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Algumas temáticas:
• As raízes telúricas - a poesia de Miguel Torga tem como sujeito poético o homem
ligado à terra, aos clãs de pastores e agricultores. Este poeta-aldeão que se ergue do
seio da Terra-Mãe, de onde extraí as imagens desse mundo, ainda virgem do ser
humano. Tal como o ciclo da terra, nasce e caí nesse torrão agreste para voltar a
nascer; é essa a ideia de renovação constante, como na natureza, que surge a sua
própria imortalidade.
• A Ibéria - Apresenta-se uma conceção antropológica da Ibéria, centrada nas
características comuns aos vários povos da península, como apego ao solo pobre, em
constante conflito com o desejo de partir, e uma espécie de vassalagem que presta à
terra e à carne.
Linguagem e estilo:
• Utilização de uma linguagem sóbria, rigorosa e simples, associada à terra e à lavoura,
em oposição a uma linguagem marítima.
• Presença de símbolos bíblicos e helénicos, imagens cristãs e pagãs.
• Prática de formas poéticas fixas, mas também do versilibrismo (característica da
Presença), co métrica regular e irregular.
Representações do Contemporâneo: Imagem de Portugal
Ex. "S. Leonardo de Galafura"; "Ibéria"
Arte Poética: Poesia como ara e como forma de eternização e expressão plena
Ex. "Orfeu Rebelde"
Poema como palco do drama da criação poética, da pesquisa incessante
que o poeta tem de realizar para se encontrar, se conhecer, se definir e
descobrir a sua identidade original
Ex. "Prospeção"
A problemática religiosa: Torga não acredita em Deus, mas desejaria acreditar. Deus não é um
elemento morto na sua poesia. Sente-se cada vez mais próximo de Deus e menos solitário.
Poemas: "Desfecho" - "Fosse qual fosse o chão da caminhada,/Era certa a meu lado/ A
divina presença impertinente/ Do teu vulto calado/ E paciente… "
"Liberdade" - "Liberdade que estais no céu/ Rezava o padre-nosso que sabia, / A pedir-te,
humildemente, /O pão de cada dia. / Mas a tua bondade omnipotente/ Nem me ouvia"
O sentimento telúrico: O elemento terra é uma constante na poesia de Miguel Torga. Isso reflete-
se na escolha do seu pseudónimo, Torga, a urze que nasce e cresce nos montes transmontanos.
Miguel Torga exprime constantemente o seu apego à terra, pois usa muitas vezes palavras como:
"Semear", "lavrar", "semente", "germinar", "terra"…
Poemas: "A terra" - "Também eu quero abrir-te e semear/ Um grão de poesia no teu seio!/
Anda tudo a lavrar, / Tudo a enterrar centeio/ E são horas de eu pôr a germinar/ A semente
dos versos que granjeio."
"Bucólica" - "A vida é feita de nadas:/ De grandes serras paradas/ À espera de movimento;/
De searas onduladas/ Pelo vento;"
Desespero humanista: Miguel Torga como médico sentia-se, por vezes, impotente por não poder
salvar os seus pacientes. O seu desespero é humanista, porque se sente limitado nas suas
capacidades humanas. Rebeldia contra os limites do homem e busca do caminho da esperança e
da liberdade, crítica à sociedade.
Poemas: "Esperança" - "Tantas formas revestes, e nenhuma/ Me satisfaz!/ Vens às vezes no
amor, e quase te acredito / Mas todo o amor é um grito/ Desesperado/ Que apenas ouve
eco… / Peco/ Por absurdo humano."
"Situação" - "Não há refugio e o terror aumenta (…) Morrer e apodrecer num cemitério/
onde fantasmas como eu protestam."
"Dies Irae" - "Apetece matar alguém, mas ninguém mata/ Apetece fugir, mas ninguém foge/
Um fantasma limita/ Todo o futuro a este dia de hoje"
O drama da criação poética: Torga sentia-se triste por não conseguir iluminar a sua poesia.
Poemas: "Majestade" - "O ceptro, a pena-a lançadeira cega/ Do seu tear de versos/ O
manto, a pele arminho onde se pega/ A lama dos caminhos mais diversos" - Associa o poeta
a um rei
"Maceração" - "Denuncia esta sílabas contadas, / Vestígios digitais do evadido/ Que deixa
atrás de si as impressões marcadas. / E corta-me de vez as asas que me deste"
Quanto às estrofes:
• 3 Estrofes
• 3 Sextilhas
Sílabas métricas:
• 9 (Eneassílabo)
• 7 (Heptassílabo ou redondilha maior)
• 10 (Decassílabo)
• 10
• 10
• 10
• 11 (Hendecassílabo)
• 10
• 10
• 10
• 10
• 10
• 10
• 10
• 6 (Hexassílabo)
• 10
• 8 (Octossílabo)
• 11
Esquema rimático:
• Verso solto
• Rima emparelhada
• Rima cruzada
• Rima encadeada
Análise do poema:
• O sujeito poético revela a sua revolta face à morte e à passagem do tempo inexorável
(severa, rigorosa, que não cede) do tempo. Furioso, canta "como um possesso", e rejeita a
poesia romântica e idealizadora da realidade (a poesia piegas), que surge metaforizada, a
partir do verso "Outros, felizes, sejam rouxinóis…". Na expressão dos sentimentos que o
dominam, o eu-lírico demonstra violência e agressividade, na tentativa de vencer aquilo que
o seu instinto adivinha - "Bicho instintivo que adivinha a morte".
• A poesia é um grito, um refúgio, um desafio, face à consciência da passagem "triunfante" do
tempo. Tanto lhe faz que o canto seja "de terror ou de beleza", o sujeito lírico pretende
cantar a realidade tal como ela é.
• Assim, este poema tem presente a temática do Desespero Humanista.
No final da primeira estrofe, podemos ver que o canto do sujeito poético exprime o seu
sofrimento ("[…] meu canto compromete/ A eternidade do meu sofrimento).
A meio da segunda estrofe, podemos ver que o sujeito poético está a ser testado/torturado até ao
limite ao cantar a realidade, ("[…] pedras conjugadas/ Do moinho cruel que me tortura").
Nos dois últimos versos do poema, o sujeito lírico afirma que vai descrever a realidade tal como é,
mesmo sendo bela ou não, ("Canto, sem perguntar à Musa/ Se o canto é de terror ou de beleza").
→ O Orfeu foi um poeta da mitologia grega conhecido pelo seu canto melodioso, que
encantava a natureza.
• A poesia é vista como sendo uma arma para o sujeito poético, que a utiliza para lutar
contra a morte. (vv 5-6 e vv 13-16).
o O canivete é uma arma e é utlizado neste poema para fazer uma analogia, (Canto,
como um possesso / Que na casca do tempo, a canivete", vv1-2).
o "Gravasse a fúria de cada momento" (v3), exprime o desejo do sujeito poético de
lutar contra a efemeridade da vida.
• O canto dos outros é visto como algo que traz/cria harmonia, enquanto que o canto do
SP é um grito (algo ruidoso e pouco harmonioso) contra a morte.
o "Outros, felizes, sejam rouxinóis"(v7) e "Eu ergo a voz assim, num desafio"(v8).