1) O documento é um resumo de vários capítulos do livro Memorial do Convento. Conta a história do rei D. João V e da rainha D. Maria que ainda não tinham tido filhos. 2) Introduz os personagens Baltasar e Blimunda e descreve seu encontro. 3) Menciona que Baltasar aceita ajudar o padre Bartolomeu Lourenço a construir uma máquina voadora chamada passarola.
1) O documento é um resumo de vários capítulos do livro Memorial do Convento. Conta a história do rei D. João V e da rainha D. Maria que ainda não tinham tido filhos. 2) Introduz os personagens Baltasar e Blimunda e descreve seu encontro. 3) Menciona que Baltasar aceita ajudar o padre Bartolomeu Lourenço a construir uma máquina voadora chamada passarola.
1) O documento é um resumo de vários capítulos do livro Memorial do Convento. Conta a história do rei D. João V e da rainha D. Maria que ainda não tinham tido filhos. 2) Introduz os personagens Baltasar e Blimunda e descreve seu encontro. 3) Menciona que Baltasar aceita ajudar o padre Bartolomeu Lourenço a construir uma máquina voadora chamada passarola.
Memorial do Convento constitui um montanha de penas, enquanto os
memorial da época, mas pode ser percevejos começam a sair das fendas, dos considerado como um romance do tipo refegos, e se deixam cair do alto dossel, social, na medida em que é feita a análise assim tornando mais rápida a viagem. das condições sociais, morais e económicas D João também sonhará esta noite, nos da corte de D. João V e do povo. seus aposentos. Sonhará com o filho que poderá advir da promessa da construção do convento de Mafra. Resumo da Obra Capítulo I Capítulo II Já há dois anos que D. João V está casado com D. Maria e até agora ela ainda Se a conceção da rainha ocorresse, seria não engravidou. A rainha reza novenas e, vista como mais um entre os vários milagres duas vezes por semana, recebe o rei nos seus tradicionalmente relacionados à ordem de aposentos. São Francisco. Quando ambos se casaram, o rei Diz-se, por exemplo, que um tal frei dormia com a rainha todos os dias, mas Miguel da Anunciação, mesmo depois de devido ao cobertor de penas que ela trouxe morto, conservara o seu corpo intacto da Áustria e porque com o passar do tempo, durante dias, atraindo, desde então, uma os odores de ambos faziam com que o grande quantidade de devotos para a sua cobertor ficasse com um cheiro igreja. insuportável, o rei deixou de dormir com a Noutra ocasião, a imagem de Santo rainha. António, que vigiava uma igreja El-rei está a montar em puzzle a Basílica franciscana, locomovera-se até à janela, de S. Pedro de Roma para se distrair e onde ladrões tentavam entrar, pregando- porque gosta. Mas a rainha está á espera do lhes assim um grande susto. rei para que ele cumpra o seu dever Este caíra ao chão, tendo sido socorrido conjugal. E para os aposentos da rainha o por fiéis, onde acabou por se recuperar. rei se dirige, mas, entretanto, chegou ao Outro caso, é o do furto de três castelo D. Nuno da Cunha, bispo lâmpadas de prata do convento de S. inquisidor, e traz consigo um franciscano Francisco de Xabregas no qual entraram velho. gatunos pela claraboia e, passando junto à Afirma o bispo que o frei António de S. capela de Santo António, nada ali José assegurou que se o rei se dignasse a roubaram. construir um convento em Mafra, teria Entrando na igreja, os frades deram descendência. Enquanto isso, a rainha com ele às escuras, e verificaram que não conversa com a marquesa de Unhão, rezam era o azeite que faltava, mas as lâmpadas jaculatórias e proferem nomes de santos. que haviam sido levadas; os religiosos ainda Após a saída do bispo e do frei, o rei puderam ver as correntes de onde pendiam anuncia-se e, consumado o acto, D. Maria as lâmpadas se balançando e saíram em tem que "guardar o choco", a conselho dos patrulhas pelas estradas, atrás dos ladrões. médicos e murmura orações, pedindo ao Desconfiados de que os ladrões menos um filho que seja. D. Maria sonha pudessem estar ainda escondidos na igreja, com o infante D. Francisco, seu cunhado e deram a volta, percorreram-na e só então, dorme em paz, adormecida, invisível sob a viram que no altar de Santo António, rico Passada a Quaresma, todas as mulheres em prata, nada havia sido mexido. retornaram para a reclusão das suas casas. O frade, inflamado pelo zelo, culpou Santo António por ter deixado ali passar alguém, sem que nada lhe tirasse, e ir roubar Capítulo IV ao altar-mor: O frade deixou que o Menino "como fiador", até que o santo se dignasse a Baltasar regressa a Lisboa, vindo da devolver as lâmpadas. guerra, onde perdeu a mão esquerda numa Dormiram os frades, alguns temerosos batalha contra Espanha, para decidir a que o santo se desforrasse do insulto... quem pertencia o trono espanhol. Na manhã seguinte, apareceu na Ao voltar a Lisboa traz consigo os ferros portaria do convento um estudante que, que mandara fazer para substituir a mão querendo falar ao prelado (bispo), revelou que perdera na guerra. estarem as lâmpadas no Mosteiro da A caminho de Lisboa Baltasar mata um Cotovia, dos padres da Companhia de homem de dois que o tentaram assaltar. Jesus. Não sabia se ficaria em Lisboa ou se Desta forma, faz-nos desconfiar que o seguiria para Mafra onde estavam os seus tal estudante, apesar de querer ser padre, pais, enquanto não se decide vagueia pelas fora o autor do furto e que, arrependido, ruas da capital, onde conhece João Elvas, deixara lá as lâmpadas, por não ter coragem que também fora soldado, com quem passa de as devolver pessoalmente. a noite junto de outros mendigos num Voltaram as lâmpadas a S. Francisco de telheiro abandonado. Xabregas, e o responsável não foi Antes de dormirem todos contaram descoberto. histórias de assassinatos e mortes que De referir, que o narrador volta ao caso ocorreram na cidade, as quais compararam do frei António de S. José, e faz-nos de com mortes que alguns presenciaram na novo desconfiar de que o frei, através do guerra. confessor de D. Maria Ana, tinha sabido da gravidez da rainha muito antes do rei. Capítulo V Capítulo III D. Maria Ana está de luto pela morte do seu irmão José, imperador da Áustria. Passado o "Entrudo", como de costume, Apesar de o rei ter declarado luto, a durante a Quaresma as ruas encheram-se de cidade está alegre, pois vai haver um auto- gente que fazia cada uma as suas de-fé. penitências. É domingo e os moradores gostam de Segundo a tradição, a Quaresma era a ver as