundamental de liberdade que consiste na faculdade de todos os cidadãos poderem exprimir e

divulgar livremente, sem impedimentos e discriminações, o seu pensamento, ou seja, as suas

ideias, convicções, pontos de vista, críticas ou valorações pela palavra, imagem, pelo som ou por

qualquer outro meio.”

Esse direito fundamental está consagrado no artigo 37 que diz: 1.“Todos têm o direito de

exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer

outro meio, bem como o direito de informar, de se informar e de ser informados, sem

4
https://www.researchgate.net/publication/
370450730_A_LIBERDADE_DA_ARTE_UMA_ANALISE_FILOSOFICA_E_HISTORICA
5
https://www.echr.coe.int/documents/convention_por.pdf
16
impedimentos nem discriminações. 2. O exercício destes direitos não pode ser impedido ou

limitado por qualquer tipo ou forma de censura.”

No entanto, a liberdade de expressão pode ser objeto de restrições, no caso de colisão com

outros direitos fundamentais e interesses públicos constitucionalmente protegidos (n.º 2 do

art.º 18.º da CRP).

Ora, o objetivo deste trabalho não é fazer uma abordagem legal ao exercício da liberdade de

expressão, por isso não se analisará, até por falta da devida formação e competência, os limites

legais deste direito.

No entanto, o exposto anteriormente serve para mostrar como este direito fundamental do

Homem é reconhecido pelos estados democráticos e como é consagrado inclusive nos seus

documentos oficiais mais importantes. Serve também para mostrar como, no âmbito legal, se

sentiu a necessidade de criar a hipótese de estabelecer alguns limites ao uso desta liberdade de

expressão, nomeadamente quando é necessário conciliar esse direitos com outros igualmente

fundamentais, como o direito à segurança, e à honra.

O que nos leva à verdadeira questão que é: sendo a arte um exercício de criatividade, mas

também um inevitável veículo de comunicação, será que no seu caso, pode haver liberdade de

expressão completa e total? Se não há, não será isso uma forma de censura?

No fundo, refletir nesta questão é analisar se a arte só tem um valor estético e cultural, ou se também

deve ter um valor moral, ético e até político. Isto é se o artista deve expressar tudo o que bem entende, se

é bom ou mau que ele faça isso e se é necessário que as leis regulamentem mais ou menos a produção

artística.

17
Liberdade de Expressão na Arte – Diferentes Perspetivas

Embora seja difícil estabelecer uma única e inquestionável definição de arte, e apesar de

haver, como já exposto, várias perspetivas sobre aquilo que constituiu uma obra de arte, pode-

se afirmar que a verdadeira arte, que se distingue do plágio e da contrafação, nasce do olhar

único do artista, de uma singular forma de pensar, da técnica aperfeiçoada, do visionismo, da

coragem de arriscar, da criatividade do artista, da liberdade de pensamento e imaginação de

quem sonha, perspetiva e concebe a arte.

Assim sendo, a liberdade de expressão é essencial no ato criativo. “A liberdade da arte é um

conceito que se refere ao grau de autonomia e independência que os artistas têm para criar e

divulgar as suas obras, sem sofrerem censura, repressão ou perseguição por parte de

autoridades políticas, religiosas ou morais. A liberdade da arte é um direito fundamental que

está relacionado com a liberdade de expressão, de pensamento e de consciência6.” (Vitor Silva).

Por isso, muitos argumentam que limitar a liberdade de expressão na arte é castrá-la e que

colocar qualquer travão moral na expressão artística é uma censura que anula a própria essência

da arte e a sua capacidade mais valiosa, nomeadamente, a de provocar, de inovar e a de

questionar. Nigel Warburton sobre esta questão da liberdade de expressão na arte diz mesmo que

“a abordagem mais libertária consiste em argumentar que toda a censura artística é errada”. No

entanto, também reconhece que tal posição “é no entanto mais fácil de afirmar como palavra de

ordem do que de justificar”.

