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Será que os animais não humanos são dignos de consideração

moral?
Neste ensaio filosófico, vamos discutir o problema de os animais não
humanos serem ou não dignos de consideração moral.
Todos os anos têm sido utilizados milhões de animais para os mais
diversos fins: fontes de alimentação; testes de vacinas e produtos
cosméticos; para experimentação de hipóteses em diversos campos da
investigação científica; para satisfazerem a curiosidade humana e para
muitos outros fins, como o simples entretenimento. O modo como são
utilizados envolve frequentemente não só a sua morte, mas também um
sofrimento prolongado e intenso.
Há uns anos atrás, todas as empresas de cosméticos envenenavam
animais com batom, champôs, sprays para cabelos ou outros produtos de
“beleza”. Os produtores de carros batiam nas cabeças dos macacos com
martelos hidráulicos para simular acidentes. Os técnicos de laboratórios
matavam um coelho de cada vez que faziam o teste de gravidez de uma
mulher. As tabaqueiras obrigavam cães a inalar quantidades enormes de
fumo de tabaco para testar a sua toxicidade.
A exploração de animais não humanos para o nosso benefício parece tão
velha como a própria humanidade, mas, no último século, atingiu níveis
nunca antes vistos, tal como referimos os exemplos anteriores. Nesta
indústria, um animal morre a cada 3 segundos, num laboratório europeu;
a cada 2 segundos, num laboratório japonês; a cada segundo, num
laboratório norte-americano. Só no Reino Unido, quase 3 milhões de
animais são mortos anualmente em laboratórios. Em Portugal, no ano de
2017, mais de 40 mil animais foram utilizados para experiências em
laboratórios. O balanço deste uso não pode ser motivo de orgulho.
Na sequência das diferenças entre o ser humano, por este usufruir de
aptidões específicas, desenvolveu-se na humanidade uma ideia de espécie
superior, o Especismo, uma atitude que consiste em, partindo do princípio
de que somos animais superiores, julgamos que os outros animais nada
mais são do que objetos ou coisas que estão ao serviço dos nossos
interesses, sofram o que sofrerem com isso.
Recentemente, os filósofos começaram a dar mais importância ao
problema de saber como devemos tratar os animais não humanos. Alguns
apresentaram argumentos poderosos contra a perspetiva de que os
animais não humanos não têm qualquer importância ou estatuto moral.
Este argumento é defendido por filósofos como Aristóteles, S. Tomás de
Aquino e Kant, levando este último afirmar que “Os animais não têm
consciência de si e existem apenas como meio para um fim. Esse fim é o
homem.”
Na perspetiva tradicional é sustentada a ideia de que só os seres humanos
têm direitos morais e de que nós apenas temos obrigações indiretas para
com os animais. Querendo isto dizer que, se os animais não humanos têm
certas semelhanças com os humanos, não os devemos tratar com
crueldade pois isso poderia fazer com que nós também fossemos tratados
de igual forma. Apenas os devemos tratar de forma cruel, quando isso nos
pode trazer benefícios (aquisição de conhecimentos), e não por diversão.
Esta perspetiva foi refutada com a teoria de Charles Darwin pois, segundo
ele, os humanos partilham a sua ascendência com os primatas e são
também resultado da seleção natural, mecanismo que produz a evolução
das espécies não tendo em vista qualquer finalidade. Desta forma, é falso
dizer que os animais não-humanos existam para nosso benefício. Além
disso, mesmo que um ser seja criado especificamente para um
determinado fim, não quer dizer que esse fim seja correto.
Por oposição à perspetiva tradicional, existe a perspetiva utilitarista,
justificada por Bentham e Singer, e a perspetiva dos direitos, argumentada
por Tom Regan. Em ambas, a perspetiva que é defendida é que os animais
têm direitos e que o especismo é um erro. Para Bentham, se os animais
não têm importância moral porque não possuem a capacidade de usar
uma linguagem ou de pensar, então as crianças de tenra idade ou as
pessoas com deficiências mentais profundas também não têm essa
importância. Para Singer, se os animais dotados de sistema nervoso e de
cérebro são, tal como o homem, capazes de experimentar sofrimento,
ora, o sofrimento é igualmente desagradável quer se seja humano ou
animal. E, um ser é objeto de consideração moral se tiver interesses e tem
interesses porque pode sofrer. Porém, Singer não considera que matar um
rato é tão grave como matar um ser humano, que não devemos continuar
a alimentar-nos de animais e que não podemos utilizar os animais nas
experiências médicas, isto porque isso poderia ter como consequência um
aumento do sofrimento humano. A tese deste centra-se, sobretudo, em
assegurar uma vida decente aos animais enquanto estão vivos e não os
fazer sofrer na hora da morte.
Na perspetiva dos direitos, Regan defende que para além de interesses,
os animais têm direitos e que nós temos o dever moral de tratar com
respeito todos os sujeitos de uma vida. Sendo que tratar alguém com
respeito consiste em não o tratar como meio para um fim, ou seja, tem
valor intrínseco (vale por si só, e não depende dos benefícios que dele
possamos obter) e não instrumental. Os animais não humanos têm
direitos seja qual for o valor que lhes atribuamos, por isso devem ser
respeitados. E, os animais que têm direito a ser respeitados em virtude de
possuírem um valor intrínseco, são seres conscientes de si mesmos,
capazes de experimentar prazer e dor, de ter crenças e desejos, de realizar
ações intencionais, de ter um sentido de futuro.
As organizações de defesa dos animais teriam de ser condenadas pois
muitas vezes alimentam os animais abandonados com carne e produtos
de origem animal. Os animais não poderiam ser utilizados em
investigações médicas, mesmo que isso pudesse trazer grandes benefícios
que não poderiam ser alcançados de outra forma.
O problema tratado neste ensaio filosófico foi a questão de os animais não
humanos serem ou não dignos de consideração moral. Nós consideramos
que eles são dignos de consideração moral e defendemos a perspetiva
utilitarista. Nesta perspetiva o mais importante é promover o bem-estar
tanto aos animais como aos humanos, que é igualmente importante.

Érica Esteves n3
Tatiana Azevedo n18
https://www.publico.pt/2016/09/20/p3/noticia/experimentacao-animal-
crueldade-ou-mal-necessario-1833306
https://pt.wikipedia.org/wiki/Testes_com_animais
https://animal.org.pt/experimentacao-animal/
https://www.rtp.pt/noticias/mundo/experiencias-em-laboratorio-
portugal-usou-mais-de-40-mil-animais-num-ano_n1203450
https://rolandoa.blogs.sapo.pt/19928.html

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