torturas impostas aos condenados. única época em que as mulheres podiam O rei não irá participar na festa, mas percorrer as igrejas sozinhas e assim gozar jantará na inquisição juntamente com os de uma rara liberdade que lhes permitia até irmãos, infantes e a rainha. Mesa recheada mesmo encontrarem-se com os seus de comida, o rei não bebe, dando o amantes secretos. exemplo. Porém, D. Maria Ana não podia gozar Nas ruas o povo furioso grita dessas liberdades pois, além de ser rainha, impropérios aos condenados e as mulheres agora estava grávida. nas varandas guincham dizendo que a Assim, tendo ido para a cama cedo, procissão é uma serpente enorme. consolou-se em sonhar outra vez com D. Entre este mar de gente encontra-se Francisco, seu cunhado. Sebastiana Maria de Jesus, mãe de Blimunda, procurando sua filha. Sebastiana Homem primeiro tropeça, depois anda, imaginava que Blimunda estaria também depois corre e um dia voará. condenada a degredo. Baltasar dá a sua opinião Acaba por ver a filha entre as pessoas argumentando que para o homem voar terá que acompanham o auto, mas sabe que ela que nascer com asas. não poderá falar-lhe, sob pena de O padre Bartolomeu alerta Baltasar condenação. Blimunda acompanha o padre para o facto de ser um pecado ele dormir Bartolomeu Lourenço. com Blimunda sem serem casados. Perto dela está um homem, Baltasar Depois Baltasar e Bartolomeu vão para Mateus, o Sete-Sóis, a quem ela se dirige e S. Sebastião da Pedreira para verem a cujo nome procura saber. máquina que Bartolomeu inventou para um Voltando a sua casa, Blimunda leva dia poder voar e à qual chamou passarola. consigo o padre e deixa a porta aberta para Quando chegaram, Bartolomeu que o recém conhecido também possa mostrou o desenho da passarola a Baltasar entrar. Jantaram... explicando-lhe como é que tencionava fazê- Antes de sair o padre deitou a bênção la voar. em tudo o que cercava o casal. Blimunda Após a explicação, Bartolomeu pede- convida Baltasar para que fique morando lhe para o ajudar na construção da na sua casa, pelo menos até que ele tivesse passarola. que voltar a Mafra. Inicialmente Baltasar mostra-se receoso Deitaram-se, Blimunda era virgem e em aceitar a proposta, mas depois de entrega-se a ele. Com o sangue escorrido ela Bartolomeu dizer que o facto de Baltasar ser desenhou uma cruz no peito de Baltasar. maneta não tem importância, então este No dia seguinte, ao acordar, Blimunda, aceita o desafio. sem abrir os olhos, come um pedaço de pão e promete a Baltasar que nunca o olharia "por dentro". Capítulo VII
Capítulo VI No início deste capítulo a falta de
dinheiro é o grande obstáculo que Baltasar tem de ultrapassar para começar a Este capítulo começa com Baltasar Sete- construção da passarola. Sóis a realçar a importância do pão para os Então Baltasar começa a trabalhar para portugueses e o facto dos estrangeiros que ganhar o dinheiro necessário para poderem vivem em Portugal estarem fartos de comer realizar o seu sonho, fazer a passarola voar. pão. No decorrer deste capítulo o narrador Assim eles produziram e trouxeram dos relata os assaltos que os portugueses seus países os seus alimentos e vendiam-nos sofreram durante as suas viagens marítimas. muito mais caros sendo difícil aos Fala também sobre a gravidez de D. portugueses comprarem-nos. Maria Ana que teve uma menina, embora Depois Baltasar conta a história caricata D. João quisesse um rapaz; mas o mais de uma frota francesa; quando ela chegou a importante é que a menina nasceu saudável. Portugal, os portugueses pensavam que Na altura do nascimento a seca que vinha invadir o nosso país, afinal tratava-se durava há oito meses acabou, vindo assim de um carregamento de bacalhau. muita chuva. No decorrer do capítulo Baltasar fala Mais à frente o narrador narra o com o padre Bartolomeu Lourenço, batizado da princesa, a quem chamaram Bartolomeu diz sonhar que um dia Maria Xavier Francisca Leonor Bárbara e no conseguirá voar e disse a Baltasar que o fim deste capítulo anuncia a morte de Frei António de S. José. Capítulo VIII Apesar de não ter a mão esquerda, Baltasar tem a ajuda de Blimunda, uma mulher vidente. Baltasar e Blimunda estão a dormir na El-rei que ainda gosta de brinquedos sua cama. Entretanto Blimunda acorda, e protege o padre da Inquisição. Este decide estende a mão para o saquitel onde partir para a Holanda, terra de muitos costuma guardar o pão, mas apenas acha o sábios sobre alquimia e éter, elemento que lugar; então procura por baixo do faz com que os corpos se libertem do peso travesseiro e no chão, no entanto Baltasar da terra. diz-lhe para não procurar mais, porque não Nesta altura as freiras de Santa Mónica irá encontrar o pão. manifestam-se contra a ordem de D. João V Blimunda com os olhos fechados, de que elas só podem falar com familiares. tapando-os com as mãos, implora a Baltasar O padre abençoou o soldado e a para que lhe de o pão, mas este só lhe dará vidente, despediu-se e partiu, deixando a o pão depois de Blimunda lhe contar que quinta e a máquina de voar ao cuidado segredos esconde. deles. Antes de partir para Mafra, o par Esta tenta sair da cama, mas Baltasar decide não ir ao auto-de-fé e vão assistir às não deixa, e acaba por haver um conflito touradas, que é um bom divertimento. entre eles e ele acaba por lhe dar o pão. As touradas é como assar o touro em Passados uns breves momentos após vida, tortura-se o touro enquanto o público Blimunda ter comido o pão virou-se para aplaude a mísera morte. Baltasar e diz-lhe: "Eu posso ver as pessoas Cheira a carne queimada, mas o povo por dentro, mas só o faço quando estou em nem nota pois está habituado ao churrasco jejum e promete nunca ver Baltasar por do auto-de-fé. dentro. Na madrugada seguinte Baltasar e Ele não acredita. Então ela diz a Baltasar Blimunda partem para Mafra com uma que lhe irá provar, que no dia seguinte trouxa e alguma comida. quando acordassem iriam os dois à rua e ele iria atrás para que Blimunda não o pudesse ver, e Blimunda iria à frente de olhos Capítulo X fechados e que lhe diria o que veria por dentro das pessoas, o que estaria no interior Baltasar e Blimunda chegam a Mafra da terra, por baixo da pele e até por baixo a casa dos pais de Baltasar, mas só das roupas, mas tudo isto acabaria quando encontram sua mãe em casa; o pai foi o quarto da lua mudasse. E assim foi... trabalhar. Entretanto nasceu o infante D. Pedro, Sua mãe fica chocada por ver seu segundo