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Será ou não legítima a experimentação animal?

Mara dos Reis Sochas

Escola Secundária Romeu Correia

11º A1 de Filosofia

Este ensaio filosófico discute o problema da legitimidade da experimentação animal. A


posição defendida é a de que os animais não humanos são dignos de consideração
moral e não merecem sofrer desnecessariamente para fins experimentais do ser
humano.

A experimentação animal é a utilização dos animais ( não humanos ), em experiências


científicas com objetivo de desenvolver a ciência, mas de cariz invasivo. Este é um
tema extremamente controverso. Desde há muito tempo que os animais são usados
para fins científicos, pois os seres humanos sempre tiveram a ideia de que os animais
são seres inferiores e que por isso é aceitável utilizá-los para experimentações. Parte-
se do princípio de que estas experiências são necessárias, e que sem elas não existiria
desenvolvimento científico. Apesar da experimentação animal trazer grandes
conquistas a nível da ciência também tem impactos negativos, essencialmente para as
suas cobaias. Tal como os seres humanos, os animais também sentem dor, portanto,
defendo que é imoral infligir dor aos animais em benefício dos seres humanos. Existem
diversas razões que defendem esta tese. Primeiramente, estas experiências científicas
causam aos animais sofrimento, dor e até morte afim de se avaliar a segurança e a
eficácia de certos produtos para consumo dos seres humanos. Em segundo lugar,
grande parte destes produtos que são testados em animais nunca chegam a ser
aprovados para consumo público o que causa dor desnecessária a milhares de animais.
Sendo assim, qual é a necessidade de testar produtos que nunca vão ser postos no
mercado, tornando estas experiências injustificáveis? Em terceiro lugar, apesar de o
genoma dos animais utilizados em laboratório apresentar semelhanças com o genoma
humano, a reação de uma droga/medicamento no corpo de um animal é diferente da
reação num ser humano. Não se justifica, então, a utilização de animais para
experiências em vez de seres humanos, já que com estas não se irão obter o mesmo
resultado.
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Um dos primeiros filósofos a pronunciar-se quanto á defesa dos animais foi Jeremy
Bentham, defendendo que tanto os animais como os seres humanos manifestam a
capacidade de sentir dor. Se compararmos um recém-nascido com um coelho, o
segundo terá maior sentido de consciência, mas, no entanto, ninguém seria capaz de
pôr em causa os direitos do recém-nascido enquanto pessoa. Para Bentham, qualquer
ser capaz de sentir é igual e deve-se procurar garantir o seu bem-estar. Com este
filósofo tenho capacidade de defender a minha tese, pois se todos os seres que
sentem são iguais não é moral infligir dor nos animais sem que se inflija dor nos seres
humanos também.

Outro filósofo com o mesmo tipo de argumentação é Peter Singer, que defende que o
princípio de igualdade deve ser aplicado tanto aos seres humanos como aos animais,
na medida em que uma ação é ética, se e só se, se considerar os interesses daquele
que é afetado. Quanto á experimentação animal, Singer não exclui a possibilidade de
esta ser legítima, apenas se dela resultar o máximo bem-estar para a maioria dos
animais.

Tom Regan, movido pela ética kantiana, inspirou-se na ideia de “valor de si”
defendendo que a partir do momento que são portadores de vida todos os animais
( sujeitos-de-uma-vida ), humanos e não humanos, têm valores iguais. Regan define
um sujeito-de-uma-vida como um ser consciente do mundo e da sua própria vida. Para
qualquer sujeito-de-uma-vida existem, assim sendo, um conjunto de direitos morais
que devem ser respeitados, sendo que os seres humanos assumem uma
responsabilidade moral acrescida em relação aos mais vulneráveis e indefesos. Para
Regan, a experimentação animal é algo inconcebível, pois apesar de apresentar
diversos benefícios científicos aos seres humanos, esta não justifica a violação dos
direitos dos animais. Segundo este filósofo e de acordo com a minha tese, se todos
somos iguais e temos os mesmos direitos, não é moral fazer experiências em animais
quando não as fazemos em seres humanos. É importante realçar que dizer que os
animais devem ser tratados de maneira mais semelhante ao modo como tratamos os
humanos não é o mesmo que dizer que eles devem ser tratados exatamente como os
humanos. Não precisamos de considerar a hipótese de dar aos animais vários direitos
como o direito ao voto ou o direito de liberdade de expressão pois a maior parte dos

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animais não tem as capacidades necessárias para exercer estes direitos. Mas, no
entanto, estes animais têm direitos básicos que devem ser respeitados.

Penso que estes argumentos são suficientes para defender a minha tese de que é
imoral infligir dor no animais em benefício dos seres humanos. Mas apesar destas
razões, existem pessoas que discordam e argumentam a favor da utilização dos
animais na experimentação. A principal e mais forte objeção á minha tese é a de que
sem a realização de experiências em animais, a medicina moderna simplesmente não
existiria. Apesar de concordar que alcançámos muitas conquistas no mundo da ciência
devido a estas experiências, não deixo de acreditar que sendo seres que sentem, os
animais não devem sofrer, pois tal como os seres humanos, estes também sentem dor.
Outra forte objeção é a de que dependemos das experiências em animais, pois
necessitamos de garantir a segurança dos produtos testados. Assim, avaliamos a
segurança desses produtos antes de estes serem utilizados o que faz com que o perigo
na saúde humana seja reduzido. Mas partindo do princípio de que os animais têm
direitos básicos, é imoral proporcionar dor aos mesmos. Colocamos o bem-estar dos
animais em causa só para que o ser humano beneficie de uma melhor qualidade de
vida. Os animais são alguém e não algo que possamos torturar em prol do nosso
próprio bem-estar.

Hoje em dia, muitas empresas já deixaram de utilizar animais para experimentarem os


seus produtos enquanto outras tentam proporcionar o máximo de bem-estar às suas
cobaias. Um dos processos mais utilizados para evitar a utilização de animais é a
cultura de células e tecidos, utilizada principalmente em pesquisa básica aplicada, para
se saber se um determinado medicamento recém-descoberto é tóxico para as células
do organismo humano. Mas apesar de existirem vários processos que não são
necessários animais para o seu procedimento, ainda existem empresas que continuam
a testar os seus produtos em animais, que levam estes ao extremo do sofrimento.

Defendo que nenhum animal, seja ele de que espécie for, deveria ser submetido a
experiências. Os seres humanos realizam dolorosas experiências em animais, achando
que é moral, mas quando aplicada a mesma situação a um ser humano já é eticamente
reprovável. Na minha opinião, é impossível proporcionar o máximo de bem-estar para

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os animais que são submetidos a estas experiências sendo que estas
drogas/medicamentos têm diversos efeitos a nível físico e psicológico.

Webgrafia consultada:

LaFollette, Hugh. 2015 «Direitos dos animais e erros dos humanos». Círtica,

https://criticanarede.com/hlafollettedireitosdosanimaiseerrosdoshumanos.html

Wikipédia. 2020 «Direitos dos animais». Wikipédia,

https://pt.wikipedia.org/wiki/Direitos_dos_animais

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