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Com este ensaio procuro encontrar resposta ao problema “será que os animais não

humanos são dignos de consideração moral?”.


A posição defendida é que os animais não humanos são, de facto, dignos de consideração
moral e que “Se o Homem é um animal, e se torturar o Homem é ilegítimo, então torturar
animais na prática da experimentação é ilegítimo.” Os humanos têm a obrigação de tratar
com consideração e dignidade todos os sujeitos de uma vida.
Para contextualizar, a experimentação animal desde há muito tempo é considerada um
tabu pela sociedade, já que causa ideias e opiniões tão distintas. É sempre levantada a
pergunta se será que existem outras alternativas que possam substituir a experimentação e
mesmo assim, obter resultados confiáveis e suficientemente precisos. A resposta é sim,
existem outras alternativas, mas devido ao facto de serem tão dispendiosas muitas delas
são postas de parte pelos laboratórios, para que estes consigam obter um maior lucro ao
invés de procurar essas opções moralmente mais corretas.
Os animais têm sido cada vez mais utilizados para os mais diversos fins, tais como fonte de
alimentação, testes de vacinas e produtos cosméticos, para experimentação de hipóteses
em diversos campos de investigação científica, e até mesmo por pura curiosidade humana e
pelo seu gosto pelo espetáculo.Porém,o limiar ético é ultrapassado quando os animais são
submetidos ao sofrimento para o nosso benefício. Ao provocar sofrimento num ser vivo por
caprichos da sociedade estamos diante uma ação fútil e egoísta já que, não olhamos à dor
do animal, mas sim apenas para os nossos desejos superficiais.
Com o crescimento da prática da experimentação animal, desenvolveu- se na humanidade
o dito “especismo”. Isto é, na sequência das diferenças entre o ser humano (por este
usufruir capacidades mais específicas), e as outras distintas espécies, foi desencadeada uma
ideia de que a humanidade é uma espécie superior. Uma atitude em que se parte do
princípio de que somos animais superiores, e que os restantes animais nada mais são que
objetos o’pu coisas que estão ao serviço dos nossos interesses.

Devido ao surgimento do especismo, foi desenvolvida a perspetiva tradicional, defendida


por Aristóteles, S. Tomás de Aquino e Kant. De acordo com Kant “os animais não têm
consciência de si e existem apenas como meio para um fim, esse fim é o Homem”. Esta
perspetiva sustenta a ideia de que apenas os seres humanos têm direitos morais e de que
nós apenas temos obrigações indiretas para com os animais. Querendo isto dizer que, se os
animais não humanos têm certas parecenças com os humanos, não os devemos tratar com
crueldade pois isso poderia fazer com que nós, os humanos, 0fosssemos tratados de igual
forma. Apenas os devemos tratar de forma cruel quando isso nos beneficiar, e não por
mera diversão.
Com todas as diferentes opiniões que esta teoria causou e com toda a controvérsia
originada, foram criadas inúmeras novas perspetivas para refutar a anterior, com o intuito
de mostrar que a experimentação animal era e é uma prática incorreta.
Primeiramente, foi criada a teoria de Charles Darwin, pois segundo este, os humanos
partilham a sua ascendência com os primatas e são também resultado da seleção natural,
mecanismo que produz a evolução das espécies não tendo em vista qualquer finalidade.
Desta maneira, é falso concordar que os animais existam para nosso benefício.
De seguida tem-se o argumento utilitarista, fundamentado por Jeremy Bentham e Peter
Singer, e a teoria dos direitos, argumentada por Tom Regan.
Para defender a sua teoria Bentham compara os animais com crianças de tenra idade ou
pessoas incapacitadas. Ele defende que se os animais não têm importância moral porque
não possuem a capacidade de usar uma linguagem ou de pensar, então as crianças de tenra
idade ou as pessoas com perturbações psicológicas profundas também não têm essa
importância. O envelhecimento, a capacidade de sentir, é usada como o critério que
permite integrar humanos e animais numa mesma comunidade moral, não atribuindo
maior peso aos nossos interesses. Para Singer, se os animais dotados de sistema nervoso e
de cérebro são, tal como o homem, capazes de experimentar sofrimento, ora, o sofrimento
é igualmente desagradável quer se seja humano ou animal. Com isto Singer afirma que as
nossas dores não contam mais do que as dos outros animais, por maiores que sejam as
nossas capacidades intelectuais e morais.
Apesar de tudo, Singer não considera que matar um rato é tão grave como matar um ser
humano, que não devemos continuar a alimentar-nos de animais e que não podemos
utilizar os animais nas experiências médicas, isto porque isso poderia ter como
consequência um aumento do sofrimento humano. A tese deste centra-se no problema que
é distinguir o mal de fazer sofrer e o mal de matar. Assim, se matarmos sem dor um animal
e abrirmos espaço para que outro passe a viver, não reduziremos a quantidade global de
bem-estar no mundo. Interessa, sobretudo, assegurar uma vida decente aos animais
enquanto estão vivos e não os fazer sofrer na hora da morte, principalmente quando se
trata de experimentação animal.
Passando para a perspetiva dos direitos, Regan defende que para além de interesses, os
animais têm direitos e que nós temos o dever moral de tratar com respeito todos os
sujeitos de uma vida. Sendo que tratar alguém com respeito consiste em não o tratar como
meio para um fim, ou seja, com um valor específico. Os animais não-humanos têm direitos
seja qual for o valor que lhes atribuamos, por isso devem ser respeitados.
Esta última teoria pode originar várias objeções. Como por exemplo, se algumas pessoas de
outras culturas só sobrevivem usando alimentos de origem alimentar na sua dieta e no seu
vestuário, elas iriam deixar-se morrer de fome e frio precisamente porque, nunca se pode
matar um animal sujeito de uma vida sejam quais for os benefícios. Seria támbém errado
contribuir para organizações de combate à pobreza, uma vez que certamente elas
distribuem produtos de origem animal. As organizações de defesa dos animais teriam de
ser condenadas pois muitas vezes alimentam os animais abandonados com carne e
produtos de origem animal.
Em última análise eu defendo que a prática da experimentação animal é uma prática
moralmente incorreta, pois apesar desta poder trazer vários benefícios e grandes
descobertas para a nossa raça, esta irá causar danos ainda maiores para o ser vivo em
questão. Considero que é de extrema importância evoluir no sentido de minimizar o uso
desta técnica, para que um dia esta possa ser totalmente inexistente, sendo obtido o bem-
estar animal e assim evitar o seu sofrimento, já que não o fazem voluntariamente. Em
alternativa apoio a adoção de medidas tecnologicamente avançadas, que apesar de a nível
económico serem dispendiosas, quando ponderamos com os resultados rigorosos
associados à moralidade apercebemo-nos que apenas existe uma opção viável, que é
apostar no futuro.
Com este ensaio, procurei responder à questão colocada no início e realizei-me que
defendo a perspetiva utilitarista, onde o mais importante é promover o bem estar tanto
dos animais como dos humanos, pois é igualmente importante. Os animais têm direitos aos
quais não podemos desrespeitar ou desvalorizar, pois assim como nós, eles são seres vivos
e têm direito à vida com dignidade.

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