filho dos reis D. João e D. Maria filho e ver que tinha perdido a mão. Ana Josefa. Blimunda fica entre portas a espera que seu marido chame para conhecer a sua nova Capítulo IX família. Ela entra e fica a falar um pouco com sua sogra. Baltasar e Blimunda mudam-se para a No fim do dia chega o seu pai João quinta do Duque de Aveiro, em S. Sebastião Francisco e conversam sobre o que tinha da Pedreira, para trabalhar na construção acontecido na guerra. Blimunda fala um da máquina de voar do Padre Bartolomeu pouco sobre a sua família e a uma dada Lourenço. altura diz que sua mãe foi degredada porque a tinham denunciado ao Santo Oficio. O pai de Baltasar fica preocupado, Capítulo XI porque pensa que ela é judia ou cristã nova, mas Baltasar diz ao seu pai que sua sogra tinha sido degredada por ter visões e ouvir O padre Bartolomeu regressou da vozes, diz ainda que pretendem ficar em Holanda, não sabemos se trouxe ou não os Mafra e que estão a pensar em comprar segredos que buscava. casa. Foi à Quinta de S. Sebastião da Seu pai conta-lhe que vendeu as terras Pedreira; três anos inteiros haviam se que tinha na vela, ao rei, porque queria passado e tudo estava abandonado, o construir um convento de frades. material que trabalhara disperso pelo chão, João e Sete-Sois foram à salgadeira e "ninguém adivinharia o que ali andar tiraram um bocado de toucinho, que perpetrando." dividiram em quatro tiras e colocaram uma O padre vê rastos de Baltasar, mas não em cada fatia de pão e distribuíram por vê os de Blimunda e julga que ela morrera. todos. Depois, parte para Coimbra, não sem Ficam a olhar Blimunda para verem se antes passar por Mafra, onde vai ver os ela come a sua fatia, seu pai já podia tirar homens que iniciam o trabalho do sua dúvida se ela era ou não judia, mas ela Convento. come-a e assim o sogro fica mais Procurou por Baltasar e Blimunda, descansado. junto do pároco que informa que os casara Baltasar diz a seu pai que precisa de em Lisboa. Blimunda veio abrir a porta e arranjar um emprego para si e para sua reconheceu-o pelo vulto, quando mulher, todos ficaram com dúvidas se ele desmontava. conseguiria arranjar trabalho devido à mão. Beijou-lhe a mão. Marta Maria No outro dia, conheceram a nova estranhou que a sua nora fosse abrir a porta parente, Inês e seu marido que falaram a quem não batesse ainda. sobre a morte do filho do el-rei e do seu Mais tarde, chegam Baltasar e o pai e filho que está doente. Baltasar caminha aquele, por convivência com Blimunda, ao sobre as terras da vela e relembra os ver a mula adivinha tratar-se do padre. momentos que ali passou, encontra o seu Marta Maria, que já desconfiava ter uma cunhado e conversa sobre o convento que "nascida" (tumor) no ventre, lamenta nada ali se construirá, e sobre os frades que irão ter a oferecer ao padre, nem comida, nem vir viver para ali. abrigo para passar a noite. Ao chegar a casa encontra sua mãe a O padre Bartolomeu dorme na casa do falar com sua mulher sobre a rainha que pároco e, pela madrugada, chegam agora visita muitas igrejas e muitos Blimunda e Baltasar. Ela sem comer. conventos onde reza pelo seu marido que Bartolomeu ama-os, eles sabem; está muito doente. Baltasar pergunta se o éter é a alma e o D. Maria fica em Lisboa a rezar padre diz que não, que é da vontade dos enquanto seu marido se acaba de curar vivos que ele se compõe. Blimunda naqueles campos de Azeitão, onde os espantou-se e o padre pediu que ela o franciscanos da Arrábida estão a assistir. olhasse por dentro. Ela viu uma nuvem O infante D. Francisco sozinho em escura, à altura do estômago. Lisboa tenta fazer a corte a sua cunhada Era da vontade, diferente da alma, o deitando contas à morte do rei. que faria voar a passarola. Bartolomeu D. Maria diz-lhe que seu marido ainda montou na mula, disse que ia a Coimbra e não morreu e que não pensa em se casar de que, quando voltasse a Lisboa, mandaria novo. avisar os dois para que lá estivessem. Baltasar ofereceu o pão a Blimunda, Quando Bartolomeu de Gusmão mas ela pediu, primeiro, para ver a vontade chegou e viu o fole pronto, peça por peça dos homens que trabalhavam no convento. desenhada e feita por Sete-Sóis, ficou contente e disse; "Um dia voarão os filhos do homem." Capítulo XII Encomendou a Blimunda duas mil vontades dos homens e mulheres que O filho mais velho de Inês Antónia e morreriam a fim de que, junto com âmbar Álvaro Diogo morreu há três meses de e imãs, pudessem fazer subir a nau que bexigas; Álvaro tem a promessa de construíam. conseguir emprego na construção do O padre distribui tarefas, indica a Sete- convento; Marta Maria sofre de dores Sóis onde comprar ferro, vime e peles para terríveis no ventre. os foles, pede segredo absoluto de tudo o João Francisco está infeliz porque o que estão a fazer. filho partirá novamente para Lisboa, e o Trabalham na passarola quase um ano convento dará trabalho a muitos homens. inteiro, procissões passam em delírio pelas Blimunda foi à missa em jejum e viu que ruas, povo misturado ao clero, clero dentro da hóstia também havia a tal nuvem misturado aos nobres. fechada, vontade dos homens... O padre Bartolomeu de Gusmão Capítulo XIV escreve de Coimbra e diz ter chegado bem, mas agora viera uma nova carta para que seguissem para Lisboa "tão cedo pudessem". O padre Bartolomeu Lourenço voltou a Partiram em dois meses, porque o rei Coimbra já doutor em cânones, e agora vinha a Mafra inaugurar a obra do pode ser visto na casa de uma viúva. convento. Sete-Sóis e Blimunda D. João manda vir da Itália o maestro conseguiram lugar na igreja. barroco Domenico Scarlatti, a fim de dar No dia seguinte formou-se a procissão, lições de música à sua filha, a infanta D. o rei apareceu. A pedra principal foi Maria Bárbara. Scarlatti e Bartolomeu benzida; foi tanta a pompa que se gastaram tornam-se amigos, partilhando as mesmas nisso duzentos miI cruzados. ideias e sonhos. Partiram Baltasar e Blimunda para Confiante em Scarlatti, o padre leva-o a Lisboa. A mãe Marta Maria despede-se do S. Sebastião da Pedreira e apresenta os filho dizendo que não o tornará a ver. amigos e a passarola a Scarlatti. Blimunda Blimunda e Sete-Sóis dormem na estrada. chega da horta trazendo "brincos de cereja", Por fim chegaram à quinta onde esperariam a fim de brincar com Baltasar. o padre voador. Mal chegaram, choveu. Quando os viu, o músico pensou: Vénus e Vulcano... O padre diz a Scarlatti que ele e Baltasar Capítulo