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Cuidados de

Saúde e
Prolongamento
da Vida
Um ensaio filosófico de Luís Lamy, nº13 do 11ºCT2
Cuidados de Saúde e Prolongamento
da Vida
​O prolongamento da vida de um paciente com uma doença
terminal é sempre um assunto bastante delicado para ser discutido. No
entanto, deve ser mencionada a força dos avanços tecnológicos
associados a protocolos na medicina que têm levado os profissionais de
saúde a terem como objetivo o alcance do prolongamento da vida dos
seus pacientes. Apesar do êxito de tais métodos, para pacientes sem
possibilidade de cura das suas doenças, os médicos apenas
prolongaram o processo de morte, causando-lhes sofrimento. ​Neste
sentido, por um lado, a renúncia do tratamento passa a ser visualizada
como uma forma de suicídio e, por outro, a sua interrupção pela equipe
médica como eutanásia ativa. Assim, a sociedade associa estas
qualidades de vida à cura, em vez do cuidado prestado aos pacientes.
Pretende-se neste ensaio filosófico mostrar se é devidamente correto,
numa perspetiva ética, que os representantes/acompanhantes de
pacientes cognitivamente incapazes de terem autonomia nas suas
decisões, possam tomar decisões por estes mesmos em relação a
tratamentos futuros, mantendo a dignidade do humano.

Embora seja difícil encontrar uma resposta geral para este


problema, e na dificuldade de precisão no encontro da melhor forma de
curar um doente, é devidamente correto que os seus acompanhantes
possam tomar as decisões por estes uma vez que se encontram em
estado de insanidade, demência, devaneio, entre outros. A melhor
forma de encontrar essa cura, ou de determinar tratamentos futuros, é
basear as escolhas em função dos interesses do paciente. Por mais
difícil que seja tal tarefa, o modelo de assistência atual ainda distingue
que decisões devem ser tomadas pelos pacientes, e quais devem ser
tomadas pelos seus representantes.

Dito isto, é possível dizer que o direito à morte transforma-se num


processo instrumentalizado para quem cuida e para quem é cuidado,
podendo ser um melhor caminho para a “cura” de um paciente. No
entanto, é permitido dizer que é possível fazer observações em relação
às intervenções médicas na vida do paciente nas quais nem todo o
cuidado é respeitoso, ou seja, em alguns casos, a “cura” gera apenas
um prolongamento indesejado da vida do doente. Para isso, é
necessário entender que para o respeito à autonomia do paciente,
mesmo que o tratamento signifique a renúncia ou até a interrupção do
mesmo, a noção dessa escolha torna-se num elemento fundamental
para a percepção e compreensão do debate bioético entre o cuidado e
respeito.

Para o debate bioético entre o cuidado e o respeito, o Relatório


Belmont, publicado em 1978, aponta a existência de duas condições
para o princípio da beneficência: o primeiro é não causar dano e o
segundo é maximizar os possíveis benefícios e minimizar obstáculos.
Contudo, a obrigação de beneficência requer julgamentos, estando, em
alguns casos, o doente sujeito a outros riscos no decorrer deste. O
problema destes princípios é como justificar o uso de certos protocolos
e, consequentemente, descartar outros. Interromper um tratamento
poderia ser moralmente justificado quando este carregasse mais
prejuízos do que benefícios, sem que isso significasse, por exemplo,
qualquer forma de homicídio.

Seguindo o princípio da não-maleficência, os profissionais de


saúde têm o dever de não causar danos ao paciente, intencionalmente.
Este princípio ganha a sua importância porque, maioritariamente, a
capacidade de separação dos riscos de dano do procedimente que está
clinicamente indicado é praticamente nula. ​Entretanto, como outros
autores ressaltam, os critérios para sedação paliativa não são
totalmente definidos pela literatura demonstrando, por um lado, as
antinomias sobre o assunto e, por outro, a falta de esclarecimentos
éticos sobre possíveis efeitos no encurtamento da vida e no processo
da tomada de decisão. Geralmente, numa visão tradicional, opta-se por
não interromper o tratamento que fora já iniciado, acreditando que seria
moralmente errado pará-lo naquelas circunstâncias, mesmo que isso
seja fútil do ponto de vista clínico. O tratamento cria a falsa espetativa
de que gerará um resultado positivo.

As diretrizes antecipadas, como o nome indica, são oportunidades


para os doentes, quando cognitivamente capazes, terem uma diretriz
em relação à sua saúde, na qual podem tomar decisões prévias para
tratamentos futuros. Mas, como indicado antes, os pacientes capazes
cognitivamente conseguem decidir e determinar os seus padrões de
assistência através das suas escolhas. E os pacientes cognitivamente
incapazes? É extremamente difícil determinar os seus padrões quando
estes nem capacidade para comunicar têm. Para isso, essa dificuldade
pode ser resolvida, segundo alguns autores, com a elaboração de uma
declaração na qual os pacientes manifestam as suas vontades
antecipadas prevendo, dessa maneira, possíveis protocolos, assinados
pelos seus representantes, quando o seu paciente não tem qualquer
capacidade de demonstração de interesses e comunicação.

Em suma, os acompanhantes dos doentes devem estar sempre


em contacto com os novos protocolos existentes na medicina através
dos seus avanços, para poderem, a qualquer altura, ter a oportunidade
de ajudarem os seus familiares doentes, cognitivamente capazes ou
não, no encontro do melhor tratamento para as suas doenças.

Luís Lamy, nº13, 11ºCT2


Bibliografia:

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