Warburton defende que “A livre expressão é particularmente valiosa numa sociedade

democrática. Numa democracia os eleitores têm interesse em escutar e contestar uma grande

diversidade de opiniões e ter acesso a factos e interpretações, bem como a perspetivas

contrastantes, mesmo quando acreditam que as perspetivas expostas são política, moral ou

pessoalmente ofensivas” (Nigel Warburton, Liberdade de Expressão: Uma breve introdução)

6
https://www.researchgate.net/publication/
370450730_A_LIBERDADE_DA_ARTE_UMA_ANALISE_FILOSOFICA_E_HISTORICA
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Contudo, para ele, em certas situações, como a da já referida exibição artística de “imagens

sexualizadas de crianças”, é “razoável questionar os motivos de um artista que cria e exibe

semelhantes imagens; é também correta a preocupação com os efeitos prováveis de exibir essa

imagem”. Por exemplo, na situação referida, a exibição dessas imagens pode “estimular a

imaginação perversa de pedófilos” e pode “comunicar a ideia de que fixar um olhar sexual por

baixo da saia de uma criança de quatro anos é socialmente aceitável”. Nesse caso, o que será

mais importante? Defender a liberdade artística ou proteger as crianças?

Ora, esta reflexão alerta para uma realidade muito própria da arte, ela geralmente não fica

exclusivamente no domínio do criador, ou seja, não é vista, apreciada e absolvida apenas pelo

artista. A arte geralmente é exposta e partilhada, por isso temos galerias e museus cheios de

pinturas e esculturas, salas de espetáculos onde passam filmes e peças de teatro, plataformas

de streaming onde acedemos a séries e músicas, concertos multitudinários onde milhares

deliram com músicas. Quando isso acontece, as obras de arte passam da esfera privada e

exclusiva do seu criador, para o domínio dos outros, a esfera social. Enquanto só o artista a viu,

apreciou, pensou e sentiu, ela afetou apenas o afetou a ele. Mas a partir do momento que ela é

vista, ouvida, apreciada por outros, ela torna-se de certa forma parte da sociedade. E tudo o

que é vida social, organizada e estruturada, rege-se por normas e limites, direitos e deveres.

Assim sendo, não será espectável que a arte se submeta a considerações não apenas estéticas,

mas também morais e legais? Será que o papel essencial da arte, enquanto expressão do olhar

atento e inquisitivo do artista, enquanto despertador de consciências e provocador de reflexões

justifica que fique isento de todo o tipo de limites?

Como apresentado anteriormente, a arte tem uma forte dimensão expressiva, sociológica e

ontológica. Ela tem o poder de influenciar mentalidades, de divulgar novos conceitos e novas

visões, de dar sentido à realidade. No entanto, podendo ser uma arma tão poderosa, não

deverá o seu direito à liberdade ser acompanhada do dever de um uso responsável?

19
Ela deve continuar a denunciar, criticar, provocar. Contudo, será necessário fazer isso sem

considerar outras implicações morais?

Compare-se por exemplo com outra grande forma de conhecimento essencial na civilização

humana: a Ciência. É inegável o enorme valor que a Ciência e a sua aplicação na tecnologia têm

tido na vida e na sociedade. E para se “fazer” Ciência é necessário haver liberdade de

pensamento, liberdade de questionar, liberdade de experimentar, liberdade de expressar. Mas

significa isso que a Ciência fica isenta de considerações ético-morais? A Ciência sem um senso

moral correto deu origem a monstruosidades como as experiências feitas nos campos de

concentração e extermínio nazis. Se a Ciência tem responsabilidades éticas no seu processo de

construção, não deverá tê-las também a Arte?

Nigel Warburton afirma que “há algo de perturbador na perspetiva de que a expressão

artística e o mérito dessa imagem a devem tornar imune a outras considerações, como se as

preocupações artísticas se sobrepusessem sempre às morais”.