XIII têm ambos 35 anos e que não poderiam ser pai e filho. Os arames e os ferros enferrujaram-se e Mas poderiam ser irmãos, portanto, os panos da passarola cobrem-se de mofo; desde o começo da história, o tempo que se o vime, ressequido, destrança-se. passou pode ser contado, nove anos. Baltasar experimenta os ferros, tudo Mostrada a passarola por dentro, retira- perdido, é melhor começar outra vez. se Scarlatti, mas promete voltar e trazer o Enquanto o padre não chega, constrói- cravo, que tocará enquanto Blimunda e se a forja, vão a um ferreiro e vêm como se Baltasar trabalham. faz o fole. O padre lá permaneceu, onde treinou o seu sermão para que os dois ouvissem. Discutem sobre Deus uno, trino. Blimunda máquina de voar, está pronta. Em S. adormeceu com a cabeça apoiada no Sebastião da Pedreira, Baltasar e Blimunda, ombro de Baltasar. têm de deixar a quinta que foi perdida por Um pouco mais tarde ele levou-a para El-rei para o Duque de Aveiro. dormir. O padre saiu para o pátio, e toda a O Padre Bartolomeu Lourenço, noite ali permaneceu, tomado por aguarda a vinda de El-rei para provar a tentações. máquina e quer dividir a glória e a fama do seu invento com Blimunda e Baltasar. Porém o Padre anda agitado e receoso Capítulo XV de que o acusem de feiticeiro e judeu, embora conte com o apoio de El-rei. Scarlatti voltou muitas vezes à quinta e O tempo passa, El-rei não chega; já é pedia que não parassem o trabalho; ali, em Outono e a máquina necessita de sol para meio aos ruídos e grandes barulhos, se erguer do chão! confusão, tocava o cravo. Certo dia, eis que o Padre Bartolomeu Há um surto de varíola em Lisboa, Lourenço chega pálido e assustado dizendo oriundo de uma nau vinda do Brasil. O que tinha de fugir, pois o Santo Ofício já padre pede à Blimunda que vá à cidade e andava à sua procura para o prender! recolha as vontades das pessoas. É assim que Apontou a passarola e disse que iriam ela, em jejum, durante um dia inteiro se põe fugir nela! a recolher tais vontades. Depois de preparada pedem ajuda ao Um mês depois, são mais de mil Anjo Custódio para aquela "viagem"... e vontades presas ao frasco em que Blimunda partiram pelos ares sacudidos pelos ventos as recolhia. E quando a epidemia terminou, até onde o destino os quis levar. ela tinha aprisionado duas mil vontades. Passam por momentos de medo, Foi então que caiu doente. Nada a euforia, deslumbramento e felicidade, curava da extrema magreza; mas um dia, considerando-se loucos. Lá do alto avistam Scarlatti pôs-se a tocar e ela abriu os olhos e Lisboa, o Terreiro do Paço, as ruas, etc... chorou. Nesta altura procuram o padre para o O maestro veio, então, todos os dias, prender e percebem que este fugiu. A noite quer fizesse chuva ou sol; e a saúde de chega, sem sol a máquina começa a perder Blimunda voltou depressa. altitude.... Estão assustados. Um dia, Baltasar e Blimunda vão a O Padre Bartolomeu Lourenço, Lisboa e encontram Bartolomeu doente, resignado, espera o fim, mas Blimunda magro e pálido. Parecia ter medo de algo. como que inspirada, consegue controlar a máquina com a ajuda de Baltasar e evitam o pior. Capítulo XVI Uma vez em terra firme, deixam-se escorregar para fora e consideram um Neste capítulo, comenta-se fortemente milagre terem-se salvo sem qualquer a governação do reino, criticando a ferimento. maneira de se fazer justiça, onde o poder e Não sabem onde estão. O Padre acha a riqueza se sobrepõem sempre àqueles que que vão encontrá-los e que morrerão. nada têm nem podem... Blimunda e Baltasar, confiantes, acreditam Até mesmo o destino, se calhar, foi que se se salvaram daquele perigo, salvar- injusto ao deixar morrer afogado o Infante se-ão dos próximos, e estão prontos para D. Miguel, poupando a vida ao seu irmão o fazer a máquina voar no dia seguinte. Infante D. Francisco. Cansados e depois de comerem algo, Entretanto, criada pelo Padre adormecem, Blimunda e Baltasar. Bartolomeu Lourenço, a passarola, a O Padre está doente, tenta pegar lume onde tinha fugido e como não falavam de na passarola, mas os dois não o permitem. Baltasar nem Blimunda resolveu vir a Mafra Afasta-se para umas moitas e nunca mais é verificar se estavam vivos. visto. Nessa noite soube-se que quando a Baltasar vai procurá-lo, mas em vão. máquina caiu o padre havia fugido e nunca Cobriram a máquina de ramos e folhas para mais voltara. No dia seguinte Scarlatti partiu impedi-la de voar. para Lisboa. Na manhã seguinte, desceram pelo mesmo sítio onde o Padre desaparecera sem deixar rasto, mas nem sombra dele. E lá Capítulo XVIII partiram os dois. Ao fim de dois dias chegam a Mafra, D. João V estava sentado numa cadeira onde havia uma Procissão na rua que dava escrevendo os seus bens e riquezas no rol. graças a Deus por haver mandado voar El-rei meditou acerca do que iria fazer sobre as obras da Basílica o seu Espírito às tão grandes somas de dinheiro, chegando Santo!... à conclusão que a alma seria a primeira atenção, mandando construir o convento Capítulo XVII de Mafra, pagando com o ouro das suas minas e fazendas. Todos os materiais utilizados no Numa altura em que se passam tantos convento eram de qualidade. De Portugal a prodígios, Blimunda e Sete-Sóis têm que pedra, o tijolo e a lenha para queimar, o guardar segredo porque se assim não fosse arquiteto alemão, italianos mestres dos algo lhes aconteceria. carpinteiros e da Holanda os sinos e os Na casa dos pais de Baltasar, o par carrilhões. estava infeliz pela perda da mãe, mas Inês O convento levou 8 anos a ser Antónia contou-lhes maravilhada os construído. benefícios do Espírito Santo. Blimunda, Inês Antónia, Álvaro Diogo No dia seguinte Baltasar saiu de casa e o filho esperavam Baltasar, para jantarem com o cunhado à procura de emprego na com o velho João Francisco que mal mexe obra de construção do convento. as suas pernas. A Mafra chegou notícias que tinha Acabado o jantar Álvaro Diogo dorme ocorrido um pequeno terramoto em Lisboa a sesta. Baltasar bebe desde que soube da derrubando beirais e chaminés. Passados morte do padre Bartolomeu Lourenço e da mais de dois meses, Baltasar e Blimunda sua passarola, foi um choque muito grande. foram viver para Mafra. Baltasar e seus amigos conversam acerca Baltasar fez uma jornada e foi ver que a das suas vidas e falam de como eram as suas máquina de voar estava no mesmo sítio, na vidas antes de trabalharem em Mafra. mesma posição, descaída para um lado e Baltasar tem 40 anos, sua mãe já apoiada na asa debaixo de uma cobertura morreu e seu pai mal pode andar. Esteve na de ramagens já secas. guerra e aí perdeu a sua mão, voltando a Dois meses mais tarde, Blimunda vem Mafra mais tarde. esperá-lo ao caminho e conta-lhe que Sete Sois comenta que nem sabe se Scarlatti está na casa do Visconde. Scarlatti perdeu a sua mão na guerra ou se foi o Sol tinha feito um pedido ao rei para poder que a queimou, porque afirma que subiu visitar as obras do convento e o Visconde uma serra tão alta que quando estendeu a hospedarão, apesar de não gostar de mão tocou no Sol e queimou-o. música. Seus colegas comentaram que era Scarlatti disse a Baltasar que o padre impossível visto que só tocaria no Sol 'Se Bartolomeu teria morrido em Toledo para voasse como os pássaros, ou então seria Capítulo XX bruxo. Baltasar nega dizendo que não é bruxo Era a sexta ou sétima vez que Baltasar e também diz que ninguém o ouviu dizer se deslocava a Monte Junto para consertar que voou. a máquina que se ia destruindo com o tempo. Mesmo protegida por mato e Capítulo XIX silvado, as lâminas da máquina voadora ficavam enferrujadas. Baltasar aproveitava a viagem para Durante muito tempo Baltasar puxou e colher vimes, que serviam para consertar os empurrou carros de mão e um dia, com a rasgões que encontrava no entrançado da ajuda de João Pequeno, puxou uma junta máquina. de bois, fazendo companhia ao seu amigo Chegou o dia em que Blimunda decidiu corcunda. acompanhar Baltasar na viagem. Houve notícia que era preciso ir a Pêro Justificando-se que gostaria de conhecer Pinheiro buscar uma pedra muito grande o percurso para o caso de necessitar que lá estava. deslocar-se até ao local sozinha poder fazê- Construíram lá um carro para carregar lo sem problemas. a pedra, como se fosse uma nau da Índia Puseram-se a caminho depois das com calhas. Foram para lá 400 bois e mais despedidas, com o burro que Baltasar de vinte carros. arranjara para os ajudar na longa viagem Ao amanhecer os homens partiram para que tinham pela frente. cumprir 3 léguas até onde estava a pedra. Foram passando pelas vilas que Diziam que nunca tinham visto uma coisa Blimunda ia decorando, até chegarem ao como aquelas. destino. Escavaram junto à pedra de forma a Durante o dia tentaram consertar a levá-la inteira para Mafra. A pedra vinha máquina até ao pôr-do-sol. Passaram a puxada a braços e Baltasar viu, num átimo noite na passarola e voltaram no dia de segundo, sangue e viu que um dos seguinte a Mafra. homens se ferira. Mesmo depois da longa viagem ainda No primeiro dia não andaram mais de não tinham passado pelo pior, pois foi à 500 passos. No segundo dia foi pior porque hora do jantar, quando todos se juntaram, o caminho era a descer e foi preciso meter que morreu o pai de Baltasar, João calços nos carros. Francisco. Um homem chamado Francisco Marques morreu atropelado por um carro, a roda passou-lhe sobre o ventre, quando Capítulo XXI chegou ao fundo do vale, o carro que transportava a pedra desandou atingindo 2 D. João V queria construir uma basílica animais, a seguir tiveram que os matar. de S. Pedro em Lisboa, mas o arquiteto de Gastaram 8 dias entre Pêro Pinheiro e Mafra, que foi chamado pelo rei, João Mafra, quando chegaram parecia que Frederico Ludwig, aconselhou-o a não tinham vindo da guerra, vinham sujos e construir a basílica, porque demorava muito esfarrapados. Todos se admiraram com o tempo a construir e D. João V poderia já tamanho da pedra. não estar vivo quando acontecesse a inauguração desta. O rei decidiu aumentar o convento de Mafra de oitenta para trezentos frades, e assim foi, foram chamados o tesoureiro, o mestre dos carpinteiros, o mestre dos construído em sua honra (por causa do seu alvenéus, o abegão-mor e o engenheiro das nascimento). minas. Então começaram as obras, mas depois Capítulo XXIII o rei decidiu que a inauguração do novo convento seria no dia dos seus anos, que calhava num domingo, daí a dois anos; De Portugal todo chegam homens e são após essa data, o seu próximo dia de anos, escolhidos um por um. que calhasse num domingo só seria daí dez A infanta Maria Bárbara casa-se com anos e poderia ser muito tarde. Fernando de Espanha. Esta é a marca do Como dois anos seria pouco tempo tempo narrativo de Saramago, ou seja, os para a construção do novo convento, D. factos históricos. João V mandou os seus homens irem buscar O noivo é dois anos mais novo que a outros homens a todas as partes do país; noiva, e ele nunca poderá vir a ser rei, estes eram recrutados contra a sua vontade, porque este é o sexto na linha sucessória. como escravos, indo assim trabalhar para as Domenico Scarlatti toca no seu cravo obras do convento, para este estar pronto a para a multidão de ignorantes, por ocasião tempo. do casamento da Infanta Dona Maria Alguns destes homens chegaram até a Bárbara, na fronteira com a Espanha. morrer com fome e perdidos a tentar voltar Aqui, neste capítulo, o narrador para casa. menciona a procissão que levará os santos para serem colocados nos altares do convento de Mafra: S. Francisco, Santa Capítulo XXII Teresa, Santa Clara, S. Vicente, S. Sebastião e Santa Isabel. Seguem também para Mafra Este capítulo versa essencialmente sobre frei Manuel da Cruz e os seus noviços; as famílias reais portuguesa e espanhola. trinta, e ali, quando chegam cansados, são Desde muito cedo foram organizados recebidos em triunfo. casamentos entre as duas como os que Baltasar vai para casa, o narrador agora se vão realizar, o de Maria Vitória, anuncia-nos que ele está muito debilitado. espanhola, que casou com o português José Depois já ceia, quando todos dormem, e o de Maria Bárbara, portuguesa, com o Baltasar pega em Blimunda e leva-a a ver as espanhol Fernando. estátuas, juntos, vêm a lua nascer enorme e Maria Bárbara tem 17 anos, não é vermelha. formosa, nem bonita, mas é boa rapariga. Ele anuncia-lhe que vai ao Monte Junto No decorrer do capítulo apercebemo- na manhã seguinte, ver como está a nos que iremos assistir ao percurso de Maria passarola. Bárbara e da família real até Espanha, onde Ela pede-lhe para ter cuidado e ele ela e vai casar. responde que ela fique sossegada, que o seu Durante a viagem, a comitiva real passa dia ainda não chegou. por várias cidades portuguesas e depara-se Olham os santos inertes, o que seria com alguns problemas, principalmente os aquilo? Morte, santidade ou condenação? meteorológicos, visto