Em relação aos limites da liberdade, John Stuart Mill escreveu sobre um “princípio muito

simples, que se destina a reger em absoluto a interação da sociedade com o indivíduo no que

diz respeito à coação e controlo, quer os meios usados sejam a força física, na forma de

punições legais, quer a coerção moral da opinião pública. É o princípio de que o único fim para

o qual as pessoas têm justificação, individual e coletivamente, em interferir na liberdade de

ação de outro é a autoproteção. É o princípio de que o único fim em função do qual o poder

pode ser corretamente exercido sobre qualquer membro de uma comunidade civilizada, contra

a sua vontade, é o de prevenir dano a outros. O seu próprio bem, quer físico quer moral, não é

justificação suficiente. Uma pessoa não pode corretamente ser forçada a fazer ou deixar de

fazer algo porque será melhor para ela que o faça, porque a fará mais feliz, ou porque, na

opinião de outros, fazê-lo seria sábio, ou até correto. Estas são boas razões para a criticar, para

debater com ela, para a persuadir, ou para a exortar, mas não para a forçar, ou para lhe causar

mal caso ela aja de outro modo. Para justificar tal coisa, é necessário que se preveja que a

conduta de deseja demovê-la cause um mal a outra pessoa. A única parte da conduta de

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qualquer pessoa pela qual ela responde perante a sociedade é a que diz respeito aos outros. Na

parte da sua conduta que apenas diz respeito a si, a sua independência é, por direito, absoluta.

Sobre si, sobre o seu próprio corpo e a sua própria mente, o indivíduo é soberano.”

Desta forma, Stuart Mill estabelece o Princípio do dano, que aplicando na questão da

liberdade de expressão, estabelece que esta só poderá ser limitada se o exercício da mesma

causar dano ou prejudicar direta e inequivocamente outra pessoa, considerando-se que a

ofensa, embora moralmente reprovável, não seja causa de dano direto e inequívoco, uma vez

que o que é ofensa para uns pode não ser ofensa para outros e há pessoas que se ofendem

com muito pouco.

Aplicando isto às mais variadas expressões artísticas, a ideia será exercer sempre a liberdade

de expressão, mas fazê-lo com responsabilidade, levando em consideração os efeitos que a

exposição, apresentação dela pode ter. Ou seja, é necessário conciliar o exercício do direito à

liberdade de expressão, com o respeito pelos direitos do outro. E aí reside a verdadeira

dificuldade. Talvez também a maior objeção a esta perspetiva. No plano teórico, ela parece ser

bastante razoável e recomendável, mas na prática pode ser muito difícil aplicar o princípio do

dano, primeiro porque este pode assumir diferentes conceitos para diferentes pessoas. O que é

então um dano “direto e inequívoco”?

Por exemplo, voltando ao caso apresentado inicialmente da sátira, do cartoon e da ironia.

Estas expressões artísticas têm reconhecido valor, especialmente como alerta para aquilo que

parece não funcionar tão bem. E esse esforço de alerta e correção pode infligir alguma dor,

porque nem sempre é fácil reconhecermos em nós e na sociedade a que pertencemos o ridículo

e a necessidade de mudança. Mas se a sátira, o cartoon e a ironia resulta em perdas reais e

tangíveis para o visado, sem que os benefícios superem as perdas, de que valerá essa arte? O

valor estético deverá superar o valor moral?

Por exemplo, se a sátira denuncia um ato ou um agente de corrupção, ou alerta para o

prejudicial mau funcionamento de uma instituição e se resulta num esforço de correção e

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aperfeiçoamento, o mal-estar ou qualquer dor que essa exposição tenha causado talvez seja

compensado pelo benefício de se ter melhorado algo danosa na sociedade.

Por outro lado, se a sátira nasce apenas do desejo de criticar gratuitamente e prejudica

económica, emocional e social alguém, será que o valor de arte compensa o dano causado?

Por outro lado, se este tipo de raciocínio geral parece ser fácil, é muito difícil aplicá-lo em

cada caso específico, uma vez que o exercício da liberdade de expressão tem consequências que

nem sempre se conseguem prever, e condicionar a exposição e apreciação da arte à avaliação

das consequências limitariam mais do que o desejado a criação artística.

Assim, embora possa parecer recomendável incentivar a conciliação do direito de expressão

com os restantes direitos humanos, na prática é muito complicado conseguir avaliar que limites

estabelecer na liberdade de expressão artística.

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Conclusão

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Bibliografia

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