a chuva tornar os Quando amanheceu, Blimunda caminhos muito complicados para passar. levantou-se e juntou comida para o farnel Também podemos referir a construção do marido que ia ao Monte e acompanhou- de várias propriedades reais para que se o até fora da vila: "Adeus Blimunda, Adeus pudessem acolher durante a viagem. Baltasar", e separaram-se. É de salientar que Maria Bárbara vai Ao chegar ao lugar onde estava a para Espanha sem nunca ter visitado o passarola, Baltasar come as sardinhas que convento de Mafra que estava a ser Blimunda lhe tinha colocado no alforge: indecisos se aquilo que dizia era ou não falta havia tanto trabalho a fazer... de juízo completo. Passou a ser chamada de A Voadora, e sentava-se, então, às portas, ouvindo as Capítulo XXIV queixas das mulheres que lamentavam, depois, que os seus homens não tivessem Baltazar não voltou para casa, o que fez também desaparecido, para que elas Blimunda não dormir aquela noite. pudessem, ao menos, devotar-lhes um Esperara que ele voltasse ao cair do dia, amor tão grande como o de Blimunda a haveria os festejos da sagração da basílica, Baltazar. E os homens, quando ela partia, mas ele não voltara. ficavam tristes inexplicavelmente tristes. Em jejum, olhando as pessoas que Voltava aos lugares por onde passara, passavam para a festa, estava sentada numa sempre perguntando. Seis vezes passara por vala e ali ficou, vendo o que os que Lisboa, esta, a que vinha agora, era a sétima. passavam carregavam por dentro; Sem comer, o tempo era chegado para ela. recebendo insultos, dizendo outros. Voltou No Rossio, finalmente encontrou Baltazar. para casa, ceou com os cunhados e o Havia lá um auto-de-fé. Eram onze os sobrinho. Não conseguiu dormir. condenados à fogueira; entre eles, estava Não verá o rei quando ele vier a Mafra, António José da Silva, o Judeu, vai esperar Baltazar pelos caminhos, comediógrafo autor das Guerras de Alecrim desesperadamente tentando encontrá-lo, e Manjerona e Baltasar, ela olhou-o, chegou até ao Monte Junto e encontra o recolheu a sua vontade, porque ele lhe alforge, mas nem sinal de Baltasar nem da pertencia. passarola, chora sem saber se ele morreu ou vive. As Transgressões na obra Encontra um frade que tenta violá-la e mata-o com o espigão de Baltazar. Parte em busca do seu amado. Transgressão do código religioso: Voltou a Mafra pensando que se tinham desencontrado, mas ele não estava Sumptuosidade do convento vs a lá. simplicidade e a humildade (essência dos À tardinha, chegaram Inês António e valores cristãos); Álvaro Diogo e encontraram-na a dormir. Recrutamento à força; De manhã, ela esquece-se de comer o pão e Construção da passarola vs a proibição vê-os por dentro. de ascender a um plano superior/divino - 4 D. João V faz quarenta e um anos e é bases de solidez do projeto: Bartolomeu, 22 de outubro de 1730. Inaugura-se o Baltasar, Blimunda e Scarlatti; convento. A castidade vs as relações sexuais nos conventos; As estátuas dos santos vs a santidade Capítulo XXV humana; Missa, espaço de vivência espiritual vs missa, espaço de namoros e de encontros Durante nove anos, Blimunda andou clandestinos; pelos caminhos sempre à procura de A bênção de Deus vs a bênção dos Baltazar que sabia estar. Perguntou por ele homens; em todo o lado. Funeral do Infante D. Pedro, espetáculo Julgavam-na doida, mas ouvindo-lhe as de pompa e circunstância vs funeral do demais sensatas palavras e ações, ficavam sobrinho de Baltasar, manifestação isolada de dor. Transgressão do código sexual: Oposição entre opressores e oprimidos.
Sexo ritual protocolar para procriação Plano narrativo da construção da passarola:
vs sexo, entrega permanente e mútua de corpos e almas. Construção de uma máquina capaz de subir ao céu apenas com a vontade humana. Transgressão linguística: Simboliza o espaço de sonho, criado para alcançar a liberdade em tempos Inversão de expressões bíblicas; de Inquisição; Jogos de palavras "os santos no Elogio do sonho de voar oratório... não há melhor"; Desconstrução e reconstrução das regras de pontuação; Plano da narrativa da história de Baltasar e Aforismos "Não está o homem livre... Blimunda: com a verdade"; Confluência de registos de língua: Juntos, pelo amor, tornarão a terra - Popular "Queres tu dizer na tua que habitável. a merda é dinheiro, Não, majestade, é o dinheiro que é merda"; Simboliza o verdadeiro amor, - Familiar "correram o reino de ponta diferente do a mor do rei e da rainha. a ponta e não os apanharam"; - Cuidado "Tirando as expressões As personagens em Memorial do enfáticas esta mesma ordem já fora dada Convento antes (...)". As personagens dividem-se em Transgressão ficcional: referenciais (históricas) e ficcionais. As referenciais pertencem à História, A Música vence a Doença; representam a classe dominante e o alto A história vence a História; clero, mas são objeto de sátira. O espaço da ficção é o espaço da As ficcionais são as personagens Utopia, da Liberdade Suprema; criadas pelo autor que interatuam com as O Sonho é a Transcendência Humana. reais tornando-se verosímeis. São símbolo do contrapoder, do amor, do sonho e da A ação em Memorial do Convento utopia. A intencionalidade do autor Plano da narrativa histórica: de Memorial do Convento é tornar memorável o sofrimento e a dor, a tortura Construção do Convento de Mafra e do e a tirania exercida sobre milhares de povo que o construiu – resultado de uma homens que ajudaram a construir o promessa do rei D. João V para que a rainha convento. D. Maria de Áustria concebesse um A personagem central do romance é herdeiro. o povo trabalhador, maltratado e a viver em extrema pobreza. Simboliza o sofrimento e, até a morte, A individualização dos nomes, do povo que trabalhou arduamente na pretende demonstrar que os trabalhadores sua construção; eram seres humanos com rosto e vida É denunciado o sistema social e político, própria que renunciaram à sua identidade com destaque para a exploração das para tornar possível a vontade do rei classes desfavorecidas; megalómano. sobressair os aspetos negativos deste monarca. É apresentado como um rei vaidoso, excentrico, superficial e adúltero. Personagens Principais: As suas relações com a rainha surgem apenas como cumprimento de um dever. O Baltasar rei simboliza o poder e a ordem, mas Blimunda também a indiferença perante o povo, que Padre Bartolomeu de Gusmão parece existir apenas para satisfazer as suas D. João V amabições.
D. Maria Ana de Áustria – Filha do
Personagens Secundárias: imperador Leopoldo I de Áustria, casou com D. João V, a quem deu 6 filhos. Ao Sebastiana Maria de Jesus – mãe de longo da narrativa, d. Maria de Áustria é Blimunda – condenada a ser açoitada apresentada como uma mulher devota, em público e ao degredo pela submissa e medrosa, que reza novenas e se Inquisição; culpabliza pela falta de um herdeiro. Trata- Ludovice – arquiteto do convento, de se de uma personagem sem grande origem italiana; densidade psicológica. D. Nuno de Cunha – bispo inquisidor; Frei António de S. José – franciscano; Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão – Frei Boaventura de S. Gião – padre do Padre católico nascido no Brasil, veio para paço; Portugal com o objetivo de aumentar os José, o imperador de Áustria; seus estudos. Inventou a passarola, projeto A princesa herdeira; que apresentou a D. João V, despertando o Domenico Scarlatti; seu interesse. No Memorial do Convento Infante D. Francisco; representa a sabedoria, o conhecimento científico e o sonho de voar. Conta com a Gabriel; ajuda de Blimunda e de Baltasar na Manuel Milheiro; realização do seu sonho. Vive com medo da Leandro de Melo; Inquisição, à qual consegue fugir graças à Casal Álvaro Diogo e Inês Antónia; amizade com o rei, mas elouquece e acaba João Elvas; por morrer. João Francisco e Marta Maria; Povo (personagem coletiva); Domenico Scarlatti – Compositor iraliano Mulheres que surgem à janela; que vive em Portugal durante algum tempo Condenados pela Inquisição; e foi professor da infanta D. Maria Bárbara. Outros amigos e companheiros de de Distinguiu-se, principalmente como Baltasar no trabalho de construção do organista e cravista. Em Memorial do convento; Convento, associa-se ao projeto da passarola e ajuda à elevação da máquina Personagens históricas: voadora. A sua música tem poderes curativos, pois salvam Blimunda. D. João V – Rei de Portugal entre 1707 e 1750. Durante o seu reinado, tentou imitar Personagens fictícias: o explendor da corte de Luís XIV. Mandou construir o Convento de Mafra, uma obra Blimunda de Jesus – Blimunda Sete-Luas – de grande importância, suportada pelas Possui o dom da clarividência. Em jejum, remessas de ouro vindo do Brasil. Em consegue “ver por dentro” as vontades dos Memorial do Convento, Saramago faz outros. Partilha com Baltasar um amor verdadeiro e sem complexos que vai contra os códigos establecidos. Quando a A ação desenvolve-se num espaço passarola leva Baltasar, procura-o durante 9 temporal de, aproximadamente, 30 anos, anos, até o encontrar de novo num auto de com o inicio por volta de 1711. fé, em Lisboa. Ajuda na construção da Existem referências importantes, como passarola com os seus poderes a bênção da primeira pedra do Convento sobrenaturais, reunindo as vontades de Mafra (1717) e a sua sagração no 41º necessárias para fazer erguer a máquina aniversário do rei D. João V (1730). Estas voadora. Blimunda representa a vontade de datas permitem situar cronologicamente a amar e acreditar para além das evidências. narrativa. A ação termina em 1739, data em que Baltasar Mateus – O sete-sois – Baltasar é a Blimunda encontra Baltasar num auto de uma das personagens de densidade fé em Lisboa, juntamente com António José psicológica da obra. Representa a miséria e da Silva, o Judeu, que de facto foi a luta pela sobrevivência, numa época em executado nesse ano. que o rei e os clérigos subjugam o povo às suas vontades. Foi soldado na Guerra de Tempo do Discurso Sucessão Espanhola, onde perdeu a mão esquerda. Encontra, mais tarde, trabalho na O tempo do discurso é organizado pelo construção do Convento e conhece narrador e detetado no próprio texto, pela Blimunda num ato de fé. Com ela partilha forma como relata os acontecimentos. a mesma história de amor que serve de eixo É apresentado através da ordenação à narrativa. No projeto da passarola, linear da diegese ou por alterações da Baltasar representa o saber artesanal, pois cronologia, por intermédio de analepse vai ser ele quem vai realizar o trabalho de (recuos) e prolepses (avanços). construção da máquina voadora.
Em Memorial do Convento há uma Espaço em Memorial do Convento
evocação histórica de um espaço e tempo. Pretende-se reconstituir um cenário da Espaço Físico época através das procissões, autos de fé, cortejos, touradas, festas e outeiros. Lisboa e Mafra são as cidades que Os dois macro espaços fundamentais ao servem de cenário à ação principal, embora desenvolvimento da ação são Lisboa as personagens passem por outros locais e (espaço da corte, do poder) e Mafra encontremos relatos no texto dessa (espaço da construção). passagem. Os micro espaços abarcam zonas da Lisboa e Mafra são os macro espaços. capital e arredores. Através de algumas Mafra é o espaço que faz a ligação com os datas apontadas pelo narrador é possível factos históricos. acompanhar a evolução cronológica da Os micro espaços relacionados com narrativa, mas a evolução temporal é Mafra são o Alto da Vela (local escolhido sugerida muito mais pelas transformações para a construção do Convento de Mafra), sofridas pelas personagens, do que pelos Pero Pinheiro (palco do episódio do marcos cronológicos. transporte de uma grande pedra para o Convento), Serra do Barregudo, Serra de Tempo em Memorial do Convento Montejunto e Torres Vedras. Lisboa serve de palco e cenário das Tempo da História – Diegese injustiças sociais. Relacionados com Lisboa existem micro espaços que se destacam, tais como o Terreiro do Paço, o Rossio e São Sebastião da Pesqueira (Local onde se construiu a cumprimento da vontade divina, à passarola). construção da passarola, verdadeira metáfora do homem que, pelo sonho e pela Espaço Social vontade, se eleva acima da sua condição. Os objetivos ideológicos da obra são a É construído pelo relato de momentos denúncia e a crítica às mortes durante a e o percurso de personagens representativas construção do convento de Mafra e o de um grupo social. excesso de riqueza e luxo da corte e da Por exemplo: Igreja. - os autos da fé (Rossio) e as touradas A crítica e sátira social é feita à religião, mostram os gostos desumanos e cruéis do ao clero, às ordens religiosas, ao povo, à povo; prepotência do rei e às diferenças sociais. - a morte dos condenados é festejada; Trata-se de uma caricatura da sociedade -a procissão da quaresma (Lisboa) portuguesa do tempo de D. João V. mostra os excessos praticados no Entrudo, a penitência física; Dimensão simbólica - o trabalho no convento simboliza o espaço de servidão humana. Título “Memorial” Espaço Psicológico Significa a grandiosidade e a tragédia; Sugere memórias de um passado O espaço psicológico é traduzido pela (construção do Convento de Mafra); interioridade das personagens. Revelado através de sonhos e Convento de Mafra pensamentos. Por exemplo: Uma promessa feita por D. João V. Este - os sonhos de Baltasar quando lavrava projeto megalómano reflete um período de o Alto da Vela; prosperidade económica para Portugal, e - pensamentos do padro Bartolomeu simboliza a ambição desmedida deste sobre o voo da passarola. monarca. Paralelamente, o Convento de Mafra Dimensão crítica enaltece a miséria e o grande sacrifício dos homens que trabalharam na sua construção O título Memorial do Convento tem para satisfazer um capricho do rei. duplo valor simbólico: a evocação do passado e o universo mágico criado pela Passarola ficção. Entrecruzam-se a grandiosidade do O padre Bartolomeu de Gusmão poder absoluto, o sonho e a utopia. inventou o aeróstato e chamou-lhe A dimensão simbólica da obra está na passarola (pássaro e balão). reinvenção da História para fazer o leitor D. João V forneceu-lhe os meios refletir sobre o momento presente e extrair económicos para a construção da máquina. moralidade para o futuro. A construção de uma máquina voadora, ainda que através de Sátira e crítica social conhecimentos científicos, opunha-se à intolerância religiosa da época. Padre Em Memorial do Convento opõe-se Bartolomeu, por medo da Inquisição, alegoricamente a desumana construção do acabou por fugir e enlouquecer. colossal convento, imposta por A construção da passarola e a realização cumplicidade do narratário, implicando-o do sonho de voar, simbolizam a elevação no relato. Controla a ação, as motivações e do Homem a uma dimensão divina. os pensamentos das personagens. Possui um conhecimento intemporal: move-se entre o Baltasar Sete-Sois e Blimunda Sete-Luas passado e o presente, e antecipa a futuro. Exprime as suas reflexões e os seus juízos Representam a totalidade e perfeição valorativos. Parodia o passado histórico. (sol e lua); Assume uma postura de contrapoder: Representam o amor e a dessacraliza o poder régio e o poder complementaridade (masculino/feminino). religiosos e dá voz aos que não são considerados heróis. Números O narrador é Heterodiegético e omnisciente, recorrendo a prolepses para Três – Representa a trindade terrestre falar de acontecimentos futuros. (Bartolomeu, Baltasar e Blimunda) - o trio representa a amizade e a unidade, o saber, É um narrador com o dom da ubiquidade, o trabalho e a magia. pois relata o que está dentro e fora das personagens, sabe o antes e o depois. Sete – Totalidade e perfeição. Homodiegético (Focalização interna) – Nove – Representa a gestação e a Manifesta visões particulares da realidade renovação (nove anos andou Blimunda à de acordo com as suas características procura de Baltasar). psicológicas e sociais. Enquanto indivíduos pertencentes a uma determinada classe Música social (detentora de poder ou não), apresentam ideias e valores distintos. Apresenta um Poder Mágico (eleva o Utilizam registos particulares de homem e revela poderes curativos). enunciação, apropriados às características que representam enquanto personagens. Vontades Constituem frequentemente os porta-vozes dos juízos de valor do autor. Apelam à Representam o espírito; cumplicidade do narratário, implicando-o As vontades unidas na mesma causa no relato. Controlam a ação, as motivações podem vencer a ignorância, o fanatismo e a e os pensamentos das personagens. intolerância, elevando o homem a uma Ex. A mãe de Blimunda, o patriarca da nova dimensão. cidade de Lisboa, o Rei, Manuel Milho, etc.
Cobertor Memorial do Convento constitui um
dos mais estrondosos sucessos Marca o casamento real por editoriais dos anos 80. Inaugura, na conveniência. vida do seu autor, um período de enorme êxito, a nível nacional e internacional. Na carreira de Pluralidade de narradores romancista, José Saramago consolida com Memorial do Convento alguns Narrador dos carateres estilísticos e temáticos com que se distinguirá no panorama Heterodiegético (Focalização omnisciente) do romance contemporâneo. – Constitui frequentemente o porta voz dos juízos de valor do autor. Apela á O estilo de José Saramago Discurso expressivo – hipérboles, comparações, metáforas, personificações, O estilo saramaguiano é de subversão paralelismo anafórico, enumerações; de convenções, nomeadamente, na Discurso argumentativo – jogo de palavras pontuação. e de conceitos, aproximação à prosa O estilo oralizante aproxima narrador barroca – cultismo e concetismo; e leitor. Pode-se ler Memorial do Convento à luz da época e da estética Predomínio dos tempos verbais – presente barroca. e futuro; A imitação do estilo barroco está presente na construção sintática, nas figuras Uso subversivo da maiúscula – no interior conceptuais e nos exagerados ornamentos da frase, inserindo o discurso direto; retóricos, que em muito contribuem para Persuasão do leitor – descrições plásticas, prender a atenção do leitor. subjetivas, sugestões visuais, apelo a todos Ao recriar, pelas técnicas da paródia e os sentidos (imagens visuais, auditivas, do pastiche, o cenário histórico, as olfativas, gustativas e táteis); temáticas e a linguagem da época, Saramago cria o género romance na Riqueza da linguagem – pela capacidade de literatura barroca. reinvenção da escrita, pelo tom de crónica Este romance é um elogio ao barroco. histórica, pela ironia que desperta e Começa nesta obra o trajeto novelístico de provoca o leitor, pelas reflexões, pelos José Saramago, que adota uma técnica de momentos de intimidade poética; texto corrido. Esta técnica integra o discurso das Pontuação – no discurso direto (diálogo) há personagens no discurso do narrador, por ausência do travessão e dos dois pontos. vezes sem quebra de pontuação ou Substituição do ponto de interrogação e adotando uma pontuação subjetiva. O outros sinais pela virgula. O início de cada narrador, por sua vez, vai acentuando o fala assinalado apenas pela maiúscula. carácter oral da sua voz e emite juízos de Marcas de oralidade – Expressões triviais, valor sobre o texto que escreve. frases idiomáticas, provérbios, ditados A ausência de pontuação contribui populares, aforismos, humor, ironia. para a pluralidade de vozes que ocorre em diálogo no texto, criando uma espécie de Mistura de discursos – direto, indireto, linguagem coral. indireto livre e monólogo, a lembrar a tradição oral (contador e ouvintes A linguagem em Memorial do interagem); Convento Registos de língua – abunda o nível de língua familiar. Ironia – Na descrição inicial do rei e da rainha, que tem como objetivo ridiculariza- Conclusão los; Este romance narra a proeza dos Recurso à intertextualidade – através da operários que construíram o Convento de referência a outros escritores como Camões Mafra e relata, paralelamente, a aventura ou Fernando Pessoa; de construção da passarola voadora pelo Referências religiosas e bíblicas – dogmas de padre Bartolomeu Gusmão, ajudado por fé, rituais religiosos, o sagrado e o profano Baltasar e Blimunda. misturam-se; Na abordagem do assunto Histórico, a reconstituição do passado faz-se de forma exata e documentada e combina-se também, no real quotidiano, o sobrenatural e o fantástico, problematizando o sentido e o devir da ação humana. A narrativa está focalizada na história de amor de Baltasar Sete-Sóis, soldado maneta a trabalhar no estaleiro do convento, e de Blimunda Sete-Luas, uma visionária que capta as vontades humanas. Memorial do Convento começa com personagens nobres, mas é o povo que o narrador mais valoriza. As personagens são as figuras do puzzle, possibilitando a mistura dos limites da realidade e da ficção. Há personagens da História, personagens reinterpretadas na ficção e personagens individuais e